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1 RESUMO Elaborado por Rodrigo Cunha Ribas DIREITO CONSTITUCIONAL III Este singelo resumo foi elaborado pelo acadêmico de Direito Rodrigo Cunha Ribas, sendo fruto das anotações em sala de aula feitas pelo mesmo. Assim, a leitura deste trabalho não é garantia de bom resultado na prova, tendo o intuito de apenas indicar ao aluno o conteúdo ministrado pelo Prof. Luís Gustavo de Andrade durante o 1º bimestre de 2013. CURITIBA 2013 2 ÍNDICE DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS 4. ESTADO DE DEFESA (art. 136 da CF) 5. ESTADO DE SÍTIO (art. 137 da CF) 7. COMPOSIÇÃO DOS CONSELHOS 8. FORÇAS ARMADAS (arts. 142 e 143 da CF) 8. SEGURANÇA PÚBLICA (art. 144) ORDEM FINANCEIRA 9. FINANÇAS PÚBLICAS 10. RECEITA PÚBLICA 11. DESPESAS PÚBLICAS 12. LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL - LRF (LC 101/2000) 14. FASES DE REALIZAÇÃO DA DESPESA 15. PAGAMENTO DAS CONDENAÇÕES JUDICIAIS – PRECATÓRIOS 15. COMO FUNCIONA? 20. LEIS ORÇAMENTÁRIAS (art. 165 da CF) 21. PROCESSO LEGISLATIVO ORÇAMENTÁRIO ORDEM ECONÔMICA 26. PRINCÍPIOS DA ORDEM ECONÔMICA (art. 170 da CF) 29. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE ORDEM SOCIAL 33. SEGURIDADE SOCIAL (SEGURO SOCIAL) 34. PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL (art. 194 da CF) 35. CUSTEIO DA SEGURIDADE SOCIAL (art. 195 da CF) 3 DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS Sabe-se que no Estado Absolutista todo o poder se concentrava nas mãos do Rei, o qual não tinha que prestar contas a ninguém. Porém, com a Revolução Francesa (1789), esse cenário mudou. Nesse evento historio os burgueses tomaram o poder e criaram a concepção de Estado de Direito. Este modelo adotou a teoria da tripartição de poderes (Montesquieu), com o célebre “freios e contrapesos”. Surge então uma premissa básica, onde o particular pode fazer tudo o que a Lei não lhe proíba, enquanto que o público só pode fazer o que a Lei expressamente lhe autorize. Essa concepção de Estado de Direito mostrou-se insuficiente após os absurdos causados pela Segunda Guerra Mundial, visto que Hitler cometeu todos os seus atos bárbaros dentro dos limites do Direito. O Führer desrespeitou todos os direitos fundamentais, sob a justificativa de que havia ameaças estrangeiras e que com isso, alguns direitos fundamentais teriam que ser suprimidos em favor do bem comum. Dessa forma, surge o Estado Democrático de Direito, onde além de o Estado ter o seu poder limitado pela Lei, deveria também garantir os direitos sociais. É neste contexto que as constituições começam a adotar o livro “Defesa de Estado”, no qual há a previsão de medidas extraordinárias a serem outorgadas ao Chefe de Estado nos momentos de crise institucional ou guerra. Para que tais medidas sejam usadas, devem estar presentes dois requisitos: 1) necessidade; a crise tem que ser de tamanha gravidade, a ponto de justificar essa exceção; 2) temporariedade: a restrição tem que ocorrer por um curto espaço de tempo. Restabelecida a ordem, volta-se à normalidade. Frise-se que, no ordenamento jurídico brasileiro, a Constituição não pode ser emendada na vigência de Estado de Defesa ou Estado de Sítio. 4 ESTADO DE DEFESA (art. 136 da CF) Trata-se de uma forma mais branda de Estado de Exceção, onde há um número menor de restrições a direitos fundamentais. Para que seja decretado Estado de Defesa, alguns requisitos devem se fazer presentes: 1) a paz pública ou a ordem social devem estar ameaçadas por calamidade decorrente de fenômeno natural; nunca foi decretado no Brasil, por essa razão a doutrina trabalha apenas com casos hipotéticos, como o que o ocorreu no estado americano de New Orleans, após os estragos causados pelo Furacão Katrina, em 2005; 2) ausência de autoridade constituída, ou seja, as próprias autoridades não dão conta de resolver os problemas decorrentes da crise. Em Santa Catarina (2008), por exemplo, não se decretou Estado de Defesa, pois o Poder Público local estava conseguindo resolver os problemas causados por aquela tragédia. 1. CARACTERÍSTICAS É decretado unicamente pelo Presidente. Todavia, antes de tal declaração, o Chefe do Executivo precisa ouvir os Conselhos da República e da Defesa Nacional, apesar de a opinião desses órgãos não ser vinculante. Posteriormente à declaração, o Presidente deve, dentro de 24 horas, submeter o ato à aprovação do Congresso Nacional, por maioria absoluta (primeiro número inteiro depois da metade de membros do parlamento). Caso este não aprove a declaração, cessa imediatamente o Estado de Defesa. O Congresso fiscaliza concomitantemente as atividades do Presidente no decorrer do Estado de Defesa, por meio de uma comissão formada por cinco membros. Ao final deste, o Chefe do Executivo tem que justificar suas ações naquele período, por meio de um relatório. No caso de abuso, o Presidente responderá a um processo de Impeachment. Frise-se que o Estado de Defesa se aplica a uma determinada localidade, ou seja, é local. 5 O Estado de Defesa pode ser decretado por 30 dias, sendo prorrogável uma vez por mais 30 dias. Todavia, pode ser revogado antes de completarem os 30 dias, caso a ordem já tenha sido restabelecida. Caso os 60 dias não sejam suficientes, poderá ser convertido em Estado de Sítio. Ressalte-se que a decretação pode ser questionada apenas em seus aspectos formais, como se o Estado de Exceção foi decretado pelo Chefe do Executivo, porém, não se pode questionar o mérito da declaração. 2. RESTRIÇÕES No Estado de Defesa o Presidente da República pode decretar a prisão de qualquer cidadão que tenha cometido algum crime contra o Estado, mesmo sem mandado judicial ou flagrante. Observe-se que no “estado normal” essas são as duas únicas hipóteses em que se pode prender um cidadão, logo, o Chefe do Executivo normalmente não prende ninguém. Assim, no Estado de Defesa o Presidente exerce uma função atípica do Poder Executivo. Desta forma, são restritos os direitos previstos no art. 5º, XLI da CF. Restringe-se também o direito à vida privada, honra e imagem (art. 5º, X da CF); à inviolabilidade do domicílio (art. 5º, XI da CF); ao sigilo de correspondência e das comunicações telegráficas e telefônicas (art. 5º, XII da CF); e à reunião (art. 5º, XVI da CF). ESTADO DE SÍTIO (art. 137 da CF) Aplica-se quando (i) o Estado de Defesa for ineficaz, (ii) nos casos de comoção grave ou de repercussão nacional (guerra civil , por exemplo), (iii) ou em casos de guerra e/ou ameaça estrangeira armada. As duas primeiras hipóteses se referem ao disposto no inciso I do art. 137 da CF, enquanto que a terceira hipótese se refere ao inciso II do mesmo artigo. Neste Estado, outorgam-se mais poderes extraordinários ao Chefe do Executivo. Frise-se que há certas diferenças entre o Estado de Sítio previsto no inciso I do art. 137 da CF e aquele disposto no inciso II do referido artigo. 6 1. CARACTERÍSTICAS Também é decretado pelo Presidente – antes da devida oitiva dos Conselhos. Todavia, neste caso, deve haver a prévia autorização (aprovação) do Congresso, por maioria absoluta. O Congresso fiscaliza concomitantemente, assim como no Estado de Defesa. Também deve ser enviado relatório ao final do Estado de Exceção, estando o Chefe do Executivo sujeito a Impeachment em caso de abuso. Sua aplicação se dá em âmbito nacional. Nos casos do inciso I, o Estado de Sítiodura por 30 dias, sendo prorrogável por mais 30 dias a cada vez. Por outro lado, nos casos do inciso II, o Estado de Exceção dura por tempo indeterminado, ou seja, deixa de existir o requisito da temporariedade. No Estado de Sítio, o Juiz só pode analisar a questão formal da decretação, jamais o mérito, assim como se dá no Estado de Defesa. Ou seja, pode-se questionar se o Presidente ouviu os Conselhos antes da declaração, por exemplo, porém não pode questionar a necessidade do decreto. 2. RESTRIÇÕES 2.1. RESTRIÇÕES NOS CASOS DO INCISO I Restringem-se os mesmo direitos que são restritos no Estado de Defesa, além de também haver restrição ao direito de acesso à informação (art. 5º, XIV da CF), à liberdade de expressão – censura (art. 220 da CF) e à liberdade de locomoção (art. 5º, XV). 2.2 RESTRIÇÕES NOS CASOS DO INCISO II Segundo a primeira corrente (majoritária), a qual é representada por Gilmar Mendes, são restritos todos os direitos fundamentais previstos nos casos do inciso I, juntamente, com a restrição do direito à vida (caput do art. 5º da CF), visto que a exceção para este direito costuma se dar e casos de guerra. Nenhum outro direito fundamental deve ser restrito além destes, porque os direitos fundamentais devem ser interpretados e aplicados de forma extensiva. 7 Por outro lado, para a segunda corrente (minoritária), representada por Alexandre de Moraes, podem-se restringir todos os direitos fundamentais, visto que o direito à vida - que é o maior de todos os direitos – é restrito neste caso. COMPOSIÇÃO DOS CONSELHOS 1. CONSELHO DA REPÚBLICA (arts. 89 e 90 da CF) É órgão superior de consulta do Presidente, sendo composto pelas seguintes pessoas: - Vice-Presidente da República; - Presidente da Câmara dos Deputados; - Presidente do Senado Federal; - Lideres da maioria e da minoria na Câmara e no Senado; - Ministro da Justiça; - Seis cidadãos brasileiros natos, com mais de 35 cinco anos de idade. 2. CONSELHO DA DEFESA NACIONAL (art. 91 da CF) É órgão de consulta do Presidente nos assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado Democrático, sendo composto pelos seguintes membros: - Vice-Presidente da República; - Presidente da Câmara dos Deputados; - Presidente do Senado Federal; - Ministro da Justiça; - Ministro de Estado e da Defesa; - Ministro das Relações Exteriores; - Ministro do Planejamento; - Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. 8 FORÇAS ARMADAS (arts. 142 e 143 da CF) Seus membros são denominados militares. É constituída pelas três armas: Aeronáutica, Exército e Marinha. Cada uma das armas tem um comandante específico, o qual detém status de Ministro de Estado. Às punições impostas aos militares não cabe habeas corpus. São-lhes vedadas a sindicalização e a filiação a partido político. Podem, porém, candidatar-se sem se filiar a qualquer partido. Também são proibidos de fazer greve. O militar que tomar posse em cargo público permanente será transferido à reserva. A exceção se dá nos casos de cargo público temporário, com duração máxima de dois anos. SEGURANÇA PÚBLICA (art. 144) Tem como finalidade a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio. No Brasil, os serviços de segurança pública são prestados privativamente pela polícia. A polícia divide-se em ostensiva (preventiva) e investigativa (judiciária). A primeira anda propositalmente fardada e tem a função de prevenir delitos e de garantir a ordem pública. Por outro lado, a polícia judiciária exerce o papel de colher os elementos de autoria e materialidade do crime, a fim de responsabilizar o infrator. Também é feita a divisão quanto ao âmbito de atuação: polícia federal (União) e polícia estadual (Estados federados). A primeira sempre será chamada de polícia federal, independente de ser ostensiva ou investigativa. A polícia federal tem as funções preventivas e judiciárias no que tange aos bens, serviços e interesses da União; tendo inclusive as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras. Importante ressaltar que há também a polícia rodoviária federal, que se destina ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais, bem como a polícia ferroviária federal, a qual se destina ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. 9 Já no âmbito estadual a polícia judiciária é chamada de civil, enquanto que a preventiva é chamada de militar. Frise-se que nos estados a polícia militar também é representada pelo corpo de bombeiros, a quem incumbe a execução de atividades de defesa civil. Quanto à guarda municipal, esta tem a função constitucional de proteger os bens, serviços e instalações municipais. Todavia, atualmente os guardas têm exercido também o papel de polícia ostensiva, o que tem se mostrado útil face à carência presente no âmbito da segurança pública. ORDEM FINANCEIRA FINANÇAS PÚBLICAS Trata de como o administrador público usa o dinheiro público, abrangendo o direito tributário, o qual estuda a relação do contribuinte com o Estado. As finanças públicas constituem a atividade econômica do Estado responsável pela arrecadação da receita, pela realização de despesa pública e pela administração da dívida pública através do controle da economia pelo fluxo da moeda. Frise-se que o controle da economia é estudado pelas Ciências Econômicas, enquanto que as receitas, despesas e dívidas são estudadas pelo Direito, onde a doutrina costuma denominar esse ramo como direito financeiro. 10 RECEITA PÚBLICA 1. QUANTO À PERIODICIDADE 1.1. RECEITA ORDINÁRIA Trata-se da receita constante, tudo o que entra nos cofres públicos, onde todo ano é certo que entrará dinheiro de dada fonte. É o exemplo dos tributos, que representam a receita ordinária por excelência. 1.2. RECEITA EXTRAORDINÁRIA É a receita eventual, onde às vezes entrará dinheiro daquela fonte. Portanto, o administrador público não pode contar com essa fonte, não podendo se programar com ela. É o exemplo da herança vacante e dos impostos extraordinários nos casos de guerra, os quais são revertidos em favor da União. 2. QUANTO À ORIGEM 2.1 ORIGINÁRIA É a receita que se origina do exercício de atividade econômica pelo próprio Estado, é o chamado Estado empresário. Em suma, são representadas pelas empresas de economia mista, como a Petrobrás, a Copel S/A e o Banco do Brasil S/A. Frise-se que no final do exercício financeiro, a maior parte do lucro dessas empresas fica com o Estado. 2.2. DERIVADA Remete à receita obtida através da atividade econômica exercida pelo particular, onde o Estado retira para si uma parte do lucro obtido pelo setor privado. É o exemplo dos tributos, como o ICMS. Acentue-se que uma mesma receita pode comportar duas classificações, como a multa, por exemplo, que é extraordinária e derivada simultaneamente. 11 3. QUANTO À NATUREZA 3.1. DE CAPITAL Trata-se de uma receita “forçada”, ou seja, que normalmente não é possível ser obtida; de modo que o Estado cria uma situação para receber esse dinheiro. São os exemplos dos títulos de dívida pública, (papéis que o governo lança à venda e resgata-os em cinco anos, com correção monetária e juros superiores ao do mercado, a fim de atrair compradores), empréstimos dos municípios junto ao Estado e da alienação de bem público, o qual em regra não poderia ser vendido,mas quando é excepcionalmente alienado, só pode ser feito mediante previsão legal. 3.2. CORRENTE São correntes todas as receitas ordinárias do Estado, seja originária ou derivada. Corresponde à verba que o administrador público poderá gastar. Em suma, é toda receita que não for de capital. DESPESAS PÚBLICAS 1. DESPESA CORRENTE Trata-se das despesas constantes do Estado, aquelas destinas à manutenção do funcionamento do mesmo. É o exemplo do pagamento do funcionalismo público, dos gastos com manutenção dos bens públicos, das despesas com serviços públicos etc. 2. DESPESA DE CAPITAL É a despesa esporádica do Estado, aquela não existe todo ano, que é destinada à ampliação da administração pública. É o exemplo da verba destinada à construção de uma nova escola, daquela direcionada à aquisição de novos carros para a frota etc. 12 LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL - LRF (LC 101/2000) Traz a premissa de que o administrador público, para gastar dinheiro, tem que ser legalmente autorizado. Remete ao princípio da legalidade, onde o privado pode fazer tudo o que a lei não lhe proíba, enquanto que o público só pode fazer o que a lei expressamente lhe autorize. Faz-se o projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA) em até 31 de agosto, com vistas a entrar em vigor até 1º de janeiro do ano seguinte. Para fazer esse projeto, o administrador público deve levar em conta o que foi arrecadado e o que foi gasto no mês em referência e nos onze meses anteriores, ou seja, o governante faz uma projeção de receita/despesa. Em suma, o administrador público faz uma espécie de planilha de conta corrente, como a que segue abaixo: CLASSIFICAÇÃO RECEITA DESPESA CORRENTE TRIBUTOS= R$ 2 MILHÕES FUNC. PÚBLICO= R$ 2 MILHÕES SERV. PÚBLICOS= R$ 1 MILHÃO DE CAPITAL NENHUMA RECEITA OBRA PÚBLICA= R$ 1 MILHÃO TOTAL R$ 2 MILHÕES R$ 4 MILHÕES RESULTADO DÉFICIT DE 2 MILHÕES 1. MEIOS DE SE TRABALHAR COM O DÉFICIT Conforme se verifica na tabela acima, as contas estão negativas. Antes da LRF, quando se verificavam situações como esta, aumentavam-se os tributos a fim de ampliar a receita. Porém, esse tipo de medida gerava o chamado “efeito cascata”. Disto, surge a premissa de que não se podem aumentar os tributos quando se está gastando mais do que se arrecada. Desta forma, a solução é cortar despesas. Primeiro, cortam-se as despesas de capital. Outra questão, é que em caso de déficit não se deve forçar receitas de capital, afinal, no outro ano o déficit também continuará existindo, e não haverá mais aquele bem; tal premissa serve para evitar a venda de todo o patrimônio público quando as contas estiverem deficitárias. Assim, é vedada a alienação de bem público para 13 saldar despesa corrente. Em suma, só se pode forçar uma receita de capital para saldar uma despesa de capital. A Emenda Constitucional 19/1998 (Reforma Administrativa) impõe os limites de gasto com o funcionalismo público. A União não pode gastar mais de 50% da receita corrente com funcionalismo. Os estados e os municípios não podem gastar mais de 60% de suas receitas correntes com funcionários. 2. CARGOS PÚBLICOS A administração pública é dividida em direta e indireta. A administração pública direta é representada pela União, estados, Distrito Federal, municípios. Já a administração pública indireta remete às autarquias (INSS, Anatel, ANAC, Banco Central etc.), às fundações públicas, às sociedades de economia mista (Petrobrás, Copel, Banco do Brasil, URBS etc.) e às empresas públicas (CEF, Correios etc.). As pessoas jurídicas de direito público são representadas por toda a administração pública direta, somadas às autarquias. Por outro lado, existem as estatais – pessoas jurídicas da administração pública com natureza de direito privado –, que são representadas pelas sociedades de economia mista e pelas empresas públicas. Ressalte-se que há fundações que são pessoas jurídicas de direito público e aquelas que são pessoas jurídicas de direito privado. Desta forma, o funcionalismo público se divide da seguinte maneira: 1) servidor público; é o chamado estatutário, que possui estabilidade após três anos de estágio probatório; são servidores públicos aqueles que trabalham na administração pública direta, autarquias e fundações de direito público, tendo sido admitidos através de concurso público; 2) empregado público; é o chamado celetista, que não possui estabilidade; são aqueles que trabalham nas empresas de economia mista e empresas públicas, sendo que também são admitidos por meio de concurso público; 3) cargos de comissão ou funções de confiança; geralmente são representados pelos que ajudaram na campanha eleitoral e demais 14 apadrinhados políticos, sendo admitidos por livre nomeação – sem concurso público - e sendo também livremente exonerados. 3. MEDIDAS TOMADAS EM CASOS DE DEFICIT Quando o administrador público precisar cortar despesas para equilibrar as contas, ele deverá tomar algumas medidas, na seguinte ordem: 1) cortar no mínimo 20% das despesas com cargos de comissão; 2) cortar os servidores não-estáveis, que são os empregados públicos e os servidores que não atingiram os três anos de estágio probatório; 3) exonerar os servidores estáveis. Estas medidas foram instituídas pela EC 19/1998, a qual se pautou pela concepção de Estado gerencial, onde se adotou o princípio da eficiência (maximizar resultados com o mínimo de custos), de modo que a referida emenda relativizou a estabilidade dos servidores públicos. FASES DE REALIZAÇÃO DA DESPESA A LRF dá algumas diretrizes que devem ser seguidas pelo administrador público para se gastar a verba pública. 1ª Fase: previsão legal. Com base no princípio da legalidade, o administrador público só pode gastar dinheiro com expressa previsão legal. 2ª Fase: empenho. Trata-se da reserva feita nos cofres públicos de determinado valor para um fim específico. Por exemplo: previu-se R$ 4 milhões de receita, R$ 3 milhões foram empenhados, logo, o governante só terá R$ 1 milhão para gastar. 3ª Fase: liquidação. É a verificação do direito do contratado a receber determinado recurso público. Por exemplo: verificou-se que a empresa cumpriu com sua obrigação, ao passo que a mesma está a apta a receber o dinheiro que lhe é devido. 4ª Fase: pagamento. Em suma, as fases de realização da despesa podem ser representadas pelo seguinte esquema: 15 LEI – EMPENHO – LIQUIDAÇÃO – PAGAMENTO PAGAMENTO DAS CONDENAÇÕES JUDICIAIS – PRECATÓRIOS Conforme dispõe o art. 100 da CF, as condenações judiciais sofridas pela administração pública devem ser pagas por meio de precatório. Tal premissa se impõe devido ao princípio da legalidade. O particular, quando condenado judicialmente, responde com seu patrimônio, através da penhora dos seus bens. Já o ente público, responde através dos precatórios, visto que os bens públicos são impenhoráveis. Deste modo, os motivos para que o Estado pague suas condenações de forma diferente que os privados são os seguintes: 1) impenhorabilidade dos bens públicos; 2) para se gastar dinheiro público é preciso de previsão legal, ao passo que a Lei precisa expressamente autorizar o pagamento de dada condenação judicial. Precatório é uma ordem do Poder Judiciário para que o chefe do Poder Executivo inclua na Lei Orçamentária a previsão de pagamento de uma determinada condenação judicial sofrida. Frise-se que somente os órgãos da administração pública direta e as autarquias pagamsuas condenações judiciais por meio de precatório. Já as pessoas jurídicas de direito privado (empresas públicas e sociedades de economia mista) respondem com seu próprio patrimônio. A exceção para essa regra são os Correios, os quais, segundo a Jurisprudência, pagam suas condenações judiciais através de precatório. COMO FUNCIONA? O juiz expede um ofício requisitório ao Tribunal responsável (TJs, TRTs ou TRFs – só estes expedem o referido ofício), onde se formará o precatório. 16 Os precatórios formados até o dia 1º de julho têm que ser pagos até o final do exercício financeiro seguinte. Cumpre ressaltar que o exercício financeiro compreende o período que se estende de 1º de janeiro a 31 de dezembro. Desta forma, se um precatório for apresentado no dia 25 de maio de 2013, por exemplo, o mesmo deverá ser pago até 31 de dezembro de 2014. Por outro lado, se o precatório for apresentado em 25 de agosto de 2013, poderá ser pago até 31 de dezembro de 2015. Isso se dá porque só entram no projeto de lei orçamentária as despesas apresentadas até 1º de julho. As despesas que forem apresentadas depois desta data são incluídas somente no próximo no projeto de lei orçamentária. A partir do momento que o precatório é incluído no orçamento (projeto de lei orçamentária) ele entra numa fila, pois, em regra, não se pode pagar um precatório mais antigo depois de um mais recente. 1. FILAS PRIORITÁRIAS Existem precatórios que possuem preferência – os alimentícios. Estes vão para uma fila separada, que é a chamada de fila do alimentício. Vão para esta fila os precatórios de natureza alimentar, que compreende aquelas condenações inerentes à subsistência da pessoa. É o exemplo das indenizações por morte, dos honorários advocatícios, das condenações de caráter remuneratório etc. Ressalte-se que o rol de o que é considerado alimentício, exposto no art. 100 da CF, é apenas exemplificativo. A Emenda Constitucional 62/2009 criou um caso em que há uma maior prioridade. Criou-se uma fila ainda mais rápida, onde são colocados os precatórios alimentícios devidos àqueles que também são idosos (acima de 60 anos de idade) e/ou portadores de doença grave (já existente antes da formação do precatório). Então, se a pessoa for idosa e/ou portadora de doença grave, mas seu precatório não for alimentício, ela espera na fila normal. Todavia, não é pago todo o valor com essa prioridade; paga-se com prioridade o equivalente a 3 vezes da condenação de pequeno valor. Essa é a única possibilidade de fracionamento de precatório. 17 2. CONDENAÇÃO DE PEQUENO VALOR É aquela que dispensa pagamento através de precatório, ou seja, já é prevista na lei orçamentária. As condenações de pequeno valor devem ser pagas em até 60 dias, por Requisição de Pequeno Valor (RPV). Cada um dos entes da federação estabelece em lei o que considera condenação de pequeno valor. Contudo, não se pode criar lei definindo a condenação de pequeno valor abaixo do maior benefício pago pelo Regime Geral de Previdência. Assim, se o maior salário (benefício) que o INSS puder pagar for o equivalente a R$ 4,5 mil, o ente federado não poderá estabelecer como condenação de pequeno valor, R$ 4 mil. Caso o ente federado deixe de fazer essa lei, considera-se condenação de pequeno valor no âmbito da União o equivalente a 60 salários mínimos, no âmbito dos estados 40 salários mínimos e no dos municípios 30 salários mínimos. Atualmente, o Estado do Paraná considera como pequeno valor em média R$ 9 mil, o Município de Curitiba R$ 8 mil e o INSS R$ 5,3 mil. Portanto, suponha-se que o Estado do Paraná tenha sido condenado a pagar R$ 30 mil em indenização morte, a um senhor de 65 anos de idade. Qual será o valor que esse senhor receberá com preferência? Note-se, o Paraná considera como pequeno valor R$ 9 mil, ao passo que deve ser pago com preferência o equivalente a 3 vezes o valor dessa quantia, ou seja, R$ 27 mil; logo, o senhor (credor) receberá R$ 27 mil reais com preferência, restando R$ 3 mil como remanescente, o qual ele receberá na ordem cronológica em que estava na fila do alimentício. 3. LITISCONSÓRCIO Pluralidade de partes. Assim, se várias pessoas ajuizarem uma ação contra o Estado e forem vencedoras na mesma, soma-se o valor total da condenação ou computa-se individualmente? Individualmente. Tal pergunta se faz necessária em virtude dos pagamentos por RPV. Imagine-se que João, Maria e José ajuizaram, em litisconsórcio, uma ação contra o Estado do Paraná, e este é condenado a pagar R$ 5 mil a cada um dos três autores; note- se que se fosse considerado o total da condenação (R$ 15 mil), o valor passaria do teto para pagamento via RPV (R$ 9 mil). 18 4. CESSÃO DE PRECATÓRIOS Pode-se vender o precatório, o que é feito com a finalidade de não ter que esperar tanto tempo para receber o valor de uma condenação judicial. Por exemplo: João era credor de um precatório de R$ 100 mil, porém, está precisando de dinheiro, então resolve vendê-lo a Pedro, por R$ 80 mil, o qual compra o referido precatório, pois dali alguns anos obterá um lucro de no mínimo R$ 20 mil. Para que a cessão tenha validade perante terceiros, faz-se necessário comunicar o devedor do precatório (Estado), protocolando-se uma petição no Tribunal responsável e outra no órgão devedor. Esse requisito se faz necessário para evitar que o credor antigo receba o valor em vez daquele que comprara o precatório. 5. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS Nos termos da Súmula n. 17 do STJ não incidem juros enquanto o pagamento do precatório não estiver atrasado. Assim, se o precatório foi apresentado em março de 2013, só incidirá juros a partir de 1º de janeiro de 2015, pois antes disso o devedor (Estado) estará dentro do seu prazo para pagamento, logo, não há mora. Quanto à correção monetária, a mesma começa a incidir desde a formação do precatório. Corrigia-se pelo índice da poupança. Este mês (março/2013) o STF decidiu que é inconstitucional a correção monetária através do índice da poupança (ADI 4357), visto que o valor da condenação seria “corroído pela moeda”, afinal, os precatórios costumam demorar muito para ser pagos. Contudo, o Supremo ainda não decidiu qual índice passará a ser adotado. Na mesma decisão, o STF entendeu como inconstitucional o prazo de 15 anos para pagamento de precatório, o qual foi estabelecido pela EC 62/2009. Desta forma, a Suprema Corte, determinou que os precatórios fossem pagos dentro do exercício financeiro previsto, ou seja, dentro do prazo. Frise-se que na prática a União vem pagando os precatórios dentro do prazo. 19 6. SEQUESTRO DE VALORES DOS COFRES PÚBLICOS Em algumas situações o Judiciário pode determinar o sequestro de determinado valor junto aos cofres públicos. A primeira hipótese se dá quando houver uma preterição na ordem de pagamento, ou seja, quando alguém, que estava atrás na fila, toma a vez de uma pessoa que devia receber antes o valor correspondente ao seu precatório. Em suma ocorre quando um sujeito “fura” a fila dos precatórios – geralmente por influência –, prejudicando os demais que estavam a sua frente. Caso isso ocorra, o presidente do tribunal responsável pela formação do precatório determina o sequestro de valores. A outra hipótese de sequestro de valores se dá quando o administrador público aplica o dinheiro em pontos menos importantes, deixando de pagar os precatórios com isso. Porém, essa hipótese levanta críticas quanto ao problema de o Judiciário se envolver na esfera do Executivo, dizendo comoeste deve administrar o dinheiro público. O sequestro de valores também pode se dar em caso de demora excessiva. Mas o que pode ser considerado demora excessiva? Como enunciado acima, a Emenda Constitucional n.º 62 instituiu como prazo máximo para pagamento dos precatórios o prazo de 15 anos. Assim, dentro de 15 anos o ente da Federação estará dentro do prazo esperado, desde que o mesmo tenha aderido o Regime Especial de Pagamento de Precatório. Obviamente, a grande maioria aderiu ao referido regime, sendo que em todo o país apenas 16 municípios ainda não aderiram a ele. Para participar do Regime, a União exige que os municípios depositem de 1% a 1,5% e os estados federados de 1,5% a 2% da receita líquida numa conta, a qual é administrada pelo tribunal responsável, onde só se usa 50% desse depósito para pagamento dos precatórios em ordem cronológica, sendo que a outra metade do valor depositado pode ser utilizado pelo administrador público no “leilão do precatório”. Desta forma, 50% do valor depositado nessa conta ficam vinculados ao tribunal responsável, enquanto que a outra metade fica à disposição do administrador público. O Estado divulga o leilão de precatórios numa dada faixa de valor, assim, quem aceitar receber menos pelo seu precatório recebe na hora, em 20 dinheiro, caso contrário, espera 15 anos para receber. Pelas razões expostas neste tópico, a EC 62/2009 ficou conhecida como a “Emenda do calote”. Todavia, na já mencionada decisão (ADI 4357), o STF declarou a inconstitucionalidade dos leilões de precatórios. 7. HIPÓTESES DE INTERVENÇÃO Cumpre ressaltar que a Constituição prevê, nos artigos 34, 35 e 36, os casos de intervenção de um ente da Federação em outro. Caso o ente da Federação não esteja pagando os precatórios, pode haver intervenção federal ou estadual, pois o STF entende que o não pagamento dos precatórios caracteriza o descumprimento de ordem judicial, que é uma das hipóteses de intervenção previstas na Constituição (art. 34, VI e art. 35, IV). Logo, fica autorizada a intervenção de um ente da Federação em outro nesse caso, salvo se o não pagamento se der em razão de insuficiência de recursos. O problema é que o ente federativo pode muito bem alegar tal insuficiência para eximir-se do pagamento de suas condenações judiciais. A última vez que houve uma intervenção no estado do Paraná foi em 2008, quando o Governador, Roberto Requião, interviu na cidade de Paranaguá por falta de pagamento de precatório. LEIS ORÇAMENTÁRIAS (art. 165 da CF) Cada uma das espécies de leis orçamentárias (PPA, LDO e LOA) está em vigor, concomitantemente, em todos os entes da Federação, sendo que cada uma delas trabalha em função da outra. Assim, a LDO e a LOA trabalham a fim de cumprir o previsto no PPA. 1. PLANO PLURIANUAL (PPA) Dispõe sobre as diretrizes, os objetivos e as metas da administração pública para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. Em outras palavras, o PPA estabelece, de forma regionalizada, as metas de investimentos em programas de duração continuada – programas de investimentos a longo prazo (4 anos) –, 21 dizendo quais investimentos o administrador público pretende fazer pelos próximos 4 anos, ou seja, estabelece a política pública de investimentos (macro). O PPA entra em vigor no 2º ano do mandato do Chefe do Executivo até o 1º ano do mandato seguinte. Desta forma, sua vigência é de 4 anos, diferente das outras duas espécies de leis orçamentárias (LDO e LOA), as quais vigem por 1 ano. 2. LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS (LDO) Trata das metas e prioridades da administração pública, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, além de orientar a elaboração da lei orçamentária anual, dispor sobre as alterações na legislação tributária e estabelecer a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. Em suma, é a lei que estabelece as metas de arrecadação para o exercício financeiro seguinte, determinando aonde é preciso aumentar as receitas, bem como aonde é preciso diminuir as despesas, ou seja, determina como conseguir o dinheiro necessário para cumprir as metas previstas no PPA. Como afirmado acima, sua vigência é de um ano. 3. LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL (LOA) É a mais específica das leis orçamentárias. Esta Lei compreende três seções: orçamento fiscal, orçamento de investimento das empresas públicas e orçamento da Seguridade Social. Tem que se coadunar com a previsão de receita e a fixação de despesa. Os gastos previstos na LOA têm que estar de acordo com a LDO, a qual deve estar de acordo com o PPA. Em suma, a LOA determina quanto será gasto e no quê, ou seja, impõe como administrador público deve gastar o dinheiro. Sua vigência é de um ano. PROCESSO LEGISLATIVO ORÇAMENTÁRIO 1. PROCESSO LEGISLATIVO COMUM Em regra, o processo legislativo é composto das seguintes etapas: 22 1) iniciativa; alguém apresenta uma proposta de criação de uma norma; há a iniciativa concorrente, a privativa e a popular; em regra, apresenta-se o projeto na Câmara dos Deputados; 2) discussão; fase em que o projeto é debatido nas comissões e nos plenários das Casas Legislativas, podendo ser formuladas emendas ao projeto; em regra, antes de chegar à Casa Iniciadora, que geralmente é a Câmara dos Deputados, o projeto tem que ser encaminhado à Comissão de Constituição e Justiça; 3) votação; deve ser feita com o quorum estabelecido especificamente para a proposição a ser debatida, sendo que se não for exigido um quorum especial, o projeto será aprovado por maioria simples; 4) sanção ou veto; após aprovado o projeto no Congresso, o mesmo é encaminhado ao Chefe do Executivo, para que este dê sua anuência a proposição (sanção), ou a rejeite, de forma total (veto total) ou parcial (veto parcial); caso em quinze dias o Presidente da República não se manifeste, haverá a sanção tácita do projeto; caso o projeto seja vetado, o mesmo será encaminhado ao Congresso, o qual poderá manter ou rejeitar o veto; caso este seja mantido, o projeto é tido como rejeitado e arquivado, ao passo que o projeto não poderá ser apresentado na mesma sessão legislativa; frise-se que nem todos os projetos se submetem à sanção ou veto presidencial, os projetos de emenda à Constituição, por exemplo, não são enviados ao Presidente da República; 5) promulgação; atesta a existência da nova “lei”; em regra, é feita pelo Chefe do Executivo; 6) publicação; torna de conhecimento geral a existência de novo ato normativo, sendo relevante para fixar o momento da vigência da “lei”. Cumpre ressaltar que uma legislatura dura quatro anos, sendo composta por 4 sessões legislativas, as quais, por sua vez, são compostas por 2 períodos legislativos. 23 2. PROCESSO LEGISLATIVO ORÇAMENTÁRIO Tem um trâmite específico, sendo subsidiariamente aplicado o processo legislativo comum. Em razão da celeridade, os projetos de leis orçamentárias se submetem a uma aprovação mais rápida. Assim, eis as etapas do processo legislativo orçamentário: 1) iniciativa privativa do Chefe do Executivo; 2) o projeto não tem que passar por várias comissões como ocorre no processo legislativo comum; vai direto para uma Comissão Mista Permanente Orçamentária, a qual é composta por 21 senadores e 63 deputados federais; esta Comissão elabora um parecer geral, sobre a constitucionalidade do projeto, bem como sobre sua adequação as demais leis orçamentárias; 3) o projeto vai para votaçãono Plenário do Congresso, numa sessão conjunta das duas Casas; 4) o Congresso pode aprovar, emendar ou rejeitar o projeto; caso sejam feitas emendas, o projeto de lei orçamentária é encaminhado à Comissão Mista para que esta analise as alterações propostas; após, volta para o Plenário; 5) aprovado, o projeto seguirá o trâmite do processo legislativo comum, ou seja, é encaminhado para a sanção ou veto – o qual é improvável – presidencial; após, é promulgada e publicada a nova lei. Frise-se que a doutrina majoritária entende que o projeto de lei orçamentária não pode ser rejeitado, pois neste caso ele viria a ser arquivado, ao passo que só poderia vir a ser reapresentado na próxima sessão legislativa, ou seja, só no próximo ano. Sem lei orçamentária, o Executivo não pode usar o dinheiro público, e sem dinheiro não há como governar. Já Alexandre de Moraes entende que o Congresso pode até rejeitar o projeto, porém, será presumida a vigência da lei orçamentária em vigor. 24 3. PRAZOS PARA A PROVAÇÃO DA LEI ORÇAMENTÁRIA 3.1. PLANO PLURIANUAL (PPA) O Executivo tem que apresentar o projeto até 31 de agosto, sendo que o Congresso terá até 22 de dezembro para aprovar a Lei. Estes prazos são estabelecidos pelo art. 35, § 2º, I do ADCT. Tal artigo dispõe que o PPA deve ser encaminhado até quatro meses antes do encerramento do primeiro exercício financeiro (31/08) e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa (22/12). Note-se que o exercício financeiro compreende o período de 1º de janeiro a 31 de dezembro, logo, quatro meses antes do encerramento do exercício financeiro pode ser entendido como 31 de agosto. Também é importante salientar que a sessão legislativa encerra em 22 de dezembro, ao passo que o PPA tem que ser encaminhado para a sanção presidencial até esta data. 3.2. LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS (LDO) O Presidente da República tem que apresentar o projeto até 15 de abril e o Legislativo tem que encaminhar o mesmo para sanção até 17 de julho. O art. 35, § 2º, II do ADCT estabelece que o projeto da LDO seja encaminhado até oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro (15/04) e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa (17/07). Ressalte-se que oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro equivale a 15 de abril, enquanto que o primeiro período da sessão legislativa encerra em 17 de julho. Por óbvio, a LDO deve ser aprovada antes que a LOA, visto que é aquela que estabelece o quanto de dinheiro o administrador público poderá gastar. Assim, o Presidente só incluirá despesas – na LOA – que estiverem de acordo com a PPA e com a LDO, ou seja, esta precisa ser aprovada antes. 25 3.3. LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL (LOA) O Chefe do Executivo tem que apresentar o projeto até 31 de agosto e o Congresso tem que aprová-lo até 31 de dezembro. O art. 35, § 2º, III do ADCT dispõe que o projeto da LOA deverá ser encaminhado até quatro meses antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa. Note-se que os prazos para a aprovação da LOA são iguais aos do PPA. 4. DATAS IMPORTANTES: a) início do primeiro período da sessão legislativa (início da sessão legislativa) – 02 de fevereiro; b) fim do primeiro período da sessão legislativa (recesso parlamentar) – 17 de julho; c) início do segundo período da sessão legislativa – 31 de julho; d) fim do segundo período da sessão legislativa (fim da sessão legislativa) – 22 de dezembro; e) início do exercício financeiro – 1º de janeiro; f) fim do exercício financeiro – 31 de dezembro. ORDEM ECONÔMICA O liberalismo econômico defendia a abstenção do Estado em relação à economia, alegando que esta tem suas próprias regras. Porém, o excesso do liberalismo gerou sua ruína, a qual se deu na “queda da bolsa”, em 1929. Chegou-se a conclusão de que o Estado precisaria intervir na economia, ao passo que se adotou uma política intervencionista. Não obstante isso, a Constituição brasileira é tipicamente liberal, com um intervencionismo pontual, ou seja, a intervenção estatal na economia se dá excepcionalmente. Há dois tipos de intervenção: a direta e a indireta. A primeira é uma intervenção normativa (regulatória), onde o Estado dita as regras, o que pode e o que não pode ser feito no que diz respeito à economia. Esta forma de intervenção é representada, no Brasil, pelas agências reguladoras (autarquias), como a Anatel. 26 Já a intervenção direta ocorre no chamado “Estado empresário”, onde o Estado cria uma empresa e a lança no mercado para exercer uma dada atividade econômica. Desta forma, indiretamente o Estado irá intervir na economia, visto que esta empresa poderá ditar preços menores, “obrigando” sua concorrência a seguir o exemplo. Um exemplo disso pôde ser notado na criação da Caixa Econômica Federal (empresa pública), a qual surgiu para conceder empréstimos e financiamentos imobiliários para a população de baixa renda. Todavia, constantemente, a CEF acabava por influenciar na taxa de juros, visto que a sua era mais baixa, o que “obrigava” os outros bancos a baixarem os juros. PRINCÍPIOS DA ORDEM ECONÔMICA (art. 170 da CF) 1. PRINCÍPIO DA LIVRE INICIATIVA Trata-se da liberdade de exercício da atividade econômica ou profissional. Ou seja, qualquer indivíduo é livre para iniciar um empreendimento, bem como para escolher sua profissão. Todavia, a Lei pode interferir na livre iniciativa, desde que haja razões para tal interferência por parte do Poder Público. É o exemplo da exigência de que as empresas que fabricam fogos de artifício consultem o Governo antes de iniciar seu empreendimento. Outro exemplo é o Exame de Ordem, onde supostamente há um interesse público em saber se o bacharel em Direito está apto para exercer a advocacia. 2. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA Tal princípio dispõe que o empresário, quando exerce uma determinada atividade econômica, tem que contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Para explicar o que seria essa função social da empresa existem três vertentes: a) negativa; defendida por Fábio Konder Comparato; para que a empresa cumpra sua função social basta que ela cumpra a lei, ou seja, não precisa fazer nada além de cumprir a lei; é a vertente mais aceita pela doutrina, bem como pela jurisprudência; 27 b) positiva; defendida por José Affonso Dallegrave Neto; para que a empresa cumpra sua função social não basta que ela cumpra a lei – ela tem que ir além; o empresário só atende a função social se praticar assistencialismo social, se garantir a participação nos lucros da empresa (PL) aos seus funcionários, se promover eventos esportivos etc.; é a vertente que mais se coaduna com o walfare state; c) 3ª vertente; defendida por Fábio Tokars; não existe uma função social da empresa; alega que a vertente positiva, apesar de nobre, é utópica, e a vertente negativa não existe porque o empresário é obrigado a cumprir a lei pelo princípio da legalidade em vez de ter que fazê-lo pelo princípio da função social da empresa; o referido doutrinador alega que este princípio surge com o intuito de justificar a fraca atuação do Estado em várias áreas importantes. 3. PRINCÍPIO DA LIVRE CONCORRÊNCIA Dispõe que o Estado deve punir os agentes econômicos que pratiquem atos atentatórios contra a livre concorrência, visto que esta é benéfica ao consumidor. Em 2011 foi promulgada a Lei Antitruste(Lei 12.529 de 30 de novembro de 2011), a qual prevê punições às empresas que praticarem truste. Truste é a fusão (incorporação de empresas) de empresas, que tem como intuito dominar o mercado. A participação majoritária de determinada empresa num dado segmento produtivo reduz a concorrência, o que prejudica diretamente o consumidor. Há dois tipos de truste: a) truste vertical; há a fusão de empresas de diferentes segmentos produtivos de um mesmo mercado; é o exemplo da empresa de um dado mercado que compra a empresa que faz matéria-prima, a responsável pelo transporte, a fabricante, ou seja, adquiri grande parte das empresas que permitem a fabricação de determinado produto levado ao consumidor; 28 b) truste horizontal; é a fusão de empresas de um mesmo segmento produtivo; há a reunião formal de empresas, aonde uma empresa vai comprando outra. Frise-se que o truste não se confunde com o cartel, o qual se trata de uma reunião informal de empresas, onde estas têm o intuito de dominar os preços. As empresas que praticam o cartel combinam os preços. 4. CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA (CADE) Trata-se de um tribunal administrativo que tem a função de julgar os atos atentatórios à livre concorrência. As punições por ele impostas são determinadas pela Lei 12.529/2011. Um exemplo da atuação do CADE se deu há 10 anos atrás, quando a empresa TBA, que à época era a única que distribuía os produtos da Microsoft no Brasil, teve seu monopólio “quebrado” pelo referido Tribunal administrativo. Uma das atribuições do CADE é “quebrar” os monopólios. Assim, quando há um domínio relevante de um dado mercado por uma empresa há a presunção relativa de violação à livre concorrência. Considera-se dominante de um mercado a empresa que domina mais de 20% do mesmo. Logo, quando uma fusão trará como consequência o domínio de mercado nesse percentual presume-se violada a livre concorrência daquele segmento. Porém, não há violação da livre concorrência quando o domínio de mercado (em mais de 20%) se der em razão de outros fatores – como a competência e/ou êxito do empresário – que não a fusão de empresas, ou seja, o crescimento natural da empresa não constitui violação à livre concorrência. Como mencionado acima, a presunção da violação do referido princípio é relativa, ou seja, admite prova em contrário. Presume-se que determinada fusão irá prejudicar o mercado quando a mesma acarretar no domínio de um dado seguimento. Todavia, a empresa pode comprovar, junto ao CADE, que tal fusão não prejudicará a livre concorrência. Um exemplo disso pôde ser visto na fusão entre Skol, Antártica e Brahma, que deu origem à AmBev. Àquela época a Coca-Cola ajuizou uma representação junto ao CADE afirmando que tal fusão violaria a livre concorrência. Entretanto, a presunção relativa foi 29 desconstituída, pois a AmBev provou que o domínio daquele mercado era exercido pela Coca-Cola, logo, era necessário autorizar a referida fusão para que fosse possível concorrer – no mercado de bebidas em geral – com a poderosa multinacional das bebidas. Ocorrendo a coisa julgado junto ao CADE, a decisão tomada por este Tribunal está sujeita à discussão perante o Judiciário. Um exemplo disso foi quando houve a fusão entre a Nestlé e a Garoto. O CADE determinou que a Kraft (dona da Nestlé) vendesse a Garoto em até 6 meses. Ocorre que o Judiciário deferiu uma liminar autorizando a empresa alemã a manter a fusão. Ressalte-se que o CADE pode agir de ofício, ou seja, diferentemente do Judiciário, não precisa ser provocado para atuar. Importante salientar que as decisões do CADE tendem a analisar a concorrência de um ponto de vista internacional, o que tem gerado críticas, de que o referido Tribunal tem tomado decisões mais políticas do que técnicas. É o exemplo da fusão entre a Sadia e a Perdigão, onde se alegou que no mercado de alimentos há uma presença muito grande de multinacionais, logo, para fortalecer o mercado interno, fazia-se necessário autorizar a referida fusão. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE Num sistema liberal é direito de todos acumularem bens. Todavia, numa Constituição típica do walfare state, como a brasileira, é coerente que se exija do proprietário o cumprimento de uma função social do seu imóvel, sob pena de perder a propriedade do mesmo. Desta forma, permite-se o acumulo de bens, mas se impõe uma restrição a essa faculdade, qual seja, o cumprimento da função social do imóvel. Caso o proprietário não dê uma função social ao seu imóvel estará dando causa à perda da propriedade, estando sujeito a uma das duas sanções previstas: desapropriação sancionatória ou usucapião. Porém, há situações em que o sujeito perderá a propriedade do seu imóvel sem ter dado causa a tal perda, neste caso haverá a desapropriação, 30 mas esta não se dará em caráter sancionatório. Isto ocorre porque o interesse público prevalece sobre o interesse particular. Assim, um proprietário pode perder seu imóvel pela prevalência do interesse público em face do interesse privado, ou em razão do descumprimento da função social da propriedade. 1. PERDA DA PROPRIEDADE POR APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO Há situações em que um imóvel poderá ser desapropriado mesmo que seu proprietário esteja dando-lhe uma função social. Um exemplo disso pode ser visto em obras que se faz necessário a desapropriação de alguns imóveis para que se possa concluir um determinado empreendimento público. Frise-se que qualquer ente federativo pode dar cabo a este tipo de desapropriação. Nesse caso, o proprietário deve ser previamente indenizado, e em dinheiro, visto que ele não deu causa à desapropriação. 2. DESAPROPRIAÇÃO SANCIONATÓRIA URBANÍSTICA Quem a promove é o município. Dá-se quando o proprietário de um imóvel urbano não dá uma função social ao mesmo. Para que seja feita essa forma de desapropriação o município tem que tomar algumas medidas: 1) notificar o proprietário para que o mesmo dê uma destinação social ao seu imóvel, a qual varia de acordo com o plano diretor do município, que diz ao que pode ser construído em determinada área; 2) caso não seja cumprida a notificação, o município procederá o aumento progressivo do IPTU, por 5 anos; 3) caso, mesmo com o aumento no imposto, o proprietário não dê uma função social ao seu imóvel, o município promoverá uma ação de desapropriação urbana; 4) obtendo êxito na referida ação, o imóvel desapropriado passará a incorporar o patrimônio público municipal; 5) o antigo proprietário será pago de forma justa, mas não prévia, ou seja, receberá em títulos da dívida pública, os quais são resgatáveis em até 31 10 anos, que é a forma utilizada pelo Estado para sancionar aquele que não cumpriu a função social da propriedade. 3. DESAPROPRIAÇÃO SANCIONATÓRIA RURAL OU RURALÍSTICA Quem a promove é a União. Dá-se quando um determinado imóvel rural é improdutivo, ou seja, a função social do imóvel rural é cumprida quando este é produtivo. Para que se proceda a referida desapropriação, devem ser tomadas algumas medidas: 1) notificar o proprietário do imóvel rural – através do INCRA –, para que este torne seu imóvel produtivo; 2) descumprida a notificação, a União ajuíza a ação de desapropriação de imóvel rural; 3) obtendo êxito na mencionada ação, a União terá que destinar o imóvel desapropriado a programas da Reforma Agrária; 4) o antigo proprietário receberá em títulos da dívida agrária (TDA), os quais são resgatáveis em até 20 anos, sendo que a Uniãonão pode resgatá-los antes do segundo ano; a exceção se dá quando o imóvel rural desapropriado possuir benfeitorias úteis e/ou necessárias (imprescindíveis), as quais são indenizadas em dinheiro. 4. DESAPROPRIAÇÃO CONFISCATÓRIA O art. 243 da CF dispõe que ”as glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei”. Assim, se for localizada uma plantação de maconha numa dada fazenda, a mesma será desapropriada, sem nenhuma indenização ao seu proprietário e sem prejuízo de outras sanções, como um eventual processo criminal. 32 5. USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL DE IMÓVEL URBANO Trata-se da perda de um imóvel urbano para outro particular. Em suma, o usucapião é a prescrição aquisitiva da propriedade – a perda da propriedade pelo decurso do tempo. O proprietário perde sua propriedade em favor de quem estiver na posse da mesma, por não estar cumprindo a função social, logo, perde-a para quem vinha cumprindo a referida função. Para que se configure o usucapião constitucional alguns requisitos devem ser cumpridos: 1) o sujeito tem que estar em posse do imóvel por 5 anos contínuos, ininterruptos e sem oposição por parte do proprietário; este pode comprovar sua oposição, a qual interrompe a prescrição, através de uma notificação; frise-se que o ônus da prova é do proprietário; a aquisição da propriedade é automática, cabendo ao juiz somente declarar a prescrição aquisitiva; 2) o imóvel não pode ter mais que 250 m²; o que não significa que um imóvel com medidas superiores a esta não possa ser objeto de usucapião; se for maior do que a referida medida, se submeterá ao usucapião descrito no Código Civil, onde o prazo para configurar a prescrição aquisitiva é maior do que o previsto para o usucapião constitucional; 3) o sujeito não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural; o que tem por finalidade evitar a profissão de “grilheiro”, visto que o prazo para configurar o usucapião constitucional é relativamente curto, diferente dos casos previstos no Código Civil; 4) o possuidor tem que utilizar o imóvel para fins de moradia própria ou de sua família. 6. USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL RURAL Para configurar a prescrição aquisitiva de um imóvel rural alguns requisitos devem ser preenchidos: 1) o indivíduo tem que estar em posse do imóvel por 5 anos contínuos, ininterruptos e sem oposição por parte do proprietário; 2) o imóvel não pode ter mais que 50 hectares; 33 3) o indivíduo não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural; 4) o sujeito tem utilizar o imóvel para fins de moradia própria ou de sua família, bem como torná-lo produtivo; Como comprovar, quando você paga a um “chacreiro” para cuidar de sua propriedade – dar uma função social a ela –, que você não abandonou o imóvel? Fazendo um contrato de comodato, que diferente do aluguel, trata-se do empréstimo gratuito de um imóvel. Assim, a ideia do empréstimo é comprovar o cumprimento da função social do imóvel. Por fim, faz-se necessário responder uma pergunta: e se um sujeito invadir um imóvel abandonado que pertence à prefeitura, esta perderá o seu imóvel através do usucapião constitucional? Não. Sabe-se que os bens públicos são impenhoráveis, inalienáveis e imprescritíveis, logo, não pode haver prescrição aquisitiva de bem público. ORDEM SOCIAL Disciplina os direitos sociais descritos no art. 6º da Constituição. SEGURIDADE SOCIAL (SEGURO SOCIAL) Trata-se de uma garantia estatal contra eventos sociais adversos. Assim, o sujeito contribui (paga) para o Estado para que no caso de um eventual acidente que ele venha a sofrer, o qual o impossibilite para o trabalho, o ente estatal lhe pague uma aposentadoria (permanente) ou um auxílio- doença (provisório). A seguridade social é administrada pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), e é dividida em três institutos: previdência, assistência e saúde. A previdência exige contraprestação do cidadão, ou seja, é preciso pagar o INSS para poder usufruir dela. A assistência se dá através dos benefícios assistenciais de ajuda e socorro, os quais prescindem de contraprestação. O destinatário recebe um benefício de socorro e de ajuda, no valor de um salário mínimo. 34 A saúde é representada pelo fato de que o Sistema Único de Saúde (SUS) recebe dinheiro da Seguridade Social. Isso não significa que todo o dinheiro que o SUS recebe é oriundo da Seguridade, mas tão somente uma parte dos seus recursos advém dela. PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL (art. 194 da CF) 1. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE OU SOLIDARISMO Remete à ideia de que todos têm que contribuir para com a Seguridade Social, ainda que isso não se dê na mesma proporção. Frise-se que aquele que contribuiu muito para a Seguridade pode usufruir menos do que aquele que praticamente não contribuiu para a mesma. Assim, o sujeito que contribuiu a vida inteira para o INSS e vem a falecer um mês depois de se aposentar, sem deixar nenhum herdeiro, vai usufruir apenas um mês de tudo o que contribui. Por outro lado, pode haver a situação em que o indivíduo contribuiu apenas um mês para o INSS e logo depois sofre um acidente, ficando inválido para o trabalho, passando a receber uma aposentadoria por invalidez; neste caso ele irá usufruir uma vida inteira mesmo tendo contribuído por apenas um mês. Note-se que não há nenhuma garantia de proporcionalidade no que diz respeito à contribuição para a Seguridade Social. 2. PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE Os benefícios da Seguridade devem ser os mais amplos possíveis, abrangendo o maior número possível de pessoas, até mesmo aquelas que nunca contribuíram para ela. É o exemplo do benefício assistencial do idoso, onde o senhor que nunca contribuiu para o INSS passa a receber uma espécie de ajuda do Governo. 3. PRINCÍPIO DA SELETIVIDADE OU DISTRIBUTIVIDADE Este princípio é destinado ao Legislador, o qual deve selecionar a parcela da população que mais necessita da Seguridade, e criar benefícios a fim de suprir as necessidades desta camada da população. É o exemplo do 35 auxílio-reclusão, que é o benefício concedido à família do preso – pobre – que trabalhava antes de ir para a prisão. 4. PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE Dispõe que os benefícios concedidos pela Seguridade Social não podem ser reduzidos. Este princípio se refere à irredutibilidade nominal (formal), que é aquela que remete à questão numérica do benefício, ou seja, se um determinado sujeito recebia R$ 800,00 de aposentadoria em 2012, em 2013 seu benefício não poderá ser inferior a este valor. Há também a irredutibilidade real (material), que é aquela que leva em conta a desvalorização da moeda – a inflação. CUSTEIO DA SEGURIDADE SOCIAL (art. 195 da CF) Diz respeito aos obrigados a contribuir com a Seguridade Social. São eles: a) o empregador, a empresa; note-se que o próprio empregador obtém vantagem desta contribuição, pois, imagine-se um bom funcionário que se acidenta; neste caso é o INSS que pagará o benefício ao acidentado, não o empresário; a empresa tem que contribuir sobre a folha de salários, sobre os demais serviços a ela prestados por pessoa física, sobre a receita ou o faturamento e sobre o lucro obtido; b) o trabalhador, oqual tem que pagar o INSS; os aposentados não contribuem para a Seguridade Social; c) incide contribuição sobre a receita de concursos de prognósticos; são representados pela Loteria Federal, onde a Mega-Sena, por exemplo, tem 6% de sua receita destinada à Seguridade Social; d) os importadores de bens e serviços; os quais contribuem para a Seguridade através do PIS/PASEP-Importação e da COFINS- Importação.
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