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REALISMO-NATURALISMO-PARNASIANISMO

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REALISMO/NATURALISMO/PARNASIANISMO
CONTEXTO HISTÓRICO
Na Segunda metade do século XIX, a burguesia já consolidara definitivamente o seu poder político e econômico. Entretanto, sua expansão cria um quadro contrastante. Se por um lado temos o progresso, representado pelo crescimento das cidades, pela instalação de novas fábricas, pela utilização de novas fontes de energia, como o vapor, o petróleo, o gás e a eletricidade; por outro, temos o crescimento dos bairros pobres onde residem os operários e suas famílias.
A felicidade e a prosperidade pareciam estar ao alcance de todos, mas o progresso econômico da burguesia tinha a sua outra face: a miséria das massas produtoras.
Enquanto a burguesia lutava pelo dinheiro e pelo poder através da expansão capitalista, o operariado manifestava a sua insatisfação e promovia seus primeiros levantes, destruindo máquinas e promovendo greves. Percebendo a importância de se unirem, os operários fundam suas primeiras associações e sindicatos: em 1843 unem-se, na Inglaterra, numa sociedade Cooperativa; em 1844 fundam, na Alemanha, a Associação do Trabalho. Nesse mesmo ano vem a público o Manifesto Comunista, em que Marx e Engels denunciam a situação do proletariado e propõem soluções para os problemas da classe.
O progresso industrial não poderia prescindir do progresso científico. A ciência, devendo servir a objetivos práticos, necessitava, assim, de novos métodos e, principalmente, de organização.
Nesse período as ciências apresentam muitos avanços: estabelecem-se as relações entre os fenômenos elétricos e os fenômenos luminosos; Hertz identifica as ondas elétricas; os estudos de Maxwel e Bolzmann sobre gases permitem o surgimento da indústria do frio e com ela a conservação de produtos; Pasteur desvenda os segredos dos microorganismos; o éter passa a ser utilizado como anestésico; descobrem-se os microorganismos responsáveis pela sífilis, pela malária e pela tuberculose; descrevem-se os hormônios e as vitaminas. Somado a isso, o incremento dos transportes ferroviário e marítimo e a expansão da comunicação telegráfica.
O desenvolvimento científico faz com que o idealismo e o tradicionalismo sejam substituídos pelo materialismo e pelo racionalismo. O método científico passa a ser o meio de análise e compreensão da realidade.
Algumas teorias, surgidas em decorrência das solicitações materiais da época, deram fundamento ideológico à literatura do Realismo-Naturalismo. São elas:
Teoria Determinista: Surgida com Hippolyte Taine, apregoa que o comportamento humano é determinado pela hereditariedade, pelo meio e pelo momento (circunstância).
Evolucionismo: Defende a tese de que o homem descende dos animais inferiores e que na vida animal há uma luta contínua pela existência, da qual resultaria a sobrevivência dos mais aptos, por um processo de seleção natural. Essa tese está expressa na obra Origem das espécies, de Charles Darwin.
Filosofia Positivista: Aplicando o conceito de evolução do pensamento humano, defende a tese de que a humanidade estaria entrando no terceiro ciclo de sua evolução, o “positivo” da era científica, depois de ter passado pelo teológico (que produzira o pensamento mítico) e pelo metafísico (no qual se entregara às abstrações). Defende ainda que o único meio de atingir o conhecimento válido é a observação, experimentação e comparação. Essa teoria está estampada no Curso de filosofia positiva, de Augusto Comte, publicado parceladamente entre 1830 e 1842.
Os Estudos Fisiológicos de Claude Bernard: Claude Bernard, em seu livro Introdução ao estudo da medicina experimental, objetivou, como o próprio título indica, transformar a Medicina, de arte intuitiva que era, numa disciplina científica e fundamentada apenas na observação e dedução.
REALISMO E NATURALISMO: DISTINÇÕES
A confusão entre os termos não é sem razão, já que, apesar das diferenças entre Realismo e Naturalismo, o segundo não é independente do primeiro. Ambos têm como objeto de observação a realidade exterior; ambos são postos em relevo pela literatura no mesmo período. O Naturalismo incorporou ao Realismo o cientificismo da época, o determinismo e a crença de que os homens estariam condicionados pela hereditariedade, pelo meio e pelas circunstâncias, criando daí romances que são verdadeiras teses científicas, nos quais o artista cria situações de causa e efeito para melhor descrever atitudes e personalidades, evidenciando preocupações patológicas. O Realismo, por sua vez, conforme Jacinto do Prado Coelho, cuidou apenas de retratar “com certa isenção a realidade circundante, sem ir mais longe na pesquisa, sem trazer a ciência, dissertativamente, para o plano da obra”.
Desses aspectos pode-se destacar uma diferença significativa entre um e outro. Em suas abstrações sociológicas e análises pseudocientíficas, o Naturalismo acaba por se distanciar da realidade e, de certo modo, constituir uma manifestação de subjetividade e deformação da realidade, decorrente em grande parte de conceitos predeterminados na mente do escritor.
CARACTERÍSTICAS DO REALISMO
Veracidade: Desprezando a imaginação romântica, o realista procura narrar fatos que tenham seus correspondentes na realidade exterior, evitando, portanto, situações que possam parecer artificiais ou improváveis.
Contemporaneidade: Ao contrário dos românticos, que se evadiam para um mundo situado no passado ou no futuro, o realista procura a realidade que lhe é contemporânea.
Retrato fiel das personagens: Na busca da verdade, o realista prefere retratar tipos concretos, vivos, não-idealizados.
A interpretação do caráter: Por coincidir com o desenvolvimento da Psicologia, o Realismo, além de retratar, procura interpretar o caráter da personagem e os motivos de suas ações.
Aspectos negativos da personalidade: É comum a caracterização de indivíduos que representem aspectos negativos da natureza humana: o avarento, o covarde, o ambicioso, o fraco, o mesquinho, a adúltera, a prostituta etc.
Gosto pelos detalhes específicos: Objetivando precisão e fidelidade, o realista não abre mão dos detalhes e minúcias na caracterização das personagens e ambientes, na observação de atitudes e sentimentos.
Lentidão narrativa: Em decorrência dessa minuciosidade descritiva, da cuidadosa observação da natureza psicológica das personagens, do gosto pela análise, do maior interesse na caracterização do que na ação, a narrativa realista é lenta.
Materialização do amor: Ao contrário do romântico, que tem uma visão espiritual e sentimental do amor, o realista volta-se para o aspecto físico. O homem passa a ver a mulher como objeto de prazer e é comum a temática do adultério e dos crimes passionais.
Denúncia das injustiças sociais: Acreditando numa função social da arte, os realistas fazem dela uma arma de combate e denúncia das diferenças sociais, mostrando os preconceitos, a hipocrisia, a ambição dos homens e a exploração das classes menos favorecidas.
Determinismo e relação entre causa e efeito: O realista procura uma explicação lógica para as atitudes das personagens, considerando a soma de fatores que justificam suas ações. Na literatura naturalista, dá-se ênfase ao instinto, ao meio ambiente e à hereditariedade como forças determinantes do comportamento dos indivíduos.
Linguagem próxima à realidade e preocupação formal: O universo semântico do realista retrata a realidade cotidiana. A linguagem realista é simples, natural, correta clara e equilibrada.
CARACTERÍSTICAS DO NATURALISMO
O Naturalismo acentuou as características do Realismo e destacou-se pela incorporação dos seguintes elementos:
Visão determinista e mecanicista do homem: O homem é considerando como um animal sujeito a forças que determinam o seu comportamento: o meio, o instinto, a hereditariedade e o momento.
Cientificismo: Os naturalistas procuravam observar o homem objetivamente, considerando-o como um “caso” a ser analisado cientificamente.Personagens patológicas: Procurando comprovar suas teses deterministas, os naturalistas preferiam personagens mórbidas, adúlteras, psiquicamente desequilibradas, assassinos, bêbados, miseráveis, doentes, prostitutas etc.
Incorporação de termos científicos e profissionais: É comum o vocabulário ligado à medicina, à biologia, à psicologia e às atividades profissionais, sobretudo as exercidas pelas camadas menos favorecidas.
O REALISMO/NATURALISMO NO BRASIL
Mudanças profundas ocorreram no Brasil na segunda metade do século XIX, afetando a economia, a política, a arte. Alguns fatos importantes:
Em 1850 extinguiu-se o tráfico de escravos, e, como conseqüência:
Capitais vultosos, que saíam do país para o pagamento da importação de escravos, estavam agora disponíveis. Foram, então, reinvestidos, geralmente em atividades urbanas, incrementando o progresso da burguesia mercantil, que residia nas cidades;
b) Entrou no país um novo tipo de mão-de-obra: a do imigrante assalariado, que vinha para substituir o trabalho escravo. Os negros foram marginalizados da sociedade, pois não tinham condição de competir com o imigrante, profissionalmente mais bem qualificado.
A liberdade de comerciar com o exterior ampliou ainda mais a área de atuação da burguesia mercantil.
O eixo econômico do país deslocou-se para a região sul e sudeste, graças ao crescimento da lavoura e do comércio cafeeiro.
Todas essas mudanças econômicas ampararam-se em um notável progresso tecnológico: melhor aparelhamento dos portos, inauguração da primeira estrada de ferro, inauguração do telégrafo, emprego da energia elétrica. Além disso, criaram-se bancos particulares e o novo Banco do Brasil foi instalado em 1853.
A classe média urbana, agora desfrutando de alguma representatividade política, contestava a ordem vigente.
A Questão Religiosa: foi com esse nome que passou à história a crise de relacionamento entre igreja e governo, provocada pela expulsão de maçons que integravam algumas irmandades religiosas.
A Questão Militar: episódio que marcou a cisão entre o exército e o imperador, que havia punido alguns oficiais por terem discutido publicamente assuntos militares.
A conjugação desses fatos indicava a superação do regime monárquico. A forma republicana de governo surgia como alternativa que acabou se tornando realidade em 1889.
Nesse clima sociopolítico chegou-nos da França o positivismo, corrente filosófica que fornecia métodos considerados confiáveis para analisar a realidade brasileira da época. A influência do positivismo entre nós foi muito grande, sobretudo no meio militar e na burguesia. Os maiores adeptos do positivismo eram membros da chamada Escola de Recife, grupo de intelectuais que, liderado por Tobias Barreto, apoiou e divulgou as novas idéias filosóficas.
Foi nesse contexto que se estabeleceu no Brasil o Realismo/Naturalismo. O Realismo/Naturalismo brasileiro apresenta basicamente as mesmas características da literatura europeia da época, com algumas variações locais.
A PROSA
O novo estilo iniciou-se no Brasil com a publicação dos romances O mulato, de Aluísio de Azevedo e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, ambos publicados em livro no ano de 1881. Ao lado desse tipo de obra e adaptando-se à nova maneira de escrever, prosseguia viva a tendência regionalista que se iniciara no Romantismo. Alguns escritores trazem para a literatura os mesmos habitantes das regiões interioranas do país já focalizados no Romantismo, mas agora sem a idealização romântica: ao contrário, com uma dose marcante de objetividade. 
Tendência realista: Machado de Assis, nas obras de sua segunda fase, é o mais importante prosador realista. Para muitos, o mais importante ficcionista brasileiro de todos os tempos. 
Tendência naturalista:
Aluísio de Azevedo, maior prosador naturalista. 
Adolfo Caminha, A normalista.
É bom frisar que, ao lado dessas obras de reconhecido valor literário, publicaram-se outras, de pouco valor, verdadeiros subprodutos literários, que surgiram explorando a nova moda realista/naturalista. São obras hoje totalmente esquecidas, mas que na época tiveram seu público, graças à obscenidade que lhes servia de fundamento. É o caso, por exemplo, de A carne, de Júlio Ribeiro, romance publicado em 1888. A obra suscitou tanta polêmica que mereceu, num artigo de jornal, o seguinte comentário jocoso: “Os que acharem a carne um romance árido, pouco interessante, chamar-lhe-ão Carne seca; os que a considerarem demasiado livre, extremamente cru, dirão que é Carne crua; os que a acharem pornográfica, dirão que é Carne podre”. (Valentin Magalhães)
O REALISMO E O NATURALISMO
Poder-se-ia dizer que a prosa do período, mormente a naturalista, vai criar tipos para uma análise patológica das personagens – são os romances-teses-científicas que proliferaram com vários autores, embasados no determinismo (tendência dominante da ciência do século XIX), como também da filosofia que se apóia nesta fase da ciência. O determinismo é na verdade um predeterminismo, isto é, a crença de que a ação humana encontre o seu motivo determinante no tempo que a precede. O negro, agora livre, sendo um cidadão nesta sociedade, será o alvo de análise de muitos romancistas. Em Aluísio de Azevedo, “a influência de Zola e de Eça é palpável”, como diz Bosi (1997, p. 187). O autor descreve a sociedade de seu tempo, de acordo e, com Brookshaw, “o naturalismo floresceu do preconceito dos abolicionistas” (1983, p. 42).
Segundo R. Bastide, “a estética do Naturalismo, seu pessimismo, sua busca da feiúra, da imoralidade, da sujeira humana devia forçosamente apoiar-se em alguns desses estereótipos para exagerá-los e alçá-los a mitos” (1983, p. 124). Bastide continua analisando que, no Naturalismo, vincula-se o mestiço ao negro com todos os estereótipos vistos no Romantismo. Os objetivos dessa assimilação seriam econômicos e amorosos, pois “o estereótipo será assim um meio empregado pela classe detentora do poder para tornar mais vagaroso, se não for possível impedi-lo, o movimento ascensional do homem de cor” (1983, p. 126). 
MACHADO DE ASSIS
Machado de Assis é o ponto mais alto da literatura realista. Questionando a sociedade de seu tempo, sua leitura é sempre dinâmica e atual. Seguindo a trilha da Lapa, Glória, Flamengo e Botafogo, soube sondar os mecanismos psicológicos de suas personagens.
Nas palavras de Alfredo Bosi é “o ponto mais alto e equilibrado da prosa realista brasileira”. Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 1839, num local pobre do Rio de Janeiro, o Morro do Livramento, filho de um pintor de paredes e de uma ex-escrava açoriana – então lavadeira. 
A epilepsia e a gaguez o acometeriam a espaços durante toda sua vida e, em conseqüência disso, tornou-se reservado e tímido, conforme observam alguns biógrafos. Foi como autodidata que construiu sua vasta cultura literária. Aos dezoito, compôs seus primeiros versos para a revistinha A Marmota; era o início da carreira do escritor, como poeta (fraco). Iria se firmar na prosa, sendo o maior escritor do século.
Aos trinta anos casa-se com uma senhora portuguesa de boa cultura e um pouco mais velha que o autor – Carolina Xavier de Novais – companheira até a morte. Amparado por uma carreira burocrática, agora na Secretaria da Agricultura escreve Contos fluminenses, Ressurreição, Histórias da meia-noite, A Mão e a luva, Helena, Iaiá Garcia, escritos na década de 70, são de tons “românticos”.
A partir de Memórias póstumas de Brás Cubas machado atinge sua maturidade. As obras seguintes, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó confirmam o seu realismo de sondagem moral. 
Foi fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras. Vitimado por uma úlcera cancerosa, com sessenta e nove anos de idade, na madrugada de 29 de setembro de 1908, lúcido, recusando a presença de um padre para a extrema-unção, veio a falecer, sendo sepultado ao lado de Carolina.
A OBRA MACHADIANAMachado mostra de maneira impiedosa e aguda a vaidade, a futilidade, a hipocrisia, a ambição, a inveja, a inclinação para o adultério; sobretudo após Memórias Póstumas de Brás Cubas, divisor de águas da obra do autor.
No romance, utiliza-se de um recurso novo: o foco narrativo. Sendo um defunto autor, Brás Cubas estava livre para exibir o que pensa, pois nada mais teme. Escolhendo personagens entre a burguesia que vive de acordo com o convencionalismo da época, desmascara o jogo das relações sociais, enfatizando o contraste entre essência (o que as pessoas são) e a aparência (o que gostariam de ser). O sucesso financeiro e social é quase sempre o objetivo último a alcançar. Nessa passagem, (de uma classe para outra) ocorre a perda da identidade, ou substituição por uma “máscara” que adotará quando da ascensão social. Notadamente, Machado preocupa-se mais com a análise das personagens do que com a ação; os fatos são ligados entre si por reflexões profundas. A conversa com o leitor é outra característica marcante na obra machadiana. Seu humor revela-se através da ironia, faz o leitor refletir sobre a condição humana.
MOMENTO HISTÓRICO
Conforme Arnald Hauser, “O dinheiro é a grande força que domina toda a vida pública e privada e todos os direitos passam a se exprimir através dele. Tudo, para ser compreendido, tem que se reduzir a um denominador comum: O dinheiro”. Estas palavras são suficientes para percebermos a sociedade do período e a vitória do capitalismo. No entanto, as classes assalariadas encontram-se em situação difícil, trabalham em condições miseráveis, não participam das vantagens do progresso industrial.
Na literatura o Realismo é a estética dominante na segunda metade do séc. XIX. Há uma crítica aos valores da sociedade capitalista por meio de sua representação. O Naturalismo acentua essa crítica com base nas teorias propostas no período, o homem é fruto da raça, momento e meio, conforme as leis deterministas. Por isso, no Naturalismo há a predominância da classe baixa como elemento de escrita e análise. Em seus romances-teses-científicas grassam a descrição e a sexualidade. O artista procura nivelar-se à posição do cientista e o homem é nivelado ao bicho.
Dom casmurro
Capítulo Primeiro - do Título 
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os
versos no bolso. 
-- Continue, disse eu acordando. 
-- Já acabei, murmurou ele. 
-- São muito bonitos. 
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: "Dom Casmurro, domingo vou jantar com você."--"Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renania; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo."--"Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça." 
Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração - se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto. 
Capítulo II - do Livro 
Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão. 
Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá. Um dia. há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Mata-cavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. Construtor e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintura do tecto e das paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que as tomam nos blocos, de espaço a espaço. Nos quatro cantos do tecto as figuras das estações, e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo... Não alcanço a razão de tais personagens. Quando fomos para a casa de Mata-cavalos, já ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior. Naturalmente era gosto do tempo meter sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais é também análogo e parecido. Tenho chacarinha, flores, legume, uma casuarina, um poço e lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa. 
O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá um
homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mais falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não agüenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas crêem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal freqüência é cansativa. 
Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior, é outra cousa a certos respeitos, aquela vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito espinho que a fez molesta, e, de memória, conservo alguma recordação doce e feiticeira. Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal. 
Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência. Filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças necessárias. Depois, pensei em fazer uma "História dos Subúrbios" menos seca que as memórias do Padre Luís Gonçalves dos Santos relativas à cidade; era obra modesta, mas exigia documentos e datas como preliminares, tudo árido e longo. Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns. Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o
do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras?... 
Fiquei tão alegre com esta idéia, que ainda agora me treme a pena na mão. Sim, Nero, Augusto, Massinissa, e tu, grande César, que me incitas a fazer os meus comentários,agradeço-vos o conselho, e vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindo. Deste modo, viverei o que vivi, e assentarei a mão para alguma obra de maior tomo. Eia, comecemos a evocação por uma célebre tarde de novembro, que nunca me esqueceu. Tive outras muitas, melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou do espírito. É o que vais entender, lendo.
Memórias póstuma de Brás Cubas
 AO VERME
 QUE
 PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES
 DO MEU CADÁVER
 DEDICO
 COMO SAUDOSA LEMBRANÇA
 ESTAS
 MEMÓRIAS PÓSTUMAS
 Ao Leitor
 Que, no alto do principal de seus livros, confessasse Stendhal havê‑lo escrito para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito, dez, Dez? Talvez cinco. Trata‑se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Stern de um Lamb ou de um de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevia‑a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia; e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; e ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.
 Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o meio eficaz para isto é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago‑me da tarefa; se te não agradar, pago‑te com um piparote, e adeus.
 				 Brás Cubas
CAPÍTULO 1
Óbito do Autor
 Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
 Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta‑feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia ‑ peneirava ‑ uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de minha cova: ‑‑ "Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado."
 Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego, como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. Viram‑me ir umas nove ou dez pessoas, entre elas três senhoras, ‑‑ minha irmã Sabina, casada com o Cotrim, ‑‑ a filha, um lírio‑do‑vale, ‑‑ e... Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a terceira senhora. Contentem‑se de saber que essa anônima, ainda que não parenta, padeceu mais do que as parentas. É verdade, padeceu mais. Não digo que se carpisse, não digo que se deixasse rolar pelo chão, epiléptica. Nem o meu óbito era coisa altamente dramática... Um solteirão que expira aos sessenta e quatro anos, não parece que reúna em si todos os elementos de uma tragédia. E dado que sim, o que menos convinha a essa anônima era aparentá‑lo. De pé, à cabeceira da cama, com os olhos estúpidos, a boca entreaberta, a triste senhora mal podia crer na minha extinção.
 ‑ Morto! morto! dizia consigo.
 E a imaginação dela, como as cegonhas que um ilustre viajante viu desferirem o vôo desde o Ilisso às ribas africanas, sem embargo das ruínas e dos tempos, ‑‑ a imaginação dessa
senhora também voou por sobre os destroços presentes até às ribas de uma África juvenil... Deixá‑la ir; lá iremos mais tarde; lá iremos quando eu me restituir aos primeiros anos. Agora, quero morrer tranqüilamente, metodicamente, ouvindo os soluços das damas, as falas baixas dos homens, a chuva que tamborila nas folhas de tinhorão da chácara, e o som estrídulo de uma navalha que um amolador está afiando lá fora, à porta de um correeiro. Juro‑lhes que essa orquestra da morte foi muito menos triste do que podia parecer. De certo ponto em diante chegou a ser deliciosa. A vida estrebuchava‑me no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaía‑se‑me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, e o corpo fazia‑se‑me planta, e pedra, e lodo, e coisa nenhuma.
 Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a pneumonia, do que uma idéia grandiosa e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor me não creia, e todavia é verdade. Vou expor‑lhe sumariamente o caso. Julgue‑o por si mesmo.
Carolina
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
(Dedicatória de Relíquias da casa velha)
 Profissão de fé
Odeio as virgens pálidas, cloróticas,
Beleza de missal que o romantismo
Hidrófobo apregoa em peças góticas,
Escritas nuns acessos de histerismo.
Sofismas de mulher, ilusões óticas,
Raquíticos abortos do lirismo,
Sonhos de carne, compleições exóticas,
Desfazem-se perante o realismo.
Não servem-se esses vagos ideais
Da fina transparência dos cristais,
Almas da santa e corpo de alfenim.
Prefiro a exuberância dos contornos,
As belezas da forma, seus adornos, 
A saúde, a matéria, a vida enfim.
(Carvalho Júnior)
PARNASIANISMO
Na poesia, o correspondente ao Realismo/Naturalismo foi o Parnasianismo, movimento de reação contra o sentimentalismo romântico e que procurava uma poesia mais cerebral, em que o belo deveria ser alcançado por meio de um trabalho meticuloso. Paralelamente ao Realismo/Naturalismo na prosa, o Parnasianismo, movimento essencialmente poético, aparece a partir da segunda metade do século XIX, filiado ao positivismo e cientificismo da época e reagindo contra o sentimentalismo e subjetivismo românticos. O nome da escola literária teve sua origem em Paris e está ligado à publicação de antologias poéticas sob o título Parnaso Contemporâneo (Parnasse contemporain), a partir de1866. 
O movimento retirou seu nome do monte parnassus, situado em lendária região da Grécia habitada por poetas, o que revela o gosto parnasiano pela Antigüidade clássica. No Brasil, a publicação de Fanfarras, de Teófilo Dias, em 1882, assinala o início do movimento entre nós.
Características do movimento
Impessoalidade e objetividade: Evitando as confissões sentimentais, os parnasianos sobrepunham a realidade exterior à interior, fazendo descrições objetivas de cenas e coisas, numa poesia pictórica, retratista, contrária à idealização romântica. Vasos, estátuas, temas exóticos, históricos, filosóficos, arqueológicos e mitológicos comparecem em suas poesias. 
Visão carnal da mulher: Ao contrário dos românticos, que descreviam idealisticamente a mulher, como virgem, anjo, entre lágrimas e suspiros, os parnasianos viam-na como fêmea desejada e sadia.
Arte pela arte: Para os parnasianos a verdade era igual à beleza, que residia na forma não teria outra finalidade além da criação da beleza. Não há qualquer compromisso com problemas sociais, filosóficos, amorosos, políticos, religiosos, morais – o único compromisso da arte seria com a própria arte. Contudo, esse princípio não foi seguido à risca pelos brasileiros.
Culto da forma: Na busca da perfeição decorrem: 
Predominância da técnica sobre a inspiração, da forma sobre o conteúdo;
Assimilação dos ideais das artes plásticas, incorporação deste vocabulário, comparação do poeta com o pintor, escultor e ourives.
Procura da rima rica, rara ou preciosa, resultantes de combinações de categorias gramaticais diferentes; aversão aos termos cognatos;
Retorno aos modelos clássicos greco-latinos e alusão à mitologia;
Correção gramatical – uso de vocábulos raros, uso de hipérbatos;
Procura da palavra perfeita;
Predileção pelo soneto e abandono do verso branco;
Sonetos terminados com chave de ouro.
Olavo Bilac
Cursou medicina e direito sem concluí-los. Foi jornalista e funcionário público. Participou de várias campanhas cívicas, entre elas do serviço militar obrigatório. É autor do hino à Bandeira e foi eleito “Príncipe dos poetas brasileiros”.
Foi um dos poetas mais combatidos pelos modernistas, demonstra em alguns sonetos certo romantismo e se caracteriza, basicamente, por dominar a poética e a linguagem com uma extrema preocupação com o refinamento formal e predominância descritiva, lirismo amoroso erótico apaixonado e sensual. Pela dimensão nacionalista que procurou dar a sua obra, louvando a pátria, seus símbolos seus heróis e nosso idioma.
 A um poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Via Láctea
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” Eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálido aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo! 
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido 
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
 (Olavo Bilac) 
 Vaso grego
Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois... Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.
(Alberto de Oliveira)
Vaso Chinês
	Estranho mimo aquele vaso! Vi-o, 
Casualmente, uma vez, de um perfumado 
Contador sobre o mármor luzidio, 
Entre um leque e o começo de um bordado. 
Fino artista chinês, enamorado, 
Nele pusera o coração doentio 
Em rubras flores de um sutil lavrado, 
Na tinta ardente, de um calor sombrio. 
Mas, talvez por contraste à desventura, 
Quem o sabe?... de um velho mandarim 
Também lá estava a singular figura. 
Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a, 
Sentia um não sei quê com aquele chim 
De olhos cortados à feição de amêndoa
Anoitecer
A Adelino Fontoura
Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de oiro e de púrpura raiados
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...
Delineiam-se, além, da serrania
Os vértices de chama aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia...
Um mundo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua...
A natureza apática esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.
 (Raimundo Correia)
Banzo
Visões que na alma o céu do exílio incuba,
Mortais visões! Fuzila o azul infando... 
Coleia, basilisco de ouro, ondeando 
O Níger... Bramem leões de fulva juba... 
Uivam chacais... Ressoa a fera tuba 
Dos cafres, pelas grotas retumbando,
E a estrelada das árvores, que um bando 
De paquidermes colossais derruba... 
Como o guaraz nas rubras penhas dorme, 
Dorme em nimbos de sangue o sol oculto... 
Fuma o saibro africano incandescente... 
Vai com a sombra crescendo o vulto enorme 
Do baobá... E cresce na alma o vulto 
De uma tristeza, imensa, imensamente...
 (Raimundo Correia)
Profissão de fé
Le poète est ciseleur,
Le ciseleur est poète.
 Victor Hugo
Não quero a Zeus Capitolino
Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.
Que outro - não eu! - a pedra corte
Para, brutal,
Erguer de Atene o altivo porte
Descomunal.
Mais que esse vulto extraordinário,
Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário.
De fino artista.
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.
Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Corre; desenha, enfeita a imagem,
A idéia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim. 
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
E que o lavor do verso, acaso,
Por tão sutil
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.
E horas sem conta passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo,
O pensamento.
Porque o escrever – tanta perícia,
Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena, 
Serena Forma!
Ver esta língua, que cultivo,
Sem ouropéis,
Mirrada ao hálito nocivo
Dos infiéis!...
Não! Morra tudo que me é caro,
Fique eu sozinho!
Que não encontre um só amparo
Em meu caminho!
Que aminha dor nem a um amigo
Inspire dó...
Mas, ah! que eu fique só contigo,
Contigo só!
Vive! que eu viverei servindo
Teu culto, e, obscuro,
Tuas custódias esculpindo
No ouro mais puro.
Celebrarei o teu ofício
No altar: porém,
Se inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!
Caia eu também, sem esperança,
Porém tranqüilo,
Inda, ao cair, vibrando a lança,
Em prol do Estilo!
Olavo Bilac
A flor e a fonte
“Deixa-me, fonte!” Dizia
A flor, tonta de terror,
E a fonte, sonora e fria,
Cantava, levando a flor.
“Deixa-me, deixa-me, fonte!”
Dizia a flor a chorar:
“Eu fui nascida no monte...
Não me leves para o mar”.
E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.
“Ai, balanços do meu galho,
Balanços do berço meu;
Ai, claras gotas de orvalho
Caídas do azul do céu!...”
Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte, sonora e fria,
Rolava, levando a flor.
“Adeus, sombra das ramadas,
Cantigas do rouxinol;
Ai, festa das madrugadas,
Doçuras do pôr-do-sol;
Carícia das brisas leves
Que abrem rasgões de luar...
Fonte, fonte, não me leves,
Não me leves para o mar!...
As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor...
Vicente de Carvalho
Língua portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exílio amargo, 
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
 (Olavo Bilac)
Literatura Brasileira I
UNIOESTE
Prof. Wagner

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