Buscar

O ÓDIO NA CONTRATRANSFERÊNCIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

O ÓDIO NA CONTRATRANSFERÊNCIA
O objetivo é examinar um dos aspectos do tema ambivalência – ódio na contratransferência. A tarefa do analista que assume a análise de um psicótico é intensamente afetada por esse fenômeno, e a análise de paciente psicóticos revela-se impossível a não ser que o ódio do próprio analista esteja muitíssimo discernível e consciente. Isso equivale a dizer que o analista deve ser ele mesmo analisado, mas implica também em afirmar que a análise do psicótico é irritante, se a compararmos a de um neurótico, e que isto lhe é inerente.
O manejo de um psicótico é inevitavelmente irritante. Diante das críticas expressas por Winnicott, a respeito do tratamento psiquiátrico, com os eletrochoques e leucotomia, ele reconhece a extrema dificuldade inerente ao trabalho do psiquiatra, e especialmente da enfermagem psiquiátrica. Os pacientes insanos representam sempre uma grande cara emocional para os que deles cuidam. Mas, isto não significa que devemos aceitar qualquer coisa feita pelos psiquiatras e neurocirurgiões como sendo legítimas da ciência.
A fim de ajudar aos que praticam a psiquiatria geral, o psicanalista deve estudar os estágios primitivos do desenvolvimento emocional do indivíduo enfermo, e a natureza da carga emocional que recai sobre o psiquiatra ao fazer o seu trabalho. A contratransferência também precisa ser compreendida pelos psiquiatras. Quanto melhor eles souberem dos sentimentos em relação ao paciente, mais difícil será para o medo e o ódio tornarem-se os motivos determinantes do modo como eles tratam os pacientes.
É possível classificar os fenômenos contra transferenciais da seguinte maneira:
Anormalidade nos sentimentos contra transferenciais, e relacionamentos e identificações padronizados e reprimidos do analista. (Analista precisa de mais análise).
As identificações e tendências oriundas da experiência e do desenvolvimento pessoal do analista, que fornecem as bases positivas do seu trabalho analítico e tornam esse trabalho diferente dos outros analistas.
Contratransferência verdadeiramente objetiva ou, o amor e ódio do analista em relação à personalidade e aos comportamentos reais do paciente, com base numa observação objetiva.
Um analista que se propõe a analisar pacientes psicóticos ou antissociais devem estar profundamente conscientes de sua contratransferência para conseguir identificar e examinar as suas relações objetivas ao paciente – incluirão o amor e o ódio. 
Fenômenos contra transferenciais representarão, em certos momentos, o elemento crucial da análise.
O paciente reconhece no analista somente o que ele mesmo é capaz de sentir. Quanto às motivações: 
Obsessivo tenderá a pensar que o analista faz seu trabalho de um modo obsessivamente vazio; 
O hipomaníaco, incapaz de sentir-se deprimido, a não ser por uma guinada extrema de humor, em cujo desenvolvimento emocional a posição depressiva não foi alcançada com solidez, não sendo capaz de sentir culpa, responsabilidade, concernimento de modo profundo, não conseguirá perceber que o trabalho do analista tem por objetivo fazer reparações a respeito de seus próprios sentimentos de culpa (do analista); 
O neurótico tenderá a ver o analista com ambivalência em relação a ele, e a esperar por uma cisão entre amor e ódio do analista; 
O psicótico encontra-se num estado de amor e ódio coincidentes, ele terá profunda convicção de que o analista só é capaz de relacionar-se com ele a partir desse fenômeno brutal e perigoso – neste caso, se o analista demonstrar amor ele certamente matará o paciente no mesmo instante.
A coincidência entre amor e ódio é algo característico da análise de psicóticos, dão margem a problemas de manejo que podem facilmente exigir do analista mais do que ele pode. Essa coincidência é algo distintivo da agressividade que complica o impulso do amor primitivo, e implica que na história desse paciente ocorreu um fracasso no ambiente à época dos primeiros impulsos instintivos em busca do objeto.
O ódio não deve ser negado, pois o ódio legítimo nesse contexto deve ser percebido claramente, e mantido num lugar à parte para ser utilizado numa futura interpretação.
A fim de nos tornarmos capazes de analisar pacientes psicóticos, devemos em nossa análise alcançar os níveis mais primitivos em nós mesmos, e este é mais um exemplo de que as respostas para muitos problemas obscuros da prática psicanalítica encontram-se na análise adicional do psicanalista. 
Uma das tarefas mais importantes na análise de qualquer paciente é a de manter a objetividade em relação a tudo aquilo que o paciente traz, e em um caso especial desse tema é a necessidade de o analista ser capaz de odiar o paciente objetivamente. Nas análises mais comuns, não é difícil o analista não conseguir administrar o seu próprio ódio, este mantém-se latente. O ponto é que através da sua própria análise o analista tenha se livrado de amplos estoques de ódio inconscientes pertencentes ao passado e aos seus conflitos internos. Há outras razões pelas quais o ódio permanece oculto e mesmo despercebido enquanto tal – ódio expresso pelo final da sessão. 
O trabalho da análise se faz por meio de interpretações verbais da transferência que emerge do inconsciente do paciente. O analista assume o papel de uma ou outra figura confiável da infância do paciente, ele fatura o sucesso daqueles que fizeram o trabalho braçal quando o paciente era um bebê. Tudo isso faz parte da descrição do trabalho psicanalítico rotineiro que na maioria dos casos lida com pacientes cujos sintomas são de natureza neurótica. Na análise de psicóticos, o analista está sujeito a uma tensão cuja qualidade e dimensão são inteiramente diferentes.
O analista deve estar preparado para suportar a tensão sem esperar que o paciente saiba coisa alguma sobre o que ele está fazendo, talvez por um longo período. Para consegui-lo, ele deve ter facilidade em dar-se conta de seu medo e ódio. Ele se encontra na mesma posição da mãe de um bebê recém-nascido ou ainda não nascido. Mais cedo ou mais tarde poderá contar ao paciente por que coisas ele passou a fim de ajudá-lo, mas nem sempre as análises conseguem chegar a esse ponto. Em certos casos, o paciente teve tão poucas experiências positivas no seu passado que não há muito o que trabalhar.
Há uma enorme diferença entre os pacientes que tiveram experiências positivas no início, pois estas podem ser descobertas na transferência, e aqueles cujas experiências inicias foram tão deficientes ou distorcidas que o analista terá de ser a primeira pessoa na vida do paciente a fornecer certos elementos essenciais do ambiente. No tratamento desses, muitas coisas normais da técnica analítica tornam-se de importância vital.
O ódio do analista fica em geral latente, e pode continuar assim com muita facilidade. Na análise de psicóticos, o analista encontra-se sob uma pressão muito maior para manter o seu ódio latente, e só poderá fazê-lo se estiver plenamente consciente do mesmo. Em certos estágios de certas análises, o ódio do analista é na verdade buscado pelo paciente, e nesses momentos é necessário expressar um ódio que seja objetivo. Quando o paciente está à procura de um ódio legítimo, objetivo, ele deve ter a possibilidade de encontra-lo, caso contrário não se sentirá capaz de alcançar o amor objetivo.
Dada a grande complexidade do problema do ódio e suas raízes, é importante resgatar um determinado aspecto que é importante para os analistas de pacientes psicóticos. 
A mãe odeia o bebê antes que este a odeie, e antes que ele possa saber que sua mãe o odeia.
À medida que o bebê se torna capaz de se sentir uma pessoa inteira, o termo ‘ódio’ passa a ter sentido para descrever um certo conjunto de sentimentos. 
A mãe, no entanto, odeia o seu bebê desde o início. Freud, acredita Winnicott, achava possível que a mãe, em determinadas circunstâncias, sentisse apenas amor por seu bebê do sexo masculino, mas disto podemos duvidar. Conhecemos o amor da mãe e o admiramos por ser tão forte e real. 
Winnicott apresenta certos motivos pelosquais a mãe odeia o seu bebê, mesmo que seja um menino:
O bebê é uma concepção mental (sua);
Não é aquele das brincadeiras de infância, um filho do pai ou do irmão;
Não é produzido magicamente;
É um perigo para o seu corpo durante a gestação e o parto;
Interfere com a sua vida privada, é um obstáculo para a sua ocupação anterior;
Mais ou menos intensamente, a mãe sente que o bebê é algo que a sua própria mãe deseja, e ela o produz para aplacá-la;
O bebê machuca os seus mamilos mesmo quando suga, o que inicialmente implica em mastigação;
Ele é impiedoso, trata-a como lixo, uma serva sem pagamento, uma escrava;
Ela tem que amá-lo, com suas excreções e tudo o mais, pelo menos no início, até que ele venha a ter dúvidas sobre si próprio; entre outros motivos.
Na análise de psicóticos e nas últimas fases da análise de pacientes normais, o analista irá encontrar-se numa posição comparável à mãe de um bebê recém-nascido. Numa transgressão profunda, o paciente não tem como identificar-se com o analista ou apreciar o seu ponto de vista, da mesma forma que o feto ou o bebê recém-nascido é incapaz de sentir simpatia pela mãe.
A mãe deve ser capaz de tolerar o sentimento de ódio contra o bebê sem fazer nada a esse respeito. Ela não pode expressá-lo para ele. No caso de temer a sua própria reação, ela não conseguirá odiar adequadamente quando machucada, e poderá cair no masoquismo, o que leva à falsa teoria de um masoquismo natural às mulheres. O ponto mais interessante é a sua capacidade de ser tão agredida e sentir tanto ódio por seu bebê sem vingar-se dele, e sua aptidão para esperar por recompensas que podem vir ou não muito mais tarde.
Quando a mãe (ou o pai) brinca com o bebê, o bebê adora a brincadeira e não sabe que eles estão expressando ódio com suas palavras, por vezes em termos de símbolos ligados ao nascimento. (Canção de ninar – não se trata de uma canção sentimental). O sentimentalismo não tem utilidade para os pais, pois consiste numa negação do ódio e do ponto de vista do bebê, o sentimentalismo na mãe é muito prejudicial.
Uma criança ao se desenvolver não é capaz de tolerar toda a extensão de seu ódio num ambiente sentimental, ela precisa de ódio para poder odiar. Se isto é verdade, não podemos esperar que um paciente psicótico em análise consiga tolerar o seu ódio pelo analista, a não ser que o analista possa odiá-lo.
Se tudo isso for aceito, fica para ser discutida a questão de como interpretar o ódio do analista pelo paciente. Trata-se, obviamente, de um problema que implica em perigo, exigindo o mais cuidadoso timing possível. Porém, uma análise permanecerá incompleta enquanto mesmo em sua última fase não seja possível ao analista contar ao paciente o que ele, analista, fez sem que o paciente soubesse, por estar tão doente nas fases iniciais. Enquanto esta interpretação não for feita, o paciente permanecerá de algum modo na condição de uma criança – incapaz de atender o que ela deve à sua mãe.
O analista deve dispor toda a paciência, tolerância e confiabilidade da mãe devotada ao bebê. Deve reconhecer que os desejos do paciente são necessidades. Deve deixar de lado quaisquer outros interesses a fim de estar disponível e ser pontual e objetivo e deve parecer querer dar o que na verdade precisa ser dado apenas em razão das necessidades do paciente.
Pode ocorrer um longo período inicial no qual o ponto de vista do analista não poderá ser apreciado, mesmo inconscientemente, pelo paciente. Não é possível esperar por reconhecimento porque, na primitiva raiz do paciente que está sendo pesquisada, não existe a capacidade para a identificação com o analista e, obviamente, está fora do alcance do paciente perceber que o ódio do analista é muitas vezes deflagrado precisamente por aquilo que o paciente faz a partir de seu modo bruto de amar.
Na análise, de pesquisa, ou no manejo rotineiro de pacientes do tipo psicótico, uma forte tensão é imposta ao analista (psiquiatra, enfermeira psiquiátrica), tornando importante o estudo dos modos pelos quais as ansiedades de natureza psicótica e também o ódio são provocados nos que trabalham com pacientes psiquiátricos gravemente doentes. Somente desta maneira podemos evitar as terapias que se adaptam mais às necessidades do terapeuta do que às necessidades do paciente.

Outros materiais