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Garantias Fundamentais e Habeas Corpus Prof. Me. Edson Barbosa de Miranda Netto Garantias Fundamentais ØGarantias Fundamentais: normas de conteúdo assecuratório, que visam proteger e garantir direitos fundamentais. §Para cada direito constitucionalmente previsto, deve existir uma garantia para assegurá-lo (pode ser específica ou não). ØRemédios constitucionais: correspondem a espécies de garantias constitucionais que estão previstas no texto da CF sob a forma de ações judiciais. §São garantias fundamentais instrumentalizadas judicialmente. §Também chamadas de ações constitucionais. Garantias Fundamentais ØExemplos de direitos fundamentais e suas respectivas garantias fundamentais: §Direito: Art. 5º, IV, da CF: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. §Garantia: Art. 5º, V, da CF: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”. §Direito: Art. 5º, X, da CF: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas [...]”. §Garantia: Art. 5º, X, da CF: “[...] assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Garantias Fundamentais ØExemplos de direitos fundamentais e suas respectivas garantias fundamentais : §Direito: Art. 5º, XV, da CF: “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. §Garantia: Art. 5º, LXVIII, da CF: “conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”. Garantias Fundamentais ØExemplos de direitos fundamentais e suas respectivas garantias fundamentais : §Direito: Art. 5º, XXII, da CF: “é garantido o direito de propriedade”. §Garantia: Art. 5º, XXIV, da CF: “a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição”. §Garantia: Art. 5º, XXVI, da CF: “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento”. Remédios Constitucionais ØRemédios constitucionais previstos na CF: a) Habeas Corpus: art. 5º, LXVIII, da CF + CPP. b) Habeas Data: art. 5º, LXXII, da CF + Lei n. 9.507/97. c) Ação Popular: art. 5º, LXXIII, da CF + Lei n. 4.717/65. d) Mandado de Injunção Individual e Coletivo: art. 5º, LXXI, da CF + 13.300/2016. e) Mandado de Segurança Individual e Coletivo: art. 5º, LXIX e LXX, da CF + Lei n. 12.016/2009. f) Ação Civil Pública: art. 129, III, da CF + art. 5º da Lei n. 7.347/1985. Habeas Corpus ØArt. 5º, LXVIII, da CF: “conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”. ØNão há lei específica regulamentando-o. Cabe ao CPP e à jurisprudência estabelecer as condições específicas de sua utilização. Habeas Corpus – Origem ØOrigem: §Presente desde a Magna Carta inglesa de 1215. §Embora não estivesse expresso em seu texto, a Magna Carta previa a liberdade de locomoção. §O primeiro remédio a integrar as conquistas liberais. §Brasil: primeira menção no Decreto de 23 de maio de 1821 de D. Pedro I, enquanto príncipe regente: §Art. 1º: “desde sua data em diante nenhuma pessoa livre no Brasil possa jamais ser presa sem ordem por escrito do juiz ou magistrado criminal de território, exceto somente o caso de flagrante delito, em que qualquer do povo deve prender o delinquente”. Habeas Corpus – Origem ØOrigem: §A Constituição de 1824 não fazia menção ao habeas corpus, mas previa o direito à liberdade (art. 179, VIII): “VIII. Ninguém poderá ser preso sem culpa formada, excepto nos casos declarados na Lei”. §O HC foi formalmente criado pelo Código de Processo Criminal de 1832. §O HC não surgiu como ação constitucional, mas como uma ação infraconstitucional para tutela da liberdade de locomoção. §Na Constituição de 1891, foi elevada ao patamar de garantia constitucional (teoria brasileira do habeas corpus). Habeas Corpus – Origem ØOrigem: §Teoria brasileira do habeas corpus (1891): interpretação ampliativa ao instituto, inclusive para a proteção de direitos pessoais, e não só a liberdade física. §Art. 72, §22, da Constituição de 1891: “dar-se-á o habeas corpus, sempre que o indivíduo sofrer ou se achar em iminente perigo de sofrer violência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder”. §O HC tutelava quaisquer direitos, não só a liberdade de locomoção. §Por não haver ainda o mandado de segurança, o HC cumpria sua função atual. Habeas Corpus – Origem ØOrigem: §O HC foi limitado na reforma constitucional de 1926, e voltou a somente proteger a liberdade de locomoção. §Os demais direitos pessoais restaram sem uma proteção constitucional formal até a criação do Mandado de Segurança com a Constituição de 1934. §Após o fim da teoria brasileira do habeas corpus, em todas as Constituições subsequentes (1934, 1937, 1946, 1967 e EC 1/69) o habeas corpus recebeu previsão constitucional enquanto ação destinada à tutelar a liberdade de locomoção. Habeas Corpus – Natureza Jurídica ØNão é uma ação exclusiva do Processo Penal. ØO HC pode vir a ser manuseado nos casos de prisão civil decretada em razão do inadimplemento de pensão alimentícia. § “restando incontroversos os fatos impeditivos da prestação dos alimentos, fica afastada a possibilidade de prisão civil do alimentante. Ordem concedida” (STJ – 4ª Turma – HC 44.047-SP). Habeas Corpus – Natureza Jurídica ØApesar de não julgar crimes, até a Justiça do Trabalho pode julgar eventuais HC (art. 114, IV, CF). §Caso do jogador Gustavo Scarpa: impetrou HC junto ao TST, para se desvincular do contrato de trabalho anterior. § A liminar foi concedida pelo Min. Relator Alexandre de Souza Agra Belmonte: § “embora autoaplicáveis, os direitos fundamentais são efetivados inclusive por meio de garantias constitucionais, entre elas remédios heroicos de concretização, como mandado de segurança e habeas corpus. Assim, tem pleno cabimento o presente habeas corpus” (HC – 10000462-85-2018.5.00.0000, 25-6-2018). Habeas Corpus – Natureza Jurídica ØNão é recurso: ação / remédio constitucional. ØPorém, a jurisprudência reconhece a sua utilização enquanto um sucedâneo recursal. ØHá muita polêmica e, por vezes, há decisões divergentes a depender da situação. ØNão é considerado um recurso porque nem sempre será cabível contra uma decisão judicial. Por exemplo, pode vir a ser impetrado contra ato de delegado de polícia ou mesmo de um particular. Habeas Corpus – Natureza Jurídica ØHC enquanto um sucedâneo de revisão criminal: § “A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu, por unanimidade, o Habeas Corpus (HC) 139741 para restaurar o regime aberto imposto a uma condenada à pena de dois anos e seis meses por tráfico de drogas, com substituição por pena restritiva de diretos. O colegiado entendeu que, mesmo com o trânsito em julgado de condenação, as particularidades do caso autorizam a utilização do HC como substitutivo de revisão criminal” (2018). Habeas Corpus – Natureza Jurídica ØHC enquanto um sucedâneo de revisão criminal: § “Inadmissível o emprego do habeas corpus como sucedâneo de revisão criminal. Precedentes: RHC 123.813/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, 1ª Turma do STF, DJe 21.11.2014 e HC 121.255/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª Turma, DJe 1.8.2014.” (AG. REG. NO HABEAS CORPUS 137.741/RS) (2019). Habeas Corpus – Não cabimento ØDireito tutelado: liberdade de locomoção. ØHipóteses de NÃO cabimento do HC (exemplos): §para pleiteardireito à indenização. §para obter documentos. §para obter restituição de coisas apreendidas. §para discutir questão relativa à guarda de filhos. §para impugnar ato alusivo a sequestro de bens. §para discutir confisco criminal de bem. §para discutir o afastamento ou perda de cargo. §para atacar decisão de impeachment. §para restituição de documentos. §para questionar a sequência de processo administrativo. §para discutir direito de visita de filho menor. Habeas Corpus – Espécies ØEspécies: são definidas em razão do momento em que o HC é protocolado: §Preventivo: existe uma ameaça real de constrangimento à liberdade de locomoção, então o HC é impetrado antes da ocorrência da ilegalidade ou abuso de poder. §Repressivo: já houve o ato constrangedor que viola direta ou indiretamente a liberdade de locomoção, então o HC é impetrado após a ocorrência da ilegalidade ou abuso de poder. Habeas Corpus Preventivo ØCasos de HC Preventivo (exemplos): §para reconhecimento do direito ao silêncio. §para evitar novas prisões pela prática reiterada de prostituição. §para evitar intimação de índio, deslocando-o da reserva indígena. §para evitar futura prisão em decorrência de eventual condenação em 2ª Instância. Habeas Corpus Preventivo ØJulgado procedente o HC preventivo, será concedido pelo juiz o salvo-conduto. ØSalvo-conduto: decisão que determina que, por aquela razão, o indivíduo não poderá ser privado da sua liberdade. §Art. 660, §4º, do CPP: “se a ordem de habeas corpus for concedida para evitar ameaça de violência ou coação ilegal, dar-se-á ao paciente salvo-conduto assinado pelo juiz”. Habeas Corpus Repressivo ØHabeas Corpus Repressivo: o constrangimento à liberdade de locomoção já ocorreu e pode ser: §Direto: já existe uma prisão ou uma ordem de prisão. § Indireto: já existe, por exemplo, um inquérito policial irregular ou um processo irregular, que poderão redundar posteriormente na restrição à liberdade de locomoção. Habeas Corpus Repressivo ØJulgando-se procedente o HC repressivo, é possível: §Concessão de alvará de soltura: caso o paciente já esteja preso. §Contramandado de prisão: caso o paciente não esteja preso, mas haja um mandado de prisão contra ele. §Trancamento da ação penal ou do inquérito policial: em caso de irregularidade em um desses procedimentos. Habeas Corpus Repressivo ØJurisprudência do STF sobre o trancamento de ação penal por meio de habeas corpus: Ø“o trancamento da ação penal, em habeas corpus, constitui medida excepcional que só deve ser aplicada quando indiscutível a ausência de justa causa ou quando há flagrante ilegalidade demonstrada em inequívoca prova pré-constituída” (RHC 95.958, rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 18-8-2009, 1ª T., DJE 4-9-2009). Habeas Corpus – Partes ØPartes do HC: § Impetrante: qualquer pessoa, não havendo sequer a necessidade de constituir advogado. Permite-se a legitimação extraordinária ou substituição processual (defesa em nome próprio de direito alheio). §Art. 1º, § 1º, do Estatuto da OAB (Lei n. 8.906/94): “não se inclui na atividade privativa de advocacia a impetração de habeas corpus em qualquer instância ou tribunal”. §Se ajuizado por advogado, o HC não necessita de procuração, tendo em vista se tratar de hipótese de legitimação extraordinária ou substituição processual. Habeas Corpus – Partes ØPartes do HC: §Paciente: a pessoa física (humana) que está sofrendo a ilegalidade ou abuso de poder contra a sua liberdade de locomoção. §Não poderá ser manuseada para proteger pessoa jurídica ou animais (entendimento atual dos Tribunais). §O STF entende que, atualmente, é cabível o uso do HC Coletivo, apesar de não haver disposição legal expressa. §Deve-se usar a Lei do Mandado de Injunção por analogia (Lei n. 13.300/2016). Habeas Corpus – Partes ØPartes do HC: § Impetrado: a autoridade pública responsável por praticar a ilegalidade ou abuso de poder. §Exemplos de autoridade pública cujo ato ilegal pode ser atacado por meio de HC: §Magistrado. §Delegado de Polícia. §Membro do MP. §Particular (excepcionalmente). §Síndico no condomínio (excepcionalmente). Habeas Corpus – Jurisprudência ØAusência do risco de prisão: §Súmula 693 do STF: “Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal que a pena pecuniária seja a única cominada”. ØCompetência: § “A competência para o processo e julgamento do habeas corpus obedece ao princípio da hierarquia. Não pode se reputar competente o mesmo juiz que autorizou a coação, ou que a ordenou, nem o seu igual, nem, a fortiori, o juiz inferior a ele. As leis porfiaram em dar forma a esse princípio” (TJSP, RHC, rel. Felizardo Calil, RT 54/364). OBRIGADO!
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