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Marília 2018 ANDREIA GALHARDI GINEZ SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO TARDIA NO BRASIL Marília 2018 A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO TARDIA NO BRASIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Pitágoras Unopar, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Tutora Orientadora: Prof.ª Lygia Mariane Bordonal Professora: Prof.ª Ms. Maria Ângela Santini ANDREIA GALHARDI GINEZ Dedico este trabalho à minha família que vibrou com todas as minhas vitórias e me ajudou a superar todos os obstáculos que apareceram. AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus que me permitiu chegar até aqui, e que mostrou desde o começo que com confiança Nele tudo acontece. Agradeço ao meu esposo que de forma especial е carinhosa me deu força е coragem, me apoiando nos momentos de dificuldades. A minha família, que foi sempre o meu maior apoio, que me incentivou e cobrou, nunca me deixando desistir. A minha professora Prof.ª Orientadora Lygia Mariane Bordonal pela paciência e por transmitir seus conhecimentos, fazendo com que meu Trabalho de Conclusão de Curso se tornasse uma experiência positiva e concreta As minhas amigas de graduação que com sua companhia me fizeram persistir alegre na caminhada. E a todos os demais que, direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigado. GINEZ, Andréia Galhardi A Intervenção do Assistente Social no processo de adoção tardia no Brasil. 2018. 52 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso em Serviço Social – Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas, Universidade Pitágoras Unopar, Marília, 2018. RESUMO O presente trabalho trata-se compreender o processo de adoção tardia e as fragilidades que a permeiam, conceituando a relevância do Assistente Social neste processo junto ao Judiciário, bem como analisar os entraves e preconceitos comuns ao processo de adoção. A quantidade de famílias que querem adotar supera a de crianças que estão esperando um lar, mas são poucos os pretendentes à adoção de crianças de mais idade e de adolescentes. Assim, discorrerá sobre o tema, numa fundamentação teórica, baseada nos ensinamentos de autores que já escreveram acerca do assunto, iniciando-se pelo contexto histórico da adoção, sua evolução no campo jurídico bem como a legislação brasileira chegando até os dias atuais. Em sequência, se fez necessário contextualizar a trajetória do Serviço Social e sua relevância nos tramite jurídicos da adoção e as contribuições da profissão no processo de adoção. O método de abordagem será a revisão bibliográfica, onde será possível compreender a intervenção do profissional como, também, as principais dificuldades encontradas pela profissão acerca da questão da adoção tardia. Palavras-chave: Adoção tardia; Perfil dos pretendentes; Serviço Social. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ADCT Ato das disposições constitucionais transitórias ART Artigo CF/88 Constituição Federal de 1988 CFESS Conselho Federal de Serviço Social CIJ-PR Coordenadoria da Infância e da Juventude do Paraná CLT Consolidação das Leis Trabalhistas CNA Cadastro Nacional de Adoção CNJ Conselho Nacional de Justiça CONSIJ-PR Conselho de Supervisão dos Juízos da Infância e da Juventude do Paraná ECA Estatuto da Criança e do Adolescente LOAS Lei Orgânica da Assistência Social SUAS Sistema Único de Assistência Social SUS Sistema Único de Saúde TJ Tribunal de Justiça SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 7 2 ADOÇÃO ................................................................................................................ 10 2.1 Breve histórico da Adoção ............................................................................... 10 2.2 História da Adoção no Brasil .......................................................................... 11 2.3 A intermediação do judiciário na Adoção ...................................................... 12 2.4 Considerações sobre o ECA ........................................................................... 15 2.5 Adoção após o reformulação do ECA ............................................................ 16 2.6 Nova lei da adoção, Lei 13.509/2017 ............................................................... 20 3 ADOÇÃO TARDIA: Mitos e preconceitos ........................................................... 23 3.1 Perfil da adoção ............................................................................................... 24 3.2 A lentidão do procedimento da adoção sobre os aspectos jurídicos ......... 28 4 A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL .................................................. 31 4.1 Breve percurso histórico do Serviço Social .................................................. 32 4.2 A inclusão do serviço social no judiciário ..................................................... 34 4.3 A intervenção do assistente Social no processo de adoção tardia ............ 39 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 46 6 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 48 7 1 INTRODUÇÃO O assunto da adoção se fez presente em nossa sociedade há tempos, pois mesmo que não se trate de uma origem biológica, este ato traduz-se num instinto de paternidade, maternidade e filiação e testifica a possibilidade da construção do vínculo afetivo, trazendo à família e ao adotando vínculos de apego, afeto e amor. O que se pode visualizar é que no Brasil muitas crianças e adolescentes são abandonados e rejeitados pelos pais, na qual alguns desses são criados e educados em lares assistenciais, que são mantidos pelo Estado ou por associações não governamentais ou religiosas. Todavia, alguma dessas crianças consegue ser adotadas por famílias e recebem um lar, mas, infelizmente, grande parte delas, não detém desse direito. Dessa forma, destaca-se o processo de adoção tardio e as fragilidades que o permeiam, onde se pode conceituar a relevante atuação do Assistente Social neste processo em benefício do adotante e do adotado. Assim, surgem dificuldades, necessidades, preconceitos, que geram desmotivações das famílias adotivas na adoção de crianças maiores, tornando lento esse processo. Segundo as autoras Vargas (1998) e Weber (1998), consideram tardias as adoções de crianças com idade superiores a de dois anos de idade, e a necessidade de ampliar o conhecimento e as particularidades do profissional de Serviço Social frente à adoção tardia. Considerando que o poder familiar sobre criança e/ou adolescente deve ser exercido prioritariamente pela família biológica e, somente na impossibilidade dessas exercer a proteção integral a eles, o Estado deve agir para sanar esta situação de vulnerabilidade. Sabe-se que o processo de adoção ocorre quando crianças e/ou adolescentes não tem mais o vínculo com a família biológica e, assim, surge à necessidade da colocação destes em uma família substituta, considerado que o Assistente Social é de suma importância para concretização desse processo. Dessa forma, o objetivo do presente projeto é compreender a grande disparidade entre as crianças disponíveis para adoção e o númeropara estruturar o serviço social nas Varas de Menores, que elaborava uma proposta de reformulação do Código de Menores. Houve também nesse período uma exigência da parte da sociedade, ao se tratar do menor, que o juizado realizasse uma ação tutelar ao invés de policial. A partir de então, o Serviço Social passou a ser integrado em vários serviços e foram também criados outros serviços para atender a demanda do menor (FUZIWARA, 2006). O Serviço Social passa por uma fase de questionamentos a respeito do fazer profissional, conhecido como Movimento de Reconceituação, ocorrido no período da ditadura militar, onde o Serviço Social se posiciona com propósito de romper com o 36 conservadorismo, pensando em um modelo novo de atuação (MEIRA, 2017). Na concepção do judiciário: Os estudos sobre o Movimento de Reconceituação e a renovação da profissão, sob a perspectiva da tendência de ruptura com o conservadorismo, trazem elementos que permitem afirmar que no Judiciário Paulista, na década de 70, houve tentativas nesse sentido, por parte dos profissionais inseridos naquele processo. Esta inserção evidencia que houve uma direção técnica de cunho desenvolvimentista. A preocupação com os instrumentos e métodos de intervenção, mas, sobretudo com o planejamento e a execução do atendimento direto aos menores é visível em alguns documentos do Judiciário (FUZIWARA, 2006, pp. 20-21). Segundo Fuziwara (2006), no período ditatorial, o Judiciário sofreu reestruturação e o Serviço Social inserido nessa instituição, foi fortemente influenciado, ainda que com relutância. Almejava definições sobre a atuação do assistente social, buscando obter qualificações como perito judicial. No âmbito judiciário, com o segundo Código de Menores de 1979, o espaço do Serviço Social já estava consolidado, mas manteve práticas assistencialistas e repressivas junto à infância e a adolescência, conforme amparava a nova Lei (BRASIL, 1979). Houve, portanto, um aumento das demandas relacionadas à criança e ao adolescente, e para dar conta dessa questão, aconteceu o concurso público para assistentes sociais no Estado de São Paulo (FÁVERO et al., 2015). O Serviço social passou por mudanças entre os anos de 1980 e 1990, onde buscou romper com o conservadorismo, adquirindo fundamento nas teorias marxista. Nessa mesma conjuntura, a Constituição de 1988 incluiu a Assistência social no eixo da Seguridade Social, junto com a Saúde e a Previdência, formando o tripé, onde é marcada a transição do assistencialismo para o status de direito adquirido de todo cidadão e agora dever do Estado, conforme previsto no artigo 203 (MEIRA, 2017). Para Rosa (2006) “É a Constituição Federal de 1988 que marca a ruptura legal do assistencialismo na execução das políticas de assistência social, bem como, com o paradigma da benemerência, da ajuda moral e do favor”. Ou seja, a Constituição marca a transição do assistencialismo para o status de direito adquirido ao cidadão e dever do Estado, o qual pode considerar um grande marco na história do Brasil (MEIRA, 2017). Em todo o mundo aconteciam manifestações em defesa dos direitos. Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA foi resultado de um processo de 37 pressões e reivindicações sociais, onde juntamente com os movimentos sociais, o Serviço Social lutou pela ampliação dos direitos e por sua garantia em lei (BORGES, et al., 2014). Desse modo, o Serviço Social teve uma importante participação na elaboração e na defesa do ECA, que se constitui como uma legislação muito avançada, no que diz respeito às garantias formais dos direitos da infância e adolescência, que alterou significativamente a forma como era vista a questão da infância (BORGES, et al., 2014). O trabalho do assistente social no Judiciário está descrito no art. 151 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA: Art. 151 do ECA – Compete à equipe interprofissional, dentre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico (BRASIL, 1990). A regulamentação da profissão pela lei nº 8.662 no ano de 1993 foi o grande marco para o Serviço Social e também o ano onde foi aprovada a Lei 8.742 que regulamentou a Assistência Social, intitulada Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), que veio consolidar a assistência social como direito, ao definir as seguintes diretrizes: descentralização político-administrativa, municipalização, comando único, controle social e participação popular (ROSA, 2006). Art. 203 da Lei 8662/93 - A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição a seguridade social, e tem por objetivos: I - A proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - O amparo às crianças e adolescentes carentes; II - A promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - A habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - A garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprove não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a Lei (BRASIL, 1993). Assim, referida a Justiça, mesmo tendo como fonte primária a Lei, compreendeu que o campo de atuação do assistente social não se limita apenas ao direito, requerendo uma intervenção multidisciplinar, que proporcionou a abertura para que profissionais de outras áreas, como assistentes sociais e psicólogos, passassem a auxiliar no encaminhamento dos problemas enfrentados. O judiciário 38 foi o primeiro órgão público a contratar assistentes sociais formalmente (BORGES, et al., 2014). Segundo Fuziwara (2006), hoje tem atribuições em diversos espaços no jurídico; [...] hoje o Serviço Social atua em várias frentes e suas atribuições não se resumem apenas em situações relacionadas as medidas judiciais. Atuando em conformidade com os princípios éticos norteadores da profissão, tem contribuído para implementação de projetos e programas na área da saúde mental e vocacional, reavaliação funcional, capacitação e treinamento etc., funções estas que envolvem conhecimento das vivencias socioeconômicas e culturais dos sujeitos e de como reagem às diferentes manifestações da questão social na sua vida cotidiana (FÁVERO et al., 2015, p. 51). Foi a partir dos anos 2000 que esses outros espaços da justiça se abriram para o Serviço Social, como o Ministério Público e Defensoria Pública, instituições que assumem funções na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais. Atualmente faz-se o uso do termo ‘sociojuridico’ para a compreensão da atuação profissional nesse espaço institucional (MEIRA, 2017). A inclusão profissional do serviço social no campo sóciojurídico é vastíssima, trata-se de um amplo campo de atuação, desempenha um papel preventivo importante, quando identifica situações de risco a exigir imediata resposta jurisdicional (MEIRA, 2017). Como instrumento de trabalho segundo Fávero (2008), o assistente social judiciário utiliza de quatro formas de efetivar a atuação profissional: estudo social, perícia social, relatório social, laudo social e parecer social. O Serviço Social na instituição se coloca como uma ligação, entre a família e o adotando, possibilitando que a adoção aconteça dentro das conjecturas legais. Consequentemente proporciona um espaço de escuta qualificada, acolhimento, orientação e esclarecimentos, de forma a guardar pela efetivação dos direitos e na medida do possível desburocratizar o processo de adoção (MOURA, 2012).O processo de adoção tardia apresenta-se como um dos mais importantes na área da Infância e da Juventude, visto que objetive a colocação de criança ou adolescente em lar substituto, de forma definitiva e irrevogável. Manifesta-se desta forma, como um processo que requer conhecimento da lei, compreensão do desenvolvimento emocional do ser humano a partir do início da vida e também experiência no estudo social do caso (FERREIRA, 2002). O trabalho do Assistente Social no Poder Judiciário tem um caráter proativo, construindo um espaço para operacionalização dos direitos. Observa-se que o 39 profissional intervém em situações como, colocação em família substituta; elaboração dos cadastros para adoção; nas hipóteses de crianças e adolescentes em situação de risco; nos procedimentos relativos a atos infracionais, inclusive quanto ao acompanhamento do cumprimento das medidas socioeducativas ou protetivas e em qualquer outra situação que se mostre necessária (FERREIRA, 2002). 4.3 A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO TARDIA A evolução da adoção em todo seu processo “designa um acompanhamento multidisciplinar, formadas por psicólogos, assistentes sociais e pedagogos no atendimento dos adotantes, pautados nas legitimações estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e que direcionam as ações profissionais do serviço social a constante participação e acompanhamento das análises dos processos e também da adoção em si” (SCHMITZ, MELCHIOR, 2014, p. 07). Conforme Ferreira (2010), o papel da equipe multidisciplinar é de identificar o interesse dos pretendentes à adoção. Deve utilizar-se de todos os meios disponíveis para o melhor desenvolvimento de seus trabalhos, analisando com cautela as partes do processo (pretendentes à adoção e genitores biológicos, quando estes forem conhecidos) e a criança ou adolescente a ser adotado, que quando possível, deve ser entrevistado, pois sua opinião deve ser considerada, em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será também necessário o seu consentimento, conforme determinação legal presente no ECA, art. 28, §1º, e 45, §2º. Por isso, para Ferreira (2010). Um estudo social, ou perícia, realizado com base nestes fundamentos, possibilita a determinação do interesse da criança, ou do adolescente, auxiliando na solução jurídica que melhor atenda ao adotando, ou a que seja menos ruim para o seu desenvolvimento (FERREIRA, 2010, p. 62). Para Ferreira (2010), então, o processo de adoção se constitui como um dos mais importantes na área da Infância e da Juventude, por objetivar a colocação de crianças e adolescentes em lar substituto, de maneira definitiva e irrevogável. Dessa forma, o autor considera ser complexa a intervenção dos profissionais diante do processo de adoção, haja visa a visão “multifocal do problema”, ou seja, 40 não só dos pretendentes à adoção, mas também, e principalmente, das crianças e adolescentes que podem ser adotados e em fases distintas no processo de adoção. O procedimento de adoção depende de uma verificação previa dos requisitos formais e materiais do pretendente a adoção. Este deve recorrer previamente sua habilitação, na Vara da Infância e Juventude competente, seguida de entrevistas com psicólogo e o assistente social e visitas domiciliares, os quais emitem um laudo sobre habilidade e o perfil do adotando desejado, seguindo de um parecer do Ministério Público. Segue-se a decisão do juiz, concedendo ou não a habilitação, cuja formalização é a entrega do Certificado de Habilitação (SIMÕES, 2009). Destacam-se as etapas para a adoção: a realização do estudo social; elaborar investigação-diagnóstica; laudos sociais; perícias; relatórios a partir das técnicas de entrevistas no Fórum com os pretendentes à adoção, com as crianças individualmente ou em instituições de acolhimento; bem como realizar visitas domiciliares ou institucionais de observação; realizar análises de documentações, de informações e do contato com entidades ou órgãos que promovam o bem-estar social, conforme a solicitação demande (MEIRA, 2017). De acordo com Fávero (2008, p.51), “é o Assistente Social que pode trazer à tona a dimensão da totalidade do sujeito social (ou sujeitos) que, juridicamente, se torna “objeto” da ação judicial”. Dito de outro modo é o olhar diferenciado para os sujeitos, as situações que cotidianamente se apresentam para o profissional e a forma como utilizam os seus instrumentais, apropriando-se adequadamente das categorias instrumentalidade e mediação e utilizando a sua capacidade teleológica, que tornam a atuação do Assistente Social diferenciada dos demais profissionais que com ele atuam no mesmo espaço de trabalho (CORDEIRO et. al., 2017). O processo de adoção se apresenta inicialmente por uma fase extraprocessual, a qual se constitui como “uma fase preliminar de preparação e inscrição das partes interessadas em adotar (cadastro de interessados à adoção)” (FERREIRA, 2010, p. 96). Ferreira (2010) afirma que nessa fase, também, cabe ao profissional realizar uma análise da situação da criança ou do adolescente que porventura necessite ser colocado em lar substituto. Outra fase em que se observa a prática profissional é o processo de adoção propriamente dita que: 41 A intervenção técnica, no processo adotivo, tem por objetivo específico verificar se os requerentes reúnem condições sociais e psicológicas para assumir a adoção e se é caso de a criança ou o adolescente ser colocado à disposição para adoção e se é conveniente esta colocação (FERREIRA, 2010, p. 97). As pessoas interessadas em adotar devem participar de um curso preparatório, orientado pela equipe multidisciplinar da Justiça da Infância e da Juventude, composta por assistentes sociais e psicólogos. Trata-se de um trabalho que visa o preparo dos interessados quanto às questões referentes à motivação pessoal, revelação, preconceitos, busca do perfil, fases do desenvolvimento infantil, procedimento judicial da adoção (ROLIM, 2012). Assim, o curso para os pretendentes a adoção tem o objetivo de esclarecer todas as dúvidas possíveis e mitos criados em torno da adoção, tratando de todas as orientações e procedimentos que devem ser seguidos. Esta preparação é de suma importância, pois proporciona uma reflexão e amadurecimento sobre o instituto da adoção (ROLIM, 2012). Nessa etapa da preparação para adoção, cabe ao Assistente Social, além da realização do curso preparatório, a realização de sindicâncias e visitas domiciliares, no intuito de ter uma proximidade e conhecimento a respeito do ambiente doméstico e familiar dos pretendentes à adoção. Neste momento que o Assistente Social busca orientar, esclarecer os mitos e desmitifica a todo entorno relacionado à adoção a adoção tardia e a busca do perfil. Após a fase preparatória e terem o nome inscrito no Cadastro Nacional de Adoção, é iniciada a etapa seguinte, que é o processo de adoção propriamente dito, que deverá seguir as determinações que constam conforme os artigos 165 a 170 do ECA. Sendo novamente realizados entrevistas e estudos sociais ou perícia. A respeito das entrevistas destaca Fávero (2008), esta visa conhecer as motivações e expectativas dos candidatos à adoção. A entrevista pode ser feita geralmente com casal, individualmente ou quando necessário em família. Para a autora, a escolha do tipo de entrevista se dá pela especificidade da situação. Fávero (2008) acrescenta: A entrevista é um importante instrumento e realizá-la em condições ambientais favoráveis adequadas, que garantam a sua natureza confidencial e com prazo suficiente para repeti-la quantas vezes for necessário, é fundamental para o entendimento das situações na sua complexidade, garantindo que os entrevistados estejam em 42 condições emocionais favoráveis para participarem desse atendimento(FÁVERO, 2008, p. 121). O estudo social feito pelo Assistente Social no processo de adoção objetiva possuir subsídios que possibilite a averiguação do preparo e capacidade dos pretendentes à adoção. É neste momento que é exigido do assistente social que assumiu o referencial proposto pelo atual projeto ético político uma atitude primeiramente investigativa e depois interventiva (SOUZA, 2013). O Assistente Social por meio da observação procura identificar a real intenção e interesses dos pretendentes a adoção, e através da mesma que o profissional vai analisar seu comportamento durante a elaboração do estudo social. No estudo de social o assistente social pode utilizar-se de alguns instrumentos operativos como, por exemplo, a visita domiciliar, entrevistas, estudo de documentos e a observação. Independente do instrumento utilizado é fundamental que o assistente social se comprometa com uma intervenção crítica e investigativa. Por meio da realização de visitas domiciliares tem-se o objetivo técnico- metodológico e socioeconômico de aproximação do profissional à realidade da família, buscando as informações necessárias para o caso a ser estudado e analisando os dados coletados. Os aspectos a serem observados são: a composição familiar e os membros que dela fazem parte, a aceitação desses membros, se já possui histórico de adoção na família, se todos estão de acordo com a intenção da adoção, condição sócio-econômica em que o interessado se encontra, se possui emprego, sua situação habitacional (ROLIM, 2012). A visita domiciliar permite o contato direto com a realidade a ser investigada e possibilita o conhecimento e apreensão da vida dos sujeitos envolvidos e dos adotantes. A observação é um dos instrumentos mais importantes que o assistente social utiliza para identificar a real intenção das partes que pretendem adotar, vez que será através da observação que o profissional vai averiguar o comportamento dos mesmos e elaborar o estudo social (GONÇALVES, 2014). O profissional que é ciente de que a criança ou o adolescente carrega um histórico regresso, muitas vezes de experiências traumáticas, lembrança dos pais biológicos, e em muitos casos lembranças de grande afeição, e a inserção em uma família substituta deve ser pautada na adaptação da criança à nova família, à nova casa, às novas relações. O assistente social também orienta os pretendentes no que 43 se refere à adoção tardia, que caberá aos pais adotivos saberem lidar com o histórico de vida do filho, respeitando sua origem e identidade. Contudo, o que propõe no âmbito do Serviço Social é justamente a produção de um conhecimento que rompa com a mera aparência e busque apreender o que está “por trás” dela, sua essência. Para isso, é fundamental que o profissional sempre mantenha uma postura crítica, questionadora, não se contentando com o que aparece a ele imediatamente (SOUZA, 2013). O Assistente Social atua como um perito, fornecendo subsídios técnicos na sua área de competência profissional para a decisão judicial. Assim requer não somente responsabilidade teórica e técnica, mas envolve um compromisso com a população alvo desses serviços, cujas vidas podem sofrer consequências dessa atuação profissional (BORGES, et al., 2014). Conforme Simões (2009): O procedimento de adoção depende de uma verificação previa dos requisitos formais e materiais do pretendente à adoção. Este deve recorrer previamente sua habilitação, na Vara da Infância e Juventude competente, seguida de entrevistas com psicólogo e o assistente social e visitas domiciliares, os quais emitem um laudo sobre habilidade e o perfil do adotando desejado, seguindo de um parecer do Ministério Público. Segue se a decisão do juiz, concedendo ou não a habilitação, cuja formalização é a entrega do Certificado de Habilitação (SIMÕES 2009, p. 230). Nesse sentido, o acompanhamento não se limita no deferimento da adoção, pois é necessário conduzir gradativamente este acompanhamento no tempo estabelecido até a adequação e adaptação da criança e das famílias adotantes, por se tratar de uma fase de mudanças que devem se reacomodar ao se integrar ao novo ambiente familiar (DEPIERI, 2015). A intervenção técnica no processo adotivo tem por objetivo específico verificar se os requerentes reúnem condições sociais e psicológicas para assumirem a adoção e se é o caso da criança ou do adolescente ser colocado à disposição para adoção. Assim, a intervenção técnica no processo adotivo é complexa, assumindo uma visão multifocal do problema, ou seja, não só dos pretendentes à adoção, mas também (e principalmente) das crianças e adolescentes adotáveis e em fases distintas, promovendo um novo olhar sobre a adoção (FERREIRA, 2002). Já a intervenção profissional, conforme compreendido dentro das vertentes supracitadas, inserida no âmbito da adoção, tem por base o ECA, a fim de buscar o bem-estar social para crianças ou adolescentes que se encontram disponíveis para serem integrados em família substituta, conforme o art. 197-C da Lei 12.010/2009 44 (FERREIRA, 2002). Assim, reza a lei 12010/2009: Art. 197-C da Lei 12.010/2009 - Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios desta Lei (BRASIL, 2009). Segundo Weber (2011), além da competência técnica atribuída ao assistente social no processo investigativo através de instrumentos de análise do estudo social e do acompanhamento das famílias, exercendo sua função acerca das dimensões atribuídas ao conhecimento teórico metodológico e da prática acumulada do saber fazer com a situação a ser estudada. O estudo social se apresenta como um suporte fundamental para a aplicação de medidas judiciais dispostas no Estatuto da Criança e do Adolescente e na legislação referente à família (SILVA, 2016). Assim, segundo Fávero (2003, p. 31) “na realização do estudo, o profissional pauta-se pelo que é expresso verbalmente e pelo que não é falado, mas que se apresenta aos olhos como integrante do contexto em foco”. Fávero (2003) enfatiza ainda que o estudo social é um processo específico do Serviço Social, a qual objetiva conhecer de forma crítica e profunda determinada realidade. Destaca ainda que: [...] de sua fundamentação rigorosa, teórica, ética e técnica, com base no projeto da profissão, depende a sua devida utilização para a garantia e ampliação de direitos dos sujeitos usuários dos serviços sociais e do sistema de justiça (FÁVERO, 2003, p. 43). Após esse estudo, as Assistentes Sociais juntamente com as Psicólogas, darão prosseguimento ao processo com a elaboração do parecer social. Em seguida, esse documento é encaminhado para apreciação do Ministério Público e, em seguida, é encaminhado para parecer judicial. Nesse momento, é realizada audiência judicial para que os autos do processo sejam analisados e a autoridade judiciária profira a sentença judicial. Sendo essa sentença deferida, será emitida a averbação para a emissão de novo registro de nascimento, conforme art. 47, §3º do ECA. Na ocasião, poderá ocorrer a alteração do nome e prenome do adotado, conforme art. 47, §5º e 6º do ECA (BRASIL, 1990). 45 A intervenção do assistente social se dá antes, durante e após o procedimento da adoção, pois situações novas podem acontecer, como é uma experiência nova para ambos, tais como insegurança, sentimentos de incapacidade para exercer a função de pais, receio por parte dos pais adotivos em relação aos pais biológicos sempre visando o bem estar da criança ou adolescente adotado (FERREIRA, 2010). Segundo Schmitz e Melchior (2014): [...] o acompanhamentodo assistente social na prática adotiva e pós parecer social, torna-se indispensável e oportuno à relação familiar, onde o profissional do serviço social concomitantemente trabalha o particular e o grupo familiar e orientação aos mesmos na perspectiva do fortalecimento de um novo vínculo afetivo (SCHMITZ; MELCHIOR, 2014, p. 08). O Assistente Social deve ser um profissional crítico, além da imparcialidade, expondo sempre seu ponto de vista técnico, sendo assim, peça fundamental para a construção de um instrumento mais complexo e lutando para que os preconceitos impostos pela sociedade sejam minimizados (RIBEIRO, 2016). A adoção infelizmente ainda é cercada de preconceitos, seja pelo fato de adotar uma criança/adolescente, ou pelo perfil do criança/adolescente que se encontra a espera de uma família. É inegável a relevância deste profissional e todos, inclusive os próprios, devem estar cientes de quanta responsabilidade carregam em seu trabalho (RIBEIRO, 2016). 46 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a presente pesquisa pode-se entender que a função do Assistente Social no processo de adoção tardia aliada ao Poder Judiciário e, assim, analisar quais as questões positivas em relação a essa demanda. Assim, observou-se que a ação do profissional do Serviço Social é de sua importância, já que, é por meio dele que há a primeira ligação com os pretendentes à adoção, além de ser ele o que possui a aptidão técnica de consultar o perfil da família e fornecer seu parecer. Almejou-se demonstrar a contribuição prática desse citado profissional, destacando a parte histórica de sua profissão junto ao contexto jurídico, ressaltando as competências inerentes a ele no que tange o processo de adoção, além dos instrumentos e procedimentos usados em sua atuação, ressaltando as barreiras enfrentadas para que se efetive sua participação no processo de adoção tardia. Constatou-se a prevalência da ideia de que o processo é lento, sendo que, a grande fragilidade ainda visível, no Brasil, é o paradoxo acerca da adoção tardia, sendo que muitos que querem adotar preferem crianças menores de dois anos, na qual permite concluir que cresce o número de candidatos à adoção nas instituições. A doutrina civilista sobre adoção é tida como avançada e prevê em seu bojo o interesse do menor. Nesse sentido, ficou evidenciado que a concretização da mediação entre Estado e sociedade, tendo esta um valor determinante, uma vez que adotar é um ato de opção dos pretendentes. O obstáculo está colocado para os profissionais que atuam com essa problemática e, de igual modo, para a sociedade como um todo, que necessita de maior informação e sensibilidade para a adoção tardia. Por esse prisma, destacou o relevo da atuação do Assistente Social no processo de adoção cujo principal objetivo é responder às demandas dos usuários dos serviços solicitados, tutelando o acesso das partes envolvidas aos direitos elencados nas leis vigentes, com o intuito de intervir no benefício das condições de vida da criança e ou adolescente nesse processo. Ademais, demonstrou-se que a atuação do Assistente Social, no Judiciário, pode se dar por meio de perícias e estudos sociais, na qual estes profissionais podem intervir no processo de adoção, dando um norte ao caso de forma profissional e legal, o qual é preciso realizar um trabalho sistemático e ininterrupto, podendo ser desenvolvido juntamente com rede social de apoio. 47 Salientou-se, também, que o Assistente Social é um profissional focado sempre na construção de ideais que propiciam representar pontos positivos para a sociedade, pois utiliza tanto dos meios quanto das possibilidades que lhe são dadas a fim de que possa efetivar a sua missão profissional, deixando sempre em evidência a efetivação dos direitos das partes. 48 6 REFERÊNCIAS ARAÚJO QUEIROZ, Ana Cláudia; BRITO, Liana. Adoção tardia: o desafio da garantia do direito à convivência familiar e comunitária. Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 12, n. 1, 2013. BERNARDINO, Karine de Paula; FERREIRA, Carolina Iwancow. 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Além disso, será realizada uma abordagem sobre o processo de adoção e seus trâmites, a partir da concepção do profissional Assistente Social que se apresenta como algo preponderante em todo o processo de adoção, uma vez que é o profissional que faz a intermediação entre os envolvidos, fato que reforça ainda mais a responsabilização e o rigor técnico e teórico mediante a prática profissional. Nesse viés, justifica-se, para tanto, demonstrar a importância no campo do Serviço Social em relação à adoção tardia, uma vez que os profissionais dessa área contribuem significativamente na oferta desse direito, seja na discussão e orientação aos pais que buscam a adoção tardia e entender a implicação na constituição da subjetividade da criança e os impactos que isso lhes causam. Seguindo esse panorama, o presente trabalho foi estruturado da seguinte forma, ou seja, o primeiro capítulo aborda a adoção e seu percurso histórico, contextualizando a história da adoção no Brasil e sua evolução desde suas primeiras leis até os dias atuais, com as respectivas alterações no ordenamento jurídico que rege a adoção no Brasil atualmente, como o Estatuto da Criança e do Adolescente e suas reformulações. No segundo capítulo serão apontados esclarecimentos acerca da modalidade de adoção tardia, bem como os mitos e preconceitos, perfil dos pretendentes e a lentidão dos procedimentos jurídicos que fazem necessários para referendar a presente pesquisa. No capítulo final, será abordada a atuação profissional, o resgate histórico da profissão, a inclusão do Serviço Social no Judiciário e a intervenção do Assistente Social na adoção tardia. Ademais, salienta-se que é visível a atuação efetiva dos profissionais da Assistência Social durante toda a etapa da adoção e pós-adoção, pois tal fato está previsto em legislações próprias. A fim de se alcançar os objetivos propostos, o tipo de pesquisa utilizada foi a explicativa, já que visa identificar a atuação profissional do Assistente Social inserido no contexto da adoção, pois conforme Gil (2002), sendo esse tipo de pesquisa a que mais aprofunda o conhecimento da realidade, por explicar a razão e o porquê das coisas. Por fim, destaca-se que a pesquisa realizar-se-á sob o enfoque dedutivo, e fundar-se-á no levantamento bibliográfico. Portanto, espera-se contribuir para o entendimento acerca da adoção tardia e 9 encorajar novos estudos nessa área, tendo sempre como meta preferencial o direito da criança e do adolescente a uma convivência familiar e comunitária que lhes proporcione desenvolvimento e o fortalecimento de sua personalidade. 10 2 ADOÇÃO Adoção tem um conceito muito amplo, sendo assim, vale analisar a origem da palavra para que se entenda seu significado. Tal palavra, deriva do latim ad = para + optio = opção, isto é, a opção que se tem de escolher um filho, ato deliberativo de vontade das partes apenas (SARAIVA, 1999). A adoção é um instituto milenar integrante dos costumes de quase todos os povos e sua definição e finalidade varia de acordo com a época e as tradições (OLIVEIRA, 2015). Frente a este conceito, buscando sua compreensão, se faz necessário elaborar um pequeno contexto histórico passando-se pela evolução temporal, iniciando-se nos primórdios de sua existência, especialmente, no Brasil, sua evolução jurídica até chegar aos dias atuais. 2.1 BREVE HISTÓRICO DA ADOÇÃO A prática da adoção tem raízes desde a antiguidade, povos como os Hindus, egípcios, persas, hebreus, gregos, romanos praticavam a adoção acolhendo crianças como filhos naturais no seio das famílias. No código de Hamurabi (1728- 1686 a.C.) a adoção já era aceita e considerada irrevogável a partir do momento em que o adotante empregou dinheiro e atenção (BERNARDINO; FERREIRA, 2013). A Bíblia relata a adoção como a de Moisés pela filha do faraó, Manes por Jacó e Ester por Mardoqueu. A ideia de adoção estava presente na Grécia Antiga, fundamentava-se no caso de que se uma pessoa morresse sem ter tido nenhum filho, esta pessoa podia beneficiar-se da adoção para que tradições como o culto aos deuses tivesse continuação. O adotado assumia o nome dos pais adotivos herdava seus bens, características que chegaram até a atualidade (BERNARDINO; FERREIRA, 2013). Na Roma antiga, era exigida a idade mínima de sessenta anos para adotantes e vedada à adoção aos que já tivessem filhos naturais, chegando a ser usada pelos imperadores para indicar sucessores. Existiram três tipos diferentes de adoção, o primeiro era a adoptio que compreendia na adoção de um incapaz para que desde cedo começasse a praticar os rituais e cultos realizados pelos adotantes (BERNARDINO; FERREIRA, 2013). O segundo tipo era a adrogatio que se estendia a família do adotado, o 11 Estado incentivava esse tipo de adoção para que o nome de uma família não fosse extinto. O terceiro tipo de adoção é chamado de adoptio per testamentum, que produzia efeitos pós-morte para a confirmação da cúria, este tipo de adoção causou muitas discussões, mas, apesar disto, grandes imperadores tomaram o poder a partir dela, como Otavio Augusto, César Otavino, Tibério, Nero e Justiniano (BERNARDINO; FERREIRA, 2013). Durante o império de Justiniano a adoção tornou-se mais fácil, passando a necessitar apenas de manifestação de vontade de ambas as partes. Em seu código existia o conceito de adoção "adoptio est actus solemnis quo in locum fili vel nepotis ad ciscitur quei natura talis non est" (Adoção é o ato solene pelo qual se admite em lugar de filho quem por natureza não o é). A mulher também podia adotar se a mesma tivesse perdido os filhos e com a mudança da visão social sobre a adoção, esta passou a ser uma alternativa para os casais estéreis (BERNARDINO; FERREIRA, 2013). Na idade Média a adoção acabou em desuso, em parte por influência da Igreja, neste período a sociedade era basicamente dividida em camponeses, clero e nobres. Títulos importantes eram passados pelos laços de sangue sendo inadmissível que um camponês ganhasse o título de nobre. Somente após o Código de Napoleão (1804) a adoção volta tornar se relevante, sendo que autorizava para pessoas maiores de cinquenta anos (BERNARDINO; FERREIRA, 2013). 2.2 HISTORIA DA ADOÇÃO NO BRASIL Foi apenas com o Código Civil de 1916 que a adoção recebeu as primeiras regras formais no país (BRASIL, 1916). Para Fávero (2007) no decorrer da história brasileira as dificuldades de sobrevivência contribuíram para que muitas mães, especialmente solteiras ou viúvas, abandonassem os filhos, introduzindo o conceito de abandono em suas crianças enjeitadas ou expostas. Para “atender” a essa questão do abandono na época da colonização brasileira foi adotado um costume trazido de Portugal as Santas Casas de Misericórdia, onde nestes lugares existia a roda dos expostos, ou roda dos enjeitados, sendo esta uma das formas de auxilio prestado pelo governo e sociedade às crianças lá deixadas (FREIRE et al., 2013). Esta roda consistia em uma porta giratória, acoplada ao muro da instituição, 12 com uma gaveta onde a criança ate sete anos de idade enjeitadas eram depositadas em sigilo, ficando as mães no anonimato (FREIRE et al., 2013). Essa medida foi tomada para diminuir os números de infanticídios, maus tratos e abandono seguido da morte da criança. O fechamento da última roda de nosso país ocorreu em 1950. Nas palavras de Justo (1997): As instituições asilares comumente denominadas "Orfanatos", "Lar" ou "Casa da Criança" persistem ainda hoje, embora com menor expressão do que em outros tempos,como um dos lugares da infância, a saber, da infância daquelas crianças que, por diversos motivos, foram desalojadas da guarda e do amparo familiar (JUSTO, 1997, p. 71). Os asilos também auxiliavam para evitar crimes morais, por protegerem as mulheres brancas solteiras dos escândalos, ao mesmo tempo em que oferecia alternativa ao infanticídio (FREIRE et al., 2013). Para Motta (2001) estes asilos preservavam a mulher da opinião pública sempre desfavorável, intolerante e hostil, não restando alternativa senão a entrega da criança o mais secretamente possível. A adoção no Brasil não era regulamentada juridicamente ate o século XX, sua pratica era permitida somente para casais que não tinham filhos biológicos, por meio da entrega de uma criança abriga na Roda dos Expostos. Os casais e as crianças se encontravam em situação de vulnerabilidade e insegurança por não terem nenhum direito jurídico assegurado, a criança por sua vez, não receberia herança de seus pais, somente em casos em que a família recorresse ao judiciário (KOZESINSKI, 2016). 2.3 A INTERMEDIAÇÃO DO JUDICIÁRIO NA ADOÇÃO A primeira legislação sobre adoção é promulgada na Lei 3.071 de 1916, no Código Civil Brasileiro, dentro do direito de família onde são formuladas as primeiras políticas públicas voltadas à proteção das crianças. Esta lei preconizava que a adoção poderia ser realizada apenas para pessoas ou casais sem filhos, deveria ter a idade mínima de 50 anos, limitando desta forma, as adoções para pessoas que não tiveram filhos biológicos (KOZESINSKI, 2016). A autora continua ao afirmar que se deveria existir uma diferença de idade entre os adotantes e os adotados de 18 anos, o adotante poderia ser uma única pessoa, mas caso fosse um casal, deveriam ser civilmente casados. Após a 13 maioridade da criança adotada, se ela e o adotante assim quisessem, a adoção poderia ser desfeita ou então “quando o adotado cometer ingratidão contra o adotante”, sem que fosse explicitado na lei do que se tratava exatamente (KOZESINSKI, 2016, s/p). A adoção era feita sem que houvesse um processo judicial através de um contrato e o Cartório era que emitia o documento da adoção, na maioria das vezes, a família biológica estava de acordo com a adoção, a lei não interferiu nos direitos destes sobre a criança, não ocorrendo à destituição desse poder (KOZESINSKI, 2016). A estimulação da adoção só foi sentida após 40 anos com a Lei 3.133 de 1957, pois diminuíram a idade mínima do adotante para 30 anos e a diferença entre o adotante e o adotado para 16 anos, estipulando como requisito aos pretendentes que fossem um casal, que tivessem pelo menos 5 anos de relacionamento oficial, deixando de ser exclusividade de casais sem filhos biológicos. Destaca-se um incremento importante dessa lei foi à possibilidade do adotado manter o sobrenome da família de origem ou acrescentar o sobrenome da família adotante (KOZESINSKI, 2016). O adotado desde a primeira lei deveria consentir com a adoção, mas se tratando de bebê a aprovação deveria ser pelo seu representante legal, sendo ele tutor, curador, pai ou mãe. Somente a partir da Lei de 1957 os juízes da infância ou juízes de menores como eram denominados na época, exigiam que os Cartórios somente regularizassem a escritura da adoção de bebês mediante uma autorização judicial. É neste momento que o poder judiciário começa a intermediar a prática da adoção (KOZESINSKI, 2016). A “legitimação adotiva” e promulgada na Lei 4.655 de 1965, onde nela através de uma decisão judicial as crianças que estavam em “situação irregular” passaram a ter os mesmos direitos dos filhos biológicos. Tais situações foram descritas na legislação como filhos de pais desconhecidos ou pais que declararam por escrito a concordância com adoção (KOZESINSKI, 2016, s/p). Considerando também as crianças menores de 7 anos, que os pais perderam os direitos legais sobre os filhos e nenhum outro familiar reivindicou sua guarda, já para as maiores de 7 anos, foi prevista a legitimação adotiva para as crianças que já estavam sob os cuidados dos adotantes, como no caso de viúvos (as) ou desquitados (as) (KOZESINSKI, 2016). A autora completa, destacando que houve a 14 inclusão de dois incrementos interessante na legislação de 1965, que são mantidos ate hoje, sendo eles: O rompimento definitivo da criança com a família de origem através da formalização do registro de nascimento, fazendo constar o nome dos pais e avós adotantes, suprimindo o nome da família biológica. A irrevogabilidade da adoção, isto é, ela não poderia mais ser desfeita (KOZESINSKI, 2016, s/p.). A atenção para infância impulsiona o poder publico a criação da Lei de 1979, Código de Menores, voltada para “assistência, proteção e vigilância” de crianças menores de idade no que diz respeito à adoção, passando a ser incluída agora como uma medida protetiva da infância, e não mais dentro do direito de família, estabelecendo assim dois tipos de adoção: Simples e Plena (KOZESINSKI, 2016). A adoção simples visava à regulamentação da situação irregular que algumas crianças se encontravam, intermediando o acordo entre famílias, impunha relação de filiação entre adotante e adotado, porém essa relação não se estendia aos familiares do adotante, mantendo os vínculos do adotante com sua família biológica. O tipo de adoção referido podia ser revogado pela vontade das partes a qualquer tempo (KOZESINSKI, 2016). Constituía-se por meio de um contrato assinado expresso em escritura pública. Através dessa modalidade de adoção que frequentemente os pais adotantes partilhavam o filho adotivo com a família biológica que nasce a famosa adoção à brasileira. A “Adoção à brasileira’, ocorria em 90% das adoções que se concretizavam no país, que consistia em a pessoa de qualquer estado civil registravam como próprias, legitimas, filhos de outros” (KOZESINSKI, 2016, s/p). A adoção plena dissolvia as diferenças entre os direitos de filhos biológicos e filhos por adoção, e explicitou o rompimento de qualquer vínculo entre o adotado e a família de origem. Pela primeira vez, a lei ordena parâmetros para a adoção internacional: os estrangeiros só podiam realizar a adoção simples (KOZESINSKI, 2016). Os adotantes deveriam comprovar através de documentos estabilidade conjugal, atestado de sanidade física e mental, comprovação de idoneidade moral e adequação do lar, estas documentações tornaram-se obrigatórias nos processos de adoção estabelecidas no Código de Menores (KOZESINSKI, 2016). A “adoção simples” deixa de existir, revogando a lei anterior com a Constituição Federal de 1988, sendo possível apenas a adoção plena pelo art. 227 § 15 6º, “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação” (BRASIL, 1988). Para Fonseca (2006), a Constituição vem com o intuito de priorizar a promoção social da criança e adolescente, em uma forma de corrigir a mentalidade médica que assombrou o tema do “menor”. O artigo 277 da Constituição Federal de 1988 também assegura os direitos da criança e do adolescente, além de destacar a responsabilidade à família, sociedade e Estado, pela criança e ao adolescente: Artigo 227 da Constituição Federal de 1988 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988). Em síntese, baseado na legislação recente, a adoção permanece no entendimento de que se trata de uma formade colocação do adotando em família substituta, mas passa a noção de excepcionalidade. Assim, percebe-se que quando um direito do menor for violado, este deverá ser protegido por meio do acolhimento institucional. 2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ECA O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) surgiu de uma necessidade advinda da Constituição Federal de 1988, regulamentando os direitos dos adolescentes seguindo as diretrizes constitucionais e normativas internacionais, prevendo a proteção dos direitos e abordando os órgãos e procedimentos protetivos. De Paiva (2004) considera que: As principais inovações do Estatuto da Criança e do Adolescente com relação à adoção de crianças e adolescentes são a redução da idade mínima do adotante para 21 anos; a desvinculação da adoção do estado civil do adotante; a impossibilidade de avós e irmãos adotarem; a introdução e regulamentação das adoções unilaterais (um dos cônjuges ou concubinos podendo adotar o filho do outro); a adoção póstuma (que se concretiza mesmo se o adotante falecer durante o processo de adoção); a regulamentação das adoções internacionais (DE PAIVA, 2004, p. 46-47). O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069 de 1990 16 regulamenta princípios relacionados à infância, definindo inicialmente em seu Art. 2 º que “criança” é pessoas até 11 anos e 11 meses e “adolescentes”, pessoas entre 12 anos e 18 anos. A intermediação e autorização das adoções pelo poder judiciário passam a ser necessária no caso de crianças e adolescentes (KOZESINSKI, 2016). 2.5 ADOÇÃO APÓS O REFORMULAÇÃO DO ECA Pode se afirmar que o ECA, no âmbito legal, é uma das legislações mais avançadas no que tange a proteção da criança e do adolescente, e a instituição da adoção também historicamente sofreu grandes avanços legais. Sua grande reformulação ocorre após 19 anos por meio da Lei 12.010 de 2009, que ficou conhecida como a Lei da Adoção, objetivando o “aperfeiçoamento da sistemática prevista para garantia do direito à convivência familiar a todas as crianças e adolescentes” (BRASIL, 2009). O primeiro objetivo a ser realizado pela rede de proteção (serviços de acolhimento, equipamentos do SUAS e SUS, vara da infância) deve ser o retorno à família de origem (pais biológicos ou família extensa). Quando esse retorno não é possível, o objetivo passa a ser a colocação em família adotiva (KOZESINSKI, 2016). Destacando que é preciso que os pais biológicos tenham perdido todos os direitos legais sobre a criança ou adolescente para que a adoção possa ser efetivada. A “ação de destituição do poder familiar” dos pais acontece em um processo independente com ritos processuais próprios. Essa legislação inaugura e regulamenta a assistência a gestantes que desejam entregar o filho à adoção, e a participação dos pretendentes à adoção em cursos preparatórios (KOZESINSKI, 2016). Com a promulgação do ECA cria um novo paradigma em relação aos direitos da criança e do adolescente, se antigamente o Código de Menores trabalhava com a situação irregular, em 1990, o ECA vem trabalhar com a doutrina de proteção integral, ou seja, todas as crianças e adolescentes estão cobertos pela legislação, que além de se direcionar para casos de situação irregular a criança e ao adolescente possui direitos o qual toda a sociedade deve trabalhar para sua garantia (KOZESINSKI, 2016). Segundo Vargas (2013): 17 [e] As mudanças introduzidas pelo ECA colocam a sociedade brasileira diante de um novo paradigma em relação à ótica e aos modos de ação quando se trata de Infância e Juventude. A Carta Constitucional, tanto como o Estatuto, traz avanços fundamentais quando passa a considerar a criança e o adolescente: 1) sujeito de direito; 2) pessoas em condições peculiares de desenvolvimento, 3) de prioridade absoluta. Isto significa que já não poderão mais ser tratados como objetos passivos da intervenção da família, da comunidade e do Estado; adquiriram direitos especiais em virtude de: ainda não terem acesso ao conhecimento pleno de seus direitos e nem possuírem condições de defendê-los, não contarem com meios para a satisfação de suas necessidades básicas e estarem em pleno desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e sociocultural, que lhes faculta a primazia no recebimento de proteção e socorro em qualquer circunstância [e] (VARGAS, 2013, p. 29). O ECA estabelece que até os doze anos incompletos é considerado criança, e dos doze anos aos dezoito anos incompletos considera-se como adolescente, no que diz respeito à adoção, trazendo consideráveis mudanças nos seguintes aspectos (BRASIL, 1990). Ainda dispõe que a idade mínima do adotante é de vinte e um anos. A adoção plena é a única forma legal de adotar, com a idade do adotante até os dezoito anos, sem ser possível sua revogação. Já o prazo de dois anos para crianças e adolescentes abrigadas sem destituição do pátrio poder, além de estabelecer a análise da equipe multiprofissional a cada seis meses (BRASIL, 1990). Ainda segundo o ECA, a integração na família de forma substituta, ou seja, o adotante passa a substituir a família de origem, tornando-se de fato a família do adotado com os mesmos direitos dos filhos legítimos, pois a partir do ECA não há mais diferença entre os filhos adotados e os filhos legítimos, uma vez colocado em família substituta se torna filho, e os direitos são iguais em relação à herança (BRASIL, 1990). Para Simões (2009): [e] O ECA instituiu os direitos fundamentais e as medidas preventivas, socioeducativas e protetivas que objetivam assegurá- los. Estabelece as linhas de ação da política de atendimento, como as políticas e programas sociais, serviços de prevenção, entidades de atendimento, medidas de proteção e organização pública. Prioriza a reinserção familiar, como medida de ressocialização, em vez da tutela de instituições estatais ou conveniadas (SIMÕES, 2009, p. 227). Em consonância com o exposto, Vargas (2013) afirma que a adoção tem como objeto após a implantação do ECA assegurar a criança uma integração em um 18 lar e oportunizar o restabelecimento de laços afetivos. Os artigos 197-C do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelecem diretrizes dos procedimentos no que tange a habilitação àqueles que desejam adotar, como por exemplo, a obrigatoriedade da participação em programas preparatórios oferecidos pela Justiça da Infância e da Juventude dentre outros (BRASIL, 1990). Assim dispõe: Art. 197-C do ECA - Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios desta Lei. § 1o É obrigatória a participação dos postulantes em programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, que inclua preparação psicológica, orientação e estímulo à adoção inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos (BRASIL, 2009). Afirma Cornélio (2010) que a frequência dos pretendentes a adoção em curso preparatório tem a finalidade de reduzir o número de crianças sem famílias, buscando minimizar o seu tempo em abrigos, observando que a medida do acolhimento deve ser algo excepcional e breve. A Lei determina que a adoção deva ser a última opção como mecanismo de garantia de direito a convivência familiar, e para que aconteça devem-se findar as possibilidades de permanência em sua família. Conforme Lei n.12.010/209, em seu artigo 39: Artigo 39 da Lei 12010/2009 - A adoção é medida excepcional e irrevogável,à qual deve se recorrer apenas quando esgotados os recursos e manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa (BRASIL, 2009). O ECA institui o prazo de até dois anos em abrigo para inserção familiar, após esse período a criança ou adolescente, caso não tenha sido possível seu retorno a sua família de origem, permanece institucionalizada e o Estado e a sociedade têm a obrigação de encontrar uma família substituta (BRASIL, 1990). É prevista na Constituição e no ECA a reinserção familiar como prioridade, mesmo que em família substituta. Conforme Simões (2009, p. 244) “o ECA e os Juizados da Criança e do Adolescente passaram a priorizar os procedimentos de 19 ressocialização familiar ou de guarda e, sobretudo, de adoção”, em substituição ao abrigamento. A Lei 12.010 estabelece ainda a criação de cadastros estaduais e nacionais dos pretendentes à adoção, com o objetivo de facilitar e centralizar o cruzamento das informações em um único cadastro com os dados das crianças e adolescentes em condições de serem adotados e os de pretendentes habilitados à adoção (BRASIL, 2009). Assim, a lei dispõe sobre a implementação dos cadastros: Artigo 50- § 5o da Lei 12010/09 - Serão criados e implementados cadastros estaduais e nacional de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção (BRASIL, 2009). O Art. 42 do ECA introduziu um aspecto facilitador onde estabelece que qualquer pessoa maior de vinte e um anos, independente de estado civil, pode adotar, tendo como restrição somente a diferença mínima de dezesseis anos entre o adotante e o adotado e o grau de parentesco, ou seja, não podem adotar irmãos e avós do adotado. O postulante, contudo, deve submeter-se a um parecer técnico ou do juiz que deferirá o seu pedido para a adoção (BRASIL, 1990). Com essas medidas a lei da adoção, busca facilitar os processos de adoção, porém existe ainda uma realidade, de ordem cultural, que dificulta a adoção em nosso país, como a preferência dos adotantes por crianças recém-nascidas, brancas, sem irmãos em perfeito estado de saúde. Sendo que a realidade das crianças disponíveis para adoção é outra, a grande maioria possui mais de dois anos de idade e apresenta quadro clínico de abalos psicológicos, possuem irmão e são de etnia negra (MEIRA, 2017). Tratando-a como política pública a lei incentiva a adoção para resolver os problemas da criança em situação de rua ou abrigada, sem levar em conta o quadro social de abandono, uma vez que sendo a adoção um último recurso para criança vulnerável, então seria necessário fortalecer as tentativas de recuperar a família de origem. Esse processo necessita de tempo, mas a lei enxuga o tempo de crianças em abrigos o que impede o trabalho eficaz de reinserção familiar (SIMÕES, 2009). E notório que existiu grande evolução na história da infância e juventude, porém ainda são necessários avanços que abordem programas de trabalho social para com as famílias das crianças em situação de vulnerabilidade e que a adoção de fato deve ser o último recurso (MEIRA, 2017). Segundo Weber (1998) existe um: [e] fator muito importante incorporado pelo ECA é o de que “a 20 adoção não deve ser vista como uma solução para o abandono de crianças decorrente exclusivamente da miséria. O art. 23 do ECA enfatiza isso dizendo que a “a falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do pátrio poder”. Segundo o parágrafo único desse artigo indica que uma família carente deve ser “obrigatoriamente incluída em programas oficiais de auxilio”. Ainda estamos longe de sermos uma sociedade justa e igualitária (WEBER, 1998, p. 71). Assim, devem-se conhecer as perspectivas reais ao tratar de adoção, em nossa cultura enraizada os ideais arcaicos de que a adoção se refere a dar filhos a aqueles que não os tem, se deixa de lado a adoção como uma alternativa, com finalidade de assegura o direito da criança e do adolescente, para a inserção em uma nova família desde que comprovada à impossibilidade de retorno a sua família natural. 2.6 NOVA LEI DA ADOÇÃO, LEI 13.509/2017 Esta lei foi sancionada em 2017, tendo início de sua vigência na dada de sua publicação, onde alterou o Estatuto da Criança e do Adolescente e também a Consolidação das Leis do Trabalho, no que tange o trabalho para menores. Dessa maneira, foi chamada de “Estatuto da Adoção” e, em suas alterações, passam a ideia de solucionar ou reduzir o processo de adoção tardia, com a concepção que a demora dos processos jurídicos seria a causa de tal fato. Esta nova lei traz novos prazos para o processo de adoção de crianças e adolescentes. Ao mesmo tempo em que ganhou apoio de grupos de pretendentes, a lei trouxe pontos que dividem especialistas na área de infância e juventude. Por se tratar de uma lei nova e a quantidade de material bibliográfico é extremamente escasso (FREITAS, 2017). Desta forma, as principais alterações foram: Redução do prazo máximo de acolhimento institucional. O ECA prevê que se a criança ou o adolescente estiver em situação de risco (art. 98), o juiz da infância e juventude poderá determinar medidas protetivas que estão elencadas no art. 101. Uma dessas medidas é o chamado acolhimento institucional (art. 101, VII). O tempo máximo de permanência em serviço de acolhimento passa a ser de 18 meses. Antes esse período era de dois anos. Convivência da mãe adolescente com seu filho (a). A Lei nº 13.509/2017 acrescentou dois parágrafos ao art. 19 do ECA, prevendo que se uma adolescente estiver em programa de acolhimento institucional e for mãe, deverá ser assegurado que tenha convivência integral com seu (sua) filho (a), além de ter apoio de uma equipe de psicólogos e assistentes sociais (FREITAS, 2017, s/p). 21 Sobre o procedimento sobre entrega voluntária, o artigo 19 do ECA, modificado pela Lei nº 13.509, caso a gestante ou a mãe queira entregar seu filho (a) para doação, ela deverá ser encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude, ter acesso ao programa de escuta qualificada pela equipe interprofissional que apresentará relatório ao juiz, ter acesso a atendimento especializado à rede pública de saúde (FREITAS, 2017). Também haverá preferência para entrega da criança ao pai ou algum membro da família extensa, e na impossibilidade disto caberá ao juiz decretar a extinção do poder familiar, colocar a criança sob guarda provisória e habilitá-la para adoção. A mãe terá que optar pela doação e terá seu direito ao sigilo respeitado. Em caso de desistência da doação, a criança será mantida com o(s) genitor (es), que serão acompanhados pela Justiça da Infância e Juventude por 180 dias (FREITAS, 2017). O apadrinhamento afetivo permite que crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional possam formar vínculos afetivos com pessoas de fora da instituição ou da família acolhedora em que vivem, pessoas essas que se disponham a serem padrinhos ou madrinhas (FREITAS, 2017). Esse programa busca colaborar no desenvolvimento das crianças nos aspectos social, comunitário, físico, cognitivo, educacional e financeiro. Ele já vinha sendo desenvolvido por algumas instituições, mas ainda não havia sido normatizado. Agora, com sua inclusão no artigo 19 do ECA, mais crianças e adolescentes com baixa probabilidade de adoção terão ampliadas suas possibilidades de convivência familiar (FREITAS, 2017). A CLT prevê a estabilidade provisória para empregado adotante e o artigo 391-A dispõe que a confirmação do estado de gravidez advindo no curso do contrato de trabalho, ainda que durante o prazo do aviso prévio trabalhado ou indenizado, garante à empregada gestante estabilidade provisória, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto (BRASIL, 1943). A Lei nº 13.509/2017 acrescenta um parágrafoao art. 391-A da CLT afirmando que o empregado adotante também terá direito à estabilidade provisória Art. 391-A. [...] Parágrafo único. “O disposto no caput deste artigo aplica-se ao empregado adotante ao qual tenha sido concedida guarda provisória para fins de adoção” (BRASIL, 2017). Assim, determina o artigo 392-A que à “empregada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança ou adolescente será 22 concedida licença-maternidade nos termos do art. 392 desta Lei” (BRASIL, 2017). Dispõe também, acerca do estágio de convivência da criança ou adolescente, que está previsto no artigo 46, pelo prazo máximo de noventa dias (BRASIL, 2017). Já o artigo 46, §2º-A dispõe que “prazo máximo estabelecido no caput deste artigo pode ser prorrogado por até igual período, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária” (BRASIL, 2017). Antes, o prazo era estipulado livremente pelo juízo responsável por acompanhar cada caso. Para pessoa ou casal que vive fora do Brasil, o período é de 30 a 45 dias — as regras anteriores não determinavam tempo máximo (LUCHETE, 2017). O Conselho Federal de Serviço Social se posiciona contrario a Lei 13.509/2017, juntamente com outros Conselhos Profissionais e movimentos sociais, pois entende que a Lei pretende descolar do Estatuto da Criança e do adolescentes para uma lei á parte, conferindo a este novos princípios e sistemáticas. Para o CFESS a Lei propõe uma serie de redução das garantias atuais acelerando a retirada da criança e o adolescente de sua família de origem, invertendo o principio da prevalência da família nas aplicações das medidas de proteção (CFESS, 2010). O país não possui estrutura para aplicar as inovações de 2009. Os cadastros regionais e nacionais e a fixação do período do estágio de convivência são feitos com muita delonga. O processo de habilitação dos adotantes, ou seja, o “período de preparação psicossocial e jurídica”, também demora muito para ocorrer. Não há equipe técnica psicossocial em número suficiente em todo o Brasil. Ademais, em regiões menos desenvolvidas o sistema se torna inoperante (KUMPEL; GARCIA, 2018). 23 3 ADOÇÃO TARDIA: MITOS E PRECONCEITOS O ato de adotar uma criança sempre vem repleto de expectativas, concretização de uma família completa, relação de carinho, ser chamada de ‘mãe’, de ‘pai’, educar e seguir o crescimento de uma criança, inúmeras é as expectativas envoltas ao ato de adoção. Quando casais vão entrar com o processo de adoção, essas expectativas já estão personificadas na imagem de um bebê recém-nascido (BERNARDINO; FERREIRA, 2013). Os preconceitos são presentes na vida da sociedade, sendo eles intencionados ou não. Normalmente os nossos preconceitos são gerados por nossa própria história, cria-se um conceito e esse o permanece por longos anos, épocas, séculos (MEIRA, 2017). “O preconceito é uma aquisição social, ou seja, é algo que a aprendemos na comunidade, e, portanto, em maior ou menor grau, todas as pessoas têm algum tipo de preconceito” (WEBER 1998, p. 125). A sociedade atual está marcada por preconceitos de diversas formas, seja racial, de gênero, de classe, entre outros, e com a adoção não é diferente. Segundo Vargas (2013): Apesar de toda evolução cientifica do nosso tempo, alguns temas permaneceram “esquecidos” nos meios científicos ou são tratados de forma preconceituosa. A adoção é um desses, o qual, mesmo sendo uma prática corrente na sociedade desde remotos tempos, continua encoberto de silêncio, a alimentar mitos e fantasmas (VARGAS, 2013, p.19). Além de que, a adoção não costuma ser o primeiro recurso quando se deseja ter filhos, na maioria dos casos ela surge por motivos de perdas, infertilidades, culpa, entre outros (BERNARDINO; FERREIRA, 2013). A adoção está idealizada nas mentes daquele que pretende adotar Weber (1998) analisa da seguinte forma: Imagina-se que, para os filhos, a palavra adoção traga sempre junto consigo a questão da rejeição, do abandono, da busca de seus “verdadeiros pais”. Para os pais, imagina-se que a palavra adoção venha sempre imbuída da culpa pela esterilidade ou infertilidade e de uma segunda alternativa para ter uma família. Esse é o quadro que o senso comum nos apresenta. Os mitos e estereótipos cultivados pelo senso comum geralmente têm pouco fundamento e vem de todo um processo histórico onde a adoção, ou estava cercada por preconceitos, ou de lendas, heróis e salvadores do mundo, tanto pais quanto filhos (WEBER, 1998, p. 102). Segundo Bernadino e Ferreira (2013), ampla parte da população com desejo 24 em adotar, se dispõe por idéias e motivações errada ao processo de adoção, e traz consigo conceitos mitológicos baseado no senso comum, os quais interferem diretamente nos processos de adoção, e dificultam ainda mais a realização de adoções de crianças mais velhas. Esses mitos são criados devido aos preconceitos existentes na sociedade. Weber (1998, p. 77), em sua pesquisa marcou o “preconceito como a principal variável encontrada”. O medo de que uma adoção não atinja plenamente o sonho dos pais adotivos é constante. A idéia da criança não se adaptar aos novos pais, a nova educação que irá receber, faz com que as que tiverem mais de dois anos sejam consideradas “idosas” para serem adotadas e acabam ficando nos acolhimentos institucionais e casas de apoio. Em muitos casos a criança nunca consegue pais adotivos e fica nos acolhimentos institucionais até completar dezoito anos (BERNARDINO; FERREIRA, 2013). A adoção e considerada tardia quando a criança a ser adotada tiver mais de dois anos (BERNARDINO; FERREIRA, 2013). Vargas (1998) e Weber (1998) consideram tardias as adoções de crianças com idade superior a dois anos. Mas este está longe de ser o único aspecto definidor desta modalidade de adoção. As crianças consideradas "idosas" para adoção, segundo Vargas (1998, p. 35) [...] ou foram abandonadas tardiamente pelas mães, que por circunstâncias pessoais ou socioeconômicas, não puderam continuar se encarregando delas ou foram retiradas dos pais pelo poder judiciário, que os julgou incapazes de mantê-las em seu pátrio poder, ou, ainda, foram ‘esquecidas’ pelo Estado desde muito pequenas em ‘orfanatos’ que, na realidade, abrigam uma minoria de órfãos [...] (VARGAS, 1998, p. 35). O ECA é considerado como uma das leis mais avançadas do mundo em relação ao direito da criança e do adolescente, porém, “não basta haver leis se os mecanismos sociais que produzem as tragédias não são modificados” (WEBER, 1998, p. 34). 3.1 PERFIL DA ADOÇÃO O Cadastro Nacional de Adoção segundo o Conselho Nacional de Justiça apresenta um quatro de, em média, 41 mil pretendentes cadastrados e disponível para adoção, por outro lado, um quadro com cerca de 4 mil crianças disponíveis para adoção. Essa é uma matemática que não fecha, e a grande pergunta é; se 25 existem mais pessoas interessadas em adotar do que crianças disponíveis, por que a adoção ainda não acontece para essas crianças? (MEIRA, 2017). A análise ao CNA permite entender que a resposta e simples, sendo que, das 4.926 mil crianças disponíveis para a adoção, 95,58% possuem mais de dois anos de idade, e dentre os 41 mil pretendentes, apenas 35% possuem interesse em adotar crianças maiores de 02 anos de idade. Esses dados, apontados pelo CNA, nos mostram que na realidade, as crianças desvinculadas de suas famílias e que estão sobre proteção do Estado, assim estando disponíveis para serem inseridas em família substituta, possuem idade superior a 02 anos, ou seja, existem por de trás dos números, razões que os justificam, razões essas que nos mostram uma falta de informação sobre os reais motivos envoltos a essa política (MEIRA, 2017). Pelo fato da adoção tardia fugir do perfil mais buscado pelos pretendentes, esse tipo de adoção se enquadrana definição de “adoções necessárias”, que englobam a vinculação de irmãos, crianças com deficiências ou doenças crônicas, e as inter-raciais (OLIVEIRA, 2018). As exigências da escolha da maioria dos pretendentes têm um perfil que preferem meninas, brancas, com até dois anos e sem moléstia e irmãos, poucos se enquadram nesse perfil. Essa é uma das razões pelas quais o número de pretendentes é maior (SOUZA, 2012). A adoção tardia é a grande realidade do sistema de adoção no Brasil, porém existe em nossa cultura mitos que se apresentam como fortes obstáculos à realização de adoções tardias. A idéia de que a adoção deve simular a filiação legitima (MEIRA, 2017). A grande procura por crianças recém-nascidas revê-la essa vertente. Weber (1998), nos mostra que existe vinculado aos mitos, o medo, como o de que, caso a criança ou adolescente seja adotado tardiamente, esse trará consigo aspectos irreparáveis e danosos para a convivência. Não se pode ignorar que, a adoção por crianças mais velhas necessita de um período de adaptação, e deve ser construída com esforço e dedicação, porém não se pode entrar no senso comum de que as crianças mais velhas são impossibilitadas de se adaptarem a uma nova família (MEIRA, 2017). Dentro desse aspecto, deve-se observar que crianças ao serem institucionalizadas e terem que se sujeitar a passar pelo processo de institucionalização estão sendo punidas pela expressão da questão social em que se encontram, as quais não possuem culpa, e como brinde recebe diversos ataques de 26 preconceitos e rejeição (MEIRA, 2017). A jornalista Ângela Bastos no documentário “O que o Destino me Mandar” de 2009, apresenta depoimentos de crianças a cima dos seis anos totalmente sem esperança de se ter uma família, mas com uma vontade enorme de se construir um futuro para si (MEIRA, 2017). Esse documentário revela que se a própria criança ou adolescente institucionalizado ainda tem esperança em relação ao seu futuro, muito mais os pretendentes a adotar deveriam compartilhar desse mesmo pensamento. “Ao contrário do que são veiculados no senso comum, os filhos adotivos sentem-se felizes e constroem uma verdadeira vinculação afetiva com seus pais” (WEBER 1998, p. 107). A cartilha da “Convivência Familiar e Comunitária” elaborada pelo Conselho de Supervisão dos Juízos da Infância e da Juventude (CONSIJ-PR) junto da Coordenadoria da Infância e da Juventude (CIJ-PR) indica que no ponto de vista da adoção, são levantadas afirmações, essas expressadas pelo senso comum, de que para se adotar é necessário possuir renda considerável, ou ser de classe social elevada (MEIRA, 2017). Tal opinião já é desfeita pelo próprio ECA em seu art. 43, “adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos”, ou seja, uma vez que o ECA é voltado para o bem-estar da criança, os fatores mais principais dentro do processo da adoção é o de afeição entre adotante e adotado que são causas legitimas, aspectos econômicos não influenciem essencialmente (MEIRA, 2017). No sistema capitalista em que nos encontramos, quer disseminar a idéia de que precisamos “ter” para “ser” e destina-se a aplicar isso como um todo para a população, até mesmo com a adoção, não significa que crianças e adolescentes não necessitam de condições matérias, mas que antes disso necessitam de amor e respeito (MEIRA, 2017). Para Weber (1998) Parece evidente que algumas condições materiais são imprescindíveis, mas o mais importante é a capacidade de amar sem impor tantas condições, a tentativa de deixar um pouco de lado os valores pessoais e transcender às imposições sociais que tentam regular o nosso gostar (WEBER 1998, p. 110). A adoção jamais poderá ser consentida dentro da vertente da filantropia e a caridade uma vez que está pautada no direito da criança e do adolescente, tendo como doutrina a proteção integral (MEIRA, 2017). 27 Weber (1995) esclarece que a adoção deve ser trabalhada em três estágios: antes da adoção, ao se trabalhar os preconceitos, as motivações e a aceitação de outras crianças que não a ideal, e aí entra o trabalho da adoção tardia durante o processo de adoção, em um trabalho conjunto da família com a criança; e depois da adoção realizada, um acompanhamento em longo prazo, com prevenção de problemas. Segundo Weber (1998, p.102) “os preconceitos sociais são sempre prejudiciais para as relações humanas e para nos livrarmos deles é preciso esclarecer os fatos corretamente, divulgar e debater com a sociedade”. É claro que, dentro das histórias de adoção existem aquelas que não tiveram sua trajetória harmônica e com resultados de “final feliz”, existem dificuldades dentro da adoção, e são essas que se espalham em nosso meio muito mais do que as que tiveram sua integração da criança em um novo lar e, essas trágicas histórias, são as que distorcem a adoção e vinculam a adoção a um fracasso, além de que enfatizam e passam, mesmo que de forma abstrata, a adoção como um benefício ligado apenas para o adotante (WEBER, 1998). Não podemos ter essas referências como “padrão”, a grande questão é a capacidade de reflexão e dialogo sobre as relações familiares de modo a superar a idealização e nos educarmos para lidarmos com o real (MEIRA, 2017). O processo de adoção não e fácil, ainda mais se tratando de Adoção Tardia, os pais adotivos devem ter paciência com a criança, pois essa necessita fazer o processo de apego e ligação com a mãe e o pai outra vez e se esse processo com os pais biológicos foi traumático, entender que essa criança já trás uma historia regressa, esta criança pode ter certa dificuldade de aceitar os novos pais (BERNARDINO; PEREIRA, 2013). Afirma Justo (1997): [...] o drama central da vida da criança institucionalizada incide, justamente, sobre os referenciais em relação aos quais possa criar sua própria identidade pessoal e ancorar as diferenciações básicas enumeradas de sua singularidade e de sua localização no mundo. Como se sabe, a identidade pessoal é criada a partir de diferenciações progressivas entre o "Eu" e o "não Eu", centradas nas experiências com o próprio corpo, com os objetos do mundo físico e com as pessoas constitutivas do círculo de relações psicossociais do sujeito [...] (JUSTO, 1997 p. 72-73). Toda criança adotada tem um histórico de abandono ou institucionalização e tal fato deve ser levado em atenção por todos. Contudo, quanto maior idade a 28 criança ou o adolescente tiver mais eles precisarão da presença constante da família, com o desejo de sentirem-se aceitos e amados, para que assim, seja possível adaptar e reconstruir uma história diferenciada de vida (MOURA, 2011). Entretanto, o passado da criança ou do adolescente institucionalizados, está baseado numa visão preconceituosa dos pretendentes em relação à origem social destes, a ponto de influenciar suas decisões (MOURA, 2011). Contudo, não é impossível aumentar o contingente de adoções tardias no Brasil. Trabalho de preparação se tornam importantes, na direção de orientar e sensibilizar os pretendentes à adoção, incentivar, esclarecer mitos, preconceitos, tabus que cercam o instituto (MOURA, 2011). Dessa forma Santos (1997) afirma que: Ainda que deva respeitar os limites e opções dos requerentes, faz-se necessário, iniciar um trabalho voltado para a mudança de mentalidade no que se refere à adoção de modo a possibilitar uma superação de pelo menos parte dos equívocos e preconceitos que envolvem este processo (SANTOS, 1997, p. 164). É importante relatar que, tanto na adoção tardia, como na vida em si, as chances de sucesso ou fracasso das relações que se estabelecem no meio social, dependem da capacidade de suporte, amor, entrega, trocas afetivas, confiança, companheirismo, amizade, dentre outros, entre os protagonistas (VARGAS, 1998). 3.2 A LENTIDÃODO PROCEDIMENTO DA ADOÇÃO SOBRE OS ASPECTOS JURÍDICOS De início, destaca-se que além dos fatores sobre a escolha do perfil desejado pelos pretendentes visto anteriormente, as dificuldades encontradas na adoção tardia no país possui origem jurídica também, no que se refere à morosidade dos procedimentos judiciais. Quando uma criança entra no cadastro de adoção com idade avançada, enfrenta toda a questão do preconceito por parte da sociedade visto no tópico anterior. Contudo, quando a criança entra com pouca idade ou recém-nascida, haverá também a luta contra a morosidade do procedimento judicial, em razão de que quanto mais demorar, mais próxima ficará das idades consideradas de idade avançada. Não se está dizendo que para as crianças mais velhas não importaria a 29 duração do procedimento (evidentemente que importa, tendo em vista todas as privações de direitos humanos), mas sim que a demora no trâmite parece contribuir para a criação do problema vivido pela adoção tardia. Os anos na espera do desenrolar de um processo de destituição do poder familiar, por exemplo, quando estiverem prontas para adoção, se torna malquista por conta de sua idade avançada. De acordo com CNJ, uma pesquisa a nível nacional realizada em 2015, constatou que, o tempo de citação dos genitores no processo de destituição do poder família dura em média 338 dias, quanto ao tempo dos processos de habilitação para adoção, as regiões que se mostraram mais demoradas foram as do Centro-oeste e Sul, com tempo médio maior que dois anos. Em se tratando da vara, as varas especializadas o prazo são significativamente menores em relação a varas não especializadas, principalmente se tratando de processo de perda do poder familiar e habilitação para adoção (CNJ, 2015). Segundo o CNJ (2015), dados qualitativos referentes à pesquisa mostram que, em entrevistas com diversos profissionais como assistentes sociais, juízes, psicólogas e promotoras, a fim de retirar opinião a respeito do tempo dos processos referentes à adoção. Podemos destacar os seguintes pontos: Carência de profissionais nas varas; Críticas quanto ao Cadastro Nacional de Adoção (CNA), por ser desatualizado e não intuitivo o que só leva a atrasar o processo de adoção; Burocracia no processo, com muitos recursos interpostos pela Defensoria Pública, além da demora na busca pelos genitores no processo de destituição do poder familiar; Falta de sensibilidade dos profissionais envolvidos; Falta de conhecimento do tema, legalismo e tecnicismo excessivos (CNJ, 2015, s/p). Nesse sentido, é de salutar que o processo de adoção possibilite aos pais adotantes, bem como para o adotando, um longo período de espera, o qual engloba desde o momento em que decide adotar uma criança, até o dia em que tal pleito resta deferido, o que acaba acarretando ansiedade e frustrações, para ambas as partes (SOUZA, 2016). Nesse diapasão, é certo que o instituto da adoção engloba uma série de requisitos contidos no ordenamento jurídico brasileiro, os quais devem ser observados e respeitados, mas, entretanto, as questões jurídicas atreladas a este procedimento podem acarretar diversos prejuízos aos pais adotivos e a criança, cuja 30 consequência é a perda da vontade dos adotantes em concluir o procedimento adotivo (SOUZA, 2016). Souza (2016) destaca que, de acordo com informações obtidas no sítio eletrônico do Senado Federal, o tempo de duração de um processo de adoção varia de acordo com o perfil da criança ou do adolescente, eis que quanto maior as exigências daqueles que manifestem interesse a adoção, mais moroso será o procedimento. O tempo varia conforme o perfil da criança ou adolescente que o interessado se oferece para adotar e o fluxo de chegada de crianças para adoção. Quanto maiores as exigências daquele que deseja adotar, mais tempo pode levar. Já para aqueles que se dispõem a adotar crianças de qualquer cor ou estado de saúde, sem exigência de idade e ainda que acolham irmãos, a adoção leva em geral seis meses (SENADO FEDERAL, 2018, s/p). Enfim, a morosidade no trâmite do processo de adoção, e as causas são diversas, levando-se a concluir que o problema é estrutural, quanto mais lento o trâmite, maiores prejuízos para os adotandos que estão esperando por uma nova família. A adoção tardia é dificultada tanto pela cultura da sociedade, quanto pela morosidade do processo perante o Judiciário, fatores que aumentam o tempo das crianças em instituições de abrigo, local em que vivem privadas de diversos direitos garantidos nacional e internacionalmente. 31 4 A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL O profissional de Serviço Social está diretamente ligado aos processos de adoção no país, pois tem como um de seus objetivos a defesa dos direitos dos cidadãos inclusive de crianças/adolescentes (RIBEIRO, 2016). Bittencourt (2010, p. 48) afirma que “A criança ou adolescente é um sujeito de direitos especial, dotado de superioridade dentre todos os interesses envolvidos na questão concreta que se busca solucionar”. Segundo Ferreira (2010), com a criação e implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente existiu uma nova perspectiva para uma camada de profissionais que tratam diretamente para a busca e garantia de direitos das crianças/adolescentes que estão para adoção ou abrigados. Uma dessas categorias profissionais que podemos exemplificar é a dos Assistentes Sociais, cuja atuação é evidenciada quanto a sua importância durante todo o processo de adoção. Desta forma, entende-se que a parte principal neste trabalho será a atuação do Assistente Social na adoção tardia tem como um de seus objetivos a defesa dos direitos dos cidadãos inclusive de crianças /adolescentes, assim como a construção de uma nova consciência nas pessoas que geralmente buscam bebês para adotar com medo de toda carga cultural e emocional que as crianças maiores trazem (DEPIERI, 2015). Na preceptiva da adoção, é importante a participação do Assistente Social nesse processo que se firma como uma união entre a família e o adotado, permitindo que a adoção aconteça em consonância com os pressupostos legais, ajudando para superação dos obstáculos que se coloca entre os pretendentes e os adotados. De acordo com o Art. 5, do Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais (CFESS, 2010) é dever de o profissional democratizar informações aos usuários e, através desse pensar e repensar sobre as questões apresentadas pelos pretendentes e crianças/adolescentes possibilitando a construção e superação de concepções preestabelecidas, compreendendo a necessidade do real em sua totalidade e historicidade, trazendo sucessivas aproximações. No processo de adoção tardia o assistente social desempenha importantes atividades, tais como estudo social, entrevistas com os pretendentes à adoção, o Curso Preparatório Psicossocial e Jurídico para habilitação à adoção, visitas 32 domiciliares de habilitação e acompanhamento do estágio de convivência. Além disso, socializa informações entre os profissionais e pais pretendentes e elabora pareceres sociais, a partir do estudo social referente aos processos de adoção, guarda tutela e destituição do poder familiar (ARAÚJO QUEIROZ; BRITO, 2013). O compromisso ético-profissional do assistente social no processo de adoção busca a garantia do direito à convivência familiar e comunitária, buscando sempre o melhor interesse para a criança e o adolescente. Nessa perspectiva, observa-se que o trabalho profissional do assistente social não se limita à socialização de informações acerca da adoção, mas vai além, atuando na perspectiva de contribuir para a ampliação da concepção de adoção e da quebra dos mitos que perpassam esse processo (ARAÚJO QUEIROZ; BRITO, 2013). De modo a superar os preconceitos e mitos, o Assistente Social deverá trabalhar buscandooferecer contribuição não somente para a decisão do juiz como também fornecer esclarecimentos e entendimento da família pretendente sobre a adoção. Para compreender o trabalho desse profissional, se faz necessário em primeiro momento discorrer sobre o surgimento da profissão e sua inclusão na meio judicial e na sequência conhecer as contribuições do assistente social no processo de adoção tardia. 4.1 BREVE PERCURSO HISTÓRICO DO SERVIÇO SOCIAL Com o surgimento do Serviço Social no Brasil viu-se um resultado de um avanço do processo industrial e da criação de uma classe operária organizada, atingida pelo sistema capitalista, o qual produziu consequências sociais para essa classe, fazendo com que o Estado requisitasse a profissão para atuar no enfrentamento da questão social que acabara de surgir. Segundo Boschetti (2004), a atuação do Serviço Social brasileiro na defesa de direito é bem marcante, mesmo antes da promulgação da Constituição de 1988, essa afirmativa se da pela sua intervenção profissional, pelas análises e produções teóricas, e também pelo seu envolvimento com os movimentos sociais. Assim, o progresso da industrialização e as lutas operárias que se travaram no decorrer desse processo “contribuíram para o agravamento da questão social, os trabalhadores, submetidos à total exploração, lutavam por melhores condições de 33 vida, de trabalho e pelo reconhecimento como cidadãos” (FÁVERO, et al., 2015, p.38). Com a intenção de amenizar as expressões da questão social e camuflar as contradições do sistema capitalista que se iniciou na época, surge à profissão no Brasil, através de ações sociais de cunho ideológico e político buscou-se a formação de profissionais capazes e qualificados a manter o controle das classes trabalhadoras (FREIRE et al., 2013). Baseado no modelo europeu surge o Serviço Social com associação a Igreja Católica, com sua base conservadora voltada enquanto profissão para classe burguesa. Seu intuito era de amenizar conflitos, fixado como um tipo de “especialização do trabalho coletivo, tendo como finalidade de atender as necessidades sociais derivadas da prática das relações sociais de produção e reprodução por meios de vida e do trabalho, de maneira socialmente determinada.” (FÁVERO, et al, 2015). Segundo Iamamoto e Carvalho (2008): A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação no cotidiano da vida social entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade repressão (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p. 77). O Serviço Social foi se expandindo com o passar dos anos. Em 1940, já se tem a inserção de assistentes sociais junto a instituições públicas como o então Juizado de Menores (inicialmente como voluntários), uma vez que neste período as questões envolvendo a infância eram vistas como “caso de polícia” e obviamente incomodavam a sociedade (FÁVERO, 2008). A profissão passa por grandes transformações no que diz respeito aos modos de pensar e fazer a intervenção durante a Ditadura Militar. Esse movimento ficou conhecido como Reconceituação do Serviço Social, que buscava a renovação profissional, rompendo com a forma tradicional (FÁVERO, 2008). Segundo Fávero (2008), o Movimento de Reconceituação do Serviço Social, contou com profissionais do Serviço Social e professores universitários desta área que propuseram alternativas para a ação profissional, bem como para o Currículo de 1982. 34 Por meio da Lei 3.252 em 27 de agosto de 1957, a profissão de Serviço Social foi regulamentada no Brasil. Porém tanto o país quanto a profissão foram passando por diversas transformações desde então, o que gerou a necessidade de atualizar a regulamentação da profissão, que ocorreu em 1993, através da Lei Nº 8.662 (SOUZA, 2013). Ainda em 1993, também é instituído pelo Serviço Social um novo Código de Ética, que segundo o CFESS – Conselho Federal de Serviço Social vem “expressando o projeto profissional contemporâneo comprometido com a democracia e com o acesso universal aos direitos sociais, civis e políticos” (SOUZA, 2013, p. 54). Para Fávero (2008) todas as mudanças ocorridas na profissão só reafirmaram o Serviço Social como uma profissão que busca sempre compreender sua atuação num contexto sócio-histórico que envolve as relações sociais. As organizações que representam a categoria têm se preocupado em expandir projetos de capacitação, garantindo a especialização na articulação da teoria e prática, não deixando prevalecer apenas esta última. É uma profissão que atua frente à população destituída de direitos. 4.2 A INCLUSÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO JUDICIÁRIO O Serviço Social, se tratando de uma categoria, atuou de forma pioneira no Poder Judiciário, a qual surge praticamente junto da profissão. No estado de São Paulo, iniciou-se de forma voluntaria, como comissários de vigilância junto aos Juizados de Menores, para intervir nos problemas da infância, que naquele período histórico, eram encarados, segundo Fávero et al. (2015), como “caso de polícia” e causavam incômodo na sociedade. Desta forma: [...] diante do agravamento dos problemas relacionados à ‘infância pobre’, à ‘infância delinquente’, à ‘infância abandonada’, manifestos publicamente no cotidiano da cidade, o serviço social é incorporado a essa instituição como uma das estratégias de tentar manter o controle almejado pelo Estado sobre esse grave problema, que se aprofundava no espaço urbano (IAMAMOTO; CARVALHO, apud CFESS, 2008, p. 13). O trabalho como comissário de Menores teve início em 1935 quando criaram o Departamento de Serviço Social do Estado de São Paulo, onde o assistente social 35 trabalhava no serviço aos menores abandonados, menores delinquentes, menores sob tutela da Vara de Menores, executando atividades no Instituto Disciplinar e no Serviço de Abrigo e Triagem, e na Procuradoria de Serviço Social. Segundo Iamamoto e Carvalho (2008): Assistência Judiciária a fim de reajustar indivíduos ou famílias cujas causas de desadaptação social se prenda a uma questão de justiça civil e, enquanto pesquisadores sociais [...] e nos serviços de plantão. Além dos serviços técnicos, de orientação técnica das Obras Sociais, estatísticas e Fichário Central de Assistidos (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p. 191). Com a criação da lei nº 560 que concebeu o programa de Serviço de Colocação Familiar, o Serviço Social começou a atuar formalmente no Juizado de Menores. O assistente social José Pinheiro Cortez que atuava como voluntário por muitos anos no Judiciário, em 1956 passa a ser coordenador do Serviço de Colocação Familiar, dessa vez como funcionário e protagonizou numerosas conquistas para o Serviço Social e a atenção para criança e ao adolescente no judiciário. Atribui-se a ele a autoria da conceituação de que o Assistente Social que atua no judiciário é também um perito judicial (FUZIWARA, 2006). O Serviço de Colocação Familiar foi considerado como o primeiro programa de família de apoio ou família acolhedora, ou, ainda, pode ser compreendido como o primeiro programa de transferência de renda de que se tem notícia no Estado de São Paulo, na medida em que incluía repasse financeiro inicialmente às famílias de apoio e posteriormente às próprias famílias das crianças e adolescentes cujos "casos" (como então se denominava) chegavam ao Judiciário com demanda de acolhimento institucional (FÁVERO, 2015, p. 01). O programa de Serviço de Colocação Familiar foi um marco para a profissão dentro do Judiciário, que em 1955 já contava com mais de nove assistentes sociais no estado de São Paulo, e em 1956 três assistentes sociais foram convocadas