Prévia do material em texto
BASES FISIOLÓGICAS DA ELETROCARDIOGRAFIA Células do marcapasso Responsáveis por gerar atividade elétrica no coração Células musculares cardíacas modificadas: não se contraem Geram e transmitem o potencial de ação ao longo do coração São elas: Nó sinusal (sinoatrial), Fibras internodais, Nó atrioventricular, Feixe de His e Fibras de Purkinje Todas as células do marcapasso são autoexcitáveis Nó sinusal: “verdadeiras células do marcapasso” Marcapasso: basicamente, é uma bateria que gera ritmos no coração em um intervalo de tempo Eletrocardiograma: informação da atividade elétrica do coração no momento em que foi feito o registro. Isso implica que fora do consultório, ao fazer outras atividades cotidianas, a atividade elétrica pode ser outra do que a vista durante o exame Potencial de ação O potencial de ação é imprescindível para que ocorra a contração de qualquer fibra muscular Para começar a contração de um músculo, deve ocorrer a despolarização, por meio de um estímulo elétrico ou químico na membrana O coração depende dessa atividade elétrica para contrair Diferença entre ritmo e frequência Frequência cardíaca: é o número de sístoles e diástoles que o coração faz por minuto (número de batimentos por minuto) A frequência cardíaca desregulada pode gerar taquicardia (aumento da frequência cardíaca) ou bradicardia (diminuição da frequência cardíaca) A frequência cardíaca é consequência da atividade elétrica Único local que a atividade elétrica passa do átrio para o ventrículo é no nó atrioventricular, já que o esqueleto fibroso isola eletricamente os átrios dos ventrículos Ritmicidade: é se essas batidas estão no ritmo certo (TUM tum... TUM tum... TUM tum...) e não desregulado (TUM tum tum... TUM tum... TUM TUM tum...) A desregulação do ritmo cardíaco gera disritmias (mudança do ritmo) ou arritmia (ausência de ritmo) O coração como um todo é controlado a partir de três eventos: – Ritmo – Frequência – Força de contração Quem controla a ritmicidade, frequência e a força de contração cardíaca é o sistema nervoso simpático e parassimpático, a partir de hormônios como a adrenalina ou a acetilcolina Eletrocardiograma Ritmicidade: é representada pela amplitude e sequência das ondas (P, Q, R, S) Frequência cardíaca: é representada pela quantidade de vezes que essas ondas aparecem em 1 minuto Desfibrilação: objetivo de que todas as células do marcapasso voltem ao seu estágio de repouso (membrana polarizada) Usado em paradas cardíacas e correção de disritmia Triângulo de einthoven Triângulo eletrocardiográfico, segundo o qual os três eletrodos periféricos (braço direito, braço esquerdo e perna esquerda) formam no plano frontal um triângulo equilátero em que o coração é o centro elétrico Tem como objetivo mapear as células do marcapasso do coração Derivação bipolar: registram a diferença de potencial entre dois eletrodos dispostos em membros distintos (necessidade de dois eletrodos) São três derivações com seus polos DI: braço direito (-) e braço esquerdo (+) = vasos da base DII: braço direito (-) e perna esquerda (+) = átrio e ventrículo direito DIII: braço esquerdo (-) e perna esquerda (+) = átrio e ventrículo esquerdo Lívia Francisco T28 Quanto mais paralelo a uma derivação for o vetor, maior será a projeção dele nas derivações e maior será a intensidade do registro A direção do vetor define se a deflexão é positiva ou negativa. O tamanho do vetor mostra a amplitude (intensidade) da onda Conjunto de potenciais de ação (P, Q, R, S, T) Onda P: despolarização dos átrios Onda Q, R, S: despolarização dos ventrículos = contração ventricular Onda T: repolarização dos ventrículos A onda de repolarização atrial é difícil de ser registrada devido sua baixa intensidade 0: linha isoelétrica (linha base) Onda acima da linha isoelétrica: deflexão positiva Onda abaixo da linha isoelétrica: deflexão negativa Dependendo derivação escolhida, o traçado pode sair diferente (ondas podem variar em deflexão positiva e negativa) Junções comunicantes Comunicações entre as membranas celulares Conduções de célula para célula (células distribuídas em série ou em paralelo, uma atrás da outra) - separam células musculares Junções comunicantes permeáveis ( abertas) Conjunto de proteínas que formam um canal por onde passam íons (diminui a resistência elétrica entre as células) Por isso, a velocidade de condução do PA nas células do marcapasso é alta (facilita a difusão iônica) 1. Condução isotrópica -Organização em série -Entre as células do marcapasso 2. Condução anisotrópica -Organização Comunicação entre células Entre células do marcapasso: comunicação por meio de sinapses elétricas Entre células do marcapasso e células muscular: comunicação por meio de sinapses elétricas Entre as células musculares: comunicação por meio do sincício Essa propagação ocorre de forma muito rápida Bases celulares da atividade elétrica cardíaca Automatismo: as células do marcapasso são autoexcitáveis (não dependem de estímulo para gerar potencial de ação) O que justifica as células serem autoexcitáveis é a grande quantidade de canais passivos de sódio Isso não significa que essas células não são estimuladas, porque elas são e podem ter sua função controlada pelo aumento ou diminuição da frequência cardíaca Como essas células possuem grande quantidade de canais passivos de vazamento de sódio ocorre o influxo de sódio contínuo Esse vazamento de sódio para dentro da célula é o que causa a autoexcitação O coração se contrai quando estimulado, ou seja, a atividade elétrica ativa a atividade mecânica Potencial de ação no coração Fase 0: rápida despolarização com abertura dos canais rápidos de sódio e com grande influxo para o interior da célula (linha vertical ascendente) Fase 1: pequena e rápida repolarização com fechamento dos canais rápidos de sódio e abertura dos canais lentos de potássio com um efluxo de potássio para o exterior da célula (linha vertical descendente) Fase 2: representa a abertura dos canais lentos de sódio-cálcio com grande influxo de cálcio e sódio para o interior da célula (linha horizontal representando a duração da contração muscular = Platô) Fase 3: início da fase de repolarização com a abertura dos canais lentos de potássio com grande efluxo de potássio para o exterior da célula = restabelece a diferença de potencial elétrico Fase 4: fase final da repolarização. Retorno ao potencial negativo de repouso, onde as concentrações iônicas são restabelecidas Este platô é importante não só para garantir a entrada de cálcio necessário para a contração muscular, mas também para manter a polaridade interna da membrana positiva, de modo a retardar a geração/propagação de impulso elétrico, a fim de manter uma certa ritmicidade Lívia Francisco T28 Justificado pelos canais inespecíficos lentos sódio-cálcio e pelo influxo de cálcio A duração do potencial de ação pode ser alterada por meio da modulação de canais iônicos (sódio-potássio-cloreto). Os medicamentos que mexem na frequência cardía modulam a duração do potencial de ação Com isso, é possível perceber que quanto maior a dose de medicamentos que inibem o canal de cálcio, menor a força de contração. Isso acontece porque com o fechamento precoce dos canais de Ca faz com que menos deste íon adentre a célula, e como o mesmo possui uma função importante na contração muscular, essa contração fica prejudicada Em outras palavras, ao reduzir a duração de um potencial de ação, maior a frequência cardíaca, porém essa força de contração é menor para que o coração se contraia mais vezes por minuto Ao modular canais de sódio, abrindo ou fechando estes canais, é possível regular a frequência cardíaca. A abertura de canais de sódio leva a um aumento da frequência cardíaca por aumentar o número de despolarizações por minuto (efeito cronotrópico positivo), enquanto que o fechamento de canais de sódio levam a diminuição da frequência cardíaca por diminuir o número de despolarizações por minuto (efeito cronotrópico negativo) Relação inversaentre a duração do potencial de ação e a frequência cardíaca Quanto mais lento o potencial de ação menor é a frequência cardíaca Quanto mais rápido o potencial de ação maior é a frequência Por que não ocorre a despolarização permanente? Porque o que limita o tempo da despolarização é o tempo que os canais ativos de sódio ficam abertos e esses canais se fecham rapidamente por conta da mudança de voltagem que abre os canais de potássio Por que não ocorre a hiperpolarização permanente? Porque os canais de potássio e cloreto se fecham rapidamente após o fim do potencial de ação Portanto, o que determina o tempo de cada fase do PA é o tempo de abertura e de fechamento dos canais ATIVOS Sistema nervoso autônomo Cronotropismo Faz referência à frequência cardíaca Corresponde ao tempo de frequência da contração 1. Cronotropismo positivo: aumento da frequência cardíaca (consequência do sistema nervoso autônomo simpático) 2. Cronotropismo negativo: diminuição da frequência cardíaca (consequência do sistema nervoso autônomo parassimpático) – Parassimpático: prolonga o tempo de abertura dos canais de cálcio ou abre mais canais de cálcio Ionotropismo Faz referência à força de contração Consequência da inervação do músculo cardíaco pelo sistema nervoso autônomo simpático Força de contração do músculo cardíaco Está relacionado com os canais ativos de cálcio Ionotropismo positivo: aumento da força de contração do coração pelo influxo de cálcio (estimulação simpática) Ionotropismo negativo: diminuição da força de contração do coração pela diminuição do influxo de cálcio (inibição simpática) – Antagonista ao canal de cálcio Resumo Transmissão do impulso elétrico pelo coração Músculo cardíaco Canais rápidos de sódio Canais lentos de cálcio-sódio Canais de potássio Auto excitação do nó sinusal Justifica as células do marcapasso serem auto-excitáveis O nó sinusal é considerado o “verdadeiro” marcapasso A quantidade dos canais passivos de sódio justificam as células do marcapasso serem auto-excitáveis (não é necessário estímulo pois o canal já está aberto - fluxo constante de íons), por meio do influxo contínuo de sódio. Ao atingir o limiar, todos os outros canais são voltagem dependentes – Canal passivo: pode ser chamado de canal de vazamento Transmissão do impulso cardíaco pelo coração O tecido fibroso separa os átrios do ventrículo, de modo que o músculo atrial não tenha contato com o músculo ventricular O único local que se propaga o impulso elétrico dos átrios para os ventrículos é no nó atrioventricular Ventrículos: despolarização mais rápido do que os átrios devido a velocidade de condução (fibras de purkinje = alta velocidade de condução devido à maiores quantidades de canais iônicos) Lívia Francisco T28 Na mesma unidade de tempo, as células auto-excitáveis despolarizam mais vezes As células do nó sinusal se despolarizam mais vezes, devido a quantidade de canais iônicos Centro de controle cardiovascular no bulbo a) Neurônios simpáticos (noradrenalina) Age nas células do nó sinusal, nó atrioventricular e nas células musculares No nó sinusal a noradrenalina se liga ao receptor noradrenérgico ( ) das células auto-rítmicas,β1 apresentando como efeito o aumento do influxo de sódio e cálcio (canais iônicos de sódio e cálcio ficam mais tempo abertos) = aumento da frequência de despolarização e aumento da frequência cardíaca – Receptor noradrenérgico ( ): presente na célula doβ1 marcapasso, no músculo cardíaco e na parede das coronárias – Noradrenalina faz a vasodilatação das coronárias por conta dos receptor noradrenérgico ( ). Já no corpoβ1 todo, a noradrenalina faz a vasoconstrição dos vasos devido ao receptor noradrenérgico ( )α1 b) Neurônios parassimpáticos (acetilcolina) A acetilcolina se liga aos receptores muscarínicos (M) das células auto-rítmicas A consequência da acetilcolina nas células do marcapasso faz o aumento do efluxo de potássio e diminuição do influxo de cálcio = aumento do tempo de despolarização - diminuição da frequência de despolarização e diminuição da frequência cardíaca Catecolaminas: 3 grupos de moléculas - dopamina, noradrenalina e adrenalina Moléculas produzidas pelos neurônios Neurônio produtor de dopamina: dopaminérgico Neurônio produtor de adrenalina: adrenérgico Neurônio produtor de noradrenalina: noradrenérgico Quando uma substância química modela os canais iônicos ativos e químicos, tem-se: Metabotrópicos: a acetilcolina se liga a um receptor que está próximo ao canal, que ativa uma via específica para abertura ou fechamento do canal – Mais rápidos Ionotrópico: a substância se liga ao próprio canal iônico – Mais lentos Eletrocardiograma ECG Técnica para diagnóstico Identificação de alterações: orientação anatômica do coração, ritmo de condução, tamanho relativo das câmaras cardíacas e etc. Vetores elétricos Átrios - regras importantes A diferença de potencial registrado será máxima na derivação paralela ao eixo dipolo e será equivalente a zero quando for perpendicular a esse eixo A distribuição as células do marcapasso gera vetores elétricos Baseado na localização das células do átrio é possível definir o eixo elétrico do átrio (vetor resultante do átrio e do ventrículo) Ventrículos Mais complexos - condução rápida e quase simultânea para os dois ventrículos 1. Inicial ou septal: primeira parte que despolariza é o septo interventricular 2. Médio ou ventricular: abrange a maior parte da musculatura ventricular 3. Final ou basal Despolarização ventricular dirige-se, em geral, de cima para baixo, da direita para a esquerda e de trás para frente Eixo elétrico No registro do ECG permite calcular: FC, sequência, morfologia das ondas, presença ou não de alterações de ritmos Didaticamente, o eixo elétrico do coração no plano frontal é o valor do ângulo que forma entre o vetor médio QRS com a linha horizontal DI – O traçado clássico dos livros feito em DI Lívia Francisco T28 Cada 5 quadrados pequenos ou 1 quadrado grande no eixo X (tempo) corresponde a 0,2 segundos Cada 5 quadrados pequenos ou 1 quadrado grande no eixo Y (voltagem) corresponde a 0,5mV Questões para fazer quando se analisa um traçado de ECG Qual é a frequência? Está dentro da faixa normal de 60 a 100 bpm? O ritmo é regular? Todas as ondas normais estão presentes em uma forma reconhecível? Existe um complexo QRS para cada inda P? Se sim, o comprimento do segmento PR é constante? Se não houver um complexo QRS para cada onda P, calcule a frequência cardíaca usando as ondas P, depois calcule de acordo com as ondas R. As frequências são as mesmas? Que onda está de acordo com o pulso palpado no punho – É mais fácil usar a onda R para determinar a frequência Lívia Francisco T28