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Os Economistas - Joseph Alois Schumpeter - Teoria do Desenvolvimento Econômico

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OS	ECONOMISTAS
JOSE PH ALOI S SCHU MPETER
TEORIA DO DESEN VOLVIM EN TO ECONÔMICO
UMA INVES TIGAÇÃO SOBRE LUCROS, CAPITAL, CRÉD ITO, JURO E O
CICLO ECONÔMICO
Tradução de Mar ia Sílvi a Poss as
Fun dador
VICTOR CIVITA (1907 - 1990 )
Editora Nova Cultura l Ltda.
Copyright © des ta edição 1997 , Círculo do Livro Ltda.
Rua Pa es Leme - 10º an dar
CEP 05424 -010 - São Pau lo - SP.
Títu lo origina l: Theorie der Wirtschaftlichen En twicklung
Dunk er & Hum blot, Berlim, Alemanha , 1964 .
Pu blicado sob licença de Duncker & Hum blot, Alemanha
Tra dução feita a part ir do texto em língua inglesa, int itu lado
The Theory of Economic Development, tra duzido por Redve rs Opie , por aut orização espe cial de The Pr eside nt an d
Fellows of Har var d College, Cam bridge, USA.
Direitos exclusivos da tra dução des te volum e, Editora Nova Cultura l.
Impress ão e acabam ento:
DONNE LLEY COC HRANE GRÁFICA E EDITOR A BRASIL LTDA. DIVISÃO CÍRCULO - FONE (55 11) 4191 -4633
ISBN 85-351-0915 -3
INTRODU ÇÃO
“Existiram muitos Schum peters: o brilhant e enfant terrible da Es- cola Austríaca que, ant es de comple tar t rint a anos, havia escrito dois livros extraordinários; o jovem cau sídico que chegou a advogar no Cairo; o criador de cavalos; o Ministro da Fazenda na Áustria; o filósofo social e profeta do desenvolvimento capita lista; o historiador das doutr ina s eco- nômicas; o teórico de Economia que preconiz ava o uso de métodos e ins- trum entos mais exatos de raciocínio; o professor de Economia”.1
Ninguém melhor do que Pau l Samu elson para sint etizar a ge- nialidade e a versat ilidade de Josep h Alois Schum peter. O elogio foi publicado inicialment e na Review of Economics and S tatisti cs e, pos- teriorm ent e, na coletânea de tra balhos organ izada por Seymeur E. Harr is em homena gem ao gran de economista au stríaco.
O dia 8 de fevereiro de 1983 é a data do cent enário de na scimento de Schum peter. Nas cido em Triesch, na Morávia, província au str íaca hoje pert encent e à Tchecoslováquia, Schum peter foi o único filho do fabricant e de tecidos Alois Schum peter. Pouca coisa se sabe a respei to de seus pais, exceto que a mãe, Johanna , era filha do médico J ulius Grun er. Joszi (como era chama do na infância) ficou órfão de pai com apena s quatr o anos. Sua mãe casou-se novam ent e em 1893 com o te- nent e-coronel do Exército Austro-Húngaro Sigismun d von Kelle r. A fam ília passou ent ão a vive r em Viena , onde Schum peter concluiu o cur so secun dário com distinção. Posteriorm ent e, ingressou na Facul- dade de Direito da Un ive rsidade de Viena , gra duan do-se em 1906 . Ness a época, as un ive rsidades imperiais incluíam no es tu do de Direito cur sos e exam es complementar es de economia e ciência política. Aluno aplicado, Schum peter dedicou-se ao es tu do da ciência econômica, sem entr etant o descuidar-se do Direito.
J á forma do, decidiu viajar para a Inglat erra , onde perman eceu
SAMUE LSO N, Pau l A. Shcum peter como Professor y Teorico de la Economia (in Schu mpeter, Científico Social — El Sistema Schu mpeteria no.) Barcelona , Ediciones de Occident e S.A., 1965 , p. 107 .
5
durant e vários meses , principalment e em Londres. Na capita l inglesa, além de visitar Cam bridge e Oxfor d, mant eve int ensa vida social. Em 1907 casou-se com Gladys Ricar de Seaves, filha de alto dignitário da Igreja Anglicana e doze anos ma is vel ha que ele. No mes mo ano o casal part iu para o Cairo, onde Schum peter advogou perant e o Tribuna l Mis to Int erna ciona l do Egito, sendo tam bém conselheiro de finan ças de uma princes a egípcia. Motivos de saúde, entr etant o, obrigaram o casal a retornar para Viena em 1909 . Gladys voltou para a Inglat erra em 1914 , lá perman ecendo durant e a I Guerra Mun dial, não retornan do ma is a Viena . Em 1920 , o casal divorciou-se.
Schum peter iniciou a vida un ive rsitária no mes mo ano em que retornou à Austr ia, ou seja, a part ir de 1909 . Nomeado professor de Economia da Un ive rsidade de Czernowitz (ca pita l da província de Bu- kovina , na part e orienta l da Áustr ia, hoje terr itório da Un ião Soviética), Schum peter passou dois anos bastant e felizes . É verdade que consi- dera va seus coleg as extr emam ent e provincianos e incultos, embora os julgasse capazes em seus respe ctivos cam pos de at ividade. Foi em Czer- nowitz, aliás, que teve início sua fama de enfant terribl e. Schum peter costuma va assistir às reun iões da Congregação Un ive rsitária com bota s de montar ia, suscitan do coment ários desfavoráveis. Mas para jantar a sós com a esposa vestia-se a rigor.
Em 1911 , convidado a lecionar na Un ive rsidade de Gra z, capita l da província de Styria, foi nomeado professor de Economia por decreto imperial, graças à influência do economista au stríaco Böhm-Bawerk. Além de ser o ma is jovem cat ed rático da Un ive rsidade, a fama de enfant terribl e criou um certo ma l-es tar entr e os coleg as da congregação. A atm osfera pouco cordial obrigou Schum peter a viajar freqüent ement e para Viena .
Na qua lidade de professor visitant e, passou o ano le tivo de 1913 /14 na Un ive rsidade de Colúmbia (Nova York ), onde foi distinguido com um grau honorífico, o de Litt . D. da Un ive rsidade de Colúmbia. Pouco ant es do início da I Guerra Mun dial, retornou a Viena , aban- donan do a Un ive rsidade de Gra z a part ir de 1918 . Não obs tant e, con- tinuou a pert encer ao qua dro da congregação at é 1921 .
Entr e 1919 e 1924 , decidido a dedicar-se aos negócios e à política, resolve afastar -se das at ividades docent es. Com o Arm istício, o governo socialista alemão, objetivan do es tu dar e prep arar a socialização da indústr ia, cria uma comissão de es tu dos e convida Schum peter para part icipar das discussões. Nomeado membro da “Comiss ão de Sociali- zação de Berlim”, Schum peter perman ece no gru po durant e três meses ; sua part icipação nesse tra balho fez com que se suspeita sse de sua s convicções socialista s. A suspeita , entr etant o, não corr espondia à ver- dade: Schum peter tendia para o sistema capita lista , embora acredi ta sse que o socialismo provavel ment e tr iunfar ia sobre o capita lismo.
Em mar ço de 1919 aceitou o convite de Kar l Renn er — socialista
OS ECONOMISTAS
da ala direita do Part ido Socialista Cristão — para ser o Ministro da Fa zenda do primeiro governo rep ublicano da Áustr ia. Mas perman eceu no car go apena s dez meses . Em seguida passou para a presidência do Banco Pr ivado de Biede rmann bank , em Viena , ant iga e conceitua da institu ição finan ceira de peq ueno port e. O banco abriu falência em 1924 , não soment e devido às difíceis condições econômicas da época, ma s tam bém, e principalment e, pela desones tidade de algun s de seus diretores. Ness a aventura , Schum peter não só perdeu sua fortuna pes- soal como ficou tota lment e endividado, pois não quis aprovei tar a Lei da Fa lência, preferindo pagar com seus bens pess oais a tota lidade dos credores do banco. Após ess a des astrosa aventura empres ar ial, resolve u retornar à vida un ive rsitária. Recusou um convite para lecionar no J apão, ma s aceitou a docência na Un ive rsidade de Bonn , como subs- titut o do eminent e economista libe ra l Heinr ich Dietzel. Schum peter jama is esq ueceria a oportun idade oferecida por ess as un ive rsidades num momento de crise.
Antes de partir para Bonn, casou-se com Annie Reisinger, jovem de 21 anos, filha do porteiro do edifício onde residia sua mãe. A jovem era conhecida da família havia muitos anos, tant o que o próprio Schum - peter e a mãe haviam cuidado de sua educação, envian do-a para Paris e, posteriormente, para a Suíça. Annie faleceu de parto após um ano de casamento, deixan do Schum peter abaladopara o resto da vida. A esse ru de golpe seguiu-se, no mesmo ano, a morte da mãe, com 75 anos.
Mas Schum peter não perman eceu durant e mu ito tempo em Bonn . Em 1927 e 1928 lecionou na Un ive rsidade de Har var d, nos Esta dos Un idos, voltan do a ensinar ness a faculdade no outono de 1930 . Em 1932 , decidido a fixar residência nos Esta dos Un idos, aban donou de- finitivam ent e a Un ive rsidade de Bonn . Nun ca ma is voltou para a Ale- manha ou Áustr ia, embora tivesse visita do a Eur opa alguma s veze s. Esta beleceu-se em Cam bridge (Mass achu sett s) e adquiriu uma casa de cam po em Taconic (Conn ecticut), onde viria a falecer, durant e o sono, no dia 8 de jan eiro de 1950 . Ao iniciar a vida acadêmica em Har var d, Schum peter pass ara a residi r na casa do Prof. Tau ssig. Em 1937 ha via se casado novam ent e, dess a vez com Elizabeth Boody, des- cendent e de família da Nova Inglat erra e economista de méritos pró- prios, sua companh eira insep ar ável até o fina l da vida.
Um dos fun dadores da sociedade de Econometr ia (Econometr ic Society), cuja presid ência exerceu de 1937 a 1941 , Schum peter foi elei to preside nt e da American Economic Associat ion em 1948 e pouco ant es de sua mort e foi elev ado à cat egoria de primeiro preside nt e da recém- forma da Int ernat iona l Economic Associat ion.
Schum peter costuma va afirmar que a capacidade criat iva do ho- mem es ta va em seu ponto ma is alto entr e os 20 e os 30 anos de idade. Após esse período, o tra balho int electua l apena s completa va e am pliava aquilo que a ment e humana produzira de criat ivo até os tr inta anos.
SCHU MPETER
De fato, quan do tinha apena s 25 anos, em 1908 portant o, Schum peter publicou sua primeira gran de obra , A Natureza e a Essência da Eco- nomia Política Teórica (Das Wesen und der Haupti nh alt der Theore- tischen National Ökonomie), e, quatr o anos ma is tar de, sua céleb re Teoria do Desenvolvi mento Econômico (Theorie der Wirtschaftlichen En twicklung) — obra s que es ta beleceram sua importância como teórico de Economia. Ao completar 30 anos, ainda escreveu a história de sua ciência: Épocas da História dos Métodos e Dogmas (Epochen der Dogmen und Methodengeschichte). A ess a evide nt e precocidade, o Professor Ar- thur Spiethoff rendeu a seguint e homena gem: “Não se sabe o que é ma is notável, se o fato de que um homem de 25 e 27 anos tenha dado forma aos próprios fun dam entos de sua ciência ou se, aos 30 anos, tenha escrito a história daquela disciplina”.2
Ao comple tar 50 anos, Schum peter já havia escrito dezessete livros, inclusive duas novelas e centena s de art igos e ensaios cie ntíficos. Embora t rabalha sse 84 horas semanais, parecia insatisfeito com sua produção. Achava que gastava muito tempo com aulas, seminários e conselhos a estu dantes e coleg as, não conseguindo produzir o suficie nte para comple tar seu progra ma de cont ribuições à ciência econômica e à sociologia. No conjunt o de seus t rabalhos destaca-se ainda o trat ado sobre os Ciclos Econômicos (Business Cycles, 1939), cujo subtítulo elucida sua relação com o livro que comentar emos em seguida:“Um a Análise Teórica, Histórica e Estat ística do Processo Capitalist a”. Foi a primeira obra que publicou como Professor da Universidade de Harvard.
Em 1942 , publicou Capitalis mo, Socialis mo e Democracia (Capi - talis m, Socialis m and Democracy), obra considera da por mu itos como um tra balho pess imista por concluir pelo inevitável tr iun fo do socia- lismo e o conseqüent e des apar ecimento do capita lismo. A conclusão é decorr ent e do processo ana lítico dese nvolvido por Schum peter, ma s não exp ress a, de man eira alguma , sua ideologia ou preferência pess oal. Não obs tant e, vale acrescentar que as idéias de Kar l Mar x, a quem Schum peter admira va e respei ta va, rep rese ntaram uma das ma iores influências int electua is em sua forma ção científica. Maior ainda que a influência exercida por Mar x, foi a inspiração na obra do economista fran cês Léon Walra s. Influenciado por Walra s, Schum peter adquiriu o int eresse pela formu lação mat emática e econométr ica das ques tões econômicas, além de optar pela concepção de modelos econômicos para explicar a realidade e para a compreensão do processo de dese nvolvi- mento capita lista .
Em vários art igos, Schum peter tra çou esboços biográficos de gran - des economista s, reun idos ma is tar de no volum e Dez Gra ndes Econo- mistas , de Marx a Keynes. Seu crescent e int eresse pela História levou-o
Joseph Schu mpeter in Memoria n. Seymeur , Harr is, op. cit. p. 18.
OS ECONOMISTAS
a escrever História da Análise Econômica (History of Economic Ana- lysis , 1954 ) que, infelizment e, não chegou a concluir. O livro foi com- pleta do por sua viúva e publicado postumam ent e.
A Teoria do Desenvolvi mento Econômico foi publicado pela pri- meira vez em 1911 , em língua alemã. No prefácio à primeira edição em inglês, Schum peter advert e que alguma s das idéias cont idas no livro datam de 1907 e que, em 1909 , todas as teorias dese nvolvidas na obra já es ta vam formu ladas. Em 1926 , já esgota da a 1ª edição, Schum peter aquiesceu numa nova edição, tam bém em alemão. Ess a edição res ultou numa revisão em profun didade, na qua l, além de outra s modificações, foi omitido o capítu lo VII e reescritos os capítu los II e
VI. O próprio Schum peter afirmou que a Teoria do Desenvolvi mento Econômico, em seu método e objetivo, é “fran cam ent e teórico”. Esclar ece ainda que quan do escrevera o livro pensava diferent e sobre a relação entr e pesq uisa prática e pesq uisa teórica. Afirma sua convicção de que “noss a ciência, ma is do que as outra s, não pode dispe nsar esse senso comum refina do que chamam os ‘teoria’ e que nos dá instrum entos para ana lisar os fatos e os problema s práticos”.
O primeiro capítu lo da obra aprese nta um modelo de economia es tacionário, fun dam enta do num fluxo circular da vida econômica. As- sim, toda a at ividade econômica se aprese nta de man eira idênt ica em sua ess ência, repe tindo-se cont inuam ent e. Mas esse modelo contra sta com a es trutura dinâmica que Schum peter aprese nta no capítu lo II, int itu lado “O Fenômeno Fun dam enta l do Dese nvolvimento Econômico”, onde apar ece a figura centra l do empresário inovador — agent e eco- nômico que tra z novos produtos para o mercado por meio de combi- nações ma is eficient es dos fatores de produção, ou pela aplicação prática de alguma invenção ou inovação tecnológica.
“Nenhum outr o economista , que eu saiba, percebe u tão clara - ment e a import ância crítica da ta xa de crescimento na produção tota l. Como ele afirmou, se a produção aum entar no futur o ao nível que aum entou no pass ado, todos os sonhos dos reforma dores sociais poderão dar certo. Entr etant o, se a política se dirigir à redis tr ibuição imedi ata , não se realizar ão nem os desígnios dos reform ista s, nem o aum ento da produção”.3
Como vemos, Schum peter não só percebe u o papel centra l do crescimento econômico para a justiça social, como advert iu para os perigos da redis tr ibuição prematura . (Opi niões sem dúvida relev ant es para o deb at e econômico do Bra sil cont emporâneo.) Sem dúvida, Schum - peter distinguiu claram ent e a diferença entr e crescimento e dese nvol- vimento: “Nem o mero crescimento da economia, rep rese nta do pelo
SMIT HIES, Arthur . Schum peter e Keynes. In: Harris , op. cit. p. 295 .
SCHU MPETER
aum ento da população e da riqueza, será designa do aqui como um processo do dese nvolvimento”.4
Em outra pass agem da obra , Schum peter des taca a figura do empreendedor: “... na vida econômica, deve-se agir sem resolve r todos os deta lhes do que deve ser feito. Aqui, o sucesso depe nde da intu ição, da capacidade de ver as coisas de uma man eira que posteriorment e se constata ser verdadeira , mes mo que no momento isso não poss a ser comprovado, e de se percebe r o fato esse ncial, deixan do de lado o per- functório, mes mo que não se poss a demonstrar os princípios que nor- tearam a ação”.5
Também a relação en tr e a inovação, a criação de novos mer- cados e a ação de emp ree ndedor está cla r amente de scrita por Schu m- pe ter: “É, con t udo, o p rod utor que, via de regra, inicia a m uda nça econômica, e os consum idores, se neces sá rio, são por ele ‘ed ucados’; eles são, por assim dizer, ensinados a de sejar novas coisas, ou coisas que diferem de algum a for m a daquel as que têm o hábito de consu- mir”.6 Daí a prescrever a “de stru ição criador a”, ou seja, a substi- tu ição de a ntigos produt os e hábitos de consumir por novos, foi u m passo que Schu mpeter ra pid ament e deu ao descrever o p roces so do desenvolvimento econômico.
De outr o lado, ao atr ibuir papel fun dam enta l ao crédito no cres- cimento econômico, Schum peter, de certa man eira , idealizou o moderno banco de dese nvolvimento. Assim, escreveu ele: “Pr imeiro devemos pro- var a afirmat iva, es tranha à primeira vista , de que ninguém além do empreendedor necessi ta de crédito; ou o corolário, apar ent ement e me- nos es tranh o, de que o crédito serve ao dese nvolvimento industr ial. Já demonstram os que o empreendedor, em princípio e como regra , neces- sita de crédito — ent endido como uma tran sferência temporária de poder de compra —, a fim de produzir e se tornar capaz de executar novas combinações de fatores para tornar-se empreendedor”.7
Schum peter considera va que o crédito ao consum idor não era um elemento esse ncial ao processo econômico. Assim, afirmou que não fazia part e da “natur eza econômica” de qua lquer indivíduo que ele obtivesse empréstimo para o consumo, ou da natur eza de qua lquer processo produt ivo que os part icipant es tivesse m de contra ir dívidas para fins consecut ivos. E, apes ar de reconh ecer sua importância, deixa de lado “o fenômeno do crédito ao consumo, pois não tem import ância aqui para nós e, a despe ito de toda a sua importância prática, nós o excluímos de noss as considerações”.8 Na verdade, o raciocínio dese n-
SCHUMPE TER, Josep h. The Theory of Economic Devefopment. Oxfor d. Oxfor d Un ive rsity Pr ess , 1978 . p. 63.
SCHUMPE TER, Josep h. Op. cit., p. 85. 6	Ibid., p. 65.
7	Ibid., p. 102 .
8	Ibid., p. 103 .
OS ECONOMISTAS
10
volvido por Schum peter procura demonstrar que “o dese nvolvimento, em princípio, é impossível sem crédito”.9
Schum peter discut e a função do capita l no dese nvolvimento eco- nômico, consideran do um “agent e espe cial”, e afirma tam bém que o mercado de capita is é aquilo a que na prática se chama mercado de dinh eiro, pois, em sua opinião, não há outr o mercado de capita is. A discuss ão em torno do papel do crédito, do capita l e do dinh eiro un ifica as tr ês font es de poder de compra de man eira extr emam ent e int eres- sant e, cara cterizan do-os como um meio de finan ciar a inovação e, con- seq üent ement e, o crescimento industr ial. Diga-se de pass agem que o modelo de dese nvolvimento econômico concebido por Schum peter é, basicam ent e, um modelo de industr ialização.
Ao exam inar o lucro empres ar ial, Schum peter aprese nta alguma s reflexões sociológicas sobre a impossibili dade de os empreendedores tran smitirem geneticam ent e a seus herdeiros as qua lidades que os conduziram ao êxito, por meio de inovações e novos métodos produt ivos. Assim, compara o es trat o ma is rico da sociedade com um hotel reple to de gent e, alertan do, porém, para o fato de que os hóspedes nun ca são os mes mos. Isso decorr e de um processo no qua l os que herdam a riqueza dos empreendedores es tão gera lment e tão distan ciados da ba- ta lha da vida que não conseguem aum entar ou simplesment e mant er a fortuna herdada.
Schum peter discut e a teoria do juro, refutan do conceitos ant igos, e relaciona o “fenômeno” do juro com o processo de dese nvolvimento. Ess a int erpretação é coerent e com sua idéia de que só o empreendedor inovador necessi ta de crédito. A discussão, apes ar de longa, é extr e- mam ent e int eress ant e. Cont es tan do outr os economista s, que supunham que a ta xa de juros var iava conform e a quant idade de dinh eiro em circulação, Schum peter demonstra que ess a relação é inversa, isto é, “o efeito imedi ato de um aum ento de dinh eiro em circulação seria o aum ento da ta xa de juros e não sua red ução”.10
O capítulo final da Teoria do Desenvolvimento Econômico trat a dos ciclos econômicos, ou seja, dos períodos de prosperidade e recessão eco- nômica comun s no proces so de desenvolvimento capitalista. Embora Schum peter considerasse que o t rat am ento dado ao problema não fosse totalmente satisfatório, as idéias cent rais contidas no capítulo constituíra m o cerne de sua obra Ciclos Econômicos, publicada em dois volum es. Schum - peter relaciona os períodos de prosperidade ao fato de que o empreendedor inovador, ao criar novos produtos, é imitado por um verdadeiro “enxame” de empreendedores não inovadores que investem recursos para produzir e imitar os bens criados pelo empresário inovador. Conseqüentemente,
9	Ibid., p. 106 .
10 Ibid., p. 186 .
SCHU MPETER
11
uma onda de investimentos de capita l at iva a economia, geran do a prospe ridade e o aum ento do nível de emprego.
À medid a que as inovações tecnológicas ou as modificações in- troduzidas nos produtos ant igos são absorvidas pelo mercado e seu consumo se genera liza, a ta xa de crescimento da economia diminu i e tem início um processo recessiv o com a red ução dos investimentos e a baixa da oferta de emprego. A alternância entr e prospe ridade e re- cess ão, isto é, a descont inu idade no aum ento de produção, é vista por Schum peter, dentr o do cont exto do processo de dese nvolvimento eco- nômico, como um obs táculo periódico e tran sitório no cur so norma l de exp an são da renda naciona l, da renda per capita e do consumo.
Até o apar ecimento da teoria de Schum peter, as descont inu idades cíclicas eram explicadas pelos economista s em função das flutua ções da at ividade cósmica do sol, da alternância de boas e más colheita s, do subconsumo, da superpopulação etc. Nes te important e capítu lo da teoria econômica, a gran de contr ibuição de Schum peter foi es ta belecer a corr elação entr e o abru pto aum ento do nível de investimento que se segue às inovações tecnológicas tran sforma das em produtos para o mer- cado, e o período subseq üent e de prospe ridade econômica seguido de uma red ução do nível de emprego, produção e investimento, além da incorporação da novidade aos hábitos de consumo da população.
A tra dução para o portu guês e a publicação des te livro de Schum - peter é important e para os es tu diosos de Economia, es tu dant es un i- versitários e professores, porque setenta anos após sua primeira edição em alemão, o livro é atua l e pert inent e ao deb at e econômico tra vado no Bra sil e nos países industr ializados do Ocident e.
Vale ress altar ainda que o sistema schum peteriano se contra põe, em mu itos aspectos, ao sistema keynesi ano. Schum peter e Keynes, cont emporâneos que se conh eceram pess oalment e, nun ca demonstra - ram nenhuma afinidade int electua l ou ideológica. Arthur Smith ies con- firma que sempre es tive ram int electua lment e mu ito distan ciados. No momento em que o sistema keynesi ano — concepção que vem domi- nan do a política econômica há qua se cinqüenta anos — es tá sendo ques tiona do pelos economista s da supply side economics (cuja s idéias foram perfilha das pelo preside nt e dos Esta dos Un idos, Rona ld Reagan), ass um e ma ior import ância o es tu do do sistema schum peteriano, prin- cipalment e como alternat iva à int ervenção es tata l, à política do Esta do dominador, que part icipa e int erfere na vida do cidadão, do seu na s- cimento à mort e.
O pess imismo de Schum peter em relação ao futur o do capita lismo não par ece algo a se concretizar num futur o próximo. Muito ao con- tr ário, o tr iun fo fina l do socialismo par ece cada vez ma is distant e e improvável. O fato se deve, sem dúvida, à au sência, nos países socia- lista s, da figura do empreendedor inovador. Nesses países, o Esta do
OS ECONOMISTAS
e sua s empres as apena s mostraram -se capazes de copiar a tecnologia produzida pelos empreendedores inovadores no Ocident e.
De outr o lado, a visão otimista de Schum peter de que se o cres- cimento econômico no futur o fosse igua l ao do pass ado — quan do as economias cresciam à ta xa média anua l de 3% — o problema social des apar eceria, tornan do realidade o sonho de todos os reforma dores sociais, tam bém não par ece na iminência de concretização. O que vimos em nosso país, por exemplo, após quinze anos de crescimento econômico inint erru pto, a ta xas com que Schum peter jama is sonhar ia, foi o agra- vam ento de mu itos problema s sociais e uma contínua deterioração da distr ibuição de renda.
Ao render minha s homena gens a um dos ma is brilhant es teóricos da ciência econômica, não posso deixar de referir que, em noss a ciência, nem mes mo as int eligências ma is privilegi adas conseguem produzir boas profecias.
Rubens Vaz da Costa
Rubens Vaz da Costa, economista forma do pela Universidade da Bahia, fez seus estudos de pós-graduação na Un iversidade George Washington (EUA). Doutor honoris causa das Uni- versidades Federal do Ceará e Regio- nal do Nordeste, foi também Secretá- rio de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo, vice-presidente da Editora Abril, Presidente do Banco Nacional da Habitação, Presidente do Banco do Nordeste e Superintendente da Sudene. É at ualmente consultor de empresas.
SCHU MPETER
TEORIA DO
DESEN VOLVIM EN TO
ECONÔMICO*
UMA INVES TIGAÇÃO SOBRE LUCROS, CAPITAL, CRÉDITO, JURO E O
CICLO ECONÔMICO
* Tra duzido de The Theory of Economic Development (An Inquiry into Profits , Capital , Credit, Interest and the Business Cycle). Ed. do Dep artam ento de Economia da Har var d Un ive rsity (USA), 1934 . Reimpress ão de 1978 . Ess a versão do origina l alemão (Theorie der Wirtschaf- tlichen En twicklung) para o inglês por Redve rs Opie lev a o mérito de ter sido revis ta , com modificações, pelo Autor, conform e ele declara no Pr efácio a ess a edição.
NOTA DO TRADU TOR DA
EDIÇÃO INGLES A
Meu objetivo principal foi tran smitir o significado tão precisa- ment e quant o possível, e para esse fim não hesi tei em usar uma fra se canh es tra nos casos em que não ha via equivalent es da palavra alemã em inglês corr ent e. Depois de at enta reflexão decidi-me por “fluxo cir- cular” para Kreisla uf, por ra zões cujo relato tomar ia mu ito tempo. Há dese leg âncias que na da têm a ver com o lado técnico da tra dução. Erra dicá-las implicar ia reescrever tu do, e não par eceu convenient e fazê- lo. O Professor Schum peter es tá tão fam ili ar izado com a língua inglesa que teria inevita vel ment e deixado sua mar ca na tra dução, mes mo que não houvesse dedicado tant o tempo aos pontos ma is difíceis quant o dedicou. Por ess a ra zão e pelas menciona das no prefácio, o livro é ma is do que uma tra dução.
O t í t u lo do origina l a lemão é Theorie der Wirt sch aftlichen En twicklu ng.
Redve rs Opie
PREF ÁCIO À EDIÇÃO INGLES A
Alguma s das idéias proposta s nes te livro procede m do ano de 1907 ; todas es ta vam formu ladas em 1909 , quan do o qua dro gera l dess a an álise das cara cterísticas puram ent e econômicas da sociedade capi- ta lista tomou a forma que perman eceu subs tan cialment e ina ltera da desde ent ão. O livro foi publicado pela primeira vez em alemão, no outono de 1911 . Depois que já es ta va esgota do ha via dez anos, quan do consent i, não sem alguma relut ância, numa segun da edição, omiti o capítu lo VII, reescrevi o II e o VI e red uzi ou acrescent ei aqui e ali. Isso acont eceu em 1926 . A terceira edição alemã é apena s uma reim- press ão da segun da, da qua l foi feita tam bém a prese nt e versão para o inglês.
Estar ia dan do um veredi to mu ito falho sobre o que fiz e pensei desde que o livro apar eceu, se dissesse que o fato de não ter feito alterações que modificasse m ma is do que a man eira de expor foi cau sado por acredi tar que o livro seja sat isfatório em todos os deta lhes. Em bora considere como corr etos no esse ncial tant o as linha s gera is — o que poderia ser chama do de “visão” — quant o os res ulta dos, há mu itos pontos sobre os qua is tenho agora outra opinião. Para mencionar apena s um , à guisa de exemplo: quan do elaborei a teoria do ciclo econômico, que o lei tor encontra no capítu lo VI, tinha como certo que ha via um único movimento ondulatório, a saber, o descoberto por J uglar . Estou convencido agora de que há pelo menos três desses movimentos, pro- vavel ment e ma is, e que o problema ma is important e com que no mo- mento se defrontam os teóricos do ciclo consiste precisam ent e em iso- lá-los e descrever os fenômenos associados à sua int eração. Mas esse elemento não foi intr oduzido na s edições ma is recent es. Pois os livros, como os filhos, tornam -se seres indepe ndent es, uma vez que tenham deixado a casa pat erna . Vive m sua s próprias vidas, enquant o os aut ores tam bém fazem o mes mo. Não se deve int erferir no rum o dos que se tornaram es tranh os à casa. Este livro abriu seu próprio cam inho e, certa ou erra dam ent e, ganh ou o seu lugar na li teratura alemã de sua área e de seu tempo. Par eceu-me melhor mexer o menos possível nele.
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Dificilment e eu teria pensado em um a tra dução para o inglês, se não fosse a sugestão e o es tímulo de meu eminente am igo, o Profes sor Taussig. Por ra zões similar es, não segui o exemplo de meu gran de mes tr e
Böhm-Bawerk, que se int eira va de todas as objeções e críticas com infinito cuidado e incorpora va seus próprios coment ários na s edições posteriores. Não se trata de nenhuma falta de respei to para com os que me deram a honra da crítica cuidadosa à minha ar gum enta ção, o que me levou a limitar ao mínimo a contr ovérsia. Devo confess ar , to- davia, que nun ca me dep ar ei com uma objeção a pontos esse nciais que eu viesse a considerar convincent e.
Este livro é fran cam ent e “teórico” por seu objetivo e método. Este não é o lugar para uma professio fidei quant o ao método. Talvez eu pense agora de modo um pouco diferent e do que pensava em 1911 sobre a relação entr e a pesq uisa “factua l” e a “teórica”. Mant enho, porém, minha convicção de que noss a ciência não pode, em na da ma is do que as outra s, prescindir daquele refina do senso comum que cha- mam os de “teoria” e que nos forn ece as ferram enta s para abordar tant o os fatos quant o os problema s práticos. Por ma is important e que poss a ser a influência de novas ma ss as de fatos não ana lisados, espe cialment e fatos es tat ísticos, sobre o nosso aparat o teórico — e sem dúvida a crescent e riqueza de mat erial factua l deve sugerir cont inuam ent e novos modelos teóricos e, com isso, melhorar discreta e constant ement e qua l- quer es trutura teórica exis tent e —, em qua lquer es tágio dado algum conh ecimento teórico constitu i pré-requisito para o tratam ento de novos fatos, ou seja, de fatos ainda não incorpora dos aos teorema s exis tent es. Se esse conh ecimento perman ecer ru dimentar e inconscient e, pode tra - tar -se de má teoria, porém não deixar á de ser teoria. Não pude con- vencer-me, por exemplo, de que ques tões como a da font e do juro sejam sem import ância ou sem int eresse . Em qua lquer hipótese, só o seriam por culpa do aut or. Espe ro, contu do, forn ecer dentr o em breve omat erial deta lha do que falta aqui, em es tu dos ma is “realista s” sobre o dinh eiro e o crédito, o juro e os ciclos.
O tema do livro forma um todo int erligado. Isso não se deve a nenhum plano preconcebido. Quan do comecei a tra balhar sobre as teo- rias do juro e do ciclo, qua se há um quart o de século, não suspeita va que esses ass unt os se ligar iam um ao outr o e provar iam es tar int ima- ment e relaciona dos aos lucros empres ar iais, ao dinh eiro, ao crédito e semelhant es, da man eira precisa a que me conduziu o dese nrolar do raciocínio. Mas logo se tornou claro que todos esses fenômenos — e mu itos outr os secun dários — eram soment e man ifes tações de um pro- cesso distinto e que certos princípios simples que os explicar iam , tam - bém explicar iam todo o processo. A conclusão, por si mes ma , sugeria que esse corpo teórico poderia ser contra sta do de modo provei toso com a teoria do equilíbrio, que, explícita ou implicitam ent e, sempre foi e ainda é o centr o da teoria tra diciona l. Em preguei a princípio os termos
OS ECONOMISTAS
“es tática” e “dinâmica” para ess as dua s es trutura s, ma s agora deixei definitivam ent e de usá-los nesse sent ido (em deferência ao Professor Fr isch). Foram subs tituídos por outr os, que ta lvez sejam canh es tros. Mas mant enho a distinção, consideran do-a reitera dam ent e de gran de provei to em meu prese nt e tra balho. Isso ocorr eu até mes mo além das front eira s da economia, pelo que pode ser chama do de teoria da evolução cultura l, que aprese nta , em pontos important es, notáveis ana logias com a teoria econômica des te livro. A distinção propriam ent e dita foi objeto de mu ita crítica adversa. Mas é realment e art ificial ou contr ário à vida real mant er sep ara dos os fenômenos implicados na administra - ção de uma empres a dos implicados na criação de uma nova? E isso tem necess ar iam ent e algo a ver com uma “ana logia mecânica”? Os que tive rem pendor para aprofun dar-se na história dos termos deveriam , se assim se sent isse m inclina dos, falar ant es em uma ana logia zoológica, pois os termos es tá tico e dinâmico, embora num sent ido diferent e, foram intr oduzidos na economia por John Stuart Mill. Provavel ment e Mill tomou-os de Comt e, que, por sua vez, nos diz que os empres tou do zoólogo de Blainville.
Meus agra decimentos cordiais ao meu am igo, Dr. Redve rs Opie , que, com inigua lável gent ilez a, empreendeu a árdua tar efa de tra duzir um texto que se mostrou tão resis tent e a esse tra balho. Decidimos omitir os dois apêndices aos capítu los I e II do origina l e tam bém pass agens e par ágra fos esp ar sos. Em algun s lugar es a exposição foi modificada e um certo número de página s foi reescrito. Como o racio- cínio em si não foi altera do em nenhum lugar , penso ser supérfluo dar uma lista das modificações.
Joseph A. Schu mpeter
Cam bridge, Mass achu sett s
Março de 1934
SCHU MPETER
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CAPÍTULO I
O Fluxo Circ ular da Vida Econ ômica Enquan to Condicionado po r Circ uns tânc ias Dadas 11
O processo social, na realidade, é um todo indivisível. De seu gran de cur so, a mão classificadora do investigador extra i art ificialment e os fatos econômicos. A designação de um fato como econômico já envolve uma abs tra ção, a primeira entr e mu ita s que nos são imposta s pelas condições técnicas da cópia menta l da realidade. Um fato nun ca é pura ou exclusivam ent e econômico; sempre exis tem outr os aspectos em gera l ma is important es. Não obs tant e, falamos de fatos econômicos na ciência exatam ent e como na vida comum e com o mes mo direito; com o mes mo direito tam bém com que podemos escrever uma história da li teratura , mes mo apes ar da li teratura de um povo es tar insep ara vel ment e ligada a todos os outr os elementos de sua exis tência.
Os fatos sociais res ultam , ao menos de modo imedi ato, do com- portam ento human o. Os fatos econômicos res ultam do comportam ento econômico. Este último pode ser definido como comportam ento dirigido para a aquisição de bens. Nesse sent ido, tam bém falamos de um motivo econômico para a ação, de força s econômicas na vida social e econômica, e assim por diant e. Todavia, como es tam os preocupados soment e com aquele comportam ento econômico que es tá dirigido à aquisição de bens por troca ou produção, res tr ingiremos seu conceito a esses tipos de aquisição, enquant o deixar emos aos conceitos de motivo econômico e força econômica a ma ior abran gência, porque necessi tam os de am bos fora do cam po ma is es tr eito dentr o do qua l falar emos de comportam ento econômico.
O cam po dos fatos econômicos es tá assim, ant es de tu do, deli- mita do pelo conceito de comportam ento econômico. Todos devem, ao menos em part e, agir economicam ent e; cada um deve ser um “sujeito
Este títu lo foi escolhido em referência a uma exp ress ão usada por Ph ilippovitch. Cf. seu
Grund riss . t. II, Intr odução.
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econômico” (Wirtschaftss ubjekt) ou depe nder de um deles. Mas, tão logo os membros dos gru pos sociais se tornam espe cializados ocupa- ciona lment e, podemos distinguir classes de pess oas cuja at ividade prin- cipal é o comportam ento econômico ou os negócios, de outra s classes em que o aspecto econômico do comportam ento é eclips ado por outr os aspectos. Nesse caso, a vida econômica é rep rese nta da por um gru po espe cial de pess oas, embora todos os outr os membros da sociedade tam bém devam agir economicam ent e. Pode-se dize r que a at ividade daquele gru po constitu i a vida econômica, ’ , e dize r isso não mais acar reta um a abstração, a despeito de todas as relações entr e a vida econômica nesse sentido com as outra s manifestações vitais das pessoas.
Como falamos dos fatos econômicos em gera l, assim o fazemos com o dese nvolvimento econômico. A explicação des te é aqui o nosso objetivo.
Ant es de voltarm os à noss a discussão, vamos nos prover nes te capítu lo dos princípios necess ários e fam ili ar izar-nos com certos ins- trum entos concep tua is dos qua is car eceremos adiant e. Além do ma is, o que se segue deve ser dota do, por assim dize r, de dent es que o engrenem com as rodas da teoria aceita . Renun cio completam ent e à arma dura dos coment ários metodológicos. Com referência a isso, ob- serve-se apena s que o que es te capítu lo oferece é, na verdade, part e do corpo principal da teoria econômica, ma s, no esse ncial, não requer do lei tor na da que hoje em dia precise de justificação espe cial. Além disso, como só poucos dos res ulta dos da teoria são necess ários para nossos objetivos, aprovei tei com sat isfação a oportun idade que se ofe- recia de aprese ntar o que tenho a dize r da forma ma is simples e não- técnica possível. Isso implica um sacrifício do rigor absoluto. Decidi-me, no entant o, por esse cam inho sempre que as vanta gens de uma for- mu lação ma is corr eta es tejam em pontos sem ma ior importância para nós. Com relação a isso, reporto-me a outr o livro meu.12
Quan do investigamos as forma s gera is dos fenômenos econômicos, sua un iform idade ou a cha ve para sua compreensão, indicamos ipso facto que no momento desejamos considerá-los como algo a ser inves- tigado e procura do como o “desconh ecido”, e que desejamos seguir sua pista at é o relat ivam ent e “conh ecido”, exatam ent e como qua lquer ciên- cia faz com seu objeto de investigação. Quan do conseguimos achar uma relação cau sal definida entr e dois fenômenos, nosso problema es tar á resolvido se aquilo que rep rese ntou o papel “cau sal” for não-econômico. Teremos ent ão realizado aquilo de que nós, como economista s, somos capazes, e devemos dar lugar às outra s disciplina s. Se, por outr o lado, o próprio fator cau sal é de natur eza econômica, devemos cont inuar em nossos esforços de expl ana ção at é que pousemos numa base não-eco-
DasWesen und der Haupti nh alt der Theoretischen Nationalökonomie, dora vant e cita do como Wesen.
OS ECONOMISTAS
nômica. Isso é verdade para a teoria gera l assim como para casos concretos. Se pudesse dize r, por exemplo, que o fenômeno da renda da terra se fun da em diferenças na qua lidade dos terr enos, a explicação econômica es tar ia completa . Se puder encontrar a orige m de movimen- tos part icular es de preços em regulam enta ções políticas do comércio, ent ão fiz o que podia como teórico da economia, porque as regulam en- tações políticas do comércio não têm como objetivo imedi ato a aquisição de bens por meio de troca ou produção e por isso não se incluem em nosso conceito de fatos puram ent e econômicos. Estam os sempre preo- cupados em descrever as forma s gera is dos elos cau sais que ligam os dados econômicos aos não-econômicos. A expe riência nos ensina que isso é possível. Os eventos econômicos têm sua lógica, que todo homem prático conh ece e que temos apena s de formu lar conscient ement e com precisão. Ao fazê-lo, considerar emos, para maior simplicidade, um a co- munidade isolada; podemos ver bem a essência das coisas, que é o único interesse deste livro, tant o nesse caso como em outr o mais complicado.
Por isso, delinear emos as cara cterísticas principais de uma ima- gem menta l do mecan ismo econômico. E, para isso, pensar emos pri- meiram ent e num Esta do organ izado comercialment e, no qua l vigorem a propriedade privada, a divisão do tra balho e a livre concorrência.
Se alguém, que nun ca tenha visto ou ouvido falar em ta l Esta do, obse rvasse que um agricultor produz tr igo para ser consum ido como pão numa cidade distant e, ver-se-ia impelido a perguntar como o agri- cultor sabia que esse consum idor queria pão e exatam ent e na quela quant idade. Seguram ent e sur preender-se-ia ao ter conh ecimento de que o agricultor não sabia onde nem por quem o tr igo seria consum ido. Ainda ma is, poderia obse rvar que todas as pess oas por cujas mãos o tr igo deve pass ar em seu cam inho até o consum idor fina l não sabiam na da sobre es te, com a possível exceção dos últimos vendedores do pão, e mes mo es tes devem em gera l produzir ou comprar ant es de saber que esse consum idor part icular vai adquiri-lo. O agricultor po- deria responder facilment e à ques tão a ele formu lada: longa expe riên- cia,13 em part e herdada, ensinou-lhe quant o produzir para alcançar ma ior vanta gem; a expe riência ensinou-lhe a conh ecer a extensão e a int ensidade da deman da com que se deve contar . A ess a quant idade ele se atém tant o quant o pode e só a altera gra dua lment e sob a pressão das circun stâncias.
O mes mo vale para os outr os itens dos cálculos do agricultor, quer calcule tão perfeitam ent e quant o um gran de industr ial, quer che- gue a sua s decisões meio inconscient ement e e por força do hábito. Em gera l, conh ece, dentr o de certos limites, os preços das coisas que deve comprar , sabe quant o de seu próprio tra balho deve empregar (quer
Cf. WIESER. Der natürliche Wert, onde esse ponto foi elabora do e pela primeira vez elucidado seu sent ido.
SCHU MPETER
avalie es te segun do princípios puram ent e econômicos, quer considere o tra balho em sua própria terra com olhos bastant e diferent es de qua is- quer outr os); conh ece o método de cultivo — tu do atra vés de longa expe riência. Tam bém por expe riência, todas as pess oas de quem compra conh ecem a extensão e a int ensidade de sua deman da. Como o fluxo circular dos períodos econômicos — que é o ma is notável dos ritmos econômicos — mar cha relat ivam ent e rápido e como em todo período econômico ocorr e esse ncialment e a mes ma coisa, o mecan ismo da troca econômica se opera com gran de precisão. Os períodos econômicos pas- sados governam a at ividade do indivíduo — num caso como o nosso
— não apena s porque o ensinaram severam ent e o que deve fazer, ma s tam bém por outra ra zão. Durant e todos os períodos, o agricultor precisa vive r, seja diretam ent e do produto físico do período precede nt e, seja dos rendimentos que puder obter de seu produto. Todos os períodos precede nt es, adema is, emaranharam -no numa rede de conexões eco- nômicas e sociais da qua l ele não pode livrar -se facilment e. Legaram -lhe meios e métodos de produção definidos. Tudo isso o mant ém firm ement e na sua tr ilha com grilhões de ferro. Aqui apar ece uma força que tem considerável significado para nós e que logo nos ocupará ma is int en- sam ent e. No entant o, nesse momento apena s afirmar emos que, na aná- lise que se segue, suporemos sempre que em cada período econômico todos vive m de bens produzidos no período precede nt e — o que é pos- sível se a produção se es tende pelo pass ado adentr o, ou se o produto de um fator de produção flui cont inuam ent e. Isso rep rese nta meram ent e uma simplificação da exposição.
O caso do agricultor pode agora ser genera lizado e um tant o dep ura do.
Suponham os que cada um venda toda a sua produção e, na medid a em que a consome, é o seu próprio freguês, já que, na verdade, ta l consumo privado é determ ina do pelo preço do mercado, ou seja, indi- retam ent e pela quant idade de outr os bens obtenível com a res tr ição do consumo privado de seu próprio produto; e suponham os, ao contr ário, que a quant idade de consumo privado atu e sobre o preço de mercado exatam ent e como se a quant idade em ques tão apar ecesse realment e no mercado. Todos os homens de negócios es tão portant o na posição do agricultor. São todos, ao mes mo tempo, compra dores — com o pro- pósito de produzir e consum ir — e vendedores. Nes ta análise, os tra - balha dores podem ser concebidos de man eira similar , ou seja, seus serviços podem ser incluídos na mes ma cat egoria que outra s coisas suscetíveis de comercialização. Ora , como cada um desses homens de negócios, toma do individua lment e, produz seu produto e encontra seus compra dores com base em sua expe riência, exatam ent e como o nosso agricultor, o mes mo deve ser verdade para todos, toma dos em conjunt o. À part e os imprevis tos, que obviam ent e podem ocorr er por var iados motivos, todos os produtos devem ser vendidos, pois realment e só serão
OS ECONOMISTAS
produzidos tendo como referência as possibili dades do mercado empi- ricam ent e conh ecidas.
Insistam os nisso. A quant idade de carn e que o açougueiro vende depe nde de quant o seu freguês, o alfaiat e, comprar á e a que preço. Isso depe nde, todavia, dos res ulta dos finan ceiros dos negócios des te último, es tes novam ent e depe ndem das necessid ades e do poder de compra de seu freguês, o sapat eiro, cujo poder de compra depe nde, por sua vez, das necessid ades e do poder de compra das pess oas para quem produz; e assim por diant e, até que fina lment e chegamos a al- guém cujos rendimentos provenham da venda de seus bens ao açou- gueiro. Ess a concat enação e depe ndência mútua das quant idades de que consiste o cosmo econômico é sempre visível, em qua lquer das possíveis direções que alguém queira escolher para seguir. Onde quer que se irrompa, para onde quer que se mova a part ir daí, deve-se sempre voltar ao ponto de part ida, ta lvez após um número de passos bem gran de, embora finito. A análise nem chega a um ponto fina l natur al nem esbarra com um a cau sa, ou seja, um elemento que faça mais para determinar outr os elementos do que ser por eles determina do.
Nosso qua dro será ma is completo se rep rese ntarm os o ato de consum ir de forma diferent e da costum eira . Todos, por exemplo, con- sideram -se consum idores de pão, ma s não de terra , serviços, ferro e assim por diant e. Se considerarm os as pess oas como consum idores des- sas outra s coisas, podemos ver ma is claram ent e o rum o toma do pelos bens individua is no fluxo circular .14 Ora , é óbvio que todas as un idades detodas as mercadorias não viajam sempre pela mes ma es tra da e em direção ao mes mo consum idor como viajou, no período econômico an- terior, seu predecessor no processo de produção. Mas podemos supor que isso efetivam ent e ocorr e sem nenhuma alteração esse ncial. Pode- mos ima ginar que, ano após ano, todo emprego recorr ent e de font es perman ent es de capacidade produt iva procura alcançar o mes mo con- sum idor. De qua lquer modo, o res ulta do do processo é o mes mo que se teria se isso ocorr esse . Segue-se, pois, que, em qua lquer lugar do sistema econômico, uma deman da es tá, por assim dize r, espe ran do solicitam ent e cada oferta e que, em nenhum lugar do sistema econô- mico, há mercadorias sem complementos, ou seja, outra s mercadorias em posse de pess oas que desejam trocá-las pelos bens ant eriores, sob condições empiricam ent e determ ina das. Do fato de que todos os bens encontram um mercado, segue-se novam ent e que o fluxo circular da vida econômica é fecha do, em outra s palavra s, que os vendedores de todas as mercadorias apar ecem novam ent e como compra dores em me- dida suficient e para adquirir os bens que mant erão seu consumo e seu
Cf. MARS HALL, A. (Principles. Livro Sexto, assim como sua conferência, “The Old Gene- rat ion of Economists an d th e New”), para quem ess a concepção cum pre o mes mo papel.
SCHU MPETER
equipam ento produt ivo no período econômico seguint e e no nível obtido at é ent ão, e vice-versa.
As famílias e as empres as toma das individua lment e agem, então, de acordo com elementos empiricam ent e dados e de uma man eira tam - bém empiricam ent e determ ina da. Obvi am ent e, isso não significa que não poss a ha ver alguma mu dança em sua at ividade econômica. Os dados podem mu dar e todos agirão de acordo com ess a mu dança, logo que for percebid a. Mas todos se apegarão o ma is firm ement e possível aos métodos econômicos ha bitua is e soment e se submeterão à press ão das circun stâncias se for necess ário. Assim, o sistema econômico não se modificar á ar bitrar iam ent e por iniciat iva própria, ma s es tar á sempre vinculado ao es ta do precede nt e dos negócios. Isso pode ser chama do de princípio de cont inu idade de Wieser.15
Se o sistema econômico realment e não se modifica “por si”, não es tar emos desp rezan do na da de esse ncial com relação ao nosso prese nt e objetivo, se supusermos simplesment e que ele perman ece como é, ma s es tar emos exp ress an do meram ent e um fato com sua precisão ideal. E se descrevermos um sistema completam ent e imut ável, é certo que fa- zemos uma abs tra ção, ma s apena s com o intu ito de expor a essência do que efetivam ent e acont ece. Provisoriam ent e nós o far emos. Não se trata de algo contr ário à teoria ortodoxa, ma s, no máximo, apena s contr ário à sua exposição usua l que não exp ress a claram ent e nosso ponto de vista .16
Pode-se chegar ao mes mo res ulta do por outra via. O tota l de mercadorias produzidas e comercializadas numa comun idade em dado período econômico pode ser chama do de produto social. Para nossos propósitos, não é necess ário aprofun dar-nos ma is no significado do con- ceito.17 O produto social em si não exis te. É tão peq ueno o res ulta do da at ividade sistemática, a que se aspira conscient ement e, quant o o sistema econômico como ta l é uma “economia” que funciona segun do um plano un iform e. Mas é uma abs tra ção útil. Podemos ima ginar que, ao fim do período econômico, os produtos de todos os indivíduos formam em certo lugar uma pilha que é ent ão distr ibuída segun do certos prin- cípios. Como não acarr eta nenhuma mu dança esse ncial dos fatos, a suposição é bastant e admissível até esse ponto. Podemos então dize r que cada indivíduo lança sua contr ibuição nesse gran de rese rvatório social e posteriorm ent e recebe algo dele. A cada contr ibuição corr es-
Exposto ma is recent ement e no tra balho sobre o problema do valor do dinh eiro, Schriften des Vereins für Sozialp oliti k, Relatórios da Sess ão de 1909 .
Cf. Wesen. Livro Segun do.
Cf. sobre esse ponto, espe cialment e Adam Smith e A. Mar sha ll. O conceito é qua se tão ant igo quant o a economia e, como se sabe, tem um pass ado acidenta do que faz necessário usá-lo com precaução. Para conceitos ligados, cf. tam bém FIS HE R. Capital and Income. WAGNE R, A. Grund legung. E fina lment e PIGOU . Preferential and Protective Tariffs , em que se faz mu ito uso do conceito de “Divide ndo Naciona l”. Veja-se tam bém o seu Economics of Welfare.
OS ECONOMISTAS
ponde em algum ponto do sistema uma reivindicação de outr o indivíduo; a cota de cada um es tá disponível em algum lugar . E como todos sabem por expe riência com quant o devem contr ibuir para obter o que querem, tendo em vista a condição de que cada cota acarr eta uma certa contr ibuição, o fluxo circular do sistema es tá fecha do e todas as contr ibuições e cota s devem se cancelar reciprocam ent e qua lquer que seja o princípio segun do o qua l é feita a distr ibuição. Até agora , foi feita a suposição de que todas as quant idades envolvidas são dadas empiricam ent e.
Pode-se aperfeiçoar o qua dro, fazer com que proporcione melhor percepção do funcionam ento do sistema econômico, por meio de um art ifício bem conh ecido. Supomos que toda ess a expe riência não exis te e a reconstru ímos ab ovo,18 como se as mes ma s pess oas, com a mes ma cultura , o mes mo gosto, o mes mo conh ecimento técnico e o mes mo es toque inicial de bens de consumo e de produção,19 ma s sem o au xílio da expe riência, devesse m encontrar seu cam inho em direção à meta do ma ior bem-es tar econômico possível medi ant e um esforço conscient e e raciona l. Com isso, não inferimos que na vida prática as pess oas sejam capazes de ta l esforço.20 Simplesment e queremos tra zer à luz o rati onale do comportam ento econômico, fora de considerações sobre a psicologia efetiva das empres as e famílias em obse rvação.21 Tam pouco pretendemos proporcionar um esboço de história econômica. O que que- remos ana lisar não é o modo como o processo econômico se dese nvolve historicam ent e at é o es tágio em que efetivam ent e o encontram os, ma s o funcionam ento de seu mecan ismo ou organ ismo em um dado es tágio de dese nvolvimento.
Esta an álise sugere, elabora e usa as ferram enta s concep tua is com as qua is já es tam os fam ili ar izados agora . A at ividade econômica pode ter qualquer motivo, até mes mo espi ritua l, ma s seu significado é sempre a sat isfação de necessid ades. Daí a import ância fun dam enta l desses conceitos e proposições que derivamos do fato das necessid ades, sendo o primeiro deles o conceito de ut ilidade e seu derivado, o de ut ilidade mar gina l, ou, para usar um termo ma is moderno, o“coeficient e de escolha”. Cont inuar emos a expor certos teorema s sobre a distr ibuição dos recur sos na gama de usos possíveis sobre a complementar idade e
Esse método se deve a Léon Walra s.
Como todo lei tor de J. B. Clark sabe, em sent ido es tr ito é necess ário considerar esses es toques não em sua s forma s efetivas — como tant os ara dos, tant os par es de bota s etc.
—, ma s como força s produt ivas acumu ladas que podem a qua lquer momento e sem perda ou choque ser tran sforma das em qua isquer mercadorias espe cíficas desejadas.
Portant o, há uma má int erpretação na objeção lev anta da tão freqüent ement e à teoria pura de que es ta supõe que as únicas força s em efetivo funcionam ento na vida econômica são o motivo hedonístico e a conduta perfeitam ent e raciona l.
Seguram ent e a psicologia vem depois para explicar o comportam ento real e os seus desvios do qua dro raciona l. Nosso raciocínio nos capítu los seguint es gira am plam ent e em torno de uma esp écie desses desvios — a força do hábito e osmotivos não-hedonísticos. Mas ess a é outra ques tão.
SCHU MPETER
a rivalidade entr e bens, e logicam ent e chegar emos a relações de troca, preços e à ant iga e empírica “lei da oferta e da procura”. Fina lment e, teremos uma idéia preliminar de um sistema de valores e das condições para o seu equilíbrio.22
A produção é, por um lado, condiciona da pelas propriedades físicas dos objetos mat eriais e dos processos natura is. A esse respei to, como obse rvou John Rae,23 para a at ividade econômica pode ser apena s uma ques tão de obse rvar o res ulta do dos processos natura is e tirar o máximo deles. A porção do reino dos fatos físicos que pode ser relev ant e para a economia não pode ser fixada de uma só vez. Conform e o tipo de teoria que se tem em vista , coisas como a lei dos rendimentos (físicos) decrescent es pode significar mu ito ou pouco no tocant e a res ulta dos espe cificam ent e econômicos. Não há relação entr e a import ância de um fato para o bem-es tar da human idade e sua importância dentr o do empenho de expl ana ção da teoria econômica. Mas é claro, como demonstra o exemplo de Böhm-Bawerk,24 que em qua lquer momento pode mos se r levados a introduzir novos fatos técnicos em nosso esquema de t rabalho. Os fatos da organização social não se situam na mesma classe. No entant o, são equiv ale ntes aos fatos técnicos no sentido de que estão fora do domínio da teoria econômica e são para ela meros “dados”.25 O outr o lado da ques tão, pelo qua l podemos penetrar mu ito ma is
profun dam ent e na essência da produção do que pelo seu lado físico e social, é o propósito concreto de todo ato de produção. O objetivo que o homem econômico persegue ao produzir, e que explica por que exis te certo tipo de produção, põe claram ent e o seu selo sobre o método e o volum e da produção. Obvi am ent e não se requer nenhum ar gum ento para provar que deva ser determ inant e para o “quê” e o “porquê” da produção dentr o do qua dro dos meios dados e das necessid ades obje- tivas. Esse propósito só pode ser a criação de coisas úteis ou objetos de consumo. Numa economia que não seja de trocas só pode tratar -se de ut ilidades para o consumo dentr o do sistema . Nesse caso, todo in- divíduo produz diretam ent e para o consumo, ou seja, para sat isfazer sua s necessid ades. É claro que a natur eza e a int ensidade das neces- sidades desse produto são decisivas, dentr o das possibili dades práticas. As condições externa s dadas e as necessid ades do indivíduo apar ecem como dois fatores decisivos no processo econômico, que contr ibuem para
Posso referir-me aqui a toda a li teratura sobre a teoria da ut ilidade mar gina l e seus seguidores.
Cf. a edição de seu tra balho feita por MIXTER sob o títu lo The Sociological Theory of Capital . A poderosa profun didade e a origina lidade de seu tra balho ainda podem recom- pensar uma lei tura cuidadosa por part e do es tu dant e moderno.
A sua lei dos retornos que crescem com a duração do período de produção par ece-me ser a única tentat iva bem-sucedid a de intr oduzir explicitam ent e o elemento tempo na s equações da produção.
Por ess a, como por outra s ra zões, a distinção nítida tra çada por J. S. Mill entr e produção e distr ibuição par ece-me ser menos do que sat isfatória.
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a determ inação do res ulta do. A produção segue as necessid ades; é, por assim dize r, puxada por elas. Mas o mes mo é perfeitam ent e válido, mutatis mutandis, para uma economia de trocas.
Esse segun do “lado” da produção faz dela, desde o início, um problema econômico. Este deve ser distinguido do problema puram ent e tecnológico da produção. Há um contra ste entr e esses aspectos fre- qüent ement e tes temunha do na vida econômica, na oposição pess oal entr e o gerent e comercial e o técnico de uma empres a. Muita s veze s, no processo produt ivo, vemos mu danças recomendadas por um lado e rejeita das pelo outr o; por exemplo, o engenh eiro pode recomendar um novo processo que o diretor comercial rejeita com o ar gum ento de que não compensar á. O engenh eiro e o homem de negócios podem am bos exp ress ar seus pontos de vista assim: seu objetivo é conduzir adeq ua- dam ent e o negócio e sua avaliação deriva de seu conh ecimento dess a adeq uação. À part e os equívocos, a falta de conh ecimento dos fatos e assim por diant e, a diferença de avaliação só pode vir do fato de que cada um tem em vista um tipo diferent e de adeq uação. O que o homem de negócios quer dize r quan do fala em adeq uação é claro. Refere-se à vanta gem comercial, e podemos exp ress ar assim sua visão: os recur sos que seriam requeridos para abastecer a máquina poderiam ser empre- gados em outr o lugar com ma is vanta gem. O diretor comercial quer dize r que, numa economia que não fosse de trocas, a sat isfação das necessid ades não seria incrementa da, ma s pelo contr ário red uzida, por ta l alteração do processo produt ivo. Se isso é verdade, qua l pode ser o significado do ponto de vista do tecnólogo, que tipo de adeq uação tem ele em ment e? Se a sat isfação das necessid ades é o único fim de toda a produção, ent ão não há realment e nenhum sent ido econômico em recorr er a uma medid a que a prejudica. O homem de negócios es tá certo em não seguir o engenh eiro, desde que sua objeção es teja corr eta objetivam ent e. Desde nham os a aleg ria um tant o artística de aperfeiçoar tecnicam ent e o aparat o produt ivo. Efetivam ent e, na vida prática, ob- servamos que o elemento técnico deve submeter-se quan do colide com o econômico. Mas isso não é um ar gum ento contra sua exis tência e seu significado indepe ndent es e contra a avaliação corr eta prese nt e no ponto de vista do engenh eiro. Pois, embora o objetivo econômico guie os métodos técnicos ta l como usados na prática, é bem ra zoável aclarar a lógica int erna dos métodos sem lev ar em conta as barr eira s práticas. Vemos isso melhor num exemplo. Suponha -se que uma máquina a vapor e todas as sua s part es component es obede cem à adeq uação eco- nômica. À luz dess a adeq uação faz-se o máximo com ela. Ent ão não ha veria sent ido em tirar ma ior provei to na prática, aquecendo-a ma is, contratan do homens ma is expe rient es para tra balhar nela e aperfei- çoan do-a, se isso não se pagasse, ou seja, se fosse possível prever que o combustível, as pess oas ma is ta lentosas, os melhoram entos e o au- mento de mat érias-prima s custar iam ma is do que renderiam . Mas é
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bem ra zoável considerar as condições sob as qua is a máquina poderia fazer ma is, e quant o a isso, qua is melhoram entos são possíveis com o conh ecimento atua l e assim por diant e. Pois então todas ess as medid as já es tar ão elabora das para o momento em que se tornar em vanta josas. Tam bém é sempre útil pôr o ideal ao lado do real, de modo que as possibili dades sejam deixadas de lado, não por ignorância, ma s por ra zões econômicas bem pondera das. Em res umo, todo método de pro- dução em uso num momento dado se cur va diant e da adeq uação eco- nômica. Esses métodos consistem em idéias de cont eúdo não soment e econômico, ma s tam bém físico. As última s têm seus problema s e uma lógica própria, e o papel da tecnologia é pensar neles sistemat icam ent e at é resolvê-los — sem considerar de início o fator econômico, decisivo ao final; e na medida em que o elemento econômico não exigir algo dife- rente, lev ar à prática essas soluções é produzir no sentido tecnológico.
Do mes mo modo que em última instância a conveniência regula a produção tecnológica, assim como a econômica, e a distinção entr e as dua s es tá na diferença do car áter dess a conveniência, assim tam bém uma linha de pensam ento um pouco diferent e nos mostra a princípio uma ana logia fun dam enta l e depois a mes ma distinção. A produçãonão “cria” na da no sent ido físico, considera da tant o tecnológica quant o economicam ent e. Em am bos os casos só pode influenciar as coisas e os processos — ou “força s”. Ora , para o que se segue necessi tam os de um conceito que abar que esse “ut iliz ar” e esse “influenciar”. Eles in- cluem mu itos métodos diferent es de usar e de se comportar em relação aos bens; todos os tipos de mu danças de localização e de processos mecânicos, químicos e outr os. Mas trata -se sempre de mu dar o es ta do exis tent e de sat isfação de noss as necessid ades, de mu dar a relação recíproca entr e as coisas e força s, de un ir alguma s e sep arar outra s. Consideran do-se tant o econômica quant o tecnologicam ent e, produzir significa combinar as força s e coisas ao nosso alcance. Todos os métodos de produção significam alguma s dess as combinações técnicas. Métodos de produção diferent es só podem ser diferenciados pela man eira com que se dão ess as combinações, ou seja, pelos objetos combina dos ou pela relação entr e sua s quant idades. Todo ato concreto de produção incorpora , a nosso ver, é, a nosso ver, certa combinação. Esse conceito pode ser es tendido até aos tran sport es e outra s áreas, em suma , a tu do que for produção no sent ido ma is am plo. Tam bém considerar emos como “combinações” uma empres a como ta l, e mes mo as condições pro- dut ivas de todo o sistema econômico. Esse conceito exerce um papel important e em noss a an álise.
Mas não coincidem as combinações econômicas e as tecnológicas, as primeira s ligadas às necessid ades e meios exis tent es, as última s, à idéia básica dos métodos. O objetivo da produção tecnológica é na verdade determ ina do pelo sistema econômico; a tecnologia só dese n- volve métodos produt ivos para bens procura dos. A realidade econômica
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não executa necess ar iam ent e os métodos at é que cheguem à sua con- clusão lógica com int eireza tecnológica, ma s subordina sua execução a pontos de vista econômicos. O ideal tecnológico, que não lev a em conta as condições econômicas, é modificado. A lógica econômica prevalece sobre a tecnológica. E em conseqüência vemos na vida real por toda a part e à noss a volta cordas rota s em vez de cabos de aço, an ima is de tra ção defeituosos ao invés de linha gens de exposição, o tra balho manua l ma is primitivo ao invés de máquina s perfeita s, uma des ajeita da economia baseada no dinh eiro em vez de na circulação de cheques, e assim por diant e. O ótimo econômico e o perfeito tecnologicam ent e não precisam dive rgir, no entant o o fazem com freqüência, não apena s por cau sa da ignorância e da indolência, ma s porque métodos que são tecnologicam ent e inferiores ainda podem ser os que melhor se ajustam às condições econômicas dadas.
Os “coeficient es de produção” rep rese ntam a relação quant itat iva dos bens de produção numa un idade de produto, e portant o são uma cara cterística esse ncial da combinação. Nesse ponto o elemento econô- mico contra sta agudam ent e com o tecnológico. Aqui o ponto de vista econômico não apena s decidirá entr e dois métodos de produção dife- rent es, ma s até mes mo atuar á sobre os coeficient es no int erior de qua l- quer método dado, já que cada um dos meios de produção podem ser, em certa medid a, subs tituídos por um outr o, ou seja, a falha de um pode ser compensada por incremento de outr o, sem mu dar o método de produção, por exemplo, um decréscimo da energia a vapor subs tituído por um aum ento do tra balho manua l e vice-versa.26
Cara cterizamos o processo de produção medi ant e o conceito de combinações de força s produt ivas. Os res ulta dos dess as combinações são os produtos. Agora devemos definir precisam ent e o que é que deve ser combina do: falan do de modo gera l, todos os tipos possíveis de objetos e “força s”. Em part e consistem tam bém em produtos e em part e em objetos oferta dos pela natur eza. Muita s “força s natura is” no sent ido físico tam bém ass um irão para nós o car áter de produto, como é, por exemplo, o caso da corr ent e elétr ica. Elas abran gem coisas parcialment e mat eriais, parcialment e imat eriais. Além disso, é em gera l uma ques tão de int erpretação concebe r um bem como um produto ou como um meio. O tra balho, por exemplo, é passível de ser visto como o produto dos bens consum idos pelo tra balha dor ou como um meio origina l de pro- dução. Decidimos pela última alternat iva: a nosso ver o tra balho não é um produto. Muita s veze s a classificação de um bem ness a ou na quela cat egoria depe nde do ponto de vista do indivíduo, de modo que o mes mo bem pode ser bem de consumo para uma pess oa e meio de prod ução para outra . Da mes ma man eira , o caráter de um dado bem mu ita s
Ess as “var iações” es tão explicadas mu ito nítida e claram ent e por CARVER. The Distrib ution of Wealt h .
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veze s depe nde do uso que dele se faz. A li teratura teórica es tá reple ta da discussão dess as coisas, espe cialment e a dos primeiros tempos. Con- tentar -nos-emos com ess a referência. A ques tão seguint e, todavia, é ma is important e.
É comum classificar os bens em “ordens”, de acordo com sua distância do ato fina l de consumo.27 Os bens de consumo são da primeira ordem, os bens de cuja combinação se originam imedi atam ent e os bens de consumo são da segun da ordem, e assim por diant e, com ordens cada vez ma is alta s ou ma is remota s. Não se deve esq uecer que só os bens prontos para o consumo, na s mãos dos consum idores, recaem na primeira ordem e que o pão na padar ia, por exemplo, só se coloca na primeira ordem, es tr itam ent e falan do, ao ser combina do com o tra balho do entr egador. Os bens das ordens ma is baixas, se não forem de modo imedi ato dádivas da natur eza, sempre se originam de uma combinação de bens de ordens superiores. Em bora o esq uema poss a ser construído de outra man eira , é melhor para os nossos propósitos classificar um bem na ma is alta das ordens em que pode apar ecer. De acordo com isso, o tra balho, por exemplo, é um bem da ordem ma is alta , porque entra no início de toda produção, embora tam bém seja encontra do em todos os outr os es tágios. Em combinações ou processos produt ivos su- cessiv os cada bem ama dur ece para o consumo pela adição de outr os bens pert encent es a um ma ior ou menor número de ordens; com o au xílio de ta is adições abre seu cam inho para o consum idor ta l como um ribei rão, que, au xili ado pelo influxo de riachos, rompe seu cur so atra vés das ped ra s, penetran do sempre ma is profun dam ent e na terra .
Deve ser toma do em conta agora o fato de que, quan do olham os as ordens de baixo para cima , os bens se tornam crescent ement e amor- fos; perdem ma is e ma is aquela forma cara cterística, aquelas qua lidades precisas que os predes tinam a um uso e os excluem de todos os outr os. Quant o ma is alto subimos na s ordens dos bens, ma is eles perdem sua espe cialização, sua eficácia para um propósito part icular; e ma is am plos são seus usos potenciais, ma is gera l o seu sent ido. Cont inuam ent e encontram os menos tipos distinguíveis de bens, e as cat egorias indi- vidua is tornam -se corr espondent ement e ma is abran gent es, como quan - do nos elev amos a um sistema de conceitos lógicos e chegamos a um número cada vez menor deles, de cont eúdo sempre ma is diluído, ma s com alcance cada vez ma is am plo. A árvore genealógica dos bens tor- na-se progressiv am ent e ma is fina . Isso significa simplesment e que quant o ma is longe dos bens de consumo escolhermos nosso ponto de vista , ma is num erosos se tornam os bens de primeira ordem que des- cendem de bens similar es de ordens superiores. Quan do qua isquer bens forem int eira ou parcialment e combinações de meios de produção si-
Cf. MENGER, C. Grund sätze. BÖHM-BAWERK. Positi ve Theorie des Kapitals .
OS ECONOMISTASmilar es, dize mos que são apar enta dos na produção. Portant o, podemos dize r que o par ent esco produt ivo dos bens aum enta com sua ordem.
Assim sendo, se subimos na hierar quia dos bens, chegamos fi- na lment e aos que são, para os nossos objetivos, os últimos elementos da produção. Não é necess ária ma ior ar gum enta ção para dize r que esses últimos elementos são o tra balho e as dádivas da natur eza ou “terra ”, os serviços do tra balho e da terra .28 Todos os outr os bens “con- sistem” pelo menos em um des tes e a ma ioria em am bos. Podemos convert er todos os bens em “terra e tra balho”, no sent ido de que po- demos concebe r todos os bens como feixes dos serviços do tra balho e da terra . Por outr o lado, os bens de consumo são uma classe espe cial cara cterizada por sua capacidade de ser consum ida. Mas os produtos reman escent es, ou seja, os “meios de produção produzidos”, são, por um lado, apena s a encarna ção dos dois bens de produção origina is, por outr o lado, bens de consumo “potenciais”, ou melhor, part es de bens de consumo potenciais. Até agora não encontram os nenhuma ra- zão, e ficar á claro ma is tar de que não há nenhuma ra zão, para que devêsse mos ver neles um fator de produção indepe ndent e. Nós “os con- vert emos em tra balho e terra”. Tam bém podemos tran sformar os bens de consumo e, de modo inverso, concebe r os fatores produt ivos origina is como bens de consumo em potencial. Ambas as perspectivas, todavia, são aplicáveis apena s aos meios de produção produzidos; pois não têm exis tência em sep ara do.
Coloca-se agora a ques tão, em que relação os dois fatores pro- dut ivos origina is se encontram , um diant e do outr o? Algum dos dois tem precedência sobre o outr o, ou seus papéis são esse ncialment e di- ferent es? Não podemos responder a isso tendo um ponto de vista gera l, seja filosófico, seja físico ou qua lquer outr o, ma s soment e do ângulo econômico. Para nós é uma ques tão apena s de como se rep rese nta a sua relação para os propósitos do sistema econômico. Todavia, a res- posta , que deve ser válida no reino da doutr ina econômica, não pode ser válida em gera l, ma s apena s com respei to a uma construção par- ticular do sistema teórico. Assim, os fisiocrata s, por exemplo, respon- deram afirmat ivam ent e à primeira ques tão e, na verdade, favora vel- ment e à terra — de forma perfeitam ent e corr eta em si mes ma . Na medid a em que em sua visão não exp ress avam na da além do fato de que o tra balho não pode criar nenhuma mat éria física nova, na da há que se poss a objetar -lhes. É apena s uma ques tão de quant o é fecun da
ess a concepção no cam po econômico. A concordância nesse ponto com os fisiocrata s, por exemplo, não impede que neguemos noss a apro-
Isso foi enfat izado de modo part icularm ent e eloqüent e por O. Effert z. Quan do se reflete sobre o quant o os economista s clássicos enfat izaram un ilat era lment e o tra balho, como isso es ta va tão fort ement e ligado a algun s de seus res ulta dos, e que realment e só Böhm-Bawerk at ingiu consistência completa nesse ponto, é preciso reconh ecer a ênfase de Effert z sobre o ass unt o como um serviço efetivam ent e important e.
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vação a seus ar gum entos posteriores. Adam Smith tam bém respondeu afirmat ivam ent e à mes ma ques tão, ma s em favor do tra balho. Tam bém isso não é falso em si mes mo; poderia até ser corr eto tomar ess a con- cepção como ponto de part ida. Express a o fato de que o uso da terra não deman da de nós nenhum sacrifício sob forma de des ut ilidade, e se ganh ásse mos algo com isso, tam bém poderíamos adotar ess a con- cepção. É verdade que Adam Smith pensava claram ent e no potencial produt ivo oferecido pela natur eza como bens livres, e atr ibuiu o fato de não serem assim efetivam ent e considera dos no sistema econômico à sua ocupação pelos donos da terra . Pensava claram ent e que, numa comun idade sem propriedade privada da terra , soment e o tra balho seria um fator nos cálculos econômicos. Ora , isso é decididam ent e in- corr eto, ma s o seu ponto de part ida não é, em si mes mo, tão indefen- sável. A ma ior part e dos economista s clássicos — ma is que todos Ri- car do — põe o elemento tra balho em primeiro plano. Podiam fazê-lo, porque, por meio de sua teoria da renda, elimina vam a terra e a de- term inação de seu valor. Se a teoria da renda fosse defensável, ent ão certam ent e poderíamos nos cont entar com ess a concepção. Mes mo um esp írito tão indepe ndent e como Rae cont entou-se com ela, precisam ent e porque aceitou aquela teoria da renda. Fina lment e, um terceiro gru po de escritores respondeu negat ivam ent e à noss a ques tão. Ao lado des tes nos colocamos. Para nós, o ponto decisivo é que am bos os fatores pro- dut ivos origina is são igua lment e indispe nsáveis à produção, e, na ver- dade, pela mes ma ra zão e da mes ma man eira .
A segun da ques tão tam bém pode ser respondida de vários modos, bastant e indepe ndent e da resposta à primeira . Assim, Effert z, por exemplo, atr ibui um papel at ivo ao tra balho e um passivo à terra . O motivo por que o faz é mu ito claro. Pensa ele que o tra balho é o elemento motivador na produção, enquant o a terra rep rese nta o objeto em que o tra balho se man ifes ta . Nisso es tá certo, ma s sua orientação não nos proporciona nenhum conh ecimento novo. Pelo lado técnico, dificilment e pode-se adotar a concepção de Effert z, ma s esse aspecto não é decisivo para nós. Só nos int eress a o papel dese mpenha do pelos dois fatores produt ivos origina is na s delibe rações e procedi mentos econômicos dos indivíduos, e a esse respei to os dois se mostram bem capazes. O tra - balho, assim como a terra , é “economizado”. O tra balho, como a terra , é avaliado, é usado segun do critérios econômicos e am bos recebe m igua l enfoque econômico. E nenhum dos casos envolve qua lquer outra coisa. Como na da ma is é relev ant e para nossos objetivos com relação aos dois fatores de produção origina is, colocá-los-emos em termos de igua ldade. Ness a int erpretação concordamos com os outr os teóricos da ut ilidade mar gina l.
Em bora não tenham os ma is na da a dize r sobre o fator produt ivo terra , é a nosso ver aconselhável exam inar um pouco ma is detidam ent e o outr o fator, o tra balho. Pa ss an do por cima das diferenças entr e tra -
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balho produt ivo e improdut ivo, entr e tra balho usado direta e indire- tam ent e na produção, e ultra pass an do as distinções, do mes mo modo irr elev ant es, entr e tra balho menta l e manua l e entr e qua lificado e não-qua lificado, devemos ana lisar dua s outra s distinções que são sig- nificat ivas, na medid a em que podemos part ir delas para fazer uma obse rvação que é esse ncial para nós. São as distinções entr e dirige nt e e dirigido e entr e tra balho ass alar iado e autônomo. O que distingue o tra balho dirige nt e do dirigido par ece à primeira vista ser mu ito fun- dam enta l. Há dua s cara cterísticas principais. Em primeiro lugar , o tra balho dirige nt e tem uma posição ma is elev ada na hierar quia do organ ismo produt ivo. Ess a direção e supervisão do tra balho “executor” par ece erguer o tra balho dirige nt e acima e fora da classe do outr o tra balho. En quant o o tra balho executor es tá simplesment e no mes mo nível que os usos da terra , e do ponto de vista econômico tem absolu- tam ent e a mes ma função que es tes, o tra balho dirige nt e es tá claram ent e numa posição predominant e tant o em contra ste com o tra balho executor quant o com os usos da terra . É como se fosse um terceiro fator produt ivo. A out r a ca ra cterística que o sep ara do t r abalho dirigido parece cons- ti t uir su a na t ureza: o t r abalho dirigent e tem algo criat ivo no sent ido de que esta belece se us próprios

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