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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS PROFESSORA: JOSEFA BENTIVI DISCIPLINA: PRODUÇÃO TEXTUAL ALUNA: INGRID CUTRIM GARCIA LEITE DESMATAMENTO ILEGAL NO MARANHÃO REPORTAGEM São Luís 2013 2 Desmatamento ilegal no Maranha o Para acabar com o desmatamento ilegal é preciso um trabalho em equipe entre o poder público juntamente com a comunidade. egundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado do Maranhão já perdeu cerca de 71,28% de sua floresta original. Isso equivale a cerca de 110 quilômetros quadrados de área desmatada. Das poucas reservas que ainda restam, 52% delas são destinadas aos índios, porém, até mesmo das reservas indígenas já foram devastados 13% pela exploração ilegal. “Estes índices são atuais, porém, embora os números sejam altos, a pesquisa do Inpe ainda está sendo muito positiva em relação à quantidade de área desmatada” diz Rodrigo Maia, secretário de Meio Ambiente de São Luís. Registra-se que seja muito mais. Uma das regiões mais desmatadas do estado é o município de Amarante, a 679 km de São Luís, oeste do Maranhão próximo ao município de Grajaú. O Ministério Público Estadual (MPE), órgão responsável pela investigação sobre o desmatamento ilegal, informou que, além de Amarante, os municípios de Centro do Guilherme, Itatinga, Grajaú, Barra do Corda, Jenipapo dos Vieiras, Buriticupu, Arame, Bom Jesus das Selvas, Centro Novo, Zé Doca e Santa Inês são os municípios que apresentam maior índice de devastação das reservas naturais. (Veja Box) A devastação da mata nativa prejudica, sobretudo, as populações indígenas que vivem naquela região. Esse desmatamento ilegal ocorre principalmente devido à propagação do mercado madeireiro e da exploração dos índios que vivem nas reservas de onde são retiradas as madeiras. Segundo pesquisa do IBGE, o desmatamento também cresceu por conta da expansão da atividade pecuarista e pela produção de carvão vegetal no interior do Estado. As origens do desmatamento e suas causas Maranhão sempre foi um estado considerado pobre, principalmente nas regiões interioranas. Porém, apesar de economicamente pobre o Maranhão possui uma grande riqueza natural, dentre elas uma grande diversidade de vegetações espalhadas por todo o estado. Conforme dados do site www.oeco.org.br, na região amazônica, predominante no oeste do estado, encontra-se uma vegetação de clima tropical úmido. Além da amazônica existem outros tipos de vegetação no Maranhão, como a Mata de Cocais, mata característica do Maranhão onde predomina o babaçu e carnaúba, que cobre a parte central do Estado; Campos, próximos ao Golfão Maranhense, têm, como característica, vegetação herbácea alagável pelos rios e lagos da Baixada Maranhense; Mangues que predominam no litoral maranhense desde a foz do Rio Gurupi até a foz do Rio Periá e o Cerrado, vegetação predominante no Maranhão. Formada por árvores de porte médio e vegetação rasteira. O cerradão corresponde à área mais próxima do litoral. E cerradinho à área mais ao sul que é mais seca. S O 3 “Um estado com grande concentração de pobreza, mas com uma grande riqueza natural, levou os seus habitantes a começarem a explorar a natureza com grande intensidade. Essas condições influenciaram muito nos níveis a que o desmatamento chegou aos dias de hoje. Um povo na condição de miséria extrema passou a utilizar a exploração da natureza como fonte de renda.” Afirma Antônio César Carneiro de Souza, Secretário Adjunto de Recursos Ambientais. A grande questão que se coloca é: Apenas essa exploração pelos próprios moradores dessas regiões causou todo esse desmatamento desenfreado? A resposta é não, embora esse tipo de exploração tenha ajudado bastante. No começo, a exploração era apenas para sua própria e subsistência, mas, com o avanço da metrópole e do consumo, os grandes empresários viram, na exploração da floresta, uma fonte de renda muito mais ampla do que se pensava. Foi então que começou a surgir no interior do estado uma grande indústria ilegal de extração da madeira, grandes empresários da capital passaram a investir nesse comércio, fabricando vários objetos e os trazendo já prontos para a capital, gerando assim um mercado negro que se difundiu por todo o estado e que hoje chegou a proporções inimagináveis e cada vez mais difíceis de controlar. Com o crescimento da exploração madeireira, cresce também outro tipo de setor: o agronegócio, que movimenta uma renda muito grande que fica concentrada apenas na mão de poucos, os grandes fazendeiros. Além disso, para a implantação desse setor é necessário desmatar uma área bem maior de floresta, para a criação de gado e para o cultivo de grãos. Segundo Lorena Saboya Viera, Secretária Adjunta de Desenvolvimento Sustentável do Maranhão, embora a exploração das florestas, tanto para a utilização da madeira quanto para a agropecuária, seja boa para o movimento da economia, é preciso se pensar nas consequências e ter um maior controle quantidade de área desmatada, o que não é muito percebido aqui no Maranhão. As consequências do desmatamento para o ecossistema maranhense Amazônia, que antes era um terreno florestal que abrigava inúmeras espécies de animais, aves e índios, transformou-se em uma área destinada à agropecuária, produção de grãos e centro urbano. Estima-se que, se nenhuma providência for tomada, em 40 anos a Amazônia estará totalmente desmatada. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o desmatamento de grandes áreas de floresta pode causar a extinção de espécies, tanto vegetais quanto animais e desequilíbrio do ecossistema na região desmatada. Além disso, a degradação gerada no meio ambiente por conta da exploração exagerada da natureza também gera a erosão do solo que, em longo prazo, pode gerar um processo chamado de desertificação. As árvores de uma floresta têm a função de proteger o solo, para que a água da chuva não passe pelo tronco e infiltre no subsolo. Elas diminuem a velocidade do escoamento superficial, e evitam o impacto A Imagem da extração de madeira em Barra do Corda 4 direto das chuvas como o solo e suas raízes ajudam a retê-lo, evitando a sua desagregação. O aumento do processo erosivo leva a um empobrecimento dos solos, como resultado da retirada de sua camada superficial e, muitas vezes, acaba inviabilizando a agricultura. Nas regiões próximas aos rios, o desmatamento causa enchentes e assoreamento dos rios. Em outras regiões, pode levar à redução dos índices pluviométricos e elevação das temperaturas, devido à falta da vegetação que é responsável pela manutenção do clima e controle da temperatura. É importante destacar que a Amazônia Legal está presente em grande parte do estado do Maranhão. As cidades de Imperatriz, Açailândia, Bom Jesus das Selvas, Buriticupu e Itinga do Maranhão, entre outras são as principais representantes da presença de floresta amazônica no estado. É dona de rica biodiversidade, ocupa 26% do bioma amazônico, encontra-se em 62 municípios do Maranhão e representa, em termos de bioma, 34% do território do Estado. O lamentável é que a parte que pertence à Amazônia é umadas regiões mais desmatadas do maranhão, uma prova disso é uma região conhecida como Bico do Papagaio, uma área a leste do estado que ganhou esse apelido devido seu formato no mapa, mas que ficou conhecida pela grande exploração de madeira. Na contramão da importância de sua biodiversidade, o Maranhão encontra-se entre os Estados que mais desmataram a floresta. Conforme informações do sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), até 2010, 71,05% do estado havia sido desmatado. De 1984 a 2000 a taxa de desmatamento da área de floresta ombrófila (fluvial tropical) na região teve média de 1,62% ao ano. Hoje, resta à Amazônia maranhense menos de 25% de sua vegetação original. “O desmatamento ilegal, não só na região amazônica, mas em todo o estado causa grandes perdas para a biodiversidade e também para os próprios moradores dessas regiões, que muitas vezes são os principais atingidos por esse problema que acaba sendo, sobretudo um problema social. Um problema causado principalmente pela falta de conhecimento de uma educação ambiental adequada.” Declara Eliane Oliveira de Abreu Alhadef Superintendente de Educação Ambiental do Maranhão. A aplicação de Políticas Públicas para conter o desmatamento ilegal s números comprovam que as florestas maranhenses são muito exploradas, principalmente para o comércio ilegal de madeira. Visando impedir ou amenizar esse problema, os órgãos públicos realizam diversos procedimentos, ações de prevenção e combate ao desmatamento ilegal em todo o estado. Recentemente, a Superintendência Regional do Incra no Maranhão está O Amazônia Legal, Matas Ciliares Foto divulgação blogspot.com 5 realizando a oficina do Programa “Assentamento Verde”, que será executado até 2015. Com esse programa, o Maranhão, que é um dos estados integrantes da Amazônia Legal, registrou no ano passado uma redução nos desmatamentos praticados nos assentamentos situados nesta área. Segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), houve uma redução de 24% na áreas desmatadas em assentamentos do Incra, quando comparados com os dados de 2011.Segundo o Superintendente do Incra no Maranhão, José Inácio Rodrigues, eventos como a oficina sobre o programa “Assentamento Verde” que prossegue até a próxima sexta-feira, dia 07 junho, contribuem para reforçar ainda mais as ações voltadas à preservação ambiental nestas áreas, especialmente nos estados da Amazônia Legal, onde a questão ambiental torna-se prioridade. “Os números que apontam a redução dos desmatamentos nos assentamentos do Estado que se situam na região da Amazônia Legal mostram que estamos no caminho certo, quando investimos em ações ambientais e esta oficina, que reúne servidores dos mais diversos setores do Incra, reforça este compromisso e tenho certeza que iremos ainda avançar muito mais neste aspecto”, comenta Rodrigues. O IBAMA também promove várias ações contra o desmatamento, com a Operação Olho Vivo II, que ocorreu em 2008, na região centro-oeste do estado do Maranhão, aplicou 81 autos de infração a siderúrgicas, empresas terceirizadas por siderúrgicas, carvoarias, associações comunitárias, associações de pequenos produtores rurais assentados e pessoas físicas, no total de R$ 3.047.222,80. Os fiscais embargaram uma área total de 2,4 mil hectares e destruíram 343 fornos de produção de carvão. O desmatamento ilegal acarretou multas no valor de R$ 1.715.000,00, dentre as quais R$ 725 mil por explorar áreas de reserva legal e R$ 112,4 mil por destruir áreas de preservação permanente. O restante das multas foi referente a irregularidades constatadas em atividades de produção de carvão, transporte e depósito de produtos florestais e exploração de vegetação arbórea nativa sem autorização do órgão competente. Atualmente foi iniciada, aqui no Maranhão, uma operação coordenada pelo IBAMA que visa à melhor fiscalizar o desmatamento ilegal no interior do estado. A operação começou no fim do mês de junho, mais precisamente dia 24. “A operação „Hileia Pátria‟, coordenada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), tem como objetivo de intensificar a fiscalização contra o desmatamento de madeira ilegal na região, que inclui principalmente os municípios de Zé Doca, Centro do Guilherme e Centro Novo do Maranhão”, afirma o comandante do Exército Enzo Martins Peri. Além disso, esta operação ainda conta com a participação do exército brasileiro que tem por objetivo prestar apoio logístico, de inteligência e de comunicações ao IBAMA, na referida ação de repressão a crimes ambientais e à redução do desmatamento ilegal na região. A operação “Hileia Pátria” está prevista para ter a duração de 60 dias, podendo ser prorrogada de acordo com a necessidade. Mesmo com essa intensa fiscalização, ainda há o problema da corrupção que também afeta no controle do desmatamento, sobretudo nas áreas indígenas, como consta Imagem da Operação Olho Vivo II Atuação do exército na Operação Hileia Pátria 6 nas informações do site do jornal O globo. Mesmo tendo destruído a maior parte de sua mata nativa, a extração de madeira em toras no Maranhão continua grande. A pesquisa Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura do IBGE mostra que, em 2011, o Maranhão produziu 174.073 metros cúbicos, dos quais 26% saíram justamente dos 13 municípios vizinhos às terras indígenas. Dessas, Grajaú foi o maior produtor de carvão em 2011. No ranking dos 20 maiores produtores do país estão Barra do Corda e Centro Novo do Maranhão. O problema é que parte da madeira que vira carvão sai das áreas protegidas. Basta percorrer as terras indígenas para ver dezenas de ramificações de estradas abertas por madeireiros. A situação de descalabro é tão grave que o ex-prefeito de Maranhãozinho foi indiciado pela Polícia Federal em dezembro passado. Josimar Cunha Rodrigues foi acusado de cobrar R$ 150 por caminhão para liberar a entrada nas áreas indígenas. Pela barreira montada pela prefeitura só passavam caminhões cadastrados e com tíquete de pagamento da propina. “Fiscalizar é como enxugar gelo. Se o Estado não oferece alternativas de sobrevivência aos municípios, é difícil sair do cenário de desmatamento. E a situação tende a se agravar, pois a população dessas áreas aumenta e as políticas públicas não chegam.” Avalia Thaís Dias Gonçalves, coordenadora geral de monitoramento territorial da Funai. Antes de tudo, o desmatamento é um problema social, pois é gerado principalmente pela necessidade de subsistência dos recursos que a natureza oferece. Porém há métodos de se gerar renda sem, necessariamente, precisar agredir o meio ambiente. Como afirmou Thaís Dias, é preciso existir mais políticas públicas que atinjam as populações carentes do interior do estado que vivem próximas a reservas indígenas e áreas de preservação permanente. Um exemplo da aplicação desse tipo de políticas públicas foi um projeto realizado pela Embrapa em 2010. Uma ação da Embrapa Meio-Norte no Projeto Arco Verde, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, capacitou multiplicadores de informações em tecnologia de produção para gerar emprego e renda no município de Amarante sem a necessidade de aumentar o desmatamento, relembrando que Amarante é uma das regiões mais desmatadas de todo o estado do Maranhão. A primeira ação daEmbrapa Meio- Norte em Amarante do Maranhão aconteceu no período de 30 de agosto a 3 de setembro de 2010. Os pesquisadores Laurindo Rodrigues e Luiz Carlos Guilherme ministraram um treinamento sobre produção de peixes para engenheiros agrônomos, veterinários, zootecnistas e técnicos agrícolas do município. Mais à frente, o trabalho da Unidade capacitou técnicos em produção de ovinos, leite a pasto e de mudas frutíferas e florestais. Esses treinamentos buscam uma saída para dezenas de pessoas que perderam o emprego nas 60 serrarias clandestinas que foram fechadas no município pelo Ministério do Meio Ambiente. Laurindo Rodrigues e Luiz Carlos Guilherme trabalharam na ideia de encontrar alternativas de trabalho e renda à população do município, que tem mais de 37 mil habitantes. Além de projetos governamentais, nota-se também que ações de ONG‟S têm importante presença na conscientização da populações e ações contra o desmatamento. Essas organizações não governamentais contam com a participação da própria população, de forma voluntária que investigam e cobram do governo mais atitudes na preservação do meio ambiente e aplicação de políticas públicas. Uma investigação do Greenpeace, ONG Caminhões com carregamento de madeira ilegal 7 reconhecida mundialmente pelos protestos em defesa do meio ambiente, divulgada em maio mostrou que carvoarias que alimentam siderúrgicas do Pará e do Maranhão têm envolvimento com extração ilegal de madeira, trabalho análogo ao escravo e invasão de terras indígenas e unidades de conservação. Em março, o Greenpeace lançou campanha nacional por uma lei de iniciativa popular pelo Desmatamento Zero. Apoiada por movimentos sociais, organizações indígenas e quilombolas, entidades ambientalistas e artistas, mais de 400 mil pessoas já assinaram a petição. Quando 1,4 milhão de assinaturas forem recolhidas, o projeto será encaminhado ao Congresso. Essas ações, tanto do governo quanto das ONG‟s nos mostram que é possível sim mudar o quadro de desmatamento e conter o avanço da degradação das florestas, não apenas no Maranhão, mas em todo o país. A aplicação de políticas públicas, programas do governo são uma ótima forma de garantir a economia do estado, muitas vezes até utilizando a própria natureza, mas não destruindo o ecossistema. Um importante passo também a conscientização da população do interior que, geralmente têm pouca instrução e não são capazes de medir o prejuízo causado por suas ações. É importante destacar que nem tudo representa danos ao meio ambiente e, com as ações necessárias, o Maranhão evolui de duas maneiras: preserva as suas florestas nativas, garantindo a sobrevivência de espécies de fauna e flora que são únicas no estado e, ao mesmo, tempo educa toda uma geração para o futuro. Autora: Ingrid Cutrim Garcia Leite, Estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Maranhão Data de publicação 08/08/2013 Slogan da campanha do Greenpeace contra o desmatamento
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