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UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS SP 2.3 - A DENGUE VEIO PARA FICAR? BIOLOGIA VIRAL (ESTRUTURA, COMPOSIÇÃO, CLASSIFICAÇÃO, FORMAS DE INFECÇÃO, REPLICAÇÃO, PATOGÊNESE, AGRESSÃO ORGÂNICA) Os vírus não são células: são incapazes de replicar-se independentemente, não são capazes de sintetizar sua própria energia e proteínas, e exibem tamanho muito pequeno, o que impede sua visualização ao microscópio óptico. São partículas compostas por um cerne interno contendo ou DNA ou RNA (mas não ambos), recoberto por um capsídeo proteico protetor. Alguns vírus apresentam uma membrana externa lipoproteica, denominada envelope, externa ao capsídeo. Os vírus não possuem núcleo, citoplasma, mitocôndrias ou ribossomos. A vulnerabilidade das células do hospedeiro a um vírus específico depende da presença de estruturas de ligação na superfície viral, assim como também depende da maquinaria presente na célula. Essas estruturas virais são capazes de reconhecer ligantes específicos presentes na célula do hospedeiro, possibilitando a entrada do vírus, enquanto a maquinaria celular realiza a síntese e a montagem de moléculas indispensáveis para a formação de novas partículas virais. Devem reproduzir-se (replicar-se) no interior de células, uma vez que são incapazes de gerar energia ou sintetizar proteínas. Já que são capazes de reproduzir-se apenas no interior de células, os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios. ESTRUTURA • Os vírus contêm DNA ou RNA, mas não ambos • Todos os vírus possuem um envoltório proteico denominado capsídeo que recobre o genoma. O capsídeo é composto por subunidades repetitivas denominadas capsômeros. Em alguns vírus, o capsídeo corresponde à superfície externa, enquanto em outros vírus, o capsídeo é circundado por um envelope lipoproteico que se torna a superfície externa. A estrutura composta pelo genoma de ácido nucleico e proteínas do capsídeo é denominada nucleocapsídeo • As unidades repetitivas do capsídeo conferem ao vírus um aspecto simétrico, útil para fins de classificação. Alguns nucleocapsídeos virais apresentam simetria esférica (icosaédrica), enquanto outros exibem simetria helicoidal. • Todos os vírus humanos que apresentam nucleocapsídeo helicoidal são envelopados, isto é, não há vírus helicoidais nus que infectam humanos. Os vírus que apresentam nucleocapsídeo icosaédrico podem ser envelopados ou nus. COMPOSIÇÃO ÁCIDOS NUCLEICOS VIRAIS • O genoma de alguns vírus consiste em DNA, enquanto o genoma de outros consiste em RNA. Esses genomas de DNA e RNA podem ser de fita simples ou fita dupla. • Alguns vírus de RNA, como o influenzavírus e rotavírus, apresentam genoma segmentado, ou seja, o genoma consiste em vários fragmentos. • Todos os vírus possuem uma cópia de seu genoma (haploides), exceto os retrovírus, que possuem duas cópias (diploides). PROTEÍNAS VIRAIS • As proteínas da superfície viral medeiam a ligação a receptores da célula hospedeira. Essa interação determina a especificidade do vírus pelo hospedeiro e pelo órgão. • As proteínas de superfície são os alvos dos anticorpos, isto é, o anticorpo ligado a estas proteínas de superfície impede a ligação do vírus ao receptor celular, o que “neutraliza” (inibe) a replicação viral. • Os vírus também possuem proteínas internas, algumas das quais são DNA ou RNA polimerases. • A proteína da matriz medeia a interação entre as proteínas do nucleocapsídeo viral e as proteínas do envelope. • Alguns vírus produzem variantes antigênicos de suas proteínas de superfície, permitindo que os vírus evitem nossas defesas. O anticorpo contra um variante antigênico (sorotipo) não neutralizará um sorotipo distinto. Alguns vírus apresentam um sorotipo, outros possuem múltiplos sorotipos. ENVELOPE VIRAL • O envelope viral consiste numa membrana que contém lipídeos derivados da célula hospedeira e proteínas codificadas pelo vírus. Tipicamente, o envelope é adquirido à medida que o vírus deixa a célula por um processo denominado brotamento. • Vírus com envelope são menos estáveis, isto é, são inativados mais facilmente que vírus nus (aqueles desprovidos de envelope). Em geral, os vírus envelopados são transmitidos por contato direto, através do sangue ou fluidos UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS corporais, enquanto os vírus nus podem sobreviver por períodos maiores no meio ambiente e podem ser transmitidos de forma indireta, como pela via fecal-oral. CLASSIFICAÇÃO A classificação dos vírus tem como base critérios químicos e morfológicos. Os dois principais componentes virais utilizados na classificação são (1) o capsídeo (tamanho, simetria e se é ou não envelopado) e (2) o ácido nucleico (massa molecular e estrutura). ARQUITETURA DO CAPSÍDEO Dentre as funções do capsídeo estão: • Empacotamento; • Proteção do ácido nucléico; • Transporte do ácido nucléico para outras células; • Fornece a especificidade para a adsorção. VÍRUS HELICOIDAIS VÍRUS POLIÉDRICOS (ICOSAÉDRICA OU CÚBICA) VÍRUS ENVELOPADOS VÍRUS COMPLEXOS Os vírus helicoidais lembram bastões longos, que podem ser rígidos ou flexíveis. O genoma viral está no interior de um capsídeo cilíndrico e oco com estrutura helicoidal. Os vírus que causam raiva e febre hemorrágica são helicoidais. Muitos vírus animais, vegetais e bacterianos são poliédricos. O capsídeo da maioria dos vírus poliédricos tem a forma de um icosaedro, um poliedro regular com 20 faces triangulares e 12 vértices. Os capsômeros de cada face formam um triângulo equilátero. O adenovírus é um exemplo de um vírus poliédrico com a forma de um icosaedro. O poliovírus também é icosaédrico. Os vírus envelopados são relativamente esféricos. Os vírus helicoidais e os poliédricos envoltos por um envelope são denominados vírus helicoidais envelopados ou vírus poliédricos envelopados. Um exemplo de vírus helicoidal envelopado é o vírus influenza. O vírus do herpes (gênero Simplexvirus) é um exemplo de vírus poliédrico (icosaédrico) envelopado. Alguns vírus, particularmente os vírus bacterianos, possuem estruturas complicadas e são denominados vírus complexos. Um bacteriófago é um exemplo de um vírus complexo. Alguns bacteriófagos possuem capsídeos com estruturas adicionais aderidas. A cabeça contém o genoma viral. Os poxvírus são outro exemplo de vírus complexos que não possuem capsídeos claramente definidos, mas apresentam várias coberturas ao redor do genoma viral. ÁCIDO NUCLEICO VÍRUS DE DNA As três famílias de vírus icosaédricos nus (i.e., não envelopados) – os parvovírus, papovavírus e adenovírus – são apresentados na ordem crescente do tamanho da partícula, assim como as três famílias envelopadas. A família de hepadnavírus, que inclui o vírus da hepatite B, e os herpesvírus são vírus icosaédricos envelopados. Os maiores vírus, os poxvírus, exibem simetria interna complexa. UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS VÍRUS DE RNA Ao todo são 14 as famílias de vírus de RNA. As três famílias de vírus icosaédricos nus são listadas primeiro, sendo seguidas pelos três vírus icosaédricos envelopados. As demais oito famílias são vírus helicoidais envelopados; as cinco primeiras apresentam RNA linear de fita simples como genoma, enquanto as últimas três apresentam RNA circular de fita simples. Famílias de vírus de RNA: picornavírus, calicivírus, reovírus, flavivírus, togavírus, retrovírus, ortomixovírus, paramixovírus, rhabdovírus, filovírus, cornavírus, arenavírus, buniavírus e deltavírus. FORMAS DE INFECÇÃO - PORTAS DE ENTRADA As principais portas de entrada são os tratos respiratório, gastrintestinal e genital, porém a entrada através da pele, através da placenta e pela via sanguínea são também importantes.A transmissão da mãe para filho é denominada transmissão vertical; todos os demais mecanismos de transmissão, por exemplo, fecal-oral, aerossol respiratório e picada por inseto, correspondem à transmissão horizontal. A transmissão pode ocorrer de humano para humano ou de animal para humano. A maioria das infecções virais graves é sistêmica, isto é, o vírus desloca-se da porta de entrada pela via sanguínea, atingindo vários órgãos. Entretanto, algumas são localizadas na porta de entrada, como o resfriado comum, que envolve apenas o trato respiratório superior. REPLICAÇÃO Apesar de terem a capacidade de se replicar, os vírus não possuem um aparato enzimático suficiente para a replicação, necessitando, assim, da maquinária celular para completar o seu ciclo replicativo, o que o torna um parasita intracelular obrigatório. O mecanismo de replicação viral favorece as frequentes mutações, burlando, assim, o sistema imune. A replicação viral, que ocorre no interior da célula do hospedeiro, evolui seguindo as etapas de adsorção, penetração, desnudamento, transcrição e tradução (síntese), maturação e liberação CURVA DE CRESCIMENTO VIRAL O ciclo de replicação viral é descrito a seguir de duas maneiras distintas. A primeira abordagem é uma curva de crescimento, que mostra a quantidade de vírus produzidos em diferentes momentos após a infecção. A segunda consiste em uma descrição gradativa dos eventos específicos que ocorrem no interior da célula durante o crescimento viral. A curva de crescimento revela que, quando um vírion (uma partícula viral) infecta uma célula, consegue replicar-se em aproximadamente 10 horas, originando centenas de vírions no interior daquela célula. Essa intensa amplificação explica como os vírus disseminam-se rapidamente de uma célula a outra. Observe que o tempo requerido para o ciclo de crescimento varia, correspondendo a minutos no caso de alguns vírus bacterianos e a horas no caso de alguns vírus humanos. O vírus desaparece, conforme representado pela linha contínua que decai até o eixo x. Embora a partícula viral, como tal, não se encontre mais presente, o ácido nucleico viral mantém-se ativo e passa a acumular-se no interior da célula, UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS conforme indicado pela linha pontilhada. O período de tempo durante o qual nenhum vírus é encontrado no interior da célula é denominado período de eclipse. O período de eclipse é finalizado com o surgimento do vírus (linha contínua). O período latente, contrariamente, é definido como o período de tempo entre a infecção e o surgimento dos vírus de forma extracelular. Observe que a infecção é iniciada com uma partícula viral, sendo finalizada com a produção de várias centenas de partículas virais; esse tipo de reprodução é exclusivo dos vírus. Alterações na morfologia celular, acompanhadas por acentuadas alterações da função celular, começam a ocorrer próximo ao final do período latente. Esse efeito citopático (ECP) culmina com a lise e a morte das células. O ECP pode ser observado ao microscópio óptico e, quando presente, representa uma etapa inicial importante do diagnóstico laboratorial de uma infecção viral. Nem todos os vírus causam ECP; alguns podem replicar- se, provocando poucas alterações morfológicas ou funcionais na célula. EVENTOS ESPECÍFICOS DURANTE O CICLO DE CRESCIMENTO VIRAL A partícula viral infectante parental liga-se à membrana celular e, em seguida, penetra na célula hospedeira. O genoma viral é “desencapsidado” pela remoção das proteínas do capsídeo e o genoma encontra-se livre para atuar. São sintetizados os mRNAs e as proteínas precoces, as quais são enzimas empregadas na replicação do genoma viral. Em seguida, são sintetizados os mRNAs e proteínas tardias. Essas proteínas tardias são as proteínas estruturais do capsídeo. Os vírions da progênie são montados a partir do material genético replicado e das proteínas do capsídeo recém-sintetizadas, sendo, então, liberados pela célula. Outra forma geral para descrever o ciclo de crescimento é a seguinte: 1) Eventos Precoces, isto é, adesão, penetração e desencapsidação, 2) Eventos Intermediários, isto é, expressão gênica e replicação do genoma, e 3) Eventos Tardios, isto é, montagem e liberação. Tendo essa sequência em mente, cada estágio será descrito em maiores detalhes a seguir. ADSORÇÃO É a ligação de uma molécula presente na superfície da partícula viral com os receptores específicos da membrana celular do hospedeiro. A presença ou ausência de receptores celulares determina o tropismo viral, ou seja, o tipo de célula em que são capazes de ser replicados. As proteínas da superfície do vírion ligam-se a proteínas receptoras específicas da superfície celular por meio de ligações fracas não covalentes. A especificidade da ligação determina a gama de hospedeiros do vírus. A especificidade dos vírus em relação aos órgãos é também governada pela interação com o receptor. Os receptores celulares já identificados na superfície celular correspondem a proteínas de superfície que atuam em várias outras funções na vida celular. Provavelmente a mais bem conhecida corresponda à proteína CD4, cuja função normal consiste na ligação de proteínas MHC de classe 2 envolvidas na ativação de células T auxiliares Para haver a adsorção, é necessária uma ponte entre as proteínas mediadas por íons livres de cálcio e magnésio, uma vez que as proteínas apresentam carga negativa. Outros fatores vão influenciar diretamente na adsorção do vírus na membrana celular, tais como, temperatura, pH e envoltórios com glicoproteínas. PENETRAÇÃO É a entrada do vírus na célula. A partícula viral penetra por meio de seu engolfamento em uma vesícula pinocitótica, em cujo interior inicia-se o processo de desencapsidação. O pH baixo no interior da vesícula favorece a desencapsidação. A ruptura da vesícula, ou a fusão do envoltório viral externo com a membrana da vesícula, deposita o cerne interno do vírus no citoplasma. Esta pode ser feita de duas maneiras, que vão depender de temperatura adequada, que fica em torno de 37ºC: UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS • Fusão é quando a membrana celular e o envelope do vírus se fundem, permitindo a entrada deste no citosol da célula. • Viropexia é uma invaginação da membrana celular mediada por receptores e por proteínas, denominadas clatrinas, que revestem a membrana internamente. DESNUDAMENTO OU DESENCAPSIDAÇÃO Neste processo, o capsídeo é removido pela ação de enzimas celulares existentes nos lisossomos, expondo o genoma viral. Além disso, se observa a fase de eclipse, onde não há aumento do número de partículas infecciosas na célula hospedeira. De uma maneira geral, o vírus que possui como ácido nucleico o DNA faz síntese no núcleo, com exceção do Poxvírus, uma vez que precisa da enzima polimerase, encontrada no núcleo da célula. O vírus que possui como genoma o RNA faz a síntese viral no citoplasma, com exceção do vírus Influenza, pois já possui a enzima polimerase. EXPRESSÃO GÊNICA E REPLICAÇÃO DO GENOMA (SÍNTESE VIRAL) A primeira etapa da expressão gênica viral consiste na síntese de mRNA. A síntese viral compreende a formação das proteínas estruturais e não estruturais a partir dos processos de transcrição e tradução. A partir desse ponto, os vírus seguem vias diferentes, dependendo da natureza de seu ácido nucleico e da região celular onde estão se replicando. Os vírus de DNA, com uma exceção, replicam-se no núcleo e utilizam a RNA polimerase DNA-dependente da célula hospedeira para sintetizar seu mRNA. Uma vez sintetizado, o mRNA viral de vírus de DNA ou de RNA é traduzido pelos ribossomos da célula hospedeira em proteínas virais, das quais algumas correspondem a proteínas precoces, isto é, enzimas necessárias à replicação do genoma viral, enquanto outras sãoproteínas tardias, ou seja, proteínas estruturais da progênie viral. Para diversos vírus de RNA, a mais importante das proteínas precoces é a polimerase que sintetizará várias cópias do material genético viral que consiste na progênie de partículas virais. A replicação do genoma viral é governada pelo princípio da complementaridade, que requer a síntese de uma fita com uma sequência de bases complementares; esta fita atua então como molde para a síntese do real genoma viral. À medida que a replicação do genoma viral ocorre, as proteínas estruturais do capsídeo que serão utilizadas pela progênie de partículas virais são sintetizadas. Em alguns casos, os genomas virais recém-replicados podem atuar como molde para o mRNA tardio a fim de originar estas proteínas do capsídeo. MONTAGEM E MATURAÇÃO Nessa fase, as proteínas vão se agregando ao genoma, formando o nucleocapsídeo. As partículas progênie são montadas pelo empacotamento do ácido nucleico viral no interior das proteínas do capsídeo. A maturação consiste na formação das partículas virais completas, ou vírions, que, em alguns casos, requerem a obtenção do envoltório lipídico ou envelope. Este processo, dependente de enzimas tanto do vírus quanto da célula hospedeira, podendo ocorrer no citoplasma ou no núcleo da célula. De uma forma geral, os vírus que possuem genoma constituído de DNA condensam as suas partes no núcleo, enquanto os de RNA, no citoplasma. LIBERAÇÃO As partículas virais são liberadas da célula por dois processos: • Lise celular (ciclo lítico): a quantidade de vírus produzida no interior da célula é tão grande que a membrana celular se rompe, liberando novas partículas virais que vão entrar em outras células. Geralmente, os vírus não envelopados realizam este ciclo. • Brotamento: proteínas vírus-específicas penetram na membrana celular em sítios específicos. O nucleocapsídeo viral então interage com o sítio específico da membrana, mediado pela proteína da matriz. A membrana celular sofre evaginação naquele sítio, e uma partícula envelopada brota a partir da membrana, ou seja, os UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS nucleocapsídeos migram para a face interna da membrana celular e saem por brotamento, levando parte da membrana. Geralmente, os vírus envelopados realizam este ciclo PATOGENICIDADE Patogênese modo como os agentes etiopatogénicos agridem o nosso organismo e os sistemas naturais de defesa reagem e Patogenicidade é a capacidade de um agente biológico provocar alterações fisiológicas no hospedeiro, ou seja, de produzir doença em pessoas infectadas. É o processo de desenvolvimento da doença que depende da interação dos fatores do hospedeiro e do vírus. Para ter a patogênese viral deve-se ter um vírus patogênico que é capaz de infectar e causar alterações clínicas. No processo da patogênese viral podemos observar doenças mais severas ou mais brandas. Isso ocorre devido à existência de cepas virais mais ou menos virulentas, ou às diferentes respostas imunológicas do hospedeiro. Isso se deve à virulência do vírus e fatores de predisposição do hospedeiro que está relacionado com a resposta imunológica contra esse vírus. A virulência é a capacidade desse vírus de levar o hospedeiro para o estágio patológico, e isso depende da estirpe viral, da quantidade de inoculo inicial e do local de inoculação. Os fatores de predisposição do hospedeiro relacionam susceptibilidade ou a resistência dele em relação a esse vírus, dentro disso podemos citar o potencial genético, fatores nutricionais, estado imune, estresse, gravidez, idade e febre. A capacidade de os vírus causarem doença pode ser analisada em dois níveis distintos: 1) AS ALTERAÇÕES QUE OCORREM NO INTERIOR DE CÉLULAS INDIVIDUAIS Existem quatro efeitos principais da infecção viral de uma célula: a) Morte celular: decorre provavelmente da inibição da síntese de macromoléculas. A inibição da síntese proteica da célula hospedeira ocorre primeiro e é provavelmente o efeito mais importante. A inibição da síntese de DNA e RNA pode ser um efeito secundário. É importante observar que a síntese de proteínas celulares é inibida, mas a síntese de proteínas virais ainda ocorre. As células infectadas frequentemente contêm corpos de inclusão, que são áreas distintas, contendo proteínas virais ou partículas virais. Esses corpos de inclusão apresentam localização intranuclear ou intracitoplasmática e aspecto característicos, dependendo do vírus. Microscopias eletrônicas de corpos de inclusão podem também auxiliar no diagnóstico quando são visualizadas partículas virais de morfologia típica. b) Efeitos Celulares: A fusão de células formando células multinucleadas são formadas caracteristicamente após a infecção por herpesvírus e paramixovírus. A fusão ocorre como resultado de alterações na membrana celular, provavelmente causadas pela inserção de proteínas virais na membrana. O diagnóstico clínico de infecções cutâneas por herpesvírus é auxiliado pelo achado de células gigantes multinucleadas com inclusões intranucleares eosinofílicas em raspados de pele. Uma característica típica de infecção viral de uma célula é o efeito citopático (ECP). Essa alteração no aspecto da célula infectada geralmente inicia-se por arredondamento e escurecimento da célula e culmina na lise (desintegração) ou formação de células gigantes. A detecção do vírus em um espécime clínico baseia-se com frequência no surgimento de ECP em uma cultura de células. Além disso, o ECP é a base para o ensaio de placa, um importante método de quantificação dos vírus em uma amostra. c) Transformação maligna: caracterizada por crescimento irrestrito, sobrevida prolongada e alterações morfológicas, como áreas focais de células arredondadas e empilhadas. Transformação maligna e neoplasia resultante podem ocorrer quando o genoma viral (ou parte) é incorporado no genoma do hospedeiro ou quando produtos virais são oncogênicos. Os vírus que causam transformação maligna são chamados vírus tumorais. c.1. Oncogênese: Os vírus implicados em oncogênese trazem consigo genes associados com crescimento celular e proliferação ou alteram a expressão da cópia celular do gene. Genes afetados incluem aqueles que estimulam e/ou inibem o crescimento celular. Os genes virais que transformam as células infectadas são chamados de oncogenes (v-onc genes), que estimulam a multiplicação e proliferação celular descontrolada. d) Ausência de alteração morfológica ou funcional aparente: Algumas vezes, a infecção e produção de progênie viral podem ocorrer sem alterações detectáveis na célula hospedeira. Isso é chamado de infecção endosimbiótica. Isto provavelmente depende das necessidades replicativa de cada vírus. Muito provavelmente o vírus necessite funções celulares que já estejam ativas para a replicação e, portanto, não necessita alterar funções da célula. 2) O PROCESSO QUE OCORRE NO PACIENTE INFECTADO A patogênese no paciente infectado envolve 1) transmissão do vírus e sua entrada no hospedeiro, (2) replicação do vírus e danos às células, (3) disseminação do vírus a outras células e órgãos, (4) a resposta imune, como uma defesa do hospedeiro e como uma causa que contribui para determinadas doenças e (5) persistência do vírus em algumas circunstâncias. A patogênese no paciente infectado envolve: a) Transmissão do vírus e sua entrada no hospedeiro: Os vírus são transmitidos ao indivíduo por muitas vias distintas, e suas portas de entrada são variadas (transplacentária, durante o nascimento, amamentação, trato respiratório, trato gastrintestinal, trato genital, pele, suor, saliva, aerossol, mordedura, sangue, contaminação fecal da água ou dos alimentos, picada). As infecções virais podem permanecer localizadas na porta de entrada ou podem disseminar-se sistemicamente pelo corpo. UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS b) Replicação do vírus e danosàs células: Os sinais e sintomas da maioria das doenças virais são indubitavelmente resultantes da morte celular devido à inibição da síntese de macromoléculas induzida pelo vírus. A morte das células infectadas por vírus resulta em perda da função e nos sintomas da doença. Contudo, existem algumas doenças que não decorrem dos danos nem da morte de células infectadas causados pelo vírus. c) Disseminação do vírus a outras células e órgãos: As infecções virais podem permanecer localizadas na porta de entrada ou podem disseminar-se sistemicamente pelo corpo. d) Resposta imune como uma defesa do hospedeiro e como uma causa que contribui para determinadas doenças: Existem outras doenças em que a morte celular causada por ataque imunológico desempenha um importante papel na patogênese. Tanto as células T citotóxicas como os anticorpos desempenham um papel na imunopatogênese. Os vírus apresentam várias maneiras de escapar de nossas defesas. Esses processos são frequentemente denominados evasão imune. Alguns vírus codificam receptores para vários mediadores da imunidade, como a interleucina-1 (IL-1) e o fator de necrose tumoral (TNF, do inglês, tumor necrosis factor). Por exemplo, um vírus codifica uma proteína que se liga à IL-1, enquanto outro vírus codifica uma proteína que se liga ao TNF. Quando liberadas por células infectadas pelo vírus, essas proteínas se ligam aos mediadores imunes e bloqueiam sua capacidade de interagir com os receptores de seus alvos, nossas células imunes que medeiam as defesas contra a infecção viral. Ao reduzir nossas defesas, a virulência do vírus é intensificada. Essas proteínas codificadas pelo vírus que bloqueiam mediadores imunes do hospedeiro são frequentemente denominadas DISFARCES DE CITOCINAS. Além disso, alguns vírus são capazes de reduzir a expressão de proteínas MHC de classe I, reduzindo, assim, a capacidade de células T citotóxicas matarem as células infectadas por vírus, enquanto inibem o complemento. Diversos vírus sintetizam RNAs que bloqueiam a fosforilação de um fator de iniciação (eIF-2), reduzindo a capacidade do interferon bloquear a replicação viral. O CMV codifica um micro RNA que se liga ao mRNA de um ligante de superfície celular de células natural killer. A ligação do micro RNA impede a síntese do ligante, impedindo que as células NK matem as células infectadas pelo CMV. O vírus do sarampo bloqueia a síntese de IL-12, reduzindo, assim, uma resposta Th-1 efetiva. O vírus Ebola sintetiza duas proteínas: uma delas bloqueia a indução de interferon, enquanto a outra bloqueia sua ação. Coletivamente, esses fatores de virulência viral são denominados VIROCINAS. Uma terceira maneira importante pela qual os vírus escapam de nossas defesas refere-se à existência de múltiplos tipos antigênicos (também referidos como múltiplos sorotipos). A importância clínica de um vírus apresentar múltiplos sorotipos está na possibilidade de um paciente ser infectado por um sorotipo, recuperar-se e apresentar anticorpos que protegem contra a infecção futura por aquele sorotipo; contudo, o mesmo indivíduo pode ser infectado por outro sorotipo daquele mesmo vírus. e) Persistência do vírus em algumas circunstâncias (infecção latente): Ocorrem quando a infecção primária não é eliminada completamente pela resposta imune adaptativa. Na maioria das infecções virais, o vírus não permanece no corpo por um período significativo após a recuperação clínica. Entretanto, em determinadas situações, o vírus persiste por longos períodos, quer intacto, quer na forma de um componente subviral, por exemplo, o genoma. Os mecanismos que podem desempenhar um papel na persistência dos vírus incluem e.1. Integração de um provírus de DNA no DNA da célula hospedeira, conforme observado com os retrovírus; e.2. Tolerância imune, porque anticorpos neutralizantes não são formados; e.3. Formação de complexos vírus-anticorpo, que permanecem infecciosos; e.4. Localização no interior de um “santuário” imunologicamente protegido, por exemplo, o cérebro; e.5. Rápida variação antigênica; e.6. Disseminação intercelular sem uma fase extracelular, de modo que o vírus não seja exposto aos anticorpos; e.7. Imunossupressão, como na AIDS. Há três tipos de infecções virais persistentes de importância clínica. Elas são diferenciadas principalmente devido ao fato de o vírus ser geralmente produzido pelas células infectadas ou não e de acordo com o momento de surgimento do vírus e dos sintomas da doença. 1. Infecções Crônicas: Os hospedeiros produzem e excretam grandes quantidades do vírus continuamente, por um longo período. Como consequência, o vírus pode ser continuamente transmitido a outros indivíduos. Alguns portadores crônicos são assintomáticos ou manifestam sinais leves da doença. 2. Infecções Latentes: Nesse tipo de infecção, o vírus é mantido no hospedeiro em uma forma não-produtiva. Os herpesvírus são os exemplos mais clássicos. O genoma viral é mantido em neurônios sob uma forma circular fechada é periodicamente reativado (geralmente sob condições de estresse) resultando em replicação produtiva e excreção viral. Infecções latentes também ocorrem com retrovírus nos quais o genoma é integrado no genoma da célula hospedeira. Transformação celular e malignidade podem resultar se a integração do transcrito viral causa alterações do controle do ciclo celular. UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS 3. Infecções por Vírus Lentos: Esse termo refere-se às infecções cujos períodos entre a infecção e o início da doença são muito longos. Nesses casos, a replicação viral não é lenta, mas o período de incubação e a progressão da doença sim. Um exemplo é a panencefalite esclerosante subaguda, que se desenvolve vários anos após a infecção com o vírus do sarampo (paramixovírus). PATOÊNESE - AGRESSÃO ORGÂNICA Os vírus existem mundialmente, mas sua disseminação é limitada por resistência inata, imunização por infecções anteriores ou vacinas, medidas de controle sanitário e outras medidas de saúde pública e fármacos antivirais profiláticos. A despeito dos múltiplos mecanismos de defesa contra os vírus, as doenças virais não só são comuns, como hoje representam uma das mais importantes doenças infecciosas associadas com a mortalidade da população. A figura 2 mostra como os vírus são destruídos por meio da reposta imune inata. IMUNIDADE INATA Na fase inicial das infecções virais, o controle dessas infecções é feito pelos interferons tipo I (IFN-a e IFN-b), pelos macrófagos e pelas células NK. Os interferons tipo I são produzidos por células infectadas por vírus e, ao interagir com uma célula não infectada, têm a propriedade de protegê-la contra a infecção, além de colaborar com a resposta imune adaptativa. O IFN-g também atua contra as infecções virais mediante a ativação dos macrófagos com destruição dos vírus e também das células NK (células citotóxicas naturais), as quais, pela liberação de granzima e perfurina, destroem as células infectadas. Adicionalmente, a IL-12 possui participação importante na fase inicial, sendo produzida por macrófagos e outras células apresentadoras de antígenos, estimulando as células NK a exercer citotoxicidade e a produzir mais IFN-g, que por sua vez aumenta o potencial microbicida dos macrófagos. IMUNIDADE ADAPTATIVA A imunidade adaptativa contra os antígenos virais ocorre com ativação de células TCD8+ que vão exercer citotoxicidade pelo reconhecimento de antígenos virais via MHC classe I nas células alvo, e consequente liberação de granzima e de perfurinas com lise das células infectadas e também dos vírus. Durante a resposta imune adaptativa há também ativação das células TCD4+, que vão colaborar com as células B na produção de anticorpos. A despeito de os vírus serem agentes intracelulares, os anticorpos têm papel importante no combate às infecções virais, desde que, por ocasião da propagaçãoda infecção viral, após multiplicarem-se em células infectadas, os vírus rompem essas células, ficando livres até a penetração em outra célula. Nessa fase extracelular os anticorpos podem ligar-se aos vírus e, por meio do mecanismo de neutralização, impedir que eles penetrem uma célula não infectada. Alternativamente, anticorpos podem ser adjuvantes no mecanismo de citotoxicidade celular dependente de anticorpos, ao se ligar às células infectadas, permitindo a ação das células NK. Em várias doenças, a exemplo de poliomielite, sarampo, hepatite B e varicela, o anticorpo tem papel fundamental na proteção contra a infecção quando se trata de um hospedeiro previamente UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS sensibilizado, seja por uma infecção prévia ou por imunização. Isso porque, em indivíduos já sensibilizados, a presença de anticorpos pode interceptar os vírus, impedindo sua ligação com a célula do hospedeiro. RESPOSTAS INESPECÍFICAS As respostas inespecíficas ocorrem em qualquer infecção viral. Essas respostas servem principalmente para limitar a disseminação do vírus a partir do sítio de infecção, impedir a replicação viral e auxiliar a resposta imunológica específica num ataque direcionado contra o vírus. • Febre: Inibe a replicação viral estimulando outros mecanismos imunológicos e reduzindo assim a replicação viral. Além disso, a temperatura alta também pode inativar diretamente as partículas víricas. A importância da febre isoladamente durante a infecção viral não é conhecida. • Inflamação: Refere-se a resposta inespecífica local, caracterizada por hiperemia, edema, calor e dor. Neutrófilos e macrófagos são recrutados para a área afetada pelas citoquinas. Esse recrutamento auxilia na limitação da infecção. A produção contínua de citoquinas e o recrutamento de células continuam até que o antígeno é efetivamente neutralizado. O reparo tecidual então começa a ocorrer. Em algumas situações, a resposta inflamatória se torna crônica, levando à imunopatologia induzida pelo vírus. • Interferons (IFN): É um grupo de glicoproteínas hospedeiro-específicas, que inibem a replicação viral através da degradação de RNAs mensageiros virais e inibição da tradução de proteínas virais. Adicionalmente, os IFNs conferem resistência antiviral às células vizinhas. Existem três tipos principais de IFNs produzidos pelo organismo: alfa, beta e gamma. Os IFNs alfa e beta são chamados interferons tipo I e estão envolvidos na resposta inata ou inespecífica. O IFN gamma está envolvido na resposta imunológica específica e será abordado posteriormente. IFNs alfa e beta atuam especificamente inibindo a tradução de proteínas virais, tendo pouco efeito na tradução de proteínas celulares. Esse fenômeno é denominado inibição seletiva. RNAs mensageiros virais são reconhecidos por sequências nucleotídicas específicas do vírus que não são encontradas nas células hospedeiras. Além disso, o IFN estimula a expressão de moléculas do complexo maior de histocompatibilidade classe (MHC-I) e II (MHC-II) na superfície das células do hospedeiro. Isso facilita o reconhecimento das células infectadas e o desencadeamento de uma resposta imunológica específica as células infectadas pelo vírus. o IFN alfa: Estável a pH 2; a sua produção é induzida por produtos da replicação viral (vírus RNA estimulam mais do que vírus DNA) e RNA de cadeia dupla. São também conhecidos como interferons de leucócitos. o IFN beta: Estável a pH 2; produção induzida por produtos da replicação viral (vírus RNA estimulam mais do que vírus DNA) e RNA de cadeia dupla. São também conhecidos como IFNs de fibroblastos. • Células NK (natural killer): São células brancas do sangue, da linhagem linfopoiética. São também chamadas de terceira população de linfócitos (T, B e NK), células nulas ou linfócitos grandes granulares. Alguns vírus, como parte de seu ciclo replicativo, reduzem a expressão de moléculas de MHC-I pela célula infectada. As células NK reconhecem as células que não expressam ou expressam menos MHC-I e as destroem por apoptose. Portanto, elas identificam e matam células infectadas por vírus. As células NK destroem células infectadas através de mecanismos semelhantes aos utilizados pelos linfócitos T citotóxicos, descritos a seguir. São também importantes no reconhecimento e destruição de células tumorais. • Fagocitose: Ação dos macrófagos e neutrófilos ao internalizar e destruir partículas virais. Os macrófagos se tornam ativados (mais eficientes para capturar e destruir) em resposta ao IFN gamma e outras citoquinas. • Cascata do complemento: A maioria dos vírus não é capaz de ativar o complemento pela via alternativa. No entanto, como a via clássica utiliza a interação anticorpo-antígeno para desencadear a cascata, esse mecanismo pode facilmente lisar partículas víricas e células infectadas. RESPOSTA IMUNOLÓGICA ESPECÍFICA A resposta imunológica específica é moldada e dirigida especificamente contra o respectivo patógeno. Leva vários dias a várias semanas para se desenvolver. Portanto, o organismo depende das respostas inespecíficas para limitar a infecção até que os mecanismos específicos tenham sido produzidos. A resposta imunológica específica pode ser humoral (produção de anticorpos) ou mediada por células. Em algumas situações, a infecção viral resulta em imunopatologia característica ou induz imunossupressão. RESPOSTA IMUNOLÓGICA HUMORAL A resposta imune humoral envolve a produção de anticorpos específicos contra antígenos específicos virais pelos plasmócitos, que são derivados dos linfócitos B. A estimulação da produção de anticorpos é o mecanismo primário envolvido na recuperação de infecções virais, em particular das infecções víricas citolíticas acompanhadas de viremia e infecções virais de células epiteliais superficiais. Os anticorpos produzidos podem ou não possuir atividade neutralizante antiviral, com base na sua interação com as partículas víricas e nos seus efeitos no ciclo replicativo. Na maioria dos casos, a produção de anticorpos é resultante da infecção viral. Isto é imunidade ativa. Alternativamente, um hospedeiro pode receber anticorpos pré-formados de um indivíduo recuperado. Isto é um exemplo de imunidade passiva. Anticorpos pré-formados são administrados a indivíduos que possam ter sido expostos a um determinado vírus, como o vírus da raiva. • Anticorpos neutralizantes: São anticorpos que interferem com a capacidade dos vírus penetrar e replicar nas células. Eles podem interferir com a ligação do vírus no receptor, penetração e/ou desnudamento. Além disso, UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS são capazes de danificar o envelope do vírus com o auxílio do complemento (via clássica). Anticorpos neutralizantes são mais efetivos no momento da infecção ou durante a viremia. • Anticorpos não-neutralizantes: Não possuem atividade neutralizante direta, mas auxiliam a controlar/combater a infecção por outros mecanismos, como aumentando a degradação dos vírions por exemplo. Adicionalmente, podem servir de opsoninas para aumentar a eficiência de fagocitose de partículas víricas. Anticorpos antivirais que se ligam a proteínas virais na superfície de células infectadas podem também desencadear a cascata do complemento e levar à lise celular mediada por complemento. RESPOSTA IMUNOLÓGICA MEDIADA POR CÉLULAS A imunidade mediada por células (IMC) envolve a ação dos linfócitos T citotóxicos, citotoxicidade celular mediada por anticorpos (ADCC), ação das células NK e macrófagos ativados. A IMC representa o mecanismo de defesa mais importante em infecções não-citolíticas nas quais as membranas das células infectadas são alteradas pelo vírus. • Linfócitos T citotóxicos: São linfócitos T específicos que reconhecem antígenos virais associados com moléculas do MHC-I na superfície da maioria das células infectadas. Esses linfócitos T possuem um antígenode superfície chamado de CD8. A interação das células infectadas como os linfócitos T citotóxicos resulta na liberação de perforinas pelo linfócito T, que produzem poros na membrana da célula infectada. Também liberadas pelos linfócitos T citotóxicos são as granzimas, um grupo de protease de serina. A ação conjunta das granzimas e perforinas resulta na destruição das células infectadas. Além disso, os linfócitos citotóxicos ativam a proteína FAS, que induz apoptose nas células infectadas com vírus. • Citotoxicidade celular dependente de anticorpo (ADCC): Refere-se à uma resposta imune na qual células infectadas por vírus são recobertas por anticorpos e tornam-se alvos para ataque das células do sistema imune como células NK, macrófagos e neutrófilos. • Linfócitos T auxiliares: Esses linfócitos T possuem o antígeno de superfície CD4. São capazes de reconhecer antígenos proteicos associados a moléculas do MHC-II, que são encontrados apenas em alguns tipos de células, como macrófagos, linfócitos B e células dendríticas. Os linfócitos T auxiliares coordenam a resposta imune específica aos antígenos através da secreção de citoquinas que estimulam a produção de anticorpos pelos linfócitosB ou estimulam produção de resposta imune mediada por células. ESCAPE DO SISTEMA IMUNE Na tentativa de controlar ou eliminar a infecção, o hospedeiro inicia uma resposta inflamatória. Os principais componentes dessa resposta são os interferons, linfócitos T citotóxicos, linfócitos B produtores de anticorpos, várias moléculas efetoras e o complemento. Esses componentes atuam em conjunto e sinergisticamente para tentar eliminar o vírus do organismo. Alguns vírus pelo seu mecanismo de replicação utilizado são capazes de escapar do sistema imune do hospedeiro. Existem vários mecanismos através dos quais isto pode ocorrer durante a infecção. Alguns exemplos incluem a infecção de sítios imunológicos de privilégio, variabilidade antigênica dos vírions, inibição do IFN-beta, redução da expressão de MHC-I, inibição do processamento de peptídeos e expressão de estruturas homólogas às do sistema imunológico. Sítios imunológicos de privilégio são aqueles tecidos do corpo que não estão em contato direto com a circulação e, portanto, ficam separados do sistema imunológico. Esses incluem o cérebro, testículos, próstata, a retina do olho e as bolsas da bochecha dos hamsters. A produção de substâncias/estruturas homólogas às do sistema imune incluem: • O citomegalovírus produz glicoproteínas que são análogas dos receptores de Fc da IgG. • O vírus do fibroma Shope produz um análogo do receptor do fator de necrose tumoral (TNF). • O vírus do Epstein-Barr produz um análogo da interleucina 10 (Il-10). • Os adenovírus produzem pequenos segmentos de RNA que bloqueiam a ativação dos interferons. A latência (herpesvírus, retrovírus) também é um mecanismo de escape imunológico. MULTIPLICAÇÃO E DISSEMINAÇÃO NO HOSPEDEIRO Em relação aos padrões de doenças virais no hospedeiro, os mecanismos de distribuição do vírus no organismo as infecções podem se apresentar das seguintes formas: a) Localizada ou disseminada: a.1. Localizada: a replicação viral permanece próxima ao sítio de entrada do vírus. Após a replicação o vírus pode se manter localizado: disseminação pelo epitélio e contenção pela estrutura do tecido e sistema imune. Usualmente permanecem confinados exclusivamente a estas superfícies, com um mínimo de penetração nos tecidos. a.2. Disseminada ou Sistêmica: os vírus se disseminam além do sítio primário. Se mais órgãos forem atingidos passará a ser chamada de infecção sistêmica. O espalhamento do agente pelo organismo ocorre em várias etapas, como entrada, disseminação para os linfonodos regionais, viremia primária e disseminação para órgãos suscetíveis. Após a viremia secundária, os vírus são disseminados para outros órgãos, como cérebro, UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS pulmão, pele, etc. Existe uma predileção dos vírus para determinados órgãos (chamado de tropismo viral). Além do diagnóstico clínico, é necessária também a realização do diagnóstico laboratorial, considerando que os sintomas clínicos sejam inespecíficos para as doenças virais (período prodrômico). Barreiras físicas e do sistema imune devem são quebradas e, caso haja lesão tecidual, ocorre reação inflamatória. Os capilares se tornam mais permeáveis ou se rompem, com o extravasamento de citocinas, monócitos e linfócitos. Células polimorfonucleares e macrófagos teciduais (células de Langerhans) tentarão destruir o vírus invasor. Se o vírus for destruído, seus componentes serão processados por células da linhagem macrofágica (denominadas células apresentadoras de antígeno, ou APCs) e que levarão estes componentes virais para apresentá-los a outros componentes do sistema imune. Por outro lado, alguns vírus se multiplicam dentro dessas células e as utilizam para sua disseminação. Assim, a célula contendo o vírus (ou seus antígenos processados) irá ao linfonodo que drena a região infectada. a.2.1. Viral: Abaixo do epitélio está a membrana basal; a integridade pode ser comprometida pela inflamação e lise do epitélio. a.2.2. Hematogênica: A entrada pode ser diretamente pelos capilares, através da replicação nas células endoteliais ou pela picada de inseto. Uma vez no sangue, os vírus tem acesso a quase todos os tecidos. Os vírus no fluido extracelular são capturados pelos capilares linfáticos, que são mais permeáveis do que os capilares circulatórios e em seguida se disseminam pelo sangue. a.2.2.1. Viremia: O vírus atinge o sangue após sua multiplicação nos linfonodos. • Viremia ativa: resulta da replicação viral. • Viremia passiva: introdução do vírus no sangue sem replicação. • Viremia primária: Tendo atingido o linfonodo, o vírus poderá, via circulação linfática, atingir a circulação sanguínea e espalhar-se por todo o organismo, seja dentro de macrófagos e/ou monócitos, seja circulando livremente no plasma, ou mesmo, embora mais raramente, adsorvidos a eritrócitos ou plaquetas. Os vírus se disseminam pelo sangue após replicação inicial no sítio de entrada. • Viremia secundária: Ocorre após esta viremia inicial, que frequentemente passa despercebida, onde um grande número de partículas virais é encontrado em circulação. Como consequência desse nível maior de viremia, os vírus distribuem-se nos órgãos-alvo do indivíduo em maior quantidade. Vírus produzidos por infecções disseminadas a.2.3. Via Neuronal: se disseminam a partir do sítio primário de infecção entrando nas terminações nervosas. b) Inaparente ou Sintomática: b.1. Inaparente: é a presença de um agente infeccioso em um hospedeiro sem que apareçam sinais ou sintomas clínicos manifestos. Só podem ser identificados por métodos de laboratório ou pela manifestação de reatividade positiva nos testes cutâneos específicos. b.2. Sintomática: c) Aguda ou Persistente: c.1. Aguda: infecções breves, onde os vírus são geralmente eliminados completamente pelo sistema imune. c.2. Persistente: O vírus se mantêm no organismo por tempo prolongado, com ou sem manifestações clínicas. A infecção persistente pode ser: c.2.1. Crônica: Há constante replicação e excreção dos vírus. Os vírus não são eliminados do organismo, permanecendo quase sempre em níveis baixos, acarretando ou não sintomas clínicos. É caracterizada pela presença de sintomas inespecíficos, característicos das doenças virais, tais como febre, cefaleia e mialgia. Este período é o ideal para serem coletados espécimes clínicos necessários para o diagnóstico laboratorial, já que é a fase onde existe uma maior carga viral no hospedeiro. c.2.2. Latente: Persistem pelo resto da vida do hospedeiro. A persistência de um agente viral, sem que o hospedeiro manifeste sintomas clínicos específicos, caracteriza o período de latência d) Abortiva: ocorre quando um vírus infecta uma célula (ou hospedeiro),mas não completa o ciclo replicativo totalmente. Resulta em infecção não-produtiva. FONTES DE INFECÇÃO Alguns autores mencionam como fonte de infecção elementos inertes, tais como leite, água, solo etc. Tal conceito talvez possa até ser correto no caso de bactérias, fungos e parasitas, desde que aqueles elementos forneçam as condições necessárias para seu desenvolvimento. Já os vírus, por serem parasitas obrigatórios, requerem uma célula viva para sua replicação. Portanto, os elementos inertes servem puramente como veículo mecânico, transmitindo o vírus de uma fonte de infecção a um hospedeiro susceptível. UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS a) Doente: É a fonte de infecção mais comum. É o indivíduo que apresenta os sintomas da enfermidade, sintomas esses devidos ao agente etiológico que albergam. De acordo com a manifestação desses sintomas, os doentes podem ser classificados em: a.1. Doente típico: É aquele que manifesta a sintomatologia característica da enfermidade. É, provavelmente, a fonte de infecção cujo combate causa menos problemas, pois a sintomatologia característica facilita reconhecimento da enfermidade, permitindo assim pronta ação profilática. a.2. Doente atípico: aquele que apresenta sintomatologia diferente da que caracteriza a doença. Isso pode dever- se à benignidade da infecção, como, por exemplo, nas formas subclínicas, ou por sua excessiva malignidade. Nesses casos, o diagnóstico é dificultado, podendo retardar significativamente a adoção de medidas profiláticas. a.3. Doente em fase prodrômica: É aquele que apresenta uma sintomatologia inespecífica, no estágio inicial da doença. Durante esse período o doente pode eliminar o agente etiológico para o meio exterior, atuando como fonte de infecção. b) Portador: É o hospedeiro que mantém em seu organismo um agente etiológico, sem apresentar sintoma devido a esse agente. Existem três tipos de portadores: b.1. Portador são: É aquele que não apresenta os sintomas da enfermidade em nenhum momento do processo infeccioso, devido a resistência natural ou imunidade adquirida. O portador são apresenta grande importância do ponto de vista epidemiológico, pois, além de dificultar o diagnóstico, circula livremente entre a população. b.2. Portador em incubação: É aquele que ainda não apresenta os sintomas da enfermidade, que se encontra em fase de incubação, mas já elimina o agente etiológico. Após o período de incubação, o hospedeiro apresentará os sintomas da doença considerada. b.3. Portador convalescente: É aquele que já não apresenta os sintomas da doença, por ter havido cura clínica, mas continua eliminando o agente etiológico. c) Reservatório: É um hospedeiro vertebrado, de espécie diferente da considerada, no qual o agente etiológico se instala, multiplica-se e é eliminado para o ambiente. PERÍODOS DE UMA INFECÇÃO Os estágios de uma infecção típica do vírus envolve: 1. Período de Latência: é o tempo que transcorre desde a infecção até que a pessoa se torne infectada. 2. Período de Incubação (paciente assintomático): é o tempo que transcorre desde a infecção até o início dos sinais e sintomas clínicos da doença. 3. Período Prodrômico (ocorrem sintomas inespecíficos): lapso de tempo entre os primeiros sintomas da doença e o início dos sinais ou sintomas. Período em que o paciente apresenta sintomas inespecíficos (febre, mialgia, artralgia, náusea, anorexia). Tem curta duração, geralmente alguns dias, e alta transmissibilidade. 4. Período de Transmissibilidade ou Infeccioso: É o intervalo de tempo em que há eliminação do agente etiológico, pelo humano infectado ou pelo animal infectado, para o ambiente ou por meio de um vetor hematófago. Deste modo, outro homem ou animal poderá ser infectado pelo agente. Pode ser determinado por critérios clínicos ou por exames laboratoriais, sendo que o animal ou homem infectado pode ou não ter sintomas. 5. Período Específico da Doença ou Sintomático: manifesta sinais e sintomas característicos 6. Período de Convalescença ou Recuperação: doença regride e o paciente retorna ao estado sadio. PROFILAXIA A profilaxia das doenças virais segue os mesmos princípios de outras doenças infectoparasitárias, que englobam a implantação de políticas de saúde pública. Dentro desse contexto, a educação assume um papel fundamental, pois é necessária a informação para a sociedade sobre o agente etiológico, formas de transmissão, a sintomatologia e os fatores de risco para que haja um controle eficaz da doença. UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS Aos vírus que são contraídos por via oral, merecem que seja dada uma atenção especial no saneamento básico, controle da água e alimentos ingeridos e higiene de forma geral, principalmente das mãos. Em relação à transmissão por via respiratória, devem-se evitar ambi-entes fechados e, em casos de epidemias, pacientes infectados devem ser isolados e seus contactantes mantidos em monitoramento. Caso seja necessá-rio, devem ser realizados programas de prevenção, como a distribuição de máscaras para a população. Para vírus transmitidos via parenteral, a profilaxia enfoca os bancos de sangue, o cuidado no uso de material descartável (luvas, agulhas, etc...) e instrumentos cirúrgicos ou odontológicos. As doenças sexualmente transmissíveis (DST) abrangem as campanhas de uso de preservativos e de vacinação, quan-do existentes. E ainda, os vírus transmitidos via vetores têm como principal ponto profilático o controle ou a erradicação destes insetos. A vacinação tem sido a forma mais eficaz de prevenir algumas doenças, as quais podem ser fatais em determinados indivíduos. PERÍODO DE INCUBAÇÃO E OS FATORES QUE LEVAM AS ALTERAÇÕES TEMPORAIS DE EVOLUÇÃO DA DOENÇA Período de incubação é o intervalo entre a data do primeiro contato com o vírus até o início dos sintomas da doença. É o espaço de tempo que um vírus ou bactéria leva para se proliferar no organismo após invadi-lo, até surgirem os primeiros sintomas da doença. Esse período varia de acordo com o agente infeccioso, podendo ser muito curto (como no caso da gripe e da meningite meningocócica) ou muito longo (como no caso das hepatites A e B). Durante o período de incubação, a pessoa não apresenta sintomas, portanto não sabe que já foi infectada. Difere da latência porque nesta se contabiliza o tempo entre contato com o agente patogênico e a efetiva infecção, ou seja, o tempo entre contato e colonização ou entre contato e replicação (para vírus) ou entre contato e reprodução intrahospedeiro para protozoários etc. O organismo infectado entra em contato com o agente agressor através dos glóbulos de defesa que tentarão reconhecê- lo e preparar o combate à doença, ou eliminar o intruso através dos anticorpos que porventura tenha armazenado em seus linfócitos por uma infecção anterior do mesmo agente ou pelo uso da vacina específica. A chance de adoecer mesmo se vacinada após a infecção é inversamente proporcional, ou seja, quanto menor for o período de incubação, maior será a chance de a doença se manifestar, apesar da vacinação. Isso porque toda vacina leva cerca de duas a três semanas para estimular níveis adequados de anticorpos. TIPOS E OS MECANISMOS DE AÇÃO E PRODUÇÃO DAS IMUNOGLOBULINAS Anticorpos são proteínas globulínicas (imunoglobulinas) que reagem especificamente com o antígeno que estimulou sua produção. Eles correspondem a aproximadamente 20% das proteínas plasmáticas. O sangue contém três tipos de globulinas, alfa, beta e gama, com base em sua velocidade de migração eletroforética. Anticorpos são globulinas do tipo gama. As respostas mediadas por células e mediada por anticorpos são caracterizadas por três propriedades importantes: a) Apresentam acentuada diversidade (i. E., podem responder a milhões de antígenos diferentes);UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS b) Apresentam memória duradoura (i. E., podem responder vários anos após a exposição inicial, devido à produção de células t de memória e células b de memória); c) Exibem especificidade única (i. E., suas ações são voltadas especificamente contra os antígenos que iniciaram a resposta). FUNÇÃO As funções mais importantes dos anticorpos são a) neutralização de toxinas e vírus b) opsonização bactérias, de modo a facilitar sua fagocitose c) ativação do complemento d) prevenção da ligação de micróbios às superfícies mucosas Além dessas funções, os anticorpos possuem capacidade catalítica (enzimática) CLASSES / TIPOS Imunoglobulinas são glicoproteínas compostas por cadeias polipeptídicas leves (L) e pesadas (H, do inglês, heavy). Há cinco classes de anticorpos com base em diferenças em suas cadeias pesadas: IgA A IgA é a principal imunoglobulina encontrada em secreções, como colostro, saliva, lágrima e secreções dos tratos respiratório, intestinal e genital. Ela impede a ligação de micro-organismos, como bactérias e vírus, às membranas mucosas. As duas cadeias pesadas da IgA são do tipo α. O componente secretor é um polipeptídeo sintetizados por células epiteliais, que confere à IgA a capacidade de atravessar a superfície de mucosas. Ele também protege a IgA da degradação no trato intestinal. IgD Esta imunoglobulina não desempenha funções conhecidas de anticorpos, mas pode atuar como um receptor de antígenos; é encontrada na superfície de vários linfócitos B. A IgD é encontrada em baixas concentrações no soro. IgE A IgE tem importância médica por duas razões: (1) medeia a hipersensibilidade imediata (anafilática) e (2) participa das defesas do hospedeiro contra certos parasitas. A região Fc da IgE liga-se à superfície de mastócitos e basófilos. A IgE ligada atua como receptor de antígeno (alérgeno). Quando os sítios de ligação ao antígeno de IgEs adjacentes são ligados de forma cruzada por alérgenos, vários mediadores são liberados pelas células, promovendo a ocorrência de reações de hipersensibilidade imediata (anafilática). Embora as IgEs sejam encontradas em quantidades traço no soro normal (aproximadamente 0,004%), indivíduos alérgicos apresentam quantidades significativamente maiores e as IgEs podem ser detectadas em secreções externas. A IgE não fixa complemento e não atravessa a placenta. A IgE consiste na principal defesa do hospedeiro contra determinadas infecções por helmintos de importância. A concentração sérica de IgE é geralmente aumentada nessas infecções. Como esses vermes são muito grandes para serem ingeridos por fagócitos, acabam sendo mortos por eosinófilos que liberam enzimas que os destroem. A IgE específica para proteínas de vermes liga-se a receptores dos eosinófilos, desencadeando a resposta de citotoxicidade celular dependente de anticorpos (ADCC). IgG Há quatro subclasses, IgG1-IgG4, com base nas diferenças antigênicas das cadeias H e no número e na localização das pontes dissulfeto. IgG1 corresponde à maioria (65%) das IgGs totais. O anticorpo IgG2 é dirigido contra antígenos polissacarídicos e consiste em uma defesa importante do hospedeiro contra bactérias capsuladas. IgG é o anticorpo predominante na resposta secundária e constitui uma defesa importante contra bactérias e vírus. IgG é o único anticorpo que atravessa a placenta; somente sua porção Fc liga-se a receptores na superfície de células placentárias. IgG, portanto, é a imunoglobulina mais abundante em recém-nascidos. UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS IgG é uma das duas imunoglobulinas capazes de ativar o complemento; IgM é a outra. A IgG é a imunoglobulina que opsoniza. Ela é capaz de opsonizar, isto é, intensificar a fagocitose, devido à presença de receptores da cadeia γ H na superfície de fagócitos. As IgGs apresentam vários açúcares ligados às cadeias pesadas, especialmente no domínio CH2. Esses açúcares apresentam importância médica, pelo fato de determinarem se as IgGs exibirão efeito pró-inflamatório ou anti- inflamatório. Por exemplo, quando a molécula de IgG apresenta uma N-acetilglicosamina terminal exibe atividade pró- inflamatória, uma vez que se associará a um ligante que interage com manose e ativará o complemento. Ao contrário, quando a IgG possui uma cadeia lateral de ácido siálico, não se ligará, tornando-se anti-inflamatória. Assim, proteínas IgGs específicas contra um determinado antígeno, sintetizadas por um mesmo plasmócito, exibem propriedades distintas, dependendo das modificações introduzidas pelos açúcares. IgM IgM é a principal imunoglobulina produzida nos estágios iniciais da resposta primária. Ela é encontrada como um monômero na superfície de praticamente todas as células B, onde atua como um receptor de ligação ao antígeno4. A IgM possui uma cadeia pesada μ. A IgM consiste na imunoglobulina mais eficiente na realização de aglutinação, na fixação do complemento (ativação) e em outras reações de anticorpos, sendo uma importante defesa contra bactérias e vírus. A IgM pode ser produzida pelo feto, no caso de certas infecções. Dentre as imunoglobulinas, é a que apresenta maior avidez; sua interação com o antígeno pode envolver todos seus 10 sítios de ligação. IgM não opsoniza diretamente, uma vez que não existem receptores da cadeia μ H na superfície de fagócitos. Contudo, IgM ativa o complemento e o C3b resultante é capaz de opsonizar, devido à presença de sítios de ligação de C3b na superfície de fagócitos. • IgM - é secretada normalmente na forma polimérica (pentâmeros). Ao ligar-se ao Ag, pode ativar a via clássica do sistema complemento. Esta classe de Ig tem importante papel como receptor de Ag na superfície de linfócitos B virgens. É secretada precocemente na resposta imune adquirida humoral, sendo as primeiras imunoglobulinas encontradas nos testes sorológicos das infecções agudas, indicando que a infecção está ocorrendo, decaindo após uma ou duas semanas. • IgG - secretada na forma monomérica, é a classe de imunoglobulinas mais abundantes no soro e nos tecidos. Existem 4 subtipos de IgG (IgG1-4), que são distintas pelas diferenças estruturais das regiões C da cadeia pesada. Em geral, os anticorpos IgG aparecem em fases mais avançadas nas infecções e permanecem por mais tempo no soro. Está presente no sangue, na linfa e outros fluidos corporais. São capazes de atravessar a barreira placentária, possibilitando imunidade passiva ao feto e recém-nascido. Suas principais funções biológicas são: opsonização, neutralização, aglutinação, precipitação e ativação da via clássica do sistema complemento. Pode ter função de receptor de Ag na superfície de linfócitos B de memória. • IgA - pode ser secretada nas formas dimérica e monomérica. Ela é a imunoglobulina presente nas mucosas dos tratos gastrointestinal, respiratório e urogenital e em outras secreções exócrinas, como suco gástrico, saliva, lágrimas e leite materno (é o principal anticorpo presente no leite materno). Pode, também, ter função de receptor de Ag na superfície de linfócitos B de memória. • IgD - secretada na forma monomérica, é essencialmente uma imunoglobulina de membrana, cuja única função efetora conhecida é a de receptor de Ag de linfócitos B virgens, assim como IgM. UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS • IgE - é secretada na forma monomérica, está envolvida em processos alérgicos e na defesa contra helmintos, devido à sua capacidade de se ligar a receptores de alta afinidade presentes nas membranas de mastócitos e basófilos. Assim como IgG e IgA, também pode ter função de receptor de Ag na superfície de linfócitos B de memória. Curiosidade: Na resposta primária, a IgM é a primeira e a principal imunoglobulina produzida. Ocorre também sínteseda IgG, porém, mais tardiamente e em títulos menores. Já na resposta secundária, a principal classe de imunoglobulina produzida é IgG, em concentrações séricas maiores e mais persistentes MECANISMO DE AÇÃO • Neutralização: processo em que vários anticorpos se ligam a superfície dos agentes estranhos e os inviabilizam, bloqueando as suas ações e os tornando inofensivos • Opsonização: os anticorpos se ligam aos antígenos e sinalizam às células efetoras • Citotoxidade dependente do anticorpo: os anticorpos ajudam as células NK e eosinófilos na destruição das partículas estranhas • Ativação do sistema complemento: os anticorpos ativam, pela via clássica, o sistema complemento - que são um grupo de proteínas plasmáticas que podem contribuir na opsonização ou até na eliminação direta das partículas estranhas, formando poros que resultam na lise do agente estranho PRODUÇÃO Os anticorpos são glicoproteínas expressas como receptores nas membranas dos linfócitos B ou como moléculas presentes no soro e fluidos teciduais. O contato entre o receptor de um linfócito B e um antígeno resulta na a diferenciação do linfócito B para gerar um clone de plasmócitos que secreta grandes quantidades de anticorpos. Cada clone secreta apenas um tipo de anticorpo com especificidade única. O anticorpo secretado tem a mesma especificidade do receptor do linfócito B original. PAPEL DA IMUNIDADE ADAPTATIVA CONTRA OS VÍRUS (DEFESA DO ORGANISMO) Com relação às respostas imunes adaptativas, a imunidade humoral é o principal mecanismo para eliminação de patógenos extracelulares, bem como para neutralização de toxinas. Os agentes infecciosos ativam linfócitos B e desta forma há a produção de anticorpos específicos que poderão exercer as seguintes funções: 1. Neutralização do agente infeccioso (p.ex. Vírus, no seu estágio extracelular)/toxina; 2. Opsonização do patógeno e fagocitose; 3. Ativação da via clássica do complemento (opsonização, fagocitose, lise celular e amplificação da inflamação). A imunidade adaptativa contra os antígenos virais ocorre com ativação de células TCD8+ que vão exercer citotoxicidade pelo reconhecimento de antígenos virais via MHC classe I nas células alvo, e consequente liberação de granzima e de perfurinas com lise das células infectadas e também dos vírus. Durante a resposta imune adaptativa há também ativação das células TCD4+, que vão colaborar com as células B na produção de anticorpos. A despeito de os vírus serem agentes intracelulares, os anticorpos têm papel importante no combate às infecções virais, desde que, por ocasião da propagação da infecção viral, após multiplicarem-se em células infectadas, os vírus rompem essas células, ficando livres até a penetração em outra célula. Nessa fase extracelular os anticorpos podem ligar-se aos vírus e, por meio do mecanismo de neutralização, impedir que eles penetrem uma célula não infectada. Alternativamente, anticorpos podem ser adjuvantes no mecanismo de citotoxicidade celular dependente de anticorpos, ao se ligar às células infectadas, permitindo a ação das células NK. Em várias doenças, a exemplo de poliomielite, sarampo, hepatite B e varicela, o anticorpo tem papel fundamental na proteção contra a infecção quando se trata de um hospedeiro previamente UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS sensibilizado, seja por uma infecção prévia ou por imunização. Isso porque, em indivíduos já sensibilizados, a presença de anticorpos pode interceptar os vírus, impedindo sua ligação com a célula do hospedeiro. A resposta imune humoral pode resultar em reações cruzadas contra proteínas próprias do hospedeiro. Diversos patógenos são capazes de se replicar no interior dos fagócitos e podem ser destruídos mediante participação das células T CD4+. Os agentes infecciosos presentes dentro de vesículas no citoplasma da célula podem entrar na via de processamento e apresentação de antígeno via molécula de MHC de classe II. As células T CD4 que reconhecem este complexo são ativadas e produzem IFN-γ que irá aumentar a atividade microbicida no interior dos fagócitos. Tendo em vista que alguns agentes infecciosos são capazes de permanecer vivos no interior dos fagócitos, muitas vezes pode haver a formação de granulomas. Esta estrutura é formada predominantemente por macrófagos e linfócitos T, e tem a finalidade de evitar a disseminação do patógeno, mas que muitas vezes pode culminar em um processo inflamatório intenso levando a fibrose tecidual. Já os patógenos que têm a capacidade de se replicar no citoplasma da célula infectada (vírus), ou mesmo os agentes infecciosos que escapam dos fagossomos ou impedem a formação do fagolisossomos podem ser eliminados pelas células T citotóxicas (T CD8). Estes patógenos podem entrar na via de processamento e apresentação de antígenos via molécula de MHC-I e ativar os linfócitos T CD8, que irão produzir granzima e perforina que destruirão as células alvo infectadas. RELAÇÃO DAS VACINAS COM O MECANISMO DE MEMÓRIA IMUNOLÓGICA E QUAL A IMPORTÂNCIA DAS VACINAS NAS INFECÇÕES VIRAIS E NA PREVENÇÃO DA DENGUE A vacina gera uma memória imunológica, a qual é traduzida por uma proteção de longa duração. As vacinas podem ser preparadas de vírus ou bactérias inativadas, como organismos inteiros ou seus produtos, ou microrganismos inteiros vivos, porém atenuados. Após receber a vacina, o indivíduo irá desenvolver uma resposta imune adequada, da qual participarão células do sistema, em especial células B, células T e células de memória, bem como serão produzidos anticorpos. MEMÓRIA IMUNOLÓGICA É a capacidade do sistema imune de reconhecer rapidamente e especificamente um antígeno invasor que tenha entrado em contato, seja por infecções ou por vacinação. Geralmente estas são respostas secundárias, terciárias e outras subsequentes respostas imunes ao mesmo antígeno. A memória imunológica é responsável pelo componente adaptativo do sistema imunitário, constituída por células T e B especiais, as denominadas células T de memória e células B de memória. A resposta primária é a reação do organismo quando entra em contato pela primeira vez com uma substância considerada estranha. O resultado é a ativação inicial do sistema macrofágico, seguida de ativação do sistema linfocítico. Na resposta secundária, por sua vez, o organismo já manteve contato prévio com a substância estranha. Há ativação sequencial de sistema macrofágico e linfocítico. Uma grande diferença é que na resposta secundária o organismo já conta com a presença de linfócitos B e T de memória. As células do sistema imunológico são extremamente organizadas, tendo cada uma sua função específica. Se o organismo entrar em contato com qualquer agente infeccioso, ele desenvolverá linfócitos especiais, que são chamados de células da memória, capazes de reconhecer esse agente infeccioso. Essas células permanecem em nosso organismo pelo resto de nossas vidas, mesmo sem termos nenhum tipo de contato com esse agente infeccioso. UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS Se tivermos contato com um agente infeccioso e se este for reconhecido pelas células de memória, os linfócitos deverão se reproduzir, com o objetivo de debelar os agentes infecciosos. Esses agentes, portanto, serão descartados do organismo sem que tenham causado prejuízo. As vacinas que são aplicadas em nosso organismo para combater certas doenças agem dessa forma, pois elas são constituídas por antígenos isolados de micro-organismos causadores de certas doenças, ou mesmo de micro-organismos vivos e tratados, de forma que não causem a doença. Uma vez dentro de nosso organismo, os antígenos presentes nas vacinas desencadearão uma resposta imunitária primária, ocorrendo, então, a produção das células de memória. Caso o nosso organismo entre em contato novamente com esseantígeno, será desencadeada em nosso organismo a resposta imunitária secundária (muito mais ágil e intensa do que a resposta imunitária primária), que exterminará o antígeno antes mesmo que apareçam sintomas da doença que ele causa. Células T de memória As células T (e B) de memória, como a denominação implica, conferem às nossas defesas a capacidade de responder rápida e vigorosamente por vários anos após a exposição inicial a um micróbio ou outro composto exógeno. Essa resposta de memória a um antígeno específico deve-se a várias propriedades: 1) Várias células de memória são produzidas, de modo que a resposta secundária é maior que a resposta primária, na qual poucas células respondem; 2) As células de memória sobrevivem por muitos anos ou possuem a capacidade de se reproduzir; 3) As células de memória são ativadas por quantidades menores de antígenos e requerem menor coestimulação que células t ingênuas não ativadas; e 4) Células de memória ativadas produzem maiores quantidades de interleucinas que células t ingênuas, quando ativadas pela primeira vez. Já a prevenção de doenças virais pode ser realizada com o uso de vacinas que induzem a imunidade ativa ou com a administração de anticorpos pré-formados que conferem imunidade passiva. Os antígenos presentes na vacina desencadeiam uma resposta por parte do organismo, chamada de resposta imune primária, na qual é feito o reconhecimento do antígeno e a produção de células de memória. Quando o organismo for invadido pelo antígeno para o qual foi imunizado, a produção de anticorpos será rápida, defendendo o organismo antes que a doença se instale. VACINAS - IMUNIDADE ATIVA Com o desenvolvimento da imunologia, surgiram várias vacinas para a prevenção de muitas doenças que são produzidas atualmente em escala industrial. A vacina é considerada uma forma de imunização ativa. Através das vacinações ficamos imunizados contra as doenças para as quais recebemos as vacinas. Existem dois tipos de vacinas que induzem a imunidade ativa: • aquelas que contêm vírus vivos, cuja patogenicidade foi atenuada • aquelas que contêm vírus mortos. Algumas vacinas, como a vacina contra a hepatite B, contêm proteínas virais purificadas e são frequentemente denominadas vacinas de subunidades. As características de vacinas de subunidades são semelhantes àquelas das vacinas mortas por não ocorrer replicação viral nelas. Em geral, vacinas vivas são preferidas em relação a vacinas contendo vírus mortos, uma vez que sua proteção é maior e mais duradoura. Em vacinas vivas, o vírus multiplica-se no hospedeiro, produzindo um estimulo antigênico prolongado, e tanto IgA e IgG são produzidas quando a vacina é administrada pela via natural de infecção, por exemplo, quando a vacina contra pólio é administrada por via oral. UNIFG/BRUMADO – MEDICINA –- NCS2 - SP 2.3 – ESTUDO DIRIGIDO KARINE SARMENTO SANTOS Vacinas mortas, geralmente administradas por via intramuscular, não estimulam uma intensa resposta de IgA. Vacinas mortas tipicamente não estimulam uma resposta de células T citotóxicas, porque o vírus presente na vacina não se replica. Na ausência de replicação, epítopos virais não são apresentados em associação a proteínas MHC de classe I e a resposta de células T citotóxicas não é ativada. Embora as vacinas vivas estimulem uma resposta de longa duração, atualmente são recomendadas doses de reforço no caso das vacinas contra sarampo e pólio. Uma forma peculiar de vacina viral viva atenuada é a vacina contra gripe que contém um mutante termossensível do vírus como imunógeno. O mutante termossensível pode replicar-se nas passagens aéreas menos quentes do nariz, onde induz a imunidade baseada em IgA, enquanto não se replica no tecido pulmonar mais quente e, portanto, não causa doença. Há três preocupações em relação ao uso de vacinas vivas: 1. Elas são compostas por mutantes virais atenuados, que podem reverter à virulência durante a produção da vacina ou no indivíduo imunizado. A reversão à virulência durante a produção pode ser detectada por testes de controle de qualidade; no entanto, não existe teste para prever se a reversão ocorrerá no indivíduo imunizado. Dentre as vacinas vivas comumente utilizadas, apenas a vacina contra pólio apresentou problemas em relação a revertantes, o que não ocorreu nas vacinas contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela. Mesmo se o vírus da vacina viva não sofrer reversão, ele ainda é capaz de causar doença já que, embora atenuado (enfraquecido), ainda pode ser patogênico em um hospedeiro com imunidade reduzida. Por essa razão, vacinas virais vivas não devem ser administradas a indivíduos imunocomprometidos ou a mulheres grávidas uma vez que o feto pode ser infectado. 2. A vacina viva pode ser excretada pela pessoa imunizada, o que é “uma faca de dois gumes”. É vantajoso quando a disseminação do vírus imuniza terceiros com sucesso, como ocorre com a vacina viva contra a pólio. Todavia, pode ser em um problema quando, por exemplo, um revertante virulento de poliovírus é disseminado a um indivíduo suscetível. Casos raros de pólio paralítica ocorrem anualmente nos Estados Unidos por essa via de infecção. 3. Um segundo vírus pode contaminar a vacina se estiver presente nas culturas celulares utilizadas em seu preparo. Essa preocupação existe em relação às vacinas vivas e mortas, embora, obviamente, a vacina viva apresente maior probabilidade, uma vez que o processo que inativa o vírus da vacina morta pode também inativar o contaminante. É interessante, portanto, que incidência a mais marcante de contaminação de uma vacina ocorreu com a vacina morta contra a pólio. Em 1960, relatou-se que o vírus vacuolizante dos símios 40 (vírus SV40) vivo, um vírus inaparente “passageiro” em células renais de símios, contaminou alguns lotes de vacina contra pólio, sendo resistente ao formaldeído utilizado para inativar o poliovírus. Houve grande preocupação quando se descobriu que o vírus SV40 causa sarcomas em uma variedade de roedores. Felizmente, não causou câncer nos indivíduos inoculados com a vacina contra a pólio contaminada. Certas vacinas virais, ou seja, as vacinas contra gripe, sarampo, caxumba e febre amarela, são produzidas em embriões de galinha. Não devem ser administradas a indivíduos que apresentaram reação anafilática a ovos, embora indivíduos alérgicos a penas de galinha possam ser imunizados. Além das desvantagens das vacinas mortas já mencionadas – ou seja, que induzem proteção de menor duração, conferem menor proteção e induzem menor quantidade de anticorpos IgA –, existe o problema potencial de o processo de inativação poder ser inadequado. Embora raro, isso ocorreu no início da produção da vacina morta contra a pólio. Entretanto, vacinas mortas exibem duas vantagens: não podem reverter à virulência e são mais termoestáveis; desse modo, podem ser mais facilmente empregadas em regiões de clima tropical. A maioria das vacinas virais é geralmente administrada antes de uma exposição conhecida; isto é, são administradas pré-exposição. Entretanto, existem duas vacinas, as vacinas contra raiva e hepatite B, também efetivas quando administradas pós-exposição, uma vez que o período de incubação dessas doenças é suficientemente longo, de modo que a imunidade induzida pela vacina pode prevenir a doença. Assim, a vacina contra raiva é administrada com maior frequência a pessoas que sofreram mordedura por um animal potencialmente raivoso, e a vacina contra hepatite B é administrada a pessoas que sofreram lesão com agulha. A perspectiva para o futuro é que algumas das desvantagens das atuais vacinas sejam superadas pelo uso de antígenos virais purificados produzidos a partir de genes clonados em bactérias ou leveduras. As vantagens dos antígenos produzidos pelo processo de clonagem são: não contêm ácidos nucleicos virais e, desse modo, não podem replicar-se UNIFG/BRUMADO
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