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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA - UNIPÊ PRÓ REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA EDNEUSA BERNARDO DA SILVA INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA JOÃO PESSOA 2015 EDNEUSA BERNARDO DA SILVA INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Psicologia do Centro universitário de João Pessoa- PB, como requisito parcial para a obtenção do título de Psicólogo com orientadora Profª Ms. Alexmara de Barros Medeiros. JOÃO PESSOA 2015 INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA S586i Silva, Edneusa Bernardo da. Influência da Família na Aprendizagem da Criança Edneusa Bernardo da Silva.- João Pessoa, 2015. 57f. Monografia (Curso Psicologia) Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ. CDU – 159.922.7 INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA EDNEUSA BERNARDO DA SILVA Monografia apresentado ao Curso de Psicologia do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ, como requisito parcial para a obtenção do título de Psicóloga, obtendo Conceito ____________ Data _____/_______/______ ( ) Aprovado ( ) Reprovado BANCA AVALIADORA ________________________________________________________________ Profª. Ms. Alexmara Barros de Medeiros (Orientadora - UNIPÊ) ________________________________________________________________ Profª. Ms. Maria Neusa dos Santos. (Professora Convidada) ________________________________________________________________ Profª. Ms. Jaqueline Vilar Greco Ramalho (Membro – UNIPÊ). Ao autor da minha vida e responsável pela minha fé, a Ele todo louvor, honra e adoração. Dedico ainda, ao homem que Deus me confiou como esposo, Pastor Antonio Carneiro de Oliveira Filho e ao meu pequeno gênio, Thomas Bernardo Carneiro de Oliveira. DEDICO! AGRADECIMENTOS A Deus por ter me possibilitado chegar até aqui. Ao meu esposo que pacientemente, e de forma incondicional, esteve presente em todo instante me carregando nos braços nos maiores momentos de angústia, desmotivação e desencorajamento. Ao meu príncipe e companheirinho Thomas Bernardo Carneiro, que contribuiu orando por mim e atendendo minhas demandas durante esse percurso, às vezes rindo de mim e outras vezes atendendo por pura obediência. As Psicólogas Julieny Meireles de Oliveira e Glaucielly Mª Falcão S. Pereira, que foram verdadeiras mentoras, incentivadoras e ajudadoras durante todo curso, em nada se abstendo nas trocas de conhecimentos e dúvidas que sempre emergiam. Aos irmãos que fazem parte da Igreja Presbiteriana em Sapé que me sustentaram através das orações. A Profª. Ms. Maria Neusa dos Santos, chamada carinhosamente por todos de “Neusinha” que foi minha primeira orientadora, construindo comigo o Projeto de TCC e esteve muito presente nos primeiros capítulos. A minha atual orientadora Profª Ms. Alexmara Barros de Medeiros, que me pegou no caminho e aceitou me orientar sem nenhuma restrição. A Profª. Ms. Jaqueline Vilar Greco Ramalho, que gentilmente aceitou o convite para fazer parte da minha Banca e que deu grande contribuição através do material disponibilizado no 2º período em que lecionou a disciplina Psicologia do Desenvolvimento I. A profª. Kay Vieira, que me impulsionou a discorrer sobre o tema quando estava ainda em fase embrionária. Ao Psicólogo José Modesto, que tem me dado todo suporte nesse momento de tensão, ansiedade e medo, me levando a compreender que a monografia é uma criação minha. Meu muito obrigada a você Modesto, que a cada dia desperta minha consciência para a liberdade de ser eu mesma. Louvo a Deus por que no final do curso fui possibilitada estreitar os laços com Leandra, pessoa especial que hoje tenho o privilégio de chamar de amiga. Ao meu muito nobre Professor Aluísio Lopes, que possui uma Precondição que se configura em “um líder ou uma pessoa que experimenta uma confiança essencial na capacidade de as pessoas pensarem por elas”, e cujas condições fundamentais dentro de um processo facilitador, possibilitou recursos essenciais durante todo processo de construção da monografia, meu muitíssimo obrigada! Se a gente quiser modificar alguma coisa, é pelas crianças que devemos começar. Ayrton Senna RESUMO O estudo dentro de uma perspectiva bibliográfica tem como objetivo destacar a Influência da Família na aprendizagem da Criança. No tocante a esse processo, o primeiro capítulo faz um Trajeto histórico da Família abrangendo o sistema patriarcal, até os novos arranjos familiares, o segundo destaca os Estilos parentais e a importância da afetividade no processo de desenvolvimento da criança, e o terceiro abrange as Abordagens teóricas da aprendizagem, analisando a contribuição de Watson, Skinner e Bandura dentro de uma perspectiva Comportamental, e a teoria de Carl Rogers dentro de uma perspectiva Humanista. Considerando a atuação efetiva da família como a primeira extensão estimuladora do indivíduo, compreende-se que ela é responsável em fornecer as bases essenciais para que a criança possa desenvolver uma aprendizagem eficiente, proporcionando através dessa relação à construção de sua identidade, o equilíbrio emocional, o subsídio, e o fortalecimento das relações com seus pares. Ainda atuando como um instrumento norteador é função da família agregar os valores à criança dos quais são absorvidos e internalizados, tendo em vista a facilidade de aprender através da imitação e por meio de seus potenciais. Alguns desses valores inserem-se os culturais, religiosos, morais e éticos. Nesse espaço de construção, acontece assim o desenvolvimento integral da criança, que tende a perpassar a confiança para a sociedade na qual está inserida, relacionando-se positivamente com os professores e colegas. Conclui-se então que a criança possui um potencial inato no que tange a aprendizagem, e que o ambiente proporcionado pela família pode incentivar ou reprimir esse processo. Palavras-chave: Família. Aprendizagem. Criança. ABSTRACT The research within a bibliographical perspective aims to detach the influence of family on learning of children. Regarding this process, the first chapter makes a historical path of the family covering the patriarchal system, to the new family arrangements, the second highlights the Parenting styles and the importance of affection in thechild's development process, and the third covers theoretical Approaches of learning, analyzing Watson's contribution, Skinner and Bandura within a behavioral perspective, and the theory of Carl Rogers within a humanist perspective. Considering the activeness of the family as the first stimulating extension of the individual, it is understood that it is responsible to provide the essential foundation for the child to develop an efficient learning, providing through this relation the construction of their identity, emotional balance, the subsidy, and strengthening relations with their peers. Still acting as a guiding instrument is the family’s function to add the values to the child which are absorbed and internalized, considering the ease of learning through imitation and through its potential. Some of these values are part of the cultural, religious, moral and ethical. In this building space, happens the integral development of the child, which tends to pervade the confidence to the society in which it is inserted, relating positively with teachers and colleagues. It was concluded that the child has an innate potential when it comes to learning and the environment provided by the family can encourage or suppress this process. Key Words: Family. Learning. Child. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...... ............................................................................................................. 09 2 TRAJETO HISTÓRICO DA FAMÍLIA...........................................................................11 2.1 MODELOS DE FAMÍLIA - PATRIARCAL AO PLURALISTA.....................................14 2.2 DEFINIÇÕES DE FAMÍLIA.............................................................................................18 3 MODELOS DE PAIS E A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA..............................................................................22 3.1 ESTILOS PARENTAIS......................................................................................................24 3.2 INTERAÇÕES AFETIVAS...............................................................................................29 4 ABORDAGENS TEÓRICAS DA APRENDIZAGEM, CONSIDERANDO A PERSPECTIVA COMPORTAMENTAL E HUMANISTA...............................................31 4.1 COMPORTAMENTAL......................................................................................................33 4.2 HUMANISTA.....................................................................................................................41 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................48 REFERÊNCIAS......................................................................................................................50 9 1 INTRODUÇÃO Sabemos que a família é a maior responsável pela estruturação do indivíduo, e a sua participação ativa na vida da criança é fundamental para o desenvolvimento psicossocial. A família é ampliada com o surgimento dos filhos, legando a estes a descendência e consolidando assim o vínculo familiar. É ainda uma instituição desenvolvida por indivíduos unidos por laços consanguíneos ou de afinidade. Dentro desse contexto surgem então os filhos, e não se requer dos pais especialização em educação para dá suporte, especialmente, as crianças que apresentem algum grau de deficiência no que tange a aprendizagem. Todavia, Smith e Strick (2001) ressaltam a importância de tornar-se um “especialista” e identificar quais as dificuldades que ele está enfrentando para uma possível intervenção desenvolvendo um entendimento profundo sobre o que ele precisa para aprender. É na família que a criança desenvolve a capacidade de aprender, dada a sua facilidade em imitar os adultos e essas crianças, quando estimuladas tendem a reproduzir os conhecimentos adquiridos, perpassando para as fases posteriores de sua vida, sendo esse conhecimento potencializado na fase adulta. Dentro dessa perspectiva as relações da criança com sua rede familiar passam a ocupar um lugar privilegiado no que tange a esse processo. O lar familiar é o lugar responsável pela criança, pois é nesse meio afetivo, que a criança é recebida e recebe os primeiros cuidados e educação, mas também é um lugar onde os laços e conflitos são construídos de forma a criar os vínculos entre seus membros. Família também é o primeiro lugar onde se organiza o quotidiano da criança e esse percurso vai desde a linguagem até os valores que são agregados em sua vida. Compreendendo a criança como um agente que aprende, inicialmente, através da imitação e modelação, e que o seu desenvolvimento começa a partir das interações sociais, destacamos a família como o principal e especial agente dessas relações sociais, categorizando a influência da mesma, no processo de aprendizagem da criança. A criança, a partir das relações que vivencia no âmbito da família, desenvolve sua capacidade intelectual e tem mais facilidade para desenvolver uma aprendizagem de qualidade. A partir das relações que a criança vivencia na família, produz significações para construir sua subjetividade, portanto a família é o principal grupo responsável por nossa formação pessoal. A família transmite as normas e instrui pelo menos inicialmente, o que é normal e o que não é. A aprendizagem por ser um processo que envolve diversos fatores, é 10 imprescindível considerar os múltiplos aspectos que corroboram para que a criança evolua nesse campo. Buscando compreender através de estudos que tratam do tema da aprendizagem a partir de uma pesquisa bibliográfica, definida por Lima e Mioto (2007, p. 38) como “um conjunto ordenado de procedimentos de busca por soluções, atento ao objeto de estudo, e que, por isso, não pode ser aleatório”, a então pesquisa, pretende destacar a influência da família no que se refere à aprendizagem, pois é na família que ocorre a primeira vivência do ser humano, independentemente de sua vontade ou da constituição desta, portanto, a família é o espaço inicial para a formação psíquica, moral, social e espiritual da criança. A criança manifesta seu comportamento em conformidade com a educação recebida pelos adultos próximos, e essa influência direta e mediadora vai sendo transferida para as áreas em que ela está inserida a exemplo da escola que se transforma no segundo agente imediato socializador da criança. Quando a criança possui um espaço que possibilite sua aprendizagem, ela também está construindo sua própria condição para emergir esse aprendizado. Com base nesse apanhado o então trabalho, busca justificar a necessidade de existir um ambiente favorável que possibilite a aprendizagem da criança, entendendo que a família como um dos grupos responsáveis por nossa formação pessoal e sendo a primeira referência da criança é primordial na construção do saber. Abrangendo ainda o tema proposto, a criança como ser social estabelece sua primeira rede de relação no momento em que vem ao mundo, e essa interação com a família confere- lhe o aprendizado ampliando-o para outras camadas de seu convívio, e isso inclui a escola que é um agente de produção do saber, preparando assim o indivíduo para conviver em sociedade. O resultado dessa investigação será de grande valia aos acadêmicos de Psicologia bem como profissionais da área de Educação porque possibilitará futuras intervenções valorizando a família no processo de aprendizagem da criança. Diante da relevância do tema, objetiva-se analisaratravés do enfoque Comportamental e Humanista a influência da família na aprendizagem da criança, investigando se o aprendizado da criança emerge com mais facilidade quando a família é atuante na educação dos filhos, enfocando a importância dessa assistência familiar no processo de ensino aprendizagem da criança e percebendo essa aprendizagem como resultado de uma ação conjunta entre a criança e a família. Estruturando a pesquisa em três capítulos cujo conteúdo do primeiro capítulo enfatiza a Influência da Família na Aprendizagem da Criança e o Trajeto Histórico da Família; no segundo, abordam-se os Estilos parentais e a importância da afetividade no processo de 11 desenvolvimento da criança; e no terceiro capítulo, Abordagens Teóricas da Aprendizagem considerando a perspectiva Comportamental e Humanista. 2 TRAJETO HISTÓRICO DA FAMÍLIA Nesse capítulo pretende-se então conceituar a família na história da sociedade compreendendo o padrão vigente em cada período, sem perder de vista o papel de destaque na formação do indivíduo e por ser ela responsável em mediar às relações que este estabelece com o mundo desde a infância, fazendo um percurso desde os tempos antigos intercalando-se pela Idade Média, Moderna, Pós-Moderna e a Contemporânea. A organização social da família no modelo tradicional antigo, compreendido por Melo (2012), era numerosa e possuía um regime patriarcal cuja predominância era centrada na figura masculina. A formação da unidade familiar era uma obrigação do homem, registra Galano (2006, p. 120) em seu livro Família e história, ela relata que “A vida matrimonial só era vedada ao clero” (o que não o impedia na Idade Média que eles tivessem mulher e filhos, ainda que fossem considerados bastardos). Os casamentos eram realizados com base nos interesses econômicos e na conveniência onde a mulher era destinada a uma subserviência familiar, atrelada à fidelidade e a castidade. A educação era caracterizada pelo autoritarismo com base na violência e na opressão, os filhos não tinham vontade própria e deviam submissão total aos pais e aos mais velhos. Era uma relação pautada numa estrutura patriarcal e patrimonialista onde os pais exerciam plenos poderes para criar os filhos objetivando apenas a manutenção do patrimônio. Esse modelo é denominado por Duby (1998), como grupos de linhagem, considerando essa descendência unilinear através da transmissão patrimonial o que convergiam em vastos patrimônios. No inicio da Idade Moderna, descrito por Galano (2006), percebeu-se na Europa uma sucessão fechada como forma de resguardar o patrimônio. Um único herdeiro se configurava para assumir os bens familiares denominadas como família tronco, os outros filhos eram instruídos a ocupação de posições relevantes na sociedade. Esta era uma estratégia familiar para preservar os bens e fortalecer as relações entre os irmãos. Às mulheres eram excluídas do direito sucessório no caso de casamento com estranhos devido o abandono do próprio clã. No final do século XVII adentrando para o século XVIII na Europa, Ariès (1986), relata a mudança que se notabilizou no ambiente familiar que foi caracterizado pelo vínculo afetivo entre os cônjuges, entre os pais e os filhos. Esse sentimento de família, segundo ele, 12 aflorou em consonância com o sentido de infância objetivando um melhor cuidado para com as crianças. Houve uma reclusão da família que antes interagia coletivamente, para uma relação de intimidade, transferindo o valor social da linhagem para a família conjugal. Essa passagem consolidou a família como a base dos Estados tornando-a célula social. A visão da vulnerabilidade da criança agora passou a ser contemplada em grande escala, surgiram à preocupação com sua educação, saúde, futuro e sentimentos de afetividade, bem como o desejo de trazê-la para o aconchego familiar e dentro dessa nova concepção surgem os novos arranjos familiares. De acordo com Ariès (2006), os serviços eram transmitidos às crianças por intermédio de um mestre que tinha a incumbência de repassar toda bagagem de conhecimentos, a experiência prática, e o valor humano que pudesse possuir. Nesse período a infância compreendia o nascimento e se desdobrava até os sete anos de idade, de forma que, as crianças recebiam um tratamento pelos adultos de igual para igual, era introduzido vestimentas que os concebia como adultos em miniatura e seus comportamentos eram moldados ao comportamento adulto. Não havia um traje apropriado à infância, isto é, “a Idade Média vestia indiferentemente todas as classes de idade, preocupando-se apenas em manter visíveis através da roupa os degraus da hierarquia social” (p.32). As crianças eram rigorosamente preparadas para exercer funções domésticas recebendo tratamento igualitário, através disso sua capacidade na realização de tarefas era absorvida do mundo adulto e perpassada para gerações futuras. Rodrigues (2009) relata que naquele período, a criança aprendia através da prática. Os afazeres domésticos não eram classificados como abusivo e instituíam uma forma comum de educação tanto para ricos, como para pobres. Nesse período, as crianças recebiam tratamento semelhante aos animais domésticos, não existia vínculo de afeto paterno ou materno (OSÓRIO 1996). A mortalidade era considerada natural entre crianças com alguma limitação mental ou física, elas eram descartadas ou permutadas por algo de valor sem nenhum sentimento de compaixão, e com a aprovação da própria mãe que não expressava nenhuma emoção. Nesse segmento histórico, Shaffer (2008), registra que as crianças não possuíam nenhum direito e elas eram pouco valorizadas pelos familiares mais velhos. Nesse contexto a família se inseria em um padrão de sociabilidade onde não sobressaia expressões de afeto, não havia vínculos amorosos. Durante séculos a prática do infanticídio era comum, e só foi abolida pela igreja no século XVII conforme registra Rocha (2002), porém, mesmo com a proibição da ação infanticida, as crianças indesejadas eram 13 abandonadas nos campos para morrer ou negociadas como escravas ou objetos para serem exploradas sexualmente ao alcançar a meninice (DeMAUSE, 1974 apud SHAFFER, 2008). Pesquisas arqueológicas citadas por Shaffer (2008) mostram sacrifícios religiosos realizados pelos antigos cartagineses onde as crianças depois de mortas eram colocadas nas paredes das construções com o objetivo de fortalecer as estruturas. Os meninos de Esparta eram submetidos a um regime rigoroso sendo treinados para uma servidão de um Estado militar, os bebês recebiam banhos frios como forma de “endurecê-los”, eles eram retirados aos sete anos de suas casas e postos em barracas públicas, ocasião em que eram espancados e subalimentados como forma de adquirir disciplina e assim tornarem-se guerreiros. Medeiros (2006) registra que na Idade Média, havia uma seleção para as mulheres na execução de tarefas, elas eram separadas por categorias, as solteiras se responsabilizavam de lavar e tecer, as mães ficavam na incumbência de cuidar dos filhos, a cozinha e os adolescentes ficavam sob os cuidados das mulheres de meia idade, e as camponesas conciliavam as tarefas domésticas com o trabalho na agricultura como forma de ajudar os maridos. Se referindo a família camponesa, Osório (1996) a exemplifica como responsável pela produção dos bens vitais e de proteção, cuja incumbência era a provisão das condições básicas de existência onde castigos eram aplicados como forma de punir seus membros. Com o surgimento da Idade Contemporânea surge uma nova mentalidade, a antiga aristocracia perde terreno, a burguesia avança para uma classe industrial emergindo duasclasses novas, os empregados e empregadores e com essa nova sociedade inaugura-se uma nova proximidade física entre as pessoas, o que facilita as interações por meio de laços afetivos sob a mira da competência e profissionalismo com base numa proximidade emocional. Nesse novo modelo criam-se relações na base da afetividade, no seio familiar passa a existir disciplina menos rígida e agora a legislação liberal aprova divisão igualitária dos bens familiares assegurando o bem estar dos descendentes, muito embora o status não seja mais herdado, e sim conquistado. O papel social é reconhecido da profissão e é algo intransferível, como o status não é dado, nem garantido, é essencial o aperfeiçoamento do jovem tendo em vista um mundo cada vez mais competitivo (GALANO, 2006). Somado a esses acontecimentos os novos arranjos familiares vão ganhando espaço e a criança conquista seu status como seres de direito. Esse novo modelo familiar tem provocando transformações nas relações, introduzindo novos papéis, mas continua exercendo um papel essencial na vida do indivíduo. De origem distinta ou não, a família transfere para a futura descendência um nome, um modelo cultural, um costume de vida moral, ético e religioso. 14 Apesar dessas modificações e transformações ao longo de sua evolução social, a família, no entanto, continua sendo a instituição primeira onde ocorre a vivência do indivíduo e isso independente de como se configura amparada pelo artigo 227 da Constituição Federal de 1988, que diz que: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar, a criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, a profissionalização, à cultura, além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão (BRASIL, CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988 art. 227). Segundo Kaloustian (2004), a família assegura a sobrevivência e proteção dos filhos, assim como de seus demais membros, é ela o canal dos aportes afetivos e materiais indispensáveis ao desenvolvimento e bem-estar dos seus descendentes. É o que vamos explorar visualizando esses novos perfis, desde a família patriarcal aos novos arranjos familiares que continuam exercendo influência na vida dos indivíduos. 2.1 MODELOS DE FAMÍLIA - PATRIARCAL AO PLURALISTA Considerando que, é nesse ambiente familiar onde começa as primeiras relações humanas, afetivas, e emocionais da criança, e ela enquanto ser social, por depender da família durante todo processo de desenvolvimento queremos destacar, portanto a Família Tradicional que permanece organizada e cuja composição se dá por meio da relação heterossexual constituída por filhos. Ela sofre influência do meio social, consegue se adaptar, mas permanece rígida no tocante a esse modelo. Mesmo nesse padrão a mulher se redescobre através de suas conquistas, apesar de ter uma independência financeira, ela ainda busca conciliar seu lado maternal controlando a quantidade de filhos que deseja e supervisionando a organização do lar. Sobre essa questão Biasoli-Alves (2004), sustenta que o trabalho das mulheres externo ao ambiente doméstico ocasionou distintas alterações na vida familiar, valorizando sua liberdade de escolha e gerando modificações na família e no casamento. As mulheres, segundo a autora, se apresentam com menor inclinação para uma maternidade extensa optando pela liberdade e maior autonomia no processo de escolha do cônjuge, e consequentemente com menos interdições do companheiro em suas novas conquistas. Devido às novas configurações de arranjos familiares inseridos na sociedade contemporânea, não mais é possível conceituar família dentro de uma ótica nuclear/tradicional constituída por pai e mãe, que coabitam e mantem um relacionamento 15 sexual socialmente aprovado gerando dessa relação pelo menos um filho. Dentre os novos arranjos de família surgem o modelo Monoparental, constituída por apenas um dos pais seja do lado materno ou paterno; inclui-se também a legitimação da Família homoafetiva, constituída por configuração de vínculos de afeto entre pessoas de mesmo sexo; definida por Carmut e Faquim (2014), como uma dissociação entre sexualidade e procriação, podendo usufruir das várias possibilidades de experienciar a parentalidade. Uma dessas possibilidades ocorre por meio da reconstituição, quando um dos parceiros traz os filhos do casamento anterior, destacando ainda, outra possibilidade através da adoção, e também por meio da co- parentalidade em que a criança é gerada por um dos membros do casal com uma parceria biológica integrando esse filho no núcleo parental possibilitado pelo pai ou mãe homoafetivo. Inclui-se também nesse novo perfil, o modelo de Família recomposta que são as famílias reconstituídas após o divórcio, considerando a flexibilidade na nossa legislação civil que consente essa nova forma de recasamento e cujo fenômeno está muito em evidência. Isso segundo Girão, Nogueira e Targino (2012, p. 42), Significa dizer que o núcleo conjugal pode dar lugar à outra formação seja com a morte de um dos cônjuges, dando origem as famílias monoparentais, seja com a separação, onde ambos podem refazer sua vida com outro indivíduo constituindo famílias reconstituídas, ou por intermédio dos filhos, que podem originar outra organização familiar: homoafetiva, nuclear, dando sequência ao ciclo vital da família. Essa possibilidade emergiu como forma de reconquistar laços afetivos de intimidade, reciprocidade e companheirismo, segundo o entendimento de Carmut e Faquim (2014). Os modelos apresentados se diferem e se estabilizam de conformidade com os padrões vigentes de cada sociedade como forma de se adequar às novas mudanças, e isso introduz uma nova mentalidade no que se refere às crianças e o seu papel, que no decorrer da história passou por processos de pluralização tantos nos aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos. Sarmento (2004) narra a trajetória das crianças durante sua evolução, ressaltando que ela tinha um papel de utilidade durante o período medieval. Aos sete anos já estava inserida no grupo dos adultos e era participante ativa na economia da família absorvendo a responsabilidade profissional dos pais, e exercendo uma função esperada pela sociedade. Dando segmento, Galano (2006) traduz a família moderna como uma família que se opõe à sociedade patriarcal, procurando legalizar o casamento direcionado pelos sentimentos e emoções. Ainda segundo ela, a revolução sexual leva à união pelo desejo e reivindica o prazer. Dentro desse contexto, existe uma disciplina menos rígida, destacando se um novo 16 mundo onde se oportuniza aos jovens condições para sua independência, existe uma autonomia expansionista através do trabalho longe da interferência paterna. Associado a isso, as novas configurações ganham força com a regulamentação do divórcio é o que relata Cerveny (2002), a separação da união não acaba com a família, mas produz uma transformação, ou seja, há uma alteração nessa estrutura com a dissolução do casamento, embora a família, enquanto organização se mantenha. Essas novas formas de se relacionar foram incorporadas na sociedade atual acrescentando uma nova prática cultural, com isso, surge também à família canguru, quando filhos adultos retornam ao lar ou permanecem nele, mesmo adquirindo autonomia financeira. Com a queda da taxa de fecundidade facilitada através dos meios contraceptivos, agregado com o aumento no nível de instrução da população feminina, estes fatores vêm contribuindo gradativamente com a inserção da mulher no mercadode trabalho e dentro desse novo contexto o papel da mulher se altera de tal forma que se torna impensável um retrocesso ao passado, porém Galano (2006) constata uma situação ambígua, na medida em que veio a emancipação das mulheres na conquista dessa independência, ao mesmo tempo aflora uma situação ambígua, pois aliada a essa emancipação, está também atrelada à exploração, pois realizavam as mesmas funções, tinham uma carga horária maior, não recebiam o mesmo tratamento e também não desfrutava das mesmas condições de trabalho, mas é nesse período que o indivíduo descobre livremente seu novo estilo de vida, novos papéis sociais são incorporados e o espaço da família torna-se um espaço privado. Registra-se ainda pela autora, a perda da hegemonia da igreja católica com o advento protestante e o homem ocupa um lugar central. Uma nova mudança de mentalidade se estabelece, e é recriado o espaço familiar onde os aposentos tem uma atividade específica, dando um novo sentido à intimidade. A despeito dessa pluralização, buscamos retratar as relações que se estabelecem na sociedade atual através dos vínculos desenvolvidos por intermédio da família, seja tradicional ou inserida nesse novo modelo. De acordo, com Amazonas et al, (2003), ela é a pioneira no processo de socialização e é nela que se constrói o primeiro ambiente de interação, atuando como mediadora principal dos padrões, referência e influências culturais. Dentro dessa linha de entendimento, a família é responsável para garantir a continuidade e bem estar dos seus membros de forma coletiva, zelando pela assistência e o bem estar da criança assegurando sua proteção. Dentro dessa contextualização da família, observamos uma sociedade mutante com inúmeras vivências, mas que continua sendo um sistema de relações que muda no tempo, 17 porém se consolida através das gerações. Esse breve panorama apresentado a respeito da família patriarcal através de sua historicidade, nos remete a vários outros conceitos e modelos de família, mas é pertinente assimilar que a vivência da criança acontece dentro desse âmbito, o que nos permite vislumbrar que essa vivência é responsável pelo desenvolvimento dela desde a sua formação, conforme descreve Assis e Luca (2009, p.4). Considerando-se que desde o nascimento o comportamento do indivíduo é modelado pelo comportamento dos familiares mais próximos, especialmente dos pais, a relação familiar corresponde a um dos fatores que determina os processos de conduta da criança, que, por sua vez, pode influenciar na formação da personalidade. Kamers (2006) traduz a família como a matriz simbólica essencial à constituição do indivíduo postulando que é através dela que são transmitidos os interditos necessários à cultura, considerando-a, uma instituição universal cuja responsabilidade retém as bases sociais isso, independe de sua configuração fenomenológica. Shaffer (2005/2008) retrata as visões da infância nos dias modernos traçando o perfil das atitudes relacionadas às crianças durante os séculos XVII e XVIII cujas mudanças aconteceram a partir da compreensão de líderes religiosos da época, que passaram a enxergar as crianças como seres inocentes e frágeis de forma que as mesmas deveriam ser resguardadas dos comportamentos de selvageria e descuido por parte dos adultos, e enfatiza que a escola seria o lugar que possibilitaria a realização desse objetivo. Ariès (1962) proferido por Shaffer (2005/2008) menciona que as crianças apesar de consideradas como propriedade da família, os pais agora eram impulsionados a não mais abusar dos filhos e educá-los na base do afeto e entusiasmo. Meira e Centa (2008, p. 216) consideram que: Refletir sobre família, portanto, é adentrar no mundo da realidade, do imaginário, do sonho e da utopia. É relembrar o passado, viver o presente, e pensar no futuro, é entender como o ontem interfere no hoje e como este direciona o amanhã. É ver que a família perpassa a temporalidade, escrevendo a sua história. Meditando sobre a família neste contexto pré-moderno, moderno e pós-moderno visualiza-se sua especificidade de conformidade com cada conjuntura, onde se observa conquistas, progressos e mudanças, influenciando e sendo influenciada, sem perder de vista sua relevância no exercício de sua função. 18 2.2 DEFINIÇÕES DE FAMÍLIA A família hoje pode ser definida com base em vários correntes de pensamentos podemos conceituar a família dentro de uma perspectiva Psicológica, Sociológica, Antropológica, através da sua historicidade ou até mesmo dentro de um contexto jurídico, como bem define Biasoli-Alves (1997, p.33). As diferentes áreas do conhecimento mostram que são inúmeros ângulos pelos quais se pode olhar a família. Trazendo cada um deles uma contribuição diversa para a sua compreensão. Pode-se pensá-la do ponto de vista psicológico, como se pode analisá- la sob o prisma social, cultural ou segundo a evolução histórica em determinadas sociedades e mesmo a partir das leis que regem a sua formação e dissolução. Para a Psicologia, segundo Carnut e Faquim (2014), a família é uma união de pessoas que vivem em uma composição de hierarquia convivendo através de uma ligação afetiva resistente, nela se inclui uma relação de cuidado entre os membros adultos e por meio deles, e para com as crianças e idosos que surgem dentro desse contexto. Pode ser também percebida como um círculo de indivíduos, que livremente escolhe conviver afetivamente, assumindo compromisso mútuo de respeito entre as faixas etárias. Analisando essa perspectiva, se compreende que a proposta acolhe a família como uma unidade coerente dentro de uma relação interpessoal, originada de forma impositiva ou não, e que se ressalta uma relação de hierarquia e cuidado entre seus componentes. Há uma modificação no conceito de família que se altera de conformidade com o tipo de sociedade na medida em que sofre as novas influências sociais. Dentro do contexto sociológico, Carnut e Faquim (2014, p.63) definem a família como: Um grupo que apresenta organizações estruturadas para preencher as contingências básicas da vida biológica e social. Trata-se de uma unidade social básica, ou seja, o grupamento humano mais simples que existe, por isso a família é a instituição básica da sociedade. Ainda dentro da visão sociológica, entendida pelos pesquisadores acima citados, concebe-se que a família incorpora o caráter de unidade primária e sem ela não seria possível uma ligação interpessoal com os demais membros da mesma espécie, impossibilitando assim a coletividade entre os indivíduos. A família é a gênese do ser humano e este por sua vez, aprende a repetir todo repertório incorporado nela para sua sobrevivência e perpetuação. Conceituada por Dessen e 19 Polônia (2007, p.22) “Como primeira mediadora entre o homem e a cultura, a família constitui a unidade dinâmica das relações de cunho afetivo, social e cognitivo que estão imersas nas condições materiais, históricas e culturais de um dado grupo social”. Esta também é a posição do Professor e mestre em Sociologia Paulo Silvino Ribeiro (2015), que pondera que, se a família é à base do processo de socialização dos indivíduos, é imprescindível que sua estrutura esteja alicerçada dentro de um contexto de harmonia, respeito e lealdade entre seus membros, considerando a relevância e influência que ela exerce na vida de cada um deles. Ele continua tratando do tema refletindo na família enquanto grupo, buscando compreendê-la como um fenômeno social em meios às transformações sofridas dentro da sociedade; Considerando-se que a vidasocial é algo fundamental à existência e sobrevivência dos seres humanos enquanto indivíduos, é na família que se dá início ao processo de socialização, educação e formação para o mundo. Os grupos familiares caracterizam-se por vínculos biológicos, mas sua constituição ao longo da história em todos os agrupamentos humanos não se limitou apenas ao aspecto da procriação e preservação da espécie, mas tornou-se um fenômeno social (RIBEIRO, 2015, p.1). É possível conceituar a família como uma instituição responsável pelo processo de desenvolvimento físico, intelectual, moral, emocional e social do indivíduo, atuando positivamente ou negativamente no crescimento deste. Como contexto de desenvolvimento humano, Dessen e Polônia (2007, p. 22) afirma que, “a família presente em todas as sociedades, é um dos primeiros ambientes de socialização do indivíduo atuando como mediadora principal dos padrões, modelos e influências culturais”. Nessa linha de compreensão, Almeida (2003) incorpora também os processos tecnológicos no seio familiar, que possibilitadas pelo uso, ocorrem transformações inovadoras em sua estrutura, em sua organização e nos padrões, se estendendo aos membros de forma a facilitar a troca de conhecimentos e as formas de interação no cotidiano delas. Apesar de tantas mudanças a família resiste e continua no exercício de suas atribuições comportando os novos papéis de seus integrantes que tendo os hábitos modificados, continua a exercer essa afinidade construída no decorrer da história. Stratton (2003) apud Dessen e Polonia (2007), refere-se que a definição de família e essa nova configuração surgiu para reafirmar as relações que se organizam na sociedade contemporânea. Não é mais possível configurar uma família ideal, considerando as combinações e as múltiplas formas de interação que permeiam os indivíduos, o que é destacado por Setton (2002, p.111), 20 Como um fenômeno universal, é possível afirmar que a família é uma instituição que evolui conforme as conjunturas socioculturais. Não é um agente social passivo. Sua história recente revela um poder de adaptação e uma constante resistência em face das mudanças em cada período Também percebido como um sistema social, a família tem a grande incumbência de transmitir os valores, crenças, e os significados presentes na sociedade, tendo ainda grande contribuição no comportamento dos indivíduos, especificamente na vida das crianças, que por intermédio dessa influência, passa a compreender o mundo e construir suas relações sociais. Dentro desse contexto, Dessen e Polonia (2007), definem a família como a base de aquisição do conhecimento humano, com definições culturais peculiares que originam modelos de semelhança interpessoal e de constituição particular e coletiva. Os acontecimentos experienciado dentro da família possibilitam a construção de repertórios “Essas vivências integram a experiência coletiva e individual que organiza, interfere e a torna uma unidade dinâmica, estruturando as formas de subjetivação e interação social” (DESSEN; POLONIA, 2007, p.22). Por ser concebida como a primeira instituição dentro da sociedade responsável pela formação de cidadãos conscientes e capazes para a convivência social, tanto no aspecto educacional, interpessoal e profissional, a família tem essa função a partir da concepção, em virtude da proteção e educação que será transmitida através dela. Durante o período de desenvolvimento é essencial estabelecer vínculos para a preparação dessa convivência social e profissional. Podemos assim definir que a principal função da família é acolher o indivíduo preparando-o como cidadão capaz de atuar na sociedade e interagir dentro dela compreendendo seus muitos papéis, é o que afirmam Girão, Nogueira e Targino (2012, p. 43). A família é um agente transmissor de valores que são produto de relações sociais desenvolvidos no seu cotidiano, nesse sentido, ela possui um papel importante ao desempenhar suas funções sociais. Assim, é dever da família inserir seus filhos no convívio social, para que estes se reconhecem como cidadãos dotados de deveres e direitos. Corroborando com esse pensamento Lobo (2004) analisa que sempre se atribuiu à família, no decorrer da história, funções diversificadas podendo destacar dentro dessa constante evolução a vida religiosa, política, econômica e procracional. É importante definir a família como a base da sociedade atual, atuando como unidade em que todo indivíduo esteja inserido para formação do caráter e construção do seu eu social. 21 Almeida (2007) traduz a ideia de função social como um instrumento originado da própria origem do termo, função que deriva do latim, cujo significado remete a cumprir algo, preencher uma tarefa, ou seja, exercer uma finalidade, fazer funcionar. Seguindo esse raciocínio, destacamos a posição de Smith e Strick (2001) que afirmam ser a confiança social responsável pelo êxito escolar e que uma grande parte das crianças tem suas habilidades sociais formadas a partir dos comportamentos que são copiados à sua volta, portanto, é dentro da família que esse comportamento vai sendo ajustado, de forma a moldar a noção do que é certo e do que é errado, reforçando esse entendimento as autoras afirmam que: Não existe dúvida, porém, de que o desenvolvimento social e emocional é igualmente importante para o sucesso e o bem estar de um indivíduo. Também, não restam dúvidas de que a influência mais poderosa sobre o crescimento social e emocional de uma pessoa jovem é a família (SMITH; STRICK, 2001, p. 191). Pratta e Santos (2007), ressaltam que as normas e os valores que interiorizamos dentro da família se conservam em toda nossa trajetória se estendendo durante a fase adulta servindo de base nas tomadas de decisões e na adoção de comportamento durante todo percurso. Sendo assim a família tem como finalidade estabelecer os elos entre as gerações mais jovens e as futuras, promovendo a adequação dos indivíduos às exigências estabelecidas pela sociedade que fixa padrões e normas. Durante todo percurso histórico mesmo sofrendo influências do meio, a família deve preservar a sua função como educadora, papel que não deve em hipótese alguma ser negligenciado. Nesse exercício constante de perpassar os valores, costumes e conhecimentos a família deve se equipar para dá continuidade nesse processo, de forma a contribuir na produção de indivíduos que se adequem dentro de uma sociedade, ainda que mutável, mas que continua ao longo dos tempos padronizando normas que precisam ser respeitadas conscientemente ou obrigatoriamente, ressaltando que o indivíduo que é preparado para interagir com seu meio social, desenvolve sua autonomia e consegue facilmente conviver com as constantes transformações. Não é possível pensar no bem estar da criança, sem pensar em família. Pensar em família é refletir sobre a complexidade de fatores que envolvem o mundo familiar observando sua realidade, buscando compreender seu modo de viver no mundo. “A família é o espaço de inclusão e acolhimento da criança, no qual ela deve receber amor, afeto, proteção e segurança, cabendo à família a função socializadora da criança” (MEIRA; CENTA, 2008, p.161). 22 Conceituando a família dentro de uma perspectiva social podemos defini-la como um conjunto de pessoas em permanente interação, destacando seu importante papel na vida do individuo desde a infância até a fase adulta, mesmo que ao longo da história tenha sofrido modificações e continue recebendo novas influências, mas,permanece sendo uma instituição organizada e compreendida como o cenário de segurança e acolhimento o que serve de eixo para sua valorização como a base de todo desenvolvimento humano. Não se concebe perceber o bem estar da criança dissociada da família, discorrer a família é analisar uma gama de variáveis que a compreendem. Com base no que já foi explorado sobre a temática da família pode-se compreendê-la como um instrumento de norte para a adequação do indivíduo na sociedade, pois nela centraliza as possibilidades de socializá-lo gerando as identificações futuras uma vez que ela é promotora de referenciais e paradigmas na formação de cada cidadão. É importante que a família não perca de vista o papel essencial que desempenha na vida das crianças e o quanto essa influência é responsável pelo desenvolvimento de aptidões ao longo de seu crescimento social e emocional. 3 MODELOS DE PAIS E A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA Shaffer (2005/2008) refere-se ao desenvolvimento como “continuidades sistemáticas e mudanças no indivíduo que ocorrem desde a concepção [...] até a morte” (p. 2). Ainda segundo ele, o desenvolvimento compreende dois processos: maturação e a aprendizagem, o primeiro corresponde ao desenvolvimento biológico do indivíduo através do código genético cujo material hereditário é repassado dos pais aos filhos na concepção e através desse processo o ser humano tem a capacidade de andar, de pronunciar as primeiras palavras, atingir a maturidade sexual e chegar ao envelhecimento seguido da morte. No que tange a aprendizagem como o segundo processo do desenvolvimento, o autor citado acima, descreve como “um processo pelo qual nossas experiências produzem mudanças relativamente permanentes em nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos” (p. 2). Ele exemplifica que muito embora certo grau de maturação física seja essencial para que a criança tenha a capacidade de exercer algumas atividades, existe a necessidade de uma cuidadosa instrução para que elas adquiram as habilidades necessárias, e muitas dessas habilidades não são meramente decorrentes de um grande plano da natureza e que o sentir, o 23 pensar, a forma de se comportar e novos repertórios, são agregados a partir da observação e interação com os pais, professores, e outros personagens respeitáveis em nossas vidas somados a experimentação de eventos, o que se traduz em “resposta às ações e reações das pessoas que nos cercam” (p. 3). A aprendizagem por ser um processo multifatorial, é imprescindível considerar alguns aspectos que corroboram para que a criança evolua nesse campo, diante dessa diversidade destaca-se a atuação da família que é o primeiro grupo de interação do ser humano. De acordo com Sousa (2012, p.5), A primeira vivência do ser humano acontece em família, independentemente de sua vontade ou da constituição desta. É a família que lhe dá nome e sobrenome, que determina sua estratificação social, que lhe concede o biótipo específico de sua raça, e que o faz sentir, ou não, membro aceito pela mesma. Portanto, a família é o primeiro espaço para a formação psíquica, moral, social e espiritual da criança. Tendo por base a família como agente social onde a criança inicia sua primeira interação, pode se destacar que é nos cuidadores que elas se refletem no decorrer dos anos, e dentro desse sistema familiar advém às condições necessárias ao desenvolvimento da aprendizagem da criança que será facilitado pelos pais ou cuidadores. Conforme Belsky (2010, p. 234) “Já sabemos o que os pais de modo geral precisam fazer: é imprescindível promover um apego seguro e ser sensível às necessidades especiais de tratamento de cada criança”. Volling e Elins, (1998) apud Dessen e Polonia, (2007) citam as figuras parentais como grandes influenciadores dos filhos na construção dos vínculos afetivos, da autoestima e do autoconceito e, ainda, estabelecem modelos de semelhanças que são transmitidos para outras interações sociais, por exemplo, “pais punitivos e coercitivos podem provocar em seus filhos comportamentos de insegurança, dificuldades de estabelecer e manter vínculos com outras crianças, além de problemas de risco social na escola e na vida adulta” (p. 4). Smith e Strick (2001) reforça a necessidade do afeto e da aceitação, e assegura que as crianças desprovidas de um teto, de uma segurança ou de um lar estabilizado tem mais dificuldade em conquistar essa aceitação, em detrimento das crianças que estão usufruindo desses componentes. Com base no que já foi explorado, Belsky, (2010) lança uma discussão oportuna onde se pressupõe que o ambiente familiar é o fator crucial na determinação do destino das crianças e traça um questionamento ilustrando a figura de alguns pais surpreendentes, e que, no 24 entanto têm crianças com problemas assombrosos, bem como crianças bem sucedidas na fase adulta advindos de situações de iminente perigo, e remete a discussão para crianças resilientes que são crianças com capacidade de recuperação frente a sérios traumas vivenciados na infância e afirma: “O fato de que os vínculos afetivos são importantes demonstra que o triunfo sobre as probabilidades requer uma criação adequada”. “As crianças não podem ser bem sucedidas se não tiverem ao menos um adulto amoroso em suas vidas” (p. 238). É importante o reconhecimento pelos pais do papel decisivo que exercem nas crianças para que seja possibilitado o desenvolvimento de sua competência para a vida e aprendizagem. É primordial que a família acredite na capacidade dos filhos, essa postura reflete na forma como eles se percebem. 3.1 ESTILOS PARENTAIS A função da família como mediadora primeira encarregada pelo acolhimento da criança desde o nascimento cujos cuidados são essenciais no que se refere à alimentação, higienização, a transmissão de afeto entre outros, é por intermédio dela “que se concentram as possibilidades de constituição de pessoas enquanto sujeitos e cidadãos [...] principal doadora de identidade e responsável pela produção de comportamentos” (AMAZONAS, et al 2003, p. 11). Segundo Smith e Strick, (2001), alguns atributos pessoais caracterizados em indivíduos excepcionalmente flexíveis, fazem a diferença entre pessoas medianas e notáveis. Essa competência social segundo as autoras, também tem um impacto sobre o nível de conforto com o qual o indivíduo funciona no mundo real. A habilidade para começar e sustentar relacionamentos é imprescindível para uma boa qualidade de vida, e é um suporte essencial na construção da autoestima. Não existe dúvida, porém, de que o desenvolvimento social e emocional é igualmente importante para o sucesso e o bem estar de um indivíduo. Também não restam dúvidas de que a influência mais poderosa sobre o crescimento social e emocional de uma pessoa jovem é a família (SMITH ; STRICK, 2001, p. 191). A família também tem a responsabilidade de transmitir as regras e os limites para que haja a adequação das crianças dentro de um sistema de normas, mas é necessário habilidade na forma de repassar essas regras ponderando os impactos que elas podem causar na criança, de acordo com Smith e Strick (2001), a capacidade em discernir entre o que é certo ou errado 25 ocorre por intermédio de estágios e a interpretação incorreta de algumas situações envolvendo a criança, pode equivocar os pais na leitura que fazem dela convencendo-se de que ela pode ser má, quando, na realidade está externalizando um comportamento inocente. Conforme as autoras, de acordo com os especialistas, crianças com menos de dois anos não tem um senso real de certo ouerrado, o que parece ser inofensivo aos olhos delas são praticados pela incapacidade de entender o que são regras, exemplificando que uma punição pelo toque na genitália, ou a quebra de um objeto, se torna um ato de crueldade, o que nesse caso poderia ser corrigido distraindo a criança de um determinado comportamento que não seja apreciado pelos pais. Belsky (2010) nos apresenta quatro estilos parentais (pais democráticos e competentes, pais autoritários, pais permissivos, e pais rejeitadores) estabelecidos por Diana Baumrind na década de 1970, que faz um enquadramento de estilos parentais se baseando na forma de como os pais se alinham dentro dessas dimensões. Os pais democráticos e competentes tendem a se destacar na atenção e na fixação de regras. Muito embora transmitam uma relação de liberdade e muito amor, apresentam padrões de condutas consistentes para os filhos estabelecendo horários para dormir, estudar, executar tarefas em casa, no entanto, são abertos ao diálogo quando é preciso uma negociação com os filhos. Esse modelo se sobressai porque acreditam em uma educação com base no diálogo, compreendendo que as regras não tem precedência sobre as necessidades humanas. Os pais autoritários também considerados inflexíveis cujo lema é “obedecer às regras acima de tudo” não negociam horários estabelecidos. Eles geralmente amam os filhos com intensidade, mas seus estilos se apresentam com muita rigidez. Pais permissivos amam incondicionalmente, porém negligenciam o cumprimento de horários partindo do entendimento que as necessidades das crianças têm predominância. Pais rejeitadores/negligentes se destacam por ser um modelo negativo, não oferecem estrutura nem sentimentos afetivos de amor. Essa educação não cria vínculos emocionais com os filhos que são literalmente entregues ao descaso para tomarem conta de si mesmo. Smith e Strick (2001), também designam três modelos de pais adotados de práticas de criação, o primeiro é denominado de pais rígidos, cujas regras são fixadas no autoritarismo onde são exigidos padrões extremos e pouca tolerância ao descumprimento. Esses padrões são reforçados através de ameaças ou punição, sem oportunizar escolhas às crianças. Os pais rígidos tendem a inspirar medo e ressentimento nos filhos o que podem convergir em retraimento, desconfiança e descontentamento. 26 O segundo modelo está inserido os pais permissivos que apesar de carinhosos e ternos, não põe limites. Esses pais aceitam a impulsividade dos filhos e as regras raramente são obedecidas dando liberdade às crianças, mas negligenciando-as em outras áreas. As crianças educadas por pais permissivos gera falta de estrutura e referenciais de modelos efetivos, o que gera comportamentos irresponsáveis, desorganizados e instáveis. Mannarino, (2008, p. 32) reforça esse entendimento afirmando que “se os pais não derem limites desde cedo aos filhos, logo eles encontram um espaço e exercitam este comportamento”. O terceiro modelo abrange pais esclarecidos, esse padrão apresenta firmeza para obediência, porém, existe uma disposição em esclarecer as razões das regras e há uma voluntariedade na escuta à criança. Esse modelo fixam regras e não eliminam a punição, mas também na medida com que punem os erros, reconhecem e recompensam o bom comportamento o que contribui para a valorização e independência das crianças. Esse modelo é o mais aceitável, pesquisas indicam que pais esclarecidos, inspiram nos filhos confiança e respeito tornando-os mais responsáveis, autoconfiantes, cooperativos e criativos. A comunicação entre pais e filhos com base no diálogo e na relação de reciprocidade é essencial para agregar os valores e as regras sociais, o que corrobora na formação do caráter tanto quanto no processo de aprendizagem, condição que não pode ser perdido de vista em virtude de favorecer o crescimento pessoal bem como, o crescimento profissional. É o que afirma Melo (2000, p. 6): Independente da evolução social e das modificações no modelo de família, esta ainda é e sempre será o ente responsável pela formação da personalidade e do caráter da criança. Por isso, é a família que deverá fornecer as bases educacionais e todo o apoio necessário à escola para que a criança tenha um pleno desenvolvimento escolar, social e de caráter. Schultz e Schultz (2011) relatam em um livro publicado no ano de 1928 pelo Psicólogo behaviorista John B. Watson, intitulado Psychological care of the infant and child, cujo conteúdo apresenta uma crítica severa na forma de se educar as crianças naquele contexto, acusando os pais de incompetentes e que muitos deles deveriam ser processados por assassinato psicológico, o livro continha conselhos rígidos, abalizados na forma behaviorista de educar crianças. O sistema de educação infantil proposto por Watson era um sistema regulador e não permissivo inserido numa visão estritamente ambientalista onde segundo ele, na forma behaviorista de educar os filhos, os pais nunca devem: 27 Abraçar e beijar, jamais as deixem sentar no colo. Quando estritamente necessário, beijem, mas apenas uma vez na testa ao lhes dar boa noite. Pela manhã, cumprimentem-nas com um aperto de mão. Afaguem lhes a cabeça, caso realizem muito bem uma tarefa extremamente difícil [...] vocês perceberão como é fácil serem perfeitamente objetivos com os filhos e ao mesmo tempo gentis. Vocês se sentirão totalmente envergonhados da forma sentimental e insípida de como os estavam tratando. (WATSON, 1928, p. 81-82, apud SCHULTZ; SCHULTZ, 2011, p. 262). Os autores relatam que o livro se popularizou influenciando as práticas americanas no que tange a educação infantil incluindo a educação de seus filhos, norteada por essas orientações. Seu filho James, relembra o pai como um homem impossibilitado de evidenciar afeto com ele e seu irmão e descreve Watson como um homem “insensível, emocionalmente reservado, incapaz de expressar e lidar com qualquer sentimento ou emoção própria [...] nunca fomos beijados ou carregados no colo quando crianças; [...] era totalmente proibido na família” (p. 262). É ainda trazido pelos autores que Rosalie, a esposa de Watson, ao escrever um artigo para uma revista cujo título trazia “I am the mother of a behaviorist’s sons” (“Sou mãe dos filhos de um behaviorista”), afirmava reverenciar a proposta da ciência behaviorista, mas, discordava publicamente dos métodos de educação infantil proposto por ele, e desabafou: Desejo secretamente que em razões de afeto (das crianças) demonstrem certa fraqueza quando crescerem, que sejam capazes de ter lágrimas nos olhos diante de uma poesia ou de um drama da vida e sintam palpitações de paixão [...] Gosto de ser alegre e jovial e de rir bastante (SCHULTZ; SCHULTZ, 2011, p. 263). Garcia (2002) afirma que na Abordagem Centrada na Pessoa, envolvendo tanto o processo avaliativo quanto o psicoterápico, é imprescindível a participação dos pais, a criança não deve ser contemplada como única no mundo, mas deve ser visualizada como um ser de relações, ela exemplifica que a função de um terapeuta está fundamentalmente vinculada com a comunicação em parceria com os pais e cuidadores, essa comunicação estabelecida entre os pais e a criança em conjunto com o profissional torna-se primordial para o crescimento e desenvolvimento da criança. Refletindo na citação acima não se concebe a criança como um ser passivo, autômato, mas que tem necessidade de se relacionar, de criar vínculos e esse processo inclui a presença ativa dos pais mediante qualquer circunstância que a envolve, a autora exemplifica a pessoa do terapeuta, mas que pode ser representada pelade um professor bem como de outras figuras que fazem parte do contexto social da criança. 28 As autoras Smith e Strick (2001) e Belsky (2010) referem-se aos pais democráticos como o modelo que mais privilegia o diálogo e a negociação, esses pais respeitam a fala dos filhos e estão vigilantes as suas demandas respeitando as etapas de evolução da criança. O modelo democrático exerce uma autoridade fundamentada no diálogo, e através da negociação. Em atenção a isso Assis e Luca (2009, p. 6) alertam que: “Filhos de pais democráticos tendem a ter níveis altos de autocontrole e autoestima, melhor capacidade de enfrentar novas situações e persistência em suas tarefas. Geralmente são interativos, independentes e carinhosos”. Compreende-se então que os pais que possuem um estilo democrático são mais acessíveis a uma relação de estreitamento com os filhos, pois na medida em que os apoiam, também fixam regras, o que torna a relação respeitável e harmoniosa, esse ambiente propicia o surgimento de uma aprendizagem substancial e aprofundada. Ríos-González (1994) apud Wagner et. al (2005) elencam três diferentes formas de comunicação destacando a comunicação aberta, profunda e afetiva, Nas famílias onde os membros podem manifestar seus sentimentos e questionamentos sem sentirem-se ameaçados, provavelmente existe uma comunicação aberta, profunda, responsável e afetiva Nesse sentido, quanto menor for o nível de desacordo entre pais e adolescentes, melhor se dará o desenvolvimento das relações familiares (p. 277). Considerando as famílias cuja dinâmica são rígidas, a dificuldade na comunicação envolvendo pais e filhos tendem a ser maior, provocando a desconfiança dos filhos em relação aos pais devido à falta de habilidade para identificar as mudanças que ocorrem com eles. No que se refere à comunicação fechada, pode se identificar o excesso de autoridade dos pais dentro de uma relação à base de ordens e ameaças onde não há um espaço para manifestação dos sentimentos e dissipação de dúvidas pelos filhos. Os autores citados por Wagner et al (2005) conclui que as famílias que mantém uma comunicação superficial e fechada “os membros se relacionam superficialmente e conversam apenas sobre assuntos que fazem parte do cotidiano da família, num caráter convencional” (p. 277). Moreno (2004, p. 227), exemplificando o estilo parental democrático afirma que esse modelo “está associado com bons níveis de competência social [...] são essas crianças que mostram um desenvolvimento de conceitos morais mais avançados, que manifestam mais conduta pró-social [...] e que evidenciam autoestima mais positiva”. 29 A crítica a esse enquadramento de pais democráticos de Baumrind, apesar de oferecer um modo correto de educar os filhos dá lugar a um questionamento que impulsionou uma pesquisa dentro de famílias para classificarem seu estilo parental e dos respectivos cônjuges, considerando, que as crianças não são expostas a um único estilo parental, nesse caso, como as abordagens poderiam se contrabalancear caso um deles tivessem estilo diferente, o fato é que não se sabe, no entanto, o diferencial está na valorização do que a outra pessoa traz para a família, ou, no mínimo concordar em discordar, mas o que se pode afirmar é que as brigas no que tange as disciplinas envenenam a vida familiar (BESLKY, 2010). 3.2 INTERAÇÕES AFETIVAS. O afeto se configura como um elemento agregador inserido na família. Através dos vínculos afetivos presente nas relações, as capacidades humanas tendem a ter um melhor desenvolvimento. É salutar os pais educar e criar os filhos sem abster-se da atenção necessária para a formação da personalidade é o que afirma Chalita (2001). Biaggio (2011, p. 290) afirma ser, “a ligação afetiva responsável pela formação das primeiras relações entre mãe e o bebê, protótipos de todas as relações sociais futuras”. A afetividade estimula o desenvolvimento afetivo da criança tendo em vista o grau de satisfação gerado nela a partir dessa relação. A criança que tem essa ligação afetiva com os pais se apresenta com muita intensidade nas relações, ela é responsável nas tomadas de decisões quando surgem situações em que é necessário fazer uma escolha. Conforme Fabrino (2012), o afeto permeia a vivência do ser humano desde sua gênese e se estende até a sua vida adulta. A partir do afeto as relações são definidas no âmbito familiar, nas relações sociais de amizade, e influenciam na tomada de decisões. Na hora de optar entre o que é importante ou prioridade, a criança que convive em um lar afetivo livremente escolhe o que é prioridade, ela é precisa no desenvolvimento de estratégias quando se faz necessário escolher em situações de dúvidas, ao mesmo tempo em que também transfere essa relação de afeto tanto para as pessoas que a cercam, quanto para os animais, entre estes, até os que não tão domesticáveis. O lar familiar que está envolvido numa esfera de afetividade possibilita a autonomia da criança a lidar com algumas situações que requeira ação criativa por parte dela para a resolução do problema sem a perda do seu equilíbrio, o que é bem compreendido por Dessen e Polônia (2007, p. 24), 30 Os laços afetivos formados dentro da família, particularmente entre pais e filhos, podem ser aspectos desencadeadores de um desenvolvimento saudável e de padrões de interação positivos que possibilitam o ajustamento do indivíduo aos diferentes ambientes de que participa. Por exemplo, o apoio parental, em nível cognitivo, emocional e social, permite à criança desenvolver repertórios saudáveis para enfrentar as situações cotidianas. A afetividade assegura o desempenho da criança desde a execução dos trabalhos mais simples aos mais complexos, ela consegue vislumbrar as impossibilidades dentro de uma ótica possível, de forma que traduz as dificuldades em situações inovadoras e consegue soluções imediatas para o que almeja alcançar. Os laços afetivos garantem o reforço psicológico e social entre os membros familiares, possibilitando o enfrentamento do estresse gerado por situações do cotidiano (OLIVEIRA; BASTOS, 2000). Maslow postulava o amor como um dos pré-requisitos para a autorrealização na infância nos dois primeiros anos de vida. “Se a criança for segura e confiante nesse período, assim o será na vida adulta, sem o amor, a estabilidade e o respeito por parte dos pais será difícil o indivíduo na vida adulta atingir a autorrealização” (MASLOW, 1970, apud, SCHULTZ; SCHULTZ, 2011, p. 415). Krueger (2011) cita a afetividade dentro da perspectiva Piagetiana como um dos elementos básicos do desenvolvimento, e que esta abarca sentimentos, valores, emoções entre outros. Com base nesse apanhando identificamos que a família exerce um impacto significativo e tem grande influência no comportamento dos indivíduos, principalmente nas crianças, que assimilam as múltiplas formas de existir, de encarar o mundo e consequentemente, será responsável em estabelecer as relações com seus pares reproduzindo todo comportamento socialmente, construído dentro do espaço familiar, o que é bem traduzido por Dessen e Polonia (2007, p. 2), É por meio das interações familiares que se concretizam as transformações nas sociedades que, por sua vez, influenciarão as relações familiares futuras, caracterizando-se por um processo de influências bidirecionais, entre os membros familiares e os diferentes ambientes que compõem os sistemas sociais, dentre eles a escola, constituem fator preponderante para o desenvolvimento da pessoa. Moreno (2004) destaca um princípio chave da teoria do apego, ressaltando que a relaçãosegura da criança estabelecida com a mãe ou cuidador é transferida para a relação de outros apegos que a criança estabelece, considerando que o apego seguro facilita a exploração do ambiente, compreendendo o ambiente social, e posteriormente às interações com os pares, 31 salientando que as crianças transferem para essas relações o estilo de conduta desenvolvido com os responsáveis de apego iniciais. Considera ainda, que nessa relação de apego seguro, há uma transferência da reciprocidade, da compreensão e da empatia e através dessas relações, há uma internalização de ideia sobre si mesmo, uma autoestima, uma capacidade de iniciativa e de entusiasmo que depois são muito apreciadas pelos pares. 4 ABORDAGENS TEÓRICAS DA APRENDIZAGEM, CONSIDERANDO A PERSPECTIVA COMPORTAMENTAL E HUMANISTA A aprendizagem dentro do contexto da Psicologia tem como objetivo investigar as mudanças que incidem no indivíduo por meio da interação deste com o mundo, objetiva-se nesse capítulo, compreender esse processo a partir da apropriação de conhecimentos adquiridos pela criança que são transmitidos socialmente através da experiência humana inserido em seu contexto social, essas incontáveis interações se iniciam a partir do nascimento e vai se estendendo durante todo percurso de forma a habilitá-la para conviver em sociedade. Compreendendo que a aprendizagem é construída a partir das relações com o ambiente, tendo como referencial a família cuja responsabilidade começa na fase inicial da vida da criança, pretende-se então conceituar aprendizagem para obter uma melhor compreensão de como ela se processa no indivíduo, e como a família em parceria com a criança pode contribuir para que ela ocorra de forma responsável, dinâmica e eficiente através de um ambiente de cuidados que proporcione condições necessárias para que seja uma aprendizagem com excelência de forma a estimular a criança, e assim favorecer essa construção de conhecimentos. Os suportes teóricos utilizados foram extraídos da teoria de alguns pesquisadores que se posicionaram acerca desse complexo processo de aprendizagem envolvendo a criança, entre eles destaca-se a contribuição de Watson, Skinner, Bandura e Rogers que deram grande contribuição para os processos de desenvolvimento e aprendizagem humanos, abrangendo mecanismos indispensáveis para que a criança tenha uma aprendizagem satisfatória durante seu desenvolvimento. Para abordar a temática aprendizagem, é necessário recorrer às diversas linhas de pensamento que explicam de maneira peculiar esse fenômeno, antes, porém, vamos recorrer à definição de Davis e Oliveira (1994, p. 20) que compreendem a aprendizagem como: 32 O processo através do qual a criança se apropria ativamente do conteúdo da experiência humana, daquilo que o seu grupo social conhece. Para que a criança aprenda, ela necessitará interagir com outros seres humanos, especialmente com os adultos e com outras crianças mais experientes. Para Mehlecke (2000) a aprendizagem que é um processo pelo qual se adquire conhecimentos por meio do estudo, da vivência, da instrução, da experiência entre outros, ela pode ser considerada como um método em que o homem se apropria do conhecimento produzido pela sociedade de modo que, em qualquer lugar em que ele esteja inserido, pode se dar um processo ativo de modo a produzir transformações no indivíduo, essa confiança social confirma o êxito escolar, pois as crianças com boas desenvolturas interpessoais interagem positivamente com os professores e com seus colegas de sala. Esses alunos estão mais predispostos a apresentar suas conquistas, e, quando enfrentam problemas, tendem a pedir ajuda (SMITH ; STRICK, 2001). De acordo com Bock (2006) para a Psicologia não é simples conceituar aprendizagem considerando as diversas possibilidades que ela apresenta. Dando continuidade, a autora citada afirma que: [...] “a Psicologia transforma a aprendizagem em um processo a ser investigado” (p. 114). Em nosso dia a dia somos influenciados por duas vertentes de pensamentos, uma delas consiste em “destino traçado” de forma a não exercer tanta influência sobre nosso desenvolvimento ou nascemos como uma “folha em branco” onde toda aprendizagem seria algo adquirido ao longo da vida. Davis e Oliveira (1994) alertam para a necessidade de se entender esse complexo processo no sentido de reconhecer a natureza social da aprendizagem, visto que as formas de refletir e as informações viventes numa sociedade são apropriados pela criança. As autoras reforçam que a criança recebe ajuda direta do adulto bem como de outra criança mais experiente, no sentido de ser orientada e de como proceder através de gestos e instruções verbais em situações interativas, segundo as autoras, essa “interação entre adultos e crianças, e entre crianças, portanto, é fundamental na aprendizagem” (p. 22). Para Vigotsky (1991) a aprendizagem sempre compreende relações entre os indivíduos, e a relação que o indivíduo tem com o mundo está sempre mediada pelo outro. Na opinião de Bandura, descrita por Schultz e Schultz (2011), a aprendizagem ocorre através da observação do comportamento, ou seja, por meio de modelos, a partir da observação se fundamenta os próprios padrões. Igna (2011) aborda relatos de professoras se referindo a família como responsável pelo desenvolvimento integral (e normal) das crianças, compreendendo a noção de que elas 33 carecem e devem ser compreendidas em sua totalidade, uma vez que era atribuída à família, à função de estimular e promover o desenvolvimento físico, e emocional, de seus filhos. Ela relata que, “ao associar família com desenvolvimento infantil, e este último com aprendizagem, às professoras posicionavam a família como sendo responsável pelo fracasso escolar dos filhos” (IGNA, 2011 p. 25). Diante dessa explanação, buscamos a luz das teorias comportamental e humanista, as explicações sobre a aprendizagem e a influência da família durante esse processo que se inicia na infância. Objetiva-se tratar dessa relação, aprendizagem da criança em conjunto com a família, buscando através da Teoria Humanista de Carl Rogers o referencial teórico para subsidiar a monografia no decorrer de sua construção, sem perder de vista as contribuições que as demais teorias deram durante toda história da Psicologia, salientado que em todas as teorias se faz necessário à figura de um adulto para que esse processo ocorra, sem os quais, seria impossível que a criança tivesse condições de fazer esse percurso sozinha. É necessário que a família disponibilize os recursos essenciais para que a criança possa absorver o conhecimento e tenha autonomia para crescer e apreender novos conhecimentos, e nessa trajetória a criança seja possibilitada externalizar todo seu potencial sem impedimentos, de uma forma livre e responsável, acolhida por um ambiente favorável, estimulante, e afetivo. 4.1 PERSPECTIVA COMPORTAMENTAL De conformidade com Goulart (2010, p. 26), “essa perspectiva parte do princípio de que o ambiente e as experiências são fatores determinantes do comportamento humano”. Bock (2002) fazendo alusão as Teorias da Aprendizagem onde se encontra um número significativo de teorias, reúne-as em duas categorias denominadas teoria do condicionamento e as teorias cognitivistas. Correspondendo ao primeiro grupo, estão inseridas as teorias que compreendem a aprendizagem através das consequências comportamentais cujas condições ambientais são forças propulsoras da aprendizagem podendo ser definida como “a conexão entre o estímulo e a resposta. Completada a aprendizagem, estímulo e resposta estão de tal modo unidos,
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