Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

As emoções e os processos de
sociabilização
A relação das emoções com os processos de sociabilização, as principais estratégias de socialização das
emoções no ambiente familiar e escolar, o relacionamento entre a linguagem, as emoções e os processos
de aprendizagem.
Prof.ª Ana Beatriz de Mota e Souza
1. Itens iniciais
Propósito
A compreensão da importância das emoções nos processos de sociabilização/socialização é essencial para
todos os profissionais que vão lidar com o fenômeno das emoções dentro dos contextos sociais. Nessa
perspectiva, é fundamental o conhecimento dos processos de socialização emocional, bem como da relação
entre as emoções e os processos de aprendizagem.
Objetivos
Reconhecer a importância das emoções nos contextos sociais.
Descrever os processos de socialização das emoções, com foco nas interações sociais ocorridas na 
escola.
Identificar a relevância das emoções para a linguagem e os processos de aprendizagem.
Introdução
As emoções são essenciais para a sobrevivência de nossa espécie, destacando-se as funções
preponderantes que desempenham em nossas interações sociais. Sobre esse aspecto, a emoção não é um
fenômeno que possa ser analisado apenas do ponto de vista individual, pois ela se origina e se desenvolve
nos contextos sociais e culturais (REEVE, 2006).
Você já se deu conta de como a maneira com que nos relacionamos com as outras pessoas e nos
expressamos para elas em nosso cotidiano está repleta de conteúdos emocionais? Isso é uma das evidências
que apontam para nós o quanto a experiência emocional está presente, não apenas em nosso mundo interior,
mas de um modo muito especial em todas as nossas interações sociais.
Por meio dos processos de socialização das emoções, desde muito cedo aprendemos como compreender,
expressar e lidar melhor com as nossas emoções, ou seja, como nos tornamos emocionalmente competentes.
No processo de desenvolvimento humano, a competência emocional está intimamente relacionada a outros
domínios, como a linguagem e os processos de aprendizagem.
Uma das características que nos distingue de outras espécies é a capacidade de verbalizar as nossas
emoções, o que faz com que na história da espécie humana, os nossos relacionamentos sociais, a linguagem e
as emoções estejam intimamente conectados.
Seja qual for o seu campo de estudo, esses são aspectos que devem ser considerados, na medida em que as
nossas emoções estarão presentes em todas as relações interpessoais. 
• 
• 
• 
1. As emoções no contexto social
Funções sociais das emoções
A ideia de que as emoções têm funções sociais
se baseia no fato de que elas evoluíram dentro
de ambientes sociais na história de nossa
espécie e, por isso, eram benéficas para a
sobrevivência de nossos ancestrais nos grupos
sociais em que viviam. Nós, humanos, somos
criaturas sociais e necessitamos de laços
sociais para sermos bem-sucedidos. Nós nos
relacionamos com os outros no meio familiar, no
trabalho e em inúmeros outros ambientes,
buscando harmonia e proximidade.
A importância desses laços sociais é
evidenciada nos estudos com pessoas que
sofreram privação de contato social,
demonstrando que esses indivíduos não apresentavam um desenvolvimento adequado, particularmente no
que se referia às experiências emocionais (FISCHER; MANSTEAD, 2010).
Nessa perspectiva, podemos dizer que as emoções desempenham um importante papel no contexto social,
pois auxiliam o indivíduo ou o grupo a estabelecer e manter relações sociais cooperativas e harmoniosas com
outros indivíduos e também com outros grupos. Fischer e Manstead (2010) denominam essa característica
como função de afiliação das emoções.
Função de afiliação das emoções
Várias evidências demonstram que quanto mais próximos são os relacionamentos, mais os parceiros sentem,
expressam e compartilham uma variedade de emoções. Trata esse aspecto sobre as funções de afiliação das
emoções, pois elas aprimoram as interações sociais positivas, a confiança e a cooperação.
As nossas relações sociais variam desde aquelas que
estabelecemos com as pessoas mais próximas, como nos
nossos relacionamentos amorosos e familiares, até aquelas
que estabelecemos com pessoas com as quais não temos
um convívio mais intenso, como em nossos relacionamentos
de trabalho. Porém, todos os nossos relacionamentos
interpessoais envolvem algum grau de emoção.
A intensidade da emoção experienciada e expressa varia de
acordo com a natureza da relação social, refletindo uma
importante função das emoções no nível interpessoal: as
emoções nos capacitam a formar e a manter
relacionamentos de longo prazo, promovendo harmonia e
proximidade, evitando, assim, o isolamento social (FISCHER;
MANSTEAD, 2010).
A experiência, a expressão e o compartilhamento de emoções são ingredientes importantes no
desenvolvimento de relações sociais mais próximas. 
Função de contágio emocional
Essa função não se refere somente ao contexto das relações mais próximas do indivíduo, mas também às
interações ocorridas com pessoas com as quais temos pouca proximidade. Por exemplo, pessoas sorridentes
em geral são descritas com traços positivos, como pessoas honestas, generosas, entre outras características.
É um fenômeno psíquico que ocorre quando as emoções e o comportamento de uma pessoa afetam as
emoções e o comportamento de outra pessoa (FISCHER; MANSTEAD, 2010). 
Exemplo:
Você já percebeu que estar perto de uma pessoa angustiada ou estressada acaba por fazer você
também se sentir assim?
Procure perceber como as emoções das outras pessoas, especialmente aquelas com as quais você tem uma
maior convivência, “contagiam” você. 
Função de distanciamento social
Fischer e Manstead (2010) destacam o fato de que as emoções têm também uma função de distanciamento
social, pois em algumas situações será necessário mantermos o afastamento do outro.
Exemplo
Imagine que você esteja com medo de alguma pessoa ou de algum grupo de pessoas; a sua reação
muito provavelmente será a de se afastar desse contexto. 
Outra emoção que caracteriza bem essa função é o desprezo, na medida em que a expressão dessa emoção
resulta, em geral, no isolamento ou na exclusão social da pessoa alvo desta emoção. 
Função de comunicação
As emoções têm também funções de comunicação para os outros, na medida em que comunicam às pessoas
com as quais convivemos nossas preocupações e as nossas avaliações sobre determinadas situações.
As mesmas funções sociais que as emoções
têm nos relacionamentos interpessoais
aplicam-se, de igual forma, às relações entre os
membros de determinado grupo social. As
emoções compartilhadas no grupo podem
servir como fator de coesão grupal e de
cooperação entre os membros.
Entre grupos sociais diversos, como, por
exemplo, entre membros de uma cultura para
outra, as emoções também têm funções
sociais, podendo melhorar ou piorar as relações
entre grupos diversos.
As funções sociais das emoções têm grande influência na qualidade dos relacionamentos sociais que
estabelecemos ao longo de nossas vidas, desde os mais próximos até os mais distantes.
Competência emocional e competência social
Muito provavelmente, você já ouviu falar sobre o termo inteligência emocional ou competência emocional, mas
sabe o que significa?
Então, vejamos as características de competência emocional e competência social:
Competência emocional
A competência emocional é revelada em
diversas situações cotidianas vivenciadas por
nós e em todas as etapas do nosso ciclo vital.
No entanto, é na infância que o
desenvolvimento dessa habilidade ganha
destaque e exige bastante atenção, pois nessa
fase estão sendo adquiridas e/ou aprimoradas
capacidades diversas em diferentes domínios.
Além disso, o cérebro, em rápido
desenvolvimento, provê o suporte biológico
indispensável para a interação da criança com o
contexto social no qual está inserida.
Saarni (2011) define a competência emocional
como a habilidade que permite ao indivíduo
responder às demandas emocionais de seu ambiente e, simultaneamente, aplicar o conhecimento acerca das
emoçõese de sua expressão nos relacionamentos que estabelece com as outras pessoas. Por meio dessa
definição, podemos perceber o quanto essas habilidades estão intimamente conectadas às relações sociais
que estabelecemos. 
Essa autora destaca oito habilidades que compõem o seu constructo teórico acerca da competência
emocional:
Consciência de seu próprio estado emocional;
Reconhecimento das emoções de outros;
Uso do vocabulário emocional, comumente utilizado na cultura em que o indivíduo está imerso;
Capacidade de ser empático e de se envolver na experiência emocional de outros;
Percepção de que estados emocionais internos podem não corresponder às emoções expressas, isso
tanto no que diz respeito às próprias emoções quanto às dos outros;
Capacidade de lidar, de maneira adaptativa, com emoções aversivas ou angustiantes, utilizando
estratégias de autorregulação;
Consciência de que os relacionamentos interpessoais são amplamente definidos pela forma como as
emoções são comunicadas e pelo grau de reciprocidade emocional com o outro;
Capacidade de ser emocionalmente autoeficaz, ou seja, sentir-se da maneira como se deseja sentir,
aceitando as suas experiências emocionais.
Consciência de seu próprio estado emocional;
Reconhecimento das emoções de outros;
Uso do vocabulário emocional, comumente utilizado na cultura em que o indivíduo está imerso;
Capacidade de ser empático e de se envolver na experiência emocional de outros;
Inteligência emocional 
Goleman (1997), um nome de destaque na
área das emoções, define a inteligência
emocional como a capacidade de reconhecer
os próprios sentimentos e os dos outros, de
modo a motivar-se e a regular as suas
emoções, particularmente nos
relacionamentos interpessoais.
Competência emocional 
O conceito de competência emocional
(DENHAM, 2019; SAARNI, 2011) apresenta
características bem próximas do
conceito de inteligência emocional
desenvolvido por Goleman (1997),
incluindo as habilidades que são
necessárias para o desenvolvimento da
inteligência emocional.
1. 
2. 
3. 
4. 
5. 
6. 
7. 
8. 
1. 
2. 
3. 
4. 
Percepção de que estados emocionais internos podem não corresponder às emoções expressas, isso
tanto no que diz respeito às próprias emoções quanto às dos outros;
Capacidade de lidar, de maneira adaptativa, com emoções aversivas ou angustiantes, utilizando
estratégias de autorregulação;
Consciência de que os relacionamentos interpessoais são amplamente definidos pela forma como as
emoções são comunicadas e pelo grau de reciprocidade emocional com o outro;
Capacidade de ser emocionalmente autoeficaz, ou seja, sentir-se da maneira como se deseja sentir,
aceitando as suas experiências emocionais.
Desse modo, o conceito de competência emocional inclui componentes relacionados à expressão, 
compreensão e regulação das emoções.
Competência social
Já a competência social é um constructo amplo, que engloba, entre outros aspectos, as habilidades sociais,
refletindo a capacidade do indivíduo de manter relacionamentos harmoniosos com outros indivíduos com os
quais interage, ao longo do tempo e em diferentes contextos sociais (BERKOVITS; BAKER, 2014).
Como destacam Zilda e Almir del Prette (2017, p. 14), a competência social refere-se à “efetividade do
desempenho do indivíduo em uma interação social, ou seja, os resultados da interação para o indivíduo e para
seu grupo social”.
Nesse conjunto de habilidades requeridas para
a competência social, destaca-se a emoção da 
empatia, pois por meio dela somos capazes de
nos colocar no lugar do outro, demonstrar
disposição para ajudar, compartilhar a alegria e
a realização do outro, entre outras
características. Um indivíduo socialmente
competente é capaz de ser empático com os
outros com os quais convive, engajando-se em
suas interações sociais, podendo, até mesmo,
reagir de forma mais adaptativa a situações de
estresse.
As experiências emocionais têm impacto na
maneira como respondemos às situações
sociais e em nossas relações interpessoais. Assim, a nossa competência emocional apoia a nossa
competência social e vice-versa, pois são funções interdependentes (DENHAM, 2019). 
Agora que você já conhece os conceitos de competência emocional e de competência social, vamos pensar
como essas duas habilidades tão relevantes para as nossas vidas estão relacionadas. 
Competência emocional: chave para o sucesso social
Como mencionamos, uma das características da nossa espécie e que a distingue das demais é a necessidade,
presente já no início da vida, de estabelecer laços sociais.
Tendo em vista a complexidade e a diversidade dos grupos sociais nos quais estamos imersos desde o
nascimento, possuímos um período de infância estendido, quando comparado a outras espécies animais.
5. 
6. 
7. 
8. 
Se você já viu um filhote de um animal de estimação deve
ter percebido que em poucos dias ou semanas, ele já estará
apto a buscar alimento, a correr e realizar todas as
atividades relacionadas à sua sobrevivência. Compare,
agora, com um bebê humano: durante muito tempo, ele
necessitará de seus cuidadores para sobreviver.
Uma das hipóteses para explicar essa peculiar
característica de nossa espécie é justamente as
necessidades de desenvolver inúmeras habilidades que nos
capacitem a enfrentar os nossos relacionamentos sociais,
na medida em que vivemos em contextos sociais
significativamente mais complexos do que os de outros animais (EKMAN, 2011). 
Entre essas habilidades, a competência emocional surge como uma capacidade fundamental que possibilita o
indivíduo a inserir-se adequadamente no ambiente social em que vive (DENHAM, 2019; SAARNI; 2011).
Saarni (2011) argumenta acerca da íntima
conexão entre o desenvolvimento emocional e
os relacionamentos sociais presentes na vida
do indivíduo. Para a autora, a experiência
emocional está incorporada à experiência
social, pois ela fornece ao indivíduo as
ferramentas que o capacitam a lidar de maneira
adequada com as demandas presentes nos
relacionamentos sociais.
Como falamos, o conceito de competência
emocional inclui componentes relacionados à
expressão, compreensão e regulação das
emoções, que se constituem e se apresentam
de acordo com a idade e de modo adequado à situação social envolvida, além do reconhecimento desses
processos em si e nos outros (DENHAM, 2019). 
Todos os componentes da competência emocional contribuem para a competência social, especialmente a
compreensão e a regulação emocional. A habilidade da criança em reconhecer e nomear emoções permite a
ela atender a diversos aspectos das experiências sociais (DENHAM, 2019).
Exemplo
Imagine uma criança que ficou com raiva do amigo da escola por ele ter pegado, sem permissão, o seu
brinquedo. Primeiro, é importante que ela seja capaz de identificar e nomear adequadamente essa
emoção, ou seja, saber dizer “o que estou sentindo é raiva”. Essa compreensão é o primeiro passo para
ser capaz de lidar com a sua raiva de uma maneira adaptativa ao seu ambiente social, solicitando, por
exemplo, ajuda à professora. 
Nesse exemplo, podemos ver claramente como a habilidade de compreender o seu próprio estado emocional
e de regulá-lo pode auxiliar essa criança a não responder de maneira agressiva à situação, o que será muito
importante para que ela mantenha relacionamentos positivos com os colegas e com os professores.
Ainda sobre os aspectos que discutimos acima, quando os
indivíduos conhecem melhor as suas emoções têm maior
probabilidade de responder de forma mais adaptativa às
demandas surgidas nos contextos sociais, estando mais
aptos a demonstrar empatia, o que sugere, segundo
Machado et al. (2008), que o conhecimento de nossas
emoções contribui e facilita a manutenção de interações
sociais positivas.
A emoção da empatia, como vimos, está positivamente
associada ao comportamento pró-social e negativamente à
agressividade e ao comportamento antissocial, ou seja,
quanto mais empático for o indivíduo, mais ele terá
relacionamentos sociais positivos e menor dificuldade em
se relacionar nos contextos sociais.Diversas teorias procuram explicar a estreita relação existente entre a competência emocional e o
desenvolvimento social. Ekman (2011) argumenta que as emoções preparam o indivíduo para responder às
demandas das relações interpessoais. 
Exemplo
Pense em uma situação na qual alguém tenha evocado em você a emoção da raiva. Ao se sentir tomado
por essa emoção, em vez de reagir de forma agressiva, você decidiu usar outra estratégia de
comportamento, como se afastar dessa pessoa e depois, mais calmo, conversar com ela sobre o que o
deixou com raiva. Esse exemplo evidencia o fato de que ao compreendermos e regularmos melhor as
nossas emoções, expressando-as de uma maneira mais adequada, seremos mais capazes de
mantermos relações interpessoais mais satisfatórias. 
Agora esclareceremos no vídeo a seguir mais detalhes sobre esssas competências:
A relação entre competência emocional e competência social
Neste vídeo, a especialista reflete sobre a relação entre competência emocional e competência social, com
exemplos da sua importância para a vida e o trabalho.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Vem que eu te explico!
Funções sociais das emoções
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Competência emocional e competência social
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Verificando o aprendizado
Questão 1
As emoções têm um importante papel nas relações sociais, na medida em auxiliam o indivíduo a estabelecer e
manter relacionamentos harmoniosos e satisfatórios com outros indivíduos e grupos. Essa função das
emoções é denominada
A
função de afiliação das emoções.
B
função cognitiva das emoções.
C
função de socialização das emoções.
D
função neuropsicológica das emoções.
E
função neurofisiológica das emoções.
A alternativa A está correta.
As emoções desempenham um papel relevante nos contextos sociais nos quais o indivíduo interage,
auxiliando esse a estabelecer relações sociais de cooperação. Essa característica é denominada de função
de afiliação das emoções.
Questão 2
A competência emocional refere-se à capacidade do indivíduo de compreender, expressar e regular as suas
emoções, particularmente nos relacionamentos interpessoais. Saarni (2011), uma importante pesquisadora na
área das emoções, destaca oito habilidades que compõem a habilidade de competência emocional. Uma delas
refere-se à
A
habilidade de manter relacionamentos harmoniosos com outros.
B
capacidade de compreender conceitos complexos.
C
consciência do seu próprio estado emocional.
D
habilidade de manter a atenção diante de tarefas complexas.
E
capacidade de aprender uma a entonação emocional de uma língua estrangeira.
A alternativa C está correta.
Em seu constructo acerca da competência emocional, Saarni (2010) define algumas habilidades e
capacidades que fazem parte desse conceito. Entre elas, destaca-se a necessidade de o indivíduo estar
consciente de seu próprio estado emocional, pois por meio dessa consciência, é possível para ele
identificar que tipo de emoção está experienciando, o que é essencial para que possa compreender
também as emoções expressas pelo outro com o qual está interagindo.
2. Os processos de comunicação e interação social na escola
Processos de comunicação e interação social
Os processos de comunicação e interação social são essenciais em qualquer contexto social no qual
estivermos inseridos. Como vimos, as emoções são fenômenos que necessariamente estarão presentes
nesses processos, influenciando, inclusive, ativamente o sucesso deles. Dessa forma, sabemos o quanto é
importante sermos emocionalmente competentes para podermos interagir e nos relacionar com as pessoas ao
nosso redor.
Você já deve ter percebido que a maior parte das emoções que experienciamos ocorrem nas nossas
interações com as outras pessoas. Como observa Reeve (2006), as emoções são intrínsecas às relações
interpessoais.
Durante as nossas relações e interações sociais estamos,
constantemente, expostos ao fenômeno do contágio
emocional, que já explicamos. Além disso, estamos
inseridos em contextos sociais nos quais, por meio dos
processos de comunicação, temos a oportunidade de
reviver experiências emocionais passadas, conversar sobre
o que estamos sentindo no momento, participando, dessa
maneira, de um processo de compartilhamento social da
emoção (REEVE, 2006).
Quando falamos de nossas experiências emocionais, tanto
as que foram agradáveis quanto as angustiantes ou difíceis,
temos a oportunidade de compartilhar as nossas emoções
com o outro com o qual estamos interagindo. Essas
interações possibilitam a ocorrência de momentos de empatia e apoio, que podem nos ajudar a compreender
melhor a experiência emocional que estamos comunicando e a nos capacitar para encontrar formas mais
adaptativas de enfrentarmos os desafios emocionais que temos que lidar no nosso cotidiano.
Procure se lembrar de uma situação na qual
você estava se sentindo angustiado ou com
medo. Provavelmente, você deve ter
compartilhado essa emoção com um amigo ou
com um familiar, e deve ter percebido como
isso auxiliou você a lidar melhor com essa
emoção.
Os momentos de compartilhamento social de
nossas emoções são relevantes, pois, entre
outros aspectos, é por meio deles que
estabelecemos e mantemos os
relacionamentos mais importantes de nossas
vidas, como, por exemplo, os nossos
relacionamentos amorosos (REEVE, 2006).
Antes de falarmos sobre o processo de socialização das emoções, é importante que você compreenda o que
significa o termo “socialização”. 
Conforme observa Mendes (2018), uma definição possível para esse termo é dada por uma autora
reconhecida por contribuições no campo da Psicologia do Desenvolvimento e da Sociologia, Eleanor Maccoby.
Processos através dos quais, a indivíduos inexperientes, são ensinadas capacidades, padrões de
comportamento, valores e motivações necessárias para um funcionamento competente na cultura em
que a criança está crescendo. Os mais importantes entre eles são as capacidades sociais, compreensão
social, e a maturidade emocional necessárias para a interação com outros indivíduos, se encaixando no
funcionamento de díades sociais e grandes grupos.
(MACCOBY, 2015, p. 3)
Maccoby (2015) ressalta ainda que a criança tem um papel ativo no processo de socialização. Esse aspecto é
bastante importante, pois, muitas vezes, no senso comum, e até mesmo no meio acadêmico, tem-se a ideia
de que a socialização é meramente a imposição de modelos adultos às crianças, e não um processo no qual a
criança influencia e é influenciada pelos seus agentes socializadores.
No tocante ao termo “socialização das emoções”, embora seja um termo usual na literatura internacional sobre
as emoções, na literatura nacional, mesmo dentro do campo de estudos da Psicologia, não é um termo muito
conhecido. No entanto, muitas pesquisas nacionais têm buscado conhecer melhor esse processo e as suas
implicações no desenvolvimento infantil (SOUZA; MENDES; KAPPLER, 2021).
Os relacionamentos sociais, especialmente com os seus
cuidadores primários, são elementos cruciais para a
socialização das emoções, que pode ser definida como o
processo no qual as crianças aprendem o significado da
emoção para elas mesmas, para os outros com os quais se
relaciona e para o meio cultural em que vivem, assim como
passam a entender os comportamentos apropriados para
expressar determinadas emoções (SAARNI, 2011).
Para exemplificar o que falamos acima, pense em uma
criança bem pequena que observa os seus pais reagindo de
maneira acolhedora às expressões de tristeza de seus
irmãos maiores ao perderem seu animalzinho de estimação.
Essa criança tenderá a compreender que a tristeza é uma
emoção que poderá ser expressa em situações de perda. Dentro dessa visão, o contexto social é uma
característica inerente do desenvolvimento emocional.
Estratégias de socialização das emoções
Há várias estratégias de socialização de emoções, ou seja, práticas ou comportamentos dos quaisos agentes
socializadores podem se utilizar para ensinar às crianças aspectos relacionados à compreensão, expressão e
regulação de suas emoções. Entre elas, Denham et al. (2015) destacam a(s):
Reações dos pais às emoções das
crianças
Conversas dos pais sobre as emoções
Expressão parental da emoção
É importante salientar que, embora estejamos nos referindo aos pais, essas estratégias podem ser estendidas
também a outros agentes socializadores, como os pares e professores. Vamos falar brevemente sobre cada
uma delas.
Reações dos pais às emoções das crianças
Referem-se ao modo como os pais reagem às emoções de seus filhos e essas reações podem encorajar
(reações apoiadoras) ou desencorajar (reações não apoiadoras) certos padrões de expressão emocional na
criança (DENHAM et al., 2015).
Reações apoiadoras
Para exemplificar, pense em uma situação na qual uma criança esteja se sentindo amedrontada ao ver
um filme, e, diante da sua expressão de medo, seus pais reajam acolhendo essa criança, colocando-a
no colo. Esse tipo de reação tende a encorajar essa criança a expressar as suas emoções em outros
momentos.
Denham et al. (2015) argumentam que as reações apoiadoras incluem as respostas focadas no
problema, respostas focadas na emoção e o encorajamento da expressão emocional.
As respostas focadas no problema traduzem-se no apoio dado à criança na resolução do
problema que a está afligindo.
As respostas focadas na emoção referem-se às reações dos pais, confortando a criança ou
procurando distraí-la do evento causador da angústia.
O encorajamento emocional relaciona-se às reações parentais que buscam validar as emoções
expressas pelas crianças, sem desqualificá-las, estimulando-as a encontrar maneiras
adaptativas de manejar as suas emoções, como no exemplo da criança que, ao sentir medo, foi
acolhida pelos pais.
As respostas focadas no problema traduzem-se no apoio dado à criança na resolução do
problema que a está afligindo.
As respostas focadas na emoção referem-se às reações dos pais, confortando a criança ou
procurando distraí-la do evento causador da angústia.
O encorajamento emocional relaciona-se às reações parentais que buscam validar as emoções
expressas pelas crianças, sem desqualificá-las, estimulando-as a encontrar maneiras
adaptativas de manejar as suas emoções, como no exemplo da criança que, ao sentir medo, foi
acolhida pelos pais.
Reações não apoiadoras
Essas reações relacionam-se, predominantemente, à punição, minimização ou desqualificação da
experiência e/ou da expressão de emoções, nas situações cotidianas vivenciadas pelas crianças.
Nesse tipo de estratégia, as emoções expressas pela criança são desvalorizadas, seja pela
reprovação ou pela indiferença. Denham et al. (2015) observam que tais reações, se frequentes,
podem levar a danos no desenvolvimento da competência emocional da criança e nos seus
relacionamentos interpessoais.
Conversas dos pais sobre as emoções
Segundo Denham et al. (2015), os pais discutem sobre as emoções em uma variedade de contextos, incluindo
aqueles relacionados à forma como reagem às emoções das crianças. Essa estratégia diz respeito ao “ensinar
sobre as emoções”, levando ao desenvolvimento de uma linguagem emocional, aspecto sobre o qual
falaremos mais adiante.
Expressão parental da emoção
Também chamada de modelagem, é o terceiro mecanismo de socialização das emoções descrito por Denham 
et al. (2015) e diz respeito à observação que a criança faz, seja de maneira intencional ou não, das emoções
que os pais expressam.
Por meio dos padrões de expressão emocional dos pais às mais variadas situações, as crianças aprendem
quais emoções específicas são mais apropriadas em determinados eventos e circunstâncias.
• 
• 
• 
• 
• 
• 
Exemplo
Imagine uma situação em que a mãe esteja com a criança e um cão se aproxime. A forma como a mãe
lidará com a presença do cão, a emoção expressa por ela, indicará à criança se essa é uma situação
perigosa ou não, e com isso a criança poderá experienciar esse evento como ameaçador, sentindo-se,
portanto, amedrontada, ou, dependendo de como a mãe reage à presença do cão, como uma situação
que não suscita maior preocupação ou medo. 
As interações humanas são repletas de componentes emocionais. Assim, a socialização das emoções é um
processo que pode estar presente em todas as situações de vida diária nas quais as crianças se relacionam
com outras pessoas (DENHAM et al., 2015).
Dessa maneira, as interações sociais que ocorrem no contexto escolar, em particular com os professores,
serão relevantes na compreensão de como a criança aprende sobre as emoções.
Socialização emocional e interações sociais na escola
Podemos dizer que a escola é um ambiente de fundamental relevância para o desenvolvimento da criança. É
um grupo social experimentado por crianças na maioria das culturas.
Em contextos urbanos de países industrializados, como o Brasil, a entrada na escola tem ocorrido cada vez
mais cedo. Isso é devido, entre outros fatores, à participação cada vez maior das mulheres no mercado de
trabalho.
Assim, para a compreensão dos processos de socialização não podemos deixar de incluir os professores
como importantes agentes socializadores da criança, e também os seus pares, ou seja, as outras crianças
com as quais interage.
Denham et al. (2015) mencionam que os
professores e os pares têm um valor
reconhecido nos processos de socialização da
criança. As reações que os professores
demonstram em sala de aula às exibições
emocionais da criança podem afetar a forma
como as crianças lidam com as emoções.
Conversar abertamente sobre as emoções, a
partir das situações que ocorrem em sala de
aula, fornece mensagens, implícitas ou
explícitas, acerca do mundo das emoções e se
constitui em importante ferramenta no
incremento da competência emocional da
criança, como argumenta Mendes (2018).
A sala de aula é um ambiente no qual as crianças vivenciam uma infinidade de situações envolvendo as
emoções, e os educadores são agentes importantes, com o papel de mediar e ensinar à criança aspectos de
sua vida emocional. 
Observe esse ponto por meio das três estratégias de socialização das emoções sobre as quais falamos
anteriormente: 
Reações dos pais às emoções das crianças
Em relação às reações frente às emoções expressas pela criança, os professores podem reagir de
forma apoiadora ou não apoiadora a essas emoções. Como por exemplo:
Imagine que uma criança fique com muita raiva de um colega que pegou o seu brinquedo e o jogou na
parede. A professora interveio nessa situação, acolhendo a raiva dessa criança, ouvindo-a, ao invés
de desconsiderar ou recriminar a criança pela experiência dessa emoção. Nesse caso, temos um
exemplo de uma reação apoiadora, pois a educadora não desqualificou a emoção expressa pela
criança, encorajando-a a falar sobre essa emoção e a buscar formas mais adaptativas de lidar com a
sua raiva, como, por exemplo, falar com o colega que o que ele fez não foi legal e que ela ficou muito
zangada por isso. 
Conversas dos pais sobre as emoções
No que se refere às conversas sobre as emoções, Denham et al. (2015) argumentam sobre a
relevância dos agentes socializadores, incluindo os educadores, em falar com as crianças acerca das
experiências emocionais que elas vivenciam dentro do ambiente escolar. 
Essas conversas auxiliam a criança no desenvolvimento de suas habilidades de regulação emocional,
capacitando-as a conseguir, frente a emoções como a raiva, por exemplo, a agir de maneira menos
impulsiva. 
No exemplo anterior, podemos ver como a professora pôde, ao dar oportunidade à criança de falar
sobre a sua raiva, conversar com ela sobre essa emoção e, nesse processo de conversação
emocional, capacitar a criança a encontrar maneiras adaptativas ao contexto, para lidar não apenas
com essa emoção, mas com as outras que, inevitavelmente, surgirão nas interações sociais na escola.
Expressão parental da emoção
A terceira estratégia, a modelagem, diz respeito à observação que a criança faz da forma comoo
agente socializador expressa as suas emoções. No senso comum, poderíamos dizer que essa
estratégia se assemelha à noção de “exemplo” ou “modelo”.
Vários estudos mostram (DENHAM et al., 2015) que professores com maiores habilidades em regular
e lidar com as suas próprias emoções influenciam positivamente a competência emocional das
crianças com as quais interagem. Por meio desse modelo, as crianças aprendem pela observação, de
maneira intencional ou não, quais são as emoções mais apropriadas dentro do contexto escolar e, de
igual forma, como elas podem manejá-las melhor.
Diante do que falamos, você deve ter percebido o quanto as interações sociais que se desenrolam no
contexto escolar, especialmente com os professores, são oportunidades profícuas para o desenvolvimento
emocional da criança. Como salienta Mendes (2018), o ensino e a conversa intencional que os educadores
têm com as crianças sobre as experiências emocionais vivenciadas nas interações sociais ocorridas na escola
favorecem, sobremaneira, o desenvolvimento das habilidades de competência emocional da criança, fazendo
do educador um relevante agente na socialização da emoção.
Desenvolvimento global da criança
Neste vídeo, a especialista reflete sobre como os processos de comunicação e interação social na escola
colaboram para o desenvolvimento global da criança.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Vem que eu te explico!
Processos de comunicação e interação social
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Estratégias de socialização das emoções
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Verificando o aprendizado
Questão 1
Os agentes socializadores, pais e professores, por exemplo, desempenham um importante papel no
desenvolvimento da competência emocional da criança. Por meio das estratégias e práticas que utilizam,
podem ensinar à criança aspectos relevantes sobre as emoções. Entre as estratégias de socialização das
emoções, destacamos
A
exercícios constantes sobre as emoções.
B
treinos sobre como as crianças devem se comportar em ambientes sociais.
C
recriminações à criança quando ela expressar uma emoção de forma inadequada.
D
conversas sobre as emoções.
E
assistir com as crianças filmes com conteúdo emocional.
A alternativa D está correta.
Conversar sobre as emoções é uma importante estratégia de socialização das emoções. Por meio dessa
prática, os agentes socializadores podem falar sobre as emoções que a criança experiencia, nominando-as
e estabelecendo com ela uma linguagem emocional, que será relevante para o desenvolvimento da
competência emocional da criança.
Questão 2
Os pais podem, por meio de seus próprios padrões de expressão da emoção, socializar a criança em muitos
aspectos de sua vida emocional. Essa estratégia de socialização das emoções é denominada
A
reação apoiadora.
B
reação não apoiadora.
C
expressão parental da emoção.
D
conversação emocional.
E
reações frente às emoções.
A alternativa C está correta.
Por meio da expressão e regulação de suas próprias emoções, os pais, assim como os professores, podem
ensinar à criança quais emoções são mais apropriadas em determinados contextos, quais são as formas
mais adequadas de expressar determinadas emoções, entre outros aspectos. Dessa maneira, a expressão
parental da emoção, ou modelagem é uma importante estratégia de socialização das emoções.
3. Linguagem, emoções e processos de aprendizagem
Prosódia emocional
Como vimos até aqui, as emoções são essenciais nos contextos sociais, nos quais a competência emocional
desempenhará um papel relevante no desenvolvimento de nossa competência social. Destacamos as
interações sociais ocorridas no ambiente escolar, particularmente com os educadores, como um importante
contexto na socialização das emoções da criança.
Nesse processo, podemos destacar a linguagem como uma importante aquisição que será influenciada pelo
desenvolvimento emocional e também influirá nele. E ambos terão uma relevante atuação nos processos de
aprendizagem.
Dessa maneira, para que você compreenda melhor todas
essas relações, traremos algumas noções introdutórias
acerca da relação entre a linguagem e as emoções.
Para Foolen (2012) , a linguagem se relaciona com as
emoções, pois, por meio dela, as emoções podem ser
nomeadas, conceituadas e expressas. Esse autor
argumenta que a forma de conceitualizar as emoções,
assim como de expressá-las verbalmente, é uma função da
linguagem. 
Pesquisas na área de neurolinguística demonstraram que o
processamento cerebral das palavras com significado
emocional é diferente do processamento de palavras
consideradas “neutras”. 
As palavras com teor emocional ativam o sistema límbico, uma das áreas do nosso cérebro responsável pelo
processamento emocional. 
Alguns experimentos realizados evidenciaram que quando ouvimos palavras com conotação emocional, como,
por exemplo, amor, medo, dor, ódio, choro, entre outras, elas são processadas em nosso cérebro, ou seja, são
reconhecidas mais rapidamente do que quando comparadas a palavras neutras ou não carregadas de
emoção, como, por exemplo, mesa, meia, pilha, duplo, entre outras. Nesses experimentos, observou-se que as
estruturas responsáveis pelo processamento das emoções aceleram o reconhecimento das palavras com teor
emocional (FOOLEN, 2012).
Foolen (2012) analisa a questão da relação
entre a linguagem e as emoções, destacando
algumas situações em que essa relação pode
ser considerada como facilitadora. Ele
exemplifica algumas situações, como no ensino
de uma língua estrangeira. Se aprendemos mais
facilmente palavras com conotação emocional,
no ensino de línguas estrangeiras esse aspecto
deve ser levado em conta. O professor pode,
por exemplo, ensinar os aspectos gramaticais
dessa nova língua, incluindo palavras com teor
emocional, permitindo o envolvimento
emocional do aluno e, com isso, facilitar o
aprendizado da língua estrangeira.
A maneira como a linguagem se articula com as emoções pode ser vista também na forma como as diferentes
línguas conceitualizam as emoções. Você já deve ter ouvido falar que a palavra “saudade”, que tem forte
conotação emocional, não tem uma correspondência em outras línguas. Outro aspecto diz respeito à prosódia,
que se relaciona, entre outros aspectos, como a forma como entoamos e acentuamos as palavras (FOOLEN,
2012).
A prosódia emocional nos possibilita, entre outros pontos, captar o teor emocional de frases e palavras.
Exemplo
Podemos falar: “Nossa, como estou alegre hoje!” ou “Nossa, como estou alegre hoje.”. Você percebe
como o ponto de exclamação utilizado na primeira frase enfatiza o nosso sentimento de estar alegre?
Esse é um pequeno exemplo de como a maneira como entoamos a nossa fala ou como percebemos a
entonação da fala do outro com quem estamos interagindo permite a ênfase e a intensificação da
conotação emocional da linguagem. 
Os estudos sobre as emoções ganharam destaque em neurociências a partir dos anos 1990 e influenciaram
diversos outros campos de estudo, como a Linguística. Sobre esse aspecto, Foolen (2012) salienta que os
estudos em Linguística não podem mais negligenciar as investigações sobre as emoções e vice-versa. Para
esse autor, um panorama mais aprofundado da relação entre as emoções e a linguagem necessitará de um
diálogo constante entre esses dois campos de estudo, especialmente por meio de pesquisas
interdisciplinares.
Podemos dizer que uma das possibilidades de intercessão entre essas áreas ocorre quando analisamos os
processos de socialização das emoções. Como mencionamos, as conversas sobre as emoções constituem
uma das importantes estratégias que os agentes socializadores podem implementar para auxiliar o
desenvolvimento emocional das crianças.
Conversas sobre as emoções: linguagem emocional
As conversas dos pais sobre as emoções, conforme falamos, é uma das estratégias de socialização que
podem ser utilizadas por pais e professores e que auxiliarão a criança a desenvolvera sua competência
emocional nas diversas interações sociais ao longo de sua vida.
Os pais discutem sobre as emoções em uma variedade de contextos, incluindo aqueles relacionados às suas
reações às emoções das crianças.
Denham et al. (2015) observam que pais que conversam com os filhos sobre as emoções, tanto as
experienciadas por eles quanto pelos filhos, fomentam essa habilidade em suas crianças, capacitando-as,
entre outras coisas, à regulação de suas emoções.
Para esses autores, a “linguagem emocional” tem a função
de permitir à criança comunicar como se sente e dá aos
pais a possibilidade de mostrar formas diversas de lidar
com as experiências emocionais, incluindo as já
vivenciadas.
O modo como os pais utilizam a linguagem da emoção
proporciona às crianças distinções importantes sobre o
significado e a maneira mais apropriada, dentro do meio
cultural em que vivem, de expressar determinada emoção.
Como parte das conversas diárias, os pais podem enfatizar
certas emoções frente a outras, esclarecer causas e
consequências das emoções e, assim, auxiliar a criança a
compreender e regular as suas emoções. Essa linguagem emocional que os agentes socializadores
estabelecem permite que as crianças cresçam em um ambiente no qual possam falar mais abertamente sobre
as suas emoções, tornando-se, em geral, mais hábeis em regular as suas emoções, principalmente aquelas
surgidas em eventos angustiantes (DENHAM et al., 2015).
Mendes (2018) observa que falar sobre as
emoções se refere, entre outros aspectos, à
explicação verbal do que é determinada
emoção e da relação entre essa e uma situação
que causou ou poderia causar uma reação
emocional. Esse “ensino sobre as emoções” vai
ajudar a criança a identificar as suas próprias
emoções, assim como as das outras pessoas
com as quais interage e, com isso, ela poderá
manejar melhor as suas respostas às situações
que evocaram as suas emoções.
Muitos estudos (SOUZA; MENDES; KAPPLER,
2021) demonstram a correlação positiva
existente entre as conversas sobre as emoções
que os agentes socializadores estabelecem com as crianças e o comportamento pró-social delas,
favorecendo a empatia e a cooperação. Os estudos apontaram que isso ocorria principalmente quando os pais
ou professores ajudavam as crianças a refletir e entender as causas das emoções das pessoas com as quais
elas interagiam. 
Em contrapartida, adultos que não valorizam a linguagem emocional, ou mesmo aqueles que tratam as
emoções da criança com indiferença ou reprimendas, podem levá-la a uma percepção de que é perigoso ou
danoso sentir e expressar as emoções (MENDES, 2018).
Exemplo
Imagine que um menino esteja muito triste, pois o seu brinquedo favorito quebrou. Ao chegar na escola,
conte ao seu melhor amigo o que aconteceu e acabe chorando. Nesse momento, ao vê-lo chorar, a
professora diz: “Pare de chorar, vamos nos concentrar nas tarefas, isso não é motivo para chorar!”. 
Agora, reflita, depois do que falamos, como essa conduta, se repetida muitas vezes e por outros agentes
socializadores, poderá contribuir para que essa criança cresça com a ideia de que não pode expressar ou falar
sobre a sua tristeza, pois isso representará um sinal de fraqueza.
Uma atitude mais profícua dessa professora seria conversar com a criança sobre o que a fez chorar, sobre o
porquê de sua tristeza e, com isso, fazê-la pensar sobre como lidar melhor com essa emoção.
Outro ponto muito relevante salientado por Mendes (2018)
diz respeito ao fato de que a qualidade, e não tanto a
quantidade, das conversas sobre as emoções que os
agentes socializadores têm com a criança é o aspecto mais
importante a ser observado. 
A atitude de incentivar a criança a falar sobre as suas
emoções e a nomeá-las, mais do que a produção verbal dos
agentes socializadores, auxiliará a criança no
desenvolvimento de sua linguagem emocional e de sua
habilidade em lidar com as emoções.
O diálogo sobre as emoções parece também auxiliar o
desenvolvimento das conexões entre a emoção e a
cognição, por meio dos processos envolvidos na associação entre as palavras e os sentimentos, aspectos que
serão relevantes nos processos de aprendizagem.
Emoções e processos de aprendizagem
Os processos de aprendizagem, em particular os que ocorrem no contexto escolar, são imbuídos de aspectos
emocionais, pois os processos emocionais e cognitivos, embora distintos, guardam estreita relação entre si.
No senso comum, já existe a noção de que aprendemos mais facilmente quando estamos mais felizes do que
quando estamos tristes, por exemplo.
Dessa forma, a escolarização é um processo carregado de significados emocionais, tanto para as crianças
quanto para os pais e professores. As emoções estão envolvidas em uma grande parte do processo de
ensino-aprendizagem, podendo funcionar como um poderoso veículo para fomentar ou inibir a aprendizagem
(FRIED, 2011).
Diversos estudos têm demonstrado o quanto as emoções podem exercer uma grande influência sobre os
processos cognitivos, em especial por sua relação com os processos motivacionais.
Você já percebeu que aprende com muito mais
facilidade um conteúdo do qual você gosta e
com o qual se sente motivado e, ao contrário,
tem muito mais dificuldade em memorizar ou
aprender conteúdos dos quais não gosta ou
pelos quais não tem interesse? Os estudos
realizados com essa temática têm evidenciado
o quanto a preponderância de vivências de
emoções, como o interesse e a alegria, tanto
para os alunos quanto para os professores,
permitem a ampliação do repertório de
estratégias mais eficazes no processo de
ensino-aprendizagem (FRIED, 2011).
As emoções podem afetar a função psíquica da
atenção, na medida em que tendemos a direcionar o nosso foco atencional para os eventos que nos
despertam interesse e prazer e, em contrapartida, a nos distrair de situações ou conteúdos que nos causam
desinteresse. Isso ocorre, entre outros aspectos, pelo fato de que os processos emocionais afetam
fortemente a motivação intrínseca, ou seja, interna, do indivíduo.
Outro aspecto ressaltado também por Fried (2011), refere-se à forma como o nosso cérebro funciona. Por
exemplo, quando um aluno está sob estresse, experimentando o medo, a maior parte de seu funcionamento
cerebral será dirigida a solucionar a situação que está evocando essa emoção, o que tornará muito mais difícil
o aprendizado de um conteúdo escolar. 
Dica
O conhecimento básico de como o nosso cérebro opera permite que os educadores fiquem mais atentos
a situações como essa exemplificada. Além disso, eles podem vincular as experiências de aprendizado
do aluno a vivências de emoções prazerosas, como a alegria e o interesse. 
Assim, os professores, e a escola de modo geral, devem estar atentos aos aspectos mencionados, buscando
fazer do ambiente escolar um local de pertencimento para o aluno, no qual as emoções possam ser
compartilhadas e conversadas, de forma a sempre permitir o aprendizado de novas maneiras de lidar como
elas.
A partir do conhecimento da relação entre as emoções e os processos de aprendizagem, os educadores
estarão mais aptos a criar uma atmosfera no contexto escolar, na qual as salas de aula possam ser ambientes
colaborativos, solidários, favorecendo o aprendizado, por parte dos alunos, de conteúdos acadêmicos e de
formas mais adaptativas de lidar com as emoções. Tudo isso, certamente, contribuirá para a melhoria dos
processos de ensino-aprendizagem.
Correlação positiva entre as conversas sobre as emoções e o comportamento
pró-social
Neste vídeo, a especialista reflete sobre a correlação positiva entre as conversas sobre as emoções que os
agentes socializadores estabelecem com as crianças e o comportamento pró-social.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Vem que eu te explico!
Prosódia emocional
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Emoções e processos de aprendizagem
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Verificando o aprendizado
Questão 1
Conforme observa Foolen(2012), alguns estudos na área de neurolinguística apontam que palavras com teor
emocional são reconhecidas mais rapidamente do que palavras consideradas neutras. Isso se deve
primordialmente ao fato de que
A
as palavras com teor emocional despertam um maior interesse no indivíduo do que palavras neutras.
B
as palavras com teor emocional são mais facilmente aprendidas do que palavras neutras.
C
as palavras com teor emocional suscitam no indivíduo uma série de alterações fisiológicas.
D
o processamento cerebral das palavras com teor emocional é mais rápido do que o de palavras neutras.
E
as palavras com teor emocional têm uma musicalidade mais agradável do que as palavras neutras.
A alternativa D está correta.
Alguns estudos em neurolinguística demonstram que, em geral, as palavras como conotação emocional,
como amor, ódio, dor, entre outras, têm um processamento cerebral mais rápido do que as palavras
consideradas neutras, sendo, por isso, reconhecidas mais rapidamente pelo indivíduo.
Questão 2
Os processos emocionais têm uma estreita relação com os processos de aprendizagem. Acerca desse
aspecto, é correto afirmar que:
I – As emoções desempenham um importante papel no processo de ensino-aprendizagem, particularmente
por sua relação com os processos motivacionais.
II – As emoções não têm relação com a função psíquica da atenção.
III – A escolarização é um processo repleto de componentes emocionais.
A
Somente a afirmativa III está correta.
B
Todas as afirmativas estão corretas.
C
Somente a afirmativa I está correta.
D
As afirmativas I e II estão corretas.
E
As afirmativas I e III estão corretas.
A alternativa E está correta.
As emoções possuem um relevante papel nos processos de aprendizagem, especialmente por sua estreita
relação com os processos motivacionais, na medida em que aprendemos com mais facilidade os conteúdos
para os quais nos sentimos mais motivados. Além desse aspecto, Fried (2011) observa que o processo de
ensino-aprendizagem, que é parte da escolarização, é carregado de significados emocionais.
4. Conclusão
Considerações finais
As emoções são fenômenos relevantes para a experiência individual, porém, é no contexto das interações
sociais que o indivíduo estabelece, desde o nascimento, que elas irão desempenhar as suas funções mais
importantes. As funções sociais das emoções são decorrentes da necessidade que nós, seres humanos,
temos de estabelecer laços sociais. 
A competência emocional, desenvolvida por nós ao longo da vida, é uma capacidade essencial para o
desenvolvimento de nossa competência social, ou seja, para a nossa capacidade de mantermos
relacionamentos sociais harmoniosos, nos diferentes contextos nos quais interagimos. 
A nossa competência emocional, assim como todas as outras habilidades que desenvolvemos, depende, entre
outros aspectos, dos processos de socialização a que somos sujeitos desde cedo, sendo um processo no qual
temos um papel ativo. Entre as estratégias de socialização das emoções, destacamos as conversas sobre as
emoções que os agentes socializadores têm com a criança sobre as experiências emocionais vivenciadas por
elas. As conversas sobre as emoções favorecem o desenvolvimento da linguagem emocional, permitindo a
criança a comunicação de seus estados emocionais.
Como relevantes agentes socializadores, além dos pais, salientamos o papel do professor/educador, pois é
nas interações sociais ocorridas na escola que a criança vivencia grande parte de suas experiências
emocionais. É também no ambiente escolar que as relações entre as emoções e os processos de
aprendizagem se tornam mais evidentes, com a estreita relação delas com os processos motivacionais.
Com isso, acreditamos que você tenha compreendido o quanto as emoções são importantes nas interações
sociais que estabelecemos desde a nossa infância. São elas, e mais particularmente a forma com que lidamos
com elas, que fazem com que os nossos relacionamentos interpessoais sejam bem-sucedidos ou não. 
Podcast
Neste podcast, a especialista reflete sobre as emoções e os processos de sociabilização, diferencia
socialização de sociabilização, bem como evidencia a relevância dos processos emocionais para a
aprendizagem.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para ouvir o áudio.
Explore +
Caso você tenha interesse em se aprofundar um pouco mais sobre como as emoções são expressas,
especialmente nos contextos sociais, uma boa dica é o livro de Paul Ekman, A linguagem das emoções, de
2011, da editora Lua de Papel. Ekman é um psicólogo norte-americano, famoso pelo estudo das emoções
humanas.
Referências
BERKOVITS, L.; BAKER, B. Emotion dysregulation and social competence: stability, change and predictive
power. Journal of Intellectual Disability Research, California, p. 765-776, 2014.
DEL PRETTE, Z.; DEL PRETTE, A. Habilidades sociais e competência social para uma vida melhor. São Carlos,
SP: EdUFSCar, 2017.
DENHAM, S. Emotional competence during childhood and adolescence. In: LOBUE, V.; PERÉZ-EDGAR, K.;
BUSS, K. (eds.). Handbook of Emotional Development. New York: Springer, 2019. p. 493-541.
DENHAM, S.; BASSETT, H.; WYATT, T. The Socialization of Emotional Competence. In: GRUSEC, J.; HASTINGS,
P. (eds.). Handbook of Socialization: Theory and Research. New York: The Guilford Press, 2015. p. 590-613.
EKMAN, P. A linguagem das emoções. São Paulo: Lua de Papel, 2011.
FISCHER, A.; MANSTEAD, A. Social Functions of Emotion. In: LEWIS, M.; HAVILAND-JONES J.; BARRETT, L. F.
(eds.). Handbook of Emotions. New York: The Guilford Publications, 2010. p. 456-468.
FOOLEN, A. A relevância da emoção para a linguagem e para a Linguística. In: CAVALCANTE, S.; MILITÃO, J.
(orgs.). Emoções: desafios para a linguagem e cognição. Belo Horizonte: CESPUC MG, 2016. p. 13-39.
FRIED, L. Teaching teachers about emotion regulation in the classroom. Australian Journal of Teacher
Education, Joondalup, p. 117-127, 2011.
GOLEMAN, D. Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que define o que é ser inteligente. Rio de Janeiro:
Objetiva, 1997.
MACCOBY, E. Historical overview of socialization research and theory. In: GRUSEC, J.; HASTINGS, P. (eds.).
Handbook of Socialization: Theory and Research. New York: The Guilford Press, 2015. p. 13-41.
MACHADO, P. et al. Relações entre o conhecimento das emoções, as competências académicas, as
competências sociais e a aceitação entre pares. Análise Psicológica, Lisboa, p. 463-478, 2008.
MENDES, D. M. L. F. Socialização da emoção no desenvolvimento infantil. In: PESSÔA, L. F.; MENDES, D. M. L.
F.; SEIDL-DE-MOURA, M. L. Parentalidade: diferentes perspectivas, evidências e experiências. Curitiba: Appris,
2018. p. 83-104.
REEVE, J. Motivação e emoção. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
SAARNI, C. Emotional competence and effective negotiation: the integration of emotion understanding,
regulation, and communication. In: AQUILAR, F.; GALLUCCIO, M. Psychological and political strategies for
peace negotiation. Springer, NY: Springer, 2011. p. 55-74.
SOUZA, A. B. M.; MENDES, D. M. L. F.; KAPPLER, S. R. Estratégias de regulação emocional maternas e de
crianças: revisão da literatura. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, São João Del Rey, p. 1-22, 2021.
	As emoções e os processos de sociabilização
	1. Itens iniciais
	Propósito
	Objetivos
	Introdução
	1. As emoções no contexto social
	Funções sociais das emoções
	Função de afiliação das emoções
	Função de contágio emocional
	Função de distanciamento social
	Exemplo
	Função de comunicação
	Competência emocional e competência social
	Competência emocional
	Competência social
	Competência emocional: chave para o sucesso social
	Exemplo
	Exemplo
	A relação entre competência emocional e competência social
	Conteúdo interativo
	Vem que eu te explico!
	Funções sociais das emoções
	Conteúdo interativo
	Competência emocional e competência social
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	2. Os processos de comunicação e interação social na escola
	Processos de comunicação e interaçãosocial
	Estratégias de socialização das emoções
	Reações dos pais às emoções das crianças
	Conversas dos pais sobre as emoções
	Expressão parental da emoção
	Reações dos pais às emoções das crianças
	Reações apoiadoras
	Reações não apoiadoras
	Conversas dos pais sobre as emoções
	Expressão parental da emoção
	Exemplo
	Socialização emocional e interações sociais na escola
	Reações dos pais às emoções das crianças
	Conversas dos pais sobre as emoções
	Expressão parental da emoção
	Desenvolvimento global da criança
	Conteúdo interativo
	Vem que eu te explico!
	Processos de comunicação e interação social
	Conteúdo interativo
	Estratégias de socialização das emoções
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	3. Linguagem, emoções e processos de aprendizagem
	Prosódia emocional
	Exemplo
	Conversas sobre as emoções: linguagem emocional
	Exemplo
	Emoções e processos de aprendizagem
	Dica
	Correlação positiva entre as conversas sobre as emoções e o comportamento pró-social
	Conteúdo interativo
	Vem que eu te explico!
	Prosódia emocional
	Conteúdo interativo
	Emoções e processos de aprendizagem
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	4. Conclusão
	Considerações finais
	Podcast
	Conteúdo interativo
	Explore +
	Referências

Mais conteúdos dessa disciplina