Prévia do material em texto
JORDANA BEATRIZ-MED7 1 1 INFECÇÕES CONGÊNITAS-MEDCURSO INFECÇÕES CONGÊNITAS INTRODUÇÃO: O RN que tem infecções congênitas foi contaminadas durante a vida intrauterina. O agente infeccioso chegou no feto pela disseminação hematogênica transplacentária. CLÍNICA: De forma geral, existe manifestações clínicas que podem ser encontradas em todas as crianças com infecções congênitas. ▪ Pode ser causa de abortamento: infecção no início da gestação pode levar ao óbito fetal intraútero e abortamento. ▪ Malformações congênitas: infecção durante a formação, pode levar a várias malformações. ▪ Assintomáticas ao nascimento: o risco de transmissão vertical para a maioria das doenças é maior no final da gestação, e nesse momento a criança já está ‘prontinha’ e não tem como ter malformações graves, esta estará assintomática e iniciará a investigação. SÍFILIS CONGÊNITA É o resultado da transmissão hematogênica placentária do T. pallidum. Essa transmissão pode ocorrer em QUALQUER FASE da doença. Porém, ela é MAIOR na fase primária e secundária. Sífilis pode ter a fase primária (presença do cancro que evolui com melhora) passa para fase secundária até chegar na sífilis latente →mais comum na gestante. ➢ QUADRO CLÍNICO: o Sífilis congênita precoce; ▪ MC surge nos primeiros dois anos de vida. ▪ Tudo que acontece é resultado da ação do T. pallidum no tecido, causando lesão e destruição tecidual. LESÕES CUTÂNEAS: ✓ Macropapulares →mais frequentes. o Pode estar distribuída em vários locais. ✓ Pênfigo sifilítico → lesão mais característica. o Leões vesiculares que estão presentes nas palmas das mãos e plantas dos pés. o Essas lesões são repletas de treponema, por isso, ao manusear deve sempre estar de luvas. o Deve deixas as crianças em precaução de contato por 24 hrs após o inicio do tratamento. ✓ Lesões placas mucosas e condiloma plano: o Placa mucosa: lesão elevada na superfície mucosa. ✓ Rinite sifilítica: o É a primeira manifestação que pode surgir no quadro de sífilis congênita. JORDANA BEATRIZ-MED7 2 2 INFECÇÕES CONGÊNITAS-MEDCURSO o Observa a presença de secreção abundante e pode ser sanguinolenta → resultado da destruição da cavidade nasal. O treponema causa um processo erosivo na cavidade nasal. LESÕES ÓSSEAS: ✓ Periostite: inflamação do periósteo; o Na diáfise do osso longo consegue observar duas linhas → duplo contorno (processo de inflamação periostial). ✓ Osteocondrite: inflamação articular. ✓ Sinal de Wimberger; o É uma rarefação da borda medial da região proximal da tíbia. ✓ EF: pseudoparalisia de Parrot. o As lesões ósseas, principalmente a osteocondrite são muito dolorosas, e elas sente muita dor ao manuseá-las por esse motivo, elas ficam paradinhas. ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS: ✓ Anemia; ✓ Leucocitose; NEUROSÍFILIS: ✓ Alterações liquóricas; ✓ Não necessariamente as crianças terão manifestações neurológicas. CORIORRETINITE: ✓ Tem o aspecto chamado: sal e pimenta (processo inflamatório que consegue ser observado através da fundoscopia). o Sífilis congênita tardia; ▪ MC surge após os dois anos de vida. ▪ Tudo que acontece nesse período é o resultado da cicatrização de todos os processos que aconteceu na sífilis precoce. SEQUELAS: ✓ Nariz em sela: resultado da cicatrização da destruição do tecido nasal. ✓ Ragades: Cicatrizes/estrias das placas mucosas. ✓ Tíbia em sabria: tíbia deformada, consequência da periostite. ➢ AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR: Se o RN assintomático, não pode deixar passar, pois futuramente irá apresentar tais manifestações citadas. É indicado avaliação complementar para investigar sífilis congênita em duas situações: 1. Quadro clínico que sugere sífilis congênita; 2. Criança assintomática, mas é filho de mãe com diagnóstico de sífilis. ❖ AVALIAÇÃO SOROLÓGICA: o Teste treponêmicos: ▪ Ex.: TPHA, FTABS, teste rápido. ▪ Identifica anticorpos específicos para o treponema. JORDANA BEATRIZ-MED7 3 3 INFECÇÕES CONGÊNITAS-MEDCURSO ▪ NÃO SÃO USADO NA AVALIAÇÃO DO RN. ▪ Pode ser feito no acompanhamento ambulatorial após 18 meses. ▪ A criança pode ter o teste treponemico positivo pois os anticorpos IgG passa pela placenta, então, não da informação sobre a atividade da doença. o Testes não treponêmicos: ▪ Ex.: VDRL. ▪ Quando tem a infecção pelo treponema, ele causa destruição tecidual e forma-se anticorpos. ▪ No VDRL avalia anticorpos que se formam como consequência da lesão tecidual, não é especifico. ▪ Avalia a atividade da doença, se tem muita lesão tecidual em curso → muito anticorpo. ▪ Permite diagnóstico e seguimento. ▪ Consegue comparar a quantidade de anticorpo do RN e do materno. ▪ VRDL do RN sempre do sangue periférico. ❖ RADIOGRAFIA DE OSSOS LONGOS; ❖ AVALIAÇÃO DO LÍQUOR. o Teste sorológico do liquor é sempre VDRL. o Neurosífilis: ▪ VDRL: reagente; ▪ Presença de celularidade >25; ▪ Proteína >150. ▪ Apenas 1 dessas alterações considera-se como quadro de neurosífilis. ❖ HEMOGRAMA, PERFIL HEPÁTICO E ELETRÓLITOS. ❖ AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA E OFTALMOLÓGICA. ➢ TRATAMENTO: 1. Avaliar o tratamento materno; O grande determinante do risco da contaminação da criança é o fato da mãe ter sido tratada de forma adequada ou não. ✓ Tratamento materno adequado: o Tratamento completo para o estágio clínico de sífilis. o Sempre com penicilina benzatina; o Iniciado até 30 dias antes do parto. o Acompanhar a queda do título do VDRL. Não realiza todos os exames: coleta apenas o VDRL do RN e compara com o materno. ➔ Se VDRL do RN maior que o materno em 2 diluições: RN COM SÍFILIS CONGÊNITA: notificar + coletar exames + tratar por 10 dias. ➔ VRDL do RN NÃO é maior que o materno em 2 titulações: 1. Exame físico normal: criança exposta a sífilis → acompanhamento ambulatorial. 2. Exame físico alterado: o VDRL NÃO Reagente: avaliar Storchs (outras infecções congênitas); o VDRL reagente → SÍFILIS CONGENITA → notificar + coletar exames + tratar. ✓ Mãe não tratada de forma adequada: o Notificar. o Coletar exames complementares: rx de ossos longos, líquor, hemograma, mesmo assintomático. o Líquor alterado → penicilina cristalina IV por 10 dias. o Liquor normal e outras alterações → penicilina cristalina IV OU penicilina procaína IM por 10 dias. o Assintomático e sem alterações → penicilina benzatina IM em dose única e acompanhamento ambulatorial. ▪ Obrigatoriamente VDRL: não reagente. ***O QUE DEFINE SE E PENICILINA CRISTALINA OU PROCAINA É O LIQUOR ALTERADO. SE LIQUOR ALTERADO SEMPRE CRISTALINA. *** É COMUM QUE RN COM DOENÇAS CONGENITAS TENHAM HEPATO E ESPLENOMEGALIA E ESSA MANIFESTAÇÃO É INSPECÍFICA. JORDANA BEATRIZ-MED7 4 4 INFECÇÕES CONGÊNITAS-MEDCURSO RUBÉOLA CONGÊNITA É o resultado da infecção hematogênica transplacentária pelo vírus da rubéola. A transmissão só ocorre na infecção materna aguda. Iniciou a gestação e a mãe for susceptível a rubéola, ela poderá passar para o feto a infecção se ela for contaminada durante a gestação. A síndrome da rubéola congênita ocorre mais no início da gestação, e isso é um problema pois a repercussão clinica para o feto é mais exuberante. ➢ QUADRO CLÍNICO: Na síndrome da rubéola congênita a criança terá: o CIUR: ao nascimento o RN será PIG simétrico, pois desde o inicio da gestação tem o processo que limita o crescimento. o Deficiência auditiva: é a alteração mais frequente. o Malformações cardíacas: a formação do sistema cardiovascular ocorre nas primeiras semanas de gestação, por esse motivo ocorre as alterações como: persistência do canal arterial e estenose da artéria pulmonar. ▪ Ao exame físico: sopro. o Malformaçõesoculares: ▪ Coriorretinite: característica em sal e pimenta. ▪ Catarata: reflexo do olho vermelho está ausente → leucocoria (reflexo pupilar branco/opacidade do cristalino). o Alterações cutâneas: são lesões/ exantemas petequeais, purpúricas. Tríade característica da síndrome da rubéola congênita: deficiência auditiva, malformações cardíacas e catarata. ➢ TRATAMENTO: o Manejo das sequelas; ▪ Catarata: cirurgia; ▪ Persistência do canal arterial: cirurgia. TOXOPLASMOSE CONGÊNITA É o resultado da disseminação hematogênica transplacentária do T. gondii. Quando o pct é contaminado, pode ter a infecção aguda com manifestações inespecíficas OU assintomática. Uma vez contaminado, o T. Gondii permanece no tecido. A toxoplasmose congênita só acontece quando tem infecção aguda durante a gestação OU reativação de uma infecção latente na pct imunodeprimida. Desde o início da gestação deve ser feita sorologia para toxoplasmose. E partir disso, tem a possibilidade de definir se a pct tem a toxoplasmose, se é susceptível. ➢ QUADRO CLÍNICO: o Assintomática: maioria das vezes. o Lesões no SNC (o toxoplasma tem predileção pelo SNC). ▪ Hidrocefalia; ▪ Calcificações intracranianas, elas estão distribuídas por todo o parênquima cerebral → característico. o Lesões oculares: ▪ Coriorretinite→ causa de cegueira. o Deficiência intelectual: prejuízo cognitivo. ▪ Se torna evidente com o passar dos anos. Tríade de Sabin: hidrocefalia, calcificações intracranianas e coriorretinite. *Toda criança com quadro clínico suspeito será investigada. * Toda criança de uma mulher que teve toxoplasmose durante a gestação será investigada. Hoje, tem a possibilidade de rastrear as crianças através do teste do pezinho. JORDANA BEATRIZ-MED7 5 5 INFECÇÕES CONGÊNITAS-MEDCURSO ➢ TRATAMENTO: Deve identificar todas as crianças com toxoplasmose pois ela SEMPRE será tratada, mesmo que assintomática. 1. Durante 1 ano: pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico. A pirimetamina faz ação anti-fólica na medula óssea e inativa o ácido fólico, por isso, como tratamento usa-se o ácido folínico. 2. Corticoides: a. Para alguns casos como: retinocoroidite em atividade; - Proteinorraquia > 1g/dL. É realizado por algumas semanas, até normalizar o processo inflamatório. CITOMEGALOVÍRUS CONGÊNITA Infecção hematogênica transplacentária pelo citomegalovírus, que é um vírus da família do herpes vírus. Os vírus da família herpes vírus tem uma característica importante: permanecer de forma latente no organismo. Para que ocorra a infecção: infecção aguda e reativação da infecção latente. Se a mulher tiver sorologia positiva antes de engravidar: não muda a conduta. Se infecção materna primária: a probabilidade de passar para o feto é maior, pois tem uma alta viremia. Se infecção materna recorrente: a taxa de transmissão para o feto diminui, pois tem anticorpos. Fontes de transmissões: saliva, leite materno, secreções vaginais, urina, sêmen e fezes, sangue: transfusão de leucócitos. ➢ QUADRO CLÍNICO: o Assintomático: 90% das vezes. o Quando sintomáticos: exantemas petequeais, icterícia colestática e hepatoesplenomegalia. o Trombocitopenia; o Microcefalia; o Surdez neurossensorial pode está presente desde cedo OU pode ser sequela → mais frequente. o Calcificações periventriculares; CMV é grave quando ocorre a infecção intrauterina. Pode ocorrer infecção perinatal por: secreções cervicovaginais 6-12% dos casos e pelo leite materno: 50% das vezes quando a mãe está com viremia elevada. ➢ DIAGNÓSTICO: o Não é fácil, pois a sorologia IgG e IgM é pouco sensível e pouco específica. o Pode ser feito: cultura OU PCR de urina ou saliva. JORDANA BEATRIZ-MED7 6 6 INFECÇÕES CONGÊNITAS-MEDCURSO ➢ TRATAMENTO: 1. Ganciclovir IV: tratamento prolongado – 6 semanas. a. Indicado para quadros grave. 2. Valganciclovir VO: custo alto. HERPES SIMPLES VÍRUS Existe 2 tipos: HSV-1: infecta pele e mucosa acima da cintura. HSV-2: infecção de genitália e consequentemente no parto vaginal o RN adquire o vírus- neonato. A maioria dos pcts com infecção perinatal será contaminado pelo HSV-2. A infecção predomina na transmissão durante o parto, apenas 5% será transmissão intrauterina e 10% pós parto. ▪ Infecção materna primária: a taxa de transmissão é de 33 a 50% ▪ Recidiva ou recorrente: taxa de transmissão é de 1 a 3%, pois a mãe já tem anticorpo. ➢ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: I. Infecção de pele, olho e boca: 5-6 dias após o parto. II. Infecção do SNC: 8-12 dias após o parto. a. Meningoencefalite herpética. b. Letargia; c. Tônus muscular reduzido. d. Convulsões. III. Infecção disseminada: 5-6 dias após o parto. LESÃO CARACTERÍSTICA DO HERPES: ▪ Vesículas e úlceras de pele: aparece em 30 a 43 % dos RN. ATENÇAO PARA O RN QUE APRESENTE AO NASCIMENTO: pústulas, vesículas, ceroconjuntivite. Pois 70% das infecções não tratadas localizadas irão evoluir para doenças do SNC ou disseminada. ➢ DIAGNÓSTICO: o Quadro clínico; o Isolamento do vírus- PCR. o Sorologia específica; o Demonstração em material de biópsia OU LCR. o Meningoencefalite herpética: PCR do líquor. • Liquor apresenta: hemácias, pleocitose (linfócito), aumento de proteínas e glicose normal. Quando tem no eletroencefalograma ou RM com lesão em lobo temporal: tem que pensar em meningoencefalite herpética. JORDANA BEATRIZ-MED7 7 7 INFECÇÕES CONGÊNITAS-MEDCURSO ➢ TRATAMENTO: 1. Aciclovir 14-21 dias IV. Se a mãe tiver lesão em períneo: o ideal é que o parto seja por via alta. ZIKA VÍRUS Era desconhecido até 2007, quando ocorreu um grande surto. ➢ AGENTE ETIOLÓGICO: o Arbovírus do gênero favivirus, família Flaviviridae. o RNA-vírus. Os seres humanos são os hospedeiros amplificadores. MODO DE TRANSMISSÃO: vetorial pelo mosquido Aedes aegypti. ➢ MC: o A maioria dos pcts serão assintomáticos. QUAL É O GRANDE RISCO: o risco para fetos de gestante infectadas→ microcefalia e calcificação intracraniana. ➢ IDENTIFICAÇÃO DE MICROCEFALIA: ✓ Medida do perímetro cefálico: o Realizar em 24 hrs após o nascimento, e dentro da 1ª semana de vida. ✓ Microcefalia: o PC abaixo de – 2 do desvio padrão. o Microcefalia grave: PC abaixo de – 3 do desvio padrão. ▪ Deve ser feito: TC OU RM do cérebro. o Micro em RN a termo: ▪ PC