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Importância das emoções na aprendizagem Definição e conceituação teórica dos fundamentos sobre a emoção e a cognição baseados na perspectiva psicopedagógica, bem como suas aplicações em processos de aprendizagem. Prof.ª Crismarie Casper Hackenberg 1. Itens iniciais Propósito Compreender o conceito de regulação emocional e conhecer as mais recentes descobertas das neurociências sobre esse tema amplia nossas possibilidades de atuação no que se refere ao manejo da interação entre emoção e cognição. Isso é particularmente útil no campo da Neuropsicopedagogia, que tem se mostrado uma área de muita importância para a educação infantil e juvenil. Objetivos Relacionar as emoções primárias e secundárias com a aprendizagem. Identificar as abordagens sobre razão e emoção, relacionando a interação dos processos cognitivos com as emoções. Reconhecer a teoria da avaliação, apresentando o modelo baseado no processo de regulação da emoção. Introdução Você já parou para pensar no quanto a emoção pode alavancar o nosso processo de aprendizagem? Basta buscarmos pela memória que rapidamente nos lembramos de alguns exemplos do efeito que um estado emocional positivo tem para uma atividade de aprendizagem. É fácil recordar os métodos que foram utilizados para que pudéssemos aprender determinado assunto, a motivação que tivemos naquele momento para concluir uma atividade e seguir para a próxima, bem como reviver os resultados positivos que obtivemos e os elogios que recebemos na ocasião. Essas são algumas das situações de impacto desse estado emocional funcional. Cada vez mais o estudo do fenômeno emocional vem sendo relacionado à aprendizagem. Muitos autores buscaram compreender a natureza da emoção para saber se ela é inata em nossa espécie e o quanto de emoções que resultam de nossas interações sociais. Eles descobriram que, de fato, algumas emoções como alegria, raiva e tristeza são consideradas inatas ou primárias e estão ligadas ao nosso instinto de sobrevivência. Por outro lado, também temos emoções secundárias, que são mais complexas, pois envolvem o pensamento e fatores socioculturais. Elas são emoções aprendidas e integradas a memórias, podendo ser avaliadas como boas ou ruins. Alguns exemplos são a simpatia, o ciúme, o orgulho, a vergonha, a admiração e a culpa. Durante muitos séculos a emoção foi vista em oposição à razão, como se uma fosse completamente independente da outra. Contudo, hoje já sabemos que os processos de raciocínio e de tomada de decisão estão integrados à emoção. Isso significa que com a habilidade de regular nosso campo emocional podemos diminuir, intensificar ou prolongar uma determinada emoção. Essa área é de suma importância para o campo da Educação, incluindo a Psicopedagogia, que deve expandir seu conhecimento pelos processos cognitivos e emocionais envolvidos na aprendizagem. • • • 1. Emoções primárias e secundárias na aprendizagem Emoção e cognição Você já tinha notado que a emoção é muito importante no seu processo de aprendizagem? Sabia que o funcionamento das emoções depende de recursos do pensamento e da forma de organização das informações que todos nós recebemos em uma experiência? Cada pessoa sentirá e organizará essas informações de maneira diferente! Se pararmos para pensar no quanto a emoção pode alavancar o processo de aprendizado, basta lembrarmos aqui do quanto a motivação foi importante em nosso processo escolar. Percebemos que nosso estado emocional nos fez gostar mais de algumas formas de aprendizagem do que de outras, e isso definiu como aprendemos, como tivemos vontade de prosseguir para a próxima atividade, como nos lembramos dos resultados positivos e do reconhecimento que obtivemos dos outros. Nosso aprendizado na vida ocorre porque a emoção dirige, conduz e guia a cognição. Por sua vez, a cognição depende de duas etapas: A percepção A atenção Isso quer dizer que as nossas emoções podem afetar a nossa aprendizagem porque, quanto mais envolvido estiver nosso estado emocional, mais mobilizadas serão as funções cognitivas da atenção, da percepção e da memória, resultando em funções executivas de monitorização, planificação e verificação de respostas com melhor gerenciamento. Não podemos compreender o processo de aprendizagem sem reconhecermos o papel da emoção como uma função adaptativa humana. Ou seja, são as habilidades conceituais, sociais e práticas que permitem a adaptação humana ao ambiente. As neurociências têm contribuído muito para as áreas de aprendizagem, tais como a Educação e a Psicopedagogia, oferecendo imagens sobre o funcionamento do cérebro durante a aprendizagem, e isso tem comprovado que existe uma interdependência da emoção e da cognição em nosso processamento neuronal (MORAIS, 2020). Podemos dividir nosso sistema de aprendizagem em três vias importantes: Princípios básicos do Desenho Universal para a Aprendizagem (com base nas diretrizes do National Center on Universal Design for Learning, 2014) 1. 2. Vamos conhecer cada um deles detalhadamente: Redes de conhecimento Proporcionam múltiplos meios de representação na aprendizagem. Os educadores podem acessar seus alunos apresentando a informação e o conteúdo em múltiplos formatos para que todos tenham acesso. Exemplo: criar um planejamento de aulas que estimulem a percepção e meios de personalização, com alternativas visuais e auditivas. Redes estratégicas Proporcionam múltiplos meios de ação e expressão na aprendizagem. Os educadores podem permitir alternativas de expressão e demonstração das aprendizagens por parte dos alunos. Exemplo: elaborar um roteiro de aprendizagem estimulando ações e expressões, utilizando métodos com atividades físicas, conversas e instrumentos tecnológicos todos ao mesmo tempo e de forma complementar. Redes afetivas Proporcionam múltiplos meios de envolvimento na aprendizagem. Os educadores podem estimular o interesse dos alunos e motivá-los de diversas formas. Exemplo: oferecer uma proposta educativa com escolhas, dando autonomia ao aprendiz, otimizando valores pessoais e minimizando insegurança e ansiedade na aprendizagem. Se pensarmos na evolução humana, começando pela educação infantil até a educação de adultos e acompanhando o processo de aprendizado ao longo de toda uma vida, vemos que todas essas três vias evoluem juntas e são, de modo neurofuncional, inseparáveis. A rede afetiva está em nosso “hardware” de aprendizagem. Assim, podemos considerar que se a emoção desempenha uma função tão importante na aprendizagem e tem um papel relevante no sucesso das nossas performances e habilidades, por outro lado, ela também é crítica para a aprendizagem. O processo de ensino-aprendizagem pode ser atingido diretamente pela motivação. Tanto o aluno terá sua prática de estudos afetada, como também o próprio professor sofrerá essa influência na sua forma de ensinar, de elaborar aulas e de transmitir o conhecimento (MORAIS, 2020). Uma pesquisa de Ângela Duckworth (2007) foi desenvolvida para avaliar as possíveis causas e implicações do sucesso dos alunos e quais seriam os fatores que poderiam estar contribuindo para isso em alunos estadunidenses. A cientista concluiu que a característica que distingue alunos que atingem algum sucesso não é o quociente de inteligência, idade, gênero, nível econômico ou características da escola, mas sim os níveis de persistência de cada aluno (DUCKWORTH, 2007). Assim, em épocas passadas, as emoções foram separadas do processo cognitivo nas escolas e nas salas de aula, mas, neste século XXI, quando já dispomos de tanto conhecimento neurofisiológico sobre as emoções, não podemos mais desassociá-las e é preciso afirmar a sua integração. Os resultados da interação entre a emoção e a cognição têm mostrado que elas estão conectadas a um nível neurofuncional tão básico que uma não funciona sem que a outra também seja afetada consideravelmente. Paul Ekman (1993) Resumindo São as emoções que conduzem a maneira como os indivíduos se comportam, se expressam verbalmente e com o corpo nosaprendizado e emoção com a neurocientista Carla Tieppo para entender as emoções dos seus alunos e saber o que fazer para impulsioná-los rumo ao sucesso na escola e na vida. O vídeo está disponível no YouTube, no canal de Carla Silva, sob o título de Aprendizado e emoção segundo a Neurociência. Referências CHEVALIER, C. S. Neurociência das emoções. Curitiba: Contentus, 2020. DAMÁSIO, A. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. DAMÁSIO, A. O sentimento de si: corpo, emoção e consciência. Lisboa: Temas e Debates, 2013. DUCKWORTH, A. L. et al. Grit: perseverance and passion for long-term goals. Journal of Personality and Social Psychology, 92(6), 1087-1101, 2007. EKMAN, P. Facial expression and emotion. American Psychologist, Washington, v. 48, p. 384-392, 1983. EYSENCK, M. W.; KEANE, M. T. Manual de psicologia cognitiva. Grupo A, 2017. FERREIRA, M. G. R. Neuropsicologia e aprendizagem. Curitiba: Intersaberes, 2014. FONSECA, V. Importância das emoções na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica. Revista Psicopedagia, São Paulo, v. 33, n. 102, p. 365-384, 2016. GAZZANIGA, M.; HEATHERTON, T.; HALPERN, D. Ciência psicológica. Porto Alegre: Artmed, 2018. IZARD, C. E. Facial expressions and the regulation of emotions. Journal of Personality and Social Psychology, Washington, v. 58, n. 3, p. 487-498, 1990. LAZARUS, R.; FOLKMAN, S. Stress appraisal and coping. New York: Springer, 1984. LEDOUX, J. O cérebro emocional: os misteriosos alicerces da vida emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998. LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de Neurociência. São Paulo: Atheneu, 2010. MORAIS, E. A. Neurociência das emoções. Curitiba: Intersaberes, 2020. REEVE, J. Motivação e emoção. 4. ed. Grupo GEN, 978-85-216-2366-3, 2006. SACKS, O. W. Um antropólogo em marte: sete histórias paradoxais. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Importância das emoções na aprendizagem 1. Itens iniciais Propósito Objetivos Introdução 1. Emoções primárias e secundárias na aprendizagem Emoção e cognição Redes de conhecimento Redes estratégicas Redes afetivas Resumindo Emoções primárias Reflexão Emoções secundárias Exemplo 1 Exemplo 2 Resumindo Emoções na aprendizagem Atenção Emoção primária na escola: o medo Atividade discursiva Motivação: ponto de ligação entre a cognição e a aprendizagem Emoção secundária na escola: a vergonha Motivação: ponto de ligação entre a cognição e a aprendizagem Conteúdo interativo Vem que eu te explico! Emoção primária na escola: o medo Conteúdo interativo Emoção secundária na escola: a vergonha Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 2. Interação entre processos cognitivos e emocionais Processos cognitivos e a relação razão-emoção Exemplo 1 Exemplo 2 Operação dos processos cognitivos Exemplo Sensação Percepção Atenção Memória Pensamento Linguagem Como os processos cognitivos atuam na aprendizagem? Dois sistemas no equilíbrio da cognição e da emoção Saiba mais O sistema bottom-up O sistema top-down Exemplo Emoção e cognição incorporadas na aprendizagem e infância Emoções e aprendizagem significativa Conteúdo interativo Vem que eu te explico! Como os processos cognitivos atuam na aprendizagem? Conteúdo interativo Dois sistemas no equilíbrio da cognição e emoção Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 3. Regulação emocional Manejo ou controle emocional Cognição e o impacto nas emoções Emoções e seu impacto na cognição O que é regulação emocional? Teoria da avaliação Regulação das emoções Exemplo Escolha de situação Modificação da situação Redirecionamento da atenção Mudança cognitiva Modulação da resposta Regulação da emoção Psicopedagogia e a regulação emocional Fatores biológicos Fatores sociais Reflexão Estratégias e abordagem na Psicopedagogia Regulação emocional e cidadania Conteúdo interativo Vem que eu te explico! Emoções e o impacto na cognição Conteúdo interativo A Psicopedagogia e a regulação emocional Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 4. Conclusão Considerações finais Podcast Conteúdo interativo Explore + Referênciasmais diversos ambientes. Assim, será impossível pensarmos em separar a emoção da aprendizagem ou a emoção da cognição ou da razão. Vamos aprofundar um pouco mais o nosso conhecimento sobre os níveis emocionais que poderiam estar envolvidos na aprendizagem. A seguir, veremos dois tipos de emoções que servem de interface entre os meios interno e externo de um indivíduo: as emoções primárias (ou básicas) e as emoções secundárias (ou sociais). Emoções primárias Vamos, então, seguir pelo campo da teoria das emoções básicas, que foi desenvolvida por Paul Ekman (1993). Ekman, como um pensador da corrente evolucionária, desenvolveu estudos a partir de avaliações socioculturais dos ambientes onde o indivíduo aprende a se expressar, comprovando que as emoções básicas podem ocorrer de forma automática e involuntária. Nesse trabalho, as emoções primárias foram amplamente discutidas por Ekman (1993), que concluiu que elas são inatas e que serviriam para garantir a sobrevivência humana, sendo, portanto, encontradas em qualquer cultura. Ele defende a existência de sete emoções primárias, básicas ou universais. Seriam elas: Medo; Raiva; Tristeza; Alegria; Surpresa; Aversão; Desprezo. Depois foram identificadas as emoções sociais ou secundárias: Vergonha; Inveja; Ciúme; Empatia; Embaraço; Orgulho; Culpa. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Damásio (2013) vai distinguir igualmente as emoções em primárias ou universais, e secundárias ou sociais, acrescentando também as emoções de fundo. São exemplos: Bem-estar ou mal-estar; Calma; Tensão. É importante mencionar que a expressão de alterações fisiológicas também é utilizada e está relacionada ao campo das emoções. Elas seriam alterações que decorrem de um plano inicial inato, ou seja, estão ligadas ao indivíduo desde o seu nascimento (MORAIS, 2020). Segundo Gazzaniga, Heartherton e Halpern (2018), as emoções primárias são compartilhadas culturalmente de forma evolutiva e adaptativa. A análise das emoções primárias ganha mais evidência com o trabalho de António Damásio (2013), que considera que as emoções primárias são iniciais, preestabelecidas e acionadas sem a ação de experiências prévias, ou seja, é como se a ativação não dependesse de vivências e elas apenas fluíssem de maneira autônoma e sem avaliação subjetiva, sendo organizadas e repassadas de forma hereditária. Reflexão Vamos pensar um pouco como essas reações psicofisiológicas, denominadas de emoções primárias ou básicas, ocorrem e são readaptadas para um contexto de sobrevivência. Por exemplo, se considerarmos a emoção do nojo (repugnância ou repulsa), podemos perceber que ela tinha por objetivo impedir que um indivíduo bebesse ou comesse algo venenoso (CHEVALIER, 2020). O medo também está em nossa evolução e adaptação humana, tendo uma importância fundamental para a preservação da espécie e atuando no cuidado com determinados comportamentos temerários que envolvem a autopreservação. A autopreservação está intimamente ligada às emoções primárias em diversos contextos, tais como a alimentação, o trabalho, o cuidado, a preservação da espécie, a esquiva, a fuga, entre outros. Assim, podemos inferir que as emoções auxiliam na perpetuação da espécie humana, bem como afirmar que as emoções primárias são organizadas tendo em vista duas condições: o bem-estar e a sobrevivência (FONSECA, 2016). As emoções podem ser tratadas ainda por valência, como positivas e negativas, mas essa seria uma classificação simplificada demais. O ideal seria classificá-las como agradáveis ou desagradáveis, ou ainda como adaptativas ou não adaptativas. Um exemplo de emoção adaptativa, porém desagradável, é a perda de um ente querido. Com essa perda é acionada a tristeza, que poderia ser considerada negativa, mas é a partir dela que também ocorre um processo adaptativo importante (MORAIS, 2020). Concluindo, assim são as funções das emoções na aprendizagem, que operam e que validam os processos cognitivos e dos pensamentos. Seja pelo medo que experimentamos quando nos deparamos com um animal feroz, ou pela raiva que sentimos diante de uma injustiça, as emoções contribuem significativamente para a disposição de resistir a uma adversidade. Emoções secundárias 1. 2. 3. Vamos nos perguntar um pouco mais sobre o que já sabemos de emoções primárias: Será que as emoções ficam apenas nesse estágio primário? É possível que cada emoção tenha a sua especificidade e não se relacione com as outras emoções? Será que a alegria influencia a raiva, que o medo tem alguma ligação com a repulsa, ou ainda, que a surpresa não tem uma ligação com a tristeza? Conceitualmente, as emoções estão relacionadas a demandas de estímulos internos e externos. Contudo, elas estão vinculadas também ao contexto onde elas podem ocorrer, e isso gera uma ligação, ou seja, uma integração entre elas. Então, respondendo às perguntas do parágrafo anterior, podemos definir que o que caracteriza as emoções secundárias será a mistura das emoções primárias. Entenda a diferença entre emoções primárias e secundárias: Segundo a teoria de Damásio (2013) acerca das emoções secundárias, podemos dizer que elas estão muito próximas do que ele conceituou como sentimentos, pois não é possível afirmar que, para que uma emoção secundária se manifeste, nós precisamos estar conscientes do estímulo social que a desencadeou. Vejamos alguns exemplos dessas interações entre as emoções a seguir: Exemplo 1 Vamos supor que você foi selecionado(a) para uma entrevista de emprego e sente uma alegria muito grande, pois estava esperando essa vaga há muito tempo. Por outro lado, o medo de não conseguir passar no processo seletivo gera uma emoção secundária, que é a ansiedade (GAZZANIGA et al., 2018). Exemplo 2 Imagine que um amigo seu tenha sido demitido do trabalho mesmo ele sendo muito competente e um dos melhores colaboradores da empresa. A tristeza do desligamento de seu amigo misturada com a raiva de uma situação teoricamente “injusta” pode levar você a acionar a empatia (GAZZANIGA et al., 2018). Dessa forma, diferentemente das emoções primárias, que são automáticas e de funcionamento biológico, as emoções secundárias são adquiridas ou aprendidas a partir das primárias, mas serão resultado da construção de cada indivíduo, de sua forma de interpretação de cada emoção. O caráter social estará muito ligado ao desenvolvimento das emoções, contudo, as emoções secundárias serão conhecidas também como emoções evolutivas e sociais, pois a maneira de vivenciar a emoção para um indivíduo pode ser totalmente diferente para outro. Outro fator mapeado no corpo humano é a relação das emoções durante a atividade fisiológica. Dependendo da emoção acionada, ela pode produzir maior ou menor intensidade desse tipo de atividade. Na imagem a seguir, as partes realçadas com cores quentes (vermelho, laranja e amarelo) representam maior atividade, e as partes com cores frias (azul, verde e violeta), menor atividade. • • • Emoções primárias Básicas; Inatas; Universais; Desde o nascimento; Função de sobrevivência. Emoções secundárias Combinação das primárias; Aprendidas; Dependem do entorno e cultura; A partir dos 2/3 anos; Outras funções. Descrição ilustrativa da atividade corporal em relação às emoções Depois de olharmos esse quadro, podemos compreender como as emoções têm profunda relação com fatores comportamentais como sudorese, mudança de expressão facial e batimentos cardíacos. Em um contexto de aprendizagem, todo(a) aprendiz pode se deparar com sentimentos adversos, como a frustração, a vergonha, o ciúme, a culpa, e também sentimentos mais positivos, como o entusiasmo, o interesse e a motivação. Essas emoções podem ser classificadas como desagradáveis ou agradáveis e dependentes de eventos disparadores, que podem ser internos ou externos de cada indivíduo. Resumindo Podemos então usar o termo “emoção” para nos referirmos tanto às emoções primárias quanto às secundárias. A rigor, as emoções primárias seriamaquelas que se manifestam de modo espontâneo e subitamente, sendo caracterizadas por uma alta intensidade. Já as secundárias podem ser sentidas por mais tempo e se caracterizam por reações bem marcadas e definidas. Emoções na aprendizagem Essa sequência descritiva que vamos utilizar para representar a aprendizagem é estudada no behaviorismo radical e se chama tríplice contingência. Todos nós nos comportamos de alguma maneira e grande parte desses comportamentos opera no ambiente onde cada um está inserido. Isso quer dizer que, quando algo acontece no ambiente (estimulo – S), isso nos faz emitir um comportamento (resposta – R) que produzirá, posteriormente, alguma consequencia (C) no ambiente no qual estamos inseridos e que nos afetará novamente, conforme imagem: A tríplice contingência As consequências produzidas pelos comportamentos podem ser reforçadoras ou punitivas. Quando são reforçadoras, elas aumentam a probabilidade de o comportamento voltar a ocorrer. Isso acontece porque, quando estamos sob o efeito daquilo que nos é reforçador, o circuito dopaminérgico entra em atividade, e esse circuito é responsável pelas emoções que nos são prazerosas. Logo, podemos inferir que emoções distintas podem levar a comportamentos motivados, e que talvez o único elemento em comum existente entre elas seja o reforço, responsável por motivar, prolongar ou encerrar um comportamento ou experiência emocional (LENT, 2010). Em contraponto, quando um determinado comportamento tem como consequência algo que nos é punitivo, a probabilidade de ele voltar a acontecer diminui. Aqui é importante fazermos uma ressalva, pois a punição em si não tem o efeito de eliminar ou enfraquecer comportamentos. Na verdade, os resultados dela são muito complicados por gerarem consequências aversivas. Atenção Quando usada em excesso, a punição não favorece a aprendizagem, pois só faz com que nos comportemos de maneira a escapar do que é aversivo (CHEVALIER, 2020). Vale lembrar que o raciocínio de que uma emoção é boa ou má não é muito funcional e aplicável na aprendizagem. A alegria não é necessariamente uma emoção boa e a raiva e o medo não são necessariamente emoções más (IZARD, 1990). Todas as emoções são benéficas porque dirigem a atenção e canalizam o comportamento para onde é necessário, segundo as circunstâncias enfrentadas. Com isso, cada emoção fornece uma prontidão única para responder a uma situação em particular. Veja a tabela a seguir, acompanhando a emoção, a situação de estímulos e o comportamento que será vinculado à experiência individual e à aprendizagem cultural, que expandem muito os itens e as funções da emoção. Visão funcional do comportamento emocional Emoção primária na escola: o medo Toda criança, em algum momento, diz “não sei” antes mesmo de tentar realizar qualquer atividade. Isso acontece muito em sala de aula, onde há um turbilhão de emoções que levam o aluno a dar essa resposta. Uma delas é o medo. São muitos medos grandiosos em uma palavra tão pequena: o medo de errar, o medo de tentar, o medo de ouvir que errou e o medo de dizer que não sabe. Podemos perceber que existe ainda o medo de ouvir palavras grosseiras dos colegas de classe e o medo de passar por uma situação de humilhação. Dizer que não sabe algo na frente dos outros pode também representar a confirmação de uma opinião dada anteriormente: “você não sabe”, “ele(a) realmente não sabe de nada”. Por outro lado, esse mesmo aluno pode ter sido incentivado a tentar fazer, a tentar realizar e a se expor, o que gera um entendimento de que na vida cometemos erros e acertos. Se diante de um erro a professora parabenizou o aluno pela garra de tentar acertar, essa é uma educação que promove uma importante função da aprendizagem: a adaptação do organismo ao ambiente. Ou seja, aprender é mudar e buscar o equilíbrio. Podemos chamar esse estado que promove um ajuste emocional de autorregulação, que é a função adaptativa de toda emoção. Se voltarmos ao aluno que erra e tem um reforço punitivo da professora, veremos que esse aluno provavelmente encontrará uma forma de se proteger fugindo da atividade devido ao medo de errar. Podemos refletir aqui sobre o papel do erro no processo de aprendizagem. Atividade discursiva De que modo você acredita que professores e professoras devem agir frente aos erros cometidos pelo(a) educando(a)? Chave de resposta Com base nos exemplos, percebemos que professores e professoras devem mudar sua abordagem frente aos erros cometidos pelo(a) educando(a), evitando estigmas que levem a emoções como o medo e a vergonha. Para Piaget (1896-1980), o erro faz parte do processo de assimilação que indica as tentativas de adaptação do novo conhecimento que as estruturas cognitivas do indivíduo podem alcançar (MORAIS, 2020). Essas tentativas de acerto que chamamos de erro devem ser avaliadas e interpretadas pelos educadores como indicadores dos ritmos e níveis de aprendizagem nos quais o aprendiz se encontra. Motivação: ponto de ligação entre a cognição e a aprendizagem Emoção secundária na escola: a vergonha Segundo Damásio (2013), a vergonha é categorizada como uma emoção secundária em sua classificação de emoções, pois ela depende de questões socioculturais para se manifestar. As emoções secundárias surgem das relações interpessoais. Vamos continuar analisando a situação de sala de aula na qual um aluno tem medo de errar. Já vimos que ouvir de alguém na escola “você não sabe” ou “ele(a) não sabe de nada” é muito difícil, ainda mais se vier de algum professor. Essa pode ser uma situação bastante desagradável e capaz de gerar muita vergonha. A vergonha gera um estado emocional desagradável no qual a pessoa sente o desejo de se livrar daquela situação, o que provoca uma confusão mental. Essa emoção é classificada como uma emoção autoconsciente, pois representa uma avaliação do próprio eu do indivíduo. Dessa forma, podemos entender quando um aluno se recusa a fazer uma atividade em conjunto com a turma, mas consegue realizá-la quando estão presentes somente os colegas que compartilham da mesma dificuldade que ele. Essa situação exemplifica a estratégia de evitar uma situação de constrangimento no caso de haver algum desnivelamento de alunos nas turmas. Se o medo e a vergonha forem misturados, o aluno poderá ser levado à tristeza e à ansiedade, o que vai refletir diretamente no seu processo de aprendizagem. Motivação: ponto de ligação entre a cognição e a aprendizagem Entenda agora a motivação, como ponto de ligação entre a cognição e a aprendizagem, e a sua importância para o processo escolar. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Emoção primária na escola: o medo Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Emoção secundária na escola: a vergonha Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 Existe uma emoção básica que está vinculada a uma atitude de suavizar as circunstâncias que provocam angústia para evitar que ela ocorra novamente. Essa emoção motiva um indivíduo a fazer o ambiente voltar à condição emocional anterior, desfazendo o estado de angústia. Pelo fato de nos sentirmos com essa emoção básica, somos mais propensos a pedir desculpas e a oferecer reparações. Qual resposta determina a emoção correta destacada no enunciado? A Tristeza B Alegria C Medo D Nojo E Raiva A alternativa A está correta. As emoções básicas que aparecem nas alternativas de respostas como alegria, medo, nojo e raiva não estão alinhadas com a definição do enunciado. O texto descreve uma emoção muito reparadora, e dentre as emoções básicas, a tristeza é a que está vinculada a uma atitude de suavizar as circunstâncias que provocam angústia e tende a evitar que ela ocorra novamente. As outras emoções dispostas como opção não têm esse perfil tão reparador como a tristeza.Questão 2 As emoções secundárias podem surgir por diferentes razões, tais como questões de heranças familiares, convenções sociais, religiosas, econômicas e até mesmo motivos culturais. Sobre as emoções secundárias e a suas características, qual a única resposta correta? A Há pouca diversidade de emoções. B Há pouca quantidade de emoções. C São formadas pela ligação e a interação das emoções primárias. D São conhecidas como emoções evolutivas e cognitivas. E São vivenciadas da mesma forma pelos indivíduos. A alternativa C está correta. A partir da mistura das emoções primárias, cada emoção se relaciona com as demais, e assim surgem as emoções secundárias. As outras opções são relacionadas às emoções secundárias, mas não estão completamente corretas. As emoções secundárias são inúmeras e têm uma grande diversidade. Elas são conhecidas como emoções evolutivas e sociais, e não cognitivas, sendo uma de suas caraterísticas importantes o fato de que cada indivíduo tem uma forma particular de processar e significar essa gama de emoções. 2. Interação entre processos cognitivos e emocionais Processos cognitivos e a relação razão-emoção Durante muitos séculos a emoção tem sido analisada em oposição à razão, como se uma fosse completamente independente da outra. A partir das investigações das neurociências, descobriu-se que os processos de raciocínio e de tomada de decisão estão integrados à emoção. Foi o trabalho de António Damásio (1996) que identificou que a possibilidade de a emoção ser reduzida ou intensificada seria prejudicial para a racionalidade humana. Em seus estudos realizados com indivíduos portadores de lesões neurológicas, Damásio (1996) ofereceu uma nova visão para essa dicotomia entre razão e emoção. Por meio de suas pesquisas, podemos rever um mito secular que afirma que a razão é mais eficiente na ausência da emoção, o que, na verdade, seria o contrário. Segundo o autor, é provável que o campo emocional auxilie o campo racional. Hoje, com o avanço de vários outros estudos das neurociências, já podemos afirmar que as emoções e os sentimentos são aspectos fundamentais da regulação biológica e podem elaborar uma ponte de conexão entre os processos racionais e os não racionais. Dois casos narrados pelo neurocientista Oliver Sacks (1995) são bons exemplos que mostram bem essa interação entre processos cognitivos e emocionais e as limitações humanas: Exemplo 1 O caso de um juiz que sofreu uma lesão no lobo frontal do cérebro como consequência da perfuração de fragmentos de uma granada. Em função da lesão, ele percebeu que não podia mais entender com compaixão as motivações de uma outra pessoa e, por essa razão, pediu a aposentadoria. O juiz alegou que a falta de emoção tornaria suas decisões parciais e pouco humanas. Assim, ele não se sentia mais qualificado para realizar o seu trabalho, já que a justiça, na sua opinião, envolveria também sentimentos, e não apenas o pensamento lógico. Exemplo 2 O caso de Temple Grandin, uma autista americana que tinha alguns problemas na área da afetividade. Seu campo emocional não apresentava deficiência, mas existia uma limitação concreta das emoções que não desempenhavam experiências humanas complexas. Sem as emoções não era possível executar as funções na comunicação de significados, ter orientação cognitiva e compreensão das mensagens e de seu conteúdo. Por causa disso, Grandin não tinha aderência em relações sociais, códigos e regras habituais do relacionamento humano. Apesar disso, ela revolucionou a pecuária ao observar em sua fazenda os mugidos do rebanho, percebendo em quais etapas do manejo esses mugidos se intensificavam e o porquê dessa intensificação. Grandin realizou essa pesquisa sobre manejo do gado de forma racional e comprovou que com um sistema de rebanho diferente seria possível aumentar a produtividade, diminuir custos e aumentar a qualidade do produto. Operação dos processos cognitivos A cognição está relacionada a uma atividade mental do cérebro que todos os seres humanos realizam durante a vida. O processo cognitivo é baseado na interpretação interna das informações que cada indivíduo tem armazenadas no cérebro. Esse processo se dá a partir da captação de informações do ambiente que promovem outras ações, tais como compreender a sua natureza humana, entender as próprias ideias, refletir como agir e reconhecer suas qualidades e limitações. Exemplo A tomada de decisão, que se reflete na análise sobre vantagens e desvantagens de mudar ou continuar no emprego, escolher o que comer, mudar de carro, escolher a carreira profissional que vai estudar, entre tantos outros dilemas da vida, é um exemplo claro de cognição. Aparentemente, nós, seres humanos, temos o hábito de pensar nesse tipo de coisa sem muito esforço, mas nada disso seria possível sem os processos cognitivos básicos (FERREIRA, 2014). São esses processos que nos ajudam a pensar, analisar, refletir, categorizar, escolher, entre outras ações. Os processos cognitivos básicos são os seguintes: Sensação; Percepção; Atenção; Memória; Pensamento; Linguagem. Os processos cognitivos superiores podem ser definidos como a união ou integração das informações provenientes dos processos cognitivos básicos. Um exemplo de processo cognitivo superior é o aprendizado, pois é representado pela combinação de processos como a atenção, a memória e o pensamento. Vamos saber mais sobre os processos cognitivos básicos de acordo com a Psicologia. Sensação Este é um processo inconsciente, no qual um estímulo apenas produz alteração no organismo, sem ocorrer ainda a sua interpretação. Esse processo da sensação se refere à identificação dos estímulos recebidos, feita com base em um conjunto de fatores. A sensação pode ser dividida em visual, auditiva, tátil, olfativa e gustativa. Percepção Este é um processo mental que organiza todas as informações provenientes do ambiente externo e do interno, e gera as informações que permitem dar significado. A personalidade de cada pessoa é geradora da interpretação que os seres humanos fazem do mundo. Isso quer dizer que a estrutura biológica de nosso cérebro é responsável pelos nossos interesses e pelo enquadramento das experiências que adquirimos ao longo da nossa vida. • • • • • • Atenção Um processo cognitivo básico fundamental e extremamente importante, que seleciona apenas aqueles estímulos que serão úteis, deixando de lado os que não serão úteis em determinados momentos. Caso nossa atenção seja dividida com alguns elementos de distração, podem ocorrer perdas de informações, pois é realizado um esforço mental maior, já que várias fontes de informações estão competindo entre si. Memória É um processo cognitivo básico muito importante que tem a função de receber, interpretar e armazenar todas as informações que chegam ao nosso cérebro. Pode-se dizer que a memória é um processo fundamental para o desenvolvimento da aprendizagem e, inclusive, para que os seres humanos possam ter uma identidade individual. Podemos classificar a memória em dois tipos: memória de longo prazo e memória de curto prazo. A memória de longo prazo é responsável por armazenar todas as lembranças, experiências e/ou conhecimentos durante muito tempo. Por outro lado, a memória de curto prazo armazena apenas as informações temporariamente. Pensamento Responsável por processar todos os tipos de imagens, ideias, experiências, sons, símbolos etc. graças à estimulação de diversos componentes do sistema nervoso. Segundo o modelo cognitivo da Psicologia, podemos regular e transformar todas as informações que armazenamos na memória por meio do pensamento. O pensamento analisa, avalia, classifica, compara, faz julgamentos e sabe como aplicar adequadamente todos esses conhecimentos. Guardaremos na mente todas as experiências para resolver problemas e criar coisas novas, aproveitando todas as informações. Linguagem Todos os elementos que fazem parte da linguagem, como as frases, as orações, os sons das letras, as sílabas e as palavrasse encaixam para oferecer uma informação com seu próprio significado. O estudo da linguagem se refere à pesquisa dos elementos que a representam e constituem uma gramática da linguagem. A linguagem pode ser preservada ao longo do tempo e foi transmitida de geração em geração na sociedade, pois permite que possamos expressar nossos pensamentos, ideias, emoções e sentimentos aos outros. Essa atividade que, à primeira vista, pode parecer tão simples, é extremamente complexa e nos permite ter relações interpessoais. Tudo isso mediante a materialização de certos símbolos que explicam nossos estados emocionais. Como os processos cognitivos atuam na aprendizagem? Para Lent (2010), cognição é o termo que os neurocientistas utilizam para se referir à razão. Ela pode ser definida como as ações mentais destinadas a conhecer o mundo e a nós mesmos, equivalendo ao que conhecemos por pensamento. Sternberg (2008) estabelece que a cognição é um processo contínuo, no qual uma nova informação é adquirida e transformada em conhecimento. Vamos fazer um exercício. Observe as seguintes imagens e procure interpretar as mesmas: Ao observarmos essas imagens e percebermos que nos processos cognitivos básicos a condição da estimulação visual inicialmente gera uma “confusão” na interpretação do estímulo, notamos que a percepção engloba diversos fenômenos de ordem psicológica. Em muitos casos a sensação e a percepção distorcidas das imagens podem ocasionar uma dificuldade de análise. Ao mesmo tempo que vemos rostos nas imagens, também observamos um jarro e podemos ficar trocando de perspectiva. Essa mesma percepção pode criar uma ilusão de óptica dependendo da forma como a figura é apresentada. Todas essas informações e organizações dos estímulos demandam certa aprendizagem. Esses dois processos nervosos, sensação e percepção, são a base do funcionamento do ato de aprender. Em um ambiente estimulador, há inúmeros sons, imagens, odores, aromas, texturas, entre outros. O ser humano aprende a identificar, por exemplo, cheiro de café, o pão fresquinho pela manhã, as cores do arco-íris, superfícies ásperas e lisas, além de sabores diversos, como salgado e azedo (CHEVALIER, 2020). Continuamente, a aprendizagem é intrínseca aos processos fisiológicos, que ocorrem do seguinte modo: Sensação: Acontece primeiro. Percepção: Ocorre em segundo. Cognição: Transcorre em terceiro, em um nível mais profundo. A cognição, por sua vez, corresponde à interação e integração dos estímulos aprendidos a partir da elaboração dos processos cognitivos básicos e superiores. Aprendemos também com o tempo de maturação, que pode aprimorar os sentidos. Esse amadurecimento vai sendo alcançado no decorrer do tempo e conforme a apresentação de estímulos, cada um em sua especificidade. A aprendizagem passa por vários vieses, ou seja, ela ocorre pelas vias motoras, verbal, visual e auditiva, cujos mecanismos vão desde os mais amplos, ou mesmo instintivos, até os mais complexos, que exigem um alto nível de raciocínio lógico (MORAIS, p. 62). A aprendizagem e a cognição são duas das bases mais importantes do desenvolvimento humano, pois sua organização e reorganização compreendem o funcionamento dos processos fisiológicos, comportamentais, emocionais, entre outros. Dois sistemas no equilíbrio da cognição e da emoção A discussão sobre a natureza da razão e da emoção já existe há muitos séculos, pois essas são perguntas que muitos filósofos e cientistas já se fizeram: Quem vem primeiro ou quem controla quem: emoção ou razão? Nós podemos controlar as emoções ou são as emoções que nos controlam? Essa última pergunta foi feita pelo neurocientista francês Joseph LeDoux (1998), que tem demonstrado que a relação entre emoção e cognição possui origens desde a Grécia Antiga. Platão, por exemplo, já dizia que paixões, sentimentos e emoções podem impedir os seres humanos de pensar claramente. Essa discussão foi tão intensa para o filósofo que ele chegou a comparar as emoções à imagem de cavalos selvagens que deveriam ser dominados pela capacidade intelectual. • • • • • Por esse motivo e pelas ações movidas pelas emoções é que se acreditava que seria necessário atuar com uma ação de controle sobre a paixão e o amor, por exemplo. O importante é lembrarmos que esse controle seria da nossa mente e da nossa capacidade intelectual. Vamos, então, a partir de agora, entrar no campo das ciências cognitivas e conhecer como as neurociências já contribuíram para aumentar esse conhecimento. Saiba mais Eysenck e Keane (2017), em seu Manual de Psicologia Cognitiva, discutem a influência dos processos cognitivos nas emoções. Como a linguagem, a memória e a atenção, por exemplo, interferem em emoções como o medo, a alegria, a tristeza, a raiva, o remorso, a culpa, a ansiedade, entre outras tantas. Segundo esses autores, a experiência relacionada ao sistema emocional depende de processos que podem envolver estímulos e avaliação por meio de informações já armazenadas e que são semelhantes a novas situações. Esses dois processos foram chamados por Eysenck e Keane (2017) de bottom-up (sistema de baixo para cima, processamento direcionado por estímulos externos, envolvendo atenção e percepção - processo emoção-cognição) e top-down (sistema de cima para baixo, análise e avaliação subjetiva de uma situação que envolve o conhecimento de situações semelhantes e outras já vivenciadas - processo cognição-emoção). A imagem a seguir ilustra a relação do processo emocional com a cognição humana. Processos de ativação cerebral top-down e bottom-up As regiões na coloração azul apresentam mais atividade cerebral no processo top-down, que corresponde basicamente ao controle inibitório, uma das funções mais importantes na cognição humana. Essa ativação ocorre, principalmente, pelo lobo frontal, nesse caso, relacionado com a ativação da amígdala, uma das principais estruturas envolvidas na emoção por estar localizada no centro do sistema límbico. As regiões com coloração amarela e vermelha apresentam uma intensa ativação nas estruturas dos lobos occipital, temporal e parietal, além de ativação intensa da amígdala. A pesquisa de Eysenck e Keane (2017) conseguiu demonstrar uma relação entre o controle inibitório frente a situações aversivas e às ativações das emoções. Relembrando as funções do cérebro, o funcionamento desse sistema envolve muitas estruturas, mas principalmente todo o sistema límbico e a amígdala, que serão responsáveis pela ativação das emoções. As evidências mostraram que: O sistema bottom-up É aquele que envolve os aspectos emocionais, sobretudo a regulação dos afetos negativos. O sistema top-down Envolve os processamentos do córtex frontal que está ligado ao funcionamento do regulador cognitivo. Resumindo, os processos cognitivos como a tomada de decisão, o raciocínio lógico e o controle inibitório são altamente complexos, contudo, eles podem ser relacionados diretamente ao sistema emocional. Exemplo Um jovem estudante está na época de prestar vestibular e se encontra muito indeciso sobre qual curso de graduação vai escolher. Só que essa decisão não se trata apenas de escolher um curso entre as áreas de humanas, exatas ou ciências biológicas, pois esse estudante está pensando em estudar fora da sua cidade ou ainda tentar estudar fora do país. Ele tem que pensar sobre essa mudança, avaliar a nova cidade, o clima, a disponibilidade de emprego, a distância da família, entre tantos outros fatores. São tantas rotinas diferentes que essa escolha acaba se tornando muito complexa. Note que para tomar essa decisão não se trata de estar na dúvida entre os cursos de Psicologia e Psicopedagogia, pois, nesse caso, esse estudante teria que observar diversos fatores que mudariam totalmente a sua rotina de vida. Perceba que existe um componente emocional que pode ser a alegria de ingressar em uma universidade e o medo de não ser aquilo que tinha sido sonhado. Nesse contexto, não existe apenas uma condição de razão ou paixão, pois aqui percebemoscomo a emoção tem uma relação profunda com os processos cognitivos. O controle inibitório tem grande responsabilidade no que diz respeito à tomada de decisão e será fundamental na escolha feita pelo nosso estudante universitário. Vamos lembrar da pergunta de LeDoux sobre a razão e as emoções: Nessa imagem, que representa bem as descobertas neurocientíficas sobre emoção e cognição, podemos ver como existem processos somáticos que estão exclusivamente endereçados ao corpo, que existem processos de razão superior e pensamentos que estão relacionados exclusivamente à cognição. Contudo, a área de inter-relação e sobreposição da emoção e cognição é estabelecida pelas nossas conexões neurais do cérebro. Essa área de conexão pode ser mapeada como um pensamento emocional e contempla para os neurocientistas uma plataforma de aprendizagem. Eysenck e Keane (2017) acreditam que nesse pensamento emocional, a emoção seria um produto gerado pela avaliação cognitiva e, de certa forma, seria determinada por um padrão que cada indivíduo constrói a partir do seu ambiente. Sendo assim, podemos resumir, sob a ótica da Neurofisiologia, que utilizamos os processos emocionais e cognitivos de forma inseparável e de forma concomitante (ao mesmo tempo). Emoção e cognição incorporadas na aprendizagem e infância Ao longo da infância é a emoção que abre o caminho para o desenvolvimento da cognição, ou seja, as funções cognitivas superiores das aprendizagens humanas mais complexas. Com o passar dos anos, os processos cognitivos vão se construindo e reconstruindo a partir das reações comportamentais, emocionais e afetivas. Assim se consolida a maturação do cérebro humano e, consequentemente, todo o neurodesenvolvimento da criança. Entretanto, a afetividade será fundamental nos primeiros meses de vida, pois as carências afetivas, a privação ou a perturbação das relações familiares (principalmente mãe-filho), ou ainda a ausência de cuidadores afetivos, serão condições que podem comprometer todo o desenvolvimento mental futuro da criança. Dessa mesma forma, a relação precoce professor-aluno pode ter sequelas no desenvolvimento afetivo. Essa relação deverá facilitar, mediar e acolher para que as aprendizagens escolares iniciais sejam eficientes e não evoquem sofrimento emocional nessa fase. Podemos então concluir que a emoção e a cognição se juntam para produzir aprendizagem, e isso ocorre porque a emoção é emanada do organismo. As manifestações corporais (múltiplas sensibilidades) e os aspectos motores (múltiplas motricidades), por meio da interação com o ambiente, geram uma multiplicidade de fenômenos psíquicos complexos. Esses fenômenos podem ser identificados com a importância das emoções e da afetividade nas aprendizagens. Atualmente, sabemos que, nos primeiros anos de vida, as crises emocionais são mais frequentes e intensas na formação do desenvolvimento humano. Dessa forma, a socialização da criança e as suas dificuldades de aprendizagem na escola podem ser comprometidas de maneira irremediável. O surgimento de crises emocionais ao longo dos processos de aprendizagem pode influenciar as ações de aprender a ler, escrever, calcular e resolver problemas. Assim, faz-se cada vez mais necessário e importante o conhecimento do campo emocional dos aprendizes na Psicopedagogia para que a aplicação de estratégias no processo de aprendizagem seja eficiente. Ainda hoje, a emoção tem sido pouco estudada, pelo menos de forma objetiva, já que ela é menos mensurável que a cognição. Devemos reconhecer que ela faz parte do desenvolvimento da criança e do jovem e que é parte integrante das suas aprendizagens. Emoções e aprendizagem significativa Fique agora com uma reflexão sobre a aprendizagem significativa, destacando as contribuições das emoções dentro desse processo. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Como os processos cognitivos atuam na aprendizagem? Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Dois sistemas no equilíbrio da cognição e emoção Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 Durante o processo decisório, alguns processos cognitivos altamente complexos são requisitados. A tomada de decisão, o raciocínio lógico e o controle inibitório podem ser relacionados diretamente com o sistema emocional. O sistema bottom-up (de baixo para cima) será responsável pela regulagem de aspectos específicos. Sobre esses aspectos, qual a única resposta correta? A Regulação dos afetos positivos. B Ativação do regulador cognitivo. C Processos de pensamento e julgamento. D Inibição da ativação da amígdala. E Regulação dos afetos negativos. A alternativa E está correta. O sistema bottom-up (de baixo para cima) será responsável pela regulação dos afetos negativos em virtude da intensa ativação das estruturas envolvidas na emoção, como a amígdala, que atua muito diante de situações aversivas. As alternativas não apresentam os aspectos do processo de bottom-up e precisam ser corrigidas. Os afetos positivos não estão relacionados às funções do processo de regulação de bottom-up (de baixo para cima), pois não haverá inibição das reações dos afetos negativos produzidos pela amígdala. Essa é uma resposta fisiológica, automática e de potencial inato. Os aspectos da ativação do regulador cognitivo e os processos de pensamento e julgamento estão relacionados ao processo do top-down (de cima para baixo). Questão 2 O primeiro passo para se sentir o mundo é dado por unidades neurais especializadas ou células receptoras que reagem a tipos específicos de energia. Existe um processo que se refere ao processo inicial de detecção e codificação da energia ambiental. Os sinais de energia são transformados em um código neural bioelétrico e enviados ao cérebro por meio dos sentidos de forma inconsciente. A esse processo damos o nome de A percepção. B cognição. C sensação. D percepção visual. E ambientação. A alternativa C está correta. A sensação é pertinente ao contato inicial entre o organismo e seu ambiente. As células receptoras reagem a tipos específicos de energia provindos do ambiente (tais como a luz, a pressão, o calor, as substâncias químicas e assim por diante) com nossos órgãos dos sentidos – nossas janelas para o ambiente. Os sinais de energia são transformados em um código neural bioelétrico e enviados ao cérebro. Sobre as outras alternativas, de acordo com o enunciado elas estão incorretas e vamos saber por quê. Percepção, cognição e percepção visual são estágios superiores que acontecerão após o primeiro contato sensorial. A ambientação não é um conceito de um processo neurofisiológico, mas sim uma das características da percepção visual. 3. Regulação emocional Manejo ou controle emocional Cognição e o impacto nas emoções Se pensarmos de uma forma mais pedagógica, podemos dizer que a emoção é um impulso neurobiológico que impele o organismo para uma ação. Cada indivíduo acumula no cérebro uma informação emocional a partir da sua experiência, e esse conhecimento será usado para agir com vantagem adaptativa e estratégica em possíveis situações futuras. Podemos, então, refletir que a emoção guia e acompanha todo o processo de aprendizagem como um processo neurológico básico. A emoção estabiliza a gestão e executa a “pilotagem” dos processos cognitivos, conativos e executivos que estão no cenário da aprendizagem (FONSECA, 2016). Uma das chaves do nosso triunfo adaptativo como espécie foi a sobreposição da cognição sobre a emoção. Ou seja, nossa capacidade de resolução de problemas e elaboração de inovações tecnológicas só é possível porque existe uma interdependência que integra a emoção e a cognição de forma neurofuncional. Para que nosso processo de aprendizagem seja realizado com sucesso, teremos, então, a implicaç��o de três componentes em interação sistêmica.São eles: Regulação emocional Conhecimento consciente Estratégias cognitivas Esses três componentes precisam estar alinhados e integrados, caso contrário, um aluno terá muitas dificuldades, perdendo a capacidade de aplicação do que aprendeu. Uma dificuldade recorrente em sala de aula é que muitos alunos não aprendem porque não sentem a conexão íntima entre a emoção e a cognição com as experiências de aprendizagem. Isso ocorre, muitas vezes, porque as atividades exclusivamente compostas por memorização podem acarretar conteúdos escolares ou acadêmicos com pouca significância emocional para os alunos. É preciso que a cognição refletida no conhecimento a ser analisado desencadeie reações emocionais positivas nos alunos. Na aprendizagem, espera-se que essas emoções que atuam na cognição com qualidade influenciem nas decisões e nas condutas de estudo, produzindo funções executivas, como a iniciativa, a perseverança, o esforço, a atenção sustentada e a determinação (MORAIS, 2020). Resumindo, a aprendizagem, a atenção, a percepção, o processamento de informação, a memória, a planificação, a tomada de decisão e a própria criatividade decorrem da sinergia entre o pensamento emocional e o racional. Emoções e seu impacto na cognição • • • Se refletirmos sobre a função das emoções nos processos cognitivos poderemos comentar sobre as necessidades de coerência, relevância e significação nos diversos processos mentais, tais como a atenção, a percepção, a memória, a planificação e a execução de respostas adaptativas. Os fatores emocionais têm a função de motivar e sustentar os processos de aprendizagem do ser humano desde as crianças até os idosos, pois as emoções estão engajadas nos comportamentos e nas respostas corpóreas e motoras adaptativas de todas as pessoas (FONSECA, 2016). Devido a essa interação, sabemos que um indivíduo é capaz de investir mais no aperfeiçoamento de suas competências e aprender melhor e continuamente se tiver as condições favoráveis à sua autorrealização. Isso quer dizer que, na aprendizagem, vale muito o estado de bem-estar do aprendiz. Assim, contam como elementos desse estado as necessidades atendidas, as motivações (extrínsecas e/ou intrínsecas), as aspirações, os objetivos, os planos e os sonhos (de curto, médio ou longo prazo). Em síntese, as emoções atuam sobre as cognições e sobre as ações específicas que permitem ao ser humano, primeiro, adaptar-se, e depois, aprender a aprender (MORAIS, 2020). Dessa forma, estudantes autorrealizados, chamados de bons alunos, vivem de acordo com o seu potencial de aprendizagem. Eles se sentem realizados porque precisam estudar para atingir os seus objetivos e satisfazer os seus sonhos, sem se remeterem a uma zona de sacrifício como dor, aversão, preguiça e procrastinação. O sentimento de autoeficácia que pode ser notado em estudantes motivados é ressaltado por Albert Bandura na teoria sociocognitiva. Essa teoria da autoeficácia aplicada à aprendizagem diz respeito ao fato de que todo aprendiz assume expectativas pessoais de sucesso ou de fracasso. Contudo, as expectativas de sucesso somadas à persistência levam o aluno a ter mais motivação para estudar, pois ele acredita que os seus esforços serão recompensados com melhores avaliações. Assim, as emoções, quando gerenciadas de forma equilibrada e sadia, propiciam aprendizagens benéficas e prazerosas, que são componentes indispensáveis para o desenvolvimento intelectual e cognitivo de todo aluno. O que é regulação emocional? O processo de regulação emocional é um elemento que confere ao indivíduo as competências necessárias para que respostas flexíveis sejam dadas às exigências do ambiente sobre a condição humana. Dentro desse contexto, destacam-se Teoria da avaliação É descrita por Eysenck e Keane (2017) como uma premissa teórica que considera que as respostas relacionadas às emoções são produzidas pelo organismo com base na avaliação da relevância das mudanças no ambiente e dos benefícios que estas últimas trazem ao indivíduo. Esses autores acreditam que a emoção é um produto gerado pela avaliação, que, por sua vez, de certa forma, é determinada por um padrão que cada indivíduo constrói. Regulação das emoções Essa abordagem teórica supõe que o nível de intensidade emocional aumenta de acordo com o passar dos anos. Nesse modelo, a partir da habilidade de regular nosso campo emocional, podemos diminuir, intensificar ou manter a emoção. O manejo das emoções é feito dependendo dos objetivos, que exercem uma influência sobre a forma como elas são experienciadas e expressas (EYSENCK; KEANE, 2017). Para entendermos melhor o modelo da regulação emocional, vamos refletir sobre a forma como atuamos e compreendemos os estímulos externos, que podem ser positivos ou negativos. Esses estímulos promovem a interconexão entre nossas cognições e emoções, gerando comportamentos e reações. Existem momentos nos quais somos capazes de acolher nossas emoções de maneira positiva e resolver os conflitos, mesmo inundados de sentimentos negativos. De fato, somos capazes de manejar sentimentos funcionais e disfuncionais e de reagirmos de forma proporcional e desproporcional. Exemplo Imagine uma pessoa que tem tido problemas para enfrentar suas próprias emoções e que vem se sentindo vulnerável constantemente. Sendo assim, precisamos de uma mediação emocional para que essa pessoa possa lidar com os eventos do cotidiano de maneira mais produtiva. Podemos dizer que, para que ela possa agir de forma funcional, será necessária uma regulação emocional. Com isso, podemos afirmar que a regulação emocional é um estilo de enfrentamento das situações do dia a dia (EYSENCK; KEANE, 2017). Na busca de uma vida mais funcional e que possa ser vivida de uma forma mais positiva, vamos apresentar cinco fatores cruciais para que um indivíduo possa regular suas emoções. Esses fatores se referem a processos de regulação emocional. São eles: Escolha de situação Onde será aplicada a habilidade de regulação de emoções. Avaliar situações nas quais é possível o surgimento de uma emoção desejável ou indesejável. Modificação da situação Atuar com esforços para modificar diretamente a situação e, assim, alterar o seu impacto emocional. Redirecionamento da atenção É a habilidade de escolha de para onde dirigir a atenção em uma dada situação e, assim, influenciar as suas emoções. Mudança cognitiva É a habilidade de alterar a forma como uma situação é avaliada, de modo a modificar o seu significado emocional. Modulação da resposta Observação das influências fisiológicas, experienciais ou comportamentais exercidas na resposta. O esquema a seguir apresenta o modelo baseado na regulação da emoção: A construção da regulação emocional tem início na relação familiar e a tendência é que haja uma reprodução do modelo aprendido dentro de casa na vida adulta. Contudo, temos em nosso organismo um termostato para o ambiente, e a regulação emocional propõe que possamos avaliar e perceber esse mundo externo e essa resposta interior aos estímulos externos, remanejando nossas próprias programações emocionais. Segundo Damásio (2013), as pessoas, desde o início da vida, já estão preparadas para enfrentar adversidades e situações que exigem um processo de adaptação. Crianças podem ter habilidade para regular suas emoções a partir da percepção das relações causais das próprias experiências emocionais. Esse processo da regulação emocional pode ser considerado como uma peça central entre a expressão emocional parental e as capacidades sociais. Crianças com quatro anos de idade já percebem que as emoções perdem a intensidade com o passar do tempo. Aos seis anos, elas já adquirem a capacidade de notar que a emoção some quando ela para de pensar nela. É a partir dessa compreensão que a criança aprende que pode mudar as suas emoções e passa a adquirir a capacidade de regulá-las. Uma vez que a emoção pode ser regulada, algumas situações e sentimentos se apresentam favoráveis para a aprendizagem. O tipo de emoção que acriança vivencia durante o processo de aprendizagem é determinado pelas estratégias utilizadas para sua realização. Em um cenário de adversidade, algumas pessoas podem utilizar formas disfuncionais para lidar com o seu processo de desregulação emocional, pois, assim, conseguem um certo alívio momentâneo para a angústia que sentem. As consequências são quase sempre negativas. Podemos encontrar no comportamento: As posturas autolesivas, com o uso excessivo de álcool ou drogas; A utilização de comportamentos de fuga ou evitação; Adoção da confrontação; e Comportamentos passivo-agressivos. Além disso, a intensa onda de emoções pode ser vivida pelo indivíduo como uma maneira opressora, intrusiva, problemática ou até em forma de pânico, terror, temor, trauma ou senso de urgência. A desativação das emoções inclui experiências dissociativas, de despersonalização, de desrealização ou entorpecimento emocional. Sendo assim, o processo de desregulação emocional pode ser considerado como um estilo de enfrentamento, no qual o indivíduo experimenta a intensificação excessiva das emoções ou sua total desativação. • • • • Regulação da emoção Psicopedagogia e a regulação emocional A questão de regulação emocional e aprendizado no campo da Psicopedagogia é um tema atual e de muito interesse para a educação infantil e juvenil. Desde 2020, o mundo vive os efeitos da pandemia da covid-19 em diversas áreas e podemos notar grande impacto negativo na saúde mental, o que vem gerando mudanças sociais, emocionais e pedagógicas para a educação. Segundo os dados da UNICEF, o Brasil foi um dos 21 países que participaram da pesquisa conduzida pelo UNICEF e o Gallup. Esse relatório sobre a situação mundial da infância em 2021 apresenta dados que mostram que 22% dos adolescentes e jovens brasileiros de 15 a 24 anos que foram entrevistados disseram que, muitas vezes, se sentem deprimidos ou têm pouco interesse em fazer atividades sociais e escolares. A pandemia afetou profundamente a saúde mental de todas as pessoas e representa um desafio para a educação das crianças e dos adolescentes de todo o mundo, pois a motivação, a autoestima e a autoeficácia estão muito prejudicadas, e esse será um novo e grande impulso de trabalho para educadores e psicopedagogos nos próximos anos. Nunca se fez tão necessária a compreensão e a aplicação da regulação emocional nos processos educativos e sociais como nesta etapa pós-pandemia. A área da Psicopedagogia é representada como uma relação e integração de três campos de estudo: Psicologia Pedagogia Neurologia O tema da regulação emocional pode ser encontrado nos três enfoques, no entanto, vamos aprofundá-lo aqui com uma perspectiva global da Psicopedagogia. Quais seriam os fatores que atuam na regulação emocional? Devemos mencionar dois campos de estudo que impactam as emoções no aprendizado e que estão relacionados a uma teoria biopsicossocial para a regulação emocional na Psicopedagogia: Fatores biológicos Ressaltam que cada indivíduo pode nascer com uma tendência a apresentar maior ou menor sensibilidade e controle de impulsos. Assim, nascemos biologicamente predispostos a sermos mais impulsivos ou mais sensíveis do que outras pessoas. Fatores sociais Nos fazem aprender a validar ou invalidar as emoções e poder regulá-las, pois isso está na esfera do aprendizado social e das relações familiares e escolares para crianças e adolescentes. Esse é um campo muito importante para psicólogos educacionais e psicopedagogos, pois deverão ser relevadas as características biológicas de maior ou menor sensibilidade nos processos de regulação 1. 2. 3. emocional. A qualidade das emoções se revela um fator de impacto na fase de aprendizado, e essa regulação emocional será aprendida pelos indivíduos no contato com o mundo e nas interações com as pessoas, no âmbito social. O desenvolvimento emocional ocorre em conjunto com o desenvolvimento cognitivo e o motor. Essa constatação é muito importante de ser feita, principalmente em diagnósticos. Muitas vezes, o psicopedagogo está mais interessado na avaliação cognitiva e motora e tem menor interesse na observação dos aspectos afetivos. Vale lembrar que os aspectos cognitivos, comportamentais e emocionais ocorrem juntos e durante os ciclos do desenvolvimento humano. Eles são nutridos pelas interações sociais, pelas mensagens que as pessoas significativas oferecem e pela forma como essas experiências são interpretadas por cada pessoa. Reflexão Como podemos refletir então sobre as mensagens e a forma de comunicação dos adultos com as crianças e adolescentes? Para os pequenos e os jovens, tudo o que eles ouvem se transforma em afirmações como: “Eu sei que eu sou assim”. Ao longo do tempo, os feedbacks fortalecem o que cada pessoa acredita sobre si mesma, tornando-se, assim, um processo de confirmação de crenças sobre autoimagem, autoestima e autoconceito. Sobre o controle inibitório na regulação das emoções, devemos entender que o nível da intensidade emocional pode aumentar no decorrer dos anos. Dessa forma, todas as estratégias de controle e manejo de emoções contribuem para o enfrentamento das adversidades e das situações cotidianas que nos exigem decisões por toda a vida. Entretanto, na infância e na juventude, quando nosso cérebro ainda está em formação e nossas emoções são mais vulneráveis, observamos que a regulação emocional será aprendida de forma neurofuncional, junto da maturação das funções executivas. Estratégias e abordagem na Psicopedagogia É recomendado que o profissional de Psicopedagogia observe, além dos aspectos cognitivos e motores, também os aspectos emocionais, pois esse campo emocional do cliente aprendiz será muito importante para o psicopedagogo na sua abordagem e nas escolhas de estratégias de intervenção. O campo das emoções poderá ser sempre uma distração no encaminhamento do processo de aprendizagem de um aprendiz. Essas distrações e ruídos emocionais poderão alterar a motivação, a autoestima e a autoeficácia dos alunos em atividades escolares, esportivas, artísticas e de performance. Algumas características desse campo emocional podem ser avaliadas em uma entrevista feita pelo psicopedagogo com os pais. A seguir, vejamos alguns passos para podermos realizar uma investigação dos aspectos emocionais de um(a) aprendiz com a família: Realizar uma anamnese. Investigar a estrutura e a dinâmica familiar. Observar o comportamento social do(a) aprendiz. Perguntar sobre as atitudes em relação a si mesmo, seu aprendizado, amigos e professor. Saber sobre as horas de sono (higiene do sono). Conhecer o comportamento alimentar e tipos de alimentos. Perguntar sobre as emoções mais frequentes. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Saber quem da família o(a) acompanha nas atividades escolares. Buscar conhecer as características e os aspectos emocionais reativos. Perguntar sobre as qualidades da personalidade e as habilidades. Perguntar sobre as dificuldades emocionais mais frequentes. Conhecer as estratégias que já foram utilizadas e que foram mais e menos eficazes na aprendizagem. Outras características do campo emocional podem ser avaliadas e compreendidas por meio de uma entrevista com o(a) professor(a). Seguem alguns passos para realizar uma investigação do(a) aprendiz, criança ou adolescente, no ambiente da escola: Quais são suas características comportamentais na escola? Quais são as qualidades de sua personalidade e suas habilidades? Quais as dificuldades emocionais mais frequentes? Quais são suas atitudes no processo de aprendizagem? Quais as principais dificuldades emocionais na escola? Quais tentativas de solução já foram feitas? Quais delas foram eficazes e quais falharam? Podemos destacar algumas estratégias de regulação emocional que são muito importantes para o equilíbrio do processo de aprendizagem e que têm impacto direto no campo das emoções. Fazer atividade física. Desenvolver práticas de atenção plena como mindfulness e yoga. Promover a autoaceitaçãoe o não julgamento, cultivar a gratidão e a compaixão por si e pelos outros. Regular a alimentação; promover alimentos com pró e prebióticos para aumentar a quantidade e diversidade da flora intestinal e com ômega 3. Promover higiene do sono. Medicina de Estilo de Vida Assim, concluindo nosso percurso de aprendizagem, podemos dizer que a saúde mental deve ser observada e cultivada constantemente, pois está intrinsecamente relacionada ao nosso estilo de vida saudável. As boas escolhas em nosso estilo de vida potencializarão os dois campos, o emocional e o cognitivo, gerando um melhor desenvolvimento e uma aprendizagem mais efetiva. Regulação emocional e cidadania 8. 9. 10. 11. 12. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 1. 2. 3. 4. 5. Entenda agora as contribuições da regulação emocional para o exercício da cidadania, com exemplos de comportamentos para uma vida mais funcional. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Emoções e o impacto na cognição Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. A Psicopedagogia e a regulação emocional Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 Em um ambiente estimulador há inúmeros sons, imagens, odores, aromas e texturas. O ser humano aprende a identificar o cheiro do café, as cores do arco-íris e o doce da sobremesa, e tudo isso é aprendizagem intrínseca à experiência. Dessa forma, podemos dizer que existe uma ordem sequencial nesse processo do aprender. Assinale a única resposta correta. A (1) Sentir – (2) Perceber – (3) Compreender. B (1) Perceber – (2) Sentir – (3) Compreender. C (1) Compreender – (2) Perceber – (3) Sentir. D (1) Compreender – (2) Sentir – (3) Perceber. E (1) Sentir – (2) Compreender – (3) Perceber. A alternativa A está correta. Em um primeiro momento, ocorre a sensação (sentir), posteriormente, a percepção (perceber) e, em um nível mais profundo, ocorre a cognição (compreender), que corresponde à interação e à integração dos estímulos aprendidos. As opções de resposta estão com os sentidos da aprendizagem trocados. Questão 2 O processo cognitivo denominado autocontrole é um dos responsáveis diretos pela coordenação e regulação das emoções. O autocontrole é importante A no controle e regulação apenas das emoções primárias, pelo motivo de serem inatas e importantes na adaptação humana diante dos perigos e situações que ativam o medo. B na regulação apenas da tristeza, em razão de esse processo cognitivo estar ligado às emoções secundárias, e não às primárias, pois todo o indivíduo precisa desse aspecto emocional para se autocontrolar. C no controle e regulação das emoções, pois o nível de intensidade emocional pode aumentar com o decorrer dos anos. Esse controle contribui para criar estratégias e enfrentar situações do cotidiano que exijam tomadas de decisão. D na regulação da cognição primária, pois ela se liga às funções cerebrais mais complexas e relacionadas ao sistema de pensamento top-down, que funciona de forma inconsciente e não está relacionada à tomada de decisão. E na regulação das emoções primárias nos momentos em que há situações de grande irritabilidade, mas sem relação com as emoções secundárias. A alternativa C está correta. No processo da regulação das emoções, uma pessoa com alto nível de ansiedade, com o passar do tempo, pode selecionar os locais aos quais irá e as pessoas com as quais conviverá, criando, assim, menos possibilidade de estresse. Por meio da utilização de processos cognitivos como atenção concentrada e seletiva, essa pessoa pode construir uma estratégia emocional para não se deparar com a condição de intensidade emocional. 4. Conclusão Considerações finais Neste conteúdo, aprendemos um pouco sobre o fenômeno emocional e entendemos como ele está profundamente relacionado com as funções cognitivas e com a nossa forma de aprender. Vimos como muitos autores buscam compreender, por meio de pesquisas e dos exames possibilitados pelas neurociências, saber mais sobre a natureza da emoção, seus processos psicofísicos e as relações entre a emoção e a razão. Você agora já é capaz de contextualizar as emoções primárias e secundárias relacionando-as com a aprendizagem, e já sabe que as emoções primárias são inatas e de sobrevivência, enquanto as emoções secundárias são elaboradas em contexto e por meio das relações sociais. Além disso, pôde ter uma noção da importância da investigação afetiva para a Psicopedagogia, bem como a observação dos aspectos cognitivos e motores. Continue essa jornada de aprendizado e descubra mais sobre as teorias de aprendizagem e desenvolvimento humano. Este conteúdo contribuiu para você se interessar e conhecer mais sobre o assunto, sendo uma parte relevante na evolução da sua formação acadêmica. Podcast Para encerrar, ouça a importância das emoções para a aprendizagem, com exemplos da atuação psicopedagógica. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ouvir o áudio. Explore + Saiba mais sobre as emoções primárias e secundárias em uma entrevista com o neurocientista António Damásio, disponível no YouTube, no canal de David Pires, e intitulada António Damásio – a diferença entre emoção e sentimento. Saiba mais sobre as emoções primárias e secundárias em uma entrevista com o neurocientista António Damásio, disponível no YouTube, no canal de David Pires, e intitulada António Damásio – a diferença entre emoção e sentimento. Assista a uma excelente aula com o professor Vitor Geraldi Haase, organizada pela Sociedade Brasileira de Neuropsicologia, e conheça algumas das contribuições da neurociência para o campo da Educação. O vídeo está disponível no YouTube, no canal da SBNp, e intitulado SBNp – Ciência Cognitiva e Educação: Neurociência e Aprendizagem. Assista a uma excelente aula com o professor Vitor Geraldi Haase, organizada pela Sociedade Brasileira de Neuropsicologia, e conheça algumas das contribuições da neurociência para o campo da Educação. O vídeo está disponível no YouTube, no canal da SBNp, e intitulado SBNp – Ciência Cognitiva e Educação: Neurociência e Aprendizagem. Entenda um pouco mais a teoria de Paul Ekman sobre as emoções básicas assistindo a uma análise do filme Divertidamente (2015), que mostra a vida de Riley e as cinco emoções que vivem dentro de uma adolescente: alegria, tristeza, nojo, medo e raiva. O vídeo está disponível no YouTube, no canal Como a Mente Funciona, e intitulado Entenda as emoções de Divertidamente na Psicologia. Entenda um pouco mais a teoria de Paul Ekman sobre as emoções básicas assistindo a uma análise do filme Divertidamente (2015), que mostra a vida de Riley e as cinco emoções que vivem dentro de uma adolescente: alegria, tristeza, nojo, medo e raiva. O vídeo está disponível no YouTube, no canal Como a Mente Funciona, e intitulado Entenda as emoções de Divertidamente na Psicologia. Continue refletindo sobre esse mesmo filme, dessa vez assistindo ao vídeo Divertidamente – entendendo os processos psicológicos básicos da memória e emoção, disponível no canal de Jemima Giron, do YouTube. Nele, você vai compreender melhor as teorias de Paul Ekman sobre esses outros dois processos. Continue refletindo sobre esse mesmo filme, dessa vez assistindo ao vídeo Divertidamente – entendendo os processos psicológicos básicos da memória e emoção, disponível no canal de Jemima Giron, do YouTube. Nele, você vai compreender melhor as teorias de Paul Ekman sobre esses outros dois processos. Assista a uma aula sobre aprendizado e emoção com a neurocientista Carla Tieppo para entender as emoções dos seus alunos e saber o que fazer para impulsioná-los rumo ao sucesso na escola e na vida. O vídeo está disponível no YouTube, no canal de Carla Silva, sob o título de Aprendizado e emoção segundo a Neurociência. Assista a uma aula sobre