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Aula 4 A dinâmica da transferência A função da entrevista preliminar é estabelecer a “transferência operativa”, ou seja, uma transferência na qual o analista esteja permitido a intervir por meio da interpretação. O analisante reconhece o terceiro elemento para análise > o inconsciente, além do que se diz. E também encontra no analista um lugar onde ele possa endereçar suas questões. Freud se refere que a transferência é o motor de uma análise - é pela transferência que o inconsciente se presentifica de modo sistemático na análise, e não apenas pontual, como na formação da vida cotiada (lapso, ato falho e chistes). Lembrando que o paciente não se lembrará de todos os conteúdos, mas ele irá transferir, repetir e reviver no ato e nós precisamos estar atentos a esse fenômeno transferencial para extrairmos esse conteúdo para análise. As resistências são superadas pelo manejo de transferência. A transferência pode surgir na análise de duas formas: • Em nível perceptivo: visual, auditivo, olfativo, tátil ou outro, ou seja, algum aspecto do analista faz com que o paciente se lembre de alguém importante de seu passado – o analisando vê o analista como um registro perceptivo. • Características “codificadas”: a companhia ou o próprio ambiente faz com que o paciente se lembre de pessoas importantes de seu passado (idade, formas de se vestir, acessório, modo de falar, localização). Todos os aspectos envolvendo sinais de um tipo ou de outro produzem, no imaginário do paciente, uma livre interpretação que pode promover a transferência. • Expressão de emoção por parte do analista: todas as emoções detectadas podem ser associadas ao paciente como vista de outras pessoas de seu passado e são colocados sob o título de efeitos afetivos, envolvendo a libido (EX: paciente projeta no analista, emoções que percebia em sua mãe). A interpretação Freud recomendou que só se interpretasse após o surgimento da transferência. Já Lacan apontou para uma via oposta, na qual a interpretação é o que de fato instaura a transferência - quando o analisando se percebe sendo escutado, enquanto sujeito individual sendo essa mola essencial para transferência. Analisante - Posição - Analista A interpretação está no cerne da teoria e da técnica freudiana. O primeiro modelo de interpretação foi apresentado por meio do sonho, em que se destaca o simbolismo singular de uma pessoa. Fórmula da interpretação 1. Relato do sonho de quem sonhou que se constitui a interpretação (conteúdo manifesto do sonho); 2. A associação livre conduz para o sentido do sonho (conteúdo latente) 3. A interpretação visa lançar luz sobre o desejo inconsciente que no sonho se realiza. O que se interpreta? Trazer o modelo inconsciente para a atenção ao paciente, cuja finalidade é fazer com que ele reconheça o seu funcionamento e possa, futuramente, deter-se antes de repetir um comportamento compulsivo da repetição inconsciente. A função do divã Para Freud, o primeiro motivo foi para evitar ser olhado pelo paciente, ele explica não querer que suas expressões faciais pudessem fornecer elementos a serem interpretados pelo analisando e isso pudesse influenciar na direção de sua fala. Quinet, em 1991, declara que a principal função do divã na análise deve-se a estrutura da transferência. O procedimento de deitar-se no divã, é, assim por meio de escravizar o imaginário e ir contra o desconhecido do eu, fazendo, por fim, emergir o discurso do outro (inconsciente). O tempo de análise Sessões sem tempo fixo seguem a lógica psicanalítica do inconsciente e da ética psicanalítica, sendo guiadas pela transferência, que é o próprio tempo de análise. Também seguem a lógica de duas definições de estruturas ligadas ao sujeito. 1. O campo psicanalítico tem a mesma estrutura da linguagem, onde o sujeito é definido pelo significante. 2. O inconsciente é estruturado como uma linguagem. A estrutura psicanalítica não se limita a linguagem, pois inclui o objeto A, que é real e externo a linguagem. Lacan define essa estrutura como paradoxal, onde o objeto é ativo e o sujeito é subvertido. A pontuação - ela tem um valor de corte de sessão. O ponto enigmático, mas cheio de sentido, surge para o sujeito de forma completamente irracional. Portanto é a pontuação do analista que fará com que a frase vinda numa cadeia significante retroaja e abra para uma ressignificação. A escuta clínica Na ausência de sentido, Freud pôde ouvir o que atormenta e obtém a consciência do sintoma que configura como queixa tentando dizer alguma coisa. Foi essa conjunção entre sintoma e demanda que Freud respondeu com a invenção da psicanálise. Dar voz a dor do paciente – Na psicanálise, o vazio é cheio (inconsciente). Aula 5 A escola de formação do psicanalista Não há formação do analista, há formação do inconsciente. Quinet apontou que é impossível generalizar a formação do analista, visto que é pautada pela análise do inconsciente, ou seja, do sujeito a sujeito. Ocorre em sua análise pessoal. Segundo Lacan, o termo escola foi utilizado pretensiosamente para enfatizar o lugar de ensino e estudo, se distinguindo-se das associações e sociedades, as quais já se presume ser um centro científico ou algum lugar de corporativismo. • Permutação: quebrar a consistência hierarquica configurada na IPA, contrariando a própria transmissão analítica. • Cartel: dispositivo móvel que serviria de trabalho para todos, tanto para veteranos quanto para calouros. • Dispositivo de Passe: estrutura destinada a fazer dela uma verdadeira escola de psicanálise dando evidência ao fim de uma análise - testemunho final de análise perante a escola. Porém, esses princípios de Lacan fracassaram. O conceito Lacaniano Onde o discurso do sujeito tem um lugar para ser acolhido, não só com o discurso de um professor, mas com o saber de cada um. Os analistas que se empenham em produzir por meio de estudos e escrita. Assim, os psicanalistas passam a responder uma exigência ética e epistêmica para que deem conta de seus atos com base na elaboração de seu saber. Títulos de garantia na escola – 9 de outubro de 1967 AME – analista membro da escola; AE – analistas da escola. O cartel A proposta do Cartel é induzir a produção de um saber em psicanálise e favorecer o vínculo pelo trabalho em vez de uma pseudofraternidade. É um pequeno grupo de estudos formado por 4 ou 5 pessoas que se escolhem e se juntam em torno de seu não saber que se fez questão e a escolha pelo mais-um segue o mesmo princípio. 1. Dissolução prevista desde o início: o cartel nasce e já tem data para ser finalizado, saber quando ele irá ser finalizado influência a forma de como os participantes se dedicam e compreendem o trabalho. 2. Diferença em relação aos grupos comuns: tenta evitar a identificação com lideres ou outros membros para não reproduzir uma dinâmica de massa. 3. Projeto pessoal: cada participante entra com um tema ou objetivo próprio e o grupo é feito para interesses compartilhados pelo estudo. O passe Na psicanálise é um neologismo derivado do francês “la passe”, sem ligações com práticas espirituais, usado para indicar travessia ou mudança de posição. Três funções do passe: 1. Dar lugar a produção de um trabalho teórico sobre a passagem do sujeito da posição de analisando para analista; 2. Funcionar como um mecanismo de nomeação do AE por meio da autenticação da passagem em questão; 3. Viabilizar um novo tipo de laço social para a comunidade de sua escola. O cartel do passe é quem concede a nomeação do AE e eles respondem a três níveis de atuação: a experiência, a elaboração da experiência e a comunicação dos resultados. O final de análise Para Freud, o fim de uma análise é onde o processo esbarra no “rochedo da castração” - a constatação da falta ligadaao falo, algo que é impossível ultrapassar. Já Lacan reinterpretou isso como algo que pode ser atravessado, propondo que o analisando ultrapasse seu ponto de partida através do conceito da fantasia – a fantasia mantém o desejo do sujeito funcionando como uma ficção que prende a um certo tipo de prazer. O fim de uma análise envolve resolver o “enigma” de quem o sujeito é representado por dois possíveis valores simbólicos. -y: representa a castração, ou seja, a falta do outro e ausência de garantias sobre o seu ser. A: é a causa do desejo, ele tenta “tampar” essa falta mais nunca vai ser alcançado plenamente. Mantendo o sujeito desejando. Para Lacan, a análise deve levar o sujeito a atravessar sua fantasia, reconhecendo a separação entre ele e o objeto de desejo – ao fazer isso, o sujeito adquire um saber que lhe permite lidar melhor com seu próprio prazer e desejo, se tornando mais dono de si. O Ato Psicanalítico A escola não partilha da relação com causa analítica, mas oferece um lugar para dispor do seu ato. É um ato de excelência onde o analisante passa para analista e o ato adquire a sua propensão na dedução da própria análise do analista, quando ele é levado até esse ponto de consequência lógica em sua experiência. Aula 6 O desejo do analista Lacan afirma que o desejo do psicanalista tem que causar o desejo do sujeito como desejo do outro, fazer-se causa desse desejo – o desejo de saber sobre seu inconsciente. Conhecer e fazer o sujeito ir em busca disso que causa ele, do objeto que está ali como causa do seu desejo. O analista se coloca a disposição do analisante, a própria falta como um lugar onde pode ser depositado o inconsciente do sujeito, as questões, fantasias do analisante. Portanto, é o analista no lugar do objeto A, objeto de causa do desejo, que leva o analisante tomá-lo como outro e que faz desvelar aí o próprio desejo, o desejo motor da análise. A contratrasferência e o desejo do analista É algo que diz respeito somente aos sentimentos do analista, trata-se do analista quanto sujeito – quando a contratransferência não é percebida, o analista coloca em cena sua posição subjetiva, colocando em risco a condução da análise. O Lugar Do Analista O lugar do analista é vazio, quando abordamos esse assunto estamos falando precisamente de uma posição subjetiva. A relação analítica se efetua a partir do momento em que o analista assume a sua posição, o lugar do psicanalista é do analista, sendo os dc ois uma coisa só. A estranha posição que o analista ocupa no setting analítico é chama de reinvenção e foi utilizada por Lacan. A psicanálise é intransmissível e a reinvenção estão intimamente ligados, pois o analista deve submeter essa intransmissibilidade à sua capacidade de reinvenção, pois é assim que se constitui o nó da psicanálise. Pressumir é um lugar oposto do analista, para Fingermann (2016) a posição ética do analista implica em suportar a psicanálise e, cada vez, reinventá-la. Tal precisão se estende que não há uma continuidade, não há uma reprodução de experiência, nem prolongação e tampouco uma identificação - cada final de sessão é um final de análise, é o lugar do vazio que o analista deve oferecer ao analisando. O Discurso Analítico O discurso do analista é capaz de dar ao setting imaginário uma dimensão amplamente maior. Através da teoria do discurso que Lacan pôde situar a estrutura de cada discurso, cuja a matriz pode ser caracterizada por 4 lugares: Verdade – Semblante – Gozo – Mais-Gozar Cada estrutura tem a função do agente que está no lugar de comando, assim: • O agente S1: discurso do mestre • O agente S2: discurso universitário • O agente A: discurso psicanalítico • O agente $: discurso do histérico Quando o psicanalista responde, faz girar o discurso. Discurso de mestre O discurso do mestre é aquele em que o poder se exerce pela autoridade, organizando relações sociais e simbólicas, mas sem revelar a verdade do desejo, que permanece velada. Discurso psicanalítico O discurso analítico é aquele em que o analista sustenta o lugar da falta, possibilitando que o sujeito produza saber sobre o próprio inconsciente e se confronte com a verdade do seu desejo. A Ética da Psicanálise Freud demonstrou que o caminho da felicidade será restrito ao modo próprio de cada constituição e que pela busca de satisfação do prazer recalcado, na verdade, pode gerar grande desprazer na consciência. O caminho para o bem do sujeito não é garantido e o tratamento psicanalítico não deve propor um bem a qualquer sujeito. “Devo extrair da minha prática, a ética do bem-dizer" - Lacan, 1974. Não se trata de indicar ao sujeito o que é o “bem” ou o “certo”, mas de ajudá-lo a assumir sua verdade e a encontrar uma forma singular de dizer sobre o seu desejo e seu gozo.“Bem-dizer” significa dar palavras ao que é inconsciente, sem pretensão de completude, mas permitindo que o sujeito construa um modo de viver mais próprio. A Função e Campo da Fala e da Linguagem Fala vazia > Lacan diz que a fala vazia é aquela que habita o registro imaginário e diz a respeito do eu, consequentemente aos seus processos de identificação pelo qual o sujeito se perde na linguagem como objeto. A fala vazia é o que o analista tem ao seu dispor e não há como deixar de passar pela estrutura imaginária do eu. A fala vazia mantém o sujeito no lugar comum. • Discurso repetitivo, automático ou social. • O sujeito não se compromete com o que diz. • Visa agradar ou responder ao outro. • Não revela o inconsciente. Muitas vezes funciona como obstáculo para estabelecer a transferência. Fala plena > É a fala que faz ato, e por consequência que forma a verdade, estabelecendo um reconhecimento dialético na relação analítica. A verdade pode ser resgatada, pois segundo Lacan ela está escrita em outro lugar. • O sujeito se implica no que fala. • Traz um efeito de verdade, mesmo sem saber totalmente. • Pode tocar no desejo e no inconsciente. • Produz transformação no sujeito.