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O evangelho de 
SÃO LUCAS 
, 
CADERNOS DE ESTUDO BIBLICO 
O evangelho de 
SÃO LUCAS 
Com introdução, comentários e notas de 
Scott Hahn e Curtis Mitch 
e questões para estudo de 
Dennis Walters 
Tradução de Alessandra Lass 
ECCLESIAE 
O evangelho de São Lucas: Cadernos de estudo bíblico 
1• edição-março de 2015-CEDET 
Título original: Catholic Study Bible: 1he Gospel of Luke -© Ignatius Press. 
Os direitos desta edição pertencem ao 
CEDET - Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico 
Rua Ângelo Vicentin, 70 CEP: 13084-060 - Campinas -SP 
Telefone: 19-3249-0580 
e-mail: livros@cedet.com.br 
Editor: 
Diogo Chiuso 
Editor-assistente: 
Thomaz Perroni 
Tradução: 
Alessandra Lass 
Revisão: 
Thomaz Perroni 
Editoração & Capa: 
Renan Santos 
Comelho Editorial· 
Adelice Godoy 
César Kyn d'Ávila 
Diogo Chiuso 
Silvio Grimaldo de Camargo 
� ECCLESIAE - www.ecdesiae.com.br 
Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio 
ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fococópfa, gravação ou qualquer meio. 
ÍNDICE 
INTRODUÇÃO A ESTE ESTUDO • 7 
Inspiração e inerrância bíblica • 8 
Auto ridade bíblica • 9 
Os sen tidos da Sagrada Escritura • 10 
Critérios para a in terp retação da Bíblia • l 3 
Usando este estudo • l 5 
Colocando tudo em perspectiva • l 7 
Uma nota final • l 7 
INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE LUCAS • l 9 
Auto ria • 19 
Data• 19 
Destinatários • 20 
Estrutura • 20 
Temática • 2 l 
ESQUEMA DO EVANGELHO DE LUCAS • 23 
O EVANGELHO DE LUCAS • 2 5 
Estudo da palavra: Recebeu • 3 3 
Mapa: O re i n o de He rodes no nasc imento de Jesus • 34 
Ensaio sobre u m tópico: Maria , a Arca da Aliança • 3 5 
Ensaio sobre um tóp ico: O censo de Quir ino • 41 
Quadro: As paráb o l as de Jesus • 68 
Estudo da palavra: Êxodo • 7 4 
Mapa: A peregr in ação dos j udeus da Gal i l é i a a Jerusalém • 78 
Estudo da palavra: Crianc inhas • lo 2 
Ensaio sobre um tópico: Jesus , o Fi lho do Homem • 102 
Mapa: A viagem fi na l p ara Jerusa lém • 108 
Estudo da palavra: Memória • l 2 l 
QUESTÕES PARA ESTUDO • l 3 O 
INTRODUÇÃO A ESTE ESTUDO 
vocÊ ESTÁ SE APROXIMANDO da "palavra de Deus". Esse é o título mais freqüente­
mente atribuído à Bíblia pelos cristãos e é uma expressão rica em significado. Esse é 
também o título atribuído à segunda pessoa da Santíssima Trindade, o Deus Filho 
- Jesus Cristo, que se encarnou para a nossa salvação "e é chamado pelo nome de 
Palavra de Deus" (Ap 19, 13; cf. Jo l, 14).1 
A palavra de Deus é a Sagrada Escritura. A Palavra de Deus é Jesus. Essa associa­
ção sutil entre a palavra escrita de Deus e sua Palavra eterna é intencional e presente 
na tradição da Igreja desde a primeira geração de cristãos. "Toda a Escritura divina 
é um único livro, e este livro é Cristo, 'já que toda Escritura divina fala de Cristo, 
e toda Escritura divina se cumpre em Cristo'2" (CIC 134). Isto não significa que a 
Escritura é divina da mesma maneira que Jesus é divino. Ela é, antes, divinamente 
inspirada e, como tal, é única na história da literatura universal, assim como a En­
carnação da Palavra eterna é única na história da humanidade. 
Podemos dizer ainda que a palavra inspirada assemelha-se à Palavra encarnada 
em muitos e importantes aspectos. Jesus Cristo é a Palavra de Deus encarnada; em 
sua humanidade, Ele é como nós em todas as coisas, exceto no pecado. A Bíblia, 
enquanto obra escrita pelo homem, é como qualquer outro livro, exceto pelo fato de 
não conter erros. Tanto Cristo quanto a Sagrada Escritura nos são dados "para nossa 
salvação" ,3 diz o Concílio Vaticano II, e ambos nos fornecem a revelação definitiva 
de Deus. Portanto, nós não podemos conceber um sem o outro - a Bíblia sem Je­
sus, ou Jesus sem a Bíblia. Um é a chave interpretativa do outro. É por que Cristo 
é o sujeito e o assunto de toda a Escritura que São Jerônimo afirma que "ignorar as 
Escrituras é ignorar a Cristo"4 (CIC 133). 
Ao aproximarmo-nos da Bíblia, então, nós nos aproximamos de Jesus, a Palavra 
de Deus; e para que o encontremos de fato, devemos abordá-lo através de um estudo 
devoto e piedoso da palavra inspirada de Deus, a Sagrada Escritura. 
Jo l, 14: "E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, 
cheio de amor e fidelidade". A tradução brasileira dos textos bíblicos utilizada ao longo de todo este estudo é a da Bíblia 
da CNBB (NE). 
2 Hugo de São Vítor, De arca Noe, 2, 8: PL 176, 642; cf. ibid., 2, 9: PL 176, 642-643. 
3 Dei Verbum, 11. 
4 Dei Verbum, 25; cf. S. Jerônimo, Commentarii in luziam, Prologus: CCL 73, 1 (PL 24, 17). 
7 
Cadernos de estudo bíblico 
INSPIRAÇÃO E INERRÂNCIA BÍBLICA5 
A Igreja Católica faz afirmações admiráveis em relação à Bíblia. É essencial para 
nós, se quisermos ler a Escritura e aplicá-la à nossa vida do modo como a Igreja pre­
tende que o façamos, que reconheçamos essas afirmações e as admitamos. Não basta 
que simplesmente concordemos, acenando positivamente com a cabeça, quando 
lemos as palavras "inspiradà', "única" ou "inerrante". É preciso que saibamos o que 
a Igreja quer dizer com esses termos e, depois, nos é necessário tornar pessoal essa 
compreensão. Afinal de contas, a forma como cremos na Bíblia influenciará inevita­
velmente o modo como vamos lê-la. E o modo como lemos a Bíblia, por sua vez, é 
o que determina o que nós "tiramos" de suas páginas sagradas. 
Esses princípios são válidos independentemente do que estamos lendo - uma 
reportagem de jornal, um aviso de "procura-se", uma propaganda, um cheque, uma 
prescrição médica, uma nota de despejo .. . O modo como lemos essas coisas (ou até, 
se as lemos ou não) depende muito de nossas noções pré-conceituadas a respeito 
da autoridade e confiabilidade de suas fontes - e também do potencial que têm de 
afetar diretamente nossa vida. Em alguns casos, a má interpretação da autoridade 
de um documento pode levar a conseqüências terríveis; noutros casos, pode nos im­
pedir de desfrutar certas recompensas das quais temos o direito. No caso da Bíblia, 
tanto as conseqüências quanto as recompensas envolvidas têm valor definitivo. 
O que quer dizer a Igreja, então, ao endossar as palavras de São Paulo - "Toda 
Escritura é inspirada por Deus" (2Tm 3, 16)? Uma vez que, nessa passagem, o termo 
"inspiradà' pode ser entendido como "soprada por Deus", segue-se então que Deus 
soprou sua palavra na Escritura assim como você e eu sopramos ar quando falamos. 
5 Na linguagem cotidiana, o termo "errante" costuma significar "andar a esmo", "andar sem rumo" ou "vaguear"; 
"inerrante", nesse sentido, se diria de algo que "anda com prop6sito", "com destino cerro". No entanto, o termo 
"inerrância" é empregado aqui no sentido estrito de "sem erros", mesmo - e assim também "inerrante" quer dizer "que 
não erra". Poder-se ia dizer "infalível", porém o autor faz uma clara distinção entre esses dois termos - "inerrante" e 
"infalível" - quando diz, mais à frente, que "o mistério da inerrância bíblica é de âmbito ainda mais abrangente que o de 
sua infalibilidade". A distinção esclarece que o autor está se referindo à escrita da Bíblia como inerrante, enquanto que 
se refere à interpretação do que foi escrito como infalível- dois adjetivos distintos para duas etapas distintas da relação 
com o texto sagrado: a escrita e a interpretação da escrita. Ambas são feitas pelo proprio Espírito Santo e, portanto, não 
podem falsear. -
Na Carta Encíclica Divino Aj/lante Spiritu, de setembro de 1943, o Papa Pio XII diz da doutrina da inerrância bíblica: 
•O primeiro e maior cuidado de Leão XIII foi expor a doutrina relativa à verdade dos Livros Sagrados e defendê-la dos ataques 
contrários. Por isso em graves termos declarou que não há erro absolutamente nenhum quando o hagiógrafo, /alando de coisas 
foicas, se atém ao que aparece aos sentidos; como escreveu o Angélico [Sto. Tomás de Aquino], exprimindo-se ou de modo 
metafórico, ou segundo o modo comum de falar usadonaqueles tempos e usado ainda hoje em muitos casos na conversação 
ordinária mesmo pe/,os maiores sábios'. De fato, 'não era intenção dos escritores sagrados, ou melhor, do Espírito Santo que por 
eles falava - são palavras de Sto. Agostinho -, ensinar aos homens essas coisas - isto é, a íntima constituição do mundo visível 
- que nada importam para a salvação'. {..] Nem pode ser taxado de erro o escritor sagrado, se aos copistas escaparam algumas 
inexatidões na transcrição dos códices' ou se é incerto o verdadeiro sentido de algum passo'. Enfim, é abs(Jlutamente vedado 'coarctar 
a inspiração unicamente a algumas partes da Sagrada Escritura ou conceder que o próprio escritor sagrado errou; pois que a divina 
inspiração 'de sua natureza não só exclui todo erro, mas exclui-o e repele-o com a mesma necessidade com que Deus, suma verdade, 
não pode ser autor de nenhum erro. Esta é a fé antiga e constante da Igreja" (NE). 
8 
O evangelho de São Lucas 
Isso significa que Deus é o autor primordial da Bíblia. Certamente Ele se serviu tam­
bém de autores humanos para essa tarefa, mas não é que Ele simplesmente os assistiu 
enquanto escreviam, ou então aprovou posteriormente aquilo que tinham escrito. 
Deus Espírito Santo é essencialmente o autor da Escritura, enquanto que os escritores 
humanos o são instrumentalmente. Esses autores humanos escreveram francamente 
tudo aquilo - e somente aquilo - que Deus queria: é a palavra de Deus nas exatas 
palavras de Deus. Esse milagre da dupla-autoria se estende a toda a Escritura e a 
cada uma de suas partes, de modo que tudo o que os seus autores humanos afirmam, 
Deus também afirma através de suas palavras. 
O princípio da inerrância bíblica decorre logicamente do princípio de sua divina 
autoria. Afinal de contas, Deus não mente, e nem erra. Sendo a Bíblia divinamente 
inspirada, nela não pode haver erro algum quanto àquilo que seus autores, tanto o 
divino quanto os humanos, afirmam ser verdadeiro. Isso quer dizer que o mistério 
da inerrância bíblica é de âmbito ainda mais abrangente que o de sua infalibilidade 
- a saber, o de que é garantido que a Igreja sempre nos ensinará a verdade em tudo 
aquilo que disser respeito à fé e à moral. É claro que o manto da inerrância sempre 
cobrirá também o campo das questões de fé e moral, mas ele se estende para mais 
longe ainda, no sentido de nos assegurar de que todos os fatos e eventos da histó­
ria de nossa salvação estão apresentados de modo exato na Escritura. A inerrância 
bíblica é a nossa garantia de que as palavras e os feitos de Deus narrados na Bíblia 
são verdadeiros e lá estão unificados, declarando numa só voz as maravilhas de seu 
amor salvífico. 
A garantia da inerrância bíblica não quer dizer, no entanto, que a Bíblia é uma 
enciclopédia universal, que serve a todos os propósitos e cobre todos os campos 
de estudo. A Bíblia não é, por exemplo, um compêndio das ciências empíricas - e 
não deve ser tratada como tal. Quando os autores bíblicos relatam fatos de ordem 
natural, podemos ter a certeza de que estão falando de modo puramente descritivo 
e "fenomenológico", de acordo com a maneira como as coisas se apresentaram aos 
seus sentidos. 
AUTORIDADE BÍBLICA 
Implícito nessas doutrinas6 está o desejo de Deus de se fazer conhecido por todo 
o mundo e de estabelecer uma relação de amor com cada homem; mulher e criança 
que Ele criou. Deus nos deu a Escritura não apenas para nos informar ou nos moti­
var; mais do que tudo, Ele quer nos salvar. É este o principal propósito que perpassa 
cada página da Bíblia - e cada palavra sua, na verdade. 
6 As doutrinas da inspiração, da inerrância e da dupla-autoria da Bíblia (NE). 
9 
Cadernos de estudo bíblico 
No intuito de se revelar, Deus usa aquilo que os teólogos chamam de "acomoda­
ção". Às vezes Ele se inclina para se comunicar conosco por "condescendêncià' - ou 
seja, Ele fala à maneira dos homens, como se Ele tivesse as mesmas paixões e fraque­
zas que nós temos (por exemplo, quando Deus diz que "se arrependeu" de ter feito 
o homem sobre a terra, em Gn 6, 6). Noutras vezes, Ele se comunica conosco por 
"elevação" - ou seja, dotando as palavras humanas de um poder divino (por exem­
plo, através dos profetas). Os inúmeros exemplos de acomodação divina na Bíblia 
são a expressão do modo sábio e paternal de proceder de Deus. Com efeito, um pai 
sensitivo fala com seus filhos tanto por condescendência, usando um palavreado in­
fantil, ou por elevação, trazendo o entendimento do filho a um nível mais maduro. 
A palavra de Deus é, portanto, salvífica, paternal e pessoal. Justamente porque fala 
diretamente conosco, nós nunca devemos ser indiferentes ao seu conteúdo; afinal de 
contas, a palavra de Deus é, ao mesmo tempo, objeto, causa e sustento da nossa fé. 
Ela é, na verdade, um teste para a nossa fé, uma vez que nós só vemos na Escritura 
aquilo que nossa fé nos faz ver. Se nosso modo de crer é o mesmo da Igreja, vemos na 
Escritura a revelação salvífica e inerrante de Deus, feita por Ele mesmo. Se cremos de 
modo distinto, vemos um livro totalmente distinto. 
Esse teste é válido e aplicável não só aos fiéis leigos, como também aos teólogos 
da Igreja e até aos seus membros da mais alta hierarquia - inclusive para o seu Ma­
gistério. Recentemente, o Concílio Vaticano II enfatizou que a Escritura deve ser 
"como que a alma da sagrada teologià'. 7 O Papa Emérito Bento XVI, ainda enquan­
to Cardeal Ratzinger, ecoou esse ensinamento com as próprias palavras, insistindo 
que "os teólogos normativos são os autores da Sagrada Escriturà' (grifo nosso). Ele nos 
lembra que a Escritura e o ensinamento dogmático da Igreja estão entrelaçados de 
forma tão firme ao ponto de serem inseparáveis: "O dogma é, por definição, nada 
mais que a interpretação da Escriturà'. Os dogmas já definidos de nossa fé, portan­
to, guardam em si a interpretação infalível da Igreja daquilo que está na Escritura, e 
a teologia é uma reflexão posterior sobre eles. 
OS SENTIDOS DA SAGRADA ESCRITURA 
Como a Bíblia é, ao mesmo tempo, de autoria divina e humana, é necessário, 
para lê-la coerentemente, que dominemos um tipo de leitura distinto daquele ao 
qual estamos acostumados. Primeiramente, temos que lê-la de acordo com seu sen­
tido literal, ou seja, do mesmo modo como lemos qualquer outro escrito humano. 
Neste estágio inicial, devemos nos empenhar na descoberta do significado originário 
que tinham as palavras e expressões usadas pelos escritores bíblicos à época em que 
primeiramente foram escritas e recebidas por seus contemporâneos. Isso quer dizer, 
7 Dei Verbum, 24. 
10 
O evangelho de São Lucas 
entre outras coisas, que não devemos interpretar tudo que lemos "literalmente", 
como se a Escritura nunca falasse de forma figurada ou simbólica {porque freqüen­
temente fala!). Pelo contrário: a lemos de acordo com as regras de escrita que go­
vernam seus diferentes gêneros literários, que variam dependendo do que estamos 
lendo - se é uma narrativa, um poema, uma carta, uma parábola ou uma visão 
apocalíptica. A Igreja nos exorta a ler os livros sagrados dessa maneira a fim de nos 
fazer compreender, com segurança, o que os autores bíblicos estavam se esforçando 
para explicar ao povo de Deus a cada texto. 
O sentido literal, no entanto, não é o único da Escritura; nós interpretamos 
suas sagradas páginas também de acordo com seus sentidos espirituais. Dessa for­
ma, buscamos compreender o que o Espírito Santo está tentando nos dizer para 
além daquilo que afirmaram conscientemente os escritores humanos. Enquanto 
que o sentido literal da Escritura descreve realidades históricas - fatos, ensinamen­
tos, eventos-, os sentidos espirituais desvelam os profundos mistérios abrigados 
através das realidades históricas. Os sentidos espirituais são para o literal o que a 
alma é a para o corpo. Você é capaz de distingui-los; porém, se tentar separá-los, a 
conseqüência imediata é fatal. São Paulo foi o primeiro a insistir nisso e já alertava 
para as conseqüências: "Deus[.. . ] nos tornou capazes de sermos ministros de uma 
aliança nova, não aliança da letra, mas do espírito; pois a letra mata, e o Espírito é 
que dá a vida" (2Co 3, 5-6). 
A tradição católica reconhece três sentidos espirituais que se erguem sobre o alicer­
ce do sentido literal da Escritura {cf. CIC 115): 
Alegórico. O primeiro é o alegórico, que revela o significado espiritual e profético da 
história da Bíblia. As interpretações alegóricas expõem como as personagens, os eventos 
e as leis da Escritura podem apontar para além deles mesmos, em direção ou a grandes 
mistérios ainda por vir (como no caso do Antigo Testamento) , ou aos frutos de mistérios 
já revelados (como no Novo Testamento). Os cristãos freqüentemente lêem o Antigo 
Testamento dessa forma para descobrir de que modo o mistério da Nova Aliança do 
Cristo já estava contido no da Antiga - e também de que modo a Antiga Aliança foi 
manifestada plena e finalmente na Nova. A compreensão alegórica é também latente no 
Novo Testamento, especialmente no relato da vida e da obra de Jesus nos evangelhos. 
Sendo Cristo a cabeça da Igreja e a fonte de sua vida espiritual, tudo aquilo que foi reali­
zado por Ele enquanto viveu no mundo antecipa aquilo que Ele continua realizando em 
seus membros através da Graça. O sentido alegórico fortalece a virtude da fé. 
Moral. O segundo sentido espiritual da Escritura é o moral, ou tropológico, que revela 
como as ações do povo de Deus, no Antigo Testamento, e a vida de Jesus, no Novo, nos 
incitam a criar hábitos virtuosos em nossa própria vida. Nesse sentido, da Escritura se 
II 
Cadernos de estudo bíblico 
tiram alertas contra vícios e pecados, assim como nela se encontra a inspiração para se 
perseguir a pureza e a santidade. O sentido moral fortalece a virtude da caridade. 
Anagógico. O terceiro sentido espiritual é o anagógico, que ascende-nos à glória celes­
te: mostra-nos como um incontável número de eventos contidos na Bíblia prefiguram 
nossa união final com Deus na eternidade; revela-nos como as coisas visíveis na terra são 
imagens das coisas invisíveis do céu. O sentido anagógico leva-nos a contemplar nosso 
destino e, portanto, é próprio para o fortalecimento da virtude da esperança. 
Junto do sentido literal, esses sentidos espirituais extraem a totalidade daquilo 
que Deus quer nos dizer através de sua Palavra e, portanto, abarcam o que a antiga 
tradição chamava de "sentido total" da Sagrada Escritura. 
Tudo isso significa que os feitos e eventos narrados na Bíblia são dotados de um 
sentido que vai além do que é imediatamente aparente ao leitor. Em essência, esse 
sentido é Jesus Cristo e a salvação que, morrendo, Ele nos concedeu. Isso é correto 
sobretudo nos livros do Novo Testamento, que explicitamente proclamam Jesus; 
porém é também verdadeiro para o Antigo Testamento, que fala de Jesus de um 
modo mais camuflado e simbólico. Os autores humanos do Antigo Testamento nos 
revelaram tudo que lhes era possível revelar, mas eles não podiam, à distância em 
que estavam, ver claramente que forma tomariam os eventos futuros. Só o Espírito 
Santo, autor divino da Bíblia, podia predizer a obra salvífica do Cristo (e assim o 
fez), da primeira página do livro do Gênesis adiante. 
O Novo Testamento, portanto, não aboliu o Antigo. Ao contrário, o Novo cum­
priu o Antigo e, assim o fazendo, levantou o véu que mantinha escondida a face da 
noiva do Senhor. Uma vez removido o véu, vemos de súbito o mundo da.Antiga 
Aliança cheio de esplendor. Água, fogo, nuvens, jardins, árvores, montanhas, pom­
bas, cordeiros - todas essas coisas são detalhes memoráveis na história e na poesia 
do povo de Israel. Mas agora, vistas à luz de Jesus Cristo, são muito mais que isso. 
Para o cristão que sabe ver, a água simboliza o poder salvífico do batismo; o fogo é 
o Espírito Santo; o cordeiro imaculado, o próprio Cristo crucificado; Jerusalém, a 
cidade da glória celestial. 
Essa leitura espiritual da Escritura não é novidade alguma. De fato, logo os pri­
meiros 'cristãos já liam a Bíblia dessa maneira. São Paulo descreve Adão como sendo 
uin "tipo" t}ue prefigurava Jesus Cristo (Rm 5, 14).8 Um "tipo" é algo, ou alguém, ou 
um lugar ou um evento - reais - do Antigo Testamento que prenuncia algo maior 
8 Rm 5,' 14: "Ora, a morte reinou de Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não haviam pecado, cometendo uma 
trarisgressão igual à de Adão, o qual éfigura daquele que devia vir" (grifo adicionado). As traduções deste trecho {não só as 
brasileiras) preferem o termo figura à palavra tipo, que aparece em algumas traduções inglesas. O termo latino encontrado 
na Vulgata é forma. Aqui, mantém-se o termo tipo pela associação imediara que se fàz com o conceito de tipologia (NE). 
I2 
O evangelho de São Lucas 
do Novo Testamento. É desse termo que vem a palavra "tipologià', referente ao es­
tudo de como o Antigo Testamento prefigura Cristo (CIC 128-130). Em outro tre­
cho, São Paulo retira significados mais profundos da história dos filhos de Abraão, 
declarando: "Isto foi dito em alegorià' (Gl 4, 24).9 Ele não está sugerindo que esses 
eventos distantes nunca aconteceram de fato; ele está dizendo que os eventos não só 
aconteceram mesmo como também significam algo maior ainda por vir. 
O Novo Testamento, depois, descreve o Tabernáculo da antiga Israel como sendo 
a "imitação e sombra das realidades celestes" (Hb 8, 5) e a Lei Mosaica como "uma 
sombra dos bens futuros" (Hb 10, 1). São Pedro, por sua vez, nota que Noé e sua 
família foram "salvos por meio da águà' que, de certo modo, "representavà' o sacra­
mento do Batismo, "que agora salva vocês" (lPd 3, 20-10). É interessante saber que 
a palavra grega que aí foi traduzida para "representavà' é originalmente um termo 
que denota o cumprimento ou contrapartida de um antigo "tipo". 
Não é preciso, no entanto, que busquemos justificar a leitura espiritual da Bíblia 
considerando apenas os discípulos. Afinal de contas, o próprio Jesus lia o Antigo 
Testamento assim. Ele se referia a Jonas (Mt 12, 39), a Salomão (Mt 12, 42), ao 
Templo Oo 2, 19) e à serpente de bronze Oo 3, 14) como "sinais" que apontavam 
para ele mesmo. Vemos no evangelho de Lucas, quando Cristo conversa com os 
discípulos no caminho para Emaús, que "começando por Moisés e continuando por 
todos os Profetas, Jesus explicava para os discípulos todas as passagens da Escritura 
que falavam a respeito dele" (Lc 24, 27). Foi precisamente essa interpretação espiri­
tual do Antigo Testamento que causou um profundo impacto nesses viajantes, antes 
tão desencorajados, e deixou seus corações "ardendo" dentro deles (Lc 24, 32). 
CRITÉRIOS PARA A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA 
Nós também devemos aprender a discernir o "sentido total" da Escritura e o 
modo como nele estão incluídos o sentido literal e os espirituais. Contudo, isso não 
significa que devemos "exagerar na interpretação", buscando significados na Bíblia 
que não estão de fato nela. A exegese espiritual não é um vôo irrestrito da imagina­
ção. Pelo contrário, é uma ciência sagrada que procede de acordo com certos prin­
cípios e permanece sob a responsabilidade da sagrada tradição, o Magistério, e da 
ampla comunidade de intérpretes bíblicos (tanto os vivos quanto os mortos). 
Na busca do sentido total de um texto, sempre devemos evitar a forte tendência de 
"espiritualizá-lo demais", de modo que a verdade literal da Bíblia seja minimizada ou 
9 GI 4, 24: "Simbolicamente i!;so quer dizer o seguinte: as duas mulheres representam as duas alianças [ ... )" (grifo adicionado). 
No�ente há divergências terminológicas: as traduções ora utilizam o termo simbolicamente, ora o termo alegoria. O termo 
latino encontrado na Vulgata é allegoriam. A tradução brasileira aqui escolhida, especificamente para este caso, é a da Bíblia 
de Jerusalém, São Paulo: Paulus, 2002; assim, mantém-se o termo alegoria no sentido de concordar com a uniformidade 
terminológica do restante da introdução (NE). 
1 3 
Cadernos de estudo bíblico 
até negada.Santo Tomás de Aquino, muito ciente desse problema, asseverou: "Todos 
os sentidos da Sagrada Escritura devem estar fundados no literal" (cf. CIC 116).10 
Por outro lado, jamais devemos confinar o significado de um texto em seu sentido 
literal, indicado pelo seu autor humano, como se o divino Autor não intencionasse 
que aquela passagem fosse lida à luz da vinda do Cristo. 
Felizmente, a Igreja nos deu diretrizes de estudo da Sagrada Escritura. O caráter 
único e a autoria divina da Bíblia nos clamam a lê-la "com o espírito". 11 O Concílio 
Vaticano II delineou de forma prática esse conselho direcionando-nos a ler a Escri­
tura de acordo com três critérios específicos: 
1 . Devemos "prestar muita atenção 'ao conteúdo e à unidade da Escritura inteira" (CIC 1 12) ; 
2. Devemos "ler a Escritura dentro 'da Tradição viva da Igreja inteirà" (CIC 1 1 3) ; 
3 . Devemos "estar atento[s] 'à analogia da fé"' (CIC 1 14; cf. Rm 1 2, 6). 
Esses critérios nos protegem de muitos perigos que iludem alguns leitores da 
Bíblia, do mais novo estudante ao mais prestigiado erudito. Ler a Escritura fora de 
contexto é uma tremenda armadilha, provavelmente a mais difícil de escapar. Num 
desenho animado memorável dos anos 50, um jovem garoto, debruçado sobre as 
páginas da Bíblia, dizia à sua irmã: "Não me perturbe agora; estou tentando achar 
um versículo da Escritura que fundamente meus preconceitos". Não há dúvida de 
que um texto bíblico, privado de seu contexto original, pode ser manipulado a dizer 
algo completamente diferente daquilo que seu autor realmente intencionava. 
Os critérios da Igreja nos guiam justamente porque definem em que consistem 
os "contextos" autênticos de cada passagem bíblica. O primeiro critério dirige-nos 
ao contexto literário de cada verso, no que se inclui não apenas as palavras e pará­
grafos que o compõem e o circundam, mas também todo o corpo de escritos do 
autor bíblico em questão e, ainda, toda a extensão dos escritos da Bíblia. O contexto 
literário completo de qualquer parte da Escritura inclui todo e qualquer texto desde o 
Gênesis até o Apocalipse - já que a Bíblia é um livro unificado, não uma coleção de 
livros separados. Quando a Igreja canonizou o livro do Apocalipse, por exemplo, ela 
reconheceu que ele seria incompreensível se lido separadamente do contexto mais 
amplo de toda a Bíblia. 
O segundo critério posiciona firmemente a Bíblia no contexto de uma comuni­
dade que valoriza sua "tradição vivà'. Tal comunidade é o Povo de Deus através dos 
séculos. Os cristãos viveram sua fé por bem mais que um milênio antes da invenção 
da imprensa. Por séculos, só alguns fiéis possuíam cópias dos evangelhos e, aliás, só 
10 Sto. Tomás de Aquino, Summa Theo/ogica l, l, 10, ad 1. 
1 1 Dei Verbum, 12. 
14 
O evangelho de São Lucas 
poucas pessoas sabiam ler. Ainda assim, eles absorveram o evangelho - através dos 
sermões dos bispos e clérigos, através de oração e meditação, através da arte cristã, 
através das celebrações litúrgicas e através da tradição oral. Essas eram as expressões 
de uma "tradição vivà', de uma cultura de viva fé que se estende da antiga Israel à 
Igreja contemporânea. Para os primeiros cristãos, o evangelho não podia ser enten­
dido à parte dessa tradição. Assim também é conosco. A reverência pela tradição 
da Igreja é o que nos protege de qualquer tipo de provincianismo cultural ou cro­
nológico, como alguns modismos acadêmicos que surgem, arrebatam uma geração 
inteira de intérpretes e logo são rejeitados pela próxima geração. 
O terceiro critério coloca a Escritura dentro do quadro da fé. Se cremos que a 
Escritura é divinamente inspirada, temos de crer também que ela é internamente 
consistente e coerente com todas as doutrinas nas quais os cristãos crêem. É impor­
tante relembrar que os dogmas da Igreja (como o da Presença Real, o do papado, 
o da Imaculada Conceição} não foram adicionados à Escritura; eles são, de fato, a 
interpretação infalível da. Escritura feita pela Igreja. 
USANDO ESTE ESTUDO 
Este estudo foi projetado para conduzir o leitor pela Escritura dentro das di­
retrizes da Igreja - fidelidade ao cânon, à tradição e ao credo. Os princípios in­
terpretativos usados pela Igreja, portanto, é que deram forma unificada às partes 
componentes deste livro, de modo a fazer com que o estudo do leitor seja eficaz e 
recompensador tanto quanto possível. 
Introduções. Nós fizemos uma introdução ao texto bíblico que, na forma de ensaio, 
abarca as questões sobre sua autoria, a data de sua composição, seus objetivos e propó­
sitos originais e seus temas mais recorrentes. Esse conjunto de informações históricas 
ajuda o leitor a compreender e a se aproximar do texto nos seus próprios termos. 
Comentários. Os comentários feitos em toda página ajudam o estudante a ler a Escritu­
ra com conhecimento. De forma alguma eles esgotam os significados do texto sagrado, 
mas sempre providenciam um material informativo básico que auxilia o leitor a encon­
trar o sentido do que lê. Freqüentemente, esses comentários servem para deixar explícito 
aquilo que os escritores sagrados tomavam por implícito. Eles também trazem um gran­
de número de informações históricas, culturais, geográficas e teológicas pertinentes à 
narrativa inspirada - informações que podem ajudar o leitor a suprimir a distância entre 
o mundo bíblico e o seu próprio. 
Notas e refe�cias. Junto do texto bíblico e de seus comentários, em cada página são 
listadas numerosas notas que fazem referência a outras passagens da Escritura relaciona­
das àquela que o leitor está estudando. Essas notas de acompanhamento são essenciais 
Cadernos de estudo bíblico 
para todo e qualquer estudo sério. São também um ótimo meio de se ver como o con­
teúdo da Escritura "se encaixa'' numa unidade providencial. Junto às notas e referências 
bíblicas, os comentários também apontam a determinados parágrafos do Catecismo da 
Igreja Católica (CIC) . Eles não são "provas doutrinais" e sim um auxílio para que a inter­
pretação da Bíblia por parte do estudante esteja de acordo com o pensamento da Igreja. 
Os parágrafos do Catecismo mencionados ou tratam diretamente de algum texto bíblico 
ou tratam, então, de um tema mais amplo da doutrina que lança uma luz essencial ao 
texto bíblico relacionado. 
Ensaios sobre tópicos, Estudos de palavras e Quadros. Esses recursos trazem ao leitor 
um entendimento mais profundo a respeito de determinados detalhes. Os emaios sobre 
tópicos abordam grandes temas no sentido de explicá-los de modo mais minucioso e 
teológico do que o que se usa nos comentários gerais, relacionando-os com freqüência 
às doutrinas da Igreja. Os comentários, inclusive, são ocasionalmente complementados 
de um estudo de palavras que coloca o leitor em contato com as antigas linguagens da 
Escritura. Isso deveria ajudar o estudante a apreciar e a entender melhor a terminologia 
que foi inspirada e que percorre todos os textos sagrados. Também neste livro estão in­
cluídos vários quadros que resumem muitas informações bíblicas "num piscar de olhos" . 
Ícone - Os seguintes ícones, intercalados ao longo dos comentários, correspondem cada 
qual a um dos três critérios de interpretação bíblica promulgados pela Igreja. Pequenas 
bolas pretas ( · ) indicam a que passagem (ou a que passagens) cada ícone se aplica. 
ITI Os comentários marcados pelo ícone do livro relacionam-se ao primeiro critério 
� interpretativo, o do "conteúdo e unidade" da Escritura, a fim de que se torne ex­
plícito o modo como determinada passagem do Antigo Testamento ilumina os· mistérios 
do Novo. Muitas das informações contidas nesses comentários explicam o contexto ori­
ginal das citações e indicam a maneira e o motivo pelo qual aquele trecho tem ligação 
direta com Cristo e com a Igreja. Por esses comentários, o leitor é capaz de desenvolver 
sua sensibilidade à beleza e à unidade do plano salvífico de Deus, que perpassa ainbos os 
Testamentos. 
1111'1 Os comentários marcados pelo ícone da pomba
. 
relacionam-
.se ao segundo critério 
.. interpretativo e examinam as passagens em questão à luz .da "tradição vivà' da 
Igreja. Como o mesmo Espírito Santo foi quem inspirou os sentidos espirituais da Escri­
tura e é quem guia agora o Magistério que a interpreta, as informações contidas nesses 
comentários seguem essas duas vias da interpretação. Por um lado, referem-se aos ensi­
namentos doutrinais da Igreja da maneira como são apresentados por vários papas e 
concílios ecumênicos; por outro lado, eles expõem (e parafraseiam) as intttrpiet�ções 
espirituais de vários Padres Antigos, Doutores da Igreja e santos. 
16 
O evangelho de São Lucas 
l!li1 Os comentários marcados pelo ícone das chaves relacionam-se ao terceiro critério 
� interpretativo, o da "analogia da fé" . Neles é possível decifrar como um mistério 
da fé "desvendà' e explica outro. Esse tipo de comparação entre alguns pontos da fé 
cristã evidencia a coerência e unidade dos dogmas definidos, ou seja, da interpretação 
infalível da Escritura feita pela Igreja. 
COLOCANDO TUDO EM PERSPECTIVA 
Talvez tenhamos deixado por último o mais importante aspecto de todo este 
estudo: a vida interior individual do leitor. O que tiramos ou deixamos de tirar da 
Bíblia depende muito do modo como a abordamos. Se não mantivermos uma vida 
de oração consistente e disciplinada, jamais teremos a reverência, a profunda humil­
dade ou a graça necessária para ver a Escritura como ela de fato é. 
Você está se aproximando da "palavra de Deus". Mas, por milhares de anos - des­
de muito antes de tecer-lhe no ventre de sua mãe -, a Palavra de Deus se aproxima 
de você. 
UMA NOTA FINAL 
O livro que tem nas mãos é apenas uma pequena parte de um trabalho muito 
maior que ainda está em andamento. Guias de estudo como este estão sendo prepa­
rados para todos os livros da Bíblia e serão publicados gradualmente, à medida que 
forem sendo finalizados. Nosso maior objetivo é publicar um grande estudo bíblico 
que, num único volume, inclua o texto completo da Escritura junto de todos os 
comentários, quadros, notas, mapas e os outros recursos encontrados nas páginas 
seguintes. Enquanto isso não acontece, cada livro será publicado individualmente, 
na esperança de que o povo de Deus possa já se beneficiar deste trabalho antes mes­
mo que esteja completo. 
Aqui incluímos ainda uma longa lista de questões de estudo, ao final, para deixar 
este formato o mais útil possível, não apenas para o estudo individual, mas também 
para discussões em grupo. As questões foram projetadas para fazer o estudante tanto 
compreender quanto meditar a Bíblia, aplicando-a à própria vida. Rogamos a Deus 
para que faça bom uso dos seus e dos nossos esforços para renovar a face da terra! 
17 
INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE LUCAS 
AUTORIA 
Os manuscritos primitivos do terceiro evangelho são intitulados "Segundo Lucas" 
(do grego Kata Loukan). Esta rubrica serve como um sinal da tradição apostólica, 
pois os primeiros cristãos atribuíram por unanimidade a obra a Lucas, um médico 
gentio que andava na companhia do apóstolo Paulo (2Tm 4,11; Fm 24). Vários 
Padres da Igreja, como Ireneu (180 d.C.), Tertuliano (200 d.C.) e Clemente de Ale­
xandria (200 d.C.), afirmaram a autoria do terceiro evangelho a Lucas, e uma lista 
anônima de livros do Novo Testamento, chamados de Fragmentos Muratorianos (c. 
170 a.C.), também associam o nome dele. Não há, portanto, razão para duvidar da 
autoria do evangelho de Lucas, uma vez que a tradição é praticamente indiscutível 
no início do cristianismo. 
O próprio Lucas é único entre os autores do Novo Testamento. Primeiro, porque 
ele é o único autor gentio a compor um livro do Novo Testamento. Todos os outros 
eram de origem israelita. Paúlo sugere sua identidade pagã quando enumera "Lucas, 
o querido médico" entre seus companheiros incircuncisos (Cl 4, 14). Ademais, Lucas 
é o único evangelista a escrever uma seqüência. Além deste evangelho, ele escreveu os 
Atos dos Apóstolos como a segunda parte de uma obra de dois volumes. O livro dos 
Atos começa no ponto em que a narrativa do evangelho de Lucas termina, mostrando 
como a atuação do Espírito Santo na vida de Jesus agora opera na comunidade viva 
do corpo místico de Cristo, a Igreja. 
DATA 
Os estudiosos não sabem ao certo quando o evangelho de Lucas foi escrito. Al­
guns defendem uma data do início dos anos 60, enquanto outros preferem uma 
data posterior, nos anos 80. Ao supor a autoria de Lucas, o peso da evidência pende 
para a data mais antiga. Isso se deve, em parte, à estreita ligação entre o evangelho 
de Lucas e à sua seqüência, os Atos dos Apóstolos (At 1,1). 
1 . O livro dos Atos termina abruptamente com a prisão domiciliar de Paulo em Roma 
por volta de 62 d.C., sem qualquer indício quanto ao resultado do seu julgamento ou 
suas atividades subseqüentes. 
2 . Embora nos Atos Lucas muitas vezes nos chame a atenção sobre a relação do cristia­
nismo com o Império Romano, ele não diz nada sobre a perseguição romana aos cristãos 
em meados dos anos 60, nem menciona que Pedro e Paulo - os protagonistas dos Atos 
19 
Cadernos de estudo bíblico 
- foram martirizados nesta época. 
3. Nem o evangelho nem o livro dos Atos nos informa sobre a completa destruição de 
Jerusalém pelo exército romano no ano 70 d.C. 
No seu conjunto, o silêncio de Lucas sobre essas questões importantes é um forte 
indício de que tanto seu evangelho quanto o livro de Atos foram escrito no início 
dos anos 60, antes de qualquer um desses eventos ter se realizado. 
DESTINATÁRIOS 
Lucas dirige seu evangelho a "Teófilo" (1, 3), possivelmente um oficial romano 
que concordou em financiar a publicação da obra. Se é assim, a intenção de Lucas 
pode ter sido que seu evangelho fosse distribuído e lido de forma mais ampla por 
meio do patrocínio de Teófilo. Seu público-alvo provavelmente incluía cristãos gen­
tios em todo o mundo mediterrâneo, bem como israelitas e samaritanos que viviam 
entre eles na Diáspora. Em prol dos leitores gentios, Lucas omite, por vezes, palavras 
semitas, ou simplesmente as substitui por seus equivalentes gregos, para tornar o 
seu enredo mais legível para os crentes não familiarizados com o aramaico. Lucas é 
também muito aprimorado no uso do Antigo Testamento. Embora poucas citações 
diretas apareçam no evangelho, alusões e ecos do Antigo Testamento abundam. Isto 
torna mais provável, então, que Lucas estivesse dirigindo a sua mensagem não só 
para o mundo gentio, mas também para os leitores há muito familiarizados com as 
Escrituras de Israel. 
ESTRUTURA 
O evangelho de Lucas é muito bem escrito e logicamente organizado. Ele nos 
dá um "estudo cuidadoso" (1, 3) de todo o âmbito da vida terrena de Jesus, desde 
o anúncio do seu nascimento até sua ascensão aos céus. A estrutura do evangelho 
é simples e geralmente segue uma linha semelhante a Mateus e Marcos. Depois de 
abrir com um Prólogo clássico (1, 1-4), Lucas começa sua história com a Narrativa 
da Infância (1, 5-2: 52) o nascimento de Jesus e seu precursor, João Batista. Estes 
episódios estão cheios de alegria e esperança de que Jesus vai trazer o cumprimento 
de todas as promessas das Escrituras. A maior parte da seção central do evangelho 
é dedicada à vida pública de Jesus. Após várias Preparações (3, 1-4, 13) para o mi­
nistério, Jesus começa a pregar e ensinar pelo seu Minist�rio Galileu (4, 14 e 9, 50), 
e, em seguida, embarca em uma longa Viagem a jerusalém (9, 51-19, 27), a cidade 
oride o plano redentor de Deus está destinado a se revelar; Finalmente Jesus entra 
na Cidade Santa em uma procissão régia no início das Narrativas da Semana da 
Paixão (19, 28-23, 56). É durante esta semana final e fatal que Jesus é traído, preso e 
crucificado pelos líderes de Jerusalém, em colaboração com as autoridades romanas. 
Finalmente, o evangelho culmina com a Ressurreição e Ascensão (24, 1-53) de Jesus 
como o vencedor do pecado e da morte. 
20 
O evangelho de São Lucas 
TEMÁTICA 
Embora Lucas demonstre interesse em muitas facetas davida e da missão de Je­
sus, o único tema que se eleva acima de todos os outros é a mensagem universal da 
salvação. Pois Lucas enfatiza em todo o seu evangelho que Cristo veio para reunir 
todos os povos e nações na família de Deus. 
1 . A salvação de Israel. Lucas primeiro ancora seu evangelho nas tradições do Antigo 
Testamento, que retrata Jesus como o Salvador do povo de Deus da Antiga Aliança. 
Ele nos mostra, entre outras coisas, que Jesus veio para iniciar a restauração de Israel 
predita pelos profetas (Is 1 1 , 1 0- 1 2; 49, 6; Ez 39, 25-29) . Assim, ele retrata Jesus como 
o Messias real que vem na linhagem e legado do Rei Davi para congregar as tribos 
dispersas de Israel, reunindo-as em seu reino ( 1 , 33, 68, 22, 28-30) . Este tema está 
por trás de inúmeras referências do evangelho a "Israel" ( 1 , 54, 68, 80; 2, 32; 24, 2 1 ) 
e a compreensão positiva que lança sobre o s descendentes dos israelitas do norte, os 
samaritanos ( 1 0, 33; 1 7, 1 6, At 8, 1 4) . 
2. Salvação das Nações. O perdão que Jesus estende a Israel atinge também os gentios, 
fazendo com que a família da Nova Aliança tenha âmbito internacional. Simeão cha­
ma Jesus de "uma luz para iluminar as nações" (2, 32) , enquanto João Batista usa as 
palavras de Isaías para anunciar que "todo homem" pode agora buscar a salvação em 
Cristo (3, 6) . Especialmente as notas finais do evangelho ressoam este tema em que 
Jesus diz aos apóstolos que o perdão deve ser levado de Jerusalém "a todas as nações" 
(24, 47) . 
3 . A salvação dos humildes. A mensagem de Jesus a Israel e às nações é também para os 
exclu�dos, os pobres, e o mal-afamado. Lucas preserva uma série de declarações vigo­
rosas sobre a preocupação de Deus com os humildes e oprimidos ( 1 , 52-53; 4, 1 8 ; 6, 
20-26, 14, 7- 1 1 ) . De modo particular as mulheres são apresentadas favoravelmente ao 
longo deste evangelho, apesar da sua outrora baixa posição social na antiguidade. O 
retrato que Lucas faz da Virgem Maria é simplesmente inigualável no Novo Testamen­
to por sua beleza e sensibilidade ( 1 , 26-56; 2, 1 9 , 5 1 ) . Outras mulheres também de­
sempenham papéis importantes na história: Isabel ( 1 , 39-45) , Ana (2, 36-38) , a viúva 
de Naim (7, 1 1 - 1 7) , a mulher pecadora (7, 36-50) , Maria Madalena (8 , 2) , Joana (8, 
3) , Susana (8, 3 ) , Maria e Marta de Betânia ( 1 0, 38-42) , e a mulher com um espírito 
de enfermidade ( 1 3 , 1 O - 1 7) . As mulheres também figuram nas parábolas de Jesus da 
Moeda Perdida ( 1 5 , 8- 1 0) e do Juiz Injusto ( 1 8, 1 -8) . 
Outras características marcantes incluem contribuições únicas de Lucas à tra­
dição evangélica. Pois apenas Lucas narra as parábolas do Bom Samaritano (1 O, 
25-37) e do Filho Pródigo (15, 11-32). Só Lucas nos fala da Anunciação de Gabriel 
a Maria (1, 26 38), a experiência da infância de Jesus no Templo (2, 41-51), e os 
detalhes de sua ascensão à glória (24, 50-53). E só Lucas conservou alguns dos mais 
belos hinos da Igreja, como o Magnificat de Maria (1, 46-55), o Benedictus de Za-
2 1 
Cadernos de estudo bíblico 
carias (1, 68-79), o Nunc Dimittis de Simeão (2, 29-35), e o Glória cantado pelos 
anjos na noite de Natal (2, 14). 
Não há dúvidas de que Lucas nos legou uma obra-prima artística e espiritual. O 
seu segundo volume, os Atos dos Apóstolos, pode ser considerado da mesma forma. 
Juntos, esses escritos dão testemunho claro e convincente da grandeza de Jesus Cris­
to, que continua a sua missão de salvar o mundo por meio da Igreja. 
22 
ESQUEMA DO EVANGELHO DE LUCAS 
I. Prefácio 
II. Narrativa da Infância (1, 5 - 2, 52) 
1. Anúncio do nascimento de João e Jesus (1, 5-38) 
2. A visitação (1, 39-56) 
3. Nascimento de João Batista (1, 57-80) 
4. Nascimento e apresentação de Jesus (2, 1-40) 
5. Encontro de Jesus no Templo (2, 41-52) 
III. Preparação para o ministério (3, 1 - 4, 13) 
1. Ministério de João Batista (3, 1-20) 
2. Batismo e genealogia de Jesus (3, 21-38) 
3. Tentação de Jesus (4, 1-13) 
lY. Ministério galileu (4, 14 - 9, 50) 
1. Rejeição em Nazaré (4, 14- 30} 
2. Cura aos doentes e o chamado dos discípulos ( 4, 31 - 6, 16) 
3. Sermão da Montanha (6, 17-49) 
4. Jesus como profeta da cura e dos ensinamentos (7, 1 -9, 27) 
5. A Transfiguração (9, 28-36) 
6. Lições sobre fé e humildade (9, 37-50) 
V. Viagem a Jerusalém (9, 51 - 19, 27) 
1. Primeira à segunda referência a Jerusalém (9, 51- 13, 21) 
2. Segunda à terceira referência a Jerusalém (13, 22- 17, 10) 
3. Terceira à quarta referência a Jerusalém (17, 11 - 18, 30) 
4. Quarta à quinta referência a Jerusalém (18, 31 -19, 27) 
VI. Narrativas da Semana da Paixão (19, 28 - 23, 56) 
1. Quando Jesus entra em Jerusalém e ensina (19, 28 - 20, 47) 
2. O Sermão de Jesus no Monte das Oliveiras (21, 1-38) 
3. Celebração da Páscoa (22, 1-38) 
4. Agonia e prisão de Jesus (22, 39-53) 
5. Julgamentos de Jesus (22, 54 - 23, 25) 
6. Crucificação e sepultamento de Jesus (23, 26-56) 
VII. Ressurreição e Ascensão (24,1-53) 
1. O túmulo vazio (24, 1-12) 
2. Aparições após a Ressurreição (24, 13-49) 
3. Ascensão aos céus (24, 50-53) 
O EVANGELHO DE 
,,.,, 
SAO LUCAS 1 Dedicatória a Teófilo .:_ 1Muitas pessoas já tentaram escrever a história dos acontecimentos 
que se passaram entre nós. 2Elas começaram do que nos foi transmitido por aqueles. que, desde 
o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra. 3 Assim sendo, após fazer um 
estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever para você 
uma narração bem ordenada, excelentíssimo Teófilo. 4Desse modo, você poderá verificar a solidez dos 
ensinamentos que recebeu. 
1, 2: !Jo l, I; Ac 1, 2 1 ; Hb 2, 3. · 1, 3: At 1 , 1 . 0 l, 4: Jo 20, 3 1 . 
COMENTÁRIOS 
1 , 1-4: Lucas começa com um prólogo e 
uma dedicatória pessoal. Estilisticamente, ele 
segue um formato convencional que foi usado 
como prefácio de obras históricas no mundo 
helenístico. Desse modo, Lucas delimita o 
registro da história não como uma coleção 
obsoleta de fatos e números, mas como uma 
apresentação evangelística da vida e da missão 
de Jesus. 
1, 2: "nos foi transmitido" - Lucas é pro­
vavelmente um cristão da segunda geração. 
Sua obra é em grande parte devida ao relato de 
testemunhas ocu/,ares e ministros do evangelho 
na Igreja primitiva. Três pontos seguem-se dis-
to: ( 1 ) Lucas é um historiador meticuloso que 
examinou fontes relevantes para a obtenção 
de informações precisas; (2) ele transmite não 
opiniões privadas, mas as tradições apostólicas; 
e (3) ele escreve para fortalecer a fé dos cristãos. 
1, 3: "excelentíssimo Teófilo" - Outrora 
desconhecido em fontes antigas. Ele talvez 
seja uma figura ilustre ou alto funcionário do 
governo romano. A designação formal, exce­
lentíssimo, aparece em outros lugares como 
um título honorífico (At 23, 26; 24, 2; 26, 
25) . Uma dedicatória semelhante serve de 
prefácio à segunda obra de Lucas, o livro dos 
Atos (At 1 , 1 ) . 
O anúncio do nascimento de S,ão)oáo Batista - 5No tempo de Herodes, rei da Judéia, .havia um 
sacerdote chamado Zacarias. Era.do grupo. de Abias. Sua esposa se chamava Isabel, e era descendente 
de Aarão. 60s dois eram justos diante de Deus: obedeciam fielmente a todos os mandamentos e ordens 
do Senhor. 7Não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e os dois· já eram de itlade avançada. ªCerta 
ocasião, Zacarias fazia o serviço religioso no Templo, pois era a vez do seu grupo realizar as cerimônias. 
9Conforme o costume do serviço sacerdotal, ele foi sorteado para entrar no Santuário, e fazer a oferta 
do incenso. 1ºNa hora do incenso, toda a assembléia do povo escava rezando no lado de fora. 11Então 
apareceu a Zacarias um anjo do Senhor. Estava de pé, à direita do altar do incenso. 12Ao vê-lo, Zacarias 
ficou perturbado e cheio de medo: 13Mas o anjo disse: "Não tenha medo, Zaçarias! Deus oµviu o seu 
pedido, e a sua esposa Isabel vai ter um Filho, e você lhe dará o nome de João. 14Voqê ficará alegre e feliz, 
e inuica gente
.
se alegrarácdm o nascimento do menino, 15porque ele vai ser grande diante do Senhor. 
Ele não beberá vinho; nem·líebida fermentada e, desde o ventre matemo ficará cheio do Espírito Santo. 
Cadernos de estudo bíblico 
16Ele reconduzirá muitos do povo de Israel ao Senhor seu Deus. 17Caminhará à frente deles, com o 
espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria 
dos justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto." 18Então Zacarias perguntou ao anjo: 
"Como vou saber se isso é verdade? Sou veJho, e minha mulher-é de idade avançada". 
190 anjo respondeu: "Eu sou Gabriel. Estou sempre na presença de Deus, e ele me mandou dar esta 
boa notícia para você. 20Eis que você vai ficar mudo, e não poderá falar, até o dia em que essas coisas 
acontecerem, porque você não acreditou nas minhas palavras, que se cumprirão no tempo certo." 210 
povo ficou esperando Zacarias, e estava admirado com a sua demora no Santuário. 
22Quando saiu, não podia falar, e eles compreenderam que ele tinha tido uma visão no Santuário. 
Zacarias falava com sinais, e continuava mudo. 23Depois que terminou seus dias de serviço no 
Santuário, Zacarias voltou para casa. 24Algum tempo depois, sua esposa Isabel ficou grávida, e se 
escondeu durante cinco meses. 25Ela dizia: "Eis o que o Senhor fez por mim, nos dias em que ele se 
dignou tirar-me da humilhação pública!" . 
1, 5 : Mt 2, ! ; 1 Cr 24, 1 0; 2 Cr 31 , 2. • 1, 9 : Ex 30, 7. • 1, 11 : Lc 2, 9; At 5. 1 9. • 1, 13: Lc ! , 30 , 60. 1, 15 : Nm 6, 3; Lc 7, 33. 
1, 17: Mt l i , 14; 17, 13; MI 4, 5 . · 1, 18: Lc !, 34. • 1, 19: Dn 8, 16; 9, 2 1 ; Mt 1 8, 10. · 1, 25: Gn 30, 23; Is 4, 1 . 
1, 5 - 2, 52: A narrativa da infância no 
evangelho de Lucas reconta os nascimentos 
de João Batista e de Jesus. Estilicarnente, ele 
faz uma transição do formato clássico do seu 
prólogo ( 1 , 1 -4) para um estilo bíblico de es­
crita usado no Antigo Testamento grego. Para 
Lucas, o Antigo Testamento é um livro inaca­
bado cujas notas finais ressoam expectativas e 
promessas não cumpridas. Assim, ele tece nu­
merosas alusões ao Antigo Testamento em sua 
narrativa, o que implica que a história contada 
agora por ele é uma continuação da revelação 
bíblica e, na verdade, o seu esperado ápice. 
1, 5: "No tempo de" - Lucas situa a sua 
narrativa no âmbito mais amplo da história do 
mundo (2, 1 -2, 3, 1 -2) . 
"Herodes": Herodes, o Grande, que foi 
nomeado rei da Palestina pelo senado romano 
em 40 a.C. e reinou em Jerusalém a partir de 
37 a.C. até sua morte em 4 ou 1 a.C. Ver co­
mentário em Mt 2, 1 . 
"Zacarias": Um nome hebraico que signi­
fica "Javé se lembrou" . 
"Grupo de Abias": o sacerdócio levítico 
de Israel era composto por 24 grupos de sa-
cerdotes ( 1 Cr 24, 7- 1 9) . Cada grupo servia 
no Templo de Jerusalém duas semanas dife­
rentes a cada ano, e o oitavo grupo era repre­
sentado por Abias na escala sacerdotal. 
"Isabel": A forma grega do nome hebrai­
co que significa "juramento do meu Deus" . 
Por ser filha de Aarão, era levita ( 1 Cr 6, 1 -3) . 
ITI � 1 , 6: "justos diante de Deus" 
IJU .. - Zacarias e Isabel viviam em 
fiel observância à Antiga Aliança (Dt 6,25; Is 
48, 1 8) . Ver o Estudo da Palavra: Justiça em 
Mt 3 . 
• Lucas coloca o casal em uma corrente de 
personagens justas do Antigo Testamento: 
Noé (Gn 6, 9) , Abraão (Gn 1 5 , 6) , Finéias 
(SI 1 06, 30-3 1 ) , Davi (2 Sam 22, 2 1 -25) , e 
outros tinham dado o exemplo de devoção 
semelhante ao Senhor. 
• Místicamente, 12 Zacarias e Isabel represen­
tam o sacerdócio e a Lei da Antiga Aliança. 
Ambos eram justos, corno o sacerdócio era 
santo e a Lei era boa; mas juntos eram inca­
pazes de gerar filhos para Deus ou produzir 
a graça de Cristo. O casal significa, assim, o 
12 São Beda, ln Lucam 
26 
envelhecimento da Antiga Aliança na espera 
das bênçãos da Nova. 
lJJ 1, 7: "estéril" - Era por vezes consi­
derado um sinal da desaprovação de 
Deus (Gn 30, 2) , enquanto que um útero fe­
cundo era visto como uma bênção divina (Dt 
7, 1 4; Sl 1 28, 3-4) . 
• Isabel, juntamente com Sara (Gn 1 1 , 
30), Rebeca (Gn 25 , 2 1 ) , Raquel (Gn 29, 
3 1 ) , a mãe de Sansão Oz 1 3 , 2) , e Ana 
( 1 Sm l , 2) , sofreu a esterilidade até que 
Deus milagrosamente a abençoou com 
um filho. O nascimento de João está, as­
sim, em conformidade com Isaac, Jacó, 
José, Sansão, e Samuel, que eram todos 
representantes da Aliança em Israel. 
1, 9: "Santuário" - O Templo de Jerusa­
lém é muitas vezes o foco do ensino e da ação 
de Jesus em Lucas (2, 27, 37, 46; 4, 9; 1 9, 45; 
20, 1 ; 2 1 ,37; 23, 45 ; 24, 53) . 
1 , 10: "hora do incenso" - Também 
chamada de "hora de oração" (At 3, 1 ) . Os 
sacerdotes queimavam incenso duas vezes por 
dia no templo, nos sacrifícios matutinos e 
vespertinos (Ex 30, 7-8) . A liturgia vespertina 
acontecia perto das três horas enquanto mul­
tidões rezavam no Templo. Como a maioria 
dos sacerdotes recebeu a honra de queimar 
o incenso apenas uma vez na vida, este foi o 
momento culminante do ministério de Za­
carias. Ele iria oferecer orações e incenso no 
segundo aposento mais sagrado do templo, 
o Lugar Santo, e então sair para abençoar o 
povo ( 1 , 2 1 ; Nm 6, 22-27) . Ver comentário 
sobre Lc l , 5 . 
1 , 10: "anjo do Senhor" - Os anjos de­
sempenham papéis importantes na história 
da salvação. (1) Os anjos estão intimamente 
ligados à adoração. Uma vez que o templo era 
O evangelho de São Lucas 
um modelo terrestre do santuário celestial de 
Deus (Hb 8, 1 -5) , os israelitas acreditavam 
que os sacerdotes oficiavam na Terra, assim 
como os anjos no céu (Is 6, 1 -6; Ap 8, 2-6; 
1 5 , 5-8) . O próprio templo foi decorado com 
imagens de anjos, tais como querubins (Ex 
25, 1 8-22; l Rs 6, 23-36) . (2) Os anjos profe­
rem a notícia da concepção e do nascimento, 
como acontece com Ismael (Gn 1 6, 1 1 ) , Isaac 
(Gn 1 8, 1 0) , e de Sansão Oz 1 3 , 3-5) . (3) Os 
anjos aparecem muitas vezes em Lucas ( l , 26; 
2, 9, 1 3; 22, 43, 24, 4) (CIC 332, 336) . 
1 , 13: "não tenha medo" - Palavras de re­
afirmação reminiscentes das visões do Antigo 
Testamento (Gn 1 5 , 1 ; Dn 1 0, 1 2, 1 9) . 
"seu pedido": Zacarias orou não apenas 
pelo povo, mas pelas terríveis circunstâncias 
dele e de sua esposa, já que eram idosos e ain­
da sem filhos. 
"João": um nome hebraico que significa 
"Javé mostrou favor" . 
lJJ 1 , 15: "não beberá vinho, nem bebi­
da fermentada" - Uma alusão a Nm 
6, 3 , que indica que João vai ser consagrado 
ao Senhor como nazireu. Ele, portanto, abs­
ter-se-á de bebidas intoxicantes, de cortar o 
cabelo, e todo o contato com os mortos (Nm 
6, 1 - 1 2) . Em termos práticos, os nazireus vi­
viam uma forma primitiva de vida religiosa 
e eram o equivalente a monges e monjas da 
Antiga Aliança. Eles eram sacerdotes ou lei­
gos, e a consagração do seu serviço podia ser 
temporária ou permanente. 
• A consagração de João lembra a de Sansão 
Oz 13 , 4 7) e Samuel ( 1 Sm 1 , 1 1 ) . Como 
estes nazireus, João terá um papel de destaque 
no plano de Deus para Israel. 
lJJ "cheio do Espírito Santo": Para pre­
parar Israel ao Senhor (Lc l , 1 7) , o 
27 
Cadernos de estudo bíblico 
Senhor em primeiro lugar prepara João com 
sua graça. Ele e a Virgem Maria foram santi­
ficados antes do nascimento (CIC 7 1 7) . Ver 
comentário sobre Lc 1 ,28. 
• A consagração de João lembra o chamado de 
Jeremias desde o ventre de sua mãe Or 1 , 5) . 
se em ambas as extremidades da profecia bí­
blica: tendo predito a vinda do Messias no 
Antigo Testamento, ele agora profere a men� 
sagem da sua chegada em Jesus (Lc 1 , 26-38) 
e em João como o seu precursor { l , 1 3- 1 7) . 
ITI 1 , 25: "humilhação" - Deus remo­
� veu o fardo da frustração de Isabel. 
ITI 1 , 17: "o espírito e o poder de Elias" Embora anteriormente desonrada diante dos 
� - Uma alusão a Ml 3, 1 e 4, 5-6. homens, ela agora é abençoada com uma cri­
• Malaquias anunciou a vinda do Senhor para 
Israel. Os preparativospara sua chegada se­
riam concluídos por um mensageiro como 
Elias, que pregaria o arrependimento, res­
tauraria as tribos de Israel, e trabalharia para 
curar famílias desestruturadas (Eclo 48, 1 1 0; 
Mt 1 1 , 1 3- 1 5 ; CIC 523, 7 1 8-20) . 
"converter" - Uma imagem bíblica para 
arrependimento moral e espiritual. Ver o Es­
tudo da Palavra: Arrependimento em Me l , 4. 
"um povo bem disposto" - Mais tarde, 
Lucas examina o significado do papel de João 
pela ótica de Is 40. Ver comentário sobre Lc 
3, 4-6. 
1, 18: "Como vou saber se isso é ver­
dade?" - Ao contrário de Maria no episódio 
seguinte ( 1 , 45) , Zacarias é prejudicado pela 
dúvida e não recebe a boa notícia com fé. 
Deus determina sua mudez como um sinal 
temporário de disciplina ( 1 ,20) . 
ITI 1 , 19: "Gabriel" - Um nome hebrai­
� co que significa "Deus é poderoso." A 
tradição judaica e cristã o identifica como um 
arcanjo. Como Rafael, ele é um dos sete anjos 
que estão na presença de Deus (Tb 1 2, 1 5 ; Ap 
8 , 2) . 
• No Antigo Testamento, Gabriel interpreta 
visões (Dn 8, 1 5- 1 6) e explica a Daniel acon­
tecimentos que vão acompanhar a vinda do 
Messias (Dn 9, 2 1 -27) . Gabriel, assim, situa-
ança. Ver comentário sobre Lc 1 , 7. 
• Isabel ecoa as palavras exultantes de Raquel, 
que deu à luz José, após anos de esterilidade 
(Gn 30,23) . 
1 , 26: "sexto mês" - Refere-se ao progres­
so da gravidez de Isabel ( 1 , 24, 36) . 
Nazaré: Uma pequena aldeia da Galiléia, 
no norte da Palestina. Para muitos, era uma 
cidade de pouca ou nenhuma importância Qo 
1 , 46) . 
1 , 28: ''Alegre-se" - Ou 
''Ave" . Coroa o tema da ale­
gria e regozijo que pontua a Narrativa da In­
fância no evangelho de Lucas ( 1 , 1 4, 44, 47, 
58; 2, 1 0, 20) . 
• O chamado a alegrar-se ecoa passagens do 
Antigo Testamento que tratam da filha de 
Sião. Nos profetas isso se refere à Mãe Jeru­
salém, cujos filhos fiéis se regozijarão na era 
messiânica, porque Deus escolheu habitar no 
meio deles 01 2, 23-24; Sf 3 , 1 4- 1 7; Zc 9, 
9) . Maria, escolhida para ser a virgem mãe do 
Messias, é saudada com a mesma convocação 
porque ela é a personificação da fidelidade de 
Israel e a destinatária mais privilegiada das 
bênçãos messiânicas de Javé. 
"cheia de graça": Este é o único exemplo 
bíblico em que um anjo se dirige a alguém por 
um título, em vez de um nome pessoal. Duas 
O evangelho de São Lucas 
O anúncio do nascimento de Jesus - 26No sexto mês; o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma 
cidade da Galiléia chamada Nazaré. 27Foi a uma virgem, prometida em casamento a um homem 
chamado José, que era descendente de Davi. E o nome da virgem era Maria. 280 anjo entrou onde 
ela escava, e disse: "Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está com você!" 290uvindo isso, Maria ficou 
preocupada, e perguntava a si mesma o que a saudação queria dizer. 300 anjo disse: "Não tenha medo, 
Maria, porque você encontrou graça diante de Deus. 3 1Eis que você vai ficar grávida, terá um filho, e 
dará a ele o nome de Jesus. 32Ele será grande, e será chamado Filho do Aldssirno. E o Senhor dará a ele o 
trono de seu pai Davi, 33e ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó. E o seu reino não terá 
fim." 34Maria perguntou ao anjo: "Como vai acontecer isso, se não vivo com nenhum homem?" 350 
anjo respondeu: "O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com $ua sombra. 
por isso, o Santo que vai nascer de você será chamado Filho de Deus. 360lhe a sua parenta Isabel: 
apesar da sua velhice, ela concebeu um filho. Aquela que era considerada estéril, já faz seis meses que 
está grávida. 37Para Deus nada é impossível." 38Maria disse: "Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim 
segundo a tua palavrà'. E o anjo a deixou. 
1, 25: Gn 30, 23; Is 4, 1 . • l, 30: Lc 1 . 13 . • l, 31 : Lc 2, 2 1 ; Mr 1 , 2 1 . 1, 33: Mr 28, 1 8 ; 
Dn 2, 44 . • l, 34: Lc 1 , 1 8 . • l, 35 : Mr 1 , 2 0 . • l , 37: Gn 1 8 , 14 . 
considerações ajudam a esclarecer o que isso 
significa. ( 1 ) A expressão "cheia de graça" está 
enraizada na tradição católica e segue o curso 
da tradução de São Jerônimo desse versículo 
na Vulgata Latina. Embora fundamentalmen­
te precisa, falta-lhe um pouco da profundida­
de do original grego. Lucas poderia tê-la des­
crito com as palavras "cheia de graça'' (grego: 
pleres charitos.) como fez com Estevão em At 
6, 8; aqui, no entanto, ele usa uma expressão 
diferente (grego: kecharitomene. ) , que é ainda 
mais reveladora do que a versão tradicional. 
Ela indica que Deus já "agraciou" Maria an­
tes desse momento, fazendo-a um recipiente 
que "foi" e "agora é" cheio da vida divina. (2) 
traduções alternativas como "privilegiada" ou 
"altamente favorecidà' são possíveis, mas in­
suficientes. Por causa do papel inigualável que 
Maria acolhe neste momento decisivo da his­
tória da salvação, a melhor tradução é a mais 
exaltada. Pois Deus dotou Maria com uma 
abundância de graça a fim de prepará-la à vo­
cação da maternidade divina e fazer dela um 
excelente exemplo da santidade cristã (CIC 
490-93, 722) . 
29 
• A declaração de Gabriel indica a Imaculada 
Conceição de Maria. De acordo com a "Jnef 
fabilis Deus" de Papa Pio IX em 1 854, a nar­
rativa da Anunciação no evangelho de Lucas 
é um importante indicador da santidade ao 
longo da vida de Maria. Deus é o seu "Salva­
dor" ( 1 , 47) da maneira mais perfeita possí­
vel: ele santificou Maria na primeira instância 
de sua concepção e a preservou totalmente do 
pecado e até mesmo da inclinação ao pecado 
que nós experimentamos. 
Fra Angelico - A Anunciação • 14 3 7-46 
Museu Nacional de São Marcos, Florença, Itália 
Cadernos de estudo bíblico 
1, 31 : "Jesus" - Um nome hebraico que 
significa "Javé salvà' (CIC 430) . Ver comen­
tário sobre Mt l , 2 1 . 
1 , 32-33: Jesus é o Messias esperado da 
dinastia de Davi (2 Sam 7, 12- 1 6, Sl 89, 26-
29; 1 32, 1 1 ; Is 9, 6-7) . Seguindo o costume 
judaico, a paternidade adotiva de José era 
equivalente à paternidade natural em matéria 
sucessória. José confere, assim, os privilégios 
de um descendente de Davi a Jesus ( 1 , 27) , ao 
passo que Deus Pai unge-o como rei (Me 1 6, 
1 9; CIC 437) . 
ITI 1 , 33: "os descendenteS,de Jacó" -
LJU isto é, o reino de Israel. 
• Desde o século VIII a.C. , as tribos do nor­
te de Israel foram espalhadas entre os gentios 
(2 Rs 1 7, 2 1 -23) , e desde o século VI a.C., 
muitas das tribos do sul de Judá e Benjamin 
tinham também vivido no exílio durante a 
antiguidade (2 Rs 25, 8- 1 1 ) . Os profetas la­
mentaram essa desintegração tribal do povo 
de Deus, mas anunciaram uma futura reu­
nião dos descendentes de Jacó sob o Messi­
as davídico (Is 1 1 , 1 2; Ez 37, 1 5-24; Os 1 , 
1 0- 1 1 ; Am 9 , 9- 1 2) . Jesus, diz Gabriel, é este 
governante davídico ungido que vai voltar a 
reunir as tribos de Israel, juntamente com to­
das as nações, em seu glorioso reino (Mt 28, 
1 8-20; At 1 5 , 1 5 - 1 8; Rrn 1 1 , 25-27) (CCC 
709- 1 0) . Ver comentário sobre Lc 4,43. 
� 1 , 34: "como vai acontecer isso?" -
.. Ou, melhor, "Como vai ser isso . . . ?" . 
Maria não está questionando a capacidade de 
Deus para lhe dar um filho, mas questiona 
como esse plano vai se desdobrar. A pergunta 
dela, diferente da pergunta de Zacarias (Lc l , 
1 8) procede da fé e busca entender a ação de 
Deus, e não duvidar dela. 
"Não vivo com nenhum homem'': O 
anúncio de que Maria iria conceber fez com 
que ela perguntasse como Deus iria aben­
çoá-la com um filho e ainda assim preservar 
sua virgindade. O texto não diz "Eu não vivi 
com nenhum homem", mas "Eu não vivo 
com nenhum homem'' , ou seja, "Eu não te­
nho relações sexuais" . A pergunta de Maria 
expressa sua intenção em manter o estado 
virginal mesmo dentro do matrimônio. Caso 
contrário suas palavras seriam inexplicáveis. 
Pois nada no anúncio do anjo de que teria um 
filho haveria de surpreendê-la a menos que ti­
vesse a intenção de renunciai: às relações sexu­
ais ordinárias até mesmo como uma mulher 
casada. Ver comentáriosobre Mt 1 , 1 8 . 
• De acordo com alguns Padres da Igreja, 
como São Gregório de Nissa e Santo Agosti­
nho, Maria já tinha feito um voto de virgin­
dade por toda a vida. Ver comentários sobre 
Mt l , 25 e 1 2, 46. 
ITI ri,lg 1, 35: "cobrirá com sua som­
LJU rQ bra" - A concepção de Jesus 
no ventre de Maria será totalmente sobrena­
tural, ou seja, o resultado da obra criadora de 
Deus no seu interior (Mt 1 , 1 8-25; CIC 497, 
723) . 
• A expressão usada pelo anjo é a mesma utili­
zada na versão grega do Ex 40,35 para descrever 
como o Senhor "cobriu com sua sombra'' o Ta­
bernáculo, fazendo dele sua morada em Israel. 
• Gabriel menciona o Espírito Santo, o Altíssi­
mo, e o Filho de Deus, oferecendo a Maria um 
vislumbre da Trindade. 
ITI 1, 37: "nada é impossível" - A reafir­
LJU mação de Gabriel ilumina a totalida­
de de Lc 1 . Ele insiste que Deus pode superar 
todos os obstáculos à maternidade, incluindo 
a infertilidade de Isabel e a virgindade de Ma­
ria (CIC 269, 273) . 
3 0 
O evangelho de São Lucas 
Maria visita Isabel; o clntico de louvor de Maria - 39Naqueles dias, Maria partiu para a região 
montanhosa, dirigindo-se, às pressas, a uma cidade da Judéia. 40Entrou na casa de Zacarias, e saudou 
Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança se agitou no seu ventre, e Isabel ficou cheia 
do Espírito Santo. 42Com um grande grito exclamou: "Você é bendita entre as mulheres, e é bendito 
o fruto do seu ventre! 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar? 44Logo que 
a sua .saudação chegou aos meus ouvidos, a criança saltou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada 
aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu." 46Entáo Maria disse: "Minha 
alma proclama a grandeza do Senhor, 47meu espírito se alegra em Deus, meu salvador, 48porque olhou 
para a humilhação de sua serva. Doravante todas as gerações me felicitarão, 49porque o Todo-poderoso 
realizou grandes obras em meu favor: seu nome é santo, 50e sua misericórdia chega aos que o temem, 
de geração em geração. 5 1Ele realiza proezas com seu braço: dispersa os soberbos de coração, 52derruba 
do trono os poderosos e eleva os humildes; 53aos famintos enche de bens, e despede os ricos de mãos 
vazias. 54Socorre Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55conforme prometera aos nossos 
pais - em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre". 56Maria ficou três meses com Isabel; e 
depois voltou para casa. 
1, 42: Lc 1 1 . 27-28. • l, 46-55: 1 Sam 2,1-10. • 1, 47: 1Trn 2, 3; Tt 2,IO; Ju 25. • l, 55: Mie ?, 20; Gn 17,7; 18 , 18; 22, 17. 
• A declaração carrega conotações do Anti­
go Testamento, especialmente Gn 1 8 , 14 e 
Jr 32, 17 . 
1 , 38: "faça-se em mim" - Maria livre 
e ativamente abraça o convite de Deus para 
carregar o Messias no seu ventre. A expressão 
grega denota mais que a mera aceitação pas­
siva, indica que ela quer ou deseja realizar a 
vontade de Deus em sua vida. Ao contrário 
de Zacarias, ela acolhe as palavras do anjo sem 
a restrição da dúvida (CIC 148, 494, 26 17). 
Ver comentário sobre Lc l , 1 8. 
lJJ 1, 41: "agitou no seu ventre" - A ex­
periência de Isabel é semelhante a de 
Rebeca em Gn 25. 
• Tanto Lucas como o Antigo Testamento gre­
go usam o mesmo verbo (grego: skirtao) para 
descrever infantes que pulam ou se agitam no 
útero. Como a experiência de Rebeca sinalizou 
a preeminência de Jacó sobre seu irmão mais 
velho Esaú (Gn 25, 22-23) , assim a experiência 
análoga de Isabel era um sinal de que Jesus seria 
maior que o seu primo mais velho João (3, 1 6; 
Jo 3, 27 -30) 
IT1 1 , 42: "você é bendita" - Isabel aben­
� çoa Maria com palavras outrora ditas 
a Jael e Judite no Antigo Testamento Oz 5, 
24-27; Jud 1 3, 1 8). 
• Essas mulheres foram abençoadas por sua fé 
heróica e sua coragem de repelir exércitos ini­
migos hostis a Israel. A vitória foi assegurada 
quando Jael e Judite assassinaram os coman­
dantes militares com um golpe mortal na cabe­
ça. Maria vai seguir os seus passos, mas, no caso 
dela, tanto o inimigo destruído como a vitória 
obtida será maior, pois ela dará à luz o Salvador 
que esmaga sob os pés a cabeça do pecado, da 
morte e do diabo (Gn 3, 1 5 ; 1 Jo 3, 8; CIC 
64, 489) . 
� 1 , 43: "mãe do meu Senhor" - Este 
.. título revela os mistérios duplos da di­
vindade de Jesus e da maternidade divina de 
Maria (CIC 449, 495). Nota-se que todas as 
ocorrências da palavra Senhor no contexto 
imediato ( 1 , 45) e adjacente se refere a Deus 
( 1 , 28, 32, 38, 46, 58, 68). 
• A Maternidade divina de Maria foi o primeiro 
dogma mariano anunciado pela Igreja. O Con­
cílio Ecumênico de Éfeso (43 1 d.C.) definiu a 
Cadernos de estudo bíblico 
O nascimento de São João Batista - 57Terminou para Isabel o tempo de gravidez, e ela de� à luz um filho. 
580s vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido bom para Isabel, e se alegraram com ela. 
59No oitavo diá, foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. 60 A mãe, po­
rém, disse: "Não! Ele vai se chamar João." 610s outros disseram: "Você não tem nenhum parente com esse 
nome!" 62Entáo fizeram sinais ao pai, perguntando como ele queria que o menino se chamasse. 63Zacarias 
pediu uma rabuinha, e escreveu: "O· nome dele é João." E todos ficaram admirados. 64No mesmo instante, 
a boca de Zacarias se abriu, sua língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus. 65Todos os vizinhos ficaram 
com medo, e a notícia se espalhou por toda a região montanhosa da Judéia. 66E todos os que ouviam a 
notícia, ficavam pensando: "O que será que esse menino vai ser?" De fato, a mão do Senhor estava com ele. 
l, 59: Lv 12, 3; Gn 17, 12. · 1, 63: Lc 1 , 1 3. 
singular relação de Maria com Cristo e hon­
rou-a com o órulo de "Mãe de Deus" (grego: 
Theotokos) . Isso foi reafirmado em 1 964 no 
Concílio Vaticano II. 1 3 
ITI 1 , 46-55: O Magnificat {latim para 
LJU "engrandece") é um hino de louvor e 
um recital de fidelidade à Aliança de Deus. 
Maria exalta a humildade ( 1 , 48) e se alegra 
com as bênçãos de Deus sobre os humildes 
( 1 , 47, 52-53) . A canção também introduz o 
tema da "misericórdià' de Deus ( 1 , 50, 54) , 
que transborda no episódio seguinte ( 1 , 58, 
72, 78; CIC 2097, 26 1 9) . 
• O Magnificat é imbuído de temas e imagens 
do Antigo Testamento. Ele se assemelha a Can-
1 3 Lumen Gentium, 53 
çáo de Ana em 1 Sm 2, 1 - 1 0, enquanto outras 
passagens esclarecem os acontecimentos (SI 89, 
1 0, 1 3; 98, 3; 1 1 1 , 9; Eclo 33, 1 2; Hab 3, 1 8) . 
1, 59: "circuncidar" - Pais judeus costu­
mam dar nome a seus filhos do sexo mascu­
lino no dia de sua circuncisão, o oitavo dia 
após o nascimento (2, 2 1 ) . Estes eram acon­
tecimentos de grande importância, que sina­
lizavam o início da participação da criança na 
Aliança em Israel (Gn 1 7, 9- 1 4; Lv 12 , 3) . 
1 , 64: "sua língua se soltou" - Após nove 
meses de silêncio, Zacarias experimenta uma 
dramática recuperação ( 1 , 20) . Ele não tem 
mais dúvidas, mas aceita com alegria a chega­
da da criança ( 1 , 68-79) . 
1 , 68-79: O Benedictus (Latim para "ben-
A Profecia de Zacarias - 670 pai Zacarias cheio �o Espírito Santo, profetiwu dizendo: .68"Ben_diéo seja o 
Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo. 69Fez aparecer uma força de salvação na casa de 
Davi, seu servo; 70conforme tinha anunciado 'desde outrora pela boca de seus santos profetas. 71É a salvação 
que nos livra de nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam. 72El� realizou a misericórdia que teve 
com nossos pais, recordando sua sanra aliança, 73e p juramento que fez ao nosso pai Abraão. 74Para conceder­
nos que, livres do medo e arrancados das mãos dos inimigos, 75nós o sirvamos com santidade e justiça, em 
sua presença, todos os nossos dias. 76E a você, menino, chamarão profeta do Altíssimo, porque irá à frente do 
Senhor; para preparar-lhe os caminhos, 77 anunciando ao seu povo a salvação, o perdão dos pecados. 78Graças 
ao misericordioso coraçãodo nosso Deus, o sol que nasce do alto nos visitará, 79para iluminar os que vivem 
nas trevas e na sombra da morte; para guiar nossos passos no caminho da paz". 800 menino ia crescencl,o, e 
ficando forte de espírito. João viveu. no desJ::rto,. até o dia em que se manifesto� a Israel. 
l, 76: Lc 7, 26; MI 4, 5. • l, 77: Me 1 , 4. • l, 78: MI 4, 2: Ef5, 14. • l, 79: ls 9, 2; Mc 4, 16. • 1, 80: Lc 2, 40; 2, 52. 
dito") louva a Deus por sua fidelidade a Israel 
e sua orquestração cuidadosa da história da 
salvação. No ponto culminante desse plano 
está Jesus, cuja vinda cumpre os juramentos 
da aliança de Deus ( 1 ) para estabelecer o tro­
no de Davi para sempre (2 Sm 7, 1 2- 1 6; SI 
89, 1 -4, 26-37) , e (2) para abençoar todas 
as nações através da descendência de Abraão 
(Gn 22, 16- 1 8; CIC 422, 706) . 
1 , 69: "uma força" - Um símbolo da for­
ça (Sl 18 , 2; Eclo 47, 1 1 ; Mq 4, 1 3) . Zacarias 
o aplica a Jesus como o Ungido do Senhor (SI 
1 32, 1 7; cf. Ez 29, 2 1 ) . Ver comentário sobre 
Lc 1 , 32-33. 
1, 72: "recordando sua santa aliança" -
O juramento da aliança de Deus com Abraão 
(Gn 22, 1 6- 1 8) se aproxima do seu cumpri­
mento no papel preparatório dos pais de João. 
Até mesmo seus nomes simbolizam que Deus 
se lembra (Zacarias) do seu juramento (Isabel) 
e irá cumpri-lo em breve através da missão de 
João e Jesus. Ver comentário sobre Lc 1 , 5 . 
1, 76: "profeta do Altíssimo" - A voca­
ção de João está intimamente ligada a Jesus, 
mas seus títulos os distinguem: João é o pro­
feta do Altíssimo, ao passo que Jesus é o Filho 
do Altíssimo ( 1 , 32) . ltl 1, 78: "o sol" - Também traduzido 
como "a aurorà', ou simplesmente "o 
" nascente . 
• À luz do Amigo Testamento, as palavras 
de Zacarias podem ser vistas de diferentes 
ângulos. ( 1 ) O "nascente" é usado para des­
crever idiomaticamente o nascer do sol ao 
amanhecer ou as estrelas à noite. Vários tex­
tos recorrem a essa noção para descrever o 
Messias como uma luz ou estrela (Nm 24, 
1 7; ls 9 , 2 ; MI 4 , 2) . (2) O "nascente" tam­
bém se vincula com Jr 23, 5 e Zc 3, 8; 6, 1 2 
3 3 
O evangelho de São Lucas 
do Antigo Testamento grego. Nesses textos, 
a mesma expressão descreve o Messias como 
um ramo que surge ou brota da linhagem 
real de Davi . Uma vez que Zacarias mencio­
na Davi ( 1 , 69) e a luz do Messias ( 1 , 79) 
neste contexto, ambas as conotações são 
possíveis. Ver comentário sobre Mt 2, 23. 
ESTUDO DA PALAVRA: RECEBEU 1 1 (MT 3 , 15) 
Katecheo (grego): significa "instruir" ou "ensi­
nar oralmente", e é base da palavra "catequese" 
na língua ponuguesa. O verbo é usado oito ve­
zes no Novo Testamento. Ele é freqüentemente 
associado com a transmissão primitiva do evan­
gelho, quando os apóstolos e seus companheiros 
instruíam os crentes verbalmente. Lucas escreve 
o seu evangelho a um ceno Teófilo, que já havia 
sido catequizado desse modo, a fim de confirmar 
e aprofundar sua compreensão da vida e dos ensi­
namentos de Jesus (Lc 1, 4). Apolo também havia 
aprendido os rudimentos da doutrina cristã por 
instrução oral (Ar 18,25). Paulo emprega esse ter­
mo anos antes, quando incentiva os jovens cris­
tãos a apoiar financeiramente os seus catequistas 
locais (Gl 6, 6), e quando salienta que o ensino 
inteligível na fé é mais proveitoso para o povo de 
Deus do que o discurso ininteligível das línguas 
carismáticas (lCor 14, 19). 
14 A versão em inglês traduz Katecheo como informed, 
enquanto que a versão em português usa a palavra 
"recebeu" . Ambas se referem aos ensinamentos que 
foram transmitidos - NT. 
Cadernos de estudo bíblico 
MAPA: O REINO OE HERODES NO NASCIMENTO OE JESUS 
3 4 
O evangelho de São Lucas 
ENSAI O S OB RE UM TÓPICO: MARIA, A ARCA DA ALIANÇA 
O evangelho de Lucas nos diz mais sobre a Mãe de Jesus que qualquer outro livro do Novo Testamento. A maior parte da informação está condensada nos primeiros dois capítulos, em que Lucas encadeia algu­
mas das mais belas tradições que temos sobre a vida e missão de Maria. Quanto 
mais profundo mergulhamos na narrativa de Lucas, mais apreciamos o modo 
que Lucas nos conta a história de Maria. Um exemplo disso encontra-se na his­
tória da Visitação. Num ponto, ele nos conta sobre um exultante encontro entre 
duas grávidas; num outro, recorda histórias memoráveis contadas no Antigo 
Testamento sobre a Arca da Aliança. Ao aludir a essas tradições primitivas, Lu­
cas expande consideravelmente a visão do leitor atento. Ele nos leva a ver Maria 
como a Arca da Nova Aliança de Deus e sugere que a Sagrada Arca da Antiga 
Aliança meramente prefigura uma Arca ainda mais maravilhosa que há de vir: a 
Mãe do divino Messias. 
Uma tradição que Lucas se baseia está em 2 Sm. Ele intencionalmente apon­
ta a semelhança sutil, mas significante, entre a Visitação de Maria a Isabel, e os 
esforços de Davi para trazer a Arca da Aliança a Jerusalém, narrado em 2 Sm 6. 
Quando Lucas nos diz que Maria "dirigiu-se às pressas" para a região monta­
nhosa da Judéia para visitar sua parenta (Lc 1 , 39) , ele nos recorda como Davi 
"dirigiu-se às pressas" para a mesma região séculos antes a fim de transportar a 
Arca (2 Sm 6, 2) . Com a chegada de Maria, Isabel é tocada pelo mesmo sen­
timento de reverência e indignidade perante Maria (Lc 1 , 43) que Davi sentiu 
diante da Arca da Aliança (2 Sam 6, 9) . A semelhança continua quando o júbilo 
em torno desse grande encontro faz com que o infante João se agite de alegria 
no ventre (Lc l , 41) , assim como Davi dançou rejubilante perante a Arca (2 
Sm 6, 1 6) . Finalmente, Lucas acrescenta que Maria ficou na "casa de Zacarias" 
por "três meses" (Lc 1 , 40, 56) , recordando que a Arca da Aliança permaneceu 
temporariamente na "casa de Obed-Edom'' por um período de "três meses" (2 
Sam 6, 1 1) . Tomadas em conjunto, essas semelhanças nos mostram que Maria 
agora assume um papel na história da salvação que foi outrora dese�penhado 
pela Arca da Aliança. Como esse baú de ouro, ela é l!m vaso sagrado onde a 
presença do Senhor habita intimamente com o seu povo. 
Lucas também se baseia em uma segunda tradição do Livro das Crônicas. 
Dessa vez ele leva para sua história uma expressão altamente significativa ou­
trora ligada à Arca. O termo aparece em Lc l , 42 quando ISabel solta um grito 
exultante à chegada de Maria e seu Filho. Embora o verbo grego traduzido como 
"exclamou'' pareça suficientemente habitual, quase nunca é usado na bíblia. De 
fato, de todo o Novo Testamento, é encontrado apenas aqui. Sua presença no 
3 5 
Cadernos de estudo bíblico 
Antigo Testamento grego também é esparsa; aparece apenas cinco vezes . Por que 
isso é importante? Porque toda vez que essa expressão é usada no Antigo Testa­
mento, constitui parte das histórias em torno da Arca da Aliança. Em particular, 
refere-se aos sons melódicos produzidos por cantores e músicos levíticos quando 
glorificam o Senhor com o cântico. Isso descreve, portanto, a voz "exultante" 
dos instrumentos que foram tocados perante a Arca quando Davi a carregou em 
procissão para Jerusalém (1 Cr 1\ 28; 1 6, 4-5) e quando Salomão transferiu a 
Arca para sua morada definitiva no Templo (2 Cr. 5 , 1 3) . Referindo-se a esses 
episódios, Lucas vincula a mesma expressão com o grito melódico de outro des­
cendente levita, a anciã Isabel (Lc l , 5) . Ela também ergue sua voz em louvor 
litúrgico, não perante um baú de ouro, mas perante Maria. A marcante familia­
ridade de Lucas com essas histórias primitivas o permite eleger até mesmo uma 
única palavra para sussurrar aos seus leitores que essa jovem Mãe do Messias é a 
nova Arca da Aliança. 
Ao leitor que possui olhos para ver e ouvidos para ouvir, Lucas concedeu 
uma visão da Virgem Maria que se torna ainda mais gloriosa à medida que 
nos aprofundemos nas Escrituras. Nossa habilidade em ver Maria como ele viu 
depende em parte do nosso conhecimento do Antigo Testamento e em parte 
da nossa sensibilidade ao engenhoso uso que Lucas faz dele. Ao escolher suas 
palavrase frases cuidadosamente, ele é capaz de tecer várias vertentes da tradição 
bíblica em sua narrativa, acrescentando beleza e profundidade a sua j á elegante 
prosa. Não é de se admirar que as tradições litúrgicas e teológicas da igreja tantas 
vezes descrevem Maria como a Arca da Nova Aliança. Essa visão não é simples­
mente o fruto de especulação mística de uma era posterior. Já está incorporada 
à Narrativa da Infância no Evangelho de Lucas. 
O evangelho de São Lucas 
2 O Nascimento de Jesus - 1Naqueles dias, o imperador Augusto publicou um decreto, ordenando 
o recenseamento em todo o império. 2&se primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era 
.governador da Síria. 3Todos iam registrar-se, cada um na sua cidade natal. 4José era da família e 
descendência de Davi. Subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, até à cidade de Davi, chamada Belém, 
na Judéia, 5para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. 6Enquanto estavam em Belém, 
se completaram os dias para o parto, 7 e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou, e o 
colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles dentro da casa. 
2, l: Lc 3, l . . 2, 4: Lc 1 , 27 
COMENTÁRIOS 
2, 1 : "César Augusto" - O imperador 
romano de 27 a.C. a 14 d.C .. Era famoso 
por estabelecer a paz no império, a notável 
Pax Romana ("Paz Romanà') , e era aclamado 
como um "deus" e "salvador" por seus súditos. 
Lucas indica que o decreto de César foi parte 
do plano de Deus, uma vez que levou Maria 
e José a Belém para cumprir a profecia sobre 
o local do nascimento do Messias (Mq 5, 2; 
Me 3-6) . 
"Recenseamento": isco é, registrado por 
um censo. Na Judéia, a lei exigia que as fa­
mílias se registrassem em suas cidades natais 
ancestrais (2, 3-4) . 
2, 4: "Belém" - Uma pequena aldeia da 
Judéia a cerca de noventa quilômetros ao sul 
de Nazaré. Era conhecida principalmente 
como a cidade natal do rei Davi e o local da 
sua unção real ( 1 Sm 1 6, 1 - 1 3) . Ver comentá­
rio sobre Me 2, 1 . 
lIJ � : 2, 7: "primogênito" - Um 
..... termo legal relacionado com a 
posição social e os direitos do filho à herança 
(De 2 1 , 1 5- 1 7) . Isso não implica que Maria 
teve outros filhos depois de Jesus, mas que 
ela não teve nenhum antes dele (CIC 500) . 
Como Filho único, Jesus também é o Filho 
primogênito do Pai Qo 1 , 1 8 ; Cl 1 , 1 5) . Ver 
comentário sobre Me 1 2,46. 
"o enfaixou": Os recém-nascidos eram 
envoltos com eiras de pano para evitar o mo­
vimento dos seus braços e pernas . 
• A descrição de Lucas lembra o nascimento 
do Rei Salomão (Sb 7, 4-6) . 
"manjedoura'': Um cocho para os cava­
los, gado, etc. 
• Alegoricamente, 15 a definição do nascimento 
de Cristo nos aponta à Eucaristia. Já que pelo 
pecado o homem se torna como os animais , 
Cristo está no cocho em que os animais se 
alimentam, oferecendo-lhes não o feno, mas 
o seu próprio corpo como o pão que dá vida. 
Os Pastores e os anjos - 8Naquela região havia pastores, que passavam a noite nos campos, tomando 
conta do rebanho. 9Um anjo do Senhor apareceu aos pastores; a glória do Senhor os envolveu 
em luz, e eles ficaram com muito medo. 10Mas o anjo disse aos pastores: "Não tenham medo! Eu 
anuncio para vocês a Boa Noticia, que será uma grande alegria para todo o povo: 1 1hoje, na cidade 
de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. 12lsto lhes servirá de sinal: vocês 
encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura." 13De repente, juntou-se 
ao anjo uma grande multidão de anjos. Cantavam louvores a Deús; dizendo: 14"Glória a Deus no 
1 1 5 
3 7 
São Cirilo de Alexandria, Catena dos Padres 
gregos. 
Cadernos de estudo bíblico 
mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados." 15Quando os anjos se afastaram, 
voltando para o céu, os pastores combinaram entre si: "Vamos a Belém, ver esse acontecimento que 
o Senhor nos revelou." 16Foram então, às pressas, e encontraram Maria e José, e o recém-nascido 
deitado na manjedoura. 17Tendo-o visto, contaram o que o anjo lhes anunciara sobre o menino. 18E 
todos os que ouviam os pastores, ficaram maravilhados com aquilo que contavam. 19Maria, porém, 
conservava todos esses fatos, e meditava sobre eles em seu coração. 200s pastores voltaram, glorificando 
e louvando a Deus por tudo o que haviam visto e ouvido, conforme o anjo lhes tinha anunciado. 
2, 9: Lc 1 . 1 1 ; At 5, 1 9. • 2, l l : Jo 4, 42; At 5, 3 1 ; Mr 16, 1 6; At 2, 36. 2, 12: !Sm 2, 34; 2Rs 19, 
29; Is ?,14. · 2, 14: 1.c 19, 38; 3. 22. · 2, 19: Lc 2, 5 1 . 
lJJ 2, 8: "pastores" - Os judeus religio­sos geralmente desaprovavam essa 
ocupação. 
• Tal como aconteceu com esses homens, 
Deus favoreceu inúmeros pastores no Anti­
go Testamento, incluindo Abel (Gn 4, 2-4) , 
Jacó (Gn 3 1 , 3- 1 3) , José (Gn 37, 2-9) , Moi­
sés (Ex 3. 1 -6) , Davi (1 Sm 16 . 1 1 - 1 3) , e 
Amós (Am 1 , 1 ) . 
2, 9 : "a glória do Senhor" - A nuvem lu­
minosa e incandescente da presença de Deus 
(Ex 40, 35 ; Nm 9, 1 5- 1 7; CIC 697) . 
2, 1 1 : "Salvador... Messias... Senhor" 
- Títulos que resumem o mistério de Jesus 
e sua missão. Como Salvador, Jesus resgata a 
humanidade do pecado; como Cristo, ele é o 
Messias esperado e o rei descendente de Davi 
( 1 , 32-33; Jo l , 49) ; como Senhor, ele está 
sentado à direita de Deus e reina sobre todas 
as nações (At 2, 34-36; Fl 2, 1 1 ) . 
2, 13 : "multidão de anjos" - Um exército 
inteiro de anjos de Deus (CIC 333) . 
"Cantavam louvores a Deus": Uma nota 
de júbilo que ressoa em todo o Evangelho de 
Lucas. (2, 20; 5 , 26; 7, 1 6; 1 3 , 13 ; 1 7, 1 5 ; 1 8 , 
43; 24, 53.) 
2, 14: "Glória a Deus" - um breve hino 
comumente conhecido pelo seu título em La­
tim, Gloria in Excelsis Deo. 
"Paz'': não a mera ausência de conflitos, 
mas uma paz enraizada na reconciliação com 
Deus. A concessão da paz por Jesus é destaque 
em Lucas (7, 50; 8, 48; 19 , 38 ; Jo 14, 27) . Ver 
comentário sobre Mt 5, 9. 
"Por ele amados": Palavras semelhantes 
ressurgem no batismo de Jesus em Lc 3, 22. 
Isso sugere uma ligação entre os dois episó­
dios: os batizados em Cristo são por ele ama­
dos e estão em paz com Deus (At 2, 38-4 1 ; 
Rm 5 , 1 ; Ef 2, 1 1 - 1 9, CIC 537) . 
2 , 19: "Maria. • • em seu coração" - Maria 
contempla o nascimento e infância de Jesus, 
não à distância, mas como uma participante 
do mistério ( 1 , 35 , 43; 2, 5 1 ) . A perspectiva 
de Lucas sugere que Maria é a sua fonte de 
informações direta ou indireta, já que apenas 
ela poderia relatar esses detalhes escondidos 
da história. 
2, 21 : "circuncidado" - Como João, Je­
sus recebe seu nome ao ser circuncidado ( 1 , 
59-60) ; O acontecimento inicia sua total uni­
dade com o povo da Aliança de Deus, Israel 
(Gn 1 7, 9- 14; CIC 527) . 
Jesus é circuncidado e recebe o nome - 2 1Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do 
menino, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo, antes de ser concebido. 
O evangelho de São Lucas 
Jesus é apresentado no Templo - 22Terminados os dias da purificação deles, conforme a Lei de 
Moisés, levaram o menino para Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor, 23conforme está escrito na 
Lei do Senhor: "Todo primogênito de sexo masculino será consagrado ao Senhor." 24Foram também 
para oferecer em sacrifício um par de rolas ou dois pombinhos, conforme ordena a Lei do Senhor. 
25Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Era j usto e piedoso. Esperava a consolação de 
Israel, e o espíri�o Santo estava com ele. 260 Espírito Santo tinha revelado a Simeão que ele não 
morreria sem primeiro ver o Messias prometido pelo Senhor. 27Movido pelo Espírito, Simeão foi ao 
Templo. Quando os pais levaram o menino Jesus, para cumprirem as prescrições da Lei a respeito 
dele, 28Simeáo tomou o menino nos braços, e louvou a Deus, dizendo: 29"Agora, Senhor, conforme 
a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. 30Porque meus olhos viram a tua salvação, 
3 1que preparaste diante de todos os povos: 32luz para iluminaras nações e glória do teu povo, Israel." 
330 pai e a mãe estavam maravilhados com o que se dizia do menino. 34Simeão os abençoou, e disse 
a Maria, mãe do menino: "Eis que este menino vai ser causa de queda e elevação de muitos em Israel. 
Ele será um sinal de contradição. 35Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe a alma. Assim 
serão revelados os pensamentos de muitos corações." 36Havia também uma profetisa chamada Ana, 
de idade muito avançada. Ela era filha de Fanuel, da tribo de Aser. Tinha-se casado bem jovem, e 
vivera sete anos com o marido. 37Depois ficou viúva, e viveu assim até os oitenta e quatro anos. Nunca 
deixava o Templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações. 38Ela chegou nesse instante, 
louvava a Deus, e falava do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. 
2, 22-24: Lv 12 , 2-8. • 2, 23: Ex 13 , 2-12 . • 2, 25: Lc 2, 38; 23, 5 1 . • 2, 30: Is 52, l O; Lc 3, 6. 
2, 32: Is 42, 6; 49, 6; At 1 3 , 47; 26, 23. • 2, 36: At 2 1 , 9; Js 1 9,24; lTm 5, 9. 
2, 22: "purificação" - O nascimento 
de um filho varão impossibilita uma 
mulher israelita de tocar qualquer objeto sa­
grado ou de se aproximar do Templo por qua­
renta dias e, após esse período, ela deve ofere­
cer o sacrifício em Jerusalém (Lv 1 2, 1 -8) . 
Estritamente falando, essas ofertas purifica­
vam as mulheres de impurezas legítimas e não 
tinha ligação alguma com falhas morais ou 
culpa. Maria aqui oferece o sacrifício do po­
bre: um par de rolas ou dois pombinhos (2, 
24; Lv 1 2, 8) . 
• Vários Padres da Igreja sustentavam que Ma­
ria não tinha impureza legítima para expiar. Ela 
entretanto sujeitou-se à Lei Mosaica a fim de 
não escandalizar os outros. Sua submissão foi 
semelhante a de Jesus, que não tinha pecado 
mas recebeu o batismo de arrependimento de 
João (Mt 3, 1 3- 1 5) . 
lJJ 2, 23: "Todo primogênito do sexo 
masculino ... ao Senhor" - Uma pa­
ráfrase de Ex 13 , 2. Implica que Jesus é cansa-
grado como sacerdote, ou que foi comprado 
dos Levitas por um preço de resgate de cin­
quenta gramas de prata (Nm 1 8 , 1 5- 16) . De 
qualquer maneira, Maria e José cumpriram a 
lei fielmente (2, 22, 24, 27) e completamente 
(2, 39) . 
"Consagrado ao Senhor": É o cumpri­
mento do anúncio do anjo ( 1 , 35) . 
• A apresentação de Jesus se assemelha à consa­
gração de Samuel no Antigo Testamento, que 
também foi feita por pais devotos ao Templo 
(1 Sm 1 , 24-27) . Já que Samuel foi oferecido a 
Deus para se tornar sacerdote ( l Sm l , 1 1 , 22) , 
Lucas talvez tenha deduzido o mesmo com a 
consagração de Jesus. 
lJJ 2, 25: "Consolação de Israel" - isto 
é, o período em que muitos acredita­
vam que Javé salvaria o seu povo das normas 
dos gentios (romanos) e restabeleceria o glo­
rioso reino de Davi em Jerusalém ( 1 , 7 1 ; 2, 
38) . Essas expectativas estavam vinculadas à 
vinda do Messias (Me 1 1 , 1 0; At 1 , 6) . 
3 9 
Cadernos de estudo bíblico 
O retomo a Nazaré - 39Quando acabaram .de cumprir todas as coisas, conforme a Lei do Senhor, 
voltaram para Nazaré, sua cidade, que ficava na Galiléia. 400 menino crescia e ficava forte, cheio de 
sabedoria. E a graça de Deus estava com ele. 
2, 40: Jz 13 , 24; 1 Sm 2, 26. 
• As palavras de Simeão invocam várias das pro­
messas de Isaías nessa direção. (Is 40, 1 ; 52, 9; 
6 1 , 2-3) . Ver comentário sobre 1.c 4, 43 . 
LJJ 2, 29-32: O Nunc Dimittis de Simeão 
(latim para "agora despedes") exalta a 
Criança como a coroa das promessas da Alian­
ça de Deus. 
• O oráculo é uma mistura da profecia de Isaías 
cumprida em Jesus. Primeiro, Jesus personifica 
a salvação de Deus (2, 30) , recordando Is 40, 
5 ; 46, 13 e 52, 9- 1 0. Ele é também uma luz 
para iluminar as nações, invocando Is 42, 6 e 
49, 6. Como o Messias, Jesus é o representante 
da aliança que assume a vocação de Israel so­
bre si e completa a missão que foi deixada sem 
cumprimento na sua vinda, ou seja, derramar 
bênçãos sobre todas as nações. 
2, 34: "queda e elevação" - O segundo 
oráculo de Simeão lança uma sombra sobre 
o futuro do Menino. Ele é o Messias que vai 
traçar uma linha em Israel , fazendo com que 
a nação se divida e tome uma posição favo­
rável ou contrária a ele (20, 1 7- 1 8 ; l Pd 2, 
6-8; CIC 587) . Aqueles que o rejeitam se 
condenam a si mesmos, enquanto os que o 
seguem serão abençoados (6, 20-23 , 46-49) . 
2, 35: "uma espada há de atravessar­
lhe a alma'' - Um vislumbre antecipado do 
Calvário, quando a rejeição de Jesus pelos 
pecadores será fortemente sofrida por sua 
Mãe. Unida à vocação de Maria está uma 
severa expectativa do sofrimento materno 
(CIC 6 1 8) . 
2 , 36: "profetisa'' - Como Maria (Ex 1 5 , 
20) , Débora Qz 4, 4) e Hulda (2Rs 22, 14) 
no Antigo Testamento, Ana é uma intérprete 
reconhecida da vontade de Deus para Israel. 
Outras profetisas do Novo Testamento apare­
cem em At 2 1 , 9. 
2, 41: "libertação de Jerusalém'' - Ana 
aguarda libertação de Deus para Israel e a Ci­
dade Santa. Suas expectativas espelham a de 
Simeão. Ver comentário sobre Lc 2, 25. 
2, 41-52: Apenas Lucas registra este epi­
sódio da infância de Jesus. Ele se afasta do 
resto da história, cercado por anos de silên­
cio em ambos os lados. Além disso, faz uma 
volta completa na Narrativa da Infância do 
evangelho de Lucas, de modo que sua histó­
ria começa e termina no Templo ( l , 9; 2, 46; 
CIC 53 1 -34) . 
2, 41: "Páscoa'' - Esperava-se que varões 
judeus viajassem a Jerusalém para três festas 
todo ano: na festa da Páscoa, na festa das Se­
manas e na festa das Tendas (Dt 1 6, 1 6) . A 
participação anual de Maria e José ressalta a 
fidelidade que tinham à Lei de Deus. 
� 2, 46: " Três dias depois" - Um tem­
.. po de grande ansiedade para Maria e 
José. Pensando que Jesus estivesse com a ca­
ravana de peregrinos da Galiléia, eles deixa­
ram a cidade sem Jesus . 
"Escutando... fazendo perguntas": a 
instrução religiosa judaica muitas vezes en­
volvia levantar questões e discuti-las à luz das 
Escrituras . O conhecimento de Jesus meni­
no surpreendeu até os rabinos mais estuda­
dos (2, 47) . 
O evangelho de São Lucas 
O menino Jesus no Templo - 410s pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. 
42Quando o menino completou doze anos, subiram para a festa, como de costume. 43Passados os dias 
da Páscoa, voltaram, mas o menino Jesus ficÓu em Jerusalém, sem que seus pais o notassem. 44Pensan­
do que o menino estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro. Depois começaram a procura-lo 
enue parentes e conhecidos. 45Não o rendo encontrado, voltaram a Jerusalém à procura dele. 46Três 
dias depois, encontraram o menino no Templo. Estava sentado no meio dos doutores, escutando e 
fazendo perguntas. 47Todos os que ouviam o menino estavam maravilhados com a inteligência de suas 
respostas. 48Ao vê-lo, seus pais ficaram emocionados. Sua mãe lhe disse: "Meu filho, por que você fez 
isso conosco? olhe que seu pai e eu estávamos angustiados, à sua procura." 49Jesus respondeu: "Por que 
me procuravam? Não sabiam que eu devo estar na casa do meu Pai?" 50Mas eles não compreenderam 
o que o menino acabava de lhes dizer. 51Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e permaneceu 
obediente a eles. E sua mãe conservava no coração todas essas coisas. 52E Jesus crescia em sabedoria, em 
estarura e graça, diante de Deus e dos homens. 
2, 41: Dt 16, 1 -8; Ex 23, 1 5. • 2, 48: Mc 3, 3 1 -35. - 2, 51: Lc 2, 19. • 2, 52: Lc 1, 80; 2, 40. 
• Alegoricamente, 16 a descoberta de Jesus no 
Templo prefigura sua Ressurreição, quando 
Cristo, pela morte, terá três dias de ausência 
apenas para se encontrar novamente na car­
ne. A angústia após o seu sepultamento vai 
igualmente dar lugar à alegria e ao alívio em 
Sua ascensão. 
2, 49: "Não sabiam'' - Jesus não re­
preende Maria e José como se tivessem feito 
algo errado, mas os instrui que o papel deles 
como pais deve estar subordinado à vontade 
do Seu Pai divino, Seus pais têm uma ftm­
ção importante a desempenhar em sua mis­
são, tal como indicado no episódioseguinte, 
em que Jesus se submete a sua liderança e os 
honra com a fiel obediência de um filho. 
16 Santo Ambrósio, ln Lucam. 
"casa do meu Pai": Literalmente "no que 
é de meu Pai". Isso pode ser referência espe­
cífica ao Templo ou, de modo geral, a sua 
missão dada pelo Pai . 
ITI 2, 52: "Jesus crescia'' - O desenvol­
LJU vimento humano de Jesus era um 
processo da construção de caráter e aquisição 
de conhecimento experimental que acompa­
nhou o seu crescimento físico e psicológico 
(Pv 3, 3-4) . Ao final desses estágios de desen­
volvimento, a vida de Cristo como homem 
era um reflexo perfeito da sua filiação divina 
(CIC 472) . Ver comentário sobre Mt 24, 36. 
• A descrição de Lucas lembra o amadureci­
mento do jovem Samuel em 1 Sm 2, 26. 
ENSAIO S O B RE UM TÓPICO: O CENSO DE QUIRINO 
O 
s versículos iniciais de Lucas 2 tem por muito tempo desconcertado os 
intérpretes da bíblia.Apesar da intenção de Lucas de situar o nascimen­
to de Jesus na linha do tempo da história mundial, muitos estudiosos 
alegam que Lc 2, 1 -3 são os versículos mais historicamente inexatos no evan­
gelho. Dizem que César Augusto nunca ordenou um censo em todo o império 
(Lc 2, 1 ) e que o censo do governador romano da Síria, Quirino, não aconteceu 
Cadernos de estudo bíblico 
até 6 d.C., uma década inteira depois da data que muitos aceitam como o nas­
cimento de Jesus (6-4 a.C.) . Se o decreto de César é historicamente suspeito e 
o censo de Quirino é cronologicamente tardio para ter levado José e Maria a 
Belém, como Lucas pode .ligar esses acontecimentos a fim de preparar o terreno 
do primeiro Natal? 
Várias explicações disso têm sido propostas por estudiosos. Alguns pensam 
que Lucas fez confusão com os fatos. Outros sugerem que Lucas nos deu um es­
boço desses eventos iniciais sem a intenção de ser mais preciso sobre os detalhes 
cronológicos. Outros ainda precipitam-se à defesa de Lucas como historiador 
confiável, mas são forçados a reconstruir a história do período em modos que 
não são facilmente reconciliáveis com os dados históricos atualmente disponí­
veis. Felizmente, pesquisas recentes então começando a esclarecer melhor esta 
questão. Isso envolve uma reinterpretação de três peças essenciais do quebra-ca­
beça histórico: o ano da morte de Herodes, o Grande, a natureza do decreto de 
César e o papel de Quirino. 
1. Uma maioria de estudiosos acredita que Herodes o Grande, o governante 
da Palestina, morreu na primavera de 4 a.C. , logo depois de um eclipse 
lunar em março daquele ano. Amplo consenso nesta data levou intérpre­
tes modernos a situar o nascimento de Jesus um ou dois anos antes, entre 
6 e 4 a.C. - afinal Herodes ainda estava vivo no período da Natividade 
(Mt 2, 1- 1 8) . Objeções são agora levantadas contra essa visão. De fato, 
muitos estudiosos defendem a data para a morte de Herodes no início da 
primavera de 1 a.C. , logo depois de um eclipse lunar em janeiro daquele 
ano. Curiosamente, essa cronologia alternativa impulsionaria a data do 
nascimento de Cristo ao pleno acordo com o testemunho dos primeiros 
cristão_s. Ao calcular a Natividade de acordo com os anos do reinado de 
César Augusto, muitos Padres da Igreja, como Irineu, Clemente de Ale­
xandria, Tertuliano, Orígenes, Hipólito de Roma, Eusébio e Epifânio, 
estabeleceram uma data para o nascimento de Cristo entre 3 e 2 a.C.. Se 
acolhida, essa revisão cronológica leva a Natividade para mais perto do 
final do primeiro século a.C. e abre novas possibilidades para o entendi­
mento das circunstâncias descritas por Lucas. 
2. O decreto de César tem sido um detalhe problemático na narrativa de 
Lucas (Lc 2, 2). Há evidência clara de que César Augusto iniciou os re­
gistros dos cidadãos romanos em diferentes momentos do exercício do 
seu cargo, mas não há indícios de que tenha ocorrido nos anos finais do 
primeiro século a.C. ou que tal censo tenha abrangido o império todo. 
Já que a maioria dos recenseamentos no mundo romano era feito para 
fins de tributação, ainda se argumenta que César nunca faria um censo 
4 2 
O evangelho de São Lucas 
na Palestina enquanto Herodes, o Grande, gov.ernava a região como rei e 
recolhia os impostos que a ele pertencia. Essas visões geralmente reconhe­
cidas são agora criticadas. O historiador judeu Josefo relata que durante 
os últimos anos do governo de Herodes, a Judéia foi obrigada a fazer 
um juramento de lealdade a César. Evidências arqueológicas confirmam 
que o mesmo tipo de juramento era feito em outras partes do império 
em torno de 3 a.C. IssÕ também pode significar que o recenseamento 
descrito em Lc 2, 1 envolveu um juramento de fidelidade ao imperador, 
não um censo feito para fins tributários. Posteriormente, um historiador 
cristão chamado Orósio (século quinto d.C.) disse explicitamente que 
César Augusto ordenou que todo indivíduo em todas as províncias ro­
manas fizesse um juramento público. Sua descrição do acontecimento 
sugere vivamente que este juramento foi obrigatório pouco antes de 2 
a.C. , quando o povo romano aclamou César Augusto como o primeiro 
de todos os homens. Até mesmo César Augusto diz nos seus escritos pes­
soais que o mundo romano inteiro professou que ele era o "Pai" do im­
pério quando este título foi oficialmente concedido a ele em 2 a.C. Essas 
linhas convergentes de evidências tornam possível que o censo de Lucas 2 
não tenha sido um recenseamento de habitantes para fins de tributação, 
mas um recenseamento público de súditos que expressavam sua lealdade 
ao imperador reinante. 
3 . 3 . O papel de Quirino é talvez o detalhe mais difícil de interpretar na nar­
rativa de Lucas (Lc 2,2) . É bem conhecido que ele iniciou um recenseamento de 
tributação logo depois de ser nomeado embaixador da Síria no ano 6 d.C., em­
bora faltem evidências de que ele ocupou essa posição mais de uma vez ou que 
já tenha iniciado mais de um recenseamento. Como, então, Lucas pode associar 
Quirino a um censo que ocorreu muitos anos antes, quando Jesus nasceu? A 
pista mais útil pode ser encontrada nas próprias palavras de Lucas, A expressão 
grega que ele usa em Lc 2, 2 para a função de governador de Quirino é a descri­
ção exata que ele usa para a função governante de Pondos Pilatos em Lc 3, 1 . Já 
que Pilatos "governou" como um procurador regional e não foi o embaixador 
de uma província romana inteira (como Síria) , é possível que Lucas esteja se 
referindo a uma função administrativa adotada por Quirino que não tinha ne­
nhuma ligação com sua posição posterior de embaixador imperial. Essa possibi­
lidade é reforçada pelo Padre da Igreja Justino Mártir, que afirmou que Quirino 
foi um "procurador" na Judéia (não na Síria) no tempo do nascimento de Jesus. 
Isso também q.os permite recorrer .ao testemunho de outro escritor cristãà pri­
mitivo, Tertuliano, que disse que Saturnino (e não Quirino) era o embaixador 
4 3 
Cadernos de estudo bíblico 
oficial da Síria no tempo da Natividade. Pode ser que Quirino fosse um admi­
nistrador do recenseamento da Judéia (isto é, o registro do juramento em 3 a.C.) 
muitos anos antes de conduzir outro censo para tributações em 6 d.C. 
Embora haja lacunas nessa reconstrução, e muito permaneça incerto, a força 
cumulativa da evidência é significante. A morte de Herodes, o decreto de César 
e a posição governante de Quirino são todos fatores históricos que, quando re­
considerados, produzem um retrato mais coerente dos acontecimentos em torno 
da natividade. Isso significaria que Jesus nasceu entre 3 e 2 a.C., o recenseamen­
to de José e Maria foi um registro de lealdade a César, e a documentação desse 
juramento foi organizada e implementado na Judéia por Quitino anos antes de 
ter sido nomeado o governador oficial da Síria. Essa reconstrução não só alivia 
as tensões cronológicas em Lc 2, 1 -2, mas ajuda a confirmar a confiabilidade de 
Lucas como historiador, bem como a credibilidade da Igreja primitiva como um 
canal de tradições históricas. 
3 O sermão de João Batista - 1Fazia quinze anos que Tibério eraimperador de Roma. Pôncio 
Pilatos era governador da Judéia; Herodes governava a Galiléia; seu irmão Filipe, a lturéia e a Tra­
conítide; e Lisânias, a Abilene. 2Anás e Caifás eram sumos sacerdotes. Foi nesse tempo que Deus 
enviou a sua palavra a João, filho de Zacarias, no deserto. 
'
3E João percorria toda a região do rio Jordão, 
pregando um batismo de.conversão para o perdão dos pecados, 4conforme está escrito no livro do pro­
feta Isaías: "Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparem o caminho do Senhor, endireitem suas 
estradas. 5Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão aplainadas; as estradas curvas ficarão 
retas, e os caminhos esburacados serão nivelados. 6E todo homem verá a salvação de Deus." 7João Batista 
dizia às multidões que iam para ser batizadas por ele: "Raça de cobras venenosas, quem lhes ensinou 
a fugir da ira que vai chegar? 8Façam coisas para provar que vocês se converteram, e não comecem a 
pensar: 'Abraão é nosso pai'. Porque eu lhes digo: até destas pedras Deus pode fuzer nascer filhos de 
Abraão. 90 machado já está posto na raiz das árvoreS. E toda árvore que não der bom fruto, será cortada 
e jogada no fogo." 'ºAs multidões perguntavam a João: "O que é que devemos fazer?" 1 1 Ele respondia: 
"Que!Il tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem. E quem tiver comida, faça a mesma coisa." 12Alguns 
cobradores de impostos também foram para ser batizados, e perguntaram: "Mestre, o que devemos 
fazer?" 13João respondeu: "Não cobrem nada além da taxa estabelecida." 14Alguns soldados também 
perguntaram: "E nós, o que devemos fazer?" Ele respondeu: "Não maltratem ninguém; não façam acu­
sações falsas, e fiquem contentes com o salário de vocês." 150 povo estava esperando o Messias. E todos 
perguntavam a si mesmos se João não seria o Messias. 16Por isso, João declarou a todos: "Eu batiw vocês 
com água. Mas vai chegar alguém mais forte do que eu, e eu não sou digno nem sequer de desamarrar 
a correia das sandálias dele. Ele é quem batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo. 17Ele terá na 
mão uma pá; vai limpar sua eira, e recolher o trigo no seu celeiro; mas a palha ele vai qm;imar no fogo 
que não se apaga." 18João anunciava a Boa Notícia ao povo de muitos outros modos. 19João repreendeu 
o governador Herodes, porque este se casara com Herod.íades, a mulher do irmão, e porque tinha feito 
muitas outras maldades. 20Herodes ainda fez o pior: mandou prender João. 
3, l: L: 23, l; 9.7; 13 ,3 1 ; 23,7. • 3, 2: Jo 1 8, 1 3; At 4,6; Mt 26,3; Jo 1 1 ,49. • 3, 3-9: Mt 3 , 1 - 10; Me 1 , 1-5 ; Jo 1 ,6 e 23. • 3, 4-6: ls 40, 3-5. • 
3, 6: L: 2, 30. • 3, 7: Mt 12 , 34; 23, 33. • 3, 8: Jo 8, 33. 39. • 3, 9: Mt 7, 9; Hb 6,7-8. • 3, l i : L: 6, 29. • 3, 15: At 13 , 25; Jo 1 , 1 9-22; 
3, 16-18: Mt 3. 1 1 - 1 2; Me 1, 7-8; Jo 1, 26-27, 33; At 1 ,5 ; 1 1 , 1 6; 1 9.4. • 3, 19-20: Mt 14, 3-4; Me 6, 17- 18 . 
44 
COMENTÁRIOS 
3, 1-2: Lucas situa o ministério de João 
Batista na cronologia dos acontecimentos 
mundiais, com a intenção de que os leitores 
o vejam à luz da história civil e religiosa. Ele 
se move de um amplo foco a um mais restrito 
ao considerar o imperador romano (Tibério) , 
governantes locais da Palestina (Pilatos, He­
rodes, Filipe, Lisânias) e líderes sacerdotais de 
Israel (Anás e Caifás) . 
3 , 1 : "Tibério" - O imperador romano 
de 14 a 37 A.D. Seus quinze anos de ofício se 
dá entre 27 e 29 d.C. 
"Pondos Pilatos'': O procurador roma­
no que gvernou Judéia, Samaria e Iduméia de 
26 a 36 d.C. 
"Herodes": Herodes Antipas, filho de 
Herodes, o Grande. Governou a Galiléia e 
Peréia de 4 ou 1 a.C. até 39 d.C., enquanto 
seu meio-irmão "Filipe" governou as regiões 
ao nordeste da Galiléia de 4 ou 1 a. C. até 
34 A.D. Outrora desconhecido, "Lisânias" 
governou o território ao norte da Palestina 
chamado Abilene. 
3, 2: "sumos sacerdotes" - Os sumos sa­
cerdotes de Israel ocupavam o cargo um de 
cada vez. Na época do Novo Testamento, as 
autoridades romanas nomeavam e destituíam 
esses sacerdotes à vontade. 
''Anás": Seu ministério foi exercido de 
6 d.C. até ser substituído em 1 5 d.C. Sua 
influência em Jerusalém resistiu por muito 
tempo após o seu mandato (Jo 1 8 , 1 3 . 24; 
At 4, 6) . 
"Caifás'': O genro de Anás que ministrou 
como sumo sacerdote de 1 8 a 36 d.C. 
ITI 3, 4-6: As palavras de Isaías anunciam 
� a restauração de Israel e do mundo (Is 
40, 3-5) . João é a voz no deserto que clama a 
preparação de Israel para a vinda do Senhor. 
O evangelho de São Lucas 
Assim como as vias foram melhoradas por 
causa da procissão de antigos reis, João se pre­
para para a chegada de Jesus e para a salvação 
de todo homem. 
• Ao citar o capítulo que inicia a parte cen­
tral de Isaías (caps. 40-55) , Lucas sugere urna 
sinfonia inteira de promessas bíblicas a ser 
cumprida pelo Senhor. Ele irá resgatar os po­
bres e oprimidos (Is 4 1 , 1 7; 42, 7; 49, 1 3) , 
derramar o Espírito (44, 3) , restaurar Israel 
(43, 5-7; 48, 20; 49, 5 ) , chegar a Jerusalém 
corno Rei (40, 9- 1 0; 52, 7- 1 0) , destruir seus 
inimigos (4 1 , 1 1 - 1 3 ; 47, 1 - 1 5) e mostrar mi­
sericórdia a seus filhos (43 , 25 ; 44, 22; 55 , 
7) . No cume disso está o Servo messiânico, 
cuja missão é abençoar as nações (42, 1 -4; 
49, 1 -6) e expiar o pecado (50, 4-9; 52, 1 -53, 
1 2) . Tudo isso é cumprido por Jesus (2 , 32; 
22, 37; 24, 46; At 3 , 1 3) . 
3 , 8 : "é nosso pai" - Israel traçou sua des­
cendência a Abraão (Gn 1 7, 3-5; Is 5 1 , 2) . No 
entanto, João adverte que a descendência raci­
al não garante o favor de Deus, já que os ver­
dadeiros filhos de Abraão são os que imitam 
sua fé perseverante (Jo 8, 39-40; Rm 4, 1 6) . 
3, 10-14: João direciona sua mensagem 
a todas as pessoas e ocupações. A renovação 
espiritual determinada por ele implica, entre 
outras coisas, um retorno à justiça social (3, 
1 1 , 14) , honestidade (3, 1 3) , e generosidade 
(3, 1 1 ) (CIC 2447) . Ver Estudo da Palavra: 
Penitência em Me l , 4. 
3, 15: "João ... o Messias" - As multidões 
se perguntam se João é o Messias. Ele nega e 
fala que o Messias é "mais forte" que ele (3, 
1 6; cf. Jo l , 20) . Ver comentário sobre Me 
1 , 5 . 
3 , 17: "uma pá'' - De acordo com a prá­
tica habitual, o grão era jogado ao ar com uma 
pá bifurcada. O vento soprava para longe o 
4 5 
Cadernos de estudo bíblico 
O batismo de Jesus - 21Todo o povo foi batizado. Jesus, depois de batizado, estava rezando. Então o céu 
se abriu, 22e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba. E do céu veio uma voz: 
"Tu és o meu Filho amado! Em ti encontro o meu agrado." 
3, 21-22: Mc 3, 13- 17; Mc 1 , 9- l l ; Jo l , 29-34. • 3, 2l: Lc 5, 16; 6, 12; 9, 18; 9,28; 1 1 , l ; Mc 1 , 35. 
3, 22: 51 2, 7; Is 42, l ; Lc 9, 35; At 10, 38; 2Pd 1 , 17. 
joio inútil, enquanto as sementes caíam à eira 
para ser recolhidas e armazenadas Deus irá se­
parar do mesmo modo os bons e os maus no 
Julgamento final (SI l , 4-6; Mt 13 , 24-30) . 
3, 19: "João repreendeu'' - João denun­
ciou o pecado e convocou malfeitores a se 
reconciliarem com Deus. No caso de Herodes 
Antipas, João acusou-o de se casar ilegalmen­
te com Herodíades, esposa divorciada do seu 
irmão Filipe. Ver comentário sobre Me 6, 1 8 . 
fTI 3, 21-22: Lucas abrevia o batismo de 
� Jesus, enfatizando que o Espírito San­
to desceu sobre ele (4, 1 8) . Foi a fim de forta­
lecer Jesus para um "batismo" de sofrimento 
posterior ( 1 2, 50) . 
• Dois oráculos do Antigo Testamento res­
soam ao fundo. ( 1 ) Is 1 1 , 2 descreve o "Espí­
rito do SENHOR" repousando sobre o Mes­
sias davídico, possibilitando que ele julgue os 
fracos com "justiça" e vitoriosamente "mate o 
ímpio" (Is 1 1 , 4) . Isso se encaixa na descrição 
que Lucas faz de Jesus como um ministro dos 
pobres (4, 1 8 ; 6, 20) e um Rei Davídico ( 1 , 
32-33) . (2) Is 42, 1 d a mesma forma descreve 
o "Espírito" repousando sobre o Servo do Se­
nhor, que irá ministrar às "nações" (Is 42, 6) 
e "abrir os olhos dos cegos" (Is 42, 7). Lucas 
também retrata Jesus como o Servo que traz 
a luz salvadora de Deus a todas as nações ( 1 , 
32; 22, 37; 24, 47) (CIC 536, 1 286) . 
3, 21 : "rezando" - Lucas com frequência 
retrata Jesus rezando durante momentos sig­
nificativos da sua vida (6, 12 ; 9, 1 8 , 28; 1 1 , 
1 ; 22, 32, 4 1 ; 23, 46; CIC 2600) . 
3, 22: "como pomba'' - Símbolo de paz 
e inocência (Gn 8 , 1 0- 1 1 ; Mt 1 0, 1 6; CIC 
70 1 ) . Ver comentário sobre Me l , 1 0 . 
3, 23-38: Há várias diferenças entre as 
genealogias de Jesus em Lucas (3, 23-38) e 
em Mateus (Mt 1 , 2- 1 6) que torna difícil 
A ascendência de Jesus - 23Jesus tinha cerca de trinta anos quando começou sua atividade pública. E, 
conforme se pensava, ele era filho de José, filho de Eli, 24filho de Matat, filho de Levi, filho de Melqui, 
filho de Janai, filho de José, 25filho de Matadas, filho de Arnós, filho de Naum, filho de Esli, filho de 
Nagai, 26filho de Maat, filho de Matadas, filho de Semein, filho de José, filho de Jodá, 27filho de Joanã, 
filho de Ressa, filho de Zorobabel, filho de Salatiel, filho de Neri, 28filho de Melqui, filho de Adi, filho 
de Cosã, filho de Almadã, filho de Her, 29filho de Jesus, filho de Eliezer, filho de Jorim, filho de Matar, 
filho de Levi, 30filho de Simeão, filho de Judá, filho de José, filho de Jonã, filho de Eliacim, 31filho de 
Meléia, filho de Mená, filho de Matará, filho de Narã, filho de Davi, 32filho de Jessé, filho de Obed, 
filho de Booz, filho de Salá, filho de Naasson, 33filho de Arninadab, filho de Admin, filho de Arni, filho 
de Esron, filho de Farés, filho de Judá, 34filho de Jacó, filho de Isaac, filho de Abraão, filho de Taré, filho 
de Nacor, 35filho de Seruc, filho de Ragau, filho de Faleg, filho de Éber, filho de Salá, 36filho de Cainã, 
filho de Arfaxad, filho de Sem, filho de Noé, filho de Lamec, 37filho de Matusalém, filho de Henoc, filho 
de Jared, filho de Malaleel, filho de Cainã, 38filho de Enós, filho de Set, filho de Adão, filho de Deus. 
3, 23-38: Me l , 1 - 17; Gn 5,3-32; 1 1 , 1 0-26; Rt 4, 1 8-22. 1 Cr 1 , 1 -4, 24-28; 2 , 1- 1 5. • 3, 23: Jo 8, 57; Lc l, 27. 
O evangelho de São Lucas 
harmonizá-las em cada detalhe. Duas coo- de Jesus da própria Maria. Ver comentários 
siderações devem ser observadas para colocar sobre Lc 2, 1 9 e Mt 1 , 2- 1 7. 
suas diferenças em perspectiva. ( 1 ) Mateus 
traça a linhagem de Jesus a partir de Abraão, 
o precursor de Israel (Mt 1 , 2) , enquanto 
Lucas traça a descendência até Adão, o pai 
da humanidade (3, 38) . Assim, enquanto 
Mateus ressalta a realeza de Jesus sobre Is­
rael, Lucas ressalta suas qualificações para ser 
o Salvador da humanidade como um todo. 
(2) As duas genealogias são substancialmente 
a mesma de Abraão a Davi, mas divergem 
significativamente nas gerações que vão de 
Davi a Jesus . É possível que Mateus regis­
tre a descendência do pai adotivo de Jesus, 
José, e Lucas registre a descendência de sua 
mãe biológica, Maria. Nesse caso, Mateus 
nos mostra a linhagem dinástica que passa 
de Davi a José pelo Rei Salomão (Mt l , 6) 
e Lucas nos mostra a linhagem davídica de 
modo mais geral, uma vez que passa de Davi 
a Maria por meio de Natã (3, 3 1 ) . Como na 
sua Narrativa da Infância, Lucas pode ter ob­
tido informação sobre as tradições familiares 
lJJ 3, 23: "trinta anos" - Apenas Lucas 
menciona a idade adulta de Jesus, 
que os judeus geralmente consideravam a 
idade da maturidade. 
• Ênfase anterior à missão reaJ de Jesus o vin­
cula a Davi ( 1 , 32; 2, 4) , que também tinha 
trinta anos quando foi ungido rei (2 Sm 5, 4) . 
3, 31 : "filho de Davi" - A descendência 
davídica de Jesus o qualifica à realeza em Is­
rael, e o Pai o colocará no trono de Davi para 
sempre ( 1 , 32-33, 69; 1 8 , 38 ; 20, 4 1 -44) . 
Ver comentário sobre Lc 1 , 32-33. 
3, 38: "filho de Deus" - A ligação final 
da genealogia indica a filiação de Adão na 
criação. À luz de afirmações semelhantes so­
bre Jesus ( 1 , 35 ; 3, 22) , Lucas expressa uma 
ligação entre os dois: Cristo é o novo Adão 
que regenera uma nova humanidade na vida 
e na graça de Deus (Rm 5 , 1 4; 1 Cor 1 5 , 45) . 
47 
Cadernos de estudo bíblico 
4A tentação de Jesus - 1Repleto do Espírito Santo, Jesus voltou do rio Jordão, e era conduzido 
pelo Espírito através do deserto. 2Aí ele foi tentado pelo diabo durante quarenta dias. Não comeu 
nada nesses dias e, depois disso, sentiu fome. 3Então o diabo disse a Jesus: "Se tu és Filho de Deus, 
manda que essa pedra se torne pão." 4Jesus respondeu: "A Escritura diz: 'Não só de pão vive o homem'." 
50 diabo levou Jesus para o alto. Mostrou-lhe por um instante todos os reinos do mundo. 6E lhe disse: 
"Eu te darei todo o poder e riqueza desses reinos, porque tudo isso foi entregue a mim, e posso dá-lo 
a quem eu quiser. 7Portanto, se te ajoelhares diante de mim, tudo isso será teu." ªJesus respondeu: "A 
Escritura diz: 'Você adorará o Senhor seu Deus, e somente a ele servirâ ." 9Depois o diabo levou Jesus a 
Jerusalém, colocou-o na parte mais alta do Templo. E lhe disse: "Se tu és filho de Deus, joga-te daqui 
para baixo. 10Porque a Escritura diz: 'Deus ordenará aos seus anjos a teu respeito, que te guardem com 
cuidado'. 1 1 E mais ainda: 'Eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em nenhudia pedrá." 12Mas 
Jesus respondeu: "A Escritura diz: 'Não tente o Senhor seu Deus'." 13Tendo esgotado todas as formas de 
tentação, o diabo se afastou de Jesus, para voltar no tempo oportuno. ' 
4, 1-13: Mt 4, 1 - 1 1 ; Me 1 , 1 2- 1 3. • 4, 2: Dr 9, 9; lRs 1 9, 8. · 4, 4: Dr 8, 3. 0 4, 6: 1 Jo 5, 1 9. • 4, 8: Dt 6, 13 . 
4, 10-11 : SI 91 , 1 1 - 12 . - 4, 12: Dt 6, 16. • 4, 13: Lc 9 22, 28. 
COMENTÁRIOS 
� 4, 1-13: A narrativa de Lucas sobre a 
.... tentação traça o curso do ministério 
de Jesus. A natureza da sua missão está em 
questão: Que tipo de Messias ele será? O di­
abo tenta desviar Jesus do caminho do sofri­
mento para o caminho do poder terreno (4, 
6) e do sensacionalismo (4, 9- 1 0) . Seu esfor­
ço final para tentar Jesus os leva a Jerusalém 
(4, 9) , que antecipa a Semana Santa, e a der­
rota Satã pela cruz (Hb 2, 1 4- 1 5 ; 1 Jo 3, 8) 
(CIC 538-40, 2 1 1 9) . Ver comentário sobre 
Mt 4, 1 - 1 1 . 
• Alegoricamente, 1 7 Cristo vai ao deserto, para 
resgatar o homem do seu exílio no pecado. 
Desde a expulsão de Adão do Éden, o homem 
definhou no deserto da morte espiritual, ex­
tirpado do paraíso. Cristo busca o homem no 
deserto para libertá-lo das garras do diabo. 
ITI 4, 2: "quarenta d.ias" - A duração do 
IJU jejum de Jesus. 
• O número 40 é símbolo de provação e teste 
na bíblia. É vinculado com o dilúvio (Gn 7, 
4, 1 7) , o jejum de Moisés no Monte Sinai (Ex 
34, 28) , a viagem de Israel no deserto (Dt 8 , 
2) , a exploração dos doze espiões em Canaã 
(Nm 14 , 34) , a opressão de Israel pelos filis­
teus (Lz 1 3 , 1 ) , o jejum de Elias (1 Rs 1 9, 8) , 
e a oportunidade de Nínive se arrepender na 
pregação de Jonas Qn 3 , 4) . 
4, 13: "para voltar no tempo oportuno" 
- a derrota do diabo ainda está incompleta. 
Ele vai continuar lutando contra o Reino de 
Deus ( 1 1 , 1 7-22) e vai montar um ataque 
agressivo a Jesus no Getsemâni (22, 3; 39-53) . 
4, 16: "Nazaré" - O lar da infância de 
Jesus (2, 5 1 ) . Ver comentário sobre Lc l , 26. 
"Sinagoga'': um local usado para o culto 
e a instrução sobre a bíblia. As cerimônias 
aos sábados eram estruturadas em torno da 
leitura e exposição da Lei de Moisés (At 1 5 , 
Jesus começa a pregar e a ensinar na Galiléia - 14Jesus voltou para a Galiléia, com a força do Espírito, 
e sua fama espalhou-se por toda a redondeza. 15Ele ensinava nas sinagogas, e todos o elogiavam. 
4, 14: Mr 4, 1 2; Me 1 , 14; Mr 9, 26. Lc 4, 37. - 4, 15: Mr 4, 23; 9, 35; 1 1 , 1 . 
1 7 Santo Ambrósio, ln Lucam. 
O evangelho de São Lucas 
A rejeição de Jesus em Nazaré - 16Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se havia criado. Conforme seu 
costume, no sábado entrou na sinagoga, e levantou-se para fazer a leitura. 17Deram-lhe o livrodo pro­
feta Isaías. Abrindo o livro, Jesus encontrou a passagem onde está escrito: 18"0 Espírito do Senhor está 
sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me 
para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, 
19e para proclamar um ano de graça do Senhor." 20Em seguida Jesus fechou o livro, o entregou na mão 
do ajudante, e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21Então Jesus 
começou a dizer-lhes: "Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabam de ouvir." 22To­
dos aprovavam Jesus, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca. E diziam: 
"Este não é o filho de José?" 23Mas Jesus disse: "Sem dúvida vocês vão repetir para mim o provérbio: 
Médico, cura-te a ti mesmo. Faze tambem aqui, em tua terra, tudo o que ouvimos dizer que fizeste em 
Cafarnaum." 24E acrescentou: "Eu garanto a vocês: nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. 25De 
fato, eu lhes digo que havia muitas viúvas em Israel, no teinpo do profeta Elias, quando não vinha chuva 
do céu durante três anos e seis meses, e houve grande fome em toda a região. 26No entanto, a nenhuma 
delas foi enviado Elias, e sim a uma viúva estrangeira, que vivia em Sarepta, na Sidônia. 27Havia também 
muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu. Apesar disso, nenhum deles foi curado, a não 
ser o estrangeiro Naamã, que era sírio." 28Quando ouviram essas palavras de Jesus, todos na sinagoga 
ficaram furiosos. 29Levantaram-se, e expulsaram Jesus da cidade. E o levaram até o alto do monte, sobre 
o qual a cidade estava construída, com intenção de lançá-lo no precipício. 30Mas Jesus, passando pelo 
meio deles, continuou o seu caminho. 
4, 16-30: Mt 13, 53-58; Me 6; 1 -6; At 13 , 14- 16. • 4, 18-19: Is 6 1 , 1 -2. • 4, 22: Jo 6, 42; 7, 1 5. • 4, 23: Me ! , 2 1 ; 2, ! ; Jo 4, 46. 4, 24: Jo 4, 44. 
4, 25: !Rs 1 7, l, 1 8 - 16; 1 8, l ; Jas 5 , 17-1 8. • 4, 27: 2Rs 5 , 1 - 1 4. • 4, 29: At 7, 58; Nm 1 5 , 35. • 4, 30: Jo 8, 59; 1 0,39. 
2 1 ) e dos profetas (4, 1 7; At 13 , 1 5) . Ver 
comentário sobre Mt 4, 23. 
l"'frl 4, 18-19: Uma referência a Is 6 1 , 
LJU 1 -2, com um excerto adicional de Is 
58 , 6. Como muitos no Novo Testamento 
esperavam que o Messias libertasse Israel da 
dominação política dos Romanos, o povo 
equivocadamente pensou que essas passa­
gens prometiam a sua independência nacio­
nal (CIC 439) . 
• O oráculo de Isaías seleciona a linguagem 
de Lv 25 a respeito do ano do jubileu. Como 
parte da legislação econômica de Israel, um 
jubileu era celebrado a cada cinquenta anos. 
Assinalava a remissão das dívidas, a libertação 
dos escravos, e o retorno da propriedade an­
cestral aos proprietários originais . Isaías pro­
jeta essa celebração j ubilar no futuro quando 
Deus vier para libertar Israel da sua escravi­
dão (ídolos) e das dívidas (culpa) . Jesus segue 
o espírito de Isaías quando anuncia liberta­
ção do pecado, não da submissão política ou 
econômica (Rrn 6, 6) . Alhures em Lucas a 
palavra libertação (do grego aphesis) significa 
"perdão" ( 1 , 77; 3, 3; 24, 47) . 
4, 18: "boa notícia aos pobres" - Cristo 
reserva muitas bênçãos para os humildes e 
fracos ( 1 , 52; 6, 20; 14, 1 2- 1 4; 1 6, 1 9-26; 
1 8 , 1 -8; 1 9 , 8- 1 0; CIC 544, 2443) . 
4, 24: "nenhum profeta é bem rece­
bido" - Jesus se coloca na companhia dos 
profetas do Antigo Testamento, muitos dos 
quais foram rejeitados e até mesmo mortos 
por irmãos israelistas ( 1 1 , 47; 1 3, 33-34; At 
7, 52) . 
ltJ 4, 25-30: Jesus recorda a missão de Elias e Eliseu para explicar a sua. 
• Esses profetas viveram em tempos som­
brios, quando Deus olhou desfavoravelmen­
te para o reino do norte de Israel, e enviou 
bênção aos gentios no seu lugar. Elias foi en­
viado a uma viúva em Sidônia ( 1 Rs 1 7, 1 - 1 6) 
49 
Cadernos de estudo bíblico 
O homem com o espírito impuro - 31Jesus foi a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e aí ensinava aos 
sábados. 32As pessoas ficavam admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus falava com autoridade. 
33Na sinagoga havia um homem possuído pelo espírito de um demônio mau, que gritou em alta voz: 
34"0 que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de 
Deus!" 35Jesus o ameaçou, dizendo: "Cale-se, e saia dele!" Então o demônio jogou o homem no cháo, 
saiu dele, e não lhe fez mal nenhum. 360 espanto tomou conta de todos, e eles comentavam entre si: 
"Que palavra é essa? Ele manda nos espíritos· maus com autoridade e poder, e eles saem." 37E a fama de 
Jesus se espalhava em todos os lugares da redondeza. 
4, 31-37: Me 1 , 28. · 4, 32: Me 7, 28; 1 3, 54; 22, 33; Me l l , 1 8; Jo 7, 46. • 4, 37: Lc 4, 14; 5, 1 5; Mt 9. 26. 
e Eliseu purificou um leproso sírio (2 Rs 5 , 
1 - 1 4) . Jesus declarou que o "ano da graça do 
Senhor" (4, 1 9) será um tempo de bênçãos, 
mesmo fora de Israel. Isso vai de encontro às 
perspectivas judaicas que anteciparam ape­
nas a punição para nações dos gentios. 
4, 29: "expulsaram Jesus da cidade" - A 
multidão provavelmente pretendia apedrejar 
Jesus como um falso mestre (Dt 1 3 , 1 O; At 
7, 58) . 
4, 31 : "Cafarnaum'' - A sede do minis­
tério galileu de Jesus (Mt 4, 14 ; Me 2, 1 ) . A 
cidade ficava na costa norte do Mar da Gali­
léia e prosperava na sua indústria pesqueira. 
4, 36: "com autoridade e poder" - Mui­
tos exorcistas populares durante os tempos 
do Novo Testamento recitavam fórmulas 
mágicas e usavam raízes odoríferas para ex­
pulsar demônios (Sb 7, 20; Mt 1 2, 27; At 
1 9, 1 3) . Jesus, no entanto, simplesmente 
profere uma palavra e o espírito sai . O exor­
cismo desempenhou um papel fundamental 
em sua campanha contra o reino de Satanás 
(4, 4 1 ; 8, 28-29; 9, 42; 1 1 , 1 4-20; CIC 5 50) . 
Cura na casa de Simão - 38Jesus saiu da sinagoga, e foi para a casa de Simão. A sogra de Simão estava 
com febre alta, e pediram a Jesus em favor dela. 39lnclinando-se para ela, Jesus ameaçou a febre, e esta 
deixou a mulher. Então, no mesmo instante, ela se levantou, e começou a servi-los. 40Ao pôr do sol, 
todos os que tinham doentes atingidos por diversos males, os levavam a Jesus. Jesus colocava as mãos 
em cada um deles, e os curava. 41De muitas pessoas também saíam demônios, gritando: "Tu és o Filho 
de Deus." Jesus os ameaçava, e não os deixava falar, porque os demônios sabiam que ele era o Messias. 
4, 38-41: Me 8, 14- 17; Me 1 . 29-34. 
4, 38-39: A cura da sogra de Pedro ressal­
ta o poder da palavra de Jesus. Assim como 
ele derrota demônios ao repreendê-los, Jesus 
ameaça a doença da mulher. A recuperação 
imediata é evidenciada oela sua hosoitalidade. 
4, 43: "Reino de Deus" -
Um tema central nos Evan­
gelhos. É mencionado mais de trinta vezes 
em Lucas . 
Jesus prega nas Sinagogas da Judéia - 42Ao raiar do dia, Jesus saiu, e foi para um lugar deserto. As 
multidões o procuravam, e, indo até ele, não queriam deixá-lo que fosse embora. 43Mas Jesus disse: 
"Devo anunciar a �oa Notícia do Reino de Deus também para as outras cidades, porque para isso é que 
fui enviado." 44E Jesus pregava nas sinagogas da Judéia. 
4, 42-43: Me ! , 35-38. • 4, 44: Me 4, 23; Me 1 ,39; Mt 9, 35 . 
5 0 
• O reino de Deus é intimamente ligado com 
o antigo reino de Davi. Por séculos o império 
de Davi ficou em ruínas, existindo apenas nas 
mentes dos profetas que previram sua gloriosa 
restauração pelo Messias (Is 9, 6-7; Am 9, 1 1 ; 
Me 1 1 , 1 O; Ar 1 , 6) . Jesus agora vem como um 
herdeiro messiânico para ressuscitar de modo 
espiritual esse reino despedaçado, ao governar 
do seu trono à direita do Pai (Me 16, 1 9; At 2, 
33-36) . Seu reino eterno na Jerusalém celes­
te cumpre, portanto, o juramento da Aliança 
de Deus para estabelecer o trono de Davi para 
sempre ( 1 , 32-33; SI 89, 3-4) . Como Davi, 
Cristo nomeia os ministros reais (apóstolos) 
para gerir os assuntos diários do reino (22, 28-
30; 2 Sm 8, 1 5- 1 8; 1 Rs 4, 1 -6) . Até mesmo 
oescopo internacional do Reino de Deus foi 
prefigurado no império davídico, que não ape­
nas governou as tribos de Israel, mas também 
estendeu seu domínio sobre outras nações (2 
O evangelho de São Lucas 
Sm 8, 1 - 14 ; 1 Rs 4, 20-2 1 ) (CCC 543, 5 5 1 -
53) . Ver comentário sobre M t 1 6, 1 9 . 
• D e acordo com o Concílio Vaticano II , o 
reino de Deus está misteriosamente presente 
na Igreja, onde Cristo reina como rei e pasto­
reia seu povo pelo Magistério. 18 O reino irá 
alcançar sua completa perfeição no céu Oo 
1 8 , 36; 2 Tm 4, 1 8 ; CIC 54 1 ) . 
4, 44: "Judéia" - Por vezes indica toda a 
Palestina em Lucas, inclusive a Galiléia ( 1 , 5 ; 
7, 1 7; 23 , 5 ) . 
5 Jesus chama os primeiros discípulos - 1Certo dia, Jesus estava na margem do lago de Genesaré. 
A multidão se apertava ao seu redor para ouvir a palavra de Deus. 2Jesus viu duas barcas paradas 
na margem do lago; os pescadores haviam desembarcado, e lavavam as redes. 3Subindo numa das 
barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou- se e, da barca, 
ensinava as multidões. 4Quando acabou de falar, disse a Simão: ''Avance para águas mais profundas, e 
lancem as redes para a pesca." 5Simão respondeu: "Mestre, tentamos a noite inteira, e não pescamos 
nada. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes." 6Assim fizeram, e apanharam tamanha quan­
tidade de peixes, que as redes se arrebentavam. 7Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, 
para que fossem ajudá-los. Eles foram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem. 8Ao 
ver isso, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: "Senhor, afasta-te de mim, porque sou um 
pecador!" 9É que o espanto tinha tomado conta de Simão e de todos os seus companheiros, por causa 
da pesca que acabavam de fazer. 1°11ago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também 
ficaram espantados. Mas Jesus disse a Simão: "Não tenha medo! De hoje em diante você será pescador 
de homens." 1 1Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo, e seguiram a Jesus. 
5, 1-11: Mc 4, 18-22; Me 1, 16-20;Jo 1, 4042; 2 1 , 1-19. • 5, 3: Mt 1 3, 1-2; Mc 4, 1. • 5, 5: lc 8, 24, 45; 9. 33. 49; 17, 13 . 
COMENTÁRIOS 
5, 1 : "lago de Genesaré" - Também cha­
mado de Mar da Galiléia (Mt 4, 1 8) ou o Mar 
de Tiberíades Qo 6, 1 ) . 
nhar peixe algum. 
5, 8: "sou um pecador" - As imperfei­
ções de Pedro parecem ampliadas a ele na pre­
sença da santidade divina (Gn 1 8, 27; Is 6, 5 ; 
CIC 208) . 
5, 5: "em atenção à tua palavra" - Em­
bora exaustos de uma noite de pesca mal 
sucedida, Pedro coloca sua fé em Cristo, 
apesar das chances aparentes de não apa- 1 8 Lumen Gentium, 3 . 
Cadernos de estudo bíblico 
Jesus purifica um leproso - 12Aconteceu que Jesus estava numa cidade, e havia aí um homem leproso. 
Vendo Jesus, caiu a seus pés, e pediu: "Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar." 13Jesus esten­
deu a mão, tocou nele, e disse: "Eu quero, fique purificado." No mesmo instante a lepra o deixou. 14Je­
sus lhe ordenou que não dissesse nada a ninguém. E falou: "Vá pedir ao sacerdote para examinar você, e 
depois ofereça pela sua purificação o sacrifício que Moisés ordenou, para que seja um testemunho para 
eles." 1 5No entanto, a fuma de Jesus espalhava-se cada va. mais, e numerosas muládóes se reuniam para 
ouvi-lo e serem curadas de suas doenças. 16Mas Jesus se retirava para lugares desertos, a fim de ra.ar. 
5, 12-16: M' 8, 1-4; Me 1 , 40-45; Lc 17, 1 1 - 19. • 5, 14: Lv 1 3, 49; 14,2-32. 
5, 15: Lc 4, 14, 37; M, 9. 26. • 5, 16: Lc 3, 2 1 ; 6, 12; 9, 18, 28; 1 1 , 1 . 
5, 10 : "Tiago e João" - Os filhos de Ze­
bedeu fruem de um relacionamento de proxi­
midade com Jesus (8, 5 1 ; 9, 28) . 
"Será pescador de homem": A profissão 
de Pedro indica sua futura missão, quando 
Cristo irá enviar os outros apóstolos e ele para 
anunciar o evangelho (Mt 28, 1 8-20; Jo 2 1 , 
1 5- 1 7) . O próprio Pedro vai desempenhar 
um papel importante entre os doze (22, 3 1 ; 
At 1 , 1 5-20; 2 , 14-40; 1 5 , 7- 1 1 ) . 
5 , 1 1 : "deixaram tudo" - O evangelho de 
Lucas ressalta que o discipulado cristão exige 
desapego das posses mundanas e uma dispo­
sição de se desfazer delas se necessário. (5, 28; 
1 2, 33; 1 4, 33; 1 8, 22) . 
5, 12: "lepra" - Uma doença de pele in­
fecciosa que era prejudicial em vários níveis. 
( 1 ) Fisicamente, a doença podia ser dolorosa 
e por vezes fatal. (2) Socialmente, a Lei exi­
gia que os leprosos ficassem em quarentena 
fora da sociedade israelita (Lv 1 3, 45-46) . (3) 
Religiosamente, os leprosos eram impuros de 
modo ritual e portanto impossibilitados de 
participar das cerimônias de culto (Lv 13 , 3, 
8) . O peso combinado desses fardos era extre­
mo, e nada seria mais bem-vindo que a cura e 
a purificação. 
5, 13: "tocou nele" - Era impensável para 
um judeu tocar um leproso em quarentena. 
Jesus, no entanto, atravessa esse limite e re­
verte o resultado esperado: em vez de contrair 
impureza ritual, ele purifica o leproso do seu 
padecimento pelo simples ato de tocá-lo. Isso 
mostra que Jesus traz ao mundo uma nova 
forma de santidade que se sobrepõe mesmo 
à contaminação e às doenças. Ver comentário 
sobre Mt 8, 1 -9, 38. 
5, 14: "que Moisés ordenou'' - A lei exi­
gia que os leprosos fossem examinados por 
sacerdotes levitas (Lv 1 4, 1 -9) . Uma vez que 
a cura fosse verificada, o ex-leproso oferecia 
um sacrifício de acordo com sua situação fi­
nanceira (Lv 14, 1 0-32) . Esse procedimento 
lhe restituía completamente a participação na 
aliança em Israel. Ver comentário sobre Me 
1 , 44. 
5 16 " . " J -, : se retirava - esus nao quer 
que as pessoam pensem que ele é sim-
plesmente um taumaturgo. Ver comentário 
sobre Me l , 44. 
"rezar": A oração solitária é parte dos 
ensinamentos de Jesus (Mt 6, 5-6) e prática 
constante (9, 1 8 ; Me l , 35 ; CIC 2602) . Ver 
comentário sobre Lc 3, 2 1 . 
• Moralmente, 1 9 Cristo serve de modelo tanto 
à vida ativa como à contemplativa, uma vez 
que vemos no seu exemplo a dignidade do 
trabalho e o dever mais elevado de pôr o tra­
balho de lado pela oração. 
19 São Gregório de Naziano. 
5 2 
O evangelho de São Lucas 
Jesus cura um paralítico - 17Certo dia, Jesus estava ensinando. Estavam aí, sentados, fariseus e 
doutores da Lei, vindos de todos os povoados da Galiléia, da Judéia e até de Jerusalém. E o poder do 
Senhor estava em Jesus, fazendo-o realizar curas. 18Chegaram, então, algumas pessoas levando; numa 
cama, um homem que estava paralítico; tentavam introduzi-lo e colocá-lo diante de Jesus. 19Mas, 
por causa da multidão, não conseguiam introduzi-lo. Subiram então ao terraço e, através das telhas, 
desceram o homem com a cama, no meio, diante de Jesus. 20Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse: 
"Homem, seus pecados estão perdoados." 210s doutores da Lei e os fatisellii começaram a pensar: 
"Quem é esse, que está falando blasfêmias? ninguém pode perdoar pecados, porque só Deus tem poder 
para isso!" 22Mas Jesus percebeu o que eles estavam pensando. Tomou então a palavra, e disse: "Por que 
vocês pensam assim? 230 que é mais fácil? Dizer: 'Seus pecados estão perdoados'. Ou dizer: 'Levante­
se e ande'? 24Pois bem: para vocês ficarem sabendo que o Filho do Homem tem poder para perdoar 
pecados, - disse Jesus ao paralítico - eu ordeno a você: Levante-se, pegue a sua cama, e volte para casa." 
25No mesmo instante, o ho"mem se levantou diante deles, pegou a cama onde estava deitado, e foi para 
casa, louvando a Deus. 26Todos ficaram admirados, e louvavam a Deus. Ficaram cheios de medo, e 
diziam: "Hoje vimos coisas estranhas." 
. 
5, 17-26: Me 9, 1 -8; Me 2, l - 12; Jo 5, 1 -9. • 5, 17: Me 1 5, l ; Me 5,30; Lc 6, 1 9. • 5, 20: Lc 7, 48-49. 
5, 17: "fariseus" - Membros de um mo­
vimento de renovação judeu na Palestina, 
rigorosos na sua obediência à lei e à preocu­
pação com a pureza legal. São muitas vezes 
os acusadores e inimigos de Jesus (5 , 30; 6, 
2, 7; 1 1 , 37-54; 1 6, 1 4) . Ver Ensaio sobreum Tópico: Quem são os fariseus? em Me 2. 
"doutores da lei": também chamados de 
"escribas" (Mt 9, 3; Me 2, 6) . 
5, 21 : "perdoar pecados" - O Templo e 
os sacerdotes de Jerusalém eram os canais ofi­
ciais de perdão na Antiga Aliança. Jesus desa­
fia esse sistema, oferecendo reconciliação com 
Deus por sua própria autoridade e em seus 
próprios termos. Isso é parte da sua missão de 
inaugurar a Nova Aliança O r 3 1 , 3 1 -34) . 
"só Deus": Uma doutrina implícita no 
Antigo Testamento (Sl 1 03 , 2-3; Is 43, 25) 
que sugere a divina autoridade de Jesus para 
remir pecados (Ef l , 7; lJo 1 , 7; CIC 1 44 1 ) . 
5 , 24: "eu ordeno a você: Levante-se" 
- O ceticismo da multidão move Jesus a de­
monstrar sua autoridade. Como a doença é 
geralmente associada ao pecado, Jesus pode 
mostrar seu poder de perdoar por meio de 
uma cura física (Sl 1 07, 1 7; Is 33, 24) . O mi­
lagre exterior manifesta, assim, a purificação 
dentro da alma do homem. 
5, 26: "louvavam a Deus" - Lucas fre­
quentemente nota essa reação às obras de 
Jesus (7, 1 6; 1 3 , 1 3 , 1 7 1 5 , 1 8 , 43 ; 23, 47) . 
5, 27: "cobrador de impostos" - Uma 
profissão desprezada por muitos judeus. Ver 
comendrio sohre Me 2. 1 4 . 
Jesus chama Levi - 27Depois disso, Jesus saiu, e viu um cobrador de impostos chamado Levi, que 
estava na coletoria. Jesus disse para ele: "Siga-me." 28Levi deixou tudo, levantou-se, e seguiu a Jesus. 
29Depois, Levi preparou em casa um grande banquete para Jesus. Estava aí numerosa multidão de 
cobradores de impostos e outras pessoas sentadas à mesa com eles. 300s fariseus e seus doutores da Lei 
murmuravam, e diziam aos discípulos de Jesus: "Por que vocês comem e bebem com os cobradores de 
impostos e com pecadores?" 31Jesus respondeu: "As pessoas que têm saúde não precisam de médico, 
mas só as que estão doentes. 32Eu não vim para chamar justos, e sim pecadores para o arrependimento." 
5, 27-32: Me 9, 9- 13 ; Me 2, 13-17. • 5, 30: Lc 1 5, 1 -2. • 5, 32: !Tm 1 , 1 5 . 
5 3 
Cadernos de estudo bíblico 
A questão do jejum- 33Eles disseram a Jesus: "Os discípulos de João, e também os discípulos dos 
fariseus, jejuam com frequência e fazem orações, mas os teus discípulos comem e bebem." 34Mas Jesus 
disse: "Vocês acham que os convidados de um casamento podem fazer jejum enquanto o noivo está com 
eles? 35Mas vão chegar dias em que o noivo será tirado do meio deles; nesses dias eles vão jejuar." 36Jesus 
contou-lhes ainda uma parábola: "Ninguém tira retalho de roupa nova para remendar roupa velha; se­
não, vai rasgar a roupa nova, e o retalho novo não combina com a roupa velha. 37Ninguém coloca vinho 
novo em barris velhos; porque, de fato, o vinho novo arrebenta os barris velhos, e se derrama, e os barris 
se perdem. 38Vinho novo deve ser colocado em barris novos. 39E ninguém, depois de beber vinho velho, 
deseja vinho novo, porque diz: o velho é melhor." 
5, 33-38: Mc 9, l4-17; Mc 2, l8-22. · 5, 33: Lc 7, 1 8; l l , l ; Jo 3, 25-26. · 5, 35: Lc 9, 22; 1 7, 22. 
"Levi": Também chamado de "Mateus" 
(6, 1 5 ; Mt 9, 9) . 
5, 31 : "médico" - Uma analogia fami­
liar usada pelos judeus e mestres helenísti­
cos. Para Jesus, isso explica seu ministério de 
estender a misericórdia aos excluídos (CIC 
1 503) . 
"as que estão doentes": a mesa da comu­
nhão de Jesus escandalizava certos judeus, 
como os fariseus. Apreciar a companhia da­
queles considerados "impuros" implica que 
Deus abriu as portas da misericórdia para 
todos, tanto piedosos como pecadores. (Mt 
5, 43-48; CIC 545, 588) . 
5, 32: "não vim para chamar justos" 
- Jesus não veio para perpetuar os padrões 
de justiça do Antigo Testamento, que foram 
projetados para separar Israel dos pecados e 
impureza dos gentios (Lv 20, 26) . Jesus traz 
um novo padrão de justiça que derruba o 
muro que isola Israel das outras nações, ao 
estender os limites da família da aliança de 
Deus para todos os necessitados da miseri­
córdia, inclusive cobradores de impostos e 
pecadores. Ver comentário sobre Mt. 5 , 20. 
5, 33: "seus discípulos comem e be­
bem'' - Jejuar na companhia de Jesus seria 
tão insultante quanto jejuar numa festa de 
casamento. No entanto, se torna importante 
após sua partida. (5 , 35 ; Mt 6, 1 6- 1 8) 
5, 35: "o noivo" - Javé era o esposo divi­
no da Antiga Aliança de Israel (Is 54,5 ; Jr 3 , 
20 ; Os 2, 1 4-20) . Jesus agora assume este pa­
pel do divino esposo da Igreja (Mt 25, 1 - 1 3; 
Ef 5 , 25 ; Ap 1 9, 7-9) . 
� 5, 36-39: Assim como roupa e vinho 
.. novos são incompatíveis com roupa 
e barris velhos, a Nova Aliança de Deus não 
pode coexistir com a Antiga. Ver comentário 
sobre Me 2, 2 1 -22. 
• Alegoricamente,20 os barris velhos significam 
os discípulos que mais facilmente se rompe­
riam em vez de armazenar os ensinamentos 
de Jesus. Apenas depois de Pentecostes se tor­
nam barris novos, capacitados pelo Santo Es­
pírito a armazenar em si mesmos uma grande 
plenitude e graça e verdade. 
20 Santo Agostinho, De Quaest. Evang. 2, 1 8 . 
54 
O evangelho de São Lucas 
6Ensinamento sobre o sábado - 'Num dia de sábado, Jesus estava passando por uns campos de 
trigo. Os discípulos arrancavam e comiam as espigas, debulhando-as com as mãos. 2Então alguns 
fariseus disseram: "Por que vocês estão fazendo o que não é permitido em dia de sábado?" 3Jesus 
respondeu: "Então vocês não leram o que Davi e seus companheiros fizeram quando estavam sentindo 
fome? 4Davi entrou na casa de Deus, pegou e comeu dos pães oferecidos a Deus, e ainda os deu a seus 
companheiros, no entanto, só os sacerdotes podem comer desses pães." 5E Jesus acrescentou: "O Filho 
do Homem é senhor do sábado." 
6, 1-5: Me 12, 1 -8; Mc 2, 23-28. • 6, 1: De 23, 25. 0 6, 2: Ex 20, 10; 23, 12; De 5, 14. · 6, 3: l Sm 21 , 1-6. • 6, 4: Lv 24, 9. 
COMENTÁRIOS 
6, 1: "sábado" - Na Antiga Aliança, cada 
sétimo dia (sábado) era reservado ao culto e 
ao descanso; e nenhum homem, mulher, es­
cravo ou animal era autorizado a trabalhar 
(Gn 2, 3; Ex 20, 8- 1 1 ; Dt 5, 1 2- 1 5) . Nos 
tempos do Novo Testamento, a observação 
do sábado era muito enfatizada como um 
símbolo do relacionamento único de Israel 
com Deus. Os fariseus fizeram da observân­
cia do sábado uma referência de fidelidade 
judaica e acrescentaram uma série de precei­
tos que distinguiam entre o comportamento 
lícito e ilícito. Até mesmo a menor infração 
destas normas do sábado colocaria em dúvida 
o compromisso religioso aos olhos dos fari­
seus. Jesus, embora frequentemente acusado 
de desrespeitar o sábado, expressa em ações o 
verdadeiro significado do sábado, restaurando 
e dando descanso aos indivíduos que sofrem 
neste dia. 
6, 2: "não é permitido" - Os fariseus 
equiparam arrancar os grão a colhê-los. Na 
visão deles. os discíoulos violaram os man-
<lamentos de Deus de se abster de armazenar 
colheita (Ex 34, 2 1 ) . 
lIJ 6 , 3 : "vocês não leram" - A pergunta 
é intencionalmente sarcástica e seria 
tomada como um insulto pelos fariseus bem 
instruídos. 
"Davi e seus companheiros fizeram'': Je­
sus recorre a um precedente bíblico de 1 Sm 
2 1 , 1 -6. 
• A exceção legal feita em uma ocasião ao Rei 
Davi e seus companheiros de comer os pães 
sagrados permite que Jesus e seus discípulos 
comam os grãos no sábado, dia santo. Em 
ambos os casos, as normas rigorosas da Torá 
foram autorizados a se curvar para atender a 
uma necessidade premente (fome) e para ser­
vir o rei ungido de Israel. (Davi e Jesus) 
6, 4: "pão oferecido a Deus" - Doze 
pães eram restituídos semanalmente no Tem­
plo (Ex 25, 30) . Quando os novos pães eram 
postos no dia de sábado, os sacerdotes levitas 
O homem de mão seca - 6Em outro sábado, Jesus entrou na sinagoga, e começou a ensinar. Aí havia 
um homem com a mão direita seca. 70s doutores e os fariseus espiavam, para ver se Jesus iria curá-lo 
durante o sábado, e assim encontrarem motivo para acusá-lo. 8Mas Jesus sabia o que eles estavam pen­
sando, e disse ao homem da mão seca: "Levante-se, e fique no meio." Ele se levantou, e ficou depé.9 
Jesus disse aos outros: "Eu pergunto a vocês: a Lei permite no sábado fazer o bem ou fazer o mal, salvar 
uma vida ou deixar que se perca?" '°Então Jesus olhou para todos os que estavam ao seu redor, e disse ao 
homem: "Estenda a mão," O homem assim o fez, e sua mão ficou boa. 1 1Eles ficaram com muita raiva, 
e começaram a conversar sobre o que poderiam fazer contra Jesus." 
6, 6-ll: Me 12, 9-14; Mc 3, 1-6. 
5 5 
Cadernos de estudo bíblico 
Jesus escolhe os doze ap6stolos - 12Nesses dias, Jesus foi para a montanha a fim de rezar. E passou 
toda a noite em oração a Deus. 13Ao amanhecer, chamou seus discípulos, e escolheu doze dentre eles, 
aos quais deu o nome de apóstolos: 14Simão, a quem também deu o nome de Pedro, e seu irmão André; 
Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; 1 5Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelota; 
16Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que se tornou traidor. 
6, 12-16: Mc 3. 1 3- 19; Mt 10, 24; At I. 13. • 6, 12: U: 3, 21 ; 5. 16; 9. 18, 28; 1 1 , 1 . 
comiam os antigos (Lv 24, 5-9) . Davi e seus 
companheiros foram autorizados a violar essa 
legislação levita e comer os pães reservados 
apenas aos sacerdotes ( 1 Sm 2 1 , 6) . 
6, 5: "Filho do homem'' - Sugere a au­
toridade messiânica de Jesus. Ver Ensaio so­
bre um Tópico: jesus, o Filho do Homem, em 
Lc 1 7. 
6, 9: "a lei permite" - Jesus desmascara 
seus adversários com uma pergunta: a Lei 
permite no sábado fazer o bem ou fazer o 
maP. A resposta implícita é óbvia (fazer o 
bem) e planejada para expor a malícia dos 
fariseus (6, 7) ; pois não importava o que Je­
sus fizesse, eles planejavam prejudicá-lo. No 
fim, são os fariseus que violam o sábado e 
caem na sua própria armadilha. 
� 6, 10: "sua mão ficou boa'' - Jesus 
.. considera o sábado como o dia mais 
apropriado para aliviar o fardo dos oprimidos 
• Alegoricamente,2 ' o homem aleijado expri­
me a humanidade corrupta e decaída. Sua 
mão está seca no pecado por que se estendeu 
para comer o fruto proibido no paraíso. Cris 
to agora chega com o perdão para restaurar ao 
homem sua saúde espiritual. 
6, 12: "toda a noite" - Jesus ocupa-se de 
uma vigília de oração para preparar sua esco­
lha dos doze apóstolos pela manhã ( 6, 1 3) . 
Ver comentário sobre Lc 3, 2 1 . 
ltl 6, 13: "apóstolos" - Aqueles que irão 
pregar o evangelho e conduzir a Igre­
ja primitiva. Eles são emissários investidos da 
autoridade real e sacerdotal de Cristo (9, 1 -6; 
Mt 28, 16-20; CIC 765 , 1 577) ; Ver gráfico: 
Os Doze Apóstolos em Me 3 . 
• Como o s doze patriarcas de Israel (Gn 35 , 
22-26) Jesus escolhe doze homens para ser as 
figuras patriarcais do novo reino de Israel, a 
Igreja (22, 28-30; Gl 6, 1 6; Ap 2 1 , 1 4) . 
6, 17-49: O "Sermão da Montanha" de 
Lucas é semelhante ao mais longo de Mateus 
(Mt 5-7) . Ambos começam com as bem-a­
venturanças (6, 20-22; Mt 5 , 3- 1 0) ; ambos 
defendem o amor aos inimigos (6, 27-36; 
Mt 5, 43-48) ; e ambos terminam com a pa­
rábola dos dois construtores (6, 47-49; Mt 
Jesus ensina e cura - 17Jesus desceu da montanha com os doze apóstolos, e parou num lugar plano. Es­
tava aí numerosa multidão de seus discípulos com muita gente do povo de toda a Judéia, de Jerusalém, 
e do litoral de Trro e Sidônia. 'ªForam para ouvir Jesus, e serem curados de suas doenças. E aqueles que 
estavam atormen�ados por espíritos maus, foram curados. 19Toda a multidão procurava tocar em Jesus, 
porque Uma força saía dele, e curava a todos. 
21 São Beda, ln Lucam. 
6, 17-19: Mt 5. 1 -2; 4, 24-25; Me 3. 7- 12. • 6, 19: Mc 3, 10; Mt 9, 2 1 ; 14, 36; U: 5. 17. 
O evangelho de São Lucas 
Bem-aventuranças e desventuras - 2ºLevantando os olhos para os discípulos, Jesus disse: "Felizes 
de vocês, os pobres, porque o Reino de Deus lhes pertence. 21Felizes de vocês que agora têm fome, 
porque serão saciados. Felizes de vocês que agora choram, porque hão de rir. 22Felizes de vocês se os 
homens os odeiam, se os expulsam, os insultam e amaldiçoam o nome de vocês, por causa do Filho 
do Homem. 23 Alegrem-se nesse dia, pulem de alegria, pois será grande a recompensa de vocês no céu, 
porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas. 24Mas, ai de vocês, os ricos, porque 
já têm a sua consolação! 25 Ai de vocês, que agora têm fartura, porque vão passar fome! Ai de vocês, 
que agora riem, porque vão ficar aflitos e irão chorar! 26Ai de vocês, se todos os elogiam, porque era 
assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas." 
6, 20-23: Mr 5, 3-12. · 6, 22: l Pd 4, 14; Jo 9, 22; 1 6,2. 0 6, 24-26: Lc 1 0, 1 3- 1 5; 
l i , 38-52; 17, l ; 2 1 , 23; 22,22. • 6, 24: Lc 1 6, 25; Tg 5 , 1 -5; Mt 6,2. 
7, 24-27) . O sermão resume os altos padrões 
morais da Nova Aliança. Ver comentário so­
bre 5, 1 . 
6, 12: "Tiro e Sidônia'' - Duas cidades 
costeiras ao norte da Palestina, na Fenícia. O 
povo dessa área é predominantemente gen­
tio, um fato que ressalta a popularidade de 
Jesus fora de Israel (2, 3 1 -32) . 
6, 20-26: As Bem-aventuranças (6, 20-
22) são opostas às maldições da aliança (6, 
24-26; Dt 30, 1 9-20) . Jesus antevê a revi­
ravolta das condições dessa vida no paraíso 
onde os bem-aventurados podem esperam 
que o seu sofrimento presente abra o cami­
nho à paz futura, e o próspero pode esperar 
a maldição divina se a riqueza e notoriedade 
sufocaram seu amor a Deus. Ver comentári­
os sobre Mt 5, 3- 1 O . 
� 6, 20: "felizes de vocês" - Os filhos 
.. de Deus recebem sua benção por sua 
fé e adesão à Lei ( 1 1 , 28; SI 1 , 1 -2; Gl 3, 9) . 
Ver Estudo da Palavra: Bem-aventurado em 
Mt 5 , 3 . 
pode viver em pobreza de espmto (CIC 
2444, 2546) . Ver comentário sobre Mt 5, 3 . 
• Moralmente,22 as Bem-aventuranças em Lu­
cas refletem as quatro virtudes cardeais. O 
pobre demonstra temperança ao afastar-se dos 
vãos e excessivos prazeres do mundo. Os que 
têm fome demonstram justiça quando com­
partilham o fardo dos humildes e dão àqueles 
que têm pouco. Os que choram exercitam pru­
dência quando lamentam a vaidade das coisas 
temporais e olham para o que é eterno. Aque­
les que os homens odeiam exercem a fortaleza 
porque perseveram quando perseguidos por 
causa da sua fé (CIC 1 805-9) . 
6, 12: "ai de vocês" - Um grito de angús­
tia iminente usado pelos profetas de Israel (Is 
5, 8-22; Am 6, 1 ; Hb 2, 6-20) . Jesus exprime 
o mesmo grito para alertar o desastre que es­
pera o mundano acomodado cuja prosperi­
dade e notoriedade o afastou de Deus e das 
exigências da sua Aliança. 
"Ricos": Os membros mais prósperos e 
prestigiosos da sociedade. Seu sucesso nessa 
vida pode tentá-los a descuidar da necessida­
de de Deus e da sua misericórdia. A riqueza 
mundana é, portanto, perigosa ( 1 4, 33; 1 8 , 
24) porque pode levar ao egoísmo e à falsa 
sensação de segurança ( 1 Tm 6, 1 7- 1 9 ; Hb 
"Pobres": Talvez indique pobreza mate­
rial definida por condições econômicas ou 
sociais bem como pobreza espiritual definida 
pelo desapego interior. Nota-se, no entanto, 
que mesmo o materialmente pobre pode ser 
apegado ao pouco que possui, como o rico 22 Santo Ambrósio, ln Lucam. 
5 7 
Cadernos de estudo bíblico 
Amor aos inimigos - 27"Mas, eu digo a vocês que me escutam: amem os seus inimigos, e façam o bem 
aos que odeiam vocês. 28Desejem o bem aos que os amaldiçoam, e rezem por aqueles que caluniam 
vocês. 29Se alguém lhe dá um tapa numa face, ofereça também a outra; se alguém lhe toma o manto, 
deixe que leve também a túnica. 30Dê a quem lhe pede e, se alguém tira o que é de você, não peça que 
devolva. 3 10 que vocês desejam que os outros lhes façam, também vocês devem fazer a eles. 32Se vocês 
amam somente aqueles que os amam, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores amam aqueles 
que os amam. 33Se vocês fazem o bem somente aos que lhes fazem o bem, que gratuidade é essa? Até 
mesmo os pecadores fazem assim. 34E se vocês emprestam somente para aqueles de quem esperam re­
ceber, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores emprestam aos pecadores, para receberde volta 
a mesma quantia. 35 Ao contrário, amem os inimigos, façam o bem e emprestem, sem esperar coisa 
alguma em troca. Então, a recompensa de vocês será grande, e vocês serão filhos do Altíssimo, porque 
Deus é bondoso também para com os ingratos e maus. 36Sejam misericordiosos, como também o Pai 
de vocês é misericordioso." 
6, 27-30: Me 5, 39-44; Rm 12, 17; 1Cor 6, 7. · 6, 31: Me 7, 12. • 6, 32-36: Me 5, 44-48. • 6, 35: Me 5, 9. 
1 3, 5 ; CIC 2547) . 
6, 27: ''Amem os seus inimigos" - Um 
mandamento revolucionário. Sob a Antiga 
Aliança, o amor ao próximo significava amar 
a todos que pertencem à família da Aliança 
de Israel (LV 1 9, 1 8) ; Jesus amplia o alcance 
da caridade na Nova Aliança, ordenando um 
amor radical que alcança a todos, mesmo os 
nossos inimigos (Rm 1 2, 9-2 1 ; 1 Jo 4, 7- 1 1 ) . 
6 , 29: "Se alguém lhe toma" - Uma ad­
vertência contra retaliação. Mesmo quando 
o manto (veste exterior) e a túnica (veste 
exterior) são roubadas, o cristão deve lutar 
contra o impulso de vingar-se pessoalmen­
te dos seus opressores ( 1 Cor 6, 1 -7) e estar 
disposto a desfazer-se dos seus pertences em 
face da perseguição (Hb 1 0, 32-34) . 
6, 31 : "também vocês devem fazer a 
eles" - A "Regra de Ouro" sintetiza a lei 
moral da Nova Aliança e é um teste certeiro 
para distinguir a virtude do vício (Mt 7, 1 2) . 
Afirmações semelhantes são encontradas no 
Antigo Testamento (Tb 4, 1 5 ; Edo 3 1 , 1 5 ; 
CIC 1 970) . 
6, 35: "filhos do Altíssimo" - De uma 
perspectiva hebraica, os pais reproduzem tra­
ços do caráter nos filhos que carregam a sua 
imagem (Gn 5, 3) . Jesus aplica a mesma ló­
gica à família de Deus; como o Pai é demen­
te e amoroso mesmo aos infiéis e indignos, 
assim seus filhos devem imitar sua bondade 
para com todos , sem discriminação. 
ITI 6, 36: "sejam misericordiosos" -
IJU Misericórdia é a regra mais elevada 
Julgar os outros - 37"Não julguem, e vocês não serão julgados; não condenem, e não serão condena­
dos; perdoem, e serão perdoados. 38Dêem, e será dado a vocês; colocarão nos braços de vocês uma boa 
medida, calcada, sacudida, transbordante. Porque a mesma medida que vocês usarem para os outros, 
será usada para vocês." 39Jesus contou uma parábola aos discípulos: "Pode um cego guiar outro cego? 
Não cairão os dois num buraco? 40Nenhum discípulo é maior do que o mestre; e todo discípulo bem 
formado será como o seu mestre. 41 Por que você fica olhando o cisco no olho do seu irmão, e não presta 
atenção na trave que há no seu próprio olho? 42Como é que você pode dizer ao seu irmão: 'Irmão, deixe­
me tirar o cisco do seu olho', quando você não vê a trave no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro 
a trave do seu próprio olho, e então você enxergará bem, para tirar o cisco do olho do seu irmão." 
6, 37-38: Me 7, 1-2; Rm 2, 1 . • 6, 38: Mc 4, 24; Ar 20,35. • 6, 39: Me 1 5, 14. • 6, 40: Me 10, 24-25; Jo 1 3, 1 6; 1 5,20. • 6, 41-42: Me 7, 3-5. 
O evangelho de São Lucas 
A árvore e seus frutos - 43"Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos 
bons; 44porque toda árvore é conhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem 
se apanham uvas de plantas espinhosas. 450 homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu 
coração, mas o homem mau tira do seu mal coisas más, porque a boca fala daquilo de que o coração 
está cheio." 
6, 43-45: Me 7, 1 8- 19; 12, 33-35; Tg 3, l l - 12. · 6, 45: Mc 7, 20. 
no Reino de Cristo ( 1 0, 36-37; Mt 9, 1 3 ; 
CIC 1 458) . 
• Jesus reformula o s ensinamentos de Lv 1 9, 
2, substituindo o mandamento de imitar a 
santidade de Javé pelo mandamento de imi­
tar a sua misericórdia. A sutil diferença entre 
esses dois atributos divinos indica a diferen­
ça entre a Antiga e a Nova Aliança. A busca 
da santidade na antiga Israel exprimia que 
o povo de Deus tinha de separar-se de tudo 
ímpio, imundo e impuro, inclusive gentios e 
pecadores {Lv 1 5 , 3 1 ; 20, 26) . Jesus concede 
um novo foco à santidade, definindo-a como 
misericórdia que alcança os outros e não mais 
divide o povo em tribos segregadas ou impe­
de alguns de fazer parte da família de Deus 
(CIC 2842) . 
6, 38: "nos braços de vocês" - Ao dobrar 
o manto sobre o cinto, uma bolsa era for­
mada para transportar os grãos do mercado. 
Quando grão era calcado e sacudido, garan­
tia-se ao comprador um montante integral 
e justo. A ilustração mostra como a genero­
sidade de Deus transborda em nosso favor. 
6, 41: "no olho do seu innão" - E tolo 
corrigir outros por faltas leves quando nós 
mesmos estamos cercados de faltas maiores . 
A diferença de tamanho entre um cisco e 
uma trave torna ridícula tal prática. 
6, 45: "O coração está cheio" - O co­
ração é o cerne da pessoa e a origem das 
decisões morais. A bondade ou maldade de 
nosso coração é revelada por meio da nossa 
vida e ações, assim como a árvore é conheci­
da pelo fruto que produz (Mt 7, 1 5-20; 12 , 
33-37; 1 5 , 1 8-20) . 
6, 47-49: A parábola do construtores diz 
respeito a preparação e a vida prática (Mt 7, 
24-27; l Cor 3, 1 0- 1 5) . O construtor sábio 
(6, 48) ouve as palavras de Jesus e as põe em 
prática, investindo grande energia para cavar 
um alicerce estável para sua vida. O cons­
trutor tolo (6, 49) ouve as palavras de Jesus, 
mas falha em dar atenção aos seus apelos. O 
construtor sábio estará seguro no Julgamen­
to Final, enquanto o construtor tolo colherá 
as conseqüências trágicas dos seus pecados e 
atalhos. 
Ouvintes e praticantes - 46"Por que vocês me chamam: 'Senhor! Senhor!', e não fazem o que eu 
digo? 47\Tou mostrar a vocês com quem se parece todo aquele que ouve as minhas palavras e as põe em 
prática. 48É semelhante a um homem que construiu uma casa: cavou fundo e colocou o alicerce sobre 
a rocha. Veio a enchente, a enxurrada bateu contra a casa, mas não conseguiu derrubá-la, porque 
estava bem construída. 49Aquele que ouve e não põe em prática, é semelhante a um homem que 
construiu uma casa sobre a terra, sem alicerce, a enxurrada bateu contra a casa, e ela imediatamente 
desabou; e foi grande a ruína dessa casa." 
6, 46: Me ?, 2 1 . 0 6, 47-49: Me 7, 24-27;Tg !, 22-25. 
5 9 
Cadernos de estudo bíblico 
?Jesus cura o servo do centurião - 1Depois que terminou de falar todas essas palavras ao povo 
que o escutava, Jesus entrou na cidade de Cafarnaum. 2Havia aí um oficial romano que tinha um 
empregado a quem estimava muito. O empregado estava doente, a ponto de morrer. 30 oficial 
ouviu falar de Jesus, e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedir a Jesus que fosse salvar o empregado. 
4Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: "O oficial merece que lhe faças esse favor, 
5porque ele estima o nosso povo, e até construiu uma sinagoga para nós." 6Entáo Jesus pôs-se a caminho 
com eles. Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizer a Jesus: "Senhor, 
não te incomodes, pois eu não sou digno de que entres em minha casa; 7 nem sêquer me atrevi a ir pes­
soalmente ao teu encontro. Mas dize uma palavra, e o meu empregado ficará curado. 8Pois eu também 
estou sob a autoridade de oficiais superiores, e tenho soldados sob minhas ordens. E digo a um: vá, e 
ele vai; e a outro: Venha, e ele vem; e ao meu empregado: Faça isso, e ele o faz." 90uvindo isso, Jesus 
ficou admirado. Voltou-se para a multidão que o seguia, e disse: "Eu declaro a vocês que nem mesmo 
em Israel encontrei tamanha fé." 100s mensageiros voltaram para a casá do oficial, e encontraram o 
empregado em perfeita saúde. 
7, 1-10: Me 8,5-10, l3; Jo 4, 46-53. • 7, 5: Ar 10, 2. 
COMENTÁRIOS 
7, 2: "Um oficial romano" - Um oficial 
romano no comando de cem soldados. Sua 
identidade não judaica é um importante pano 
de fundo a este episódio, e sua fé exemplar 
preliba a conversão de Cornélio, centurião 
gentio em At 1 0, 1 -48. 
7, 6: "não sou digno" - O oficial romano 
demonstra humildade apesar do sentimento 
popular de que ele é "digno" de receber ajuda 
de Jesus (7, 4) . Ele também respeita sensibili­
dadesculturais, consciente de que os judeus 
são desencorajados a entrar nas casas dos gen­
tios (At 1 0, 28) . Ver comentário sobre Mt 8, 
8. 
7, 9: "nem mesmo em Israel" - a fé do 
oficial romano é surpreendente e prenuncia a 
aceitação dos gentios na Igreja da Nova Alian­
ça (24, 27; Mt 28, 1 9) . 
7, 1 1 : "Naim'' - Um pequeno povoado 
da Galiléia, cerca de seis milhas ao sudeste de 
Nazaré. Não é mencionado alhures na Bíblia. 
� 7, 12: "eis que levavam" - Uma pro­
a.. cissão funerária que provavelmente 
envolvia os parentes e vizinhos do jovem 
bem como carpideiras e músicos contratados 
(Mt 9, 23; Me 5, 38) . 
"Uma viúva'': a mãe enlutada enfrenta 
grande dificuldade. Com a morte do seu filho 
único, ela é deixada sem família ou segurança 
Jesus ressuscita o filho da viúva em Naim - 1 1Em seguida, Jesus foi para uma cidade chamada Naim. 
Com ele iam os discípulos e uma grande multidão. 12Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam 
um defunto para enterrar; era filho único, e sua mãe era viúva, Grande multidão da cidade ia com 
ela. 13Ao vê-la, o Senhor teve compaixão dela, e lhe disse: "Não chore!" 14Depois se aproximou, tocou 
no caixão, e os que o carregavam pararam. Então Jesus disse: "Jovem, eu lhe ordeno, levante-se!" 150 
morto sentou-se, e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. 16Todos ficaram com muito medo, e 
glorificavam a Deus, dizendo: "Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus veio visitar o seu povo." 
17E a notícia do fato se espalhou pela Judéia inteira, e por toda a redondeza. 
7, l l-17: Me 5, 2 1 -24, 35-43; Jo 1 1 , 1 -44; IRs 17, 17-24; 2Rs 4, 32-37. • 7, 13: L: 7, 19 ; 1 0 , 1 ; 1 1 , 39; 
12, 42; 12, 1 5; 17, 5.Q; 1 8,6; 1 9,8; 22,6 1 ; 24,3 · 7, 16: L: 7, 39; 24, l9; Mc 2 l , l l ; Jo 6,14. 
60 
O evangelho de São Lucas 
Mensageiros de João Batista - 180s discípulos de João o puseram a par de todas essas coisas. Então 
João chamou dois de seus discípulos, 19e os mandou perguntar ao Senhor: "És tu aquele que há de 
vir, ou devemos esperar outro?" 20Eles foram a Jesus, e disseram: "João Batista nos mandou a ti para 
perguntar: 'És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?'" 21Nessa mesma hora, Jesus curou 
muitas pessoas de suas doenças, males e espíritos maus, e fez muitos cegos recuperar a vista. 22Depois 
respondeu: ''Voltem, e contem a João o que vocês viram e ouviram: os cegos recuperam a vista, os 
paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os morros ressuscitam, e a Boa Notícia 
é anunciada aos pobres. 23E feliz é aquele que não se escandaliza por causa de mim!" 24Depois que os 
mensageiros de João partiram, Jesus começou a falar sobre João às multidões: "O que vocês foram ver 
no deseno? Um caruço agitado pelo vento? 250 que vocês foram ver? Um homem vestido com roupas 
finas? Ora, os que se vestem com roupas preciosas e vivem no luxo estão nos palácios dos reis. 26Então, o 
que é que vocês foram ver? Um profeta? Eu lhes garanto que sim: alguém que é mais do que um profeta. 
27É de João que a Escritura afirma: 'Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente: ele vai preparar 
teu caminho diante de ti" 28Eu digo a vocês: entre os nascidos de mulher ninguém é maior que João. 
No entanto, o menor no Reino de Deus é maior que ele. 29Todo o povo, e até mesmo os cobradores de 
impostos deram ouvidos à pregação de João. Reconheceram a justiça de Deus, e receberam o batismo 
de João. 30Mas os fariseus e os doutores da Lei, rejeitando o batismo de João, tornaram inútil para si 
mesmos o projeto de Deus." 31"Com quem eu vou comparar os homens desta geração? Com quem se 
· parecem eles? 32São como crianças que se sentam nas praças, e se dirigem aos colegas, dizendo: 'Tocamos 
flauta, e vocês não dançaram; cantamos música triste, e vocês não choraram'. 33Pois veio João Batista, 
que não comia nem bebia, e vocês disseram: 'Ele tem um demônio!' 34Veio o Filho do Homem, que 
come e bebe, e vocês dizem: 'Ele é um comilão e beberrão, amigo dos cobradores de impostos e dos 
pecadores!' 35Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos:" 
7, 18-35: Mt 1 1 , 2- 1 9. • 7, 21: Mt 4, 23; Me 3,10. • 7, 22: Is 29, 18-19 ; 35,5-6; 6 1 , 1 ; l.c 4, 1 8- 19. - 7, 27: MI 3, I ; Me 1 ,2. 
7, 29-30: Mt 21, 32; l.c 3 , 12. • 7, 33: l.c l, 1 5. - 7, 34: l.c 5, 29; 15, 1 -2; 7, 36-50. 
econômica. Sua subsistência dependeria da 
caridade de outros em Israel (Dt 26, 1 2) . 
• Místicamente, 23 a viúva significa a Madre 
Igreja , chorando por aqueles que estão mor­
tos no pecado e são levados para longe da se­
gurança dos seus portões. As multidões que 
apenas olham darão graças ao Senhor quando 
os pecadores ressurgirem da morte e forem 
devolvidos a sua Mãe. 
7, 13: "o Senhor'' - Um dos muitos usos 
desse título de Jesus em Lucas ( 1 O, 1 ; 1 1 , 
39 ; 1 2, 42; 1 3 , 1 5) . É usado repetidamente 
no Antigo Testamento grego para traduzir o 
nome pessoal de Deus, Javé.24 
23 Santo Ambrósio, ln Lucam. 
24 Em 2008, a Congregação para o Culto Divino 
e a Disciplina dos Sacramentos, presidida pelo 
Cardeal Francis Arinze, enviou uma carta a todas 
7, 14: "tocou no caixão" - Um gesto 
impressionante. Embora a Lei Mosaica ad­
vertisse que o contato com os mortos torna 
os Israelitas impuros por uma semana inteira 
(Nm 1 9, 1 1 - 1 9) , Jesus revoga a consequência 
esperada com sua poderosa palavra "levan­
te-se" . Ao trazer o morto de volta à vida, ele 
elimina a própria causa da violação da lei e, 
portanto, seus efeitos indesejáveis. Em outra 
as conferências episcopais para pedir que não se 
use o termo "Javé" nas liturgias, orações e cantos. 
A carta se referiu ao uso do nome "YHWH" , 
relacionado a Deus no Antigo Testamento e em 
português se lê "Javé " . Após comentar que o nome 
de Deus exige dos tradutores um grande respeito, 
o Cardeal explicou que a palavra "YHWH" é 
" uma expressão da infinita grandeza e majestade 
de Deus " , que se manteve " impronunciável" e 
por isso foi substituída na leitura das Sagradas 
Escrituras com o uso da palavra alternativa 
"Adona i " , que significa " Senhor" - NT. 
6 1 
Cadernos de estudo bíblico 
ocasião Jesus ressuscita a filha de Jairo (Lc 8, 
40-56) e Lázaro Qo 1 1 , 1 7-27) como sinais 
da chegada do Messias (Lc 7, 22; CIC 994) . 
ITI 7, 16: "Um grande profeta'' - Uma 
IJU opinião popular dos seus contempo­
râneos a respeito de Jesus (24, 1 9; Mt 1 6, 1 4; 
2 1 , 1 1 , 46; Jo 6, 14) ; 
• O s milagres de Jesus s e assemelham aos fei­
tos poderosos dos profetas Elias e Eliseu. ( 1 ) 
Em 1 Rs 1 7, 1 7-24, Elias ressuscita o filho da 
viúva de Sarepta. A expressão de Lucas "Jesus 
o entregou à sua mãe" (7, 1 5) é tirado dire­
tamente desse episódio. (2) Em 2 Rs 4, 32-
37, Eliseu também restaura a vida do filho de 
uma mulher sunamita. 
7, 20: "esperar outro?" - João sabe que 
o Messias está para chegar (3, 1 6) , mas não 
tem certeza se Jesus se encaixa na descrição. 
Ele pode ter sido influenciado por opiniões 
populares de que o Messias seria rei em Jeru­
salém e conquistaria os romanos. Jesus não 
caminha nessa direção, e João naturalmente 
quer ter certeza. 
ITI 7, 22: ·� e ouviram" - Jesus 
IJU manifesta sua identidade por meio 
das suas obras. A recuperação dos cegos, dos 
paralíticos, dos leprosos, dos surdos e dos mor­
tos confirma que ele é o Messias (4, 1 8- 1 9; 
CIC 549) 
• Esses milagres recordam a profecia de Isaías 
sobre as maravilhas da era messiânica (Is 35 , 
4-6; 6 1 , 1 ) . 
7 , 24: "caniço agitado pelo vento" -
Num ponto, Jesus fala da familiar planta 
caniço que crescia abundantemente no vale 
do Jordão; num outro, ele faz uma compara­
ção enigmática entre um caniço agitado pelo 
vento e a imagem que imediatamente se se-
gue de um rei vivendo no luxo (7, 25) ; Essas 
idéias aparecem juntas em Herodes Antipas, 
o principal adversário de João Batista. Anti­
pas não foi apenas um tetrarca (governador) 
que residia nos palácios reais de Tiberíades, a 
sede de governo ao lado do mar da Galiléia, 
mas também celebrou a fundaçãode Tibe­
ríades pela cunhagem de moedas com o em­
blema de um caniço. O contraste sugerido 
pelas perguntas de Jesus é forte: João é um 
líder intransigente e até mesmo mais que um 
profeta, enquanto Antipas é um líder adap­
tável, cuja fraqueza de caráter faz dele menos 
que um rei . 
ITI 7, 27: "Eis que eu envio o meu 
IJU mensageiro" - Uma citação de MI 3 , 
1 . João cumpre essa profecia como precursor 
do Messias (Me l , 2) . 
• Malaquias prevê o mensageiro que vai 
preparar Israel para a vinda do Senhor. Esse 
arauto se assemelha ao profeta Elias (MI 4, 5) . 
Ver comentário sobre Lc l , 1 7. 
7, 28: "ninguém é maior" - João Batista 
era o profeta mais ilustre da era do Antigo 
Testamento ( 1 6, 1 6) ; Diferente dos que o 
antecederam, ele não notou as bênçãos da 
Nova Aliança apenas à distância, mas as re­
cebeu mesmo antes do seu nascimento ( 1 , 
1 5 ; CIC 523, 7 1 9) . 
7, 32: "como crianças" - Jesus compara 
a sua geração às crianças que se queixam in­
diferentes aos passatempos sugeridos por ou­
tros. Tanto a alegria ( Tocamos flauta) como a 
tristeza (cantamos música triste) da pregação 
de João eram convites ao Reino, embora am­
bos tenham sido recusados. 
7, 35: "a sabedoria foi justificada'' -
Os filhos de Deus reconhecem a sabedoria 
anunciada por Jesus e João e a recebe como 
62 
O evangelho de São Lucas 
Uma pecadora perdoada - 36Certo fariseu convidou Jesus para uma refeição em casa. Jesus entrou na 
casa do fariseu, e se pôs à mesa. 37 Apareceu então certa mulher, conhecida na cidade como pecadora. 
Ela, sabendo que Jesus estava à mesa na casa do fariseu, levou um frasco de alabastro com perfume. 38A 
mulher se colocou por trás, chorando aos pés de Jesus; com as lágrimas começou a banhar-lhe os pés. 
Em seguida, os enxugava com os cabelos, cobria-os de beijos, e os ungia com perfume. 39Vendo isso, o 
fariseu que havia convidado Jesus ficou pensando: "Se esse homem fosse mesmo um profeta, saberia que 
tipo de mulher está tocando nele, porque ela é pecadora." 4ºJesus disse então ao fariseu: "Simão, tenho 
uma coisa para dizer a voc.ê." Simão respondeu: "Fala, mestre." 41Certo credor tinha dois devedores. 
Um lhe devia quinhentas moedas de prata, e o outro lhe devia cinqüenta. 42Como não tivessem com 
que pagar, o homem perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?" 43Simão respondeu: ''.Acho que é 
aquele a quem ele perdoou mais." Jesus lhe disse: "Voc.ê julgou certo." 44Então Jesus voltou-se para a 
mulher e disse a Simão: "Está vendo esta mulher? Quando entrei em sua casa, voc.ê não me ofereceu 
água para lavar os pés; ela, porém, banhou meus pés com lágrimas, e os enxugou com os cabelos. 45Você 
não me deu o beijo de saudação; ela, porém, desde que entrei, não parou de beijar meus pés. 46Você 
não derramou óleo na minha cabeça; ela, porém, ungiu meus pés com perfume. 47Por essa razão, eu 
declaro a você: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados, porque ela demonstrou muito 
amor. Aquele a quem foi perdoado pouco, demonstra pouco amor." 48E Jesus disse à mulher: "Seus 
pecados estão perdoados." 49Então os convidados começaram a pensar: "Quem é esse que até perdoa 
pecados?" 5ºMas Jesus disse à mulher: "Sua fé salvou você. Vá em paz!". 
7, 36-50: Mt 26, 6-13 ; Me 14, 3-9; Jo 1 2, 1 -8. • 7, 36: Lc 1 1 , 37; 1 4, 1 . • 7, 39: Lc 7, 1 6; 24, 1 9; Mt 21 , l l ; Jo 6, 1 4. 
7, 42: Mt 18 , 25. 7, 43: Lc 10, 28. · 7, 48: Mt 9, 2; Me 2,5; Lc 5, 20. · 7, 50: Mt 9, 22; Me 5,34; Lc 8,48. 
um convite para entrar no reino. Ver comen­
tário sobre Mt 1 1 , 1 9 . 
7, 36: "certo fariseu'' - Jesus faz refeição 
com um fariseu três vezes em Lucas ( 1 1 , 37; 
1 4, 1 ) . 
d e pedra. O uso abundante que a mulher faz 
do perfume é uma expressão da sua coragem 
e contrição, quando ela vai além das normas 
já extravagantes da hospitalidade oriental (7, 
44-46; Gn 1 8 , 4-5) . Um episódio semelhan­
te ocorre em Betânia antes de Semana Santa. 
"pôs à mesa": Judeus daquele tempo 
habitualmente se reclinavam em estofados (Mt 26• 6- l3 ; Jo 1 2, 1 -8) . 
a pouca distância do chão para comer refei­
ções festivas e ritualísticas . Eles se inclinavam 
sobre uma almofada no seu lado esquerdo 
e comiam com a mão direita. Isso explica 
como a mulher se colocou aos pés de Jesus, 
embora estivesse atrás dele (7, 38) . 
7, 37: "pecadora'' - O anfitrião e os con­
vidados conheciam a reputação da mulher, 
embora seus pecados não estejam especifica­
dos ao leitor (7, 39) . A própria reputação de 
Jesus em 7, 34 é confirmada, uma vez que 
faz amizade com os pecadores para estender 
a eles sua misericórdia (CIC 545) . 
"frasco de alabastro": um elegante frasco 
7, 41 : "moedas de prata'' - Ou dená­
rio, que era uma moeda romana equivalen­
te ao salário diário de um trabalhador. O 
centro dessa parábola é a diferença conside­
rável entre quinhentos e cinqüenta salários 
diários. 
7, 47: "ela demonstrou muito amor'' -
Como ilustrado pela parábola (7, 4 1 -43), o 
amor da mulher foi a conseqüência do per­
dão, não a causa dele (CIC 27 1 2) . 
7, 49: "até perdoa pecados?" - Jesus afir­
ma realizar o que apenas Deus pode fazer pe­
los pecadores. Ver comentário sobre Lc 5, 2 1 . 
Cadernos de estudo bíblico 
8 Algumas mulheres acompanhavam Jesus - 1 Depois disso, Jesus andava por cidades e povoados, 
pregando e anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus. Os doze iam com ele, 2e também algu­
mas mulheres que haviam sido curadas de espíritos maus e doenças: Maria, chamada Madalena, da 
qual haviam saído sete demônios; 3Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e várias 
outras mulheres, que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam. 
8, 1-3: Lc 4, 1 5; Me 1 5,40-4 1 ; Mt 27, 55-56; Lc 23,49. 
COMENTÁRIOS 
8, 1-3: A missão urgente de Jesus não dei- provisão e assistência financeira. Isso desafiava 
xava tempo algum para ele e seus discípulos o costume judeu, que desencorajava os ho­
se estabelecerem num negócio. Várias mulhe- mens a associar-se com mulheres em público 
res, portanto, os acompanhavam para oferecer Qo 4, 27) . 
A parábola do semeador - 4Ajuntou-se uma grande multidão, e de todas as cidades as pessoas iam até 
Jesus. Então ele contou esta parábola: 5"0 semeador saiu para semear a sua semente. Enquanto semeava, 
uma parte caiu à beira do caminho; foi pisadas e os passarinhos foram, e comeram tudo. 60utra parte 
caiu sobre pedras; brotou e secou, porque não havia umidade. 70utra parte caiu no meio de espinhos; 
os espinhos brotaram junto, e a sufocaram. 80utra parte caiu em terra boa; brotou e deu fruto, cem por 
um." Dizendo isso, Jesus exclamou: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça''. 
8, 4.a: Mt 1 3, l -9; Me 4, l-9. · 8, 8: Mt 1 1 , 1 5. 
8, 4: "esta parábola'' - As parábolas re­
velam ou ocultam mistérios divinos. Aqui 
a mensagem de Jesus permanece oculta às 
multidões, embora seja explicada aos discí­
pulos (8, 9- 1 0) . Ver Estudo da Palavra: Pará­
bolas em Mt 1 3, 3 . 
8, 5-8: A parábola do semeador. Jesus es­
boça quatro respostas diferentes para o evan­
gelho. Três cenários são infrutíferos, enquanto 
a terra boa é receptiva e produz uma grande 
colheita (8, 8) . Como o semeador, o ministé­
rio de Jesus se assemelha com os profetas do 
Antigo Testamento que encontrou oposição e 
descrença generalizada ( 1 3, 33-34; At 7, 5 1 -
53) . Ver comentário sobre Me 4 , 3-8. 
ITI 8, 10: "os mistérios" - Jesus explica 
IJU a parábola a seus discípulos em vez 
da multidão. Ele os está preparando para pa­
péis de liderança no Reino de Deus, a Igreja 
A explicação da parábola - 90s discípulos perguntaram a Jesus o significado dessa parábola. 1ºJesus res­
pondeu: "A vocês foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus. Mas, aos outros ele vem por meio 
de parábolas, para que olhando não vejam, e ouvindo não compreendam." 1 1 "A parábola quer dizer o 
seguinte: a semente é a Palavra de Deus. 120s que estão à beira do caminho são aqueles que ouviram; 
mas, depois chega o diabo, e tira a Palavra do coração deles, para quenão acreditem, nem se salvem. 
130s que caíram sobre a pedra são aqueles que, ouvindo, acolheram com alegria a Palavra. Mas eles não 
têm raiz: por um momento, acreditam; mas na hora da tentação voltam atrás. 140 que caiu entre os 
espinhos são aqueles que ouvem, mas, continuando a caminhar, se afogam nas preocupações, na riqueza 
e nos prazeres da vida, e não chegam a amadurecer. 150 que caiu em terra boa são aqueles que, ouvindo 
de coração bom e generoso, conservam a Palavra, e dão fruto na perseverança''. 
8, 9-10: Mt 13, 1 0-13; Me 4, 10-12; Is 6,9-IO; Jr 5,2 1 ; Ez 12,2. · 8, 1 1-15: Mt 13, 18-23; Me 4, 13-20. • 8, 1 1: !Ts 2, 13; lPd l, 23. 
O evangelho de São Lucas 
A tampada não deve ser escondida - 16"Ninguém acende uma lâmpada para cobri-la com uma 
vasilha ou colocá-la debaixo da cama. Ele a coloca no candeeiro, a fim de que todos os que entram, 
vejam a luz. 17De fato, tudo o que está escondido, deverá tornar-se manifesto; e tudo o que está em 
segredo, deverá tornar-se conhecido e claramente manifesto. 18Portanto, prestem atenção como vocês 
ouvem: para quem tem al��ma coisa, será dado ainda mais; para aquele que não tem, será tirado até 
mesmo o que ele pensa ter . 
8, 16: Mc 4. 2 1 ; Mt 5, 1 5; Lc 1 1 ,33. • 8, 17: Mc 4, 22-23; Mt 1 0, 26-27; Lc 12,2-3; Ef5, 13 . • 8, 18: Mc 4, 24-25; Mt 13, 12; 25, 29; Lc 1 9, 26. 
(22, 28-30) . Ver comentário sobre Me 4, 1 1 . 
"Olhando não vejam'': Uma alusão a Is 
6, 9- 1 0. 
• Isaías pronunciou o julgamento de Javé à 
Israel desobediente. Tinha efeito disciplina­
dor de fechar seus olhos e ouvidos à verdade 
e endurecer seus corações ao amor de Deus. 
Mesmo assim, Deus preservou uma "semente 
santa" (Is 6, 1 3) ou fiéis remanescentes que 
acreditavam nele. O próprio ministério de 
Jesus se alinha com o de Isaías (Jo 12 , 39-40) . 
ITI 8, 16-18: A parábola da lâmpada 
LJ.U explica a estratégia dos ensinamentos 
de Jesus, em que os mistérios do reino serão 
escondidos das multidões apenas tempora­
riamente. Com o surgimento da Igreja da 
Nova Aliança, eles finalmente irão tomar-se 
manifestos (8, 1 7; 1 2, 2-3) . 
• Moralmente, 25 Jesus encoraja a ousadia na 
pregação evangélica. Nenhum ministro do 
evangelho deve esconder a luz da verdade 
sob medos mundanos de perseguição. O fiel 
servo coloca a lâmpada de Cristo à vista de 
todos, exibindo sua verdade para o benefício 
de todos. 
8, 18: "prestem atenção" - Jesus atribui 
grande responsabilidade a sua mensagem 
( 1 2, 48) . As bênçãos da verdade de Deus 
devem ser estimadas e compartilhadas, pois 
quem as esquece ou ignora irá perdê-las . 
8, 21 : "meus irmãos" - Não os filhos de 
Maria, mas provavelmente os primos de Je­
sus (CIC 500) . Ver comentário sobre Mt 1 2, 
46. 
"ouvem a Palavra de Deus, e a põem em 
prática'': A família espiritual de Jesus com­
partilha da sua vida e segue o seu caminho 
(6, 35 ; 1 1 , 28; Jo 1 , 1 2; Rm 8, 29) . A mater­
nidade divina de Maria foi estabelecida nes­
se mesmo alicerce; ela abraçou a vontade de 
Deus ao longo da sua vida. Ver comentário 
sobre Lc l , 38. 
8, 22-56: Três episódios que ressaltam o 
poder da palavra de Jesus. Ao seu comando, 
o vento e o furor das águas cessam (8, 24) , 
demônios são expulsos (8, 29) , e os mortos 
ressurgem para uma vida nova (8, 54) . 
ITI 8, 25: "Quem é esse homem'' - Os 
LJ.U discípulos se espantam diante do di­
vino poder de Jesus sobre a natureza 0 '26, 
A verdadeira linhagem de Jesus - 1 9 A mãe e os irmãos de Jesus se aproximaram, mas não podiam 
chegar perto dele por causa da multidão. 20Então anunciaram a Jesus: "Tua mãe e ceus irmãos estão aí 
fora, e querem te ver." 21Jesus respondeu: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra 
de Deus, e a põem em prática". 
8, 19-21: Mt 12, 46-50; Mc 3, 3 1 -35. • 8, 21: Lc 1 1 , 28; Jo 1 5, 14. 
25 Santo Agostinho, De Quaest. Evang 2, 12 . 
Cadernos de estudo bíblico 
Jesus acalma a tempestade no mar - 22Certo dia, Jesus entrou numa barca com seus discípulos, 
e disse: "Vamos para o outro lado do lago." E partiram. 23Enquanto navegavam, Jesus adormeceu. 
Nisso, um vento forte atingiu o lago: a barca se enchia de água, e eles corriam perigo. 240s discípulos 
se aproximaram e acordaram Jesus, dizendo: "Mestre, Mestre, estamos morrendo." Então Jesus se 
levantou e ameaçou o vento e o furor das águas. Estes pararam, e a calma voltou. 25Jesus disse aos 
discípulos: "Onde está a fé que vocês têm?" Tomados de medo, eles ficaram admirados, e diziam entre 
si: "Quem é esse homem que dá ordens até para os ventos e a água, e eles lhe obedecem?" 
8, 22-25: Me 8, 23-27; Me 4, 35-4 1 ; 6, 47-52; Jo 6, 1 6-2 1 . · 8, 24: Lc 5, 5; 8, 45; 9, 33, 49; 17. 13 . 
1 2; SI 89, 9 ; 1 07, 28-29) . Ver comentário 
sobre Mt 8, 23-27. 
• Alegoricamente,2
6 
o sono de Jesus significa 
sua morte, uma ausência que gera medo no 
coração dos discípulos. Atingidos por ondas 
de dúvidas, eles são finalmente confortados 
quando Cristo acorda do túmulo para acabar 
com o diabo e tirá-lo do poder sobre a morte. 
8, 26: "gerasenos" - A cidade de Gérasa 
se localizada ao leste do Rio Jordão e estava 
entre as dez cidades dos !!entios da Decáoole 
(Me 5, 1 -20) . Esse cenário não judeu é acen­
tuado pela presença dos porcos (8, 32) , ani­
mais que os israelitas não criariam ou come­
riam (Lv 1 1 , 7-8 ; Dt 14 , 8) . 
8, 30: "Legião" - Um termo militar para 
os seis mil soldados romanos. Ele indica a 
presença esmagadora do mal no homem e a 
intensidade da guerra espiritual. A superiori­
dade de Jesus se torna clara quando simples­
mente suas palavras derrotam um exército 
inteiro das forças de Satanás ( 1 1 , 20) . Ver 
Jesus cura o possesso geraseno - 26Jesus e os discípulos desembarcaram na região dos gerasenos, 
que está diante da Galiléia. 27 Ao descer à terra, um homem da cidade foi ao encontro de Jesus. Ele 
era possuído por demônios, e há muito tempo não se vestia, nem morava em casa, mas nos túmulos. 
28Vendo Jesus, o homem começou a gritar, caiu aos pés dele, e falou com voz forte: "Que há entre 
mim e ti, Jesus, filho do Deus Altíssimo? Eu te peço, não me atormentes!" 290 homem falou assim, 
porque Jesus tinha mandado que o espírito mau saísse dele. De fato, muitas vezes o espírito tinha 
tomado posse dele. Para protegê-lo, o prendiam com correntes e algemas; ele, porém, arrebentava 
as correntes, e o Demônio o levava para lugares desertos. 30Então Jesus lhe perguntou: "Qual é 
o seu nome?" Ele respondeu: "Meu nome é Legião." Pois muitos demônios tinham entrado nele. 
310s demônios pediam que Jesus não os mandasse para o abismo. 32Havia aí perto uma numerosa 
manada de porcos, pastando na montariha. Os demônios pediram a Jesus que os deixasse entrar nos 
porcos. Jesus deixou. 330s demônios saíram do homem, e entraram nos porcos. E a manada atirou-se 
monte abaixo para dentro do lago, onde se afogou. 34Vendo o que havia acontecido, os homens que 
cuidavam dos porcos saíram correndo, e espalharam a notícia na cidade e nos campos. 35E as pessoas 
foram ver o que tinha acontecido. Foram até Jesus, e encontraram o homem, de quem os demônios 
tinham saído, sentado aos pés de Jesus; estava vestido e no seu perfeito juízo. E ficaram com medo. 
360s que tinham presenciado o fato anunciaram a eles como o endemoninhado tinha sido salvo. 37E 
todo o povo da região dos gerasenos pediu que Jesus fosse embora, para longe deles, porque estavam 
tomados de grande medo. Jesus entrou na barca, e foi embora. 380 homem de quem os demônios 
tinham saído pedia para ficar com Jesus. Mas Jesus o despediu, dizendo: 39"Volte para sua casa, e 
conte tudo o que Deus fez por você." E ele foi embora, proclamando pela cidade inteira tudo o que 
Jesus havia feito em seu favor. 
8, 26-39: Me 8, 28-34; Me 5, 1 -20. • 8, 28: Me 1 , 24; Jo 2, 4. 
26 São Beda, ln Lucam 3 l . 
6 6 
O evangelho de São Lucas 
Uma menina volta à vida e uma mulher é curada - 40Ao voltar, Jesus foi recebido pela multidão, pois 
todos o esperavam. 41Nesse momento, chegou um homem chamadoJairo, chefe da sinagoga do lugar. 
Caiu aos pés de Jesus, e pediu com insistência que Jesus fosse à sua casa, 42porque ele tinha uma filha 
única, de doze anos, que estava morrendo. Enquanto Jesus caminhava, as multidões o apertavam. 43Em 
certo momento chegou uma mulher sofrendo de hemorragia há doze anos, e ninguém tinha conseguido 
curá-la. 44Ela foi por trás, e tocou na barra da roupa de Jesus. No mesmo instante a hemorragia parou. 
45Então Jesus perguntou: "Quem foi que tocou em mim?" Todos negaram, e Pedro disse: "Mestre, 
as multidões te cercam e te apertam! 46Então Jesus disse: ''.Alguém me tocou, pois eu senti que uma 
força saiu de mim." 47 A mulher, vendo que tinha sido descoberta, foi tremendo, e caiu aos pés de Jesus. 
Contou diante de todos o motivo por que ela havia tocado em Jesus, e como tinha sido curada no 
mesmo instante. 48Jesus disse à mulher: "Minha filha, sua fé curou você. Vá em paz." 49Jesus ainda estava 
falando, quando um mensageiro da casa do chefe da sinagoga chegou, dizendo: "Sua filha morreu; não 
incomode mais o Mestre." 50Jesus ouviu a notícia, e disse a Jairo: "Não tenha medo; apenas tenha fé, 
e ela será salva." 5 1Quando chegou à casa, Jesus não deixou ninguém entrar com ele, a não ser Pedro, 
João e Tiago, junto com o pai e a mãe da menina. 52Todos choravam e batiam no peito por causa dela. 
Jesus disse: "Não chorem: ela não morreu. Está apenas dormindo." 530s presentes começaram a rombar 
de Jesus, pois sabiam que a menina já estava morta. 54No entanto, Jesus tomou a menina pela mão e a 
chamou, dizendo: "Menina, levante-se." 55 A menina voltou a respirar, levantou-se no mesmo instante, e 
Jesus mandou que lhe dessem de comer. 56Seus pais ficaram muito admirados. E Jesus lhes ordenou que 
não dissessem nada a ninguém sobre o que havia acontecido. 
8, 40-56: Mt 9, 1 8-26; Me 5. 2 1 -43. · 8, 45: l.c 8, 24. · 8, 46: Lc 5, 17; 6, 19 . · 8, 48: Mt 9, 22; 
Lc 7, 50; 1 7, 1 9; 1 8, 42. · 8, 56: Mt 8, 4; Mc 3, 1 2; 7, 36; l.c 9, 2 1 . 
comentário sobre 4, 36. 
8, 31: "o abismo" - o poço sombrio onde 
os demônio são confinados até o Julgamento 
Final (2 Pd 2, 4; Ap 9, 1 - 1 1 ; 20 , 1 -3) . 
8, 35: "aos pés de Jesus" - A postura de 
um discípulo perante seu mestre (1 O, 39; At 
22, 3) . 
8, 39: ''Volte para sua casa" - Jesus re­
cusa a companhia permanente do homem, 
mas o envia para anunciar a graça de Deus. 
Ao sugerir a divindade de Cristo, o homem 
anuncia a misericórdia de Deus em termos do 
que Jesus havia feito por ele (Me 5, 1 9-20) . 
8, 40-56: Três detalhes ligam essas histó­
rias miraculosas. ( 1 ) Ambas ressaltam o nú­
mero doze, que representa a idade da menina 
e a duração do sofrimento da mulher. (2) As 
duas beneficiárias dos milagres são mulheres. 
(3) Ambas mostram como Deus honra a fé 
genuína (8, 48, 50; CIC 26 1 6) . 
8, 41: "chefe da sinagoga" - um líder ju­
deu ancião que presidia cerimônias aos sába­
dos e outras atividades semanais ( 1 3 , 1 4; At 
1 3, 1 5) - Ver comentário sobre Mt 4, 23. 
8, 43: "hemorragia" - Essa condição ex­
cluía a mulher da vida normal em Israel. De 
acordo com a lei, ela vivia em impureza per­
pétua e não podia ser tocada por ninguém (Lv 
1 5 , 1 9-30) . Jesus primeiramente cura a sua 
enfermidade e então anuncia a sua recupera­
ção "diante de todos" (8, 46-48) para facilitar 
sua reintegração na sociedade judaica. 
8, 44: "na barra da roupa" - A Lei Mo­
saica exigia que os Israelitas usassem bodas em 
suas vestes para recordá-los dos mandamentos 
de Deus (Nm 1 5 , 38-39; Dt 22, 12) . 
8, 51 : "Pedro, João e Tiago" - Três dos 
discípulos mais próximos a Jesus (9, 28; Me 
1 4, 33) . 
8, 52: "ela não morreu" - A partida e o 
Cadernos de estudo bíblico 
retorno do espírito da menina (8, 5 5) sugere 
que Jesus fala metaforicamente. Ela está, de 
fato, morta, mas ele diz que está dormindo 
para enfatizar que a sua condição é apenas 
temporária e em breve será revertida. Ver co-
mentário sobre Me 5 , 39. 
QUADRO : AS PARÁB O LAS DE JESUS 
Os construtores (Mt 7, 24-27); (Lc 6 , 47-49) 
O semeador (Me 13, 1-9) ; (Me 4, 1-9) ; (8, 4-8) 
O joio e o trigo (Me 13, 24-30) 
A semente de mostarda (Me 13, 31-32); (Me 4, 
30-32); (Lc 13, 18-19) 
O fermento (Me 13, 33) 
O tesouro escondido (Me 13, 44) 
A pérola de grande valor (Me 13, 45-46) 
A rede de pesca (Me 13, 47-50) 
A lâmpada (Me 4, 21-23) ; (Lc 8, 16-18) 
A semente que germina (Me 4, 26-29) 
Os dois devedores (Lc 7, 41-43) 
O amigo à meia-noite (Lc 11, 5-13) 
O rico louco (Lc 12, 16-21) 
A figueira estéril (Lc 13, 6-9) 
A ovelha perdida (Me 18, 10-14) ; (Lc 15, 4-7) 
A moeda perdida (Lc 15, 8-10) 
O filho pródigo (Lc 15, 11-32) 
O devedor implacável (Me 18, 23-35) 
O administrador desonesto (Lc 16, 1-9) 
O juiz injusto (Lc 18, 1-8) 
O fariseu e o cobrador de impostos (Lc 18, 
9-14) 
Os trabalhadores da vinha (Me 20, 1-16) 
Os dois filhos (Me 21, 28-32) 
Os agricultores perversos (Me 21, 33-46); (Me 
12, 1-12); (Lc 20, 9-19) 
A festa de casamento (Me 22, 1-14) 
O grande banquete (Lc 14, 15-24) 
As virgens prudentes e imprudentes (Me 25, 
1-13) 
Os talentos (Mt 25, 14-30) 
As moedas de prata (Lc 19, 11-27) 
9 A missão dos doze - 1 Jesus convocou os Doze, e lhes deu poder e autoridade sobre os demônios 
e para curar as doenças. 2E os enviou a pregar o Reino de Deus e a curar. 3E disse-lhes: "Não le­
vem nada para o caminho: nem bastão, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem duas túnicas. 
4Em qualquer casa onde vocês entrarem, fiquem aí, até vocês se retirarem do lugar. 5E todos aqueles 
que não os acolherem, vocês, ao sair da cidade, sacudam a poeira dos pés, como protesto contra eles." 
60s discípulos partiram, e percorriam os povoados, anunciando a Boa Notícia, e fazendo curas em 
todos os lugares. 
9, 1-6: Me !O, 1 , 5. 7-1 1 , 14; Mc 6, 7-12; lc 10, 4-1 1 . • 9, 5: At 13, 5 1 . 
COMENTÁRIOS 
9, l: "lhes deu poder" - Jesus concede 
aos apóstolos sua própria autoridade espiritual 
para expulsar demônios (4, 35 , 4 1 ) , curar os 
doentes (4, 39; 5, 1 3 ; 7, 22; 8, 47) , e procla­
mar o reino de Deus (4, 43; 8, 1 ) . 
9, 3: "Não levem nadà' - Confiando em 
Deus, os apóstolos devem depender de hospi­
talidade local para suas necessidades durante 
a missão ( 12, 22-24) . Isso os prepara para a 
liderança na Igreja, onde irão pregar o evan-
68 
O evangelho de São Lucas 
A confusão de Herodes - 70 governador Herodes ouviu falar de tudo o que estava acontecendo, 
e ficou sem saber o que pensar, porque alguns diziam que João Batista tinha ressuscitado dos 
mortos; 8outros diziam que Elias tinha aparecido; outros ainda, que um dos antigos profetas tinha 
ressuscitado. 9Emão Herodes disse: "Eu mandei degolar João. Quem é esse homem, sobre quem ouço 
falar essas coisas?''. E queria ver Jesus. 
9, 7-9: Mt 14, l -2; Me 6, !4- 16; Lc 9, 1 9. · 9, 9: Lc 23,8. 
gelho por meio de uma vida de pobreza espi- do até o seu julgamento (23, 8- 1 2) . 
ritual ( 1 0, 7) . 
9, 5: "sacudam a poeira'' - Um ato sim­
bólico de julgamento e maldição ( 1 0, 1 0- 1 2; 
At 1 3, 5 1 ) . Os que rejeitam o reino de Deus 
excluem-se das suas bênçãos. Ver comentário 
sobre Me 1 O, 14. 
9, 7: "O governador Herodes" - Hero­
des Antipas, governador da Galiléia e da Pe­
réia de 4 ou 1 a.C. a 39 d.C. 
"João Batista tinha ressuscitado": Lucas 
não relata a execução de João, mas o menci­
ona pela última vez na prisão de Herodes (3, 
20) . Seu martírio é narrado em Me 14, 1 - 1 2 
e Me 6 , 14-29. 
9, 9: "queria ver Jesus" - Circulavam-se 
rumores de que Jesus era um profeta ressusci­
tado, ou João Batista (9, 7) , ou Elias (9, 8) , ou 
outra figura do Antigo Testamento (9, 8) . O 
desejo de Herodes de ver Jesus não foi realiza-
9, 10-17: Além da ressurreição, a multi­
plicação dos pães é o único milagre relatado 
em todos os quatro Evangelhos (Mt 1 4, 1 3-
2 1 ; Me 6, 30-44; Jo 6, 1 - 1 3) . Isso retoma 
milagres anteriores do Antigo Testamento e 
prenuncia o milagre sacramental da Eucaris­
tia. Também se vincula com um tema mais 
amplo no Evangelhode Lucas, em que Jesus 
descreve o Reino de Deus como um grande 
banquete ( 1 3, 29-30; 1 4, 7- 14; 1 5-24) . Esse 
banquete messiânico é celebrado primeira­
mente na Última Ceia (22, 14-23) e mais tar­
de no céu (Ap 1 9, 7-9) . Ver comentário sobre 
Me 6, 35-44. 
9, 10: "Betsaida'' - Uma vila de pescado­
res na costa norte do Mar da Galiléia. Era lo­
calizada no território de Herodes Filipe (3, 1 ) 
e era a cidade natal dos apóstolos Pedro, An­
dré, e Filipe Qo 1 , 44; 1 2, 2 1 ) . Jesus mais tarde 
amaldiçoou a cidade por rejeitá-lo ( 1 0, 1 3) . 
Alimento a cinco mil pessoas - 'ºOs apóstolos voltaram, e contaram a Jesus tudo o que haviam feito. 
Jesus os levou consigo, e se retirou para um lugar afastado na direção de uma cidade chamada Betsaida. 
"No entanto, as multidões souberam disso, e o seguiram. Je5us acolheu-as, e falava a elas sobre o Reino 
de Deus, e restituía a saúde a todos os que precisavam de cura. 12A tarde vinha chegando. bs doze 
apóstolos se aproximaram de Jesus, e disseram: "Despede a multidão. assim eles podem ir aos povoados 
e campos vizinhos para procurar alojamento e comida, porque estamos num lugar deserto." 13Mas Jesus 
disse: "Vocês é que têm de lhes dar de comer." Eles responderam: "Só temos cinco pães e dois peixes . . . a 
não ser que vamos comprar comida para toda esse gente!" 14De fato, estavam aí mais ou menos cinco 
mil homens. Mas Jesus disse aos discípulos: "Mandem o povo sentar-se em grupos de cinqüenta." 1 50s 
discípulos assim fizeram, e todos se sentaram. 16Então Jesus pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu 
os olhos para o céu, pronunciou sobre eles a benção e os partiu, e ia dando aos discípulos a fim de que 
distribuíssem para a multidão. 17Todos comeram, ficaram satisfeitos, e ainda foram recolhidos doze 
cestos de pedaços que sobraram. 
9, 10: Me 6, 30-3 1 ; Lc 1 0, l ?; Jo 1 , 44. • 9, 1 1-17: Mt 14, 1 3-2 1 ; Me 6, 32-44; Jo 6, 1 - 14; Me 8, 4-10. 
9, 13: 2 Rs 4, 42-44 . • 9, 16: Lc 22, 1 9; 24, 30-3 1 ; AI. 2,42; 20, 1 1 ; 27,35. 
Cadernos de estudo bíblico 
A declaração de Pedro de que Jesus é o Cristo - 18Certo dia, Jesus estava rezando num lugar retirado, 
e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou: "Quem dizem as multidões que eu sou?" 19Eles 
responderam: "Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que tu és al­
gum dos antigos profetas que ressuscitou." 2ºJesus perguntou: "E vocês, quem dizem que eu sou?" Pedro 
respondeu: "O Messias de Deus." 21Então Jesus proibiu severamente que eles contassem isso a alguém. 
22E acrescentou: "O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos 
sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar no terceiro dià'. 
9, 18-21: Me 1 6, 1 3-20; Me 8, 27-30; Jo 1 , 49; 1 1 , 27; 6, 66-69. • 9, 18: Lc 3, 2 1 ; 5. 1 6; 6, 12 ; 9,28; 1 1 , 1 . 
9 , 19: Lc 9,9; M e 9,1 1 - 1 3. • 9 , 22: M e 1 6, 2 1 ; M e 8,3 1 ; Lc 9 , 43-45; 1 8, 3 1 -34; 1 7, 25. 
9, 18: "Quem dizem as multidões" - De 
acordo com o versículo seguinte (9, 1 9) , as 
multidões associavam Jesus com os profetas de 
memória recente Qoão Batista) e distante (Eli­
as, ou um dos antigos profetas) . No entanto, 
as "pesquisas" estavam divididas, e a verdadeira 
identidade de Jesus permanecia um mistério 
para eles. 
9, 20: "E vocês, quem dizem'' - Perante 
as opiniões conflitantes, Jesus leva a questão 
aos seus discípulos. O que a experiência deles 
sugeriu sobre sua identidade e missão? 
"O Messias de Deus": O Messias espe­
rado Qo 1 , 4 1 ) . Pedro foi iluminado pelo Pai 
(Me 1 6, 1 7) para ver em Jesus o Rei de Israel 
( 1 , 32-33 ; Jo l , 49) e o filho único de Deus 
(9, 35 ; Jo 1 , 1 8) . Ver comentário sobre Me 1 6, 
1 5 e Escudo da Palavra: Cristo em Me 14, 6 1 . 
9, 2 1 : "proibiu severamente que eles con­
tassem isso a alguém'' - Espalhar que Jesus é o 
Messias seria talvez um convite à incompreen­
são e obscurecimento do sentido espiritual da 
sua missão. Ver comentário sobre Me l , 44. 
9, 22: "O Filho do Homem deve sofrer" 
- o primeiro de vários anúncios da Paixão em 
Lucas (9, 44; 12, 50 ; 1 7, 25; 1 8, 3 1 -33) . Jesus 
aqui começa a esclarecer que sua missão não é 
terrena ou política, mas acarreta sofrimento e 
morte. Ver Ensaio Sobre um Tópico: jesus, o 
Filho do Homem, em Lc 1 7. 
9, 23: "tome cada dia a sua cruz'' - O 
discipulado cristão é oneroso, envolve muito 
sacrifício e abnegação ( 1 4, 26, 33) . A perse­
verança é necessária para seguir o caminho 
de Cristo cada dia (CIC 1435) . Ver comen­
tário sobre Mt 1 0, 38 . 
9, 26: '\rier na sua glória" - Jesus é apon­
tado como o divino Juiz do mundo (Mt 25 , 
3 1 -46; 2 Cor 5 , 1 0) ; Os que tem coragem de 
identificar-se com ele serão salvos, enquanto 
os que se envergonham dele serão rejeitados 
na presença do Pai . (2 Tm 2, 1 1 - 1 3) . Ver co­
mentário sobre Me 8, 38 . 
9, 27: "ter visto o Reino de Deus" - Je-
Carregar a cruz - 23Depois Jesus disse a todos: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome 
cada dia a sua cruz, e me siga. 24Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a 
sua vida por causa de mim, esse a salvará. 25De fato, que adianta um homem ganhar o mundo inteiro, 
se perde e destrói a si mesmo? 26Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do 
Homem também se envergonhará dele quando vier na sua glória, na glória do Pai e dos santos anjos. 
27Eu garanto a vocês: alguns aqui presentes não morrerão sem ter visto o Reino de Deus". 
9, 23-27: Me 16, 24-28; Me 8, 34-9, 1 . • 9, 24-25: Me 1 0, 38-39; Lc 14, 27; 1 7,33; Jo 1 2,25. 
9, 26: Me 1 0, 33; Lc 1 2,9; lJo 2, 28. • 9, 27: Lc 22, 1 8; Me 10,23; ITs 4, 1 5- 1 8; Jo 2 1 ,22. 
70 
O evangelho de São Lucas 
A Transfiguração - 280ito dias após dizer essas palavras, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago, e 
subiu à montanha para rezar. 29Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito 
branca e brilhante. 30Nisso, dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias. 31Apa­
receram na glória, e conversavam sobre o êxodo de Jesus, que iria acontecer em Jerusalém. 32Pedro e os 
companheiros dormiam profundamente. Quando acordaram, viram a glória de Jesus, e os dois homens 
que estavam com ele. 33E quando esses homens já iam se afastando, Pedro disse a Jesus: "Mestre, é bom 
ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias." Pedro não 
sabia o que estava dizendo. 34Quando ainda estava falando, desceu uma nuvem, e os encobriu com sua 
sombra. Os discípulos ficaram com medo quando entraram na nuvem. 35Mas, da nuvem saiu uma voz 
que dizia: "Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutem o que ele diz!" 36Quando a voz falou, Jesus estava 
sozinho. Os discípulos ficaram calados, e nesses dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto. 
9, 28-36: Mt 17, 1 -8; Me 9, 2-8; 2Pd 1 , 1 7- 1 8. • 9, 28: Lc 8, 5 1 ; 3,2 1 ; 5, 1 6; 6 , 12 ; 9, 1 8; 1 l , l . · 9, 30: At 1 . 9- 1 1 . • 9, 32: Jo 1 , 14. 
9, 33: Lc 5,5; 8,24,45; 9.49; 17, 13 . • 9, 35: Lc 3,22; Jo 12, 28-30. · 9, 36: Mt 17, 9; Me 9,9- 10. 
sus promete que seu reino irá chegar dentro 
do tempo de vida dos seus contemporâneos. 
Isso marca o nascimento da Igreja em geral 
(22, 28-30) e a destruição de Jerusalém em 
particular (2 1 , 3 1 -32) . A ruína da cidade (70 
d.C.) irá marcar um momento decisivo na 
história da salvação que sinaliza o término 
da vigência da Antiga Aliança e o estabele­
cimento definitivo da Nova. Ver comentário 
sobre Lc 4, 43. 
.... 9, 28-36: A Transfiguração tem três 
.. graus de significado. (1) Cristo revela 
sua glória para compensar o impacto do pri­
meiro anúncio da sua Paixão (9, 22) . (2) A 
voz do Pai, o Filho escolhido, a nuvem do 
Espírito manifesta a presença da Santíssima 
Trindade. (3) Os profetas Moisés e Elias tes­
tificam que Jesus irá cumprir a Lei e as pro­
fecias do Antigo Testamento. Esse episódio 
se assemelha também com a manifestaçãode 
Javé a Moisés no Monte Sinai (CIC 5 54-56, 
697) . Ver comentário sobre Mt 1 7, 1 -8 . 
• Aíegoricamente,27 Cristo convida três com­
panheiros às montanhas para expressar a sal­
vação da humanidade. Como a família hu­
mana deriva dos três filhos de Noé - Sem, 
2 7 Santo Hilário, ln Matt. 1 7 
Cam e Jafé - assim sua elevação à glória é 
representada por Pedro, Tiago e João subindo 
a montanha na divina presença. 
lJJ 9, 32: "viram a glória de Jesus" -
Evidente pelas mudanças na aparên­
cia e nas roupas de Jesus (9, 29) . 
• A experiência de Pedro, Tiago e João se asse­
melha a dos Israelitas no Sinai que do mesmo 
modo testemunharam a "glória" de Deus e 
escutaram sua voz no Monte (Dt 5 , 24) . 
lJJ 9, 35: "meu Filho, o Escolhido" -
Um dos vários anúncios da filiação 
divina de Jesus (3, 22; 4, 4 1 ; 8, 28) . 
• As palavras do Pai ecoam Is 42, 1 , em que o 
Servo do Senhor é fortalecido pelo Espírito a 
fim de levar conforto aos oprimidos e justiça 
a todas as nações (Is 42, 2-7) . A injunção fi­
nal, "Escutem o que ele diz!" , é tirada de Dt 
1 8 , 1 5 , quando Moisés profetizou que outro 
profeta como ele surgiria em Israel um dia. 
Jesus se encaixa nessa descrição profética, e 
como seus ensinamentos são apoiados pela 
aprovação e autoridade do Pai, ele deve ser 
seguido como os Israelitas outrora seguiram 
seu líder Moisés (Ar 3, 22; 7, 37) . Ver comen­
tário sobre Lc 3, 2 1 -22. 
7 1 
Cadernos de estudo bíblico 
Jesus cura um menino endemoniado - 37No dia seguinte, quando desceram da montanha, uma 
grande multidão foi ao encontro deles. 38Um homem gritou do meio da multidão: "Mestre, eu te 
peço, vem yer o meu filho, pois é o meu único filho. 39Um espírito o ataca e, de repente, solta gritos e 
o sacode, e o faz espumar. 40Eu pecli aos teus discípulos o espírito, mas eles não conseguiram." 41Jesus 
disse: "Ó geração sem fé e pervertida! Até quando deverei ficar com vocês, e ter que suportá-los? Traga 
o menino aqui." 42Quando o menino estava se aproximando, o demônio o jogou no chão e o sacudiu. 
Então Jesus ordenou ao espírito mau, e curou o menino. Depois o entregou a seu pai. 43Todos ficaram 
admirados com a grandeza de Deus. 
· 
9, 37-43: Mr 17, 14-18 ; Me 9, 14-27. 
lJJ 9, 41: "geração sem fé e pervertida" -Uma expressão tirada de Dt 32, 5, 20. 
• Esses versículos são parte do "Cântico de 
Moisés" em que Moisés profetizou as falhas 
futuras de Israel e acusou o povo com ante-
cedência pela sua falta de fé (32, 1 -43) . Jesus 
direciona essas palavras a sua própria geração 
a fim de vinculá-las com os desobedientes a 
Deus através dos tempos. Ver comentário em 
Mt 1 2, 45 . 
Jesus anuncia novamente ·a sua morte - 430 povo estava admirado com tudo o que Jesus fazia. 
Então Jesus disse aos discípulos: 44 "Prestem atenção ao que eu vou dizer: o Filho do Homem vai ser 
entregue na mão dos homens." 45Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus dizia. Isso estava 
escondido a eles, para que não entendessem. E tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto. 
9, 43-45: Mt 17, 22-23; Me 9, 30-32; I..c 9,22; 18 , 3 1 -34; 17, 25 . 
Verdadeira grandeza - 46Houve entre os discípulos uma discussão, para saber qual deles seria o 
maior. 47Jesus sabia o que citavam pensando. Pegou então uma criança, colocou-a junto de si, 48e disse 
a eles: "Quem receber esta criança em meu nome, estará recebendo a mim. E quem me receber, estará 
recebendo aquele que me enviou. Pois, aquele que é o menor entre vocês, esse é o maior". 
9, 46-48: Mt 1 8, 1 -5 ; Me 9, 33-37 . . 9, 48: I..c 10, 16; Mt 1 0,40. 
9, 48: "esse é o maior" - A grandeza no 
Reino de Deus é medida por um padrão de 
humildade e serviço aos outros. Competição 
por prestígio ou reconhecimento mundano está 
descartada. (22, 24-27; Me 1 0, 35-45). 
ITI 9, 5 1 : "ser levado para o céu" -
� Uma referência a Ascensão de Jesus 
(At l , 2, 1 1 ) . 
• A tradição judaica acredica que tanto Moi­
sés como Elias foram assuntos ao céu e que 
ambos transmitiram uma parte do seu espíri­
to aos seus sucessores (De 34, 9; 2Rs 2, 9- 1 5) . 
Jesus do mesmo modo irá ascender na glória 
e derramar seu Espírito sobre seus seguidores 
(At 1 , 8-9) . 
Outro exorcista - 49João disse a Jesus: "Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu 
nome. Mas nós lhe proibimos, porque .ele não anda conosco". 50Jesus lhe disse: "Não lhe proíbam. 
Pois, quem não está contra vocês, está a favor de vocês" .
. 
9, 49-50: Me 9, 38-40; I..c 1 1 ,23. • 9,49: I..c 5, 5; 8,24,45; 9.33; 1 7 , 1 3. 
7 2 
O evangelho de São Lucas 
Um povoado samaritano se recusa a receber Jesus - 51 Estava chegando o tempo de Jesus ser levado 
para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém, 52e enviou mensageiros à 
sua frente. Estes puseram-se a caminho, e entraram num povoado de samaritanos, para conseguir 
alojamento para Jesus. 53Mas, os samaritanos não o receberam, porque Jesus dava a impressão de 
quem se dirigia para Jerusalém. 54Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: "Senhor, queres 
que mandemos descer fogo do céu para acabar com eles? 55Jesus porém, voltou-se e os repreendeu. 
56E partiram para outro povoado. 
9, 51-56: Me 10, I; Lc 17, l l ; Jo 4, 40-42. · 9, 52: Mt IO, S; Jo 4,4. · 9, 54: Mc 3, 17; 2Rs 1 .9- 1 6. 
"tomou a firme decisão de partir": Jesus 
agora começa urna longa viagem a Jerusalém. 
Quando chegar, denunciará a cidade por rejei­
tar sua mensagem ( 13, 22, 33; 1 7, 1 1 ; 1 8, 3 1 ; 
1 9, 1 1 , 28) . 
• Lucas descreve a resolução de Jesus em ter­
mos que recordam como Javé incumbiu os 
profetas Jeremias e Ezequiel de pregar contra 
Jerusalém por causa da sua corrupção O r 2 1 , 
20; Ez 2 1 , 2) . 
9, 52: "samaritanos" - O território sa­
maritano se encontra no centro da Palesti­
na, entre a Judéia (sul) e a Galiléia (norte) . 
Historicamente, judeus e samaritanos eram 
inimigos ferrenhos que faziam seus cultos 
em santuários rivais; os judeus em Jerusalém, 
e os samaritanos no Monte Gerizim Oo 4, 
20) . Embora os samaritanos fossem descen­
dentes distantes das tribos do norte de Israel, 
os judeus os consideravam impuros porque 
seus ancestrais casaram-se com imigrantes 
estrangeiros e prestaram culto a deuses es-
tranhos (2 Rs 1 7, 24) . Apesar de séculos de 
animosidade, Jesus demonstra misericórdia 
ao samaritano e até mesmo elogia alguns de­
les ( 1 0, 33; 1 7, 1 1 - 1 9 ; Jo 4, 39-42) . Muitos 
da Samaria abraçaram o evangelho na Igreja 
primitiva (At 8, 1 4) . 
lJJ 9, 54: "descer fogo do céu" - Os 
discípulos são cheios de zelo, mas lhes 
falta a misericórdia. Esse episódio talvez ilustre 
por que Tiago e João são chamados em outra 
ocasião de "filhos do trovão" (Me 3, 1 7) . 
• Os discípulos querem que Jesus siga o 
exemplo deixado por Elias, que clamou fogo 
do céu para consumir os mensageiros do rei 
da Samaria (2 Rs l , 9- 1 4) . 
9 , 59: "sepultar meu pai" - Uma res­
ponsabilidade sagrada e extensão prática do 
mandamento de honrar os pais (Gn 50, 5 ; 
Ex 20 , 1 2; Lv 1 9, 3 ; Dt 5 , 1 6; Tb 4, 3-4) . 
O dever do discipulado cristão é ainda mais 
sagrado ( 1 4, 26) . 
Aspicintes a seguidores de Jesus -'- 57Enquanto iam andando, alguém no caminho disse a Jesus: "Eu 
te seguirei para onde quer que fores." 58Mas Jesus lhe respondeu: "As raposas têm tocas e os pássaros 
têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça." 59Jesus disse a outro: "Siga-me." 
Esse respondeu: "Deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai." 60Jesus respondeu: "Deixe que os mortos 
sepultem seus próprios mortos; mas você, vá anunciar o Reino de Deus." 610utro ainda lhe disse: "Eu te 
seguirei, Senhor, . mas debra primeiro que eu vá me despedir do pessoal de minha casa." 62Mas Jesus lhe 
respondeu: "Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus." 
9, 57-60: Mt 8, 1 9-22. • 9, 61: !Rs 1 9, 20; FI 3, 13 . 
7 3 
Cadernos de estudo bíblico 
ITI 9, 62: "e olha para trás" - Postergar 
� o compromisso com o reino é a mes­
ma coisa que rejeitá-lo.• Jesus se mostra mais exigente que Elias, que 
permitiu a Eliseu despedir-se dos seus pais 
antes de segui-lo ( 1 Rs 1 9, 1 9-2 1 ) . 
t S rlJDO D A PALAVRA : ÊXODO (LC 9, .) 1 ) 
Exodos (grego) : "Um ir adiante" ou "êxodo". A 
palavra é usada três vezes no Novo Testamento 
e várias vezes no Antigo Testamento grego. Às 
vezes, refere-se ao êxodo histórico, quando o 
Senhor libertou os filhos de Israel da escravidão 
no Egito (Ex 19, 1; Hb 11, 22). Outras vezes 
se refere à morte fisica, quando as almas par­
tem dessa vida e vão para outra (Sb 7, 6; 2Pd 
1,15). Essas sutilezas de significado se misturam 
quando Moisés e Elias conversam sobre o êxodo de Jesus na Transfiguração (Lc 9, 31). Por um 
lado, Jesus vai deixar essa vida quando morrer 
na Cruz; por outro lado, sua morte vai realizar 
um novo êxodo que liberta o mundo da escravi­
dão do pecado. Jerusalém é o destino escolhido 
para essa missão porque a resistência da cidade 
ao evangelho a tornou um novo "Egito", onde 
Jesus deve ir para libertar a familia humana da 
escravidão espiritual (Ap 11, 8) . 
1 ºA missão dos setenta - 10 Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos, e os enviou 
dois a dois, na sua frente, para toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2E lhes dizia: "A 
colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso peçam ao dono da colheita que 
mande trabalhadores para a colheita. 3Vão! Estou enviando vocês como cordeiros para o meio de lobos. 
4Não levem bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não parem no caminho, para cumprimentar ninguém. 
5Em qualquer casa onde entrarem, digam primeiro: 'A paz esteja nesta casa!' 6Se aí morar alguém de 
paz, a paz de vocês irá repousar sobre ele; se não, ela voltará para vocês. 7Permaneçam nessa mesma casa, 
comam e bebam do que tiverem, porque o· trabalhador merece o seu salário. Não fiquem passando de 
casa em casa. 8Quando entrarem numa cidade, e forem bem recebidos, comam o que servirem a vocês, 
9curem os doentes que nela houver. E digam ao povo: 'O Reino de Deus está próximo de vocês!' 10Mas 
quando vocês entrarem numa cidade, e não forem bem recebidos, saiam pelas ruas e digam: 1 1 'Até a 
poeira dessa cidade, que se grudou em nossos pés, nós sacudimos contra vocês. Apesar disso, saibam que 
o reino de Deus está próximo'. 12Eu lhes afumo: no dia do julgamento, Deus será mais tolerante com 
Sodoma do que com tal cidade. 
10, 1: Lc 9, 1 -2, 5 1 -52; 7, 1 3. 10, 2: Mt 9, 37-38; }0 4, 35. • 10, 3-12: Mt 1 0, 7-1 6; Mc 6, 8-1 1 ; Lc 9.2-5; 22. 35-36. • 10, 5: 1 Sm 25, 6. 
10, 7: 1 Cor 10, 27; 9,14; ITm 5, 1 8; Dt 24, 1 5 . • 10, 1 1 : At 13 , 5 1 . • 10, 12: Mt 1 1 , 24; Gn 1 9. 24-28; Jd 7. 
COMENTÁRIOS 
10, 1 : "escolheu outros setenta" - Um 
episódio citado apenas em Lucas. É a segun­
da viagem missionária desde que Jesus en­
viou os doze a tarefas semelhantes (9, 1 -6) . 
• Jesus padroniza seu esforço missionário 
em Moisés, que incumbiu 70 anciãos de ser 
profetas em Israel (Nm 1 1 , 24-25) . Os 7 1 
membros da corte judaica, o Sinédrio, já ha­
via se modelado de acordo com a estrutura 
de liderança de Moisés e os 70 anciãos. Até 
certo ponto, esse número alude a Gn 1 O, que 
descreve a origem das 70 nações do mundo 
primitivo, à exceção de Israel. O ministério 
dos 70 discípulos antecipa assim a missão da 
Igreja às nações (24, 47) . 
"dois a dois": Uma prática m1SS1onana 
refletida na Igreja primitiva (At 8, 1 4; 1 5 , 
39-40) . 
74 
O evangelho de Sáo Lucas 
Desventura das cidades impenitentes - 13Ai de você, Corazin! Ai de você, Betsaida! Porque se em 
Tiro e Sidônia tivessem sido realizados os milagres que foram feitos no meio de vocês, há muito 
tempo teriam feito penitência, vestindo-se de cilício e sentando-se sobre cinzas. 14Pois bem: no dia 
do julgamento, Tiro e Sidônia terão uma sentença menos dura que vocês. 1 5Ai de você, Cafarnaum! 
Será erguida até o céu? Será jogada no inferno, isso sim! 16Quem escuta vocês, escuta a mim, e quem 
rejeita vocês, rejeita a mim; mas quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou". 
10, 13-15: Mt 1 1 . 2 1 -23; Lc 6. 24-26. • 10, 16: Mt 1 0,40; 1 8.5; Me 9, 37; Lc 9,48; Jo 1 3,20; 12,48. 
10, 2: ''A colheita" - Uma imagem 
do povo de Deus pronto para ser 
reunido no reino (Mt 9, 37; Jo 4, 35) . 
• Imagens semelhantes em I s 27 , 1 2- 1 3 retra­
tam a restauração de Israel do exílio como a 
colheita de uma safra de grãos. 
ITI 1 O, 4: "Não levem bolsa, nem saco­
LJ.U la, nem sandálias" - Os discípulos 
devem viajar sem sobrecargas. A hospitalida­
de tradicional orquestrada pela providência 
divina irá fornecer suas necessidades diárias . 
"não parem [ ... ] para cumprimentar 
ninguém'': A urgência da missão não permi­
te distração ou atrasos, especialmente por­
que as saudações habituais eram um tanto 
elaboradas . 
• Eliseu deu instruções semelhantes quando 
enviou seus servos a uma missão urgente (2 
Rs 4, 29) . 
� 10, 7: "merece o seu salário" - Mi­
.. nistros do evangelho devem receber 
seu sustento da comunidade que crê. Isso per­
mite que busquem o trabalho apostólico com 
atenção indivisa ( 1 Cor 9, 14 ; 1 Tim 5, 1 8) . 
• De acordo com a tradição católica e o Direi­
to Canônico (222 § 1 ) , os cristãos são obri­
gados a contribuir com a Igreja segundo a sua 
renda. Essas ofertas amparam o clero, provê 
às necessidades do culto litúrgico, e equipa 
a Igreja para ministrar ao necessitado. (CIC 
2043, 2 1 22) . 
10, 1 1 : "sacudimos contra vocês" - um 
ato simbólico de julgamento. Ver comentá­
rio em Mt 1 0, 14 . 
10, 13 : "Corazin . . . Betsaida'' - Duas ci­
dades da Galiléia que recusaram a mensagem 
de Jesus . 
"Tiro e Sidônia'': Duas cidades dos gen­
tios do norte da Palestina, na costa Mediter­
rânea. Diferente do povo da Galiléia, essas 
cidades não tiveram oportunidade direta de 
ouvir e acreditar em Jesus. 
10, 15: "Cafamaum" - A residência de 
Jesus na Galiléia. O povo da cidade rejeitou 
Jesus apesar das amplas oportunidades de ver 
suas obras e responder a sua pregação. Ver 
comentário em Me 1 1 , 23. 
10, 16: "Quem escuta vocês, escuta a 
mim" - Os mensageiros de Jesus carregam 
a sua autoridade onde quer que estejam. Re-
O retomo dos setenta - 170s setenta e dois voltaram muito alegres, dizendo: "Senhor, até os 
demônios obedecem a nós por causa do teu nome." 18Jesus respondeu: "Eu vi Satanás cair do céu 
como um relâmpago. 19Vejam: eu dei a vocês o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre 
toda a força do inimigo, e nada poderá fazer mal a vocês. 20Contudo, não se alegrem porque os maus 
espíritos obedecem a vocês; antes, fiquem alegres porque os nomes de vocês estão escritos no céu". 
10, 18: Ap 12 , 9; Jo 12 , 3 1 . • 10, 20: Ex 32, 32; SI 69. 28; Dn 12, I; Fl 4, 3; Hb 12. 23; Ap 3. 5; 13 , 8; 2 1 . 27. 
7 5 
Cadernos de estudo bíblico 
Jesus se rejubila e agradece o Pai - 21Nessa hora, Jesus se alegrou no Espírito Santo, e disse: "Eu te lou­
vo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste 
aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 22Meu Pai entregou tudo a mim. Ninguém 
conhece quem é o Filho, a não ser o Pai, e ninguém conhece quem é o pai, a não ser o Filho e aquele a 
quem o Filho quiser revelar." 23E Jesus voltou-se para os discípulos, e lhes disse em particular: "Felizes os 
olhos que vêem o que vocês vêem. 24Pois eu digo a vocês que muitos profetas quiseram ver o que vocês 
estão vendo, e não puderam ver; quiseram ouvir o que vocês estão ouvindo, e não puderam ouvir". 
10, 21-22: Me 1 1 , 25-27. • 10, 21: ICor l, 26-29. • 10, 22: Me 28, 1 8; Jo 3, 35; 1 3, 3; 1 0, 1 5; 17, 25. 
10, 23-24: Me 1 3, 1 6- 17; Jo 8,56; Hb 1 1 , 1 3; I Pd l, 1 0- 12 . 
jeitá-los significa rejeitar tanto o Pai quanto 
o Filho Qo 1 2, 48-49; 1 3 , 20) . Jesus confe­
re uma parte ainda maior da sua autorida­
de real, sacerdotal e profética aos apóstolos 
antes de sua Ascensão (Me 28, 1 8-20) (CIC 
87, 858) . 
10, 18: "Eu vi Satanás cair" - O rápido 
avançodo reino de Deus pela pregação e mi­
nistério exorcista dos discípulos corresponde 
à queda e recuo do diabo ( 1 1 , 20; 1 3, 1 6; Ap 
12 , 7-9) . 
10, 20: "escritos no céu" - Os santos es­
tão inscritos no divino "livro da vida" (Cf 
Ex 32, 32; SI 69, 28; Dn 1 2, l ; Ap 3, 5 ) . Os 
discípulos devem, portanto, alegrar-se mais 
por causa da sua filiação na família divina 
que devido ao êxito das missões. 
&1.,1 10, 22: Jesus é o Filho divino de 
� Deus e, portanto, o herdeiro da au­
toridade e da posição do Pai (Me 28, 1 8 ; Jo 
3, 35 ; 1 7, 2) . 
• O Pai, o Filho e o Espírito são iguais no ser, 
e nenhum deles possui mais da vida divina e 
do conhecimento que o outro. Já que o Filho 
não é menos perfeito que o Pai, ele é exclusi­
vamente qualificado a revelar a vida interior 
da Trindade ao mundo Oo l , 1 8 ; 1 4, 9 ; CIC 
253, 2603) . 
A parábola do bom samaritano - 25Um especialista em leis se levantou, e, para tentar Jesus pergun­
tou: "Mestre, o que devo fazer para receber em herança a vida eterna?" 26Jesus lhe disse: "O que é 
que está escrito na Lei? Como você lê?" 27Ele então respondeu: "Ame o Senhor, seu Deus, com todo 
o seu coração, com toda a sua alma, com toda a sua força e com toda a sua mente; e ao seu próximo 
como a si mesmo." 28Jesus lhe disse: "Você respondeu certo. Faça isso, e viverá!" 29Mas o especialista 
em leis, querendo· se justificar, disse a Jesus: "E quem é o meu próximo?" 30Jesus respondeu: "Um 
homem ia descendo de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos de assaltantes, que lhe arrancaram 
tudo, e o espancaram. Depois foram embora, e o deixaram quase morto. 3 'Por acaso um sacerdote 
estava descendo por aquele caminho; quando viu o homem, passou adiante, pelo outro lado. 320 
·
mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu, e passou adiante, pelo outro lado. 33Mas um 
samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu, e teve compaixão. 34Aproximou-se dele e fez 
curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal, e o 
levou a uma pensão, onde cuidou dele. 35No dia seguinte, pegou duas moedas de prata, e as entregou 
ao dono da pensão, recomendando: 'Tome conta dele. Quando eu voltar, vou pagar o que ele tiver 
gasto a mais'." E Jesus perguntou: 36�Na sua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu 
nas mãos dos assaltantes?" 370 especialista em leis respondeu: "Aquele que praticou misericórdia para 
com de." Então Jesus lhe disse: "Vá, e faça a mesma coisà'. 
10, 25-28: Me 22, 34-39; Me 1 2, 28-3 1 . • 10, 25: Me 1 0, 17; Me 19, 16; Lc 18 , 18 . • 10, 27: De 6, 5 ; Lv 19, 1 8; 
Rm 1 3, 9; GI 5, 14; Tg 2, 8. 10, 28: Lc 20, 39; Lv 1 8,5. • 10, 33: Lc 9, 5 1 -56; 17 , l l - 1 9; Jo 4, 4-42. 
O evangelho de São Lucas 
Jesus visita Marta e Maria - 38Enquanto caminhavam, Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de 
nome Mana, o recebeu em sua casa. 39Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e ficou 
escutando a sua palavra. 40Marta estava ocupada com muitos afazeres. Aproximou-se e falou: "Senhor, 
não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela venha ajudar­
me!" 410 Senhor, porém, respondeu: "Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas 
coisas; 42porém, urna só coisa é necessária, Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada''. 
10, 38-42: Jo 12, 1 -3; 1 1 , I-45. • 10, 41: Lc 7, 1 3. 
10, 25: "especialista em leis" - um intér­
prete especialista da Lei Mosaica. 
10, 27: "o Senhor [ ••• ] seu próximo" -
Uma referência a Dt 6, 5 e Lv 1 9 , 1 8 , em que 
Jesus menciona os dois maiores mandamen­
tos do Antigo Testamento (Mt 22, 37-40; 
Me 1 2, 28-34) . 
l"PI .. 10, 30-37: A parábola do 
� .... bom samaritano apresenta 
uma lição teológica e moral. Moralmente, 
Jesus ensina que o amor ao próximo deve 
acompanhar nosso amor a Deus. Juntos, e 
não um sem o outro, são indispensáveis para 
viver na amizade com Deus. Teologicamen­
te, Jesus ilustra que a definição de santidade 
da Antiga Aliança é agora superada pela san­
tidade da Nova. O sacerdote e o levita aderem 
às leis israelitas de pureza, que os proibia de 
tocar qualquer cadáver que não fosse da sua 
família (Lv 2 1 , 1 -3) . Eles, portanto, escolhe­
ram preservar sua pureza conforme a lei e ig­
noraram o homem quase morto. O samarita­
no exemplifica esse novo padrão de santidade 
em que Deus não mais exige que seu povo se 
separe dos outros, mas os chama a estender 
a misericórdia a todos os necessitados e não 
excluir ninguém em razão de preconceito, 
gosto, ou mesmo impureza legítima definida 
pela Torá (CIC 1 825 , 2447) . Ver comentário 
em Lc 6, 36 . 
• A parábola recorda uma história semelhante 
destruído e capturado por um exército israe­
lita do norte. Em vez de levá-los como pri­
sioneiros, quatro homens da Samaria tiveram 
compaixão dos judeus. Entre suas obras de 
misericórdia, eles os "ungiram" , os colocaram 
sobre seus "burros" e os levaram pacificamen­
te a "Jericó" . 
• Alegoricamente, 28 a parábola significa a res­
tauração da humanidade por Cristo. Adão é 
o homem atacado por Satanás e suas legiões; 
ele é despojado de sua imortalidade e deixa­
do morto no pecado. O sacerdote e o levita 
representam a Antiga Aliança e sua inaptidão 
de restaurar a nova vida ao homem. Jesus 
Cristo vem como o Bom Samaritano para 
resgatar o homem da morte e levá-lo à hospe­
daria da Igreja para o alívio e a cura por meio 
dos sacramentos. 
10, 30: "de Jerusalém para Jericó" -
uma viagem de 1 7 milhas a leste que descia 
cerca de 3 .200 pés. Seus terrenos irregulares 
faziam do caminho uma área alvo de bandi­
dos e ladrões . 
10, 35: "duas moedas de prata'' - Salário 
de cerca de dois dias de trabalho. Pagaria por 
muitos dias de hospedagem. 
10, 38: "num povoado" - Betânia, onde 
morava Lázaro, perto de Jerusalém Oo 1 1 , 1 ) . 
10, 39: "aos pés do Senhor" - Isto é, 
como um discípulo perante o seu senhor (8, 
35 ; At 22, 3) . 
em 2Cr 28, 8- 1 5 , em que o povo de Judá foi 
2 8 Santo Agostinho, De Quaest. Evang. 2, 19 . 
77 
Cadernos de estudo bíblico 
� 1 O, 42: "uma só coisa é necessária" 
.. - Marta estava preocupada com a 
hospitalidade, enquanto Maria deu total 
atenção ao convidado em si. Sua devoção si­
lenciosa mostrou maior reverência a Jesus 
que a labuta inquieta de Marta. 
• Misticamente,29 as duas mulheres expressam 
as duas dimensões da vida espiritual. Marta 
expressa a vida ativa quando trabalha diligen­
temente para honrar a Cristo por meio do seu 
trabalho. Maria exemplifica a vida contem­
plativa ao sentar-se atentamente para ouvir 
e aprender de Cristo. Ao mesmo tempo que 
ambas as atividades são essenciais para a vida 
cristã, a última é maior que a primeira. Pois no 
céu a vida ativa termina, enquanto que a vida 
contemplativa alcança sua perfeição. 
MAPA: A PHUGRI NA<_:Ao DOS JUDEUS DA GAi IÜIA A J E RUSAÜ'.i\I 
29 São Gregório Magno, Mora/ia 2, 6 . 
O evangelho de São Lucas 
1 1 A 
oração do Senhor - 'Um dia, Jesu� estava rezando em certo lugar. Quando terminou, 
um dos discípulos pediu: "Senhor, ensiria- nos a rezar, como também João ensinou os dis­
cípulos dele." 2Jesus respondeu: "Quando vocês rezarem, digam: Pai, santificado seja o teu 
nome. Venha o teu Reino. 3Dá-nos a cada dia o pão de amanhã, 4 e perdoa-nos os nossos pecados, 
pois nós também perdoamos a todos aqueles que nos devem; e não nos deixes cair em tentação". 
li, l: Me 1, 35; Lc 3, 2 1 ; 5, 16; 6, 12; 9, 18, 28; 5, 33; 7, 18. • l l, 2-4: Me 6, 9-13. • l l , 4: Me 1 1 , 25; Mt !8, 35. 
COMENTÁRIOS 
1 1 , 2-4: Uma versão mais curta do Pai Ver comentário em Mt 6, 1 1 . 
Nosso de Mt 6, 9- 13 . Como um modelo de 
oração, nos leva primeiro a adorar a Deus 
como nosso Pai, e apenas então pedir a Ele 
nossas necessidades materiais e espirituais. 
Como nos chama à convivência diária com o 
Senhor, é um meio certo de aprofundar nos­
sa relação com ele e desenvolver confiança no 
seu cuidado paternal. A repetição da palavra 
nosso a tornauma oração de família para a 
Igreja (CIC 260 1 , 2765-66) . Ver comentário 
em Mt 6, 9 . 
1 1 , 2: "santificado" - A santidade do 
nome de Deus deve ser reverenciada por to­
dos ( 1 , 49; Ez 36, 22-28; Jo 1 2, 28) . 
1 1 , 3: "pão de amanhã" - Literalmente 
"pão de amanhâ' ou "pão supersubstancial". 
É comida completa: ao corpo, Deus nos dá as 
necessidades diárias, e à alma ele nos dá o "pão 
da vida" eucarístico Qo 6, 48) (CIC 2837) . 
1 1 , 8: "amolação" - isto é, persistência. 
A parábola ( 1 1 , 5-8) defende a perseveran­
ça na oração, a fim de que os filhos de Deus 
aprendam a se aproximar dele repetidamente 
com preocupações cotidianas. Não que Deus 
precise ser informado das nossas necessidades, 
mas devemos perceber nossa total dependên­
cia dele para todas as coisas (CIC 26 1 3) . 
1 1 , 13 : "o Espírito Santo" - O maior 
dom do Pai para nós é sua própria vida divi­
na Qo 14, 1 7) . Pelo Espírito, ele santifica seus 
filhos e distribui as graças da salvação con­
quistadas por Cristo (Rm 8, 14- 1 7; 1 Cor 14, 
4- 1 1 ; Gl 5 , 22) . A plenitude do Espírito foi 
derramada no dia de Pentecostes (At 2, 1 -4; 
CIC 728, 2670-7 1 ) . 
1 1 , 15 : "expulsa os demônios" - Jesus 
força seus oponentes a decidir sozinhos se ele 
é capacitado por Deus ou pelo demônio, não 
Perseverança na oração - 5Jesus acrescentou: "Se alguém de vocês tivesse um amigo, e fosse procurá-lo 
à meia-noite, dizendo: 'Amigo, me empreste três pães, 6porque um amigo meu chegou de viagem, e não 
tenho nada para oferecer a ele'. 7Será que lá de dentro o outro responderia: 'Não me amole! Já tranquei a 
porta, meus filhos e eu já nos deitamos; não posso me levantar para lhe dar os pães?' 8Eu declaro a vocês: 
mesmo que o outro não se levante para dar os pães porque é um amigo seu, vai levantar-se ao menos por 
causa da amolação, e dar tudo aquilo que o amigo necessita. 9Portanto, eu lhes digo: peçam, e lhes será 
dado! Procurem, e encontrarão! Batam, e abrirão a porta para vocês! 'ºPois, todo aquele de que pede, 
recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta. 1 1 Será que alguém de vocês que é pai, se 
o filho lhe pede um peixe, em lugar do peixe lhe dá uma cobra? 120u ainda: se pede um ovo, será que 
vai lhe dar um escorpião? 13Se vocês, que são maus, sabem dar coisas boas aos filhos, quanto mais o Pai 
do céu! Ele dará o Espírito Santo aqueles que o pedirem". 
l i , 5-8: Lc 18, 1 -8. • l i , 9-13: Me 7. 7- 1 l . • l i , 9: Me 18, 19; 2 1 , 22; Me 1 1 , 24; Tg l, 5-8; lJo 5, 14, 1 5 ; Jo 17, 7; 16, 23-24. 
79 
Cadernos de estudo bíblico 
Jesus e Beuzebu - 14Jesus estava expulsando um demônio que era mudo. Quando o demônio saiu, 
o mudo começou a falar, e as multidões ficaram admiradas. 15Mas alguns disseram: "É por Belzebu, 
o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios." 160utros, para tentar Jesus, pediram-lhe um 
sinal do céu. 17Mas, conhecendo o pensamento deles, Jesus disse: "Todo reino dividido em grupos 
que lutam entre si será destruído; e uma casa cairá sobre outra. 180ra, se até Satanás está dividido 
contra si mesmo, como o seu reino poderá sobreviver? Vocês dizem que é por Belzebu que eu expulso 
os demônios. 19Se é através de Belzebu que eu expulso os demônios, através de quem os filhos de 
· vocês expulsam os demônios? Por isso, eles mesmos hão de julgar vocês. 20Mas, se é pelo dedo de 
Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus chegou para vocês. 2 1Quando um homem 
forte e bem armado guarda a sua casa, os bens dele estão em segurança. 22Mas, quando chega um 
homem mais forte do que ele e o vence, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que 
roubou. 23Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa". 
l l, 14-23: Mt 12, 22-30; 10,25; Mc 3, 23-27. • l l, 14-15: Mt 9, 32-34. • 11, 16: Mt 12, 38 ; 16, l ; Mc 8, l l ; Jo 2, 18; 6,30. - 11 , 23: Lc 9, 50. 
deixando a eles opção de neutralidade. 
"Belzebu'': Um nome depreciativo para 
Satanás. É vinculado a um ídolo pagão cul­
tuado em Acaron (2Rs 1 , 2) . Ver comentário 
em Mt 1 0, 25 . 
lJJ 1 1 , 20: "dedo de Deus" - isto é , o 
Espírito Santo (Mt 1 2, 28; CIC 700) . 
• Jesus alude a Ex 8, 1 9 , quando os magos do 
faraó finalmente confessaram aue suas oró-
prias ciências ocultas foram superadas pelo 
poder de Javé. Jesus da mesma forma exerce 
o poder divino que é muito superior ao de 
outros exorcistas do seu tempo ( 1 1 , 1 9) . Ver 
comentário em Lc 4, 36. 
1 1 , 22: "um homem mais forte" - Uma 
referência a Jesus, que derrota Satanás e sa­
queia a casa dos pecadores mantidos em ca­
tiveiro ( 1 3, 1 6; Is 49, 24-25 ; Hb 2, 14- 1 5) . 
O retomo do espírito impuro - 24"Quando um espírito mau sai d e um homem, fica vagando em 
lugares desertos à procura de repouso, e não encontra. Então diz: 'Vou voltar para a casa de onde 
saí'. 25Quando ele chega, encontra a casa varrida e arrumada. 26Então ele vai, e traz consigo outros 
sete espíritos,,Piores do que ele. Eles entram, moram aí e, no fim, esse homem fica em condição pior 
do que antes . 
1 1, 24-26: Mt 12, 43-45. 
1 1 , 26: "no fim" - Os que se libertaram 
do demônio devem ser preenchidos com a 
bondade do reino de Deus. Beneficiar-se do 
seu ministério sem aceitar sua mensagem leva 
à ruína espiritual (2Pd 2, 20) . Ver comentário 
em Mt 1 2, 44-46. 
1 1 , 28: "Mais felizes" - E melhor per­
tencer à família espiritual de Jesus que a sua 
família terrena. Sua mãe Maria é abençoada 
em ambos os casos, já que é mãe biológica de 
Cristo ( 1 , 42, 48) e o excelente exemplo de 
alguém que ouve e põe em prática a palavra 
Verdadeira bem-aventurança - 27Enquanto Jesus dizia essas coisas, uma mulher levantou a voz no 
meio da multidão, e lhe disse: "Feliz o ventre que te carregou, e os seios que te amamentaram." 28Jesus 
respondeu: "Mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática". 
11 , 27: Lc l, 42; 23, 29. • l l, 28: Lc 8, 2 1 ; Jo 1 5 , 14. 
8 0 
O evangelho de São Lucas 
O sinal de Jonas - 29Quando as multidões se reuniram, Jesus começou a dizer: "Esta geração é uma ge­
ração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas. 30De fato, as­
sim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será o Filho do Homem para esta geração. 
31No dia do julgamento, a rainha do Sul se levantará contra os homens desta geração, e os condenará. 
Porque ela veio de uma terra distante para ouvir a sabedoria de Salomão. E aqui está quem é maior do 
que Salomão. 32No dia do julgamento, os homens da cidade de Nínive ficarão de pé contra esta geração. 
Porque eles fizeram penitência quando ouviram Jonas pregar. E aqui está quem é maior do que Jonas.'' 
11 , 29-32: Mr 12, 39-42_ . l l , 29: Mr 16, 4; Me 8, 12; Lc 1 1 . 1 6; Jn 3, 4-5. • l l, 31: lRs 10, 1 - 1 0; 2Cr 9, 1 - 12 . • 11 , 32: Mt 12, 6. 
do Senhor ( 1 , 38-45) . 
1 1 , 29-32: Tanto Jonas como Salomão 
ministrou aos gentios. Jonas aos assírios em 
Nínive (Jn 3) e Salomão à rainha de Sabá ( 1 
Rs 1 0) . Juntos, eles prefiguraram Jesus, que 
irradiou o evangelho a todas as nações (24, 
27; Mt 28, 1 9) . 
1 1 , 33-36: Essa declaração faz uso de 
duas crenças tradicionais sobre os olhos. (1) 
Povos antigos, inclusive Israel, geralmente 
acreditavam que os olhos humanos eram 
uma fonte de luz que irradiava ao mundo e 
tornava a visão possível (SI 38, 1 O; Pv 1 5 , 
30) . (2) A diferença entre um olho sadio e 
um doente era uma distinção metafórica en­
tre um espírito generoso e compassivo (Pv 
22, 9) e um espírito egoísta e mesquinho 
(Dt 1 5 , 9; Eclo 14, 8- 1 0) . Nesse contexto, 
Jesus nos convida a um exame do interior das 
nossas vidas. A menos que seja preenchido 
com a luz que irradia dos olhos sadios em 
forma de generosidade, não é possível ser 
uma lâmpada que leve ourro� a enxergar e 
ingressar no reino ( 1 1 , 33; Mt 5 , 1 5- 1 6) . Ser 
preenchido com escuridão e assolado com 
os olhos doentes da ganância e do egoísmo 
é ficar forado reino e deixar os outros na 
escuridão também ( 1 1 , 52) . Essa ênfase do 
que está no interior da pessoa é intimamente 
ligado com o episódio seguinte, em que Jesus 
repreende os fariseus e doutores da lei por 
sua preocupação com as práticas exteriores 
da religião e sua negligência com a santidade 
interior ( 1 1 , 37-52) . Parecer exteriormente 
devotos, quando na verdade estão cheios de 
corrupção e impureza por dentro , os torna 
culpados de "hipocrisia" . ( 1 2, 1 ) 
1 1 , 34: "doente" - Literalmente "mau" . 
Essa expressão é relacionada com vários ter­
mos gregos no contexto adjacente. Em 1 1 , 
26 Jesus adverte sobre a entrada dos sete es­
píritos maus; em 1 1 , 29 ele chama seus con­
temporâneos de geração "má" ; e em 1 1 , 39 
ele diz que os fariseus estão cheios de roubo 
e maldade (ou mal) . 
1 1, 38: "não tinha lavado as mãos an-
A luz. do corpo - 33"Ninguém acende uma lâmpada para coloçá-la em lugar escondido ou debaixo 
de uma vasilha, e sim para coloca-la no candeeiro, a fim de que todos os que entram vejam a luz. J4A 
lâmpada do corpo é o olho. Quando o olho é sadio, o corpo inteiro também fica iluminado. Mas, se ele 
está doente, o corpo tàmbérri fica
.
na e5curidáo. 35Portanto, veja bem se a luz que está em você não é es­
curidão. 36Se o seu corpo iriteiro é luminoso, não tendo nenhuma parte escura, ele ficará todo luminoso, 
como quando a lâmpada com o seu clarão ilumina você". 
11 , 33: Mr 5, 1 5; Me 4, 2 1 ; Lc 8, 1 6. • 1 1, 34-35: Mr 6, 22-23. 
8 1 
Cadernos de estudo bíblico 
Jesus denuncia a hipocrisia dos judeus e mestres da lei - 37Enquanto Jesus falava, um fariseu o 
convidou para jantar em casa. Jesus entrou, e se pôs à mesa. 380 fariseu ficou admirado ao ver que Jesus 
não tinha lavado as mãos antes da refeição. 390 Senhor disse ao fariseu: "Vocês, fariseus, limpam o copo 
e o prato por fora, mas o interior de vocês está cheio de roubo e maldade. 40Gente sem juízo! Aquele 
que fez o exterior, não fez também o interior? 41Antes, dêem em esmola o que vocês possuem, e tudo 
ficará puro para vocês. 42Mas, ai de vocês, fariseus, porque vocês pagam o dízimo da hortelã, da arruda 
e de todas as outras ervas, mas deixam de lado a justiça e o amor de Deus. Vocês deveriam praticar isso, 
sem deixar de lado aquilo. 43Ai de vocês, fariseus, porque gostam do lugar de honra nas sinagogas, e de 
serem cumprimentados em praças públicas. 44Ai de vocês, porque são como túmulos que não se vêem, 
e os homens pisam sobre eles sem saber." 45Um especialista em leis tomou a palavra, e disse: "Mestre, 
falando assim insultas também a nós!" 46Jesus respondeu: ''.Ai de vocês também, especialistas em leis! 
Porque vocês impõem sobre os homens cargas insuportáveis, e vocês mesmos não tocam essas cargas 
nem com um só dedo. 47 Ai de vocês, porque constroem túmulos para os profetas; no entanto, foram os 
pais de vocês que os mataram. 48Com isso, vocês são testemunhas e aprovam as obras dos pais de vocês, 
pois eles mataram os profetas, e vocês constroem os túmulos. 49É por isso que a sabedoria de Deus disse: 
'Eu lhes enviarei profetas e apóstolos. Eles os matarão e perseguirão, 50a fim de que se peçam contas a 
esta geração do sangue de todos os profetas, derramado desde a criação do mundo, 5 1desde o sangue de 
Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o santuário'. Sim, eu digo a vocês: pedirão 
contas disso a esta geração. 52Ai de vocês, especialistas em leis, porque vocês se apoderaram da chave da 
ciência. Vocês mesmos não entraram, e impediram os que queriam entrar." 53Quando Jesus saiu daí, os 
doutores da Lei e os fariseus começaram a tratá-lo mal, e a provocá-lo ·sobre muitos pontos. 54Armavam 
ciladas, para pegá-lo de surpresa em qualquer coisa que saísse de sua boca. 
1 1 , 37: Lc 7, 36; 14, 1. • 11 , 38: Me 7, 1-5 . • 1 1, 39-41: Mt 23, 25-26. • 11 , 39: Lc 7. 13 . • 1 1 , 41: Te 1 , 1 5; Me 7, 1 9. 
1 1 , 42: Mt 23, 23-24; Lv 27,30; Mq 6, 8. • 1 1, 43: Mt 23, 6-7; Me 12, 38-39; Lc 20, 46. • 1 1, 44: Mt 23, 27. 
1 1 , 46: Me 23, 4. • 1 1 , 47-48: Mt 23, 29-32; At 7, 5 1 -53. • 1 1, 49-51: Mt 23, 34-36. • 1 1 , 49: I Cor 1 , 24; Cl 2,3. 
11, 51: Gn 4, 8; 2Cr 24, 20-2 1 ; Zc 1 , 1 . • 1 1, 52: Mt 23, 13. • 1 1, 53-54: Me 12, 13 . 
tes" - Jesus desconsidera os costumes fari­
saicos de limpeza. Esses rituais de lavagem 
eram de natureza religiosa, não higiênica. 
Ver comentário em Me 7, 3 . 
1 1 , 39: "limpam • . . por fora'' - O zelo 
religioso dos fariseus focava no exterior do 
corpo e geralmente falhava em penetrar o co­
ração . Ver Ensaio sobre um Tópico: Quem 
são os Fariseus? em Me 2. 
1 1 , 42: ''Ai de vocês" - Um oráculo de 
julgamento. Ver comentário em Mt 23, 1 3 . 
''vocês pagam o dízimo": Os fariseus dão 
a décima parte de tudo o que produzem ao 
Templo, mesmo a menor das ervas (Lv 27, 
30; Dt 1 4, 22-27) . Infelizmente, a preocu­
pação deles com a menor das leis da Torá os 
desviam dos princípios mais importantes : a 
justiça e o amor de Deus ( 1 0, 25-28) . 
1 1 , 44: "como túmulos" - Os judeus 
eram temporariamente contaminados pelo 
contato com os túmulos e cadáveres e por 
causa disso impedidos de prestar culto no 
Templo (Nm 1 9, 1 1 - 1 6) . Ironicamente, os 
fariseus também se tornaram fontes de con­
taminação, já que a influência da sua piedade 
estritamente cerimonial mantinha as pessoas 
longe do reino. 
1 1 , 51 : ''Abel. • • 7.acarias" - O martírio de 
Abel é o primeiro registrado na bíblia (Gn 4, 
8) , enquanto a morte de Zacarias séculos de­
pois não é mencionada no Antigo Testamen­
to. O ponto aqui é que a culpa de sangue acu­
mulada ao longo da era do Antigo Testamento 
vai se alastrar quando os líderes de Jerusalém 
conspirarem para executar o Messias. 
O evangelho de São Lucas 
1 1 , 52: "chave da ciência'' - Especialistas importantes princípios espirituais da Antiga 
em leis mantinham as Escrituras trancadas, Aliança. 
tornando inacessível às multidões os mais 
1 2 
Uma advertência contra a hipocrisia - 1 Enquanto isso, milhares de pessoas se reuniram, 
de modo que uns pisavam nos outros-_ Jesus começou a falar, primeiro a seus discípulos: 
"Tomem cuidado com o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. 2Não há nada de escon­
dido que não venha a ser revelado, e não há nada de oculto que não venha a ser conhecido. 3Pelo 
contrário, tudo o que vocês tiverem feito na escuridão, será ouvido à luz do dia; e o que vocês tiverem 
pronunciado em segredo, nos quartos, será proclamado sobre os telhados". 
· 
12,1: Mt 16, 6; Me 8, 1 5. • 12, 2-3: Mt 10, 26-27; Me 4, 22; Lc 8, 17; Ef5, 13 . 
COMENTÁRIOS 
12, 1: "hipocrisia'' - O vtc10 constan- especialmente quando falham em praticar o 
te dos fariseus. Como o Jennento permeia a que pregam (Mt 23, 1 -8) . Seus pecados serão 
massa, seus ensinamentos e exemplos influen- trazidos à "luz" ( 1 2, 3) no Julgamento Final 
ciam as multidões de maneira desastrosa, (CIC 678) . 
Quem se deve temer - 4"Pois bem, eu digo a vocês, meus amigos: não tenham medo daqueles que 
matam o corpo, e depois disso nada mais têm a fazer. 5Vou mostrar a quem vocês devem temer: te­
nham medo daquele que, depois de ter matado, tem poder de jogá-los no inferno. Eu lhes digo: é a 
este que vocês devem temer. 6Não se vendem cinco pardais por alguns trocados? No entanto, nenhum 
deles é esquecido por Deus. 7 Até mesmo os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Não 
tenham medo! Vocês valem mais do que muitos pardais. 8Eu digo a vocês: todo aquele que der tes­
temunho de mim diante dos homens, o Filho do Homem também dará testemunho dele diante dos 
anjos de Deus. 9Mas, aquele que me renegar diante dos homens, será renegado diante dos anjos de 
Deus. 1°Todo aquele que disser alguma coisa contra o Filho do Homem, será perdoado. Mas, quem 
blasfemar contra o espírito Santo, não será perdoado. l lQuando introduzirem vocês diante das sina­
gogas, magistrados e autoridades, não fiquem preocupados como ou com que vocês se defenderão, ou 
o que dirão. 12Pois,nessa hora o Espírito Santo ensinará o que vocês devem dizer." 
12, 4: Jo 1 5, 1 4- 15 . 12, 4-9: Mt 1 0, 28-33. • 12, 5: Hb 10, 3 1 . • 12, 7: Lc 2 1 , 18 ; At 27, 34; Mt 12 , 12 . • 12, 9: Me 8, 38; 
L: 9,26; 2Tm 2, 12. • 12, 10: Mt 12, 3 1 -32; Me 3, 28-29. • 12, 1 1-12: Mt 10, 1 9-20; Me 13 , 1 1 ; Lc 2 1 , 1 4- 1 5. 
12, 4-5: "não tenham medo" - Já que a 
morte física é apenas é uma ameaça mode­
rada em relação à morte espiritual, Jesus nos 
chama a ter coragem em face da perseguição 
e nos preocuparmos mais com as tentações 
ao pecado. 
"inferno": Literalmente, "geenà' . Ver co­
mentário em Mt 1 0, 28 e Estudo da Palavra: 
Inferno em Me 9, 43. 
12, 7: "os cabelos da cabeça de vocês" -
nada está escondido a Deus (Sl 1 39 , 1 -6) e 
nenhum sofrimento passa despercebido por 
ele (2 1 , 1 8 ; At 27, 34) . Mártires cristãos po­
dem, portanto, além das aflições dessa vida, 
olhar para a vindicação e a eterna recompen­
sa de Deus (Ap 20, 4) . 
12, 13: "herança" - Jesus é convidado a 
arbitrar uma disputa fraterna sobre uma he­
rança. Vendo que a fortuna da família estava 
causando divisões, ele responde com uma 
Cadernos de estudo bíblico 
A parábola do homem rico - 13Do meio da multidão, alguém disse a Jesus: "Mestre, dize ao meu irmão 
que reparta a herança comigo." 14Jesus respondeu: "Homem, quem foi que me encarregou de julgar ou 
dividir os bens entre vocês?" '5Depois Jesus falou a todos: "Atenção! Tenham cuidado- com qualquer tipo 
de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens." 16E 
contou-lhes uma parábola: "A cerra de um homem rico deu uma grande colheita. 17E o homem pensou: 
'O que vou fuzer? Não tenho onde guardar minha colheita'. 18Então resolveu: 'Já sei o que fazer! Vou 
derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com 
os meus bens. l 9Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma 
reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, álegre-se!' 20Mas Deus lhe disse: 'Louco! Nesta mesma 
noite você vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?' 21Assim 
acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus". 
12-15: ITm 6, 6- 10. • 12, 20: Me 12, 3 1 -32; Me 3, 28-29. 
parábola sobre o perigo das riquezas ( 1 2, com sua Lei . (SI 1 4, 1 ; Pr l , 7) . 
1 6-2 1 ) . 
12, 19: "coma e beba, alegre-se!" - isto 
é, se entregam aos prazeres e confortos terre­
nos (Tb 7, 9; Ecl 8, 1 5 ; Is 22, 1 3) . O homem 
louco acumula suas riquezas, faz delas a base 
de sua segurança, e então junta preguiça a 
sua ganância. A morte vai expor sua loucura 
ao retirar tudo o que ele possui (6, 24; 1 6, 
1 3 ; 1 8 , 25) . 
12, 20: "Louco!" - Uma repreensão seve­
ra para alguém despreocupado com Deus ou 
12, 22-31 : "herança" - O cuidado de 
Deus com os corvos e os lírios reflete sua 
grande preocupação pelo homem. Sua provi­
dência infalível supre as nossas necessidades 
quando organizamos nossa vida segundo a 
sua vontade e priorizamos a busca pelo seu 
reino. Ver comentário em Mt 6, 28-30. 
12, 33: "dêem o dinheiro em esmola" -
A generosidade é uma expressão de pobreza 
espiritual (Mt 5 , 3) e nos ajuda a romper o 
nosso apego à riqueza mundana ( 1 4, 33; 1 6, 
Não vos preocupeis ...:. 22Então Jesus falou aos seus discípulos: "Por isso eu lhes digo: não fiquem 
preocupados com a vida, com o que comer; nem com o corpo, coin o que vestir. 23Pois a vida vale 
mais do que a comida, e o corpo mais do que a roupa. 240bservem os corvos: eles não semeiam, nem 
colhem, não possuem celeiros ou armazéns. E, no entanto, Deus os alimenta. Vocês valem muito 
mais do que as aves. 25Quem de vocês pode crescer um centímetro à custa de se preocupar com isso? 
26Portanto, se vo.cês não podem nem sequer fazer a menor coisa, por que se inquietam com o resto? 
270bservem como os lírios crescem: eles não fiam, nem tecem. Porém, eu digo a vocês que nem 
mesmo o rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. 28Se Deus veste assim · 
a erva do campo, que hoje existe e amanhã é queimada no forno, quanto mais ele fará por vocês, 
gente de pouca· fé! .29Quan.to a vocês, não fiquem procurando o . que vão comer e o que vão beber. 
Não fiquem inquietos. 30Porque são os pagãos deste mundo que procuram tudo isso. O Pai bem 
sabe que vocês têm necessidade dessas coisas. 31Portanto, busquem o Reino dele, e Deus dará � vocês 
essas coisas em acréscimo. 32Náo tenha medo, pequeno rebanho, porque o Pai de vocês tem prazer 
em dar-lhes o Reirio. 33Vendam os seus bens e dêem o dinheiro em esmola. Façam bolsas que não'· 
envelhecem, um tesouro que não perde .o seu valor no céu: lá o ladrão não chega, nem a traça rói . . 
34De fato·, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração". 
12, 22-31: Mt 6, 25-33. • 12, 24: Lc 12, 6-7. • 12, 27: IRs 1 0, 1 - 10. • 12, 30: Mt 6, 8. 12, 32:Jo 2 1 , 1 5- 17. • 12, 3�34: Me 6, 19-2 1 ; Lc 18, 22. 
O evangelho de São Lucas 
A necessidade da vigilância - 35"Estejam com os rins cingidos e com as lâmpadas acesas. 36Sejam 
como homens que estão esperando o seu senhor voltar da festa de casamento: tão logo ele chega e 
bate, eles imediatamente vão abrir a porta. 37Felizes dos empregados que o senhor encontra acordados 
quando chega. Eu garanto a vocês: ele mesmo se cingirá, os fará sentar à mesa, e, passando, os servirá. 
38E caso ele chegue à meia-noite ou às três da madrugada, felizes serão se assim os encontra! 39Mas, 
fiquem certos: se o dono da casa soubesse a hora em que o ladrão iria chegar, não deixaria que lhe 
arrombasse a casa. 40Vocês também estejam preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na 
hora em que vocês menos esperarem". 
12, 35: Ef6, 14 Mr 25, 1 - 1 3; Me 13 , 33-37. • 12, 37:Jo 13 , 3-5; Mr 24, 42; Lc 2 1 , 36. 
12, 39-40: Me 24, 43-44; lTs 5. 2; Ap 3, 3; 16, 1 5; 2 Pd 3 10. 
9; 1 8 , 22) . a dividiam em três Uz 7, 1 9) . Essa parábola 
12, 38: "à meia-noite ou às três da ma- parece seguir o cálculo judaico, em que os 
d.rugada" - Entre as 1 O da noite e 0 nascer servos ficam a postos para seu mestre ao lon­
do sol. Os romanos dividiam a noite em qua- go da noite (CIC 2849) . 
tro horas (Me 1 3 , 35 ) , enquanto os judeus 12, 41-48: Uma parábola sobre liderança 
O servo fiel e o infiel - 41Então Pedro disse a Jesus: "Senhor, estás contando essa parábola só para 
nós, ou para todos?" 42E o Senhor respondeu: "Quem é o administrador fiel e prudente, que o senhor 
coloca à frente do pessoal de sua casa, para dar a comida a todos na hora certa? 43Feliz o empregado 
que o senhor, ao chegar, encontra fazendo isso! 44Em verdade, eu digo a vocês: o senhor lhe confiará a 
administração de todos os seus bens. 45Mas, se esse empregado pensar: 'Meu patrão está demorando', 
e se puser a surrar os criados e criadas, a comer, beber, e embriagar-se, 460 senhor desse empregado 
chegará num dia inesperado e numa hora imprevista. O senhor o expulsará de casa, e o fará tomar 
parte do destino dos infiéis. 47Todavia aquele empregado que, mesmo conhecendo a vontade do seu 
senhor, não ficou preparado, nem agiu conforme a vontade dele, será chicoteado muitas vezes. 48Mas, 
o empregado que não sabia, e fez coisas que merecem castigo, será chicoteado poucas vezes. A quem 
muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido". 
12, 42-46: Me 24, 45-41 . • 12, 42: Lc 7, 13. • 12, 47-4& Dr 25, 2-3; Nm 1 5, 29-20; Lc 8, 1 8; 19, 26. 
e responsabilidade. Os apóstolos são com­
parados a empregados incumbidos de vários 
deveres referentes ao reino de Deus ( 1 2, 32; 
22, 29-30) . As nobres tarefas confiadas a eles 
devem ser cumpridas com diligência antes 
do retorno repentino de Cristo. 
12, 49: "fogo" - Um símbolo da ( 1 ) pre­
sença e do amor de Deus (Dt 4, 24; At 2, 3) 
(2) do julgamento de Deus sobre os pecado­
res (Lv 1 0, 2; Mt 22, 7) , e (3) da purificação 
divina (3, 1 6; l Pd 1 , 7; CIC 696) . 
12, 50:"um batismo" - uma imagem da 
Jesus, a causa de divisão - 49 "Eu vim para lançar fogo sobre a terra: e como gostaria que já estivesse 
aceso! 50Devo ser batizado com um batismo, e como estou ansioso até que isso se cumpra! 5 1Vocês 
pensam que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu lhes digo, vim trazer divisão. 52Pois, 
daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas, e duas contra três. 
53Ficarão divididos: o pai contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a 
mãe; a sogra contra a nora, e a nora contra a sogra". 
12, 49: Lc 22, 1 5. • 12, 50: Me 10, 38-39;Jo 12, 27. • 12, 51-53: Mr 10, 34-36; Lc 21 , 26; Mq 7, 6. 
Cadernos de estudo bíblico 
Interpretação do tempo presente - 54Jesus também dizia às multidões: "Quando vocês vêem uma 
nuvem vinda do ocidente, vocês logo dizem que vem chuva; e assim acontece. 55Quando vocês sentem 
soprar o vento do sul, vocês dizem que vai fazer calor; e assim acontece. 56Hipócritas! Vocês sabem 
interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que vocês não sabem interpretar o tempo presente? 
12, 54-56: Mt 1 6, 2-3. 
Paixão de Cristo, quando ele será imerso no 
sofrimento e na morte e então ressuscitará 
para uma vida nova (Me 1 O, 38; Rm 6, 4; 
CIC 536, 1 225) . 
12, 53: "Ficarão divididos" - Fideli-
dade a Jesus é ainda mais importante que 
a união familiar ( 1 4, 26) , e a paz é possível 
apenas se abraçarmos a fé. Ver comentário 
em Me 1 3 , 1 2 . 
Resolver o caso com o adversário - 57Por que vocês não julgam por si mesmos o que é justo? 
58Quando, pois, você está para se apresentar com seu adversário diante do magistrado, procure 
resolver o caso com o adversário enquanto estão a caminho, senão este o levará ao juiz, e o juiz 
entregará você ao guarda, e o guarda o jogará na cadeia. 59Eu digo: daí você não sairá, enquanto não 
pagar o último centavo". 
12, 57-59: Mt 5. 25-26. 
1 3 
Arre
pen
d
er ou perecer - 1Nesse tempo, chegaram algumas pessoas levando notícias a 
Jesus sobre os galileus que Pilatos tinha matado, enquanto ofereciam sacrifícios. 2Jesus res­
pondeu-lhes: "Pensam vocês que esses galileus, por terem sofrido tal sorte, eram mais peca­
dores do que todos os outros galileus? 3De modo algum, lhes digo eu. E se vocês não se converterem, 
vão morrer todos do mesmo modo. 4E aqueles dezoito que morreram quando a torre de Siloé caiu em 
cima deles? Pensam vocês que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? 
5De modo algum, lhes digo eu. E se vocês não se converterem, vão morrer todos do mesmo modo". 
13, 2: Jo 9, 1 -3. 
COMENTÁRIOS 
13, 1-5: Jesus usa acontecimentos atuais de Siloé ( 1 3, 4) seja conhecido fora do Antigo 
para ensinar verdades espirituais. Embora Testamento, ambos os exemplos são usados 
nem o derramamento de sangue ordenado para ressaltar a urgência da penitência. Jesus 
por Pilatos ( 1 3, 1 ) , nem o incidente da torre até mesmo nega o que muitos no seu tempo 
A parábola da figueira estéril - 6Então Jesus contou esta parábola: "Certo homem tinha uma figueira 
plantada no meio da vinha. Foi até ela procurar figos, e não encontrou. 7Então disse ao agricultor: 
'Olhe! Hoje faz três anos que venho buscar figos nesta figueira, e não encontro nada! Corte-a, Ela só 
fica aí esgotando a terrà. 8Mas o agricultor respondeu: 'Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou 
cavar em volta dela e pôr adubo. 9Quem sabe, no futuro ela dará fruto! Se não der, então a cortarás'" . 
13, 6-9: Mt 2 1 , 1 8-20; Me 1 1 , 1 2- 14, 20-2 1 . • 13, 7 : Me 3 , 1 0; 7, 1 9; I.c 3, 9 . 
8 6 
O evangelho de São Lucas 
Cura da mulher encurvada - 1ºJesus estava ensinando numa sinagoga em dia de sábado. 1 1 Havia aí 
uma mulher que, fazia dezoito anos, estava com um espírito que a tornava doente. Era encurvada 
e incapaz de se endireitar. 12Vendo-a, Jesus dirigiu-se a ela, e disse: "Mulher, você está livre da sua 
doença." 13Jesus colocou as mãos sobre ela, e; imediatamente a mulher se endireitou, e começou a 
louvar a Deus. 140 chefe da sinagoga ficou furioso, porque Jesus tinha feito uma cura em dia de 
sábado. E tomando a palavra, começou a dizer à multidão: "Há seis dias para trabalhar. Venham, 
então, nesses dias e sejam curados, e não em dia de sábado." 150 Senhor lhe respondeu: "Hipócritas! 
Cada um de vocês não solta do curral o boi ou o jumento para dar- lhe de beber, mesmo que seja 
dia de sábado? 16Aqui está uma filha de Abraão que Satanás amarrou durante dezoito anos. Será que 
não deveria ser libertada dessa prisão, em dia de sábado?" 17Essa resposta deixou confusos todos os 
inimigos de Jesus. E toda a multidão se alegrava com as maravilhas que Jesus fazia. 
13, 14: Ex 20, 9-10; Lc 6, 6- 1 1 ; 14, 1 -6; Jo 5, 1 - 1 8. • 13, 15: Lc 7, 13 ; 14, 5 ; M' 12, 1 1 . • 13, 16: U: 19, 9. 
afirmaram, ou seja, que Deus permite apenas 
aos grandes pecadores sofrer mortes violentas 
Qó 3 1 , 2; Pr 1 O, 24) . Rejeitar, ou até mesmo 
negligenciar, o chamado de Cristo à penitên­
cia é expor-se à desgraça. (Hb 2, 3) . 
13, 6-9: A figueira representa a Antiga 
Aliança de Israel Qr 8, 1 3 ; Os 9, 1 0) . Embo­
ra Deus não tenha encontrado frutos de ar­
rependimento, foi paciente e concedeu a eles 
amplos três anos para aceitar o Messias (Rom 
2, 4; 2 Pd 3, 9) . A impenitência de Jerusalém 
mais tarde levaria o julgamento divino sobre 
a cidade ( 1 9, 4 1 -44; 20, 9- 1 9; 2 1 , 6) . Ver 
comentário em Me 1 1 , 1 3 . 
13, 1 1 : "um espírito que a tomava doen­
te" - Por vezes já uma ligação estreita entre a 
opressão demoníaca e os sofrimentos físicos, 
o primeiro como causa invisível do segundo 
(4, 40-4 1 ; 8, 35 ; 9, 38-39) . 
13, 16: "que Satanás amarrou'' - Se os 
hipócritas soltam até mesmo seus animais no 
sábado para alimentá-los, eles deveriam ter 
maior disposição para ver uma mulher liberta­
da da prisão demoníaca nesse dia (CIC 342) . 
Afinal, o sábado é para todos: bois, jumentos 
e as filhas de Israel (Dt 5, 14) . O significado 
mais profundo do sábado como um dia de 
descanso e alívio faz dele o dia mais adequado 
Parábola da semente de mostarda - 18E Jesus dizia: "A que é semelhante o Reino de Deus, e com 
o que eu poderia compará-lo? 19Ele é como a semente de mostarda que um homem pega e joga no 
seu jardim. A semente cresce, torna-se árvore, e as aves do céu fazem seus ninhos nos ramos delà'. 
13, 1�19: Mt 13, 3 1 -32; Me 4, 30-32. 
para Jesus aliviar os fardos dos oprimidos (Me 
2, 27) . Ver comentário em Lc 6, 1 . 
13, 18-21 :As parábolas da semente de mos­
tarda ( 1 3 , 1 9) e do fermento ( 1 3, 2 1 ) descre-
vem o crescimento do reino de Deus que co­
meça pequeno e desapercebido mas se expande 
para santificar o mundo inteiro (CIC 2660) . 
Ver comentários em Mt 1 3, 32 e 1 3 , 33 . 
A parábola do fermento - 2ºJesus disse ainda: "Com o que e u poderia comparar o Reino de Deus? 
21Ele é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farínha, até que tudo 
fique fermentado". 
13, 20-21: Mt 1 3, 33. 
Cadernos de estudo bíblico 
A porta estreita - 22Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo caminho para 
Jerusalém. 23Alguém lhe perguntou: "Senhor, é verdade que são poucos aqueles que se salvam?" Jesus 
respondeu: 24"Façam todo o esforço possível para entrar pela_ porta estreita, porque eu lhes digo: 
muitos tentarão entrar, e não conseguirão. 25Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, 
vocês vão ficar do lado de fora. E começarão a bater na porta, dizendo: 'Senhor, abre a porta para 
nós!' E ele responderá: 'Não sei de onde são vocês'. 26E vocês começarão a dizer: 'Nós comíamos e 
bebíamos diante de ti, e tu ensinavas em nossas praças!' 27Mas ele responderá: 'Não sei de onde são 
vocês. Afastem-se de mim, todos vocês que praticam injustiça!' 28Então haverá aí choro e ranger de 
dentes, quando vocês virem Abraão, Isaac e Jacó junto com todos os profetas no reino de Deus, e 
vocês jogados fora. 29Muita gente virá do oriente edo ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar 
à mesa no Reino de Deus. 3-0Vejam: há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos". 
13, 22: Lc 9, 5 1 ; 1 7, 1 1 ; 1 8, 3 1 ; 1 9, 1 1 . • 13, 23-24: Mt 7, 1 3- 14; Jo 1 0, 7. • 13, 25: Mt 25, 1 0- 12. 
13, 26-27: Mt 7, 2 1 -23; 25, 4 1 ; Lc 6, 46. • 13, 28-29: Mt 8, 1 1 - 12. • 13, 30: Mt 1 9; Me 10, 3 1 . 
13, 24: "pela porta estreita'' - A salvação 
depende primeiramente da graça de Deus, e 
então da nossa cooperação e obediência (Ef 
2, 8- 1 0; Fl 2, 1 2- 1 3) . Jesus aqui ressalta as 
dificuldades da vida espiritual; que poucos 
entrarão na glória de Deus enquanto a porta 
permanecer aberta (Mt 22, 1 4) . Ver comen­
tário em Mt 7, 1 3 . 
13, 27: "Afastem-se de mim'' - Embora 
sejam herdeiros do reino, os impenitentes de 
Israel serão excluídos da bênção de Deus (Mt 
2 1 , 43; Rom 2, 9) . 
13, 28: "choro e ranger de dentes" - O 
sofrimento dos condenados. Ver comentário 
em Mt 8, 1 2. 
llJ 13, 29: "do oriente e do ocidente, 
do norte e do sul" - Cristo convida 
sua família dos confins da terra para celebrar 
com os patriarcas. 
• Jesus evoca as profecias do Antigo Tescamen­
to que recratam o Senhor reagrupando os fi­
lhos exilados de Israel a partir dos quatro pon­
tos cardeais (SI 1 07, 3; Is 1 1 , 12 ; 43 , 5-6) . O 
banquece de comemoração incluirá israelitas e 
gentios na única família de Deus (24, 47; Ap 
5, 9) . Ver comentário em Lc l , 33. 
13, 31: "Deves ir embora daqui" - Jesus 
estava provavelmente na Peréia, a região go­
vernada por Herodes Antipas imediatamente 
a leste do rio Jordão. A mistura de aversão e 
curiosidade em Herodes não foi satisfeita até 
o julgamento de Jesus (23, 8) . Ver comentá­
rio em Me 6, 14 . 
O lamento sobre Jerusalém - 31Nesse ·momento; alguns fariseus s e aproximaram, e disseram a Jesus: 
"Deves ir embora daqui, ·porque Herodes quer te matar." 32Jesus disse: "Vão dizer a essa raposa: 
eu expulso demônios, e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho. 
33Entretanto preciso caminhar hoje, amanhã e depois de amanhã, porque não convém que um 
profeta morra fora de Jerusalém:" 34"Jerusalém, Jerusalém, você que mata os profetas e apedreja os 
que lhe foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir seus filhos, como a galinha reúne os pintinhos 
debaixo das asas, mas você não quis! 35Eis que a casa de vocês ficará abandonada. Eu lhes digo: vocês 
não me verão mais, até que chegue o tempo em que vocês mesmos dirão: Bendito aquele que vem 
em nome do Senhor". 
88 
13, 32: "essa raposa'' - Herodes era co­
nhecido por sua astúcia. 
"No terceiro dia'': O plano pré-determi­
nado do Pai possibilita que Jesus se livre do 
mal antes de cumprir sua missão (4, 29-30; 
Jo 7, 30; 1 0, 39) . 
13, 34: "Jerusalém, Jerusalém'' - Jesus 
lamenta a impenitência consolidada da Ci­
dade Santa ( 1 9, 4 1 -44) . Como profeta ( 1 3, 
33) , ele antecipa o mesmo sofrimento e mar­
tírio que se abateu sobre inúmeros outros an­
tes dele ( 1 1 , 49-5 1 ; Ap 1 8, 24; CIC 5 57-58) . 
Ver comentário em M t 23, 37. 
"Quantas vezes": O Evangelho de João 
indica que Jesus fez várias visitas a Jerusalém 
antes da Semana Santa (Jo 2, 1 3 ; 5, 1 ; 7, 1 0; 
1 0, 22) . 
O evangelho de São Lucas 
13, 35: "a casa de vocês ficará aban-lJJ donada'' - Jesus retirou sua presença 
e favor da Jerusalém terrena. 
• Jesus alude a Jr 12 , 7 e 22, 5, em que a casa 
abandonada representa o Templo e a cidade de 
Jerusalém. Como no tempo de Jeremias, o es­
vaziamento da cidade por Deus será seguida de 
violenta destruição ( 1 9, 4 1 -44; 2 1 , 6) . 
"Bendito aquele": uma citação de SI 
1 1 8 , 26, mais tarde vinculada à chegada de 
Jesus em Jerusalém ( 1 9, 38) . 
1 4Jesus cura um homem hidrópico no sábado - 1Num dia de sábado aconteceu que Jesus 
foi comer em casa de um dos chefes dos fariseus, que o observavam. 2Havia um homem 
hidrópico diante de Jesus. 3Tomando a palavra, Jesus falou aos especialistas em leis e aos 
fariseus: ''A Lei permite ou não permite curar em dia de sábado?" 4Mas eles ficaram em silêncio. En­
tão Jesus tomou o homem pela mão, o curou, e o despediu. 5Depois disse a eles: "Se alguém de vocês 
tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tiraria logo, mesmo em dia de sábado?" 6E eles 
não for
.
aro capazes de responder a isso. 
14, 1: Lc 7, 36; 1 1 , 37; Mc 3, 2. • 14, 3: Mt 12, 10; Mc 3, 4; Lc 6, 9. • 14, 5: Mt 12, l i ; Lc 13, 1 5. 
COMENTÁRIOS 
14, 1 : "Num dia de sábado" - Lucas nar­
ra cinco episódios em que Jesus cura no sába­
do (4, 3 1 -35, 38-39, 6, 6- 1 1 ; 13 , 1 0- 1 7) . Ver 
comentário em Lc 6, 1 . 
"o observavam'': Jesus era objeto constan­
te da vigilância dos seus inimigos ( 6, 7; 1 1 , 
53-54) . 
14, 2: "hidrópico" - Uma condição ca­
racterizado pelo inchaço do corpo causado 
por retenção de líquidos. 
14, 1 O: '�á sentar-se no último lugar'' -
Uma lição de humildade, em que a grandeza é 
medida pelo cuidado aos outros e uma estima 
modesta de si mesmo ( 1 8, 14; T g 4, 6; 1 Pd 5 , 
6) . É vergonhoso presumir que a nossa posi­
ção, social ou outra, vai ganhar automatica­
mente o favor de Deus (Pr 25, 6-7) . 
14, 14: '�ocê receberá a recompensa" -
Deus olhará favoravelmente as obras de mise­
ricórdia no dia do Julgamento (6, 32-36; Mt 
1 0, 42; 25 , 34-36) . 
"ressurreição dos justos": isto é, a ressur­
reição geral (Jo 5, 28-29; At 24, 1 4) . 
Cadernos de estudo bíblico 
Humildade e hospitalidade - 7Jesus notoÜ como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então 
contou a eles uma parábola: 8"Se alguém convida você para uma festa de casamento, não ocupe o 
primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que você; 9e o dono da 
casa, que convidou os dois, venha dizer a você: 'Dê o lugar para ele'. Então você ficará envergonhado 
e irá ocupar o último lugar. 10Pelo contrário, quando você for convidado, vá sentar-se no último lugar. 
Assim, quando chegar quem o convidou, ele dirá a você: �go, venha mais para cima'. E isso vai ser 
uma honra para você na presença de todos os convidados. 1 1De fato, quem se eleva será humilhado, e 
quem se humilha será elevado." 12Jesus disse também ao fariseu que o tinha convidado: "Quando você 
der um almoço ou jantar, não convide amigos, nem irmãos, nem parentes, nem vizinhos ricos. Porque 
esses irão, em troca, convidar você. E isso será para você recompensa. 13Pelo contrário, quando você der 
uma festa, convide pobres, aleijados, mancos e cegos. 14Entáo você será feliz! Porque eles não lhe podem 
retribuir. E você receberá a recompensa na ressurreição dos justos". 
14, 8: Pv 25, 6-7; Lc l i , 43; 20, 46. • 14, li : Mt 23, 1 2; Lc 18 , 14; Mt 8, 4; 1 Pd 5, 6. • 14, 12: Tg 2, 2-4. 14, 13: Lc 14, 2 1 . 
lIJ &ln 14, 16: "grande banquete" 
� - Uma imagem das alegrias e 
bençãos da Nova Aliança. Israel foi por muito 
tempo convidada para essa festa pelos profe­
tas, mas muitos rejeitaram quando o Messias 
anunciou que a refeição escava pronta. O Pai, 
portanto, revisou a lista de convidados, cha­
mando os desprezados de Israel ( 14, 2 1 ) e os 
gentios ( 1 4, 23, cf Ac 1 3, 46; 28, 28) para par­
ticiparem do banquete no lugar dos antigos 
convidados. 
• As refeições festivas tinham grande signifi­
cado religiosos nos tempos bíblicos e geral­
mente simbolizavam a comunhão da aliança 
com Deus ou com outros (Gn 26, 28-3 1 ; 3 1 , 
44-54; Ex 24, 9- 1 1 ; 2 Sam 3 , 20-2 1 ) . De 
acordo com Is 25 , 6-9, Deus preparava um 
grande banquete messiânico para celebrar a 
salvação de todos os filhos de Israel e das na­
ções ( 1 3 , 29) . 
• Jesus nos dá o pão do reino primeiramente 
na eucaristia (22, 1 9-20) e por fim na comu­
nhão que iremos ter com ele no céu (Ap 19 , 
9) . 
14, 17: "convidados" - Os convites eram 
habitualmente emitidos em dois períodos. O 
primeiro era emitido com muita antecedência 
da refeição, e o segundo quando tudo já esca­
va pronto (Esc 5 , 8; 6, 1 4) . 
A parábola do grande banquete - 150uvindo isso, um homem que estavaà mesa disse a Jesus: "Feliz 
aquele que come pão no Reino-de Deus!" 16Jesus respondeu: "Um homem deu grande banquete, 
e convidou muitas pessoas. 17Na hora do banquete, mandou seu empregado dizer aos convidados: 
'Venham, ·pois tudo está pronto'. 18Mas todos, um a um, começaram a dar desculpas. O primeiro 
disse: 'Comprei um .campo, ·e preciso ir vê-lo. Peço-lhe que aceite minhas desculpas'. 190utro disse: 
'Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-las. Peço-lhe que aceite minhas desculpas'. 20Um 
tercéiro 'disse: '.Acabo de me casar e, por isso, não posso ir'. 210 empregado voltou, 
·
e contou tudo ao 
patrão. Então o dono da casa ficou muito zangado, e disse ao empregado, "Saia depressa pelas praças 
e ruas da cidade .. Traga para cá os pobres, os -aleijados, os cegos e os mancos'. 220 empregado disse: 
'Senhor, o que mandaste fazer, foi feito, e ainda há lugar'. 230 patrão disse ao empregado: 'Saia pelas 
estradas e caminhos, e faça as pessoas virem aqui, para que a casa fique cheia. 24Pois eu digo a vocês: 
nenhwn daqueles que foram convidados vai provar do meu banquete"'. 
14, 15: Ap 19, 9. • 14, 16-24: Mt 22, 1 - 1 9. • 14, 20: Dt 24, 5; 1 Cor 7, 33. • 14, 21: Lc 14, 1 3. 
90 
O evangelho de São Lucas 
O custo do discipulado - 25Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele disse: 26"Se 
alguém vem a mim, e não dá preferência mais a mim que ao seu pai, à sua mãe, à mulher, aos filhos, 
aos irmãos, às irmãs, e até mesmo à sua própria vida, esse não pode ser meu discípulo. 27Quem não 
carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, ·não pode ser meu discípulo. 28De fato, se alguém de 
vocês quer construir uma torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se 
.tem o suficiente para terminar? 29Caso contrário, lançará o alicerce e não será capaz de acabar. E 
todos os que virem isso, começarão a caçoar, dizendo: 30'Esse-homem começou a construir e não foi 
capaz de acabar!' 310u ainda: Se um rei pretende sair para guerrear contra outro, será que não vai 
sentar-se primeiro e examinar bem, se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha 
contra ele com vinte mil? 32Se ele vê que não pode, envia mensageiros para negociar as condições de 
paz, enquanto o outro rei ainda está longe. 33Do mesmo modo, portanto, qualquer de vocês, se não 
renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo. 
14, 26-27: Me 10, 37-8. • 14, 27: Me 1 6, 24; Me 8, 34; Lc 9, 23. • 14, 33: Lc 1 8, 29-30; FI 3, 7. 
14, 26: "dá preferêndà' - Um termo 
idiomático que significa "amar menos" (Gn 
29, 3 1 -33; MI l , 2-3) . Nem mesmo a sacra­
lidade da lealdade familiar deve sobrepor o 
nosso compromisso com Cristo, já que deve­
mos estar dispostos a abandonar até mesmo 
os relacionamentos próximos para segui-lo 
(Mt 1 0, 37; CIC 1 6 1 8 , 2544) . 
14, 28: "calcular os gastos" - O discipu­
lado é um compromisso sério. Não se trata 
de sondar o terreno ou de evitar Deus (9, 
62) . A entrega total a Cristo é necessária para 
concluir as tarefas da vida cristã. Ver comen­
tário em Mt 10 , 38 . 
14, 34: "sal" - Usado para preservar e dar 
sabor à comida. Era amiúde impuro na anti­
guidade e às vezes podia perder sua eficácia. 
Em contraste, Jesus exige de nós fidelidade 
que permanece constante e não diminui com 
o passar do tempo ( 1 4, 26, 33) . 
Sobre o sal - 340 sal é bom. Mas se até o sal perde o sabor, com que o salgaremos? 35Não serve mais para 
nada: nem para a terra, nem para esterco. Por isso, é jogado fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. 
14, 34-35: Me 5, 13 ; Me 9, 49-50; Me 1 1 , 1 5 . 
9 1 
Cadernos de estudo bíblico 
1 5 A parábola da ovelha perdida - 1Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproxima­
vam de Jesus para o escutar. 2Mas os fàriseus e os doutores da Lei criticavam a Jesus, dizendo: 
"Esse homem acolhe pecadores, e come com des!" 3Entáo Jesus contou-lhes esta parábola: 
4"Se um de vocês tem cem ovdhas e perde uma, será que não deixa as noventa e nove no campo para 
ir atrás da ovelha que se perdeu, até encontrá-la? 5E quando a encontra, com muita alegria. a coloca nos 
ombros. 6Chegando em casa, reúne amigos e vizinhos, para dizer: 'Alegrem-se comigo! Eu encontrei a 
minha ovelha que estava perdidà. 7E eu lhes declaro: assim, haverá no céu mais alegria por um só peca­
dor que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão". 
COMENTÁRIOS 
15, 2: "come com eles" - Já que a comu­
nhão na mesa é uma manifestação de amizade 
e consentimento, os fariseus estavam escanda­
lizados porque Jesus comia com homens de 
má reputação (5, 30) . As parábolas seguintes 
indicam que Deus não apenas acolhe os peca­
dores arrependidos; ele vai atrás deles ( 1 5 , 4; 
8, 20; 1 9, 1 0; CIC 545, 1443) . 
fTI lS3'I 15, 3-7: A parábola da ove­
IJU a. lha perdida. Em uma cultura 
pastoral toda ovelha de um rebanho tem seu 
valor, e os pastores naturalmente se alegravam 
quando uma ovelha perdida era encontrada 
( 1 5 , 6) . Jesus é o pastor que restaura a nossa 
amizade com Deus Qo 1 0, 1 - 1 0) . 
• Javé é retratado como pastor n o Antigo Tes­
tamento (SI 23, 1 ; Is 40, 1 1 ) , assim como o 
Messias (Mq 5 , 4; Zc 1 3 , 7) . Ezequiel junta 
essas duas tradições, prometendo que o pró­
prio Deus irá procurar o rebanho disperso do 
seu povo (Ez 34, 1 1 - 1 6) e mandar o Messias 
davídico para ser seu pastor (Ez 34, 1 1 - 1 6) . 
• Alegoricamente,30 Jesus é o pastor que res­
taura a ovelha perdida da humanidade. Co­
locá-la nos seus ombros significa que ele car­
rega a natureza do homem e o pesado fardo 
dos pecados. 
Parábola da moeda perdida - 8"Se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, será que não 
acende uma lâmpada, varre a casa, e procura cuidadosamente, até encontrar a moeda? 9Quando a en­
contra, reúne amigas e vizinhas, para dizer: 'Alegrem-se comigo! Eu encontrei a moeda que tinha perdi­
do'. 10E eu lhes declaro: os anjos de Deus sentem a mesma alegria por um só pecador que se converte" . 
15, 8: "dez moedas de prata'' - Literal­
mente, "dez dracmas" . Cada um equivalia a 
um salário de um dia inteiro de trabalho. 
fTI 15, 1 1-32: A parábola do filho pró­
IJU digo revela a misericórdia sem limites 
de Deus. Embora os nossos pecados ofendam 
o Pai, ele está sempre disposto a nos mostrar 
compaixão e nos reintegrar à vida familiar. De 
muitos modos a parábola narra os contínuos 
esforços da vida espiritual, cuja conversão e 
o arrependimento são partes de um processo 
contínuo (CIC 1 439, 2839) . 
30 
• Por outro lado, a parábola narra o exílio e 
o retorno à casa de Israel. Após o reinado do 
São Gregório, o Grande, Hom. ln Evang. 2. 
9 2 
O evangelho de São Lucas 
Parábola do filho pródigo e seu irmão - 1 1Jesus continuou: "Um homem tinha dois filhos. 120 filho 
mais novo disse ao pai: 'Pai, me dá a parte da herança que me cabe'. E o pai dividiu os bens entre eles. 
13Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu, e partiu para um lugar distante. E aí 
esbanjou tudo numa vida desenfreada. 14Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande 
fome nessa região, e ele começou a passar necessidade. '5Encão foi pedir trabalho a um homem do lugar, 
que o mandou para a roça, cuidar dos porcos. 160 rapaz queria matar a fome com a lavagem que os 
porcos comiam, mas nem isso lhe davam. 17Encáo, caindo em si, disse: 'Quantos empregados do meu 
pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome . . . 18Vou me levantar, e vou encontrar meu pai, 
e dizer a ele: Pai, pequei contra Deus e contra ti; 19já não mereço que me chamem teu filho. Trata-me 
como um dos teus empregados'. 2ºEntáo se levantou, e foi ao encontro do pai. Quando ainda estava 
longe, o pai o avistou, e teve compaixão. saiu correndo, o abraçou, e o cobriu de beijos. 21Então o filho 
disse: 'Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu filho'. 22Mas o pai disse 
aos empregados: 'Depressa, tragam a melhor túnica para vestir meu filho. E coloquem um anel no seu 
dedo e sandáliasnos pés. 23Peguem o novilho gordo e o matem. Vamos fazer um banquete. 24Porque este 
meu filho estava morto, e tomou a viver; estava perdido, e foi encontrado'. E começaram a festa. 250 
filho mais velho estava na roça. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. 26Encão 
chamou um dos criados, e perguntou o que estava acontecendo. 270 criado respondeu: 'É seu irmão que 
voltou. E seu pai, porque o recuperou são e salvo, matou o novilho gordo'. 28Então, o irmão ficou com 
raiva, e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. 29Mas ele respondeu ao pai: 'Eu trabalho para 
ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua; e nunca me deste um cabrito para eu festejar 
com meus amigos. 30Quando chegou esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, matas para 
ele o novilho gordo!' 31 Então o pai lhe disse: 'Filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu. 
32Mas, era preciso festejar e nos alegrar, porque esse seu irmão estava morto, e tornou a viver; estava 
perdido, e foi encontrado'' . 
15, 1 1: Mt 2 1 , 28. • 15, 12: De 2 1 , 1 5- 17. • 15, 22: Gn 4 1 , 42; Zc 3, 4. • 15, 24: !Tm 5, 6; Ef2, l ; Lc 9, 60. 
Rei Salomão, Israel se divide em dois reinos, 
tornando-se como dois irmãos vivendo lado a 
lado no norte (Israel) e sul Qudá) da Palestina 
(1 Rs 1 2) . Durante o século oitavo a. C. , os as­
sírios levaram as tribos do norte de Israel para 
um lugar distante, onde abandonaram Deus e 
adoravam ídolos - um pecado que os profetas 
chamavam de prostituição ( 1 5 , 30; Jr 3, 6; Os 
4, 1 5) . Na Nova Aliança, Deus recebe de volta 
seu filho exilado com misericórdia e restaura 
sua plena filiação (Ez 37, 2 1 -23; Os 1 1 , 1 -3, 
1 1 ) . Isso se apresenta de modo especial em Jr 
31 m 1 8-20, quando Efraim (norte de Israel) , 
após um período de exílio e desgraça, arrepen­
de-se dos seus pecados, envergonha-se dos seus 
erros, recorre a Deus por misericórdia. É im­
portante lembrar que na narrativa do Gênesis, 
Efraim era o sobrinho de Judá e o irmão mais 
novo da família tribal de Israel (Gn 48, 1 4) . 
Ver comentário em l , 33. 
15, 12: "a parte da herança" - Era inco­
mum e até mesmo vergonhoso para um filho 
exigir sua herança antes da morte do seu pai 
(Eclo 33, 23) . Aqui o filho pródigo agrava a 
desonra do seu pai por esbanjar sua herança 
no pecado ( 1 5 , 1 3; Pr 28, 7) . 
15, 15: "cuidar dos porcos" - Já que os 
judeus consideravam os porcos animais im­
puros (Lv 1 1 , 7) , apenas as condições mais 
desesperadas forçaria o filho a assumir essa 
posição ignominiosa. Ao trabalhar para um 
empregador gentio, esperar-se-ia que violasse 
o sábado também (Ex 20, 8- 1 1 ) . 
llJ 15, 20: "o abraçou'' - Literalmente, 
"caiu sobre seu pescoço". 
• As ações do pai recordam a misericórdia 
mostrada a Jacó (Gn 33, 4) e as alegrias da 
9 3 
Cadernos de estutk bíblico 
reunião familiar nas narrativas patriarcais 
(Gn 45 , 14 ; 46, 29) . 
15, 22: "túnica. .. anel" - Símbolos de 
honra e autoridade (Gn 4 1 , 42; Est 3, 1 O; 1 
Me 6, 1 5) . 
"sandálias": empregados domésticos nor­
malmente andavam descalços. O pai recusa 
isso para seu filho e, ao invés, o restaura como 
membro pleno da família. 
15, 24: "estava morto ••• tomou a viver" 
- a passagem da aliança de maldição para a 
aliança de bênção. É uma restauração da mor­
te espiritual para a vida eterna Qo 5, 24; Rm 
6, 1 3; Ef 2, 1 -5) . 
15, 25: "filho mais velho" - As reclama­
ções do irmão mais velho expressam a amar­
gura dos fariseus ( 1 5 , 1 ) , que erroneamente 
viam a aceitação dos pecadores por Deus 
como uma violação da justiça da Aliança. O 
pai na parábola é inocente de tal culpa; ele 
simplesmente perdoa e ama o seu filho, que 
reconheceu seus erros e recorreu ao seu pai 
por misericórdia. 
1 6Parábola do administrador desonesto - 1Jesus dizia aos discípulos: "Um homem rico 
tinha um administrador que foi denunciado por estar esbanjando os bens dele. 2Entáo o 
chamou, e lhe disse: 'O que é isso que ouço contar de você? Preste comas da sua admi­
nistração, porque você não pode mais ser o meu administrador'. 3Então o administrador começou a 
refletir: 'O senhor vai tirar de mim a administração. E o que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; 
de mendigar, tenho vergonha. 4Ah! Já sei o que vou fazer para que, quando me afastarem da admi­
nistração, tenha quem me receba na própria casà. 5E começou a chamar um por um os que estavam 
devendo ao seu senhor. Perguntou ao primeiro: 'Quanto é que você deve ao patrão?' 6Ele respondeu: 
'Cem barris de óleo!' O administrador disse: 'Pegue a sua conta, sente-se depressa, e escreva cinqüen­
tà. 7Depois perguntou a outro: 'E você, quanto está devendo?' Ele respondeu: 'Cem sacas de trigo'. 
O administrador disse: 'Pegue a sua coma, e escreva oitentà ". 8E o Senhor elogiou o administrador 
desonesto, porque este agiu com esperteza. De fato, os que pertencem a este mundo são mais espertos 
com a sua gente, do que aqueles que pertencem à luz. 9"E eu lhes declaro: Usem o dinheiro injusto 
para fazer amigos, e assim, quando o dinheiro faltar, os amigos receberão vocês nas moradas eternas. 
10Quem é fiel nas pequenas coisas, também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas pequenas, tam­
bém é injusto nas grandes. 1 1Por isso, se vocês não são fiéis no uso do dinheiro injusto, quem lhes 
confiará o verdadeiro bem? 12E se não são fiéis no que é dos outros, quem lhes dará aquilo que é de 
vocês? 13Nenhum empregado pode servir a dois senhores, porque, ou odiará um e amará o outro, ou 
se apegará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro". 
16, 8: 1Ts 5, 5; Ef5, 8; l.c 20, 34; Jo 12, 36. • 16, 9: l.c 12, 33; 18, 22. • 16, 10: Mt 25, 21 ; l.c 19, 17. • 16, 13: Mt 6, 24. 
COMENTÁRIOS 
� 16, 1-8: A parábola do administrador 
.. desonesto é sobre urgência e preven­
ção. Prestes a perder sua posição ( 1 6, 2) , o ad­
ministrador faz uso de uma situação premente 
para encontrar favor com os devedores do seu 
patrão e preparar o seu futuro ( 1 6, 4) . Os cris­
tãos devem tomar maior cuidado em prepa­
rar-se para vida no mundo que há de vir. 
• Misticamente,3 1 o administrador desones­
to expressa o mal, cujo domínio sobre esse 
mundo está se aproximando do fim. Tendo 
desperdiçado os bens do Senhor ao nos re­
mover da graça e da amizade divinas, ele ago­
ra trabalha ansiosamente a fim de fazer ami­
gos por meio do engano e promessas vazias 
3 1 São Gaudênio, Sermo 1 8 . 
94 
O evangelho de São Lucas 
A Lei e o Reino de Deus - 140s fariseus, que são amigos do dinheiro, ouviam tudo isso, e caçoavam 
de Jesus. 15Então Jesus disse para eles: "Vocês gostam de parecer justos diante dos homens, mas Deus 
conhece os corações de vocês. De fato, o que é importante para os homens, é detestável para Deus. 
16A Lei e os profetas chegaram até João; daí para a frente o Reino de Deus é anunciado, e cada um 
se esforça para nele entrar, com violência. 17É mais fácil desaparecer o céu e a terra do que cair da Lei 
uma só vírgula. 18Todo homem que se divorcia da sua mulher, e se casa com outra, comete adultério; 
e quem se casa com mulher divorciada do seu marido, comete adultério" . 
16, 15: !Sm 1 6, 7; Pv 2 1 , 2; Ae !, 24; Lc 10, 29. • 16, 16: Me 1 1 , 12-13 . • 16, 17: Me 5. 1 7- 1 8; Lc 2 1 , 33. 
16, 18: Me 5, 3 1 -32; 1 9,9; Me 10, l l - 1 2; l Cor 7, 1 0- l l . 
de perdão. Enquanto seu ardor e previdência 
são dignos de imitação, suas táticas perversas 
e desonestas não o são. 
16, 1: "administrador'' - Um emprega­
do importante que lidava com os negócios da 
propriedade do seu patrão. Como o filho pró­
digo ( 1 5 , 1 3) , esse empregado desperdiçou os 
bens do seu patrão. 
16, 6: "Cem barris de óleo" - Cerca de 
oitocentos galões. O administrador reduz a 
dívida em cinquenta por cento. 
16, 7: "Cem sacas de trigo" - A dívida é 
reduzida em vinte por cento. 
16, 8: "com esperteza" - O patrão, embo­
ra enganado pela redução da dívida, elogiou o 
administrador por sua esperteza. Ele reconhe­
ceque os esforços de última hora do admi­
nistrador provou seu êxito em ganhar o favor 
dos devedores e tornar seu futuro financeiro 
mais seguro. A estratégia injusta do emprega­
do mostra que ele foi motivado por uma preo­
cupação inteiramente egoísta para seu próprio 
bem temporal. Jesus aponta o administrador 
como um exemplo e uma advertência. (1) 
Como um exemplo, o administrador mostra 
como empenhar cada esforço para fazer uso 
dos meios de preparar-se para o futuro. As­
sim como sua astúcia conquistou para ele uma 
vida confortável nas "casas" dos devedores do 
seu patrão ( 1 6, 4) , então os que creem são de­
safiados a fazer amigos por esmola, a fim de 
ser recebido nas "moradas eternas" ( 1 6, 9) . (2) 
Como uma advertência, entende-se que o ad­
ministrador caracteriza a atitude dos fariseus, 
que têm escutado Jesus desde 1 5 , 2 e que são 
acusados de ser "amigos do dinheiro" em 1 6, 
14 . É implícito que os fariseus desprezam a 
Deus por sua devoção ao dinheiro injusto, ou 
seja, buscam não as riquezas eternas, mas a 
estima dos homens e os confortos temporais 
desse mundo ( 1 6, 1 3) . 
16, 9 : "dinheiro injusto" - uma palavra 
em aramaico (mamom) que significa "rique­
zà' . A esmola nos torna amigos dos pobres 
por meio do dinheiro. Investir no reino de 
Deus significa nos despojar de riquezas para 
ajudar os necessitados (3, 1 1 ; 2 Cor 9, 6- 1 5 ; 
CIC 952) . 
16, 16: ''A Lei e os profetas - uma refe­
rência abreviada ao Antigo Testamento (24, 
44) . João Batista se encontra no eixo da his­
tória da salvação ao ser incluído na era do 
Antigo Testamento. Tanto ele como o as Es­
crituras do Antigo Testamento anunciam a 
vinda de Jesus (CIC 523) . 
"com violência'': refere-se a perseguição 
dos cristãos ou a disciplina ascética exem­
plificada por João. Ver comentário em Mt 
1 1 , 1 2 . 
16, 17: "uma só vírgula'' - Uma das cur­
tas extensões que distinguem cartas hebraicas 
de aparência semelhante (Mt 5, 1 8) . Jesus 
9 5 
Cadernos de estuda bíblico 
O homem rico e Lázaro - 19"Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino, e dava 
banquete todos os dias. 20E um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, que estava caído à porta 
do rico. 21Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E ainda vinham os 
cachorros lamber- lhe as feridas. 22Aconteceu que o pobre morreu, e os anjos o levaram para junto 
de Abraão. Morreu também o rico, e foi enterrado. 23No inferno, em meio aos tormentos, o rico 
levantou os olhos, e viu de longe Abraão, com Lázaro a seu lado. 24Então o rico gritou: 'Pai Abraão, 
tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque este 
fogo me arormenta'. 25Mas Abraão respondeu: 'Lembre-se, filho: você recebeu seus bens durante a 
vida, enquanto Lázaro recebeu males. Agora, porém, ele encontra consolo aqui, e você é atormen­
tado. 26Além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, nunca poderia 
passar daqui para junto de vocês, nem os daí poderiam atravessar até nós' . 270 rico insistiu: 'Pai, eu 
te suplico, manda Lázaro à casa de meu pai, 28porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, 
para que não acabem também eles vindo para este lugar de tormento'. 29Mas Abraão respondeu: 'Eles 
têm Moisés e os profetas: que os escutem!' 300 rico insistiu: 'Não, pai Abraão! Se um dos mortos for 
até eles, eles vão se converter'. 31Mas Abraão lhe disse: . 'Se eles não escutam a Moisés e aos profetas, 
mesmo 'que um dos mortos ressuscite, eles não ficarão convencidos"'. 
16, 20: Jo 1 1 , I-44; 1 2, 1, 9. • 16, 22: Jo 1 3. 23. • 16, 25: l.c 6, 24. • 16, 29: Jo 5. 45-47; At 1 5, 2 1 ; l.c 4, 1 7. • 16, 30: l.c 3, 8; 19, 9. 
não invalida nem esses pequenos detalhes do 
Antigo Testamento, muito menos a substân­
cia da lei . Ver comentário em Mt 5, 1 7. 
16, 18: "Todo homem que se divorcia'' 
- Enquanto Moisés permitia o divórcio e um 
novo casamento na Antiga Aliança (Dt 24, 
1 -4) , Jesus o proíbe inteiramente na Nova 
(Me 1 0, 1 1 - 1 2; 1 Cor 7, 1 0- 1 1 ; CIC 2382) . 
Ver Ensaio sobre um Tópico: Jesus sobre Ca­
samento e Divórcio em Mt 1 9 . 
16, 19-31 : A história do homem rico e 
de Lazáro descreve a sorte dos ricos e dos po­
bres, primeiro nessa vida e depois na próxi­
ma. Por todos os seus confortos mundanos, a 
indiferença do rico para com o pobre mergu­
lhou-o em ruínas ( 1 6, 23) . Lazáro, não obs­
tante suas dificuldades terrenas, é levado para 
o lado de Abraão. Uma inversão semelhante 
da sorte é a base das bem-aventuranças e dos 
infortúnios em 6, 20-26 (Mt 25 , 3 1 -46; 
CIC 2463 , 283 1 ) . 
16, 19: "Havia um homem'' - Palavras 
semelhantes são usadas no início das duas 
parábolas precedentes ( 1 5 , 1 1 ; 1 6, 1 ) e pode 
sugerir que essa história também seja uma 
parábola. Por outro lado, o homem pobre 
é pessoalmente identificado em 1 6, 20 (Lá­
zaro) , um traço que não é característico das 
parábolas . 
"púrpura e linho fino": vestuário caro 
geralmente associado à realeza Uz 8, 26; Est 
8, 1 5) . 
16, 22: "junto de Abraão" - ou seja, no 
colo ou na presença de Abraão, o patriarca 
de Israel (3, 8; Is 5 1 , 2) . Refere-se a um do­
mínio temporário dentro do Hades onde as 
almas justas da era da Antiga Aliança espera­
vam pacientemente Cristo abrir as portas do 
céu (Ef 4, 8- 1 0) . 
16, 23: "inferno" - O submundo ou 
domínio dos mortos. Refere-se a um lugar 
de espera onde as almas falecidas dos ímpios 
são detidas até o Julgamento Final (Ap 20, 
1 3) . Oposto à presença de Abraão, um lugar 
onde pecadores definham nas garras de tor­
mento (Lc 1 6, 24; Mt 1 1 , 23) . É separada da 
morada dos justos por um abismo intrans-
O evangelho de São Lucas 
ponível e permanente que não permite o trá- 1 2, 6-7) . Outros sugerem que o homem rico 
fego entre eles (Lc 1 6, 26; CIC 633, 1 02 1 ) . continua sendo egoísta, pois percebe que a 
Ver comentário em Mt 1 6, 1 8 . condenação de toda a sua família apenas au-
16, 28: "Manda preveni-los" - A pri­
meira e única menção da preocupação do 
homem rico pelos outros. Seu pedido da 
ressurreição de Lázaro é negado, visto que a 
Escritura já deu advertências suficientes para 
impedir seus irmãos de negligenciarem os 
pobres (Lv 23, 22; Dt 1 5 , 9; Is 1 0, 1 -2; Am 
menearia sua miséria. 
16, 31 : "a Moisés e aos profetas" - O 
Antigo Testamento todo (24, 27) . 
"um dos mortos ressuscite": Nem mes­
mo milagres podem beneficiar os que são 
indiferentes à Escritura. 
1 7Alguns relatos de Jesus - 1Jesus disse a seus discípulos: "É inevitável que aconteçam escân­
dalos, mas, ai daquele que produz escândalos! 2Seria melhor para ele que lhe amarrassem 
uma pedra de moinho no pescoço e o jogassem no mar, do que escandalizar um desses 
pequeninos. 3Prestem atenção! Se o seu irmão peca contra você, chame a atenção deie. Se ele se arre­
pender, perdoe. 4Se ele pecar contra você sete va.es num só dia, e sete vexes vier a você, dizendo: 'Estou 
arrependido', você deve perdoá-lo." 50s apóstolos disseram ao Senhor: "Aumenta a nossa fé!" 60 Senhor 
respondeu: "Se vocês tivessem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a esta amo­
reira: '.Arranque-se daí, e plante-se no mar'. E ela obedeceria a vocês. 7Se alguém de vocês tem um em­
pregado que trabalha a terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: 
'Venha depressa para a mesà? 8Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: ·'Prepare-me o jantar, cinja-se 
e sirva-me, enquanto eu como e bebo; depois disso você vai comer e beber'? 9Será que vai agradecer ao 
empregado, porque este fez o que lhe havia mandado? 10Assim também vocês: quando tiverem cumpri­
do tudo o que lhes mandarem fazer, digam: 'Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer'" . 
COMENTÁRIOS 
17, 1-2: Me 1 8, 6-7; Me 9, 42; !Cor 8, 12. • 17, 3-4: Me 1 8, 1 5, 2 1 -22. • 17, 5-6: Me 17, 20; 
2 1 , 2 1 ; Me 1 1 , 22-23. • 17, 5: l<: 7, 13 . 17, 8: l<: 1 2, 37; )o 13 , 3-5. 
17, 2: "uma pedra de moinho" - Uma que a maldição deDeus cairá sobre quem 
grande pedra usada num moinho (Ap 1 8 , colocar uma pedra de tropeço perante a fé 
2 1 ) . A severidade de tal punição corresponde dos seus pequeninos, ou seja, seus discípulos 
à severidade do escândalo do cristão e indica ( 1 0, 2 1 ; 1 2, 32; CIC 2284-87) . 
Jesus purifica dez leprosos - li Caminhando para Jerusalém, aconteceu que Jesus passava entre a Sa� 
maria e a Galiléia. 12Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos foram ao encontro dele. 
Pararam de longe, e gritaram: 13"Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!" 14Ao vê-los, Jesus disse: "Vão 
apresentar-se aos sacerdotes." Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados. 15Ao perceber 
que estava curado, um deles voltou atrás dando glória a Deus em alta voz. 16Jogou-se no chão, aos pés 
de Jesus, e lhe agradeceu. E este era um samaritano. 17Então Jesus lhe perguntou: "Não foram dez os 
curados? E os outros nove, onde estão? 18Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este 
estrangeiro?" 19E disse a ele: "Levante-se e vá. Sua fé o salvou". 
17, 1 1 : Lc 9, 5 1 ; 1 3, 22; 1 9, 1 1 . • 17, 12: Lv 1 3, 45-46. • 17, 13: Lc 5, 5; 8, 24, 45; 9, 33, 49. 
17, 14: Lc 5, 14; Mt 8,4; Me 1, 44; Lv 14, 2-32. • 17, 19: Mt 9, 22; Me 5, 34; Lc 8,48; 1 8,42. 
9 7 
Cadernos de estudo bíblico 
Vinda do Reino de Deus - 2º0s fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o 
Reino de Deus. Jesus respondeu: "O reino de Deus não vem ostensivamente. 21Nem se poderá dizer: 
'Está aqui' ou: 'está ali', porque o Reino de Deus está no meio de vocês." 22Jesus disse aos discípulos: 
"Chegarão dias em que vocês desejarão ver um só dia do Filho do Homem, e não poderão ver: 23Dirão a 
vocês: 'Ele está ali' ou: 'Ele está aqui'. Não saiam para procurá-lo. 24Pois como o relâmpago brilha de um 
lado a outro do céu, assim também será o Filho do Homem. 25 Antes, porém, ele deverá sofrer muito e 
ser rejeitado por esta geração. 26Como aconteceu nos dias de Noé, assim também acontecerá nos dias do 
Filho do Homem. 27Eles comiam, bebiam, se casavam e se davam em casamento, até o dia em que Noé 
entrou na arca. Então chegou o dilúvio, e fez com que todos morressem. 28Acontecerá como nos dias de 
Ló: comiam e bebiam, compravam, plantavam, e construíam. 29Mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, 
Deus fez chover fogo e enxofre do céu, e fez com que todos morressem. 300 mesmo acontecerá no dia 
em que o Filho do Homem for revelado. 31Nesse dia, quem estiver no terraço, não desça para apanhar 
os bens que estão em casa, e quem estiver nos campos não volte para trás. 32Lembrem-se da mulher de 
Ló. 33Quem procura ganhar a sua vida, vai perdê-la; e quem a perde, vai conservá-la. 34Eu digo a vocês: 
nessa noite, dois estarão numa cama. Uni será tomado, e o outro será deixado. 35Duas mulheres estarão 
moendo juntas. Uma será tomada, e a outra deixada. 36Dois homens estarão no campo. Um será levado, 
e o outro será deixado." 370s discípulos perguntaram: "Senhor, onde acontecerá isso?" Jesus respondeu: 
"Onde estiver o corpo, aí se reunirão os urubus". 
17, 20: Lc 1 9, 2 1 ; 2 1 , 7; Ae 1 , 6. • 17, 22: Me 9, 1 5 ; Me 2, 20; Lc 5, 35. • 17, 23: Me 24, 23; Me 13 , 2 1 . • 17, 24: Me 24, 27; Ap 1, 7. 
17, 25: Lc 9, 22. • 17, 26-27: Me 24, 37-39; Gn 6, 5-8; 7, 6-24. • 17,28-30: Gn 1 8, 20-33; 19, 24-25. • 17, 31: Me 24, 17-18; Me 13, 15- 16; Lc 
2 1 , 2 1 . • 17, 32: Gn 19 , 26. • 17, 33: Me 10, 39; 1 6, 25; Me 8, 35; Lc 9,24; Jo 12 , 25. • 17, 34-35: Mt 24, 40-42. • 17, 37: Mt 24, 28. 
17, 4: "sete vezes" - Uma solicitação de 
misericórdia sem limites (Tg 2, 1 3 ; CIC 
2227) . Ver comentário em Mt 1 8 , 22. 
17, 10: "empregados inúteis" - Discípu­
los não devem esperar congratulações pelos 
seus serviços . Seu trabalho é importante, mas 
não está além do chamado do dever cristão, 
e ninguém pode retribuir completamente a 
Deus por seus dons. 
17, 12: "Pararam de longe" - Como os 
leprosos eram considerados impuros, eram 
excluídos do Templo e banido da sociedade 
Israelita (Lv 1 3, 45-46; Nm 5, 2-3) . Apenas 
quando se recuperavam e passavam pela ins­
peção levita, podiam ser reintegrados à vida da 
aliança de Israel. Ver comentário em Lc 5, 1 2. 
IIl 17, 18: "este estrangeiro" - Dos dez 
que foram curados, apenas o sama­
ritano exprimiu gratidão ( 1 7, 1 6) e fé ( 1 7, 
1 9) . Ver comentário em Lc 9, 52. 
• As ações de Jesus recordam como Eliseu 
purificou um leproso estrangeiro enquanto 
vivia na Samaria (2 Rs 5, 1 - 1 4) . Por outro 
lado, ele inicia a adoção de estrangeiros na 
família da aliança de Deus como profetizado 
em Is 56, 3-8. 
17, 21: "no meio de vocês" - Essa expres­
são provavelmente significa "entre vocês" ou 
"ao alcance de vocês" e é usado para ressaltar a 
proximidade do reino ( 1 0, 9; 2 1 , 3 1 ) . 
17, 22-37: Jesus anuncia a vinda do reino 
de Deus nos dias do Filho do Homem. Duas 
considerações sugerem que ele alertava os dis­
cípulos sobre a queda de Jerusalém. ( 1 ) Muitas 
das declarações coletadas aqui aparecem no 
discurso no Monte das Oliveiras, que mais ex­
plicitamente se refere ao castigo que aguarda a 
cidade e o Templo (Mt 24-25; Me 1 3) . (2) A 
menção ao dia do Filho do Homem ( 1 7,22) 
repercute mais tarde em Lucas quando faz-se 
referência aos "dias" em que o Templo será 
destruído ( 2 1 , 6) . 
17, 22: "vocês desejarão ver" - Os dis­
cípulos desejarão ver a vindicação de Jesus ao 
punir a cidade que o condenou a uma morte 
violenta. Contudo, eles não irão ver em pri­
meira mão, porque Jesus vai pedir-lhes que de­
socupem Jerusalém e fujam da Judéia antes do 
início do julgamento (2 1 , 20-2 1 ; Me 1 3, 14-
1 6) . Para ressaltar a importância da fuga sem 
hesitação, Jesus os recorda como Ló fugiu de 
O evangelho de São Lucas 
Sodoma antes da sua destruição, embora a sua 
própria mulher tenha morrido ao olhar para 
trás ( 1 7, 28-32; Gn 1 9 , 24-26) . 
17, 34: "Um será tomado, e o outro será 
deixado" - Retrata o destino dos ímpios, que 
serão eliminados, e dos justos, que serão mi­
sericordiosamente poupados. Ver comentário 
em Mt 24, 40. 
17, 37: "Onde estiver o corpo" - Uma 
imagem de Jerusalém cercada e sitiada ( 1 9, 43; 
2 1 , 1 0) . Ver comentário em Mt 24, 28. 
1 8 Parábola da viúva e do juiz injusto - 'Jesus contou aos discípulos uma parábola, para 
mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, sem nunca desistir. Ele dizia: 2''Numa cidade 
havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. 3Na mesma cidade 
havia uma viúva, que ia à procura do juiz, pedindo: 'Faça-me justiça contra o meu adversário!' 
4Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim ele pensou: 'Eu não temo a Deus, e não respeito 
homem algum; 5mas essa viúva já está me aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não fique 
me incomodando'." 6E o Senhor acrescentou: "Escutem o que está dizendo esse juiz injusto. 7E Deus 
não faria justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? ªEu 
lhes declaro que Deus fará justiça para eles, e bem depressa. Mas, o Filho do Homem, quando vier, 
será que vai encontrar a fé sobre a terra?" . 
18, l.S: Lc 1 1 , 5-8. • 18, 6: Lc 7, 1 3 . • 18, 7: Ap 6, 10; M e 24, 22; Rm 8 , 33; Cl 3 , 1 2 ; 2 Tm 2 , 10. 
COMENTÁRIOS 
18, 1-14: Duas parábolas sobre a oração 
cristã. A primeira nos ensina que devemos rezar 
continuamente ( 1 8, 2-8) e a segunda que de­
vemos rezar com humildade, pedindo a Deus 
misericórdia ( 1 8, 9- 14; CIC 2098, 26 1 3) . 
18, 3 : "urna viúvà' - As viúvas geralmente 
eram frágeis e vulneráveis na sociedade antiga, 
e muitas eram amparadas por israelitas (Dt 26, 
1 2) . Tanto Jesus como Lucas demonstram um 
interesse compassivo na sua situação (2, 37; 4, 
25-26; 7, 1 2; 20, 47; 2 1 , 3). 
18, 5: "me incomodando" - A parábola 
encoraja a oração persistente ( 1 8, 1 ) . Como a 
viúva implorava por justiça, então nós deve­
mos perseverar na fé e na incansável petição 
a Deus por nossas necessidades (Rm 1 2, 1 2; 
lTs 5, 1 7) . 
18,6: "juiz injusto" - Sua indiferença à 
angústia da viúva era uma violação da justiça 
(Dt 27, 1 9) . O desenrolar da parábola é, por­
tanto, uma vaga imagem da preocupação de 
Deus por nós. Se um juiz injusto e insensível 
fará justiça a uma viúva perseverante, o Pai virá 
ainda mais em auxílio dos seus filhos em ora­
ção Eclo 35, 1 2- 1 7) . 
18, 1 1 : "O fariseu, de pé" - Uma postura 
orante habitual (Mt 6, 5; Me 1 1 , 25) . 
"Deus, eu te agradeço": Como o fariseu 
é orgulhoso, ele será "humilhado" ( 1 8 , 14) por 
presumir que a sua adesão às formas tradicio-
99 
Cadernos de estudo bíblico 
Parábola do fariseu e do cobrador de impostos - 9Para alguns que confiavam na sua própria justiça 
e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola: 'º"Dois homens subiram ao Templo para rezar; 
um era fariseu, o outro era cobrador de impostos. 1 10 fariseu, de pé, rezava assim no seu íntimo: 'Ó 
Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens, que são ladrões, desonestos, adúlteros, 
nem como esse cobrador de impostos. 12Eu faço jejum duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda 
a minha renda'. 130 cobrador de impostos ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para 
o céu, mas batia no peito, dizendo: 'Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!' 14Eu declaro 
a vocês: este último volrou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva, será humilhado, e 
quem se humilha, será elevado" . 
18, 11: Me 6, 5; Me 1 1 , 25. • 18, 12: Lc 5, 33; 1 1 , 42. • 18, 14: Me 18, 4; 23, 12; Lc 14, 1 1 ; 1 Pd 5, 6. 
nais de piedade é uma garantia automática da 
bênção divina ( 1 8, 1 2) . Ele infelizmente negli­
genciou a sua necessidade da misericórdia de 
Deus (CIC 5888) . Ver Ensaio sobre um Tópi­
co: Quem são os fariseus? em Me 2. 
18, 13: "O cobrador de impostos" -
Considerados pecadores e cidadãos de se­
gunda classe pelos fariseus . Ver comentário 
sobre Me 2, 14 . 
"Meu Deus, tem piedade de mim:" Uma 
oração de humildade e dependência de Deus. 
Ao contrário do fariseu, ele não desfila nenhu­
ma das suas credenciais diante de Deus e im­
plora apenas o perdão (SI 5 1 , 1 -4; Dn 9, 1 8 ; 
CIC 2559, 2839) . 
Jesus abençoa as criancinhas - 15Alguns levaram criancinhas para que Jesus tocasse nelas. Vendo 
isso, os discípulos os repreendiam. 16Jesus, porém, chamou os discípulos, e disse: "Deixem as crianças 
vir a mim. Não lhes proíbam, porque o reino de Deus pertence a elas. 17Eu garanto a vocês: quem 
não receber como criança o Reino de Deus, nunca entrará nele". 
18, 15-17: Me 19, 13-1 5; 18, 3; Me 1 0, 1 3- 16. 
18, 16: "o reino de Deus pertence a 
elas" - Uma vez que o Batismo é a 
porta de entrada para o reino de Deus Qo 3 , 
5)a Igreja primitiva naturalmente adminis­
trava o sacramento para crianças pequenas 
(At 2, 38-39; CIC 1 250-52) . 
• Após a era apostólica, a evidência clara da 
prática generalizada do batismo infantil surge 
no segundo e terceiro séculos A.D. , quando 
os primeiros Padres, como Orígenes, a rela­
ciona com a tradição apostólica. 32 O Concí­
lio de Trento ( 1 547) mais tarde confirmou e 
promoveu a prática. 33 
32 Comm. Rom. 5, 9. 
33 Sess. 7, can. 1 3 . 
18, 20: "os mandamentos" - Jesus dá aos 
Dez Mandamentos um lugar central na vida 
cristã. Embora a legislação sacrifical e judicial 
da Antiga Aliança já tenha passado, as suas leis 
morais continuam a ser essenciais à nossa bus­
ca da vida eterna (Rm 1 3, 8- 1 0; lCor 7, 1 9) . 
Ver comentário sobre Me 10,27. 
18, 22: "venda tudo" - Jesus expõe a 
maior fraqueza do homem rico: seu apego à 
riqueza terrena ( 1 8 , 23) . Como o seu coração 
está atado a suas posses, mesmo a perspectiva 
de obter a vida eterna não conquista seu afeto 
por ela. A menos que nos tornemos "pobres 
em espírito" (Mt 5, 3) , a riqueza vai ter o mes­
mo efeito desastroso sobre nós como tem sobre 
r oo 
O evangelho de São Lucas 
O jovem rico - 18Uma pessoa importante perguntou a Jesus: "Bom Mestre, o que devo fazer para re­
ceber em herança a vida eterna?" 19Jesus respondeu: "Por que você me chama de bom? Só Deus é bom, 
e ninguém mais. 2°Você conhece os mandamentos: não cometa adultério; não mate; não roube; não 
levante falso testemunho; honre seu pai e sua mãe." 210 homem disse: "Desde jovem tenho observado 
todas essas coisas." 220uvindo isso, Jesus disse: "Falta ainda uma coisa para você fazer: venda tudo o 
que você possui, distribua o dinheiro aos pobres, e terá um tesouro no céu. Depois venha, e siga-me." 
23QuandO " ouviu isso, o homem ficou triste, porque era muito rico. 24Vendo isso, Jesus disse: "Como é 
diRcil para os ricos entrar no Reino de Deus! 25De fato, é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de 
uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus." 260s que ouviram isso, disseram: "Então, quem 
pode ser salvo?" 27Jesus disse: "As coisas impossíveis para os homens são possíveis para Deus". 28Então 
Pedro disse: "Vê: nós deixamos os nossos bens, e te seguimos." 29Jesus disse: "Eu garanto a vocês: quem 
tiver deixado casa, mulher, irmãos, pais, filhos, por causa do Reino de Deus, 30não ficará sem receber 
muito mais durante esta vida e, no mundo futuro, vai receber a vida eterna"·. 
18, 18-23: Me 19, 16-22; Me 10 , 1 7-22. • 18, 18: Lc 10, 25. • 18, 20: Ex 20, 1 2- 1 6; De 5. 1 6-20; Rm 1 3, 9; Tg 2, 1 1 . 
18, 22: Lc 12, 33; Ae 2,45; 4, 32. • 18, 24-27: Me 1 9, 23-26; Me 10 , 23-27. • 18, 27: Gn 18 , 14 ; Jo 42, 2; Jr 32, 17 ; Lc 1 , 37. 
18, 28-30: Me 1 9, 27-30; Me 1 0, 28-3 1 ; Lc 5, 1 - 1 1 . 
o homem rico. Nota-se que Zaqueu (Lc 1 9, 
1 - 1 0) e José de Arimatéia (Mt 27, 57) também 
eram ricos, mas ambos preferiram os tesouros 
maiores do reino, correspondendo ao evange­
lho. Ver comentário em Mt 1 9, 24. 
18, 29: "mulher, irmãos, pais" - Os dis-
cípulos que renunciam aos bens terrenos pelo 
Senhor recebem bens celestiais em retomo (9, 
57-62; 14, 26) . Esses sacrifícios mundanos são 
compensados ao extremo pelos dons eternos 
de Deus (9, 24; Fl 3, 8) . 
18, 31-34: Jesus faz vários anúncios da Pai-
Jesus anuncia sua Paixão e Ressurreição pela terceira vez - 31Jesus chamou à parte os Doze, e 
disse: "Vejam: estamos subindo para Jerusalém, e vai se cumprir tudo o que foi escrito pelos profetas 
a respeito do Filho do Homem. 32Pois ele será entregue aos pagãos, será caçoado, ultrajado e coberto 
de cuspidas. 33Eles vão torturá-lo e matá-lo, e no terceiro dia ele vai ressuscitar." 34Mas, eles não com­
preenderam nada disso. Essa palavra era obscura para eles, e não compreendiam o que Jesus dizia. 
18, 31-34: Me 20, 17- 19; Me 10, 32-34; Lc 9, 22, 44-45; 1 7, 25. 
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xão em Lucas (9, 22, 44; 1 2, 50; 1 3, 33; 1 7, 
25) . Apenas aqui menciona o envolvimento 
dos pagãos (isto é, romanos) . 
18, 31 : "pelos profetas" - A Paixão e Res-
surreição de Jesus faziam parte do plano pre­
meditado de Deus (24, 25-27, 44; At 2, 14-
23; 3, 1 8, 24; 8, 32-35) . 
Jesus cura um cego em Jericó - 35Quando Jesus se aproximava de Jericó, um cego estava sentado à 
beira do caminho, pedindo esmolas. 360uvindo a multidão passar, ele perguntou o que estava aconte­
cendo. 37Disseram-lhe que Jesus Nazareno passava por ali. 38Então o cego gritou: "Jesus, filho de Davi, 
tem piedade de mim!" 39As pessoas que iam na frente mandavam que ele ficasse quieto. Mas ele gritava 
mais ainda: "Filho de Davi, tem piedade de mim!" 40Jesus parou, e mandou que levassem o cego até ele. 
Quando o cego chegou perto, Jesus perguntou: 41"0 que quer que eu faça por você?" O cego respondeu: 
"Senhor, eu quero ver de novo." 42Jesus disse: "Veja. A sua fé curou você." 43No mesmo instante, o cego 
começou a ver e seguia Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o povo louvou a Deus. 
18, 35-43: Mt 20, 29-34; Me 10, 46-52; Me 9, 27-31 ; Me 8, 22; Jo 9, 1-7. • 18, 42: Me 9, 22; Me 5. 34; 10, 52; Lc 7, 50; 8, 48; 17, 19. 
I O I 
Cadernos de estudo bíblico 
� 18, 35: "Jericó" - Cerca de dezesse­
.. te milhas ao nordeste de Jerusalém. 
A cidade foi reformada por Herodes, o Gran­de, a uma milha da cidade de Jericó do Anti­
go Testamento, desabitada no primeiro sécu­
lo Os 6, 26) . 
"Um cego": Marcos o chama de "Barti­
meu" (Me 10 , 46) . Ironicamente, esse men­
digo cego viu a identidade de Jesus de forma 
mais clara que as multidões que o repreen­
deu ( 1 8 , 39) . 
• Moralmente,34 a multidão significa os que 
creem e andam com Cristo e ainda assim, por 
vezes, impedem o nosso progresso na vida es­
piritual . Devemos nos esforçar, como o cego, 
para superar o desencorajamento externo e 
crescer pela força da nossa oração a Cristo. 
18, 38: "filho de Davi" - Um título do 
Messias esperado para trazer a cura de Deus 
34 Santo Agostinho, Senno 3 5 1 . 
à Israel (4, 1 8 ; I s 35 , 4-6; Mt 1 1 , 2-5) . Ele 
também seguiria os passos do Rei Salomão, o 
filho real de Davi, a quem a tradição judaica 
reverenciava como um grande curandeiro e 
exorcista (Sb 7, 20; Mt 1 2, 22-23) . 
ES ruDO DA PALAVRA: CRIANCINHAS (LC 1 8, 1 5) 
Brephos (grego) : um "recém-nascido" ou "bebê 
pequeno". O substap.tivo é usado oito ve:res no 
Novo Testamento. E ligado à importante ques­
tão: Quem é convidado para entrar no reino de 
Deus? Jesus chama para si apenas as crianças aci­
ma da idade da razão, ou todos os pequeninos 
- infantes e adolescentes de igual modo? O signi­
ficado desse termo em vários contextos do Novo 
Testamento não deixa margem para dúvidas. O 
próprio Lucas usa o termo para descrever Jesus 
recém-nascido deitado na manjedoura (Lc 2, 
1 2, 16) e até mesmo João Batista como um bebê 
ainda no útero ( 1 , 4 1 , 44) . Em At 7, 19, se refere 
a crianças do sexo masculino de Israel logo após 
o nascimento, e Pedro usa a expressão metafo­
ricamente para descrever os novos cristãos que 
anseiam por leite espiritual ( l Pd 2, 2) . Juntas, 
essas referências certificam que Jesus chama até 
mesmo os recém-nascidos para tomar parte no 
seu reino celestial (Lc 1 8, 1 6) . 
ENSAIO S O B RE UM TÓ P I C O : J ESUS, O FILHO D O H OMEM 
D os títulos aplicados a Jesus nos Evangelhos, nenhum aparece com mais freqüência que "Filho do homem". Quase sempre Jesus pronuncia esse nome misterioso em suas conversas e ensinamentos, e geralmente vin­
cula-se a ele algumas das afirmações mais impressionantes das Escrituras. No 
entanto, mesmo com tanta familiaridade aos leitores da Bíblia, é relativamente 
difícil de entender. Isso não surpreende, uma vez que até mesmo os contempo­
râneos de Jesus ficaram intrigados com o uso do título e em certo ponto foram 
levados a perguntar: "Quem é esse Filho do Homem?" Oo 1 2, 34) . A questão 
não perdeu sua pungência ao longo dos séculos; continua a ressoar ainda hoje. 
Enquanto procuramos uma resposta, é importante notar que Jesus não foi o 
primeiro a usar a expressão. Na verdade, ela aparece mais de cem vezes no Antigo 
Testamento. Em muitos contextos, funciona como uma expressão idiomática, 
que significa algo como "ser humano" ou "mero mortal" (Nm 23, 1 9; Jó 25 , 6; 
Sl 8, 4; �cio 1 7,30) , e pode ser aplicado a homens individuais como os profetas 
Ezequiel (Ez 2, 1 , 3) e Daniel (Dn 8 , 1 7) . Algumas vezes nos Evangelhos Jesus 
1 0 2 
O evangelho de São Lucas 
parece falar de si mesmo dessa forma, provavelmente para enfatizar sua total so­
lidariedade para com a humanidade. Neste sentido Jesus é o "Filho do Homem", 
porque ele possui um verdadeiro corpo humano Oo 6,53) e tem aptidão para as 
atividades humanas, como descansar (Mt 8,20), comer e beber (Lc 7,34) , sofrer 
(Me 8,3 1 ) , e até mesmo deitar-se em uma sepultura (Mt 1 2,40) . 
Mas existe algo a mais nessa expressão "Filho do homem" que, em certos 
contextos, se estende além das limitações meramente humanas. Por vezes Jesus 
se refere a si mesmo dessa maneira, e então passa a reivindicar todos os tipos 
de prerrogativas divinas para si mesmo. Como "Filho do Homem", ele tem a 
autoridade para perdoar pecados (Me 2, 1 0) , suspender o sábado (Me 2, 28) , e 
j ulgar os homens por seus atos Oo 5 , 27) , e ele mesmo afirma ser enviado do céu 
Oo 3, 3 1 ) . O que explica esse significado mais amplo? Jesus poderia esperar que 
seus discípulos concluíssem dessa simples expressão tão grandes reivindicações 
de autoridade divina? 
A resposta novamente nos leva para o Antigo Testamento, dessa vez para 
o livro de Daniel. Aqui o profeta consome um capítulo inteiro descrevendo 
uma visão grotesca de coisas futuras (Dn 7, 1 -28). No início Daniel vê quatro 
animais marchando para fora do mar, um com aparência mais feroz e poderosa 
que o outro. Essas bestas representam impérios pagãos notoriamente hostis a 
Israel. Eles instigam guerra contra o povo fiel de Deus, chamados de "santos do 
Altíssimo" (Dn 7,25), e depois a quarta e pior besta começa a esmagá-los sem 
piedade. De repente, a cena salta da terra ao céu, onde acontece um julgamento 
numa corte celestial, e o Senhor está sentado como um "ancião de dias" sobre 
o seu trono real (Dn 7, 9) . À sua presença chega uma figura gloriosa "como um 
filho de homem", entre as nuvens do céu (Dn 7, 13). A corte julga esse "filho de 
homem" como uma figura digna e lhe dá um reino incomparável em tamanho 
e prestígio a qualquer outro na história. Com a sua coroação, a corte também 
pronuncia uma sentença de condenação sobre o quarto animal, o despoja do seu 
poder, e passa o seu domínio para as mãos do "filho de homem" e os "santos" de 
Deus (Dn 7, 26-27). 
Aqui vemos um Filho do Homem que mais parece um Messias glorioso e 
divino que um mortal simples e insignificante. Ele é entronizado no céu, exerce 
autoridade sobre todas as nações, e a sua nomeação real sinaliza a dramática 
derrota dos inimigos de Deus. O resultado vitorioso desse sonho profético torna 
impossível pensar que Jesus adotasse para si um título como o "Filho do Ho­
mem" sem recordar seus seguidores dessa visão memorável. Na verdade, existem 
várias ocasiões nos Evangelhos que ele faz alusões inconfundíveis a isso (Mt 1 9, 
28; 24, 30; 25 , 3 1 ) . Nesses casos, vemos Jesus ensinando seus discípulos através 
das Escrituras sobre o seu próprio reinado e a autoridade que lhe foi dada para 
1 03 
Cadernos de estudo bíblico 
triunfar sobre o mal. Mesmo no seu j ulgamento, Jesus pôde ficar face a face com 
seus acusadores e afirmar que'a sentença de morte que o espera não vai significar 
o seu extermínio. Pois ele é o "Filho do Homem", e o Pai irá em breve justificá­
lo, reergue-lo, colocá-lo em um trono real, e decretar a destruição de todos os 
seus inimigos (Mt 26, 64; Me 1 4, 62) . 
O "Filho do Homem" é uma expressão que nos diz muito sobre o Messias e 
sua missão. Suas raízes no Antigo Testamento mostram sua versatilidade e pleno 
significado, capaz de chamar a nossa atenção às coisas humanas e mortais e nos 
elevar para ver um rei glorioso sentado ao lado do Senhor. Quem, então, é este 
"Filho do homem"? É Jesus Cristo, que venceu o mal e agora está entronizado 
no céu, exercendo sua realeza universal sobre o mundo por meio da Igreja (Me 
1 6, 1 9; At 7, 56; Ap 14, 1 4- 1 6) . 
1 9 Jesus e Zaqueu - 1Jesus tinha entrado em Jericó, e estava atravessando a cidade. 2Havia aí 
um homem chamado Zaqueu: era chefe dos cobradores de impostos, e muito rico. 3Zaqueu 
desejava ver quem era Jesus, mas não o conseguia, por causa da multidão, pois ele era muito 
baixo. 4Então correu na frente, e subiu numa figueira para ver, pois Jesus devia passar por aí. 5Quando 
Jesus chegou ao lugar, olhou para cima, e disse: "Desça depressa, Zaqueu, porque hoje preciso ficar 
em sua casa." 6Ele desceu rapidamente, e recebeu Jesus com alegria. 7Vendo isso, todos começaram a 
criticar, dizendo: "Ele foi se hospedar na casa de um pecador!" 8Zaqueu ficou de pé, e disse ao Senhor: 
"A metade dos meus bens, Senhor, eu dou aos pobres; e, se roubei alguém, vou devolver quatro vezes 
mais." 9Jesus lhe disse: "Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de 
Abraão. 10De fato, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido". 
19, l: Me 1 0, 46. • 19,7: Lc 5, 29-30; 1 5, 1 -2. • 19, 8: Lc 7, 13; 3, 14; Ex 22, I; Lv 6, 5; Nm 5. 6-7. • 19, 9: Lc 3, 8; 13, 16; Rm 4, 16. 
COMENTÁRIOS 
19, 1-10: Este é um episódio narrado so­
mente em Lucas. A história é marcada pela 
ironia, já que Zaqueu procurou com grande 
esforço ver Jesus ( 1 9, 3-4) , para depois desco­
brir que Jesus o estava procurando ( 1 9, 1 0) . 
Apesar da sua riqueza ( 1 9, 2) , Zaqueu abriu 
mão de parte dela e doou generosamente aos 
pobres ( 1 9, 8). 
19, 2: "chefe dos cobradores de impos­
tos" - Possivelmente, o chefe de um distrito de 
tributação no comando de outros cobradores. 
Muitos cobradores de impostos eram suspeitos 
de desonestidade e desprezados como pecado­
res ( 1 9, 7) . Ver comentário sobre Me 2, 14. 
19, 8: "quatro vezes mais" - O padrão 
mais rigoroso de restituição por roubo (Ex 22, 
1 ; CIC 24 12) . 
19, 9 : "filho de Abraão" - Israel traçou 
sua linhagem ao patriarca (Is 5 1 , 1 -2) . Zaqueu 
mostrou-se um legítimo descendente por seu 
arrependimento (3, 1 2- 1 3) e fé (Rm 4, 12) . 
Abraão é uma figura importante em Lucas 
( 1 ,55 , 73; 13 , 16; 16, 22) . 
19, 10: Lucas resume a missão de Jesus 
como o "Salvador" (2, 1 1 ; 5, 32; 9, 24; 1 5 , 
3-32) . 
19, 1 1 : "ia chegar logo" - Os discípulos 
1 04 
O evangelho de São Lucas 
A parábola das moedas de prata - 1 1Tendo eles ouvido isso, Jesus acrescentou uma parábola, porque 
estava perto de Jerusalém, e eles pensavam que o Reino de Deus ia chegar logo. 12Então Jesus disse: 
"Um homem nobre partiu para um país distante a fim de ser coroado rei, e depois voltar. 13Chamou 
então dez dos seus empregados, entregou cem moedas de prata para cada um, e disse: 'Negociem até 
que eu volte. 14Seus concidadãos, porém, o odiavam, e enviaram uma embaixada atrás dele, dizendo: 
'Não queremos que esse homem reine sobre nós'. 1 5Mas, o homem foi coroado rei, e voltou. Mandou 
chamar os empregados, aos quais havia dado o dinheiro, a fim de saber quanto haviam lucrado. 160 
primeiro chegou, e disse: 'Senhor, as cem moedas renderam dez vezes mais'. 170 homem disse: 'Muito 
bem, empregado bom. Como você foi .fiel em coisas pequenas, receba o governo de dez cidades'. 180 
segundo chegou, e disse: 'Senhor, as cem moedas renderam cinco vezes mais'. \90 homem disse também 
a este: 'Receba também você o governo de cinco cidades'. 20Chegou o outro empregado, e disse: 'Senhor, 
aqui estão as cem moedas que guardei num lenço. 21Pois eu tinha medo de ti, porque és um homem 
severo. Tomas o que não deste, e colhes o que não semeaste'. 220 homem disse: 'Empregado mau, eu 
julgo você pela sua própria boca. Você sabia que eu sou um homem severo, que tomo o que não dei, e 
colho o que não semeei. 23Então, por que você não depositou meu dinheiro no banco? Ao chegar, eu 
o retiraria com juros'. 24Depois disse aos que estavam aí presentes: 'Tirem dele as cem moedas, e dêem 
para aquele que tem núl'. 250s presentes disseram: 'Senhor, esse já tem mil moedas!' 26Ele respondeu: 
'Eu digo a vocês: a todo aquele que já possui, será dado mais ainda. Mas daquele que nada tem, será 
tirado até mesmo o que tem. 27E quanto a esses ininúgos, que não queriam que eu reinasse sobre eles, 
tragam aqui, e matem na minha frente"'. 
19, 1 1 : Lc 9, 5 1 ; 13 , 22; 17, 1 1 ; 1 8, 3 1 ; 9, 27. • 19, 12-28: Me 25, 14-30. • 19, 12: Me 13, 34. 
19, 17: Lc 1 6, 10. • 19, 26: Me 1 3 , 12; Me 4, 25; Lc 8, 18 . 
esperavam que a longa viagem de Jesus a Jeru­
salém culminasse em sua entronização e o esta­
belecimento de um reino terreno (At l , 6) . A 
parábola corrige este equívoco por duas razões. 
( 1 ) Sugere que Jesus vai ser entronizado na Je­
rusalém celeste, e não na cidade terrena (At 2, 
33-36) . (2) Mostra que Jesus vai estar ausente 
por um tempo até seu retorno para julgar seus 
inimigos e acertar as contas com os seus servos 
19, 12-27: A parábola das moedas de Lu­
cas é semelhante à parábola dos talentos em 
Mt 25, 1 4-30. Ela tem vários níveis de signi­
ficado. ( 1 ) Historicamente, recorda como os 
governantes herodianos da Palestina muitas 
vezes viajavam a Roma para tentar obter a au­
toridade de governo. Arquelau, em particular, 
foi antes de César Augusto buscar o reino de 
seu falecido pai, Herodes, o Grande, em 1 ou 4 
a.C. Como na parábola ( 1 9, 14) , os represen­
tantes judeus também viajaram a Roma para se 
opor ao pedido. (2) Moralmente, Jesus salienta 
a necessidade de diligência e responsabilidade. 
Ele espera que os discípulos cumpram seus de­
veres cristãos na sua ausência, alertando que 
o medo não será desculpa para a preguiça ou 
falta de produtividade ( 1 9, 20-24) . (3) Teolo­
gicamente, a parábola prevê a ascensão de Jesus 
ao Pai para recebem reino ( 19 , 1 2; Me 1 6, 1 9) 
e o retorno para julgar aqueles que rej�itam a 
sua autoridade real ( 1 9, 27) . Seu retorno está 
intimamente ligado ao julgamento de Israel e 
da queda de Jerusalém em 70 d.C., que é por 
si só uma prévia profética da sua segunda vinda 
gloriosa para julgar todas as nações no fim dos 
tempos. 
19, 13: "cem moedas de pratà' - Literal­
mente, "dez minas" . Cada uma valia quase 
quatro salários mensais de um trabalhador. 
Aqui as moedas são distribuídas igualmente, 
enquanto a parábola de Mateus distribui os 
"talentos" desigualmente (Mt 25, 1 5) . 
19, 27: "matem'' - Diz respeito a queda 
1 0 5 
Cadernos de estudo bíblico 
A entrada de Jesus em Jerusalém - 28Depois de diz.er essas coisas, Jesus partiu na frente deles, subindo 
para Jerusalém. 29Quando Jesus se aproximou de Betfagé e de Betânia, perto do chamado monte das 
Oliveiras, enviou dois discípulos, 30dizendo: "Vão até o povoado em frente. Quando vocês entrarem aí, 
vão encontrar, amarrado, um jumentinho que nunca foi montado. Desamarrem o animal e o tragam. 
31 Se alguém lhes perguntar: 'Por que vocês o estão desamarrando?' vocês responderão: 'Porque o Senhor 
precisa dele'." 320s discípulos foram, e encontraram as coisas como Jesus havia dito. 33Quando eles 
estavam desamarrando o jumentinho, os donos perguntaram: "Por que vocês estão desamarrando o 
jumentinho?" 340s discípulos responderam: "Porque o Senhor precisa dele." 35Então levaram o jumen­
tinho a Jesus. Colocaram os próprios mantos sobre o jumentinho e fizeram Jesus montar. 36Enquanto 
caminhavam, as pessoas estendiam os próprios mantos pelo caminho. 37Quando Jesus estava junto à 
descida do monte das Oliveiras, toda a multidão de discípulos começaram, alegres, a louvar a Deus em 
voz alta, por todos os milagres que tinham visto. 38E dizia: "Bendito seja aquele que vem como Rei, 
em nome do Senhor! Paz no céu e glória no mais alto do céu." 39No meio da multidão, alguns fariseus 
disseram a Jesus: "Mestre, manda que teus discípulos se calem." 40Jesus respondeu: "Eu digo a vocês: se 
eles se calarem, as pedras gritarão". 
19, 28: Me 10, 32. • 19, 29-38: Me 2 1 , 1 -9; Me 1 J , 1 -IO ; Jo 1 2, 12-18 . • 19, 32: Lc 22, 13. - 19, 34: Lc 7, 13 . 
19, 36: 2 Rs 9, 13 . • 19, 38: SI 1 1 8, 26; Lc 13, 35; 2, 14 . • 19, 39-40: Me 21 , 1 5- 16; Hab 2, 1 1 . 
de Jerusalém em 70 d.C., quando a cidade tra­
çar uma maldição divina sobre si mesmo por 
rejeitar Jesus como seu rei messiânico ( 1 3, 34-
35; 19 , 4 1 -44; 2 1 , 20 24) . 
19, 28: "subindo para Jerusalém'' - A 
longa viagem iniciada em 9, 5 1 finalmente ter­
mina quando Jesus chega ao seu destino esta­
belecido ( 1 3, 22, 33; 1 7, 1 1 ; 1 8 , 3 1 ; 1 9, 1 1 ) . 
19, 28-40: A entrada triunfal de Jesus é en­
cenada como um cortejo real Oo 1 2, 1 2- 1 9) . 
Ver comentário sobre Mt 21 , 1 - 1 1 . 
19, 29: "Betfagé ... Betânia'' - Duas al­
deias a dois quilômetros de Jerusalém Oo 1 1 , 
1 8) . Ver comentário sobre Me 1 1 , 1 . 
"Oliveiras": O Monte das Oliveiras está 
em frente à cidade a leste. É aqui que Jesus e 
os discípulos se alojaram durante as noites da 
Semana Santa (2 1 , 37) . 
lJJ 19, 30: "um jumentinho" - Mateus 
também menciona uma "jumenta" 
(Mt 2 1 , 7) . O animal estava apto ao uso sagra­
do, já que ninguém tinha montado sobreele 
(Nm 1 9, 2; l Sm 6, 7) . 
• A procissão de Jesus na cidade cumpre a 
profecia real de Zacarias 9, 9. O jumentinho 
simboliza que Jesus vem em paz; caso con­
trário, ele estaria montado em um cavalo de 
guerra (Zc 9, 1 0; CIC 559) . 
19, 38: "Bendito seja aquele que vem 
como Rei" - As multidões cantam o SI 1 1 8, 
26, em cumprimento das palavras de Jesus em 
13 , 35 . O Salmos de Aleluia ( 1 1 3- 1 1 8) eram 
regularmente cantado por peregrinos judeus 
aue viaiavam a Jerusalém oara as festas sae:ra-
Jesus chora por Jerusalém - 41Jesus se aproximou, e quando viu a cidade, começou a chorar. 42E. 
disse: "Se também você compreendesse hoje o caminho da paz! Agora, porém, isso está escondido aos 
seus olhos! 43Vão chegar dias em que os inimigos farão trincheiras contra você, a cercarão e apertarão 
de todos os lados. 44Eles esmagarão você e seus filhos, e não deixarão em você pedra sobre pedra. 
Porque você não reconheceu o tempo em que Deus veio para visitá-la'' . 
19, 41: Lc 13, 33-34. - 19, 43: Lc 2 1 . 2 1-24; 2 1 , 6; Is 29, 3; Jr 6, 6; & 4. 2. • 19, 44: l Pd 2, 12. 
1 0 6 
O evangelho de São Lucas 
Jesus chora por Jerusalém - 41Jesus se aproximou, e quando viu a cidade, começou a chorar. 42E 
disse: "Se também você compreendesse hoje o caminho da paz! Agora, porém, isso está escondido aos 
seus olhos! 43Vão chegar dias em que os inimigos farão trincheiras contra você, a cercarão e ·apertarão 
de todos os lados. 44Eles esmagarão você e seus filhos, e não deixarão em você pedra sobre pedra. 
Porque você não reconheceu o tempo em que Deus veio para visitá-la''. 
19, 41: Lc 13, 33-34. • 19, 43: Lc 21 , 2 1-24; 2 1 , 6; Is 29, 3; Jr 6, 6; Ez 4, 2. • 19, 44: I Pd 2, 12. 
das da Páscoa, das Semanas e das Tendas. Ver 
comentário sobre Me 1 1 , 8- 10 . 
"Paz . . . glória'': Ecoa o hino angelical de 
2, 14 . 
19, 42-44: Jesus prevê o que 
ocorreu no ano 70 d.C., 
quando o exército romano sitiou Jerusalém 
e a destruiu (2 1 , 20) . Sua conquista será um 
sinal de que Deus condena a cidade rebelde. 
• Jesus reveste suas palavras solenes com a lin­
guagem e as imagens da profecia do Antigo Tes­
tamento (Is 29, 1 -3; Jr 6, 6; Ez 4, 1 -3) . Como 
Jerusalém reincidiu na ofensa, irá novamente 
sofrer a devastação que se abateu sobre a cidade 
em 586 a.C. com as invasões babilônicas. 
• Misticamente,35 Cristo continua a chorar pe­
los pecadores que, como Jerusalém, correm 
atrás do mal e se recusam a fazer as pazes com 
Deus. Seus pecados escondem dos seus olhos 
o julgamento que está por vir, caso contrário, 
chorariam por si mesmos. Quando o julga­
mento chegar, os demônios vão cercar a alma e 
o Senhor vai afligi-la com o seu terrível castigo. 
19, 45-48: A dramática expulsão que Je­
sus faz aos comerciantes do Templo profetiza 
e representa a queda iminente do santuário 
(2 1 , 5-6) . Ele fica consternado pois a casa 
de oração de Deus (Is 56, 7) foi profanada 
como uma toca de ladrões (Jr 7, 1 1 ) . Ver co­
mentário sobre Mt 2 1 , 1 3 . 
Jesus purifica o templo - 45Jesus entrou no Templo, e começou a expulsar os que aí vendiam. 46E 
disse: "Está nas Escrituras: 'Minha casa será casa de oração'. No entanto, vocês fizeram dela uma toca 
de ladrões." 47Jesus ensinava todos os dias no Templo. Os chefes dos sacerdotes, os doutores da Lei e 
os notáveis do povo procuravam jeito de matá-lo. 48Mas não sabiam o que fazer, porque o povo todo 
ficava fascinado, quando ouvia Jesus falar. 
19, 45-46: Mt 2 1 , 1 2- 13; Me 1 1 , 1 5- 17; Jo 2, 1 3- 17. o 19, 47-48: Me l i , 1 8; Lc 21 , 37; 22, 53. 
35 São Gregório Magno, Hom in Evan. 39 . 
1 07 
Cadernos de estudo bíblico 
MAPA: A VIAGEM FINAL PARA JERUSALÉM 
. ' "' 
) 
• ·�, �pofis • 
· ·-
Mar 
Mediterrâneo 
\ 
\ ... \· l / · ·-... � ""' 
:·):·,.-" ··-- ·'""""" ? Localização certa 
e inquestionável 
\� 
\ 30 Km .. 
2 ºA autoridade de Jesus questionada - 1Num desses dias, Jesus estava no Templo, ensi­
nando o povo e anunciando a Boa Notícia. Então os chefes dos sacerdotes, os doutores da 
. Lei e os anciãos apareceram, 2e disseram: "Dize-nos com que autoridade fazes tais coisas. 
Quem
,
foi que te deu essa autoridade?" 3Jesus respondeu: "Eu também vou fazer uma pergunta para 
vocês. Digam: 4o batismo de João vinha do céu ou dos homens?" 5Mas eles comentaram entre si: "Se 
respondemos que vinha do céu, ele vai dizer: 'Por que vocês não acreditaram em João?" 6Se dizemos 
que vinha dos homens, todo o povo nos apedrejará, porque está convencido de que João era um pro­
feta." 7Então eles responderam que não sabiam de onde vinha. 8E Jesus disse: "Pois eu também não 
vou dizer a vocês com que autoridade faço essas coisas". 
20, l-8: Mt 21 , 2}-27; Me 1 1 , 27-33. • 20, 2: Jo 2, 1 8. • 20, 6: Mt 14, 5; Lc 7, 29. 
COMENTÁRIOS 
20, 8: "com que autoridade" - Jesus re­
verte o jogo dos seus interrogadores para silen­
ciá-los. Se os líderes de Jerusalém rejeitarem 
a autoridade celestial de João, eles inevitavel-
mente rejeitariam Jesus e sua missão divina (7, 
29-34) . 
llJ 20, 9-16: A parábola dos agricultores perversos. Jesus pictoricamente recon-
r o 8 
O evangelho de São Lucas 
A parábola dos agricultores perversos - 9Então Jesus começou a contar ao povo esta parábola: "Um 
homem plantou uma vinha, arrendou-a para alguns agricultores, e partiu para uma longa viagem ao 
estrangeiro. 'ºNa época da colheita, mandou um empregado aos agricultores, para que lhe dessem uma 
parte dos frutos da vinha. Mas os agricultores bateram nele, e o mandaram de volta sem nada. 1 10 dono 
mandou outro empregado. Os agricultores bateram nele também, o insultaram, e o mandaram de volta 
sem nada. 1 20 dono mandou ainda um terceiro empregado. Os agricultores também o feriram e o 
jogaram para fora. 13Entáo o dono da vinha disse: 'O que farei? Vou mandar o meu filho querido. Talvez 
eles o respeitem'. 14Mas, ao vê-lo, os agricultores comentaram entre si: 'Esse é o herdeiro. Vamos matá­
lo, para ficarmos com a herança'. '5Entáo eles jogaram o filho fora da vinha e o mataram. Pois bem: o 
que é que o dono da vinha fará com esses agricultores? 16Ele virá, destruirá esses agricultores, e entregará 
a vinha a outros." Ouvindo isso, eles disseram: "Que isso não aconteça!" 17Jesus olhou atentamente para 
eles, e disse: "Que significa então esta passagem das Escrituras: 'A pedra que os construtores deixaram de 
lado, tornou-se a pedra mais importante'? 18Todo homem que cair sobre essa pedra, ficará em pedaços, 
e aquele sobre quem ela cair, ficará esmagado". 
20, 9-19: M< 2 1 , 33-46; Me 12, 1 - 12. • 20, 9: Is 5, 1 -7; M< 25, 14. • 20, 16: A< 13, 46; 1 8, 6; 28, 28. 
20, 17: SI 1 1 8, 22-23; A< 4, 1 1 ; 1 Pd 2, 6-7. • 20, 18: Is 8, 14- 1 5. 
ta a história do Antigo Testamento que culmi­
na no Messias, o Filho querido de Deus (20, 
1 3) . A parábola desafia os líderes de Israel, os 
agricultores (20, 9) , e os adverte das conseqüên­
cias à rejeição de Jesus (20, 1 5- 1 6) . 
• Israel é frequentemente retratada como a 
vinha do Senhor no Antigo Testamento (SI 
80, 8; Is 5, 1 -7; Jr 2, 2 1 ; Os 1 0 , 1 ) . Ver co­
mentário sobre Me 1 2, 1 -9 . 
lIJ 20, 17-18: Jesus reúne três textos do 
Antigo Testamento que utilizam a 
imagem de uma pedra: Sl 1 1 8, 22, Is 8, 14- 1 5 , 
e Dn 2, 44-45. 
• O Salmo 1 1 8 descreve o Messias como uma 
pedra rejeitada pelos construtores de Israel , 
mas escolhido por Javé para ser a pedra fun­
damental de um novo templo. Isaías 8 des­
creve o Senhor como uma pedra de tropeço 
que vai confundir e destruir os pecadores de 
Israel, especialmente em Jerusalém. Daniel 
2 narra uma visão na qual Deus destrói os 
impérios da terra com uma pedra, substituin­
do-os pelo seu reino messiânico. Usos seme­
lhantes desses textos são encontrados em Rm 
9, 33 e I Pd 2, 6-8. 
Sobre os impostos - 19Então, nesse momento, os doutores da Lei e os chefes dos sacerdotes procu­
raram prender Jesus. Eles tinham entendido muito bem que Jesus havia contado essa parábola contra 
eles. Mas ficaram com medo da multidão. 200s doutoresda Lei e os chefes dos sacerdotes ficaram à 
espreita. Mandaram espiões, fingindo que eram justos, a fim de surpreender Jesus em alguma palavra. 
Desse modo eles poderiam entregá-lo ao poder e autoridade do governador. ' 2 10s espiões pergunta­
ram a Jesus: "Mestre, sabemos que falas e ensinas com retidão. Não levas em conta as aparências, mas 
ensinas de verdade o caminho de Deus. 22É lícito ou não é pagar o tributo a César?" 23Jesus, porém, 
percebeu a astúcia deles, e disse: 24"Mostrem-me a moeda. De quem é a figura e a inscrição que está 
nessa moeda?" Eles responderam: "De César." 25Então Jesus disse: "Pois dêem a César o que é de Cé­
sar, e a Deus o que é de Deus." 26E eles não puderam surpreender Jesus em nenhuma palavra diante 
do povo. Admirados com a resposta de Jesus, ficaram em silêncio. 
20, 19: Lc 1 9, 47. • 20, 20-26: Me 22, 1 5-22; Me 12, 1 3- 17. • 20, 21: Jo 3, 2. - 20, 25: Rm 13, 7; Lc 23, 2. 
1 09 
Cadernos de estudo bíblico 
Sobre a ressurrei?o do homem - 270s saduceus afumam que não existe ressurreição. Alguns deles se 
aproximaram de Jesus, e lhe propuseram este caso: 28"Mesue, Moisés escreveu para nós: 'Se alguém morrer, 
e deixar a esposa sem filhos, o irmão desse homem deve casar-se com a viúva, a fim de que possam ter 
filhos em nome do irmão que morreú. 290ra, havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu, sem ter filhos. 
3°Também o segundo 31e o terceiro casaram-se com a viúva. E assim os sete. Todos morreram sem 
deixar filhos. 32Por fim, morreu também a mulher. 
33E agora? Na ressurreição, de quem a mulher vai ser esposa? Todos os sete se casaram com ela!" 
34Jesus respondeu: "Nesta vida, os homens e as mulheres se casam, 35mas os que Deus julgar dignos da 
ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, não se casarão mais, 36porque não podem mais 
morrer, pois serão como os anjos. E serão filhos de Deus, porque ressuscitaram. 37E que os mortos 
ressuscitam, já Moisés indica na passagem da sarça, quando chama o Senhor de 'o Deus de Abraão, o 
Deus de Isaac e o Deus de Jacó'. 38Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, pois todos vivem para 
ele." 39 Alguns doutores da Lei disseram a Jesus: "Foi uma boa resposta, Mesue." 40E ninguém mais tinha 
coragem de perguntar coisa nenhuma a Jesus. 
20, 27-38: Mr 22, 23-33; Mr 1 2, 1 8-27. • 20, 27: Ar 4, 1 -2; 23, 6- 1 0. • 20, 28: Dr 25, 5 . 
20, 37: Ex 3, 6. • 20, 39: Me 1 2, 28. • 20, 40: Me 12, 34; Mr 22, 46. 
20, 20: "governador" - Pôncio Pilatos, 
o prefeito romano da Judéia. Ver comentário 
sobre Lc 23, l . 
20, 22: "É lícito • • • ?" - Uma pergunta cap­
ciosa. Se Jesus ratifica o imposto, vai provocar 
a ira dos judeus que aspiram a independência 
nacional de Roma. Se ele denuncia o imposto, 
será denunciado aos romanos sob a acusação 
de sedição. Ver comentário sobre Me 1 2, 1 3 . 
20, 24: "a moeda'' - Um "denário" que 
tem afigura (ou "imagem'') estampada do im­
perador romano, Tibério César (d.C. 14-37) . 
20, 25: "a César [ • • • ] a Deus" - Jesus esca­
pa da armadilha dos seus interrogadores, usan­
do o exemplo de tributação romana para ilus­
trar um direito mais elevado. Como a imagem 
de César pertence a ele, ele deve recebê-la de 
volta (Rm 1 3, 1 -7; l Pd 2, 1 3- 17) . No entanto, 
é mais importante dar-se a si mesmo, estampa­
do com a "imagem" de Deus, de volta a Deus 
(Gn 1 , 27) . Ver comentário sobre Me 1 2, 1 6. 
lJJ 20, 27-40: Os saduceus desafiam Jesus 
sobre o seu ensinamento a respeito da 
vida após a morte. Eles estão convencidos de 
que a Lei Mosaica não diz nada sobre uma fu­
tura ressurreição (20, 27) e assim apresenta-lhe 
um dilema: Se Moisés permite a uma mulher 
se casar de novo cada vez que o marido morre 
(Dt 25, 5), isso não traz confusão na próxima 
vida? Como ela vai determinar seu esposo le­
gítimo, se há todos eles? Jesus lida com seus 
opositores em seus próprios termos: primeiro, 
ao negar que o casamento existe na próxima 
vida e, então, ao citar deliberadamente a Lei de 
Moisés contra eles. 
• O episódio da sarça ardente mostra que o 
Senhor se identificou com os patriarcas mui­
to tempo depois da morte deles (Ex 3, 6) . Se 
Abraão, Isaac e Jacó ainda estão com Deus, 
então a vida deve durar além da morte e uma 
ressurreição futura está implícita no Penta­
teuco. Ver Ensaio sobre um Tópico : Quem 
são os saduceus? em Me 1 2 . 
20, 35: "vida futura'' - A instituição do 
casamento não existirá no céu. Ver comentário 
sobre Mt 22, 30. 
� 20, 36: "como os anjos - Como os 
... anjos, os santos serão vestido de glória 
I I O 
O evangelho de São Lucas 
Sobre o Messias - 4 1Então Jesus disse a eles: "Como podem dizer que o Messias é filho de Davi? 
42Pois o próprio Davi diz no livro dos Salmos: 'O Senhor disse ao meu Senhor: Sente-se à minha 
direita, 43até que eu ponha seus inimigos como lugar onde você apóia os pés'. 44Portanto, Davi o 
chamou de Senhor. Como pode, então, o Messias ser filho dele?". 
20, 41-44: Me 22, 41-45; Me 12, 35-37; SI 1 10; 1 . 
e imortalidade; mas, ao contrário dos anjos, 
acabarão por viver em corpos ressuscitados e 
não como espíritos sem corpos ( l Cor 1 5 , 35-
50) . Eles são, portanto, iguais em alguns aspec­
tos, mas não em todos. 
• A crença na ressurreição geral é central para 
a fé cristã. O Credo dos Apóstolos e o Credo 
Niceno-Constantinopolitano afirmam que 
nossos corpos físicos serão ressuscitados para 
a vida eterna. 
ITI 20, 41: "filho de Davi?" - A gran­
IJU deza de Davi era proverbial no Antigo 
Testamento. Ele era o rei ideal de Israel por 
quem todos os outros foram medidos. 
• Jesus usa o Antigo Testamento para desafiar 
a suposição equivocada de que até o Messias 
seria inferior a Davi. Pelo contrário, o pró­
prio Davi chama o Messias de seu "Senhor" 
em Salmos 1 1 0, 1 (20, 42; At 2, 34-36) . Ver 
comentário sobre Me 12 , 36. 
20, 47: "condenação mais severa" - Jul­
gamento severo aguarda os doutores da lei que 
abusam de sua autoridade para explorar os in­
defesos. As viúvas eram particularmente vul­
neráveis as suas táticas. Ver comentário sobre 
1 8, 3 . 
Jesus denuncia a hipocrisia dos escribas - 45Todos estavam escutando Jesus, e ele disse aos discípu­
los: 46"Tenham cuidado com os doutores da Lei. Eles fazem questão de andar com roupas compridas, 
e gostam de ser cumprimentados nas praças públicas. Gostam dos primeiros lugares nas sinagogas 
e dos postos de honra nos banquetes. 47No entanto, exploram as viúvas e roubam suas casas, e, para 
disfarçar, fazem longas orações. Por isso, eles vão receber condenação mais severá'. 
20, 45-47: Me 12, 38-40; Mt 23, 6-7; Lc l i , 43; 14, 7-1 1 . 
2 1 A 
oferta da viúva - 1Erguendo os oÍhos, Jesus viu pessoas ricas que depositavam ofertas 
no Tesouro do Templo. 2Viu também uma viúva pobre que depositou duas pequenas 
moedas. 3Então disse: "Eu garanto a vocês: essa viúva pobre depositou mais do que todos. 
4Pois todos os outros depositaram do que estava sobrando para eles. Mas a viúva, na sua pobreza, 
depositou tudo o que possuía para viver". 
21, 14 Me 12, 41-44. 
COMENTÁRIOS 
� 21, 2: "duas pequenas moedas" - Li­
.. teralmente, "duas leptas". Essas eram 
as moedas (dos judeus) menos valiosas em cir-
culação. Dentro do recinto do templo, havia 
mais de uma dúzia de recipientes para diferen­
tes tipos de doações (CIC 2544) . 
I I I 
Cadernos de estudo bíblico 
O aviso sobre a destruição do templo - 5 Algumas pessoas comentavam sobre o Templo, enfeitado 
com pedras bonitas e com coisas dadas em promessa. Então Jesus disse: 6"Vocês estão admirando 
essas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído." 7Eles perguntaram: 
"Mestre, quando vai acontecer isso? Qual será o sinal de que essas coisas estarão para acontecer?" 
ªJesus respondeu: "Cuidado para que vocês não sejam enganados, porque muitos virão em meu 
nome, dizendo: "sou eu" E ainda: 'O tempo já chegou'. Não sigam essa gente. 9Quando vocês 
ouvirem falar de guerras e revoluções, não fiquem apavorados. Primeiro essas coisas devem acontecer, 
masnão será logo o fim". 
21, 5-23: Mt 24, 1 - 19; Me 13 , 1 - 1 7. • 21, 6: Lc 19 , 43-44; Me 14, 58 ; 1 5, 29; Ar 6, 14. 
21, 7: Lc 1 7, 20; At 1 , 6. • 21, 8: Lc 1 7, 23; Me 13 ,2 1 ; 1 Jo 2, 1 8. 
• Alegoricamente,36 a oferta da viúva significa 
a pureza da Igreja em concraste com a infiel 
Jerusalém, que dá a Deus apenas o que lhe 
sobra. A Igreja é a viúva cujo marido, Cristo, 
morreu por ela. Ela vive na pobreza de espí­
rito e doa devotamence ao tesouro do Senhor 
as duas moedas da caridade - o amor a Deus 
e ao próximo. 
21, 5-36: O Sermão de Jesus no Monte das 
Oliveiras prediz a devastação de Jerusalém que 
está por vir, em urna linguagem que faz uso de 
diversas imagens e ternas do Antigo Testamen­
to (2 1 , 6, 24) . Suas palavras foram confirma­
das urna geração mais tarde, quando os roma­
nos destruíram a cidade e o Templo no ano 70 
d.C. A catástrofe foi urna prévia histórica do 
fim do mundo, ao mostrar corno o juíw de 
Deus sobre Israel no final da era da Antiga Ali-
ança prefigura o julgamento de todas as nações 
no final da Nova (CIC 585-86) . Ver Ensaio 
sobre um Tópico: Fim do Mundo? em Mt 24. 
21 , 5: "pedras bonitas" - Herodes, o 
Grande, começou a reformar e ampliar o Tem­
plo de Jerusalém em 1 9 a.C. A estrutura era 
imensa, muitas das suas pedras mediam cerca 
de 40 metros de comprimemo. De acordo 
com Jesus, a sua aparência indestrutível é ape­
nas urna ilusão (2 1 , 6) . Ver comentário sobre 
Me 13 , 1 . 
21, 8: "muitos virão" - A Palestina do 
primeiro século experimentou urna onda de 
fervor messiânico. Muitos alegaram ser um 
"Messias militar", que levaria Israel a derrotar 
os romanos (At 5, 33-39) . 
21, 12: "perseguidos" - Os discípulos de­
vem identificar-se com Jesus sem medo, ape-
Sinais e perseguições - 10E Jesus continuou: "Uma nação lutará contra outra, um reino contra outro 
reino. 1 1Haverá grandes terremotos, fome e pestes em vários lugares. Vão acontecer coisas pavorosas e 
grandes sinais vindos do céu. 12"Mas, antes que essas coisas aconteçam, vocês serão presos e perseguidos; 
entregarão vocês às sinagogas, e serão lançados na prisão; serão levados diante de reis e governadores, 
por causa do meu nome. 13lsso acontecerá para que vocês dêem testemunho. 14Portanto, tirem da cabeça 
a idéia de que vocês devem planejar com antecedência a própria defesa; 15porque eu lhes darei palavras 
de sabedoria, de tal modo que nenhum dos inimigos poderá resistir ou rebater vocês. 16E vocês serão 
entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de vocês. 
17Vocês serão odiados por todos, por causa do meu nome. 18Mas não perderão um só fio de cabelo. 19É 
permanecendo firmes que vocês irão ganhar a vida!". 
21, 10: 2 Cr 1 5, 6; Is 19 , 2. • 21, 12-17: Mt 1 0, 1 7-2 1 . • 21, 12: Ar 25, 24; Jo 1 6, 2. • 21, 13: FI 1, 1 2. • 21, 14-15: Lc 12, 1 1 - 12. 
21, 16: Lc 1 2, 52-53. • 21, 17: Mt 10, 22; Jo 1 5, 1 8-25. 21, 18: Lc 12, 7; Mt 10,30; At 27, 34; 1 Sm 14, 45. • 21, 19: Mt 10, 22; Ap 2,7. 
36 São Beda, ln Marcum. 
1 1 2 
O evangelho de São Lucas 
O aviso da destruição de Jerusalém - 20 "Quando vocês virem Jerusalém cercada de acampamentos, 
fiquem sabendo que a destruição dela está próxima. 2 1Entáo, os que estiverem na Judéia, devem fugir 
para as montanhas; os que estiverem no meio da cidade, devem afastar-se; os que estiverem no campo, 
não entrem na cidade. 22Pois esses dias são de vingança, para que se cumpra tudo o que dizem as Escri­
turas. 23Infelizes das mulheres grávidas e daquelas que estiverem amamentando nesses dias, pois haverá 
uma grande desgraça nessa terra e uma ira contra esse povo. 24Serão mortos pela espada e levados presos 
para todas as nações. Jerusalém será pisada pelos pagãos, até que o tempo dos pagãos se complete". 
21, 20-22: Lc 19, 41-44; 23, 28-3 1 ; 17, 3 1 . • 21, 23: Lc 23, 29. • 21, 24: Rm l l, 25; Is 63, 1 8; Dn 8, 13; Ap 1 1 , 2. 
sar da oposição (Me 8, 38; Jo 16, 2-4, 33) . A 
perseguição proporcionará oportunidades para 
proclamar o evangelho. Lucas narra vários des­
ses episódios em que os crentes são trancados 
em prisões (At 4, 3; 5, 1 8 ; 8, 3; 1 2, 4; 16, 23) 
e levados perante reis e governadores (At 25, 
23-26, 32) . 
21 , 15: "palavras de sabedoria" - Ao 
contrário dos oradores profissionais que en­
saiam seus discursos antes de proferi-los, os 
discípulos só devem se preparar para ser fiéis. 
Cristo lhes dará as palavras pelo Espírito Santo 
(Mt 1 0, 20; Me 13 , 1 1 ) . Estêvão foi um exem­
plo disso por seu poderoso testemunho em 
Jerusalém (At 6, 9- 1 0) , assim como os outros 
cristãos primitivos (Atos 4, 8- 14; 26, 24-32) . 
21, 16: "pais, irmãos, parentes" - Jesus 
exige fidelidade heróica que pode prejudicar o 
relacionamento entre os membros da família 
( 14, 26) . Se martirizados ou perseguidos, os 
fiéis vão "ganhar" suas vidas (2 1 , 1 9) ao entre­
gá-las por Cristo (9, 24) . 
21, 20: "Jerusalém cercada'' - Jesus an­
tevê o cerco e a destruição de Jerusalém que 
ocorreu no ano 70 d.C. Alguns estudiosos in­
ferem a partir desse versículo e de 1 9, 42-45 
que Lucas deve ter escrito seu Evangelho de­
pois da catástrofe de 70 d.C. A alegação é que 
o texto de Lucas nessas passagens refletem o 
conhecimento do evento como parte do passa­
do. Duas considerações lançam dúvidas sobre a 
validade dessa interpretação. (1) A linguagem 
do discurso de Jesus em Lucas inspira-se for­
temente no texto e nas imagens dos oráculos 
de julgamento destinadas a Jerusalém no An­
tigo Testamento. Jesus formulou suas próprias 
profecias dessa forma para alertar os fiéis que 
Jerusalém seria devastada por suas iniqüidades 
no primeiro século d.C., tal como tinha sido 
no século VI a.C. Qr 6, 6-8; 52, 4; Ez 4, 1 -3) . 
Dizer que Lucas seja dependente dos relatórios 
reais do evento é minimizar o caráter profético 
do discurso de Jesus e sua distinta plausibilida­
de bíblica. (2) Não há nada de especial sobre 
a descrição de Lucas indicando que ele tenha 
conhecido os detalhes da queda de Jerusalém. 
Embora as tropas romanas cercaram e destruí­
ram a capital, as operações militares descritas 
por Lucas eram comuns no mundo antigo 
para derrubar cidades muradas. Ver Introdu­
ção: Data e comentário sobre Mt 24, 1 5 . 
lJJ 21 , 22: "esses dias são de vingança" 
- Deus enviará maldições da aliança 
sobre Jerusalém por rejeitar seu Messias (Dn 
9, 25-27) . 
• Essa expressão é usada no Antigo Testa­
mento grego para um tempo de julgamento 
divino que cai sobre Israel ao abandonar o 
Senhor pela idolatria e iniquidade (Dt 32, 
35; Os 9 , 7) . 
l l 3 
Cadernos de estudo bíblico 
A vinda do Filho do Homem - 25Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. E na terra, as nações cairão 
no desespero, apavoradas com o barulho do mar e das ondas. 260s homens desmaiarão de medo e an­
siedade, pelo que vai acontecer ao universo, porque os poderes do espaço ficarão abalados. 27Entáo eles 
verão o Filho do Homem vindo sobre uma nuvem, com poder e grande glória. 28Quando essas coisas 
começarem a acontecer, levantem-se e ergam a cabeça, porque a libertação de vocês está próxima". 
21, 2S-27: Me 24, 29-30; Me 13, 24-26. • 21, 25: Ap 6, 12-13; Is 13, lO; JI 2, 10; So 1, 1 5 . • 21, 27: l..c 9, 27; Dn 7, 13- 14. • 21, 28: !..e 18, 7-8. 
ITI 21 , 24: Jesus descreve as atrocidades a 
� Jerusalém adiantadamente, indicando 
que as nações estrangeiras vão desempenhar 
um papel estratégico na administração da pu­
nição de Deus (Ap 1 1 , 2) . 
• Ele extrai várias passagens do Antigo Testa­
mento que descrevem a destruição de Jerusa­
lém no passado e as reaplica à sua devastação 
no futuro próximo (70 d.C.) . Vítimas mortas 
pela espada recordam Jr 2 1 , 7 e Ez 39, 23; a 
cidade pisada evoca Is 63, 1 8 , Dn 8 , 1 3 , e 1 
Me 3, 45 ; e os tempos dos pagãos se referem 
ao uso que Deus faz dos exércitos estrangei­
ros para castigar Israel, como em Dt 28 , 49 
e Zc 14 , 1 -2 . 
ITI 21 , 25: "sol... lua. .• estrelas" - Per­
� turbações celestiais figuram em muitasprofecias do Antigo Testamento que retratam 
a destruição dos reinos pagãos pelo Senhor (Is 
13 , 9- 1 0; Ez 32, 7; Jl 2, 1 0, 3 1 ) . Ver comentá­
rio sobre Me 1 3, 24-25 . 
"Barulho do mar": Uma imagem das 
nações estrangeiras enfurecidas e prontas 
para a batalha. 
• Isaías usa essas imagens para a nação que 
Deus suscita a fim de punir a rebelde Israel 
(Is 5, 30) . Também retrata a ira de Deus a 
devastar seus inimigos (Sb 5 ,22) . 
21 , 27: "Filho do Homem'' - Jesus vai 
punir Jerusalém com o julgamento divino, 
enquanto leva a "redenção" aos seus discípulos 
fiéis (2 1 , 28) . Ver Ensaio sobre um Tópico: je­
sus, o Filho do Homem, em Lc 17. 
21 , 29-31 : A curta parábola da figueira 
defende a oração constante e a prontidão ( 1 2, 
35-40; 22, 40, 46) . Os discípulos devem estar 
alerta em todos os momentos, para que não 
cessem sua busca da santidade (2 1 , 36) . As 
tribulações são inevitáveis antes do dramático 
início do julgamento divino e a vinda do seu 
reino (At 14, 22; CIC 261 2) . Ver comentário 
sobre Me 1 3, 35 . 
21 , 32: "esta geração" - Jesus insiste que 
o julgamento de Deus cairá sobre Jerusalém 
enquanto seus contemporâneos ainda vivem 
(70 d.C.) . 
ITI 21 , 33: "O céu e a terra'' - Nem mes­
� mo o universo estável vai durar mais 
que as palavras de Jesus. 
. A lição da figueira - 29E Jesus contou uma parábola: "Olhem a figueira e todas as árvores. 30Vendo 
que elas estão dando brotos, vocês logo sabem que o verão está perto. 31Vocês também, quando 
virem acontecer essas coisas, fiquem sabendo que o Reino de Deus está perto. 32Eu garanto a vocês: 
tudo isso vai acontecer, antes que passe esta geração. 330 céu e a terra desaparecerão, mas as minhas 
palavras não desaparecerão. 
1 1 4 
O evangelho de São Lucas 
Exortação à vigilância - 34Tomem cuidado para que os corações de vocês não fiquem insensíveis por 
causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vocês. 35Pois 
esse dia cairá, como armadilha, sobre todos aqueles que habitam a face de toda a terra. 36Fiquem atentos, 
e rezem todo o tempo, a fim de terem força para escapar de tudo o que deve acontecer, e para ficarem de 
pé diante do Filho do Homem." 37De dia, Jesus ensinava no Templo. Ao anoitecer, ele saía, e passava a 
noite no chamado monte das Oliveiras. 38De manhã cedo, todo o povo ia ao Templo para ouvi-lo 
21, 34: Lc 12. 45; Mc 4. 19; 1 Ts 5, 6-7. • 21, 36: Me 13, 33. · 21, 37: Lc 19, 47; Me 1 1 , 19. 
• O Antigo Testamento realça também a perma­
nência da Palavra de Deus, em contraste com a 
impermanência da criação (SI 1 02, 25-27; Is 40, 
8; 5 1 , 6) . Ver comentário sobre Me 24, 35 . 
21, 36: "ficarem de pé" - ou seja, resistir 
a tentação e apresentar-se ao Juiz divino com 
confiança (Ef 6, 13 ; lJo 2, 28) . 
2 2A conspiração para matar Jesus - 'Estava próxima a festa dos Ázimos, que se chamava 
Páscoa. 20s chefes dos sacerdotes e os doutores da Lei procuravam maneira de acabar com 
Jesus, pois tinham medo do povo. 3Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era 
um dos Doze. 4Então ele saiu, e foi tratar com os chefes dos sacerdotes e com os oficiais da guarda 
do Templo, sobre a maneira de entregar Jesus. 5Eles ficaram alegres, e combinaram dar-lhe dinheiro. 
6Judas concordou, e começou a procurar uma boa oportunidade para entregar Jesus, sem que o povo 
ficasse sabendo. 
22, 1-2: Mc 26, 2-5; Me 14. 1 -2; Jo 1 1 . 47-53. • 22, 3-6: Me 26, 14- 16; 14, I0-1 l ; Jo 13, 2. 
COMENTÁRIOS 
22, 1: "a festa" - A festa dos Pães Ázi­
mos e da Páscoa ocorriam em conjunto na 
primavera (Lv 23, 4-8; Ez 45 , 2 1 ) , quando 
milhares viajavam a Jerusalém para celebrar 
o festival como uma nação (Dt 1 6, 1 -8) . A 
Páscoa comemorava a libertação de Israel do 
Egito e prelibava uma redenção ainda maior 
no futuro (Ex 12) . A festa era celebrada com 
uma refeição sagrada de cordeiro, vinho, ervas 
e pão. A festa dos Ázimos, que começava no 
mesmo dia que a Páscoa prorrogada por mais 
seis dias, era um período em que nenhum fer­
mento (símbolo do pecado, 1 Cor 5, 8) podia 
ser consumido entre os israelitas. Ver Ensaio 
sobre um Tópico: Quando Jesus celebrou a Úl­
tima Ceia? em Jo 1 3 . 
22, 3: "Satanás entrou em Judas" - O 
próprio diabo orquestrou o plano contra Je­
sus (Jo 1 3 , 27) . Desde 4, 1 3 , ele aguardava 
A preparação da Páscoa - 7Chegou o dia dos Ázimos, em que se matavam os cordeiros para a Páscoa. 
8Jesus mandou Pedro e João, dizendo: "Vão, e preparem tudo para comermos a Páscoa." 9Eles per­
guntaram: "Onde queres que a preparemos?" 'ºJesus respondeu: "Quando vocês entrarem na cidade, 
um homem carregando um jarro de água virá ao encontro de vocês. Sigam a ele até a casa onde ele 
entrar, 1 1e digam ao dono da casa: "O Mestre manda dizer: 'Onde é a sala em que eu e os meus dis­
cípulos vamos comer a Páscoa?' 12Então ele mostrará para vocês, no andar de cima, uma sala grande, 
arrumada com almofadas. Preparem tudo aí." 1 30s discípulos foram, e encontraram tudo como Jesus 
havia dito. E prepararam a Páscoa. 
22, 7-13: Mc 26, 17- 19; Me 14, 12- 16. • 22, 7: F.x 1 2, 18-20; De 1 6, 5-8. - 22, 8: At 3, l; Lc 19, 29. 
1 1 5 
Cadernos de estudo bíblico 
Jesus institui a Eucaristia - 14Quando chegou a hora, Jesus se pôs à mesa com os apóstolos. 15E disse: 
"Desejei muito comer com vocês esta ceia pascal, antes de sofrer. 16Pois eu lhes digo: nunca mais a co­
merei, até que ela se realize no Reino de Deus." 17Então Jesus pegou o cálice, agradeceu a Deus, e disse: 
"Tomem isto, e repartam entre vocês; 18pois eu lhes digo que nunca mais beberei do fruto da videira, até 
que venha o Reino de Deus." 19A seguir, Jesus tomou um pão, agradeceu a Deus, o partiu e distribuiu 
a eles, dizendo: "Isto é o meu corpo, que é dado por vocês. Façam isto em memória de mim." 20Depois 
da ceia, Jesus fez o mesmo com o cálice, dizendo: "Este cálice é a nova aliança do meu sangue, que é 
derramado por vocês. 2 1Mas vejam: a mão do homem que me atraiçoa está se servindo comigo, nesta 
mesa. 22Sim, o Filho do Homem vai morrer, conforme Deus determinou, mas ai daquele homem que o 
está traindo!" 23Então os apóstolos começaram a perguntar uns aos outros qual deles iria fazer tal coisa. 
22, 14: Me 26, 20; Me 14, 17 ; Jo 13 , 1 7. · 22, 15: Lc 1 2, 49-50. · 22, 16: Lc 14, 1 5 . - 22, 17: Me 26, 27; 
Me 14 , 23; 1 Cor 1 0, 1 6. • 22, 18: Me 26, 29; Me 14, 25. · 22, 19: Me 26, 26; Me 14, 22; !Cor 1 0, 16; 1 1 , 23-26; 
Lc 9, 1 6. - 22, 21-23: Me 26, 2 1 -24; Me 14, 1 8-2 1 ; SI 4 1 , 9; Jo 13, 2 1 -30. 
uma "oportunidade" (22, 6) para atacar, e o 
momento chega quando o frágil compromis­
so de Judas com Jesus é finalmente rompido 
(22, 48) . 
22, 4: "oficiais da guarda'' - Levitas que 
serviam como polícia do Templo em Jerusalém 
(At 22, 52; 4, l ; 5, 24-26) . 
22, 10: "na cidade" - Jerusalém. 
"homem . . • jarro de água'': uma visão in­
comum. Tirar e transportar água era normal­
mente uma tarefa de mulher Oo 4, 7) . 
22, 14-23: A Última Ceia, quando Jesus se 
reuniu com os seus apóstolos para transformar 
a Páscoa da Antiga Aliança em banquete sacri­
fical da Nova Aliança. Como a Páscoa lembra 
a libertação de Israel do Egito, a Eucaristia co­
memora e realiza nossa libertação do cativeiro 
do pecado. Jesus reconfigura esta festa antiga, 
colocando-se no centro de seu significado: ele 
é o verdadeiro cordeiro oferecido pelo pecado 
e dado como alimento para a família de Deus 
Oo 1 :29; l Cor 5: 6-8; CIC 1 1 5 1 , 1 340) . 
22, 17: "pegou o cálice" - A refeição da 
Páscoa (Seder) era estruturada em torno de 
quatro cálices de vinho. Aqui Jesus toma o 
primeiro ou o segundo cálice; estava santifi­
cando a festa (cálice um) ou ele e os discípulos 
tinham acabado de cantar o Salmo 1 1 3- 1 14 
(cálice dois) . O cálice eucarístico que Jesus 
consagra em 22, 20 era provavelmente o cálice 
três, o "cálice da bênção'', bebido após a refei­
ção principal ( l Cor 1 0, 1 6) . 
� 22, 19: "agradeceu'' - A tradução do 
a. verbo gregoeucharisteo, da qual o sa­
cramento da Eucaristia toma o seu nome (CIC 
1 359- 1 360) . 
"o partiu": Os primeiros cristãos associa­
vam intimamente a Eucaristia com esse gesto, 
chamando-a de "partir do pão" (24, 35; At 2, 
42; 20, 7) . 
"Isto é o meu corpo": Uma vez que Jesus 
consagra o pão ázimo, ele não é mais um sím­
bolo da Páscoa da Antiga Aliança (Dt 16, 3), 
mas a essência da Páscoa da Nova Aliança: o 
próprio Cristo (CIC 1 365) . 
"Façam isto": Os apóstolos e seus sucesso­
res devem imitar as ações de Jesus. Nota-se que 
apenas "os Doze" estavam com ele na Última 
Ceia (Mt 26, 20; Me 14, 1 7) . De acordo com 
a tradição judaica, a festa era celebrada por fa­
mílias ou fraternidades de 1 O a 20 pessoas. 
• De acordo com o Concílio de Trento em 
I I 6 
O evangelho de São Lucas 
A disputa sobre a grandeza - 24Entre eles houve também uma discussão sobre qual deles deveria 
ser considerado o maior. 25Jesus, porém, disse: "Os reis das nações têm poder sobre elas, e os que 
sobre elas exercem autoridade, são chamados benfeitores. 26Mas entre vocês não deverá ser assim. 
Pelo contrário, o maior entre vocês seja como o mais novo; e quem governa, seja como aquele que 
serve. 27 Afinal, quem é o maior: aquele que está sentado à mesa, ou aquele que está servindo? Não é 
aquele que está sentado à mesa? Eu, porém, estou no meio de vocês como quem está servindo. 28Vocês 
ficaram comigo em minhas provações. 29Por isso, assim como o meu Pai confiou o Reino a mim, 
eu também confio o Reino a vocês. 30E vocês hão de comer e beber à minha mesa no meu Reino, e 
sentar-se em tronos para julgar as doze tribos de Israel". 
22, 24: Lc 9, 46; Me 14, 22; 1 Cor 10, 16; 1 1 , 23-26; Lc 9, 16. • 22, 25-27: Mt 20, 25-28; Me 10, 42-45; Jo 13, 3-16. • 22, 26: Lc 9, 48. 
22, 28-30: Mt 19, 28. • 22, 28: Lc 4, 13; Hb 2, 18; 4, 15. • 22, 29: Me 14, 24; Hb 9, 20. • 22, 30: Me I O, 37, Ap 3, 2 1 ; 20, 4. 
1 562,37 as palavras de Jesus "Façam isto em ' Os pastores do povo de Deus devem imitar a 
memória de mim" estão relacionadas com Cristo na sua humildade e preocupação abne­
a ordenação dos apóstolos ao sacerdócio da gada por aqueles sob seus cuidados (Jo 13 , 1 2-
Nova Aliança. Os sacerdotes perpetuam esse 1 5 ; CIC 894) . 
memorial através da celebração contínua da 
Eucaristia, onde o sacrifício de Cristo está 
definitivamente presente, mas oculto por 
trás dos sinais visíveis do pão e do vinho 
(CIC 6 1 1 , 1 337) . Ver Estudo da Palavra: 
Memória em Lc 22, 1 9 . 
ITI 22, 20: "é derramado" - É parte da 
IJU linguagem cultua! do Antigo Testa­
mento, em que o sangue dos sacrifícios de ani­
mais era derramado ao pé do altar para fazer 
expiação (Ex 29, 1 2; Lv 4, 7, 1 8) . É também 
ligada aos mártires, que derramaram o seu san­
gue perante Deus (Mt 23, 35; At 22, 20) . 
"nova aliança'': Uma expressão que, nos 
Evangelhos, é usada apenas durante a Última 
Ceia. As epístolas fazem uso com mais freqü­
ência (Rm 1 1 , 27; 2Cor 3, 6; Hb 8, 6) . 
22, 25: "benfeitores" - Um título de 
honra reivindicado por vários governantes 
do mundo helênico. 
22, 26: "aquele que serve" - Os discípu­
los não devem confundir a honra e o reconhe­
cimento mundano com a grandeza espiritual. 
37 Sess. 22, cap. 1 . 
ITI 22, 29: "o Reino" - Jesus confere au­
� toridade real aos apóstolos e lhes con­
fia a Igreja na terra ( 1 2, 32) . 
• Jesus alude à visão profética de Daniel 7, 
na qual Deus dá um reino mundial ao Filho 
do homem, que por sua vez o concede aos 
santos (Dn 7, 1 8 , 22, 27) . No contexto, esses 
eventos coincidem com a entronização celes­
te do Filho do Homem (Dn 7, 1 3- 1 4) . O 
desenvolvimento histórico dessa profecia co­
meça com a ascensão de Jesus e o nascimento 
da Igreja (Me 14 , 62; 1 6, 1 9 ; At 7, 56) . 
ITI 22, 30: "tronos" - Lugares de honra 
� real. Como o novo rei davídico, Jesus 
dá aos seus apóstolos uma participação no seu 
reino que lhes permita exercer a sua autoridade 
real sobre o povo de Deus ( 1 , 32-33; Mt 1 9, 
28) . Ver comentário em Mt 16, 1 9. 
• O papel dos apóstolos é descrito em termos 
que lembram como os oficiais do rei Davi go­
vernaram Israel dos tronos em Jerusalém (SI 
1 22, 3-5 ; Is 22, 20-23) . 
22, 31-32: Jesus apresenta um interesse es-
I I ? 
Cadernos de estudo bíblico 
O aviso da negação de Pedro - 3'"Simão, Simão! Olhe que Satanás pediu permissão para peneirar 
vocês como trigo. 32Eu, porém, rezei por você, para que a sua fé não desfaleça. E você, quando tiver 
voltado para mim, fortaleça os seus irmãos". 33Mas Simão falou: "Senhor, contigo estou pronto para ir 
até mesmo para a prisão e para a morte!" 34Jesus, porém, respondeu: "Pedro, eu lhe digo que hoje, antes 
que o galo cante, três vezes você negará que me conhece". 
22, 3l: Jo 1, 6-12. • 22, 32:Jo 17, 1 5; 2 1 , 1 5- 17. • 22, 33-34: Me 26, 33-35; Me 14, 29-3 l ; Jo 13, 37-38. 
pecial por Pedro, tanto aqui como em outros dro a recuperar o equilíbrio após seu tropeço, 
momentos. Pois, embora Satanás vá testar a fé fazendo dele uma fonte de estabilidade para os 
de todos os discípulos, Jesus reza por Simão outros (CIC 552, 64 1 ) . Ver comentário sobre 
em particular. Desta forma, Cristo ajuda Pe- Jo 2 1 , 1 5- 17. 
Bolsa, sacola e espada - 35Jesus perguntou aos apóstolos: "Quando eu enviei vocês sem bolsa, sem 
sacola, sem sandálias, faltou alguma coisa para vocês?" Eles responderam: "Nada." 36Jesus continuou: 
''Agora, porém, quem tiver bolsa, deve pegá-la, como também uma sacola; e quem não tiver espada, 
venda o manto para comprar uma. 37Porque eu lhes declaro: é preciso que se cumpra em mim a palavra 
da Escritura: 'Ele foi incluído entre os fora da lei". E o que foi dito a meu respeito, vai realizar-se." 38Eles 
disseram: "Senhor, aqui estão duas espadas." Jesus respondeu: "É o bastante!". 
22, 35: Lc 10, 4; Me 10, 9. • 22, 36: Lc 22, 49-50. • 22, 37: Is 53. 12. 
ITI 22, 37: "incluído entre os fora da 
� lei" - Jesus vê a sua Paixão pela lente 
da profecia do Antigo Testamento. 
• Em particular, ele extrai o trecho da visão de 
Isaías do Servo Sofredor (Is 53, 1 2) . A figura 
representa o Messias rejeitado, que é despreza­
do (53, 3), transpassado (53, 5) , e ferido de 
morte (53, 8) . Ele é até mesmo contado entre 
os pecadores, mas é inocente e se oferece como 
sacrifício pelos pecados dos outros (53, 1 0- 1 2) . 
O Novo Testamento muitas vezes retrata Jesus 
como esse Servo Sofredor (Mt 8, 1 7; At 8, 32-
35; 1 Pd 2, 24-25 ; CIC 60 1 , 7 1 3) . 
22, 38: "É o bastante!" - Uma expres­
são de frustração. Embora Jesus tenha falado 
de espadas metaforicamente em 22, 36 para 
alertar sobre a batalha espiritual que há de vir, 
alguns dos discípulos tomaram suas palavras li­
teralmente. Jesus vai esclarecer seu significado 
em um episódio posterior, quando repreende 
Pedro por defendê-lo violentamente com uma 
espada (22, 49-5 1 ) . 
22, 39: "como de costume" - Jesus regu­
larmente se hospedava fora de Jerusalém du­
rante a noite (2 1 , 37) . 
Jesus ora no Monte das Oliveiras - 39Jesus saiu e, como de costume, foi para o monte das Oliveiras. 
Os discípulos o acompanharam. 4ºChegando ao lugar, Jesus disse para eles: "Rezem para não caírem na 
tentação." 41Então, afastou-se uns trinta metros e, de joelhos, começou a rezar: 42"Pai, se queres, afasta 
de mim este cálice. Contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua!" 43 Apareceu-lhe um anjo do céu, 
que o confortava. 44Tomado de angústia, Jesus rezava com mais insistência. Seu suor se tornou como 
gotas de sangue, que caíam no chão. 45Levantando-se da oração, Jesus foi para junto dos discípulos, e 
os encontrou dormindo, vencidos pela tristeza. 46E perguntou-lhes: "Por que vocês estão dormindo? 
Levantem-se e rezem, para não caírem na tentação" . 
22, 39: Me 26, 30; Me 14, 26;Jo 18, 1. • 22, 40-46: Me 26, 36-46; Me 14, 32-42; Hb 5, 7-8. · 22, 40: Lc 1 1 , 4. • 22, 42: Me 10, 38; Jo 18, 1 1 ; 5, 30. 
r r 8 
O evangelho de São Lucas 
A traição e a prisão de Jesus - 47Enquanto Jesus ainda falava, chegou uma multidão.Na frente vinha o 
chamado Judas, um dos Doze. Ele se aproximou de Jesus, e o saudou com um beijo. 48Jesus disse: "Ju­
das, com um beijo você trai o Filho do Homem?" 49Vendo o que ia acontecer, os que estavam com Jesus 
disseram: "Senhor, vamos atacar com a espada?" soE um deles feriu o empregado do sumo sacerdote, 
cortando-lhe a orelha direita. si Mas Jesus ordenou: "Parem com isso!" E tocando a orelha do homem, o 
curou. s2Depois Jesus disse aos chefes dos sacerdotes, aos oficiais da guarda do Templo e aos anciãos, que 
tinham ido para prendê-lo: "Vocês saíram com espadas e paus, como se eu fosse um bandido? s3Todos 
os dias eu estava com vocês no Templo, e nunca puseram a mão em mim. Mas esta é a hora de vocês e 
do poder das trevas". 
22, 47-53: Me 26, 47-56; Me 14 , 43-49;Jo 18, 3-1 1 . • 22, 49: lc 22, 38 . • 22, 53: lc 19, 47. 
22, 40: "ao lugar" - O jardim do Gec­
sêmani, a leste de Jerusalém (Me 26, 36; Jo 
1 8 , 1 ) . 
22, 42: "este cálice" - Uma imagem 
do sofrimento amargo (Is 5 1 , 1 7; Ez 
23, 33) . Ver comentário em Me 20, 22. 
" � f: inh d " J -nao se aça a m a vonta e : esus nao 
oferece resistência a sua missão designada Qo 
4, 34; 6, 38) . O Pai responde a essa oração não 
removendo a paixão, mas fortalecendo o Filho 
para suportá-la (Hb 5, 7-9; CIC 2824, 2849) . 
• Como homem, Jesus recua diante da pers­
pectiva do sofrimento. Sua angústia é inten­
sificada pela sua clarividência, sabendo que 
ele vai sentir dor em seu corpo e suportar o 
peso terrível dos pecados do homem na cruz. 
Mesmo assim, Jesus é obediente até a morte 
(Fl 2, 8) . 
22, 43: "um anjo" - Um detalhe somente 
em Lucas. Anjos estavam igualmente presentes 
na tentação de Jesus no deserto (Me 4, 1 1 ; Me 
1 , 1 3) . Ver comentário sobre Lc 1 , 1 1 . 
&l.!1 22, 44: "gotas de sangue" - O so­
� fomento extremo da alma de Jesus se 
manifesta por meio do seu corpo. 
• Apesar de Cristo ser uma pessoa divina, a 
natureza humana que ele assumiu lhe dá toda 
a capacidade para sofrer e morrer como um 
homem (Hb 2, 1 4- 1 5) . 
22, 48: "com um beijo . . . ?" - Judas dis­
torce um símbolo de carinho para um de 
traição. Era parte da sua trama previamente 
combinada identificar Jesus para os soldados 
(Me 26, 48) . 
22, 50: "um deles" - Simão Pedro Qo 1 8, 
1 0) . Jesus tanto repreende como retifica seu 
Pedro nega Jesus - 54Eles prenderam e levaram Jesus, e o conduziram à casa do sumo sacerdote. Pedro 
seguia Jesus de longe. 55 Acenderam uma fogueira no meio do pátio, e sentaram-se ao redor. Pedro sen­
tou-se no meio deles. 560ra, uma criada viu Pedro sentado perto do fogo. Encarou-o bem, e disse: "Este 
aqui também estava com Jesus!" 57Mas Pedro negou: "Mulher, eu nem o conheço." 58Pouco depois, 
outro viu Pedro, e disse: "Você também é um deles." Mas Pedro respondeu: "Homem, não sou, não." 
59Passou mais ou menos uma hora, e outro insistia: "De fato este aqui também estava com Jesus, por­
que é galileu." 60Mas Pedro respondeu: "Homem, não sei do que você está falando!" Nesse momento, 
enquanto Pedro ainda falava, um galo cantou. 61Então o Senhor se voltou, e olhou para Pedro., E Pedro 
se lembrou de que o Senhor lhe havia dito: "Hoje, antes que o galo cante, você me negará três vezes." 
62Então Pedro saiu para fora, e chorou amargamente. 
22, 54-55: Me 26, 57-58; Me 14, 53-54; Jo 18, 12-16. • 22, 56-62: Me 26, 69-75; Me 14, 66-72;Jo 18, 16- 18, 25-27. • 22, 61: lc 7, 13; 22, 34. 
I I 9 
Cadernos de estudo bíblico 
O escárnio e o espancamento de Jesus - 630s guardas caçoavam de Jesus e o espancavam. 
64Cobriam-lhe o rosto, e diziam: "Faze uma profecia! Quem foi que te bateu?" 65E o insultavam de 
muitos outros modos. 
22, 63-65: Me 26, 67-68; Me 14, 65; Jo 18, 22-24. 
erro (Lc 22, 5 1 ) . 
22, 53: "poder das trevas" - O tempo 
determinado do ataque final de Satanás a Je­
sus (4, 1 3) . Paulo usa a mesma linguagem (em 
grego) para descrever o domínio do diabo em 
Cl 1 , 1 3 . Ver comentário sobre Lc 22, 3. 
22, 54: "casa do sumo sacerdote" - Sua 
residência oficial em Jerusalém Qo 1 8, 28) . 
Uma vez que a corte judaica normalmente se 
encontrava em um edifício perto do Templo, 
a reunião aqui é incomum e sugere que eles 
consideraram o caso da grande repercussão de 
Jesus uma situação de emergência. Mateus e 
Marcos retratam os interrogatórios noturnos 
de Jesus como um julgamento formal (Mt 26, 
57-68; Me 14, 53-65) . 
22, 61 : "olhou para Pedro" - O olhar de 
Jesus provoca vergonha em Pedro por sua co­
vardia. O choro amargo do apóstolo (22, 62) 
marca o início de sua restauração (22, 32; CIC 
1429) . Ver comentário em Mt 26, 74. 
22, 66: "em conselho" - O Sinédrio, que 
regia os assuntos internos do judaísmo. Era 
composto por autoridades religiosas de Je­
rusalém e dirigido pelo sumo sacerdote. Ver 
comentário sobre Me 14 , 55 . 
lIJ 22, 67: "Se eu disser" - Jesus detecta 
malícia em seus acusadores e respon­
de a eles parafraseando a resposta de Jeremias 
ao rei Sedecias Qr 38 , 1 5) . 
• Todo o contexto deste episódio do Antigo 
Testamento ocorre em paralelo com o julga­
mento de Jesus : Jeremias foi acusado como 
um falso profeta por anunciar o destino de 
Jerusalém, maltratado pelos altos funcioná­
rios que buscavam a sua morte, e julgado 
pelo governante da Judéia ar 38 : 2- 1 4) . 
22, 69: "de agora em diante" - Jesus an­
tevê o veredicto do Sinédrio sendo derruba­
do no tribunal de Deus. Ele usa SI 1 1 O, 1 
e Dn 7, 1 3 para prever sua entronização à 
direita do Pai e sua vindicação como o régio 
Filho do Homem. Ver comentário em Mt 
26, 64. 
22, 70: "Vocês estão dizendo que eu 
sou" - A ambiguidade da resposta de Jesus é 
mais aparente que real, já que Marcos deixa 
claro que Jesus aceitou o título de Messias 
e Filho de Deus (Me 14 , 62) . O Sinédrio 
ouviu isso claramente, e julgou que a sua 
resposta cruzava a linha de "blasfêmia" (Mt 
26, 65) . Já que apenas os romanos podiam 
Jesus perante o conselho - 66Ao amanhecer, os anciãos do povo, os chefes dos sacerdotes e os douto­
res da Lei se reuniram em conselho, e levaram Jesus para o Sinédrio. 67E começaram: "Se tu és o Mes­
sias, dize-nos!" Jesus respondeu: "Se eu disser, vocês não acreditarão, 68e, se eu lhes fizer perguntas, 
não me responderão. 69Mas de agora em diante, o Filho do Homem estará sentado à direita do Deus 
Todo-poderoso." 70Então todos perguntaram: "Tu és, portanto, o Filho de Deus?" Jesus respondeu: 
"Vocês estão dizendo que eu sou." 7 1Eles disseram: "Que necessidade temos ainda de testemunho? 
Nós mesmos ouvimos de sua própria boca!" . 
22,66: Mt 26, 57; Me 14 , 53; Lc 22, 54. · 22, 67-71: Me 26, 63-06; Me 14 , 6 1-64; Jo 18, 19-2 1 . • 22, 70: Lc 23, 3 ; Mt 27, 1 1 . 
1 20 
administrar a pena capital na Palestina do 
Novo Testamento (Jo 1 8 , 3 1 ) , as autoridades 
judaicas apresenta Jesus a eles como um "rei" 
e rival de César (23 , 2; CIC 596) . 
O evangelho de São Lucas 
ESTUDO DA PALAVRA: MEMÓRIA (LC 22, 1 9) 
Anamnesis (grego) : uma "lembrançà' ou "me­
morial". A palavra é usada quatro vezes no, Novo 
Testamento, três vezes em ligação com a Ultima 
Ceia. No Antigo Testamento grego, o termo é 
associado a memoriais litúrgicos. Em um dos 
casos, o incenso é colocado com o pão ofereci­
do a Deus no Templo como uma oferenda de 
memorial (Lv 24, 7) ; em outro, as trombetas 
são sopradas no momento do sacrifkio para re­
cordar Israel sobre o Senhor (Nm 10 , 10) . No 
Novo Testamento, o termo descreve como os 
sacrifícios de animais da Antiga Aliança apenas 
lembrava Israel dos seus pecados, !lias eram in­
capazes de apagá-los (Hb 10, 3). E só sacrifício 
de Cristo na Cruz que perdoa nossos pecados 
com eficácia. A sua oferta sacerdotal é então 
perpetuada ao longo da história, sendo trazida 
ao presente cada vez que a liturgia eucarística é 
celebrada. Ao contrário do Antigo Testamento, 
esse "memorial" litúrgico não só nos faz lembrar 
da morte redentora de Cristo, mas a reapresenta 
diante de nós de uma forma sacramental (Lc 22, 
1 9; 1 Cor 1 1 , 24-26;CIC 1 34 1 , 1 362) . 
2 3Jesus perante Pilatos - 'Em seguida, toda a assembléia se levantou, e levaram Jesus a Pi­
latos. 2Começaram a acusação, dizendo: ''Achamos este homem fazendo subversão entre o 
nosso povo, proibindo pagar tributo ao imperador, e afirmando ser ele mesmo o Messias, o 
Rei." 3Pilatos interrogou a Jesus: "Tu és o rei dos judeus?" Jesus respondeu, declarando: "É você quem 
está dizendo isso!" 4Então Pilatos disse aos chefes dos sacerdotes e à multidão: "Não encontro nesse 
homem nenhum motivo de condenação." 5Eles, porém, insistiam: "Ele está provocando revolta entre 
o povo, com seu ensinamento. Começou na Galiléia, passou por toda a Judéia, e agora chegou aqui". 
23, l: Me 27, 1 -2; Me 1 5. l ; Jo 18, 28. • 23, 2: Lc 20, 25. • 23, 3: Me 27. 1 1 - 1 2; Me 1 5 . 2-3; 
Jo 1 8, 29-38; Lc 22, 70. • 23, 4: Lc 23, 14; 22, 4 1 ; Me 27, 24; Jo 19, 4, 6; Ae 13, 28. 
COMENTÁRIOS 
23, 1: "Pilatos" - Pôncio Pilatos, o pre­
feito romano da Judeia entre 26 a 36 d.C. 
Embora insensível para com os judeus em 
geral, permanece convencido da inocência 
de Jesus durante todo o julgamento (Jo 18 , 
38 ; 1 9 , 4) . Somente ele tem autoridade para 
emitir e executar uma pena capital na Judéia 
(Jo 1 9 , 1 0; At 1 3 , 28) . 
23, 2: "subversão entre o nosso povo" -
As autoridades de Jerusalém retratam Jesus 
como uma ameaça à paz romana na Palesti-
na (23 , 5 ) . A acusação era de interesse óbvio 
para Pilatos . 
"proibindo ... tributo": Uma acusação 
falsa. Jesus permite a prática, mas salienta 
que os nossos deveres para com Deus são 
maiores (20, 1 9-26) . 
23, 3: "rei dos judeus?" - Jesus hesita 
em adotar o título porque Pilatos está pen­
sando em termos puramente políticos (Jo 6, 
1 5) . O reino de Jesus é celestial, não terreno, 
o que deixa Pilatos sem motivos legítimos 
1 2 1 
Cadernos de estudo bíblico 
Jesus perante Herodes - 6Quando ouviu isso, Pilatos perguntou se Jesus era galileu. 7 Ao saber que 
Jesus estava sob a jurisdição de Herodes, Pilatos o mandou a este, pois também Herodes estava em 
Jerusalém nesses dias. 8Herodes ficou muito contente ao ver Jesus, pois já ouvira falar a respeito dele, 
e há muito tempo desejava ve-lo. Esperava ver Jesus fazendo algum milagre. 9Herodes o interrogou 
com muitas perguntas. Jesus, porém, não respondeu nada. 10Entretanto, os chefes dos sacerdotes e os 
doutores da Lei estavam presentes, e faziam violentas acusações contra Jesus. " Herodes e seus solda­
dos trataram Jesus com desprezo, caçoaram dele, e o vestiram com uma roupa brilhante. E o man­
daram de volta a Pilatos. 12Nesse dia, Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois antes eram inimigos. 
23, 8: Lc 9, 9; Ae 4, 27-28. • 23, 9: Me 1 5. 5. • 23, li : Me 1 5, 17-19 ;Jo 19, 2-3. 
para acusá-lo de desafiar a autoridade roma­
na (Jo 1 8 , 36) . 
23, 4: "Não encontro • . . motivo de con­
denação." - A narrativa de Lucas enfatiza 
repetidamente a inocência de Jesus (23 , 1 5 , 
22, 4 1 , 47) . 
23, 7: "Herodes" - Herodes Antipas, go­
vernador da Galiléia de 4 ou 1 a.C. até 39 
A.D. Pilatos manda Jesus a Herodes por de­
ferência e algum desinteresse, uma vez que os 
julgamentos causavam comoção na Galiléia 
(23 , 5) . Só Lucas menciona o interrogatório 
de Jesus perante Herodes (23, 8- 1 2) . 
23, 1 1 : "roupa brilhante" - Herodes 
zomba das acusações de realeza (23 , 2) , sem 
saber da dignidade real de Jesus ( 1 , 32-33) . 
23, 12: "Herodes e Pilatos" - Uma ali­
ança maléfica (At 4, 25-28; 1 Cor 2, 8) . Ver 
comentário sobre Me 27, 1 . 
23, 23: "a gritaria deles aumentava'' - A 
multidão em Jerusalém coage Pilatos a exe­
cutar Jesus . Ao questionar a própria lealdade 
do governador a César, ameaçam denunciá­
lo ao imperador caso ele recusasse o seu pe­
dido insistente (Jo 1 9 , 1 2) . 
23, 26: "Simão, da cidade de Cirene" -
A lei romana concedia aos soldados na Pa­
lestina o direito de forçar os civis ao serviço 
temporário (Me 5, 4 1 ) . 
"carregar a cruz atrás de Jesus": Simbólo 
do discipulado fiel (Lc 9, 23; 14 , 27) . 
23, 26-31 : Jesus adverte as mulheres de 
Jesus condenado à morte - 13Então Pilatos convocou os chefes dos sacerdotes, os chefes e o povo, 
e lhes disse: 14"Vocês trouxeram este homem como se fosse um agitador do povo. Pois bem! Eu já o 
interroguei diante de vocês, e não encontrei nele nenhum dos crimes de que vocês o estão acusando. 
1 5Herodes também não encontrou, pois mandou Jesus de volta para nós. Como podem ver, ele não 
fez nada para merecer a morte. 16Portanto, vou castigá-lo, e depois o soltarei." 170ra, em cada festa 
de Páscoa, Pilatos devia soltar um prisioneiro para eles. 18Toda a multidão começou a gritar: "Mate 
esse homem! Solte-nos Barrabás!" 19Barrabás tinha sido preso por causa de uma revolta na cidade, 
e por homicídio. 20Pilatos queria libertar Jesus, e falou outra vez à multidão. 2 1Mas eles gritavam: 
"Crucifique! Crucifique!" 22E Pilatos falou pela terceira vez: "Mas que mal fez esse homem? Não 
encontrei nele nenhum crime que mereça a morte. Portanto, vou castigá-lo, e depois o soltarei." 
23Mas eles continuaram a gritar com toda a força, pedindo que Jesus fosse crucificado. E a gritaria 
deles aumentava cada vez mais. 24Então Pilatos pronunciou a sentença: que fosse feito o que eles 
pediam. 25Soltou o homem que eles queriam, aquele que tinha sido preso por revolta e homicídio, e 
entregou Jesus à vontade deles. 
· 
23, 14: Lc 23, 4; 22, 4 1 . • 23, 16: Lc 23, 22; Jo 1 9, 12-14. • 23, 18-23: Me 27, 20-23; Me 1 5, 1 1 -14; 
Ae 3, 1 3-14; Jo 18 , 38-40; 19 , 1 4- 1 5. • 23, 23-25: Me 27, 26; Me 1 5 , 1 5. 
1 22 
O evangelho de São Lucas 
A crucificação de Jesus - 26Enquanto levavam Jesus para ser crucificado, pegaram certo Simão, da 
cidade de Ciren:e, que voltava do campo, e o forçaram a carregar a cruz atrás de Jesus. 27Uma grande 
multidão do povo o seguia. E mulheres batiam no peito, e choravam por Jesus. 28Jesus, porém, 
voltou-se, e disse: "Mulheres de Jerusalém, não chorem por mim! Chorem por vocês mesmas e por 
seus filhos! 29Porque dias virão, em que se dirá: 'Felizes das mulheres que nunca tiveram filhos, dos 
ventres que nunca deram a luz e dos seios que nunca amamentaram.' 30Então começarão a pedir às 
montanhas: 'Caiam em cima de nós!' E às colinas: 'Escondam-nos!' 3 1Porque, se assim fazem com a 
árvore verde, o que não farão com a árvore seca?" 32Levavam também outros dois criminosos, junto 
com ele, para ·serem mortos. 33Quando chegaram ao chamado "lugar da Caveirà', aí crucificaram 
Jesus e os criminosos, um à sua direita e outro à sua esquerda. 34E Jesus dizia: "Pai, perdoa-lhes! Eles 
não sabem o que estão fazendo!" Depois repartiram a roupa de Jesus, fazendo sorteio. 350 povo 
permanecia aí, olhando. Os chefes, porém, wmbavam de Jesus, dizendo: "A outros ele salvou. que 
.salve a si mesmo, se é de fato o Messias de Deus, o Escolhido!" 360s soldados também caçoavam dele. 
Aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre, 37e diziam: "Se tu és o rei dos judeus, salva a ti mesmo!" 
38Acima dele havia um letreiro: "Este é o Rei dos j udeus." 39Um dos criminosos crucificados o 
instiltava, dizendo: "Não és tu o Messias? Salva a ti mesmo e a nós também!" 40Mas o outro o 
repreendeu, dizendo: "Nem você teme a Deus, sofrendo a mesma condenação? 41Para nós é justo, 
porque estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal." 42E acrescentou: "Jesus, 
lembra-te de mim, quando vieres em teu Reino." 43Jesus respondeu: "Eu lhe garanto: hoje mesmo 
você estará comigo no Paraíso". 
23, 26: Mt 27, 32; Me 1 5, 2 l ; Jo 19, 1 7. • 23, 28-31: Lc 2 1 , 23-24; 1 9, 4 1 -44. • 23, 33-39: Mt 27, 33-44; Me 1 5, 22-32; Jo 1 9, 1 7-24. 
23, 34: At 7, 60; Sl 22, 18 . • 23, 35: Lc 4, 23. • 23, 36: Me 1 5, 23; Sl 69,2 1 . • 23, 41: Lc 23, 4; 1 4, 22. • 23, 43: 2 Cor 12, 3; Ap 2, 7. 
Jerusalém que outra tragédia está indo para 
sua cidade. Ela logo seria destruída pelo cerco, 
guerra e incêndio em 70 d.C. Mesmo a es­
terilidade vai parecer uma bênção nestes dias 
terríveis. Ver comentário em Lc2 1 , 5-36. 
lII 23, 30: "Caiam em cima de nós! ... 
Escondam-nos!" - Expressões de 
agonia e desespero extraídas de Os 1 O, 8. 
• Em seu contexto original, Oséias procla­
mou a condenação no reino do norte de Is­
rael (Samaria) por abandonar o Senhor em 
favor dos ídolos. Já que os israelitas ignora­
ram os avisos do profeta, foram esmagados 
pelos assírios no século VIII a.C. . Jesus redi­
reciona esse oráculo de Samaria a Jerusalém, 
que também vai sentir o gosto amargo da 
guerra e da devastação por sua impenitência 
prolongada (Ap 6, 1 6) . 
como a árvore verde, úmida e imprópria para 
fazer fogueira, ainda há tempo de se arrepen­
der e acolher o Messias . A rebelião persisten­
te, porém, irá tornar Jerusalém seca e apta 
para ser queimada. 
• Jesus faz alusão a condenação de Ezequiel 
de Jerusalém, no século VI a.C. , expressando 
que, mais uma vez, a cidade rebelde vai se 
tornar lenha para as chamas do juízo divino 
(Ez 1 5 , 1 -8 ; 20, 47) . Ao dirigir isso às fiéis 
"filhas de Jerusalém" (Lc 23, 28) , pode ser 
que esteja identificando com as "filhas" justas 
da cidade que vai escapar da catástrofe pela 
misericórdia de Deus e tornar-se uma fonte 
de consolo para os outros (Ez 1 4, 22) . 
23, 33: "da Caveira" - Um tradução do 
aramaico "Gólgotà' (Me 1 5 , 22) . 
"crucificaram'': Os romanos reservavam 
lII 23, 31 : "a árvore" _ Um símbolo de a crucificação para insurrecionistas e outros 
al d d e criminosos desprezíveis. Pregadas às vigas de Jerus ém. Enquanto a ci a e ror 
1 2 3 
Cadernos de estudo bíblico 
A morte de Jesus - 44Já era mais ou menos meio-dia, e uma escuridão cobriu toda a região até às três 
horas da tarde, 45pois o sol parou de brilhar. A cortina do santuário rasgou-se pelo meio. 46Então Jesus 
deu um forte grito: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito." Dizendo isso, expirou. 470 oficial do 
exército viu o que tinha acontecido, e glorificou a Deus, dizendo: "De fato! Esse homem era justo!" 
48E todas as multidões que estavam aí, e que tinham vindo para assistir, viram o que havia acontecido, 
e voltaram para casa, batendo no peito. 49Todos os conhecidos de JesllS, assim como as mulheres que 
o acompanhavam desde a Galiléia, ficaram à d.istârtcia, olhándo essas coisas. 
23,44-49: Mr 27, 45-56; Me 1 5, 33-41 ; Jo 19, 25-30. • 23,45: Ex 26, 3 1 -35; Hb 9, 8; 10, 19. • 23, 46: 51 3 1 , 5. • 23, 49: Lc 8, 1-3; 23, 55-56; 24, 10. 
madeira, as vítimas sofriam mortes excru­
ciantes pela perda gradual de sangue e asfi­
xia. Ironicamente, o que parecia ser a derrota 
total de Jesus tornou-se o sinal de sua vitória 
e o instrumento de salvação para o mundo ( 1 
Cor 2 , 2 ; 1 P d 2 , 24) . 
ITI 23, 34: "Pai, perdoa-lhes!" - Jesus 
LJU mostra misericórdia para com seus 
algozes ( 1 Pd 2, 23) , ao constatar que estão 
pecando na ignorância (Atos 3, 1 7; l Cor 2, 
8) . Estêvão do mesmo modo orou por seus 
inimigos antes de morrer (At 7, 60; CIC 
597, 2635) . 
• "Repartiram a roupa'': Os algozes ha­
bitualmente despojava a vítima de quaisquer 
pertences restantes. 
• A Paixão de Jesus é semelhante ao mecanis­
mo de SI 22, que narra a rejeição e a vindica­
ção final do sofredor justo. A divisão do ves­
tuário ecoa o SI 22, 1 8 , a crucificação lembra 
o SI 22, 1 6, e o escárnio da multidão evoca o 
SI 22, 6-7. De acordo com Mt 27, 46 e Me 
1 5 , 34, Jesus recitou a primeira linha de SI 
22 na cruz. Ver comentário sobre Mt 27, 46. 
23, 38: "um letreiro" - De acordo com 
a prática romana, os criminosos exibiam um 
sinal inscrito com as acusações apresentadas 
contra eles. O letreiro de Jesus foi escrito em 
três línguas (Jo 1 9 , 20) . 
23, 42: "lembra-te de mim'' - O ladrão 
arrependido talvez tenha zombado de Jesus 
anteriormente (Me 1 5 , 32) . Sua conversão 
na hora final é manifesta por sua percepção: 
ele não vê a morte de Jesus como o seu de­
saparecimento, mas aguarda com expectativa 
a vinda do seu reino. A promessa do "Paraí­
so" (Lc 23, 43) é generosamente despropor­
cional ao simples pedido do homem (CIC 
1 02 1 ) . Ver o Estudo da Palavra: Paraíso em 
2Cor 1 2, 3. 
23, 44: "meio-dia. • . três horas da tarde" 
- Do meio-dia até as três da tarde, quando 
o horário mais luminoso do dia foi envolto 
pelo "poder das trevas" (22, 53) . Ver comen­
tário em Mt 27, 45 . 
23, 45: "cortina'' - Um dos dois véus que 
separavam a presença de Deus do seu povo 
no Templo de Jerusalém. Essa cortina ser 
rasgada no momento da crucificação indica 
que o sofrimento de Jesus é um ato sacrifi­
cal e sacerdotal que abre para nós um novo 
e vivo caminho para o santuário do céu (Hb 
1 0, 1 9-22) . Ver comentário sobre Me 1 5 , 38. 
ITI 23, 46: "Pai, em tuas mãos" - Je­
UU sus está em plena posse de si mesmo 
quando confia até a sua morte aos cuidados 
do Pai. Sua crucificação é, portanto, um sa­
crifício voluntário, não um trágico acidente 
fora do seu controle (Jo 1 0, 1 7- 1 8; Ef 5, 2) . 
• Jesus faz de SI 3 1 , 5 o seu próprio grito. O 
1 24 
O evangelho de São Lucas 
O sepultamento de Jesus - 50Havia um homem bom e justo, chamado José. Era membro do Con­
selho, 51 mas não tinha aprovado a decisão, nem a ação dos outros membros. Ele era de Arimatéia, 
cidade da Judéia, e esperava a vinda do reino de Deus. 52José foi a Pilatos, e pediu o corpo de Jesus. 
53Desceu o corpo da cruz, o enrolou num lençol, e o colocou num túmulo escavado na rocha, onde 
ninguém ainda tinha sido sepultado. 54Era o dia da preparação da Páscoa, e o sábado já estava come­
çando. 55 As mulheres, que tinham ido com Jesus desde a Galiléia, foram com José para ver o túmulo, 
e como o corpo de Jesus tinha sido colocado. 56Depois voltaram para casa, e prepararam perfumes e 
bálsamos. E no sábado elas descansaram, conforme ordenava a lei. 
23, 50-56: Mr 27, 57-61 ; Me 1 5, 42-47; Jo 19, 38-42; Ar 1 3, 29. • 23, 56: Me 1 6, l; Ex 12, 16; 20, 10. 
salmo todo se move da lamentação ao louvor, 
expressando tanto a agonia como a confian­
ça de um sofredor inocente. É porque o so­
fredor confia na bondade do Senhor que ele 
antecipa a sua libertação e vindicação final. 
23, 47: "oficial do exército" - Um co­
mandante de cem soldados romanos. 
"justo": Ou "inocente" . O centurião 
também professa que Jesus era o Filho de 
Deus (Mt 27, 54; Me 1 5 ,39) . 
23, 51 : "esperava a vinda do reino" 
- José de Arimatéia arriscou sua reputação 
de honra como membro da corte judaica, o 
Sinédrio. Abstendo-se do consentimento, ele 
se afastou do veredicto contra Jesus (22, 7 1 ) 
e agora prepara seu sepultamento. Ele é cha­
mado alhures de "discípulo" (Mt 27, 57; Jo 
1 9 , 38) . 
23, 53: "túmulo escavado na rocha'' -
Posse de José de Arimatéia (Mt 27, 60) . Esses 
túmulos lembravam pequenas cavernas, com 
prateleiras semelhantes a bancos nas paredes, 
e podiam ser usados para enterrar famílias 
inteiras . Uma grande pedra foi colocada na 
porta para selar a entrada. (Me 1 6, 4) . 
23, 54: "dia da preparação" - Sexta-fei­
ra. Como o descanso do sábado começava ao 
anoitecer, Jesus foi sepultado rapidamente 
em um túmulo perto da cidade Oo 1 9, 42) . 
23, 56: "perfumes e bálsamos" - O pou­
co tempo entre a morte de Jesus e o início 
do sábado permitiu alguma preparação do 
corpo, mas não os procedimentos habituais 
completos Oo 1 9, 39) . As mulheres retorna­
ram para terminar no domingo que não foi 
concluído na sexta-feira (Lc 24, 1 ) . 
1 2 5 
Cadernos de estudo bíblico 
2 4A Ressurreição de Jesus - 1No primeiro dia da semana, bem de madrugada, as mulheres 
foram ao túmulo de Jesus, levando os perfumes que haviam preparado. 2Encontraram a 
pedra do túmulo removida. 3Mas ao entrar, não encontraram o corpo do Senhor Jesus, 4e 
ficaram sem saber o que estava acontecendo. Nisso, dois homens, com roupas brilhantes, pararam 
perto delas. 5Cheias de medo, elas olhavam para o chão. No entanto, os dois homens disseram: "Por 
que vocês estão procurando entre os mortos aquele que está vivo? 6Ele não está aqui! Ressuscitou! 
Lembrem-se de como ele falou, quando ainda estava na Galiléia:7'0 Filho do Homem deve ser 
entregue nas mãos dos pecadores, ser crucificado, e ressuscitar no terceiro dia'." 8Entáo as mulheres 
se lembraram das palavras de Jesus. 9Voltaram do túmulo, e anunciaram tudo isso aos Onze, bem 
como a todos os outros. 10Eram Maria Madalena, Joana, e Maria; mãe de Tiago. Também as outras 
mulheres que estavam com elas contaram essas coisas aos apóstolos. 1 1Contudo, os apóstolos acharam 
que eram tolices o que as mulheres contavam e não acreditaram nelas. 12Pedro, porém, levantou-se e 
correu para o túmulo. Inclinou-se, e viu apenas os lençóis de linho. Então voltou para casa, admirado 
com o que havia acontecido. 
24, l-9: Mt 28, l; Mc 16, l-7; Jo 20, l; 1 1 - 1 3. • 24, 6: l.c 9, 22; 1 3, 32-33. • 24, 10: Me 16, l; l.c 8, l -3; Jo 20, 2. 
COMENTÁRIOS 
24, 1 -53: A ressurreição de Jesus coroa a 
história de todos os quatro Evangelhos (Mt 
28, 1 - 1 0; Me 1 6, 1 -8; Jo 20, 1 - 1 8) . Em Lu­
cas, o desaparecimento de Jesus do túmulo é 
apenas a evidência inicial da sua ressurreição. 
Ele logo aparece aos seus discípulos (24, 3 1 , 
36) , come na presença deles (24, 42) , e os 
convida a tocar em seu corpo ressuscitado (24, 
39) . Existem algumas das "muitas provas" que 
comprovam o milagre da Páscoa (At l , 3; CIC 
640-44) . 
24, 1 : "primeiro dia'' - Domingo. O dia 
de sábado (Sabbath) é o último dia da sema­
na judaica (Gn 2, 1 -3) . Os primeiros cristãos 
chamavam o domingo de "dia do Senhor", 
para comemorar a ressurreição de Cristo e 
celebrar a Eucaristia (ver At 20, 7; Ap l , 1 0; 
CIC 1 1 66, 2 1 74) . 
24, 4: "dois homens" - São anjos, de 
acordo com 24, 23 (Mt 28, 2; At l , 1 0) . 
24, 10: "Maria Madalena'' - A primeira 
pessoa conhecida a ver Jesus ressuscitado (Me 
1 6, 9; Jo 20, 1 1 - 1 8) . Ela havia sido discípula 
há tempos. (Lc 8, 2) . 
24, 12: "Pedro .. . levantou-se" - Simão 
corre para o túmulo vazio, acompanhado 
pelo apóstolo João Qo 20, 3-9) . Sua verifi­
cação confirma a notícia do desaparecimento 
de Jesus . 
24, 13: "Emaús" - Uma vila da Judéia de 
localização incerta ( 1 Me 9, 50) 
24, 18: "Cléofas" - Provavelmente o 
mesmo "Cléofas" de Jo 1 9 , 25 . A tradição 
cristã primitiva o identifica como o irmão 
de José, o pai adotivo de Jesus (3 , 23) , e o 
pai de Simão / Simeão, o segundo bispo de 
Jerusalém.38 
ITl 24, 19: "poderoso em ação e pala­
� vras" - Moisés é descrito nestes ter­
mos em At 7, 22. Isso expressa que Jesus é 
o profeta prometido semelhante a Moisés 
anunciado em Deuteronômio 1 8 , 1 5 (At 3, 
22-23; 7, 37) . Jesus foi muitas vezes consi­
derado um profeta por seus contemporâneos 
(Lc 7, 1 6; Mt 1 6, 1 4; 2 1 , 46; Jo 6, 1 4) . Ver 
comentário sobre Lc 9, 35 . 
3 8 Eusébio, História Eclesiástica 3, 1 1 e 4 , 22. 
1 26 
O evangelho de São Lucas 
O caminho de Emaús - 13Nesse mesmo dia, dois discípulos iam para um povoado, chamado Emaús, 
distante onze quilômetros de Jerusalém. 14Conversavam a respeito de tudo o que tinha acontecido. 
15Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou, e começou a caminhar com eles. 
160s discípulos, porém, estavam como que cegos, e não o reconheceram. 17Então Jesus perguntou: 
"O que é que vocês andam conversando pelo caminho?" Eles pararam, com o rosto triste. 1 8Um deles, 
chamado Cléofas, disse: "Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que aí aconteceu 
nesses últimos dias?" 19Jesus perguntou: "O que foi?" Os discípulos responderam: "O que aconteceu 
a Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em ação e palavras, diante de Deus e de todo 
o povo. 20Nossos chefes dos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte, 
e o crucificaram. 21Nós esperávamos que fosse ele o libertador de Israel, mas, apesar de tudo isso, 
já faz três dias que tudo isso aconteceu! 22É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos 
deram um susto. Elas foram de madrugada ao túmulo, 23e não encontraram o corpo de Jesus. Então 
voltaram, dizendo que tinham visto anjos, e estes afirmaram que Jesus está vivo. 24Alguns dos nossos 
foram ao túmulo, e encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas ninguém viu Jesus." 
25Então Jesus disse a eles: "Como vocês custam para entender, e como demoram para acreditar em 
tudo o que os profetas falaram! 26Será que o Messias não devia sofrer tudo isso, para entrar na sua 
glória?" 27Então, começando por Moisés e continuando por todos os Profetas, Jesus explicava para 
os discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele. 28Quando chegaram perto 
do povoado para onde iam, Jesus fez de conta que ia mais adiante. 29Eles, porém, insistiram com 
Jesus, dizendo: "Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando." Então Jesus entrou para ficar 
com eles. 30Sentou-se à mesa com os dois, tomou o pão e abençoou, depois o partiu e deu a eles. 
31Nisso os olhos dos discípulos se abriram, e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da 
frente deles. 32Então um disse ao outro: "Não estava o nosso coração ardendo quando ele nos falava 
pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?" 33Na mesma hora, eles se levantaram e voltaram para 
Jerusalém, onde encontraram os Onze, reunidos com os outros. 34E estes confirmaram: "Realmente, 
o Senhor ressuscitou, e apareceu a Simão!" 35Então os dois contaram o que tinha acontecido no 
caminho, e como tinham reconhecido Jesus quando ele partiu o pão. 
24, 16: Jo 20, 1 4; 2 1 . 4. • 24, 19: Mr 2 1 , l i ; L: 7, 16; 13 , 33; Ar 3, 22. • 24, 24:Jo 20, 3- 1 0. • 24, 27: Lc 24, 44-45; 
Ar 28, 23; 1 Pd I, 1 1 . • 24, 28: Me 6, 48 . • 24, 30: Lc 9, 1 6; 22, 19. • 24, 34: ! Cor 1 5 , 5. 
24, 21 : "libertador de Israel" - Os via- 8, 32-33) , e a ressurreição (Mt 1 2, 40 ; At 2, 
jantes desanimados esperavam que Jesus fos­
se reinar como rei em Jerusalém e salvar sua 
nação da opressão romana ( 1 9 , 1 1 ; Me 1 1 , 
1 O; At 1 , 6) . Suas expectativas não estão em 
sintonia com o plano de Deus para libertar 
Israel do pecado e da morte, e não da subju­
gação política (Mt 1 , 2 1 ; Jo l , 29; CIC 439) . 
Ver comentário sobre Lc 4, 1 8- 1 9 . 
24, 27: "todas as passagens da Escritu­
ri' - Jesus dá uma visão geral da história da 
salvação a partir do Antigo Testamento. Sua 
vida inteira foi predeterminada na Escritura, 
inclusive o seu nascimento (Mt 1 , 23; 2, 6) , 
o ministério (4, 1 8- 1 9) , a morte (20, 1 7; At 
24-28; CIC 60 1 , 652) . 
ri.li 24, 30: "tomou ... abençoou ... par­
� tiu ... deu" - A seqüência de ações 
que lembram o relato da Última Ceia (22, 
1 9 ; Mt 26, 26) . Aqui os discípulos encon­
tram com Cristo de uma forma espiritual, 
discernindo sua presença na refeição (24, 
35 ) . Ver comentário sobre Mt 14 , 1 3-2 1 . 
• A estrutura do episódio de Emaús reflete a 
estrutura da liturgia eucarística, em que Jesus 
se dá à Igreja na palavra e nos sacramentos, 
na proclamação da Escritura (24, 27) e no 
Pão da Vida eucarístico (24, 30, 35 ; CIC 
1 346- 1 347) . 
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Cadernos de estudo bíblico 
Jesus aparece aos seus discípulos - 3�Ainda estavam falando, quando Jesus apareceu no meio deles, 
e disse: "A paz esteja com vocês." 37Espantados e cheios de medo, pensavam estar vendo um espírito. 
38Então Jesus disse: '.'Por que vocês estão perturbados, e por que o coração de vocês está cheio de 
dúvidas? 39Vejam minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo. Toquem-me e vejam: um espírito não tem 
carne e ossos, como vocês podem ver que eu tenho." 40E dizendo isso, Jesus mostrou as mãos e os pés. 
4 1E como eles ainda não estivessem acreditando, por causa da alegria e porque estavam espantados, 
Jesus disse: "Vocês têm aqui alguma coisa para comer?" 42Eles okreceram a Jesus um pedaço de peixe 
grelhado. 43Jesus pegou o peixe, e o comeu diante deles. «Jesus disse: "São estas as palavras que eu lhes 
falei, quando ainda estava com vocês: é preciso que se cumpram tudo o que está escrito a meu respeito 
na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos." 45Entáo Jesus abriu a mente deles para entenderem as 
Escrituras. 46E continuou:''.Assim está escrito: 'O Messias sofrerá e ressuscitará dos mortos no terceiro 
dia, 47e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando 
por Jerusalém'. 48E vocês são testemunhas disso: 49Agora eu lhes enviarei aquele que meu Pai prometeu. 
Por isso, fiquem esperando na cidade, até que vocês sejam revestidos da força do alto". 
24, 36-43: Jo 20, 1 9-20, 27; Jo 2 1 , 5; 9- 13 ; 1 Cor 1 5, 5; At 10, 40-4 1 . • 24, 39: lJo l, 1 . • 24, 44: L: 24, 26-27; At 28, 23. 
24, 46: Os 6, 2; 1 Cor 1 5, 3-4. • 24, 47: At !, 4-8; Mt 28, 1 9. • 24, 49: At 2, 14; Jo 14, 26 20, 2 1 -23. 
24, 35: "partiu o pão" - Entre os judeus 
era um gesto cerimonial que iniciava a ce­
lebração de uma refeição comum. Entre os 
cristãos era usado como uma descrição da 
liturgia eucarística (At 2, 42; 20, 7; CCC 
1 329) . 
24, 39: "minhas mãos e meus 
pés" - As marcas dos pregos 
demonstram que o corpo ressuscitado de Jesus 
é o mesmo corpo que foi crucificado apenas 
alguns dias antes (CIC 645) . A evidência da 
sua ressurreição se torna incontestável a partir 
do seu desaparecimento (túmulo vazio) , das 
suas várias aparições (24, 34; 1 Cor 1 5 , 4-8) , e 
agora de um exame direto das suas feridas Qo 
20, 27) . 
• Analogamente,39 o corpo ressuscitado de Je­
sus prefigura os corpos ressuscitados dos san­
tos. Ao nos convencer da sua própria ressur­
reição, também nos assegura a natureza física 
da nossa própria ressurreição no último dia. 
• O corpo ressuscitado de Jesus é verdadeira­
mente físico, mas não mais terreno, já que a 
39 Santo Ambrósio, ln Lucam. 
sua humanidade é agora incorruptível e do­
tada de condições espirituais . Ele reina para 
sempre em um corpo humano que pode pas­
sar por portas trancadas Oo 20: 1 9) , desapa­
recer à vontade (Lc 24, 3 1 ) , e não está mais 
sujeito às limitações de tempo, espaço, e leis 
da natureza (CIC 646, 659) . Ver comentário 
sobre 1 Cor 1 5 , 42-44 . 
24, 44: "Moisés . . . Profetas . . . Salmos" -
Reflete uma divisão clássica do Antigo Testa­
mento em três partes . A terceira divisão é por 
vezes chamada de "escritos" , ou os "outros 
livros" , como no prólogo do livro do Ecle­
siástico. 
24, 46: "'O Messias sofrerá'' 
- Um mistério predito no An­
tigo Testamento (At 3 , 1 8 ; 1 7, 3) . 
• A zombaria e rejeição a Jesus recordam os SI 
3 1 , 69, 1 1 8 , e Is 50, 6. Sua agonia e crucifica­
ção são retratadas no Salmo 22 e 53 . 
"no terceiro dia'': Uma ênfase nas pre­
dições do próprio Jesus (9, 22; 1 8 , 33; 24, 
6-7) . 
• Os acontecimentos do Antigo Testamento 
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O evangelho de São Lucas 
A ascensão de Jesus - 50Entáo Jesus levou os discípulos para fora da cidade, até Betânia. Aí, ergueu 
as mãos e os abençoou. 5 1Enquanto os abençoava, afastou-se deles, e foi levado para o céu. 52Eles o 
adoraram, e depois voltaram para Jerusalém, com grande alegria. 53E estavam sempre no Templo, 
bendizendo a Deus. 
24, Sl: Ar l , 9-1 1 . • 24, 52-53:At I, 12- 14. 
são muito variados . (1) Isaac ficou por crês 
dias sob uma sentença de morte, até que 
Deus interveio para dar-lhe de volca vivo a 
Abraão no terceiro dia (Gn 22, 4, 1 3) . Essa 
foi uma prévia histórica da ressurreição de 
Jesus para uma nova vida depois de obede­
cer seu Pai até a morte (Hb 1 1 , 1 7- 1 9) . (2) 
A experiência de Jonas ao sair da baleia de­
pois de crês dias em seu estômago prefigura 
a saída de Cristo do cúmulo depois de crês 
dias na cerra On 1 , 1 7; Me 1 2 ,40) . (3) Oséias 
retrata a restauração de Israel do exílio como 
uma ressurreição no terceiro dia (Os 6, 2) . 
Já que o Messias representa Israel no sentido 
mais amplo, englobando canto a sua vocação 
como seu destino, a própria ressurreição de 
Cristo inicia a ressurreição de Israel do esta­
do de morte espiritual (Rm 1 1 , 1 5 , 25-27) . 
(4) De maneira mais geral, o cerna dos "crês 
dias" está ligado a um prelúdio da libertação 
divina (Ex 1 0, 2 1 -23) e um período de pre­
paração antes de encontrar o Senhor (Ex 1 9 , 
1 0- 1 1 ; CIC 702, 1 094) . 
• Alegoricamente40, Cristo ficou duas noites 
no cúmulo para resgatar o homem da dupla 
morte do pecado; porquanto as almas mor­
rem espiritualmente por causa do pecado, 
e os corpos morrem fisicamente como uma 
punição ao pecado. Vitorioso no terceiro dia, 
40 São Beda, Homilias 2, 1 0 . 
Cristo agora ressuscita as nossas almas para a 
vida nova na graça e, posteriormente, ressus­
citará os nossos corpos na glória. 
24, 47: "perdão" - A Igreja distribui as 
bênçãos da Nova Aliança por meio da prega­
ção do evangelho e da administração dos sa­
cramentos (Mt 28, 1 9-20; Jo 20, 23; At 2,38) . 
A salvação agora se estende além de Israel para 
abranger todas as nações (At 1 , 8; CIC 98 1 , 
1 1 22) . 
24, 49: "prometeu'' - isto é, o Espírito 
Santo (Gl 3 , 14; Ef 1 , 1 3) . O derramamento 
do Espírito de Deus foi prometido no Antigo 
Testamento (Is 44, 3; Ez 36, 26; Joel 2, 28-29) . 
24, 50: "Betânia'' - Uma vila a duas mi­
lhas a leste de Jerusalém (Jo 1 1 , 1 8) . 
24, 51 : "levado para o céu'' - A Ascensão 
de Jesus é o único episódio que também é ci­
tado no segundo livro de Lucas, os Atos dos 
Apóstolos. Aqui nenhuma menção é feita 
dos "40 dias" entre o Domingo de Páscoa e o 
dia da ascensão (At 1 , 3, 9) . O acontecimen­
to culmina com a entronização real de Jesus 
à direita do Pai (Me 1 6: 1 9; Atos 2: 32-35 ; 
CIC 659-64) . 
24, 53: Lucas começa e encerra seu evan­
gelho no templo de Jerusalém ( 1 , 9) . 
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QUESTÕES PARA ESTUDO 
CAPÍTULO I 
Para compreender 
1 . (cf. l , 1 5) No Antigo Testamento, qual é o significado da profecia de Gabriel 
de que João Batista "não beberá vinho, nem bebida fermentadà' ? Que outras 
personagens tinham o mesmo compromisso de João? 
2 . (cf. 1 , 28) Que reflexões nos ajudam a entender o significado do título "cheia 
de graçà' que Gabriel dá a Maria? Por que o grego é mais revelador que a in­
terpretação tradicional dada por São Jerônimo? Por que a tradução "agraciada" 
seria inadequada? 
3 . (cf. 1 , 35) Por que a expressão "cobrirá com sua sombrà' usada pelo anjo é 
significativa? Qual passagem do Antigo Testamento usa essa expressão? Nessa 
passagem, o que foi coberto com a sombra? 
4. (cf. Ensaio sobre um TOpico: Maria, Arca da Aliança) Como Lucas recorre às 
tradições de II Samuel e aos livros das Crônicas para retratar Maria como a 
Arca da Aliança? 
Para meditar 
1 . (cf. l , 4) Em que medida você está informado sobre sua fé católica? O que você 
tem feito atualmente para aprendê-la de forma mais plena? 
2 . (cf. l , 1 8 , 34) Compare essas duas passagens. São diferentes de que maneira? 
Como a formulação das perguntas revela que Zacarias hesita e Maria acredita? Se 
Gabriel tivesse aparecido a você, como você teria feito a pergunta? 
3 . (cf. 1 , 25 ) De que modo a expectativa de uma mulher judia sobre a vinda do 
Messias poderia influenciar o seu desejo de ter filhos? Como a atitude de Isabel 
em relação a sua esterilidade é também uma característica da psicologia femi­
nina? Como o cristão deve considerar a gravidez? 
4. (cf. Ensaio sobre um TOpico: Maria, Arca da Aliança) Em que aspectos é apro­
priado comparar Maria à Arca da Aliança? Você conhece quaisquer outras 
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O evangelho de São Lucas 
passagens do Novo Testamento em que ela seja comparada com a Arca? Por que 
essa comparação é importante aos cristãos atuais? 
CAPÍTULO 2 
Para compreender 
1 . (cf. Ensaio sobre um Tópico: O Censo de Quirino) Como um olhar mais atento 
à narrativa da infância no evangelho de Lucas apoiam a competência de Lucas 
como historiador e da Igreja primitiva como um canal de tradições históricas? 
2 . (cf. 2, 7 ) Qual era o significado legal do termo "primogênito" na sociedade 
antiga? O que o Catecismo da Igreja Católica (ver 499-507) diz sobre Jesus ter 
nascido da Virgem Maria? 
3. (cf. 2, 1 4) Qual é o significado da palavra "paz" no hino dos anjos? 
4. (cf. 2, 29-32) Como o Nunc Dimittis de Simeão evoca

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