Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Capítulo 9 Centrifugação ou Turbinagem da Massa Cozida Marcos Omir Marques 115 9. CENTRIFUGAÇÃO OU TURBINAGEM DA MASSA COZIDA 9.1. Introdução Estando o “licor mãe” tecnicamente esgotado, faz-se necessário separa-lo dos cristais para obter o açúcar propriamente dito. Esse processo de separação do “licor mãe” dos cristais de açúcar é realizado pelo sistema de centrifugação através das turbinas centrífugas de açúcar. As centrífugas podem ser agrupadas em dois tipos principais: centrífugas intermitentes e centrífugas contínuas. De forma geral, as centrífugas de açúcar compõem-se de um cesto metálico telado ao qual, se conecta um eixo vertical através da sua extremidade inferior. Este eixo, por sua vez, é acionado por um motor elétrico, sendo o movimento transferido ao conjunto eixo/cesto através de polias. Assim, estando o motor em funcionamento, seus movimentos são transferidos ao conjunto eixo/cesto, conferindo-se movimento de rotação. Esse movimento de rotação, por sua vez, acaba por gerar força centrífuga no interior do cesto. Dessa forma, quando o cesto encontra-se em movimento, a tendência que se apresenta é de a massa cozida espalhar-se por sobre a superfície interna da tela. Com o aumento da rotação há intensificação da força centrífuga, fazendo com que o “licor mãe” drene através dos orifícios da tela. Os cristais de sacarose, por sua vez, são retidos no interior da tela. No caso de centrífugas intermitentes, as porções iniciais do mel drenado é denominado de mel pobre. Porém, após a aplicação de água e injeção de vapor para a remoção do filme de “licor mãe” que ainda permanece recobrindo os cristais de sacarose, conferindo-lhes coloração escura, a porção de mel obtida apresenta maior teor de sacarose devido à solubilização parcial da superfície dos cristais promovida por essas duas novas frações introduzidas no processo. 9.1.1. Centrífugas intermitentes Essas centrífugas apresentam bolsões com acionamento por motores de indução por corrente alternada e acionamento simples, possuindo pólos comutáveis e duas velocidades. A velocidade plena ocorre no centro da camada de açúcar, sendo que apenas um motor de acionamento inverso é utilizado para descargas em baixas velocidades. Todo processo é automático, sendo que o sistema apresenta regulagens de trabalho determinado pelas características da massa cozida e pela qualidade do açúcar desejado. Geralmente o processo apresenta um tempo de cerca de 3 minutos para se completar. A separação do mel ocorre usualmente em três estágios: a) remoção do mel em excesso. b) exclusão adicional do mel para promover vazios entre os cristais. c) redução do mel ao redor dos cristais. A velocidade de remoção do mel não é constante ao longo do período de duração da centrifugação. Assim, no início a velocidade costuma ser maior do que no final. Contudo, fatores como a viscosidade do mel e os tamanhos dos cristais são fundamentais para definir a amplitude dessas diferenças, bem como do estabelecimentos dessas velocidades. A velocidade de remoção do mel é menor em açúcares cujos cristais são desuniformes quanto Capítulo 9 Centrifugação ou Turbinagem da Massa Cozida Marcos Omir Marques 116 ao tamanho. Assim, a velocidade de remoção do mel é proporcional ao comprimento dos cristais elevado ao quadrado dividido pela viscosidade do mel. Outro ponto determinante é a lavagem com água para reduzir o filme do mel objetivando adequar a Pol desejada do açúcar. Vários fatores interferem no rendimento desse método. Entre estes destacam-se o método de aplicação, a distribuição e forma dos cristais, a quantidade de água, a temperatura e o tempo de aplicação. A Pol desejada do açúcar está ligada à quantidade de água utilizada e o tempo de centrifugação. O tempo de centrifugação varia segundo a viscosidade do mel, o tamanho e a uniformidade dos cristais. Esta, por sua vez, é de vital importância para a remoção do licor em centrífugas intermitentes, sendo que suas partes superiores devem ser fechadas com tampa, de modo a reduzir a ventilação e reter o calor ao longo do ciclo de centrifugação. 9.1.1.1. Centrífugas Weston Essas centrífugas são constituídas de um motor, situado na sua parte superior, o qual aciona um eixo vertical que sustenta um cesto cilíndrico, na qual se coloca a massa cozida a ser centrifugada. O cesto é perfurado para passar o mel e reforçado para resistir à força centrífuga. É composto também por telas com a finalidade de segurar o açúcar e facilitar a drenagem do mel. A parte superior da centrífuga possui uma abertura para a admissão de massa cozida e na sua parte inferior outra abertura (de saída) que se apresenta apenas quando há o deslocamento da válvula cônica para baixo, no momento da descarga dos cristais de sacarose livres do “licor mãe”. Geralmente, este sistema possui várias centrífugas alinhadas, formando uma série. A massa cozida, ao ser centrifugada, passa por um pequeno cristalizador instalado atrás dos motores das centrífugas, sendo que cada centrífuga possui uma calha basculante, o que assegura o enchimento do cesto na fase de carregamento. A parada da centrífuga, ao final do ciclo de centrifugação, é assegurada por um sistema de freios, geralmente constituído por garras guarnecidas de lonas, envolvendo uma polia, sobre a qual, quando o sistema não for automatizado, o operador pode exercer pressão através do acionamento de uma alavanca. Capítulo 9 Centrifugação ou Turbinagem da Massa Cozida Marcos Omir Marques 117 Figura 9.1. Centrífuga tipo Weston com cesto cilíndrico e eixo vertical. Figura 9.2. Centrífugas intermitentes com cestos cônicos e eixos verticais, para a produção de açúcar de 1 a . Usina Açucareira Guaira - Guaira, SP. Capítulo 9 Centrifugação ou Turbinagem da Massa Cozida Marcos Omir Marques 118 Figura 9.3. Descarga de açúcar cristal branco sobre esteira de forro branco e móvel, por acionamento da válvula cônica de descarga em centrífuga intermitente automática. Usina Éster – Cosmópolis, SP, Brasil. 9.1.1.2. Centrífugas elétricas Essas centrífugas podem ser acionadas de 3 maneiras distintas: a) Acionamento por correias. Esse sistema não é mais empregado nos equipamentos atuais. b) Acionamento hidráulico. Esse sistema é muito pouco utilizado em função dos problemas operacionais que apresenta. c) Acionamento elétrico. Esse sistema é o mais utilizado. O mesmo é realizado por motores elétricos. O sistema pode ser classificado em dois tipos: 1. Por motor trifásico – caracteriza por possuir um sistema de indução em curto circuito, e ser extremamente simples e altamente resistente. 2. Sistema WARD/LEONARD - O motor da centrífuga possui corrente contínua alimentado por um grupo conversor que, por sua vez, é alimentado pela rede alternada trifásica da usina. Apresenta como vantagens: a) Possibilidade de escolha da velocidade de rotação da centrífuga. b) Não necessita estar ligada à freqüência da rede alternada das usinas. c) o controle da velocidade traz por conseqüência o controle do ciclo de centrifugação. d) Apresenta baixo consumo de energia por tonelada de açúcar produzido. Outra vantagem das centrífugas elétricas é permitir, através do freiamento elétrico, recuperação de parte da energia consumida. Na prática este freiamento elétrico possui uma eficiência de apenas 60% da velocidade normal, correspondendo a mais da metade da energia acumulada. Os resultados de recuperação de energia são maiores quando utilizados no sistema WARD/LEONARD. 9.1.1.3.Centrífugas duplas A centrifugação dupla é comumente empregada na fabricação de açúcar branco. Na fabricação de açúcar demerara é freqüentemente utilizada para açúcares tipo C e raramente para açucares dos tipos A e B. Capítulo 9 Centrifugação ou Turbinagem da Massa Cozida Marcos Omir Marques 119 Para um funcionamento satisfatório, duas condições da massa cozida a ser centrifugada, são essenciais: 1. homogeneidade do tamanho dos cristais. 2. Viscosidade do “licor-mãe”. 9.1.1.4. Centrífugas com descarga natural Estas centrífugas caracterizam-se por apresentar aberturas inferiores constantemente abertas, pois não possuem válvula de obturação. O fundo é formado por rebordos inferiores muito inclinados para que a massa de açúcar desça por si própria quando a mesma encontra-se na fase final do processo. A inclinação do fundo traz por conseqüência: a) aumento da superfície de fricção do cesto com o ar ambiente e com o volume de açúcar. b) aumento do diâmetro do cubo e do torque de resistência provocado pela rotação. 9.1.2. Centrífugas contínuas São utilizadas para a produção de açúcares que serão refundidos. Não apresentam bom desempenho para açúcares comerciais dada à dificuldade em produzir cristais uniformes de alta qualidade. Essas centrífugas são instaladas para substituir as centrífugas intermitentes quando o objetivo é o de se trabalhar com massas cozidas de baixas purezas. Esses equipamentos apresentam as vantagens de: a) baixos custos de instalação. b) maior capacidade de produção. c) menor consumo de potência. Como desvantagem apresentam a característica de fornecer melaços com purezas mais elevadas, geralmente de 1 a 2 % maiores do que o obtido em centrífugas intermitentes. Além disso, necessitam de maior atenção por parte dos operadores, pois são eles que determinam a vazão de alimentação de massa cozida e de água de lavagem com base na experiência prática de cada um. Assim, como pode-se perceber o sistema não é automatizado. A vazão de alimentação de massa é, em geral, controlada pela carga de um motor elétrico. Embora essas centrífugas apresentem uma carga constante, isso não significa que o seu produto final tenha sempre a mesma qualidade ao longo do tempo. A aplicação de água e vapor costumam ser introduzidas através de orifícios na face interna dos cestos. Nos dois casos é difícil de manter condições ótimas de fluxo. Os melhores resultados são obtidos com a utilização de apenas vapor introduzido na tubulação de alimentação da massa sem tocar na tela do cesto. As maiores eficiências ocorrem quando as massas cozidas são aquecidas, porém, em intensidade tal que não promova a solubilização da sacarose na forma cristalizada. Nesses tipos de centrífugas o bom desempenho depende de um acompanhamento contínuo da operação. Sua capacidade máxima de operação é definida como sendo aquele em que se obtém cristais de qualidade sem que haja aumento da pureza do mel resultante. Com cristais de qualidade mediana (tamanho de aproximadamente 0,2 mm) a pureza do açúcar deverá ser de aproximadamente de 85%. As decisões para os ajustes no valor e na vazão de alimentação da centrífuga são normalmente realizadas com base na cor do açúcar. A consistência do açúcar produzido também pode ser levada em consideração. O açúcar não pode ser um pó seco, nem ter a consistência da massa cozida. Deve possuir a Capítulo 9 Centrifugação ou Turbinagem da Massa Cozida Marcos Omir Marques 120 consistência do açúcar mascavo. Outro método alternativo é o que adota o paladar do operador. Por este método fica estabelecido que o açúcar que estiver com gosto de doce foi muito lavado. Caso apresente gosto amargo, significa que o mesmo foi muito lavado. Nesse caso, o gosto ideal é o salobro. Existem um grande número de centrífugas contínuas as quais podem ser agrupadas em dois modelos principais. São eles: a) Centrífugas cilíndricas contínuas empurradoras. b) Centrífugas contínuas cônicas, com eixo horizontal ou vertical. 9.4. Centrífugas contínuas para produção de açúcar de 2 a . Usina Açucareira Guaira – Guaira, SP. 9.1.2.1. Centrífugas contínuas empurradoras Caracterizam-se por possuírem eixo horizontal. Constituem-se de cesto cilíndrico, muito semelhante ao das centrífugas dos sistemas intermitentes. Seu fundo é inteiriço e as paredes formam uma peneira aberta na extremidade oposta ao fundo. O cesto está acoplado a um pistão que, por meio de óleo sob pressão, proporciona movimenta de forma alternada em sentidos opostos. O cesto gira em torno de 600 a 1000 rpm. A massa cozida é levada até próximo ao fundo e o mel é recolhido em um compartimento que envolve o cesto. O açúcar, por sua vez, é retirado por uma abertura posicionada de forma oposta ao fundo. Neste sistema podemos atingir uma fabricação de 5 a 10 t h -1 de açúcares A e B. Esses equipamentos não são empregados para açúcar do tipo C. Apesar de consumirem pouca energia, o sistema não se difundiu na fabricação de açúcar de cana, pois o açúcar obtido apresenta umidade relativamente elevada, o que leva à formação de torrões. Capítulo 9 Centrifugação ou Turbinagem da Massa Cozida Marcos Omir Marques 121 Figura 9.5. Corte transversal de centrífuga contínua Escher-Wyss. 9.1.2.2. Centrífugas contínuas cônicas São as mais utilizadas entre os modelos contínuos para a fabricação de açúcar de cana. Podem ser agrupadas em duas categorias: a. Centrífugas com eixo horizontal. b. Centrífugas com eixo vertical. 9.1.2.3. Centrífugas contínuas cônicas com eixo horizontal São fabricadas em duas dimensões (700 e 1015 mm) e com 3 ângulos de cone de 26 o , 30 o , e 34 o , sendo os de 26 o e 30 o os mais utilizados na fabricação de açúcar de cana. O modelo mais conhecido é a ALLIS-CHALMERS. O ponto mais importante deste modelo é a lavagem necessária nas centrífugas contínuas, mesmo para a massa cozida do tipo C. Recomenda-se que não se utilize de níveis superiores a 32 L de água na lavagem por m 3 de massa cozida do tipo C, pois índices superiores facilitam a dissolução dos cristais de sacarose. Capítulo 9 Centrifugação ou Turbinagem da Massa Cozida Marcos Omir Marques 122 Figura 9.6. Centrífuga marca Allis Chalmers. 9.1.2.4. Centrífugas contínuas cônicas com eixo vertical São fabricados por HEIN-LEHRNANN, B. M. A., Western States & Silver, sendo este modelo o mais difundido na produção de açúcar de cana. A vazão da massa cozida é de aproximadamente 2 a 3 t h -1 , em massa cozida do tipo C e de 5 a 7 t h -1 , em massa cozida do tipo B. A potência necessária para essa atividade é de 20 a 30KW. A massa cozida, aquecida a 50 o C, desce através do centro do cone, sendo sua extremidade superior substituída por uma pequena parte côncava inteiriça ou perfurada, dependendo do modelo. A lavagem é realizada por uma rampa, sendo os méis ricos recolhidos separadamente dos méis pobres. O açúcar, por sua vez, é retirado pela parte posterior. A lavagem pode ser feita por água ou vapor. Figura 9.7. Centrífuga contínua cônica com eixo vertical. Marca B.M.A.
Compartilhar