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DENUNCIA CRIME O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ
EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUIZA DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA COMARCA FAMAZ, ESTADO DO PARÁ.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ, por intermédio de seus Representantes, que a esta subscreve, no uso de suas atribuições legais, nos termos do art. 41, do Código de Processo Penal, vem perante VOSSA EXCELÊNCIA para oferecer DENÚNCIA contra:
RENNARD SERRUYA, JESSICA BRUNANE, MARCELLY MORAES E LUCAS AMÉRICO, pelas infrações penais a seguir descritas: 
DOS FATOS
Consta nos autos em referência que no dia 20 de julho de 2015, às 10h30min (Dez horas e trinta minutos), que os acusados juntamente com a vítima o Sr. Roger Whetmore, adentraram em uma caverna de rocha calcária, à 50 Km, da cidade de Belém, com o fim de explorá-la. Ocorre Excelência, que após duas horas de percurso no interior da caverna, a expedição foi surpreendida com um desmoronamento de rochas e aterros que bloqueou completamente o único acesso disponível, aprisionando a expedição de forma intransponível. Não tendo retornado os exploradores às suas casas dentro do prazo aguardado pelos familiares, uma equipe de resgate foi enviada ao local a fim de trazê-los de volta.
Ao tomar cabo da complexidade do fato, a equipe de salvamento concluiu que se tratava de um resgate de alto custo, demorado e de extrema dificuldade, como de fato se sucedeu ao longo dos dias. Não obstante, Excelência, à medida que se tentava salvar os membros da expedição, novos deslizamentos de terra ocorreram, dificultando ainda mais a missão e ceifando ainda, a vida de 10 trabalhadores soterrados durante as escavações.
Consta ainda no inquérito policial, que no vigésimo dia de intenso e ininterrupto trabalho, foi possível estabelecer contato com a expedição por meio de um rádio transmissor de mensagens. Apreensivos e já cientes da dificuldade do resgate, os exploradores, representados por Roger Whetmore, perguntaram quanto tempo levaria para que o salvamento fosse concretizado. A resposta dos especialistas foi que provavelmente dentro de 10 dias. Os exploradores solicitaram comunicação com alguém da equipe médica, o chefe da equipe se apresentou, com isso, solicitaram a sua opinião se acaso eles teriam chances de sobreviver sem comida por dez dias, o mesmo respondeu que tais possibilidades, embora existentes, eram baixas. Assim, diante da escassez de suprimentos e da possibilidade de morte por inanição, questionaram também, se poderiam sobreviver mais 10 dias alimentando-se da carne de um deles. O médico responsável, a contragosto, respondeu afirmativamente. 
Questionou-se a posteriori, se seria aconselhável tirar na sorte qual deles seria sacrificado. Nenhum dos médicos da equipe de resgate se disponibilizou para responder tal questão, foi solicitado então, por parte dos exploradores a presença de algum juiz, padre ou autoridade religiosa que pudesse esclarecer tal dúvida, porém, nenhuma pessoa foi achada que se qualificasse para tal. Após isso, nenhuma mensagem foi recebida de dentro da caverna até a libertação dos acusados. 
Em depoimento, afirmaram os acusados, que a iniciativa de sacrificar um deles para servir de alimentos para os demais partiu da vítima, o Sr. Roger Whetmore. E que ele mesmo propôs que a escolha fosse feita através de um lance de dados. Dados estes que, segundo os réus, a vítima carregava consigo. Alegaram os algozes da vítima, que inicialmente hesitaram da proposta, mas que depois acabaram por adotar esta odiosa ideia. Entretanto, antes do início do sorteio, Roger, devido à reflexão, declarou que deveriam aguardar mais uma semana antes de optarem por um “expediente tão terrível e odioso" (Fl.6). Diante da mudança de posicionamento por parte de Roger, o mesmo foi acusado por seus companheiros, num estranho ato de indignação, de violar o “acordo firmado” e ignorando-o, prosseguiram ao terrível jogo de morte. Em uma indecifrável matemática, a qual não sabem explicar os acusados, todos lançaram os dados. Chegando, portanto a vez de Roger lançá-los, este se recusou a proceder tal sorteio, resolvendo os exploradores fazê-lo em seu lugar. O sorteio teria sido realizado e Roger questionado a levantar quaisquer objeções que tivesse quanto à justiça do arremesso. Diante da negativa por parte da vítima, os resultados foram computados e, segundo relatos dos réus, foram contrários a Whetmore, sendo este morto e devorado por seus companheiros.
Observa-se no caderno policial que no momento em que a equipe de resgate, a saber, no trigésimo segundo dia de confinamento, conseguiu desobstruir os escombros e libertar os espeleólogos, deparou-se com um fato cruel à luz do direito, cujos relatos dos próprios acusados alarmaram a todos, diante da barbárie, de um crime tão cruel, contra Roger Whetmore, que na mesma condição adversa que seus verdugos, fora assassinado e devorado de forma impiedosa, covarde e perversa, por aqueles aos quais acreditava serem seus companheiros e amigos de jornada.
Destaque-se que os denunciados confessaram a autoria do crime, perante a autoridade policial, embora em versão nebulosa contada dos fatos, conforme revelam as oitivas e as provas materiais sobre o homicídio praticado contra Roger Whetmore. 
2. DAS ALEGAÇÕES DA PROMOTORIA
Após acurada análise dos fatos constantes no inquérito policial, considerando que a única versão dos fatos ocorridos no interior da caverna, acerca do momento do crime, foram trazidos tão somente por seus próprios autores. Considerando ainda as análises da perícia legal realizadas no local do crime e os relatos da equipe de resgate, este órgão de acusação identifica total culpabilidade na ação criminosa, concluindo que o caso reúne de todos os elementos suficientes para acusar os réus por homicídio triplamente qualificado, conforme Art. 121, § 2º, inciso I, II, III e art. 211, combinados com o ART 18, § 1° e Art. 288 do Código Penal Brasileiro, pelos fundamentos que hora passa a expor.
Trata-se de um crime peculiar, cuja finalidade principal apresentada pelos acusados fora, tão somente, se alimentar da carne de Roger Weltmore, amigo de longa data e companheiro de aventuras espeleológicas daqueles que o devoraram, para não morrerem de inanição. Ocorre que tal ato revela-se no mínimo sinistro, e porque não dizer macabro, ao passo que pelo perfil dos réus, conhecimentos e experiência que detinham sobre as situações adversas que tais expedições lhes poderiam acarretar, exige deles um comportamento equilibrado e razoável, posto que não se trata de homens incautos e inimputáveis, mas de homens com certo grau de inteligência e sobriedade, capazes de discernir de antemão a crueldade e as consequências dos atos que praticaram. Os réus sabiam que ainda tinham 10 ou mais dias de sobrevivência, no entanto, num ato intrigante de “precipitação” se amotinaram contra a vítima, três dias apenas, após terem a opinião médica, sobre o tempo de sobrevivência opinião esta que, vale salientar, não excluiu a possibilidade de sobrevivência mesmo após os 10 dias sem alimentos. Supondo que a versão dos acusados seja verdadeira, houve desentendimento entre eles e Roger, por ter desistido da ideia, o que provavelmente causara certa animosidade contra Roger, selando provavelmente neste ponto seu destino cruel. Assim, acredita a promotoria que impelidos por motivo fútil e torpe, os denunciados executaram de forma dolosa a vítima, praticando a seguir ato deliberado e consciente de antropofagia, devorando friamente a carne do companheiro de expedição.
É óbvio que não se mata um homem forte e saudável como Roger Wheltmore tão facilmente, sem que haja emprego de força, violência, ou emboscada, uma vez que, em seu próprio depoimento os réus afirmam que a vítima desistira da ideia do abate de um deles para servir de alimento para os demais. Isso leva a crer que Roger, não se entregaria a morte facilmente, nem de livre e espontânea vontade. Assim, a promotoria entende que para abater a vítima, houve o consentimento e associação criminosa dos quatro réus de forma coordenada para,primeiro, matar a presa e depois devorá-la o que não se faz sem que haja componentes de requinte de crueldade, empregado na ação.
A vida é um direito fundamental e um bem inalienável, inerente a todo o ser humano, direito este, contemplado pela Constituição Federal, deve ser compreendido de acordo com uma visão global que dele se faça, incluindo na sua interpretação outros valores superiores, entre os quais se destaca a dignidade humana, portanto resguardado e estabelecido como princípio fundamental. Assim como o direito à liberdade, que dela se origina. Ao declarar isso quer a Constituição dizer que o indivíduo tem direito a uma continuidade na sua existência como pessoa humana, quer significar que, nas palavras de José Afonso da Silva, tem " direito a não ter interrompido o processo vital senão pela morte espontânea e inevitável ". É neste fundamento, o da Constituição Federal, lei maior da nação, no art. 5º, XLI: “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”. Entende-se que a vida, independentemente das qualidades particulares de cada ser humano, é direito fundamental proclamado pela Constituição Federal.
Nesse diapasão, ninguém pode ser desprovido da própria vida contra sua vontade. O direito à vida é reconhecido por todas as declarações internacionais, figurando no ordenamento jurídico de todas as nações, por ser pressuposto indispensável para aquisição e o exercício de todos os demais direitos. Deste desastre o que temos de fato e concreto é que houve um crime, cujos culpados devem ser penalizados independentemente do que alegam ou qualquer outro motivo. A vítima possuía direitos e eles não foram respeitados. O crime foi cometido, a partir do momento que interromperam as comunicações com o pessoal do resgate, tomando os acusados, decisões precipitadas por conta própria em concurso livre e consciente de suas ações. 
Data vênia excelência, diante de tantas atrocidades que vem assolando nossa sociedade atualmente é de extrema importância a condenação dos acusados pela barbárie que circunscreve o crime que se apresenta, a fim de que a lei se imponha e cumpra seu papel social, punindo aqueles que desatinada e irresponsavelmente praticam atos cruéis, tal como se revela este terrível assassinato, seguido de antropofagia, cujos autores se utilizam de justificativas evasivas, em total desrespeito a vida e a dignidade humana, valores estes conseguidos a duras penas pela humanidade ao longo de sua história.
DO REQUERIMENTO 
Ex positis, adequando a conduta dos acusados RENNARD SERRUYA, JESSICA BRUNANE, LUCAS AMÉRICO E MARCELLY MORAES, ao tipo penal descrito como homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel e utilizando recurso que impossibilitou a defesa da vítima, além da destruição e subtração de cadáver, conforme capitulado no Art. 121, § 2º, inciso I, II, III e art. 211, combinados com o Art. 18, § 1° do Código Penal Brasileiro, contra a vítima ROGER WHETMORE, crime que contraria o art.5º da Constituição Federal, esta Promotoria de Justiça vem requerer o recebimento da presente DENÚNCIA, e, ao final, julgada procedente, devendo os denunciados serem condenados, conforme lei pertinente em vigor. Matar é crime e a pena máxima é exigida.
Esta promotoria se propõe em provar por todos os meios possíveis e previstos em lei, solicitando ainda que sejam, desde já arroladas as seguintes testemunhas.
ROL DE TESTEMUNHAS
01 – BERNARD SERRUYA
02 – BRUNA KAROLINA
03 – IAGO GARCIA

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