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7 
Unidade 1
Introdução ao pensamento 
filosófico
O que é a filosofia?
Há diversas maneiras de responder o que é uma coisa. Por exem-
plo, se alguém perguntar “o que é um carro?”, você pode falar sobre 
a utilidade do carro, do que ele é feito, como funciona, quem o inven-
tou, quem o fabrica, etc. O mesmo acontece com a filosofia. Portanto, 
a primeira coisa que você deve saber ao começar a estudar esta disci-
plina é: que tipo de resposta você encontra aqui.
Muitos livros dizem qual é a história da filosofia, ou seja, como ela 
começou e se desenvolveu até os dias de hoje. Citam seus “inventores” 
gregos e contam alguns detalhes sobre suas vidas e obras, misturados 
com informações sobre a época em que viviam. Seguem, então, uma 
linha do tempo, que passa pela apropriação do pensamento grego na 
Roma Antiga; pela filosofia medieval e sua relação com a fé cristã; 
pelo importante papel da filosofia moderna para as ciências, até al-
cançarem os dilemas do nosso próprio tempo e os autores da filosofia 
contemporânea. Existem ainda os livros que dizem quais suas áreas 
de estudo ou como ela se divide em lógica, epistemologia, filosofia da 
ciência, filosofia política, ética, estética, etc.
Embora também recorramos a informações históricas e a expli-
cações gerais sobre os diversos campos da filosofia, buscaremos uma 
resposta um pouco diferente. De maneira análoga, não vamos falar 
tanto sobre a história do automóvel ou sobre os diferentes modelos 
disponíveis no mercado, mas, principalmente, sobre como se dirige. 
Isso significa que a pergunta “o que é a filosofia?” pode ser substituída 
8
por outras, como “o que a filosofia faz?” ou ainda “como se faz filoso-
fia?”. E, assim como é na prática que se aprende a dirigir, este estudo 
será uma espécie de prática filosófica. O que passa pelo contato direto 
com trechos de textos clássicos e de importantes comentadores.
No lugar de uma exaustiva lista de autores e teses, preferimos dar 
lugar a um pequeno número de filósofos. Certamente serão perdidos 
nomes importantes e mesmo entre os lembrados será impossível con-
templar todo seu pensamento. Mas, se perdemos algo em extensão, 
esperamos ganhar em profundidade. Não uma profundidade densa e 
impenetrável, como muita gente pensa que é a filosofia, mas algo que 
se torne mais visível e claro a cada passo. O que pretendemos olhar 
com clareza nesta primeira unidade é a própria filosofia. Procuramos 
uma maneira de compreendê-la e ninguém pode explicá-la melhor do 
que os próprios filósofos. Devemos estudá-los tendo em mente esta 
simples pergunta: “O que é a filosofia?”
A atividade filosófica
Em primeiro lugar, se vamos aprender a pensar filosoficamente, 
precisamos deixar de lado alguns preconceitos. Entre eles o que en-
cara esta atividade como “coisa de maluco”, uma “viagem” ou mero 
exercício de pensamento. É verdade que podemos ter essa impressão 
em um primeiro contato com a filosofia. Mas é possível mudá-la com 
um pouco de atenção e paciência.
O fato de estudarmos filosofia em um curso de graduação já revela 
tratar-se de algo mais importante. Trata-se de uma ciência, como a 
sociologia é a ciência da sociedade, a matemática é a ciência dos nú-
meros, a botânica é a ciência das plantas, etc. Mas a filosofia é a ciên-
cia do quê? Ela não lida com objetos sensíveis e não faz experiências. 
Também não realiza cálculos e seus resultados não são mensuráveis. 
Seu material de trabalho e seus resultados são... ideias. Podemos, en-
tão, dizer que a filosofia é a ciência do pensamento.
Nesta pintura do holandês Rembrandt van Rijn (1606-1669), chamada 
O filósofo em meditação, retrata-se a clássica visão da filosofia como 
pensamento desligado das atividades cotidianas e superior às outras 
formas de conhecimento. No centro da tela, mostra-se a quietude do 
filósofo, placidamente concentrado, enquanto no canto inferior direito outro 
homem age diante do fogo. A escuridão que envolve toda a tela permite 
o contraste entre as duas atividades. O filósofo recebe a luz mais forte e 
natural, que é a luz de seu próprio pensamento. Do outro lado, a tarefa de 
acender o fogo fornece apenas uma réstia de luz, fraca e artificial.
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9 
Como as outras ciências, podemos dividir seu exercício em duas 
formas distintas: a capacidade de criar um novo conhecimento ou de 
aprender conhecimentos que já foram produzidos. Por isso a pergunta 
“como se faz filosofia?” tem um duplo sentido:
Em um deles, trata-se de determinar como se tornar um filósofo original, apontando-se um 
certo resultado; no outro, como podemos nos apropriar do philosophical way of thinking [jeito 
de pensar filosófico], e alude a uma forma específica de proceder intelectual. (PORTA, 2002, p. 23)
É esse segundo sentido que nos interessa. Após a leitura deste li-
vro, não esperamos que você saia criando suas próprias filosofias, nem 
simplesmente decorando um resumo dos principais autores e suas te-
ses. Nosso objetivo é compreender como funciona a filosofia. Para 
isso, vamos estudar uma pequena parte do que foi criado por essa 
ciência no decorrer de quase 2500 anos.
Se esta é a ciência do pensamento, devemos aprender a pensar com 
a filosofia. Pois, se estudamos matemática, aprendemos a lidar melhor 
com os números; se estudamos gastronomia, aprendemos a preparar 
e apreciar alimentos da melhor maneira; se estudamos jornalismo, so-
mos capazes de criar e espalhar informações. Mas o que significa dizer 
que aprendemos a pensar quando estudamos filosofia?
Sem dúvida, nós sabemos pensar e para fazer isso todos os dias 
ninguém precisa da filosofia. Nem mesmo as ciências precisam dela 
para pensar os seus conteúdos. Como nos dizem Deleuze e Guattari:
[...] ninguém precisa de filosofia para refletir sobre o que quer que seja: acredita-se dar muito 
à filosofia fazendo dela a arte da reflexão, mas retira-se tudo dela, pois os matemáticos como 
tais não esperaram jamais os filósofos para refletir sobre a matemática, nem os artistas sobre a 
pintura ou a música. (DELEUZE; GUATTARI, 1992, p. 14)
Gilles Deleuze (1925-1995): Um dos mais influentes pensadores da atualidade, Deleuze 
possui uma obra extensa que inclui comentários sobre o trabalho de filósofos (Leibniz, 
Kant, Nietzsche, Bergson, Espinosa, etc.) e artistas (Kafka, Proust, Francis Bacon – tra-
ta-se do pintor irlandês, não do filósofo homônimo –, etc.). Em 1968, apresenta Diferença 
e Repetição como tese de doutoramento. No mesmo ano, conhece Félix Guattari e deste 
encontro surge uma longa e produtiva colaboração, que inclui a publicação de O Anti-Édipo 
(1972) e Mil Platôs (1980).
Félix Guattari (1930-1992): Filósofo e psicanalista, ultrapassou os limites dessas ciên-
cias e criou uma obra bastante original, marcada pela invenção e reinvenção de conceitos. 
Junto com Jean Oury, fundou a clínica de La Borde, que se tornou espaço de aprendizagem 
a muitos estudantes. Militante político de esquerda, Guattari esteve bastante presente 
nos acontecimentos relativos ao Maio de 68 na França.
Os matemáticos e os artistas possuem o conhecimento necessário 
para executar suas tarefas, para pensar sobre elas e ensiná-las. O mes-
10
mo acontece com os jornalistas, os publicitários, os administradores, 
etc. Portanto, se a filosofia tem algo a dizer, ela deve ser capaz de 
fornecer outro tipo de conhecimento. Dissemos que ela é a ciência do 
pensamento, pois é com isso que ela lida. Mas não precisamos da filo-
sofia para pensar como executar nossas atividades diárias. Logo, o que 
vamos aprender com os filósofos é outro modo de pensar sobre a vida, 
sobre nossas profissões e sobre o mundo em que vivemos. Só podemos 
entender o que a filosofia tem a dizer quando conhecermosesse seu 
modo de pensar.
O amante da sabedoria
O termo grego philosophia é atribuído a Pitágoras, que pretendia 
distinguir o saber (sophia) da busca ou do amor (philo) pelo saber.
Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os 
homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. (CHAUI, 1994, p. 20-21)
Essa definição da filosofia também está presente em O Banquete, 
obra fundamental de Platão. O texto conta a história de uma festa ofe-
recida pelo poeta Agatão. Como era de costume, em meio aos comes 
e bebes os participantes proferem uma série de discursos e discutem 
suas opiniões. O tema em debate na ocasião era o deus do amor, Eros. 
Chegada sua vez, Sócrates pergunta a Agatão se o amor é desejo. Ad-
mitindo que sim, ele é levado a concordar que desejamos apenas aqui-
lo que não possuímos; logo, o amor pode ser definido como carência 
e necessidade.
Pitágoras (século VI a.C.): É difícil descrever sua exata biografia, pois o nome de Pitágo-
ras está presente em uma série de relatos póstumos e repletos de fantasia. Sabe-se com 
mais certeza ter nascido na cidade de Samos e ser um dos grandes responsáveis pelo 
desenvolvimento das ciências matemáticas e da filosofia. Fundou, na cidade de Crotona, 
uma escola que recebeu o nome de pitagórica. Seus estudos abordavam a essência dos 
números, considerados divinos e responsáveis pela harmonia do universo. Descobriu vá-
rios fundamentos da matemática e da astronomia, mas a maior contribuição de Pitágoras 
(ou de seus discípulos) está no campo da geometria, especialmente na teoria sobre as 
relações entre os lados do triângulo retângulo, o chamado Teorema de Pitágoras.
Platão (cerca de 427-348 a.C.): Discípulo de Sócrates, fundou, em Atenas, a Academia, 
que dirigiria até sua morte. Seus ensinamentos retomam os ensinamentos de Sócrates, 
dando-lhes um sentido próprio. De um modo geral, a doutrina de Platão considera a exis-
tência de dois mundos distintos: o mundo sensível (em que estamos) e o mundo das ideias. 
As ideias correspondem à realidade verdadeira, na qual o mundo sensível seria apenas 
uma sombra. A esta teoria corresponde seu método dialético – que consiste na elevação 
do pensamento desde as coisas sensíveis até o conhecimento das ideias verdadeiras – e 
11 
a teoria das reminiscências – que supõe haver em nossa alma a lembrança de um contato 
com as ideias, ocorrido antes do nascimento e a partir do qual podemos vislumbrá-las 
neste mundo.
Sócrates (cerca de 470-399 a.C.): Como não deixou nenhum escrito, o que conhecemos 
sobre a vida e os pensamentos de Sócrates foi preservado pelos depoimentos de Xenofonte, 
Aristófanes e Platão. Mas tais depoimentos não convergem. Enquanto as obras de Aristó-
fanes retratam Sócrates como um personagem cômico e cujo pensamento seria prejudicial 
para a cidade, Platão o tem em grande medida e constrói sua filosofia com base em seus 
ensinamentos. Cidadão ativo na polis, foi denunciado como traidor das leis e corruptor dos 
jovens. Isto principalmente por causa de seu método (a maiêutica), que consistia em indagar 
seus interlocutores sobre suas opiniões, até que admitissem a fragilidade de suas certezas. 
O julgamento e a execução de Sócrates são eventos centrais da obra de Platão. De fato, 
Sócrates poderia ter evitado a morte se tivesse aceitado a ajuda dos amigos para fugir. Ao 
contrário, argumentava que não pretendia desobedecer às leis da cidade. Tal fidelidade com 
a justiça da polis revela uma importante característica de seu pensamento.
Esta tela de Anselm Feuerbach (1829-1880) reinterpreta um momento de O Banquete, de 
Platão, em que Alcebíades chega à casa de Agatão. É notável no quadro a existência de duas 
atmosferas distintas. De um lado estão Alcebíades e seu companheiros, que chegam em 
uma turba, nitidamente embriagados e agitados. De outro, aqueles que já participavam do 
banquete – entre eles Sócrates – em um clima de concentração e diálogo.
Sócrates lembra, então, o mito sobre o nascimento de Eros. Filho 
de Penia (que significa pobreza e privação) com Poros (também chama-
do riqueza ou recurso), o deus do amor é, ao mesmo tempo, pobre e 
audacioso, mendicante e esperto. Eros vive nas ruas e anda descalço, 
mas se interessa por tudo o que é belo e está sempre tramando meios 
de consegui-lo. Mas tudo o que adquire é logo perdido. Assim também 
seria o filósofo. Ele é carente de sabedoria e capaz de construir inúme-
ros artifícios para buscar o saber, mas a sabedoria nunca é alcançada.
upload.wikimedia.org / National Galerie – Berlim / Domínio Público
12
Platão instaura, assim, uma distância insuperável entre a filosofia e a sabedoria. A filosofia 
define-se por ser aquilo do que é privada, [...] que lhe escapa e, contudo, que possui em si 
de certa maneira [...]. O filósofo é consciente de seu estado de não sabedoria, pois deseja 
a sabedoria, procura progredir na direção da sabedoria [...] sem jamais poder atingi-la. 
(HADOT, 2004, p. 79 e 82)
A ciência das ciências
A filosofia não é o saber, mas o amor pelo saber. Contudo, o co-
nhecimento que ela busca não é o mesmo que se reconhecia como 
importante na época. Segundo Pierre Hadot, na tradição grega do pe-
ríodo, sophia (saber) significava menos um saber teórico do que um 
saber-fazer ou um saber-viver. O sábio (sóphos) era aquele que possuía 
a arte de fazer alguma coisa e, principalmente, aquele que viveu e 
sabia muitas coisas. Sua sabedoria estava profundamente ligada à ha-
bilidade para agir em determinadas situações.
A filosofia, pelo contrário, não busca nenhum conhecimento espe-
cífico, mas os princípios que tornam possível o conhecimento a respei-
to de todas as coisas. Além do mais, a filosofia busca “conhecer pelo 
saber e não em vista de alguma utilidade” (ARISTÓTELES, 2002, 
982b 17). Isso, segundo Aristóteles, caracteriza-a como a mais livre 
de todas as ciências, pois ela existe por si mesma e não em vista de 
outra coisa.
Aristóteles (cerca de 384-322 a.C.): Nascido em Estagira, antiga cidade da Macedônia, 
foi viver em Atenas ainda jovem. Tornou-se aluno de Platão e, mais tarde, professor de 
Alexandre, o Grande. Após a morte de Platão, Aristóteles fundou o Lykeion (origem da 
palavra Liceu). Seu método de ensino ficou conhecido como peripatético, que significa 
algo como “ensinar andando”, pois o mestre ministrava suas aulas passeando entre 
os jardins. Aristóteles contribuiu imensamente em diversas áreas do conhecimento, 
como ética, política, física, metafísica, lógica, poesia, retórica, zoologia e biologia. É 
considerado por muitos o filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental, tendo 
criado vários conceitos que permanecem presentes em todas as línguas modernas 
(atual, virtual, energia, essência, categoria, potência, etc.).
Para Aristóteles, todos os homens tendem por natureza ao saber. 
Ele descreve uma espécie de hierarquia de saberes, que começa com 
as sensações. Delas, surge a memória e, a partir de uma série de recorda-
ções de um mesmo fato, adquire-se a experiência. Considerando a expe-
riência de várias situações diferentes, surge então uma noção universal 
13 
que ele chama de ciência ou técnica. “A experiência é conhecimento de 
coisas particulares, ao passo que a técnica é conhecimento de univer-
sais” (ARISTÓTELES, 2002, 981a 12).
Todas as ações humanas dizem respeito a um conteúdo particular. 
Seguindo o exemplo de Aristóteles, um médico não cura o ser huma-
no, mas sempre um ser humano em particular. Assim como o jardi-
neiro não cuida dos jardins em geral, mas de um determinado jardim. 
Por isso, uma pessoa pode ter a experiência necessária para cuidar de 
um assunto e ser muito eficiente a esse respeito sem conhecer as leis 
que tornam esse procedimento válido. Ela pode ter a experiência sem 
possuir a ciência. Por outro lado, alguém que conheça todas as leis da 
químicae da física pode ser inútil diante de um incêndio.
Ainda assim, de acordo com Aristóteles, valorizamos mais a ciência 
do que a experiência. Consideramos mais sábios os que dominam a ex-
plicação e conhecem as causas, não aqueles que são capazes de agir.
 Há mais de dois mil anos, Aristóteles propôs que a ciência era mais valorizada que a 
experiência. Em sua opinião, ocorre o mesmo em nossa sociedade atual?
A ciência nos fornece o conhecimento dos princípios e das causas. 
Com ela, não sabemos apenas como se faz alguma coisa, mas por que 
se deve fazer deste modo. Para Aristóteles, a filosofia também busca o 
conhecimento dos princípios e das causas, mas não em relação a uma 
única ciência. Como dissemos, ela busca compreender o que torna 
possível o próprio saber a respeito de todas as coisas. Por isso, Aristó-
teles descreve a filosofia como a ciência de todas as ciências.
Essa definição da filosofia foi mantida durante séculos por inú-
meros pensadores. Já no século XX, o filósofo e matemático inglês 
Bertrand Russell defendeu o seguinte:
A filosofia, como todos os outros estudos, visa em primeiro lugar o conhecimento. O conhe-
cimento que ela tem em vista é o tipo de conhecimento que confere unidade sistemática 
ao corpo das ciências, bem como o que resulta de um exame crítico dos fundamentos de 
nossas convicções, de nossos preconceitos, e de nossas crenças. (RUSSEL, 2005, capítulo XV)
Bertrand Russell (1872-1970): Sua obra é extensa e abrange diversos campos da 
filosofia, principalmente a lógica, a filosofia da matemática e a filosofia da linguagem. 
É um dos grandes responsáveis pela consolidação da chamada filosofia analítica, uma 
das mais importantes correntes filosóficas do século XX. Entre suas principais teses 
está a de que a linguagem pode ser analisada de modo a revelar a relação de sua 
estrutura lógica com a estrutura da própria realidade. Todas as frases poderiam ser 
reduzidas ao que ele chama de sentenças atômicas, que representariam o conteúdo 
de nossa experiência sensível. Também é conhecido por seus textos políticos e pelo 
ativismo em favor de causas liberais e pacifistas.
14
A polêmica entre os filósofos
A definição da filosofia como ciência de todas as ciências parece 
supor a unidade de todos os conhecimentos por ela adquiridos. Mas 
isso nem sempre acontece. Pelo contrário, os textos nos mostram de-
bates e desacordos entre os filósofos.
Avançando no conhecimento desses pensadores, veremos que nem 
todos dizem a mesma coisa a respeito dos mesmos assuntos. Não exis-
te “a” opinião da filosofia sobre tal ou qual assunto, nem mesmo sobre 
o que a própria filosofia significa. As interpretações sobre o mesmo 
pensador também podem ser diferentes e até mesmo no interior da 
obra de um filósofo pode haver discordâncias e mudanças.
Um filósofo não para de remanejar seus conceitos, e mesmo de mudá-los [...]. O filósofo apre-
senta às vezes uma amnésia que faz dele quase um doente: Nietzsche, diz Jaspers, “corrigia ele 
mesmo suas ideias, para constituir novas, sem confessá-lo explicitamente; em seus estados de 
alteração, esquecia as conclusões às quais tinha chegado anteriormente”. Ou Leibniz: “eu acredi-
tava entrar no porto, mas... fui jogado novamente em pleno mar”. (DELEUZE; GUATTARI, 1992, p. 34)
Friedrich Nietzsche (1844-1900): É o grande representante desta compreensão da fi-
losofia como disputa que nunca alcança um final feliz. Para Nietzsche, a necessidade de 
sistematização e de uma coerência infalível está baseada na falsa crença de que existe 
um único sistema válido e verdadeiro. Pelo contrário, afirma, o que existe é vontade contra 
vontade. As ideias não fariam mais do que “representar” tais vontades, tentando se impor 
contra as outras. A crença de que existe apenas uma Verdade seria sintoma de uma 
“vontade fraca”, que tenta eliminar as outras por ser incapaz de aceitar aquilo que a vida 
é realmente: uma luta constante.
Karl Jaspers (1883-1969): Sua obra é bastante inspirada no pensamento do filósofo 
e teólogo dinamarquês Kierkgaard, mas seu encontro com a filosofia se deu a partir da 
psiquiatria. Sua primeira obra, Psicopatologia geral (1913) estudava as perturbações da 
relação do homem com o mundo. Daí sua preocupação com a existência humana, entendi-
da como um conjunto de situações limitadoras, o que remete não a uma condição estável, 
mas à capacidade de ganhar-se ou perder-se a cada instante da vida.
Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716): Filósofo, cientista, matemático, diplomata e 
bibliotecário alemão. A ele e a Newton, em trabalhos independentes, é creditado o desenvol-
vimento do cálculo diferencial integral utilizado até hoje. Sua principal contribuição na investi-
gação metafísica é a teoria sobre as mônodas, que podem ser comparadas ao que os átomos 
representam para os fenômenos físicos. No campo da física, Leibniz antecipou Albert Einstein 
argumentando, em uma polêmica com Newton, que o espaço e o tempo são relativos.
A falta de uma única certeza pode dar a impressão de que não 
chegamos a parte alguma. Mas isso não é verdade. Talvez nossa maior 
dificuldade com a filosofia seja procurar uma única chegada sem per-
ceber que existem diversos pontos de partida.
15 
Os filósofos pensaram uns contra os outros. A História da Filosofia é uma história de polêmicas, 
é uma história de incompatibilidades doutrinárias. Os sistemas filosóficos, na verdade, não 
concordam sobre nada, nem sobre o objeto da própria Filosofia. [...] Sobre o que é efetiva-
mente o objeto da Filosofia, os filósofos estão em desacordo. Sobre como proceder para filo-
sofar, sobre que método utilizar, eles estão em desacordo. Sobre quais os problemas a serem 
enfrentados, estão em desacordo. E também sobre quais as soluções para os problemas. A 
História da Filosofia é a história desses desacordos. (PORCHAT, 2005, p. 237)
Mas os filósofos não estão caminhando cada qual em sua direção. 
Os caminhos se cruzam. Um autor critica o outro tentando respon dê-lo, 
refutando seus argumentos e apresentando novas respostas.
A aparência de que o afirmar proposições é a atividade básica em filosofia é muito forte e se 
deve a que, inclusive para o próprio filósofo, o problema é dado como parte do legado histórico 
do qual ele nem sempre é plenamente consciente ou que, por ser-lhe óbvio, não considera 
necessário explicitar. (PORTA, 2002, p. 33)
A arte de inventar conceitos
Deleuze e Guattari (1992) definem a filosofia como a arte de criar, 
inventar e fabricar conceitos. E o que são conceitos? De um modo geral, 
podemos entendê-los como uma ideia que reúne diversas coisas como 
semelhantes. Assim, por exemplo, o conceito de “casa” diz respeito 
ao lugar onde você mora e também ao lugar onde seu vizinho mora. 
Não temos dificuldade alguma em chamar dois lugares diferentes com 
o mesmo nome. Mas isso nem sempre acontece na filosofia.
Para tomar alguns exemplos, o conceito de “trabalho” para Karl 
Marx não é o mesmo para Hannah Arendt. Da mesma forma, o con-
ceito de “substância” de Aristóteles é transformado radicalmente por 
Descartes. E quando Santo Agostinho fala em “liberdade” ele não está 
falando a mesma coisa que Sartre. Isso acontece porque a filosofia não 
cria seus conceitos simplesmente reunindo alguns atributos comuns, 
como a palavra “casa” reúne a qualidade de ser uma moradia, possuir 
paredes, teto, ser uma propriedade privada, etc. O que a filosofia faz é 
problematizar a definição desses atributos. A partir desse problema, ela 
cria um novo sentido para um termo conhecido ou cria um novo termo 
para responder à questão que ela mesma colocou.
Encontramos um exemplo na própria origem do termo philosophia. 
Para os gregos, a sophia (saber) significava um conhecimento prático, e 
as palavras compostas por philo designavam o interesse e o prazer em 
viver para alguma coisa. Em princípio, portanto, philosophos é aquele16
que busca o saber-fazer. Mas uma vez criado, o conceito se transforma. 
Diante do problema de como podemos conhecer, a philosophia passa a 
designar o desejo de outro saber, diferente de todos os conhecimentos 
práticos e superior a eles. Assim, o próprio conceito “filosofia” é cria-
do como conceito filosófico.
Criar conceitos sempre novos é o objeto da filosofia. É porque o conceito deve ser criado que 
ele remete ao filósofo como àquele que o tem em potência, ou que tem sua potência e sua 
competência. [...] Os conceitos não nos esperam inteiramente feitos, como corpos celestes. 
Não há céu para os conceitos. Eles devem ser inventados, fabricados ou antes criados, e não 
seriam nada sem a assinatura daqueles que os criam. [...] Platão dizia que é necessário con-
templar as Ideias, mas tinha sido necessário, antes, que ele criasse o conceito de Ideia. Que 
valeria um filósofo do qual se pudesse dizer: ele não criou um conceito, ele não criou seus 
conceitos? (DELEUZE; GUATTARI, 1992, p. 13-14)
O que permite ao filósofo criar um novo conceito e acrescentá-lo 
entre as palavras que os homens utilizam normalmente? Na vida coti-
diana sabemos pensar e agir sem o auxílio da filosofia e seus concei-
tos. De alguma maneira, portanto, os filósofos precisam abrir espaço 
para sua atividade. Desde a Grécia Antiga até os nossos dias, eles 
interrompem a rotina dos cidadãos e quebram o sentido comum das 
palavras e atitudes humanas.
Em alguns momentos, a filosofia parece dizer o óbvio. Mas com um 
pouco mais de atenção perceberemos que ela fala sobre o óbvio. Ela toma 
e questiona aquilo que está pressuposto, revelando que o chão sobre o 
qual andamos não é tão firme quanto parece. Onde a tradição, a fé, a cul-
tura, o senso comum e até mesmo as ciências tem uma convicção, a filo-
sofia coloca uma questão. Não por acaso, a figura símbolo de sua origem 
é a de Sócrates, que vagava por Atenas perguntando aos seus cidadãos 
por que eles consideravam uma estátua bonita (o que é o Belo?) ou por 
que julgavam justa uma determinada atitude (o que é a Justiça?).
Sócrates não pretendia simplesmente transmitir um conhecimen-
to, mas questionar aquilo que as pessoas tomavam como dado e co-
nhecido. Não se trata simplesmente de perguntar, mas de colocar um 
problema. Os diálogos socráticos escritos por Platão quase sempre ter-
minam em aporia, ou seja, não encontram solução porque esbarram 
em uma dificuldade lógica insuperável. Seus personagens são levados 
a reconhecer que, depois de afirmarem tantas coisas, já não tem tanta 
certeza sobre o que disseram.
Este ainda é o principal modelo do procedimento filosófico. Aqui-
lo que é tomado como pressuposto, a filosofia toma como questão. Ela 
cria seus conceitos para responder a tais questões. Por isso, estudar 
filosofia não é apenas decorar o que os filósofos dizem, mas entender 
o que eles dizem como uma tentativa de solucionar um problema.
17 
O primeiro passo para entender filosofia é sempre estabelecer o problema. Diante de um filó-
sofo particular, devemos começar pela pergunta “qual é o problema por ele proposto?” e, even-
tualmente, “por que ele o formula dessa maneira?”. (PORTA, 2002, p. 26)
De modo muito semelhante, Oswaldo Porchat diz que para estu-
dar um filósofo nós devemos tentar entender a “lógica” de seu pensa-
mento. Ele não está falando da lógica formal, pois a filosofia não é um 
sistema dedutivo. “Lógica” aqui significa o modo de pensar.
Para compreender a Filosofia de um filósofo, é preciso descobrir qual o seu método de pensar, 
qual o seu método de organizar o discurso filosófico, como ele pensa que se pode progredir em 
direção a novas proposições. Se não se faz isso não se entende nada de um filósofo, absoluta-
mente nada. (PORCHAT, 2005, p. 239)
Movimento e permanência: duas respostas para dois problemas
As teses filosóficas devem ser compreendidas como resposta a uma 
determinada pergunta e não como simples opinião. Para compreender 
isso, vamos tomar um exemplo clássico: a oposição entre Heráclito e 
Parmênides.
Escola de Atenas é um dos mais importantes quadros do pintor renascentista Rafael Sanzio 
(1483-1520). Entre os diversos filósofos representados, destacam-se Platão e Aristóteles, no 
centro da tela. Parmênides (retratado lendo, em pé) e Heráclito (retratado sentado, pensando) 
estão na parte inferior da tela e, embora estejam próximos, não travam uma discussão.
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É famosa a afirmação de Heráclito de que um homem não pode 
entrar duas vezes no mesmo rio. Isto porque o homem que retorna 
não seria o mesmo homem, nem o rio seria o mesmo rio. Para ele, o 
universo pode ser explicado como um contínuo processo de geração 
e corrupção. Assim, todas as coisas se movem e nada permanece. O 
movimento é considerado princípio e causa de todas as coisas. “Tudo 
flui, nada persiste, nem permanece o mesmo”. Para explicar a tese de 
Heráclito, o filósofo alemão Georg W. F. Hegel utiliza a imagem da 
harmonia musical.
[...] a repetição de um único som não é harmonia. Da harmonia é precisamente o absoluto devir, 
transformar-se [...]. O essencial é que cada diferente, cada particular seja diferente de um outro 
[...]. Mudança é unidade, relação de ambos a um, um ser [...]. (HEGEL, 1996, p. 105)
Georg W. F. Hegel (1770-1831): Estudou com o poeta Friedrich Hölderlin e o filósofo 
Schelling, acompanhando com eles o desenrolar da Revolução Francesa e elaborando críticas 
às filosofias de Kant e seus seguidores. Sucedeu Fichte, um dos pós-kantianos, como profes-
sor na Universidade de Berlim, onde lecionou até sua morte. A primeira e mais importante obra 
de Hegel é a Fenomenologia do Espírito. Também publicou a Enciclopédia das Ciências Filosófi-
cas, a Ciência da Lógica, e os (Elementos da) Filosofia do Direito. Outras obras foram compila-
das a partir de anotações feitas por seus estudantes, sendo publicadas postumamente. Após 
sua morte, o hegelianismo manteve vários seguidores, entre eles Karl Marx. No século XX, 
seu pensamento foi constantemente trazido à tona nas mais diversas discussões filosóficas, 
nas obras de autores como Lukács, Marcuse, Adorno, Ernst Bloch, Alexandre Kojève, Sartre, 
Merleau-Ponty, entre outros.
Uma música só é harmoniosa porque possui diferentes tons e pode 
ser executada por diversos instrumentos. A música é movimento de 
uma nota a outra diferente, composição entre instrumentos que se 
complementam. Assim também é para Heráclito, para quem o mundo 
é harmonioso porque tudo está sempre mudando de uma coisa a outra 
coisa diferente.
Por outro lado, Parmênides nega a geração e a corrupção. Todas 
as coisas se transformariam apenas aparentemente, pois na realida-
de tudo permanece o mesmo. Mas como uma coisa pode se tornar 
outra? Como o claro se torna escuro, o quente se torna frio e assim 
por diante? Ao contrário de Heráclito, Parmênides não explica essa 
transformação pela ideia de um movimento incessante e, negando o 
movimento, ele nega igualmente que exista a diferença. Tudo precisa 
ser o mesmo, sempre.
Na teoria de Parmênides, toda mudança e movimento são ilusões, 
o que poderia ser contestado por qualquer criança diante do fato de 
seu próprio crescimento e das mudanças que isso produz. A todo o 
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momento sentimos que as coisas mudam. Não é difícil rejeitar Par-
mênides e tomar sua tese como falsa, dando razão a Heráclito. Mas 
não podemos ser tão apressados. Se quisermos nos apropriar do pen-
samento filosófico, não devemos julgar uma tese e compará-la a outra 
tomando apenas os seus resultados e ignorando o problema que a mo-
tiva. Vejamos agora como se pode, através de argumentos, compreen-
der e defender Parmênides, para depois voltar a refutá-lo com base nos 
mesmosargumentos que o defendiam.
A negação da mudança não é um capricho do filósofo, nem um 
simples meio de se contrapor a Heráclito dizendo o contrário do que 
ele diz. A preocupação de Parmênides é explicar como o pensamento 
pode operar diante de uma realidade que sempre muda. Para pensar 
que uma coisa é outra (por exemplo: “o computador é leve”) ou que 
uma coisa se torna outra (por exemplo: “a água evaporou”) é preciso 
reunir de algum modo os termos do enunciado: reunir o computador 
com a qualidade de ser leve, reunir a forma líquida da água e sua for-
ma gasosa. Se os termos fossem absolutamente distintos, ou seja, se o 
mundo fosse constante movimento, não se poderia falar qualquer coi-
sa com sentido. Na transformação, algo precisa permanecer o mesmo 
para que se possa dizer “isto é tal coisa”. É necessário um princípio de 
identidade. Por isso a teoria de Parmênides tem o mesmo, o uno, o imu-
tável como princípio de todas as coisas: sem pressupor que as coisas 
continuam sendo as mesmas não poderíamos sequer pensar sobre elas 
e suas transformações.
Haver explicitado a própria ideia de Razão ao descobrir o princípio de identidade como o seu 
elemento primeiro e definidor e, inversamente, haver entendido o dito princípio como exigên-
cia básica de toda inteligibilidade, é justamente o aporte parmenidiano decisivo. Uma vez que 
se toma consciência disso, surge o problema de que todo tipo de mudança e alteridade cons-
titui algo irracional. A solução de Parmênides é, por consequência, não as reconhecer como 
reais. Dado que, por outra parte, os sentidos nos informam da existência de ambas [mudança 
e alteridade], eles não podem nos brindar mais que pura aparência. (PORTA, 2002, p. 36)
Aqui está uma boa maneira de compreender Parmênides, tomando 
sua tese como resposta coerente e argumentada ao problema de como 
funciona o pensamento. Mas também é possível voltar a refutá-lo a 
partir da mesma saída, pois sua solução é opor absolutamente o pen-
samento e as sensações, tomando as últimas como ilusões. Ele nega 
aquilo que experimenta – o fato de que todas as coisas mudam – em 
nome de uma coerência lógica. E só pode fazer isto tomando o pensa-
mento como a própria realidade. É o que afirma Nietzsche (1996, p. 
133-134): “A experiência não lhe apresentava em nenhuma parte um 
ser tal como ele o pensava, mas, do fato que podia pensá-lo, ele con-
cluía que ele precisava existir.”
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Aquilo que em uma primeira aproximação pode parecer uma sim-
ples troca de opiniões entre dois filósofos, possui em seu fundamento 
dois diferentes problemas ou duas maneiras diferentes de lidar com o 
mesmo problema. Por isso, para compreender o que um filósofo afir-
ma, precisamos tentar encontrar a pergunta que ele responde.

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