Buscar

MONOGRAFIA DE FILOSOFIA_INGRID UFPI

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI 
UNIVERSIDADE ABERTA DO PIAUÍ - UAPI 
CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA 
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM FILOSOFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
INGRID PEREIRA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CONCEITO DE JUSTIÇA SOB A ÓTICA ARISTOTÉLICA COM 
ENFOQUE NO JUSPOSITIVISMO DE HANS KELSEN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VALENÇA DO PIAUÍ - PI 
2015 
 
INGRID PEREIRA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CONCEITO DE JUSTIÇA SOB A ÓTICA ARISTOTÉLICA COM 
ENFOQUE NO JUSPOSITIVISMO DE HANS KELSEN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada como requisito parcial para 
obtenção de grau no Curso de Licenciatura Plena 
em Filosofia da Universidade Federal do Piauí – 
UFPI. 
 
Orientadora: Profª. Mestre. Ana Paula de Araújo 
Lima 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VALENÇA DO PIAUÍ- PI 
2015 
 
INGRID PEREIRA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CONCEITO DE JUSTIÇA SOB A ÓTICA ARISTOTÉLICA COM 
ENFOQUE NO JUSPOSITIVISMO DE HANS KELSEN 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada como requisito parcial 
para obtenção de grau no curso de Licenciatura 
Plena em Filosofia da Universidade Federal do 
Piauí – UFPI. 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Aprovada em:___/___/___ 
 
 
_________________________________________________________ 
Profª. Mestre: Ana Paula de Araújo Lima (Orientadora) 
 
 
_________________________________________________________ 
Profº. Mestre: José Luis de Barros Guimarães 
 
 
________________________________________________________ 
Prof. Mestre : Luiz Gomes da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse estudo aos meus pais: Arlindo e 
Elvira que são à base de todos os meus 
conceitos, e por sua vez, sempre me apoiaram 
nessa trajetória: a eles, o abraço mais carinhoso. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Aquele que com sua mão invisível sempre guiou meus passos, e me 
segurou todas as vezes que eu pensei em cair, ele que me deu forças mesmo nas 
horas que tive mais medo, e disse: vai, que estou aqui contigo! Por isso começo 
meus agradecimentos a Deus o senhor dos exércitos aquele que nunca me 
abandonou e pela fé que o dedico, com certeza não me abandonará. 
Agradeço a minha orientadora, Mestre Ana Paula que desde o inicio, me 
proporcionou autoconfiança ao falar que eu seria capaz, e que iria conseguir; ela 
que possui elevado conhecimento a cerca da filosofia e foi capaz de me repassar um 
pouco de si; por demonstrar tamanha sabedoria, bem como se fazer presente nessa 
incumbência tão árdua, a ela meus sinceros agradecimentos. 
Ao professor Mestre André Wallas por ter sido capaz de repassar com 
maestria todos os conteúdos administrados e, que brotou em mim profunda 
admiração pelo tamanho conhecimento e capacidade. Ao professor tutor Ranier 
Nunes por sempre ter se colocado a inteira disposição nas inúmeras vezes que 
precisei de sua ajuda, por isso com muito carinho lhe dedico minha imensa gratidão. 
A todos os meus colegas de classe pela troca de conhecimento, em especial 
aos amigos Milton, Irenaldo e Gildane pelo companheirismo que demonstraram ao 
longo do curso. Aos demais amigos e colegas extraclasse, que me incentivavam ou 
de alguma forma motivaram-me a continuar rumo ao meu objetivo. 
Aos filósofos (póstumos ou não) que através de suas teses grandiosas me 
abriram a mente e fizeram com que criasse verdadeira paixão pelo mundo filosófico. 
Por fim, em especial a minha família: Arlindo, Elvira e Sheylla, que com todo 
o amor possível sempre acreditaram no meu potencial, me incentivaram e deram-me 
condições para que pudesse continuar no curso até o fim, vindo a tornar-me a tão 
sonhada graduada em filosofia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A base da sociedade é a justiça; o 
julgamento constitui a ordem da 
sociedade: ora o julgamento é a 
aplicação da justiça.” 
 
ARISTÓTELES 
 
RESUMO 
 
 
Esse trabalho tem como objetivo analisar o conceito de justiça na visão do filósofo 
Aristóteles, abordando aspectos relevantes da justiça na antiguidade, bem como, 
fazer uma correlação entre a concepção de justiça Aristotélica e a visão 
contemporânea de justiça para o juspositivista Hans Kelsen. Dessa forma, faremos 
um estudo de cunho ético moral, que visa identificar de que forma esses preceitos 
são encontrados dentro da noção de justiça. 
 
Palavras-Chave: Justiça. Aristóteles. Juspostivismo. Hans Kelsen. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
This work aims to analyze the concept of justice in view of the philosopher Aristotle, 
addressing relevant aspects of justice in antiquity as well, making a correlation 
between the Aristotelian conception of justice and the contemporary vision of justice 
for juspositivista Hans Kelsen. Thus, we will make a study of moral an ethical nature, 
which aims to identify how these precepts are found within the notion of justice. 
 
Key - Words: Justice. Aristotle. Juspostivismo. Hans Kelsen. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9 
CAPÍTULO I - A CONCEPÇÃO DE JUSTIÇA PARA SÓCRATES E PLATÃO ....... 11 
1.1 A Verdade Socrática ........................................................................................... 12 
1.2 Justiça em Sócrates ............................................................................................ 13 
1.3 As Virtudes Platônicas ........................................................................................ 17 
1.4 Justiça em Platão ................................................................................................ 18 
CAPÍTULO II - O CONCEITO DE JUSTIÇA EM ARISTÓTELES ............................. 21 
2.1 Justiça Geral para Aristóteles .............................................................................. 22 
2.2 Justiça Distributiva .............................................................................................. 25 
2.3 Justiça Corretiva .................................................................................................. 26 
2.4 Justiça Política .................................................................................................... 27 
2.4.1 Justiça natural .................................................................................................. 28 
2.4.2 Justiça convencional ou legal ........................................................................... 29 
2.5 Equidade em Aristóteles...................................................................................... 29 
2.6 A Finalidade da Justiça para Aristóteles.............................................................. 31 
CAPÍTULO III - A MODIFICACAO DO CONCEITO DE JUSTIÇA ARISTOTÉLICA 
EM RELAÇÃO A JUSTIÇA POSITIVISTA ............................................................... 33 
3.1 Positivismo .......................................................................................................... 34 
3.2 Juspositivismo de Hans Kelsen ........................................................................... 35 
3.3 A Modificação do Conceito ..................................................................................37 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 41 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 43 
 
 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Tentar alocar a noção de justiça dentro da filosofia e do direito, é uma tarefa 
cautelosa, possui uma longa e evolutiva trajetória, a qual os homens continuam 
querendo explanar. Sabemos que a filosofia permeia em todos os campos do 
conhecimento: economia, matemática, artes, saúde, literatura, dentre outros. Não 
seria diferente em relação ao Direito, estando esses campos interligados acabam 
ajudando um ao outro, de modo que seus efeitos possuem considerável relevância 
para a sociedade como um todo, principalmente quando trabalham juntas na busca 
de elucidação a cerca de questões da justiça. 
Na verdade a ligação entre a filosofia e o direito é mais intensifica do que 
muitos imaginam. Se fizermos uma análise histórica, usando para tanto o método 
dialético 1 veremos que os grandes pensadores de ambas as áreas já as 
interligavam. Aristóteles, por exemplo, mesmo antes do direito ter sido propriamente 
criado, já fazia fundamentações sobre o mesmo. No âmbito jurídico, ao olharmos 
para grandes doutrinadores, veremos que muitos possuem alguma ligação 
acadêmica ou intelectual com a filosofia, muitos buscam uma base filosófica para 
fundamentar seus posicionamentos jurídicos, ou ate mesmo dedicam-se a ambas as 
áreas, a título de exemplo podemos citar o jusfilósofo Miguel Reale que se graduou 
em Direito (1934) e desenvolveu vários estudos no campo da filosofia, como 
"Filosofia do Direito" (1953). 
Aqui trataremos da filosofia do direito, abordando o seu objeto central, 
aquele que filósofos e doutrinadores, ao longo dos anos, tentarem e ainda tentam 
conceituar: a justiça. Esse conceito constitui alvo de preocupação desses dois ramos 
(filosofia e direito), ate porque e inviável falar em justiça, sem falar no direito, como 
também, se torna vago, falar "do justo" dissociado da filosofia. 
Inicialmente, faremos uma breve exposição da justiça na filosofia grega, 
passando pela visão Aristotélica, ate chegar ao juspositivismo de Hans Kelsen. 
Nosso percurso terá como ponto de partida os filósofos Sócrates e Platão, aonde 
mostraremos suas visões a cerca do tema, e logo em seguida analisaremos as 
 
1
 Método Dialético: na concepção clássica, sobretudo na interpretação platônica da filosofia 
socrática, o método dialético é aquele que procede pela refutação das opiniões do senso comum, 
levando-as à contradição para chegar então à verdade, fruto da razão (JAPIASSÚ, Dicionário de 
filosofia, 2001). 
10 
 
teorias (que tratam do justo) de Aristóteles e Hans Kelsen, os quais são os mais 
pertinentes a cerca da nossa pesquisa sobre a justiça. 
No primeiro capítulo, abordaremos a noção de justiça para Sócrates e 
Platão, fazendo uma panorâmica geral de suas teses, a respeito. De maneira sucinta 
explicaremos a semelhança a respeito do conceito de justiça para os referidos 
filósofos. Platão, discípulo e porta voz de Sócrates, seguiu a linha de raciocínio de 
seu mestre em seus primeiros diálogos, vindo a formar depois suas próprias teses, 
foi aprendiz moral e intelectual do pai da filosofia, mas seus posicionamentos não 
são exatamente os mesmos, pois cada um apresenta suas devidas particularidades. 
O segundo capítulo traz o objeto principal do nosso estudo: A justiça sob a 
ótica Aristotélica. Aqui mostraremos de modo específico qual era o real significado 
de justiça para Aristóteles e como ele a desdobrava. Com o decorrer do nosso 
estudo, descobriremos que não há uma única concepção de justiça para o mesmo, 
Aristóteles apresenta várias, as quais serão aqui descritas e demonstradas, de 
acordo com sua referida importância. Mostraremos o porquê da justiça ser elencada 
por Aristóteles como uma das virtudes do homem, inclusive uma das mais 
importantes, segundo ele, aquela que revela em si, o caráter humano. 
No terceiro capítulo, abordaremos a noção da justiça positivista, vista por um 
de seus principais expoentes: Hans Kelsen, que dentre outros juspositivistas foi o 
que de acordo com estudos elencados, foi o que mais se destacou nessa corrente. 
Será abordado o momento em que a justiça passa a ser utilizada como pura 
codificação, destituída de valor, para essa corrente o justo é aquele que se encontra 
no papel, escrito, positivado. Ainda nesse capitulo será analisado o quanto foi 
modificado o conceito de justiça Aristotélica (que possuía, sobretudo um viés 
virtuoso), quando analisado em paralelo com a corrente juspositivista (baseada na 
norma pura). 
Em conclusão, faremos as considerações finais, mostrando a forma como a 
justiça foi relativizada pelos homens em se tratando do conceito advindo da 
antiguidade, e apontaremos o problema dessa relativização na contemporaneidade. 
Sabemos que o tema justiça é muito discutido no mundo todo, mesmo assim, até 
hoje permanece o desafio de encontrar o que se pode realmente chamar de justo. 
Cabe ressaltar que o objetivo dessa temática é analisar o modo como a justiça vista 
sob a ótica de Aristóteles, pode sim alcançar a finalidade a que ela se propõe: a 
eudaimonia, mesmo nos dias atuais. 
11 
 
CAPÍTULO I 
 
1 A CONCEPÇÃO DE JUSTIÇA PARA SÓCRATES E PLATÃO 
 
 
Aqui, mostraremos a visão de justiça em Sócrates e Platão, analisando de que 
maneira esses filósofos contribuíram para elucidação de questões pertinentes a 
justiça, verificando que a mesma, possui uma correlação com a noção de verdade. 
Assim, de maneira breve, investigaremos de acordo com seus escritos, o que vem a 
ser a justiça nas suas perspectivas. 
A indagação no que tange o conceito de justiça é feita por filósofos e 
doutrinadores desde os tempos antigos. Desse modo, não poderíamos deixar de 
citar o posicionamento desses filósofos: Sócrates e Platão. Dentre outros vários 
temas filosóficos que discorreram ao longo de suas trajetórias, eles também 
aduziram sobre o tema justiça, deixando, assim, seus legados para a história da 
filosofia. 
A grosso modo, entende-se que justiça “[...] é restituir a cada um o que lhe 
convém, considerando isso restituir o que é devido" (PLATÃO, 2009, p.09), esse 
conceito foi dado na obra“ A República” de Platão, mais precisamente nos diálogos 
de Sócrates com Polemarco, e apesar de terem se passados tantos séculos, esse 
entendimento de justiça se estende a muitos teóricos da atualidade: a visão de 
justiça como o fiel da balança. Entretanto, a resposta para o questionamento do 
justo não foi unificado e existem diversas teses e correntes que se empenham em 
conseguir delimitá-la. 
Esse “ser justo” é entendido de formas diversas, variando de acordo com 
quem o preleciona; uma espécie de construção pessoal. Partindo desse 
pressuposto, iremos a seguir analisar a concepção do justo sob o viés de dois 
mestres filósofos gregos: Sócrates e Platão, que inclusive muito se assemelham, 
uma vez que Platão como discípulo de Sócrates, adquiriu, sobretudo a base moral 
do seu mestre. 
 
 
 
 
12 
 
1.1 A Verdade Socrática 
 
 
Sócrates, filósofo grego, é uma grande referência na filosofia, um verdadeiro 
marco na historia filosófica. Nasceu por volta de 470 a.C, em Atenas na Grécia 
antiga, vindo a falecer em 399 a.C, filho de um escultor e uma parteira. "[...] iniciador 
da filosofia moral e inspirador de toda uma corrente de pensamento ate Aristóteles" 
(BITTAR, 2001, p. 49). 
Embora não tenha deixado nenhuma obra escrita, Sócrates nos deixou seu 
legado, uma história que vem sendo contada gerações após gerações. Ele quis 
mostrar que reconhecendo nossa própria ignorância diante de algo, será possível 
conhecer-nos e chegar a uma verdadeconcreta. Contudo, essa verdade está dentro 
de nós, por isso antes de mais nada, precisamos conhecer-nos a nós mesmos. 
Utilizava para tanto, a simplicidade do dialogo, que possui, segundo ele, o objetivo 
de livrar-nos das contradições. Dessa forma, assim preleciona Platão: 
 
Com esse objetivo inicial, levava o interlocutor a emitir opiniões 
referentes à sua própria especialidade, para em seguida interrogar a 
respeito do sentido das palavras empregadas (PLATÃO, 1987. p.09). 
 
Para Sócrates os questionamentos acerca do que é o conhecimento; de onde 
ele vem; se você realmente se conhece, era baseado em perguntas, que se 
desenvolviam nos seus diálogos, dessa forma, aos poucos ele ia desconstituindo os 
dogmas das pessoas e fazendo ressurgir novas ideias. 
Um homem dotado de grande sabedoria, que ao falar gerava fascínio e 
segurança. Sócrates andava pelas ruas de Atenas discursando em praça pública 
para os jovens, sem recorrer a nenhuma ideologia pronta. Partia do princípio da 
ignorância, que por meio de seu método, que denominou como maiêutica (parto das 
ideias) mostrava, principalmente, aos jovens que existe um “eu” ignorante a cerca de 
qualquer assunto, pois ninguém é detentor do conhecimento absoluto, sempre há 
um pouco a mais para aprender. Sócrates utilizava-se da ironia, fingindo ignorar, 
para primeiramente derrubar os dogmas existentes. 
Desse modo, se eu reconheço não saber algo, ainda possuo a possibilidade 
de ir a busca desse conhecimento, que segundo ele, não é concebido ou encontrado 
no mundo exterior, mas dentro de si próprio. Com isso, através do método já citado: 
13 
 
a Maiêutica2, fez renascer brilhantes mentes, onde escondiam grandiosas ideias. 
Assim, Sócrates percorreu seu tempo, ajudando as pessoas a resgatarem o que há 
dentro de si, guiando seus discípulos e adeptos desde a antiguidade até os dias 
atuais, dessa forma, hoje nos podemos notar que utilizamos frequentemente seus 
métodos e ensinamentos. 
“Conhece-te a ti mesmo” e encontrarás a verdade. Sócrates por si só, não se 
considerava sábio, contudo, conforme a história conhecida, foi assim denominado 
pelo oráculo de Delfos: o mais sábio de Atenas, e então começou a operar a missão 
que lhe foi dada pelos Deuses -levar sabedoria aquele povo-. O interessante é que 
passou a comparar-se com aqueles que ele acreditava fielmente possuírem 
sabedoria (sofistas), e após muitos diálogos percebeu que os mesmos, que eram 
sábios aos olhos do povo e aos seus próprios, na verdade não possuíam sabedoria, 
não eram sábios mais permaneciam acreditando ser. Sócrates concluiu, portanto, 
serem esses os mais tolos de todos. 
Dessa forma, diante do exposto, conclui-se que a verdade socrática consiste 
na busca do autoconhecimento, e agindo de uma forma pedagógica ele muito 
contribuiu para a sociedade de seu tempo e para as posteriores. Essa teoria se 
levada à prática é capaz de causar grandes transformações, pois o que notamos é 
que a sociedade, principalmente a contemporânea, vive aprisionada em ideias pré-
estabelecidas e esquecem muitas vezes de olhar para suas próprias ideias, por isso, 
notamos através dos ensinos deixados pelo mestre, que realmente a capacidade de 
conhecer a si próprio, sugerida por Sócrates possui grande relevância. 
 
 
1.2 Justiça em Sócrates 
 
 
Sócrates, cidadão admirado e enaltecido por muitos, era considerado 
homem sábio e humilde. Para obedecer às leis de sua pátria, Sócrates recusou-se 
 
2
 MAIÊUTICA: Do grego maieutiké, que no português que dizer: “a arte de fazer um parto”. Para 
Sócrates era como se você estivesse “parindo” suas ideias, ou seja, tirando-as de dentro de si, e 
expondo para o mundo exterior. Representava essa à oportunidade de um verdadeiro renascimento, 
seja, tirando-as de dentro de si, e as expondo para o mundo exterior. Representava esse método, 
segundo ele, um verdadeiro renascimento, tendo em vista que novas ideias passam a surgir. 
 
14 
 
a salvar a própria vida e deu fim a sua existência sensível, ingerindo cicuta, assim 
como lhe foi imposto. Acreditava fielmente nas leis, e dizia que em prol da justiça, 
era preciso que os homens bons seguissem as leis más, para que os homens maus 
seguissem as leis boas. 
Ao inaugurar seu discurso sobre o justo, o filósofo grego aduz ao fato de que 
sem justiça, não é possível viver em sociedade, ser um ser social. Começa 
recorrendo ao início das sociedades, onde desde sempre os homens buscam 
satisfazer-se uns com os outros, entrelaçando as capacidades de cada um para 
forma-se um todo. Eles vão construindo uma espécie de teia, onde tudo 
necessariamente se encontra, nem sempre de forma harmoniosa, mas a certeza 
dessa interdependência tacitamente permanece. Por esse motivo, a justiça naquele 
período se relacionada com a troca: o Estado dava segurança aos cidadãos e esses 
deviam-lhe obediência a cima de tudo, assim era vista a justiça na visão aristocrata 
ateniense. 
No entanto, as sociedades foram se complexando e esse sentido de justiça 
como troca já não mais satisfazia os anseios da população. Sócrates por sua vez, 
acreditava que justiça possuía um entendimento muito mais amplo, era, sobretudo a 
virtude, um bem comum. O filósofo grego era um homem preocupado com a 
verdade, desse modo, não seguia as regras da aristocracia, por isso era criticado e 
combatido, pois essa mesma classe o via como uma ameaça para as tradições da 
polis e um elemento perigoso à juventude. 
Assim, por conta de seus debates e buscas inconstantes pela verdade, viam 
nele um perigo, chegando a ser considerado “o corruptor da sociedade”. Fazendo 
aqui uma analogia: é natural que se uma ovelha tenta se desgarrar, e ainda tentar 
levar consigo outras mais, seus donos queiram excluí-la definitivamente do seu 
rebanho para que mais adiante não ocorra das demais também se desgarrarem, 
deixando seu pasto ficar definitivamente vazio. Sócrates só queria ensinar o modo 
pelo qual as pessoas buscariam a verdade, a maneira na qual pudessem se tornar 
pessoas virtuosas e sábias, para que não continuassem o resto da vida sob o 
cabresto psicológico de uma classe dominante. Nesse sentido ele aduz: 
 
Não tenho outra ocupação senão a de vos persuadir a todos, tanto 
velhos como novos, de que cuideis menos de vossos corpos e de 
vossos bens do que da perfeição de vossas almas, e a vos dizer que 
a virtude não provém da riqueza, mas sim que é a virtude que traz a 
riqueza ou qualquer outra coisa útil aos homens, quer na vida pública 
15 
 
quer na vida privada. Se, dizendo isso, eu estou a corromper a 
juventude, tanto pior; mas, se alguém afirmar que digo outra coisa, 
mente (PLATÃO, 1987, p.10). 
 
Dessa forma fizeram com Sócrates: procuraram calar a voz da sabedoria 
antes mesmo que todos tivessem a ouvido. Hoje vemos que de nada adiantou essa 
barbárie, tendo em vista que séculos e séculos depois, continuamos bebendo em 
suas fontes, contando sua história, praticando seus ensinamentos. 
Foi julgado e condenado indevidamente, julgamento esse baseado em um 
domínio intelectual da época, cujo que menos queriam era cidadãos inteligentes na 
Polis. O júri foi constituído por cidadãos provenientes das dez tribos que formavam a 
população de Atenas e escolhidos por meio da tiragem de sorte. Sócrates, fez sua 
própria defesa; argumentou utilizando a verdade dos fatos rebateu as acusações 
que sobre ele pairavam: ateísmo, corrosão da juventude e outros, entretanto, 
mesmo sendo ele inocente, acabou condenado a morte. Perguntaram-lhe porque 
aceitava o julgamento e sua pena de envenenamento, sendo esses tão injustos, 
então respondeu: é melhor suportar uma injustiça do que cometê-la. 
O próprio Sócrates realizou sua defesa, que diferentemente do que diziam 
dele, não se mostrou um orador profissional,pois não o era, não proferia belos 
discursos envoltos por palavras vazias e sim retirava a verdade de dentro para fora, 
procurando esclarecer da melhor forma possível o que desejava transmitir. Assim 
começou seu julgamento: 
 
[...] Contudo, cidadãos atenienses, por Zeus, não ouvireis discursos 
repletos de expressões ou palavras vazias, ou adornados como os 
deles, mas coisas ditas simplesmente de maneira espontânea; pois 
estou certo de que é justo o que digo, e nenhum de vós espera outra 
coisa (PLATÃO, 2004, p.15). 
 
De acordo com a citação acima, nota-se, portanto, que em nenhum momento 
o filósofo teve a intenção de iludibriar, ou fazer apelos de misericórdia para os 
julgadores, defendeu-se com suas próprias palavras e sem mais delongas. Sócrates 
era um cidadão justo, só quis expor a verdade, e independente da decisão, ele 
estava certo que iria cumpri-la. 
Embora o mesmo, tenha ensinado noções sobre justiça – procurando mostrar 
de que forma as pessoas poderiam buscar a verdade, é que podemos auferir a quão 
justo ele era; preservando a noção de virtude. Para Sócrates, quando se fala em 
16 
 
justiça, parte-se do princípio da prevalência da obediência; segundo ele a sentença 
mesmo que injusta, deve ser cumprida. E foi exatamente como ele procedeu: Teve a 
oportunidade de comutar sua pena; de fugir mesmo assim preferiu aceitar, com 
muita coragem, a dura pena que lhe foi imposta. Dessa forma, assim foi retratado o 
discurso do mestre: 
 
Sustenta-me uma certeza: mais difícil que evitar a morte é evitar o 
mal, porque ele corre mais depressa que a morte. Quanto a esta, 
apenas pode ser uma destas duas coisas: Ou aquele que morre é 
reduzido ao nada e não tem mais qualquer consciência, ou então, 
conforme ao que se diz, a morte é uma mudança, uma transmigração 
da alma do lugar onde nos encontramos para outro lugar (PLATÃO, 
1987, p.10). 
 
Sócrates morreu sustentando suas teses e perpetuando o bem, conforme 
exposto acima no seu discurso. A justiça para ele era algo grandioso, as leis eram 
feitas para serem de obedecidas por todos, mesmo às vezes, não sendo justas. E 
apesar de ter ele, ouvido várias súplicas para livrar-se da pena, explica: “a única 
coisa que importa é viver honestamente, sem cometer injustiças, nem mesmo em 
retribuição a uma injustiça recebida” (PLATÃO, 1987, p.14). 
Assim, através da sua posição sobre a justiça e também pela análise do seu 
julgamento, foi possível analisar que para Sócrates sempre que houver o justo, ao 
lado estará o injusto, e já que as leis estão para ser cumpridas, independente da sua 
posição (se condiz ou não com a justiça) deverá ser aceita. Na Apologia de 
Sócrates, escrita por Platão, por várias vezes é mencionada a questão da 
moderação, a qual prescrevem que sempre deve ser seguida. Sócrates também faz 
menção à justiça como sendo uma espécie de comutação com a piedade, pois 
essas duas virtudes se assemelham. 
Encerrando a noção de justiça em Sócrates, concluímos que para ele, ela 
reside para todos, indubitavelmente no cumprimento exato das normas que são 
impostas a cada cidadão. 
Nesse sentido, afirma também o jusfilosofo Bittar: 
 
Em seu conceito que nos foi transmitido pelos diálogos platônicos de 
primeira geração, as leis da cidade são inderrogaveis pelo arbítrio da 
vontade humana que se expressa por meio de falaciosas construções 
silogísticas e de argumentos desvinculados de qualquer compromisso 
com a verdade (BITTAR, 2001, p.50). 
 
17 
 
Dessa forma, esse seu conceito de justiça traz uma noção moral que eleva o 
ser a uma unidade mais pura. Para Sócrates é importante que o homem preserve 
suas virtudes acima de tudo; seja íntegro e, sobretudo fiel às leis, ainda que essas 
sejam injustas, pois para ele, a obediência também e figurada como virtude. 
 
 
1.3 As Virtudes Platônicas 
 
 
Aristocles (seu nome verdadeiro) ou simplesmente Platão, como ficou 
conhecido, foi discípulo direto de Sócrates, seu grande mestre. Tentou interceder em 
seu julgamento juntamente com outros companheiros, sem sucesso como sabemos, 
pois mesmo assim, Sócrates veio a ser condenado. 
O filósofo do mundo ideal-assim chamado por ter formulado a tese de que o 
mundo é dividido em duas esferas: o sensível e o inteligível, sob uma concepção de 
que nós seres humanos racionais, devemos optar pelo mundo inteligível para prover 
uma libertação- era envolto de grandes virtudes que até hoje inspiram a 
humanidade. Platão Deixou várias obras escritas, entre elas aquelas que relatam os 
pensamentos Socráticos. A brandura e pureza com as quais escrevia seus diálogos 
deram ao grego um espaço único na vida intelectual. 
Grandes mentes saem de elevadas almas. Dessa forma duas mentes 
brilhantes se uniram em escritos únicos para nos repassar o que há de mais nobre. 
Sócrates muito inspirou Platão, transmitindo toda a sua sabedoria e moral, para que 
através de suas mãos, pudesse materializar os pensamentos socráticos. A corrente 
platônica coloca as virtudes como degraus para a felicidade, segundo o referido 
filósofo são caminhos a serem trilhados, que se transcorridos corretamente, nos 
levarão a felicidade suprema. Uma vida virtuosa é uma vida feliz. 
Para Platão, a virtude deve ser concedida por si mesmo, e não por entidades 
exteriores. Se brota de ti, a virtude será tua e somente tua, sendo passível, de ser 
esta, estendida a outros –assim como fez Sócrates- que através de conversas 
descontraídas, foi capaz de estender suas virtudes a vários de seus discípulos. A 
justiça não é egoísta, pode e deve ser estendida aos outros, pois de nada valeriam 
inúmeras virtudes se não pudéssemos compartilhá-las. Ela é uma dádiva da qual 
todos podem se valer; é um bem comum. 
18 
 
As virtudes não são passíveis de visibilidade, tão pouco de qualquer outro 
sentido sensível (que pode ser tocada): a virtude é parte do mundo inteligível (o 
mundo que reside nas ideias), embora possa ver verificada através de atitudes do 
mundo concreto. Porque como já foi dito, ela é genuína, dessa forma, quem diz 
possuir virtude sem tê-la, não chega nunca à finalidade a que essa se propõe. 
Segundo Platão, o conhecimento faz-se necessário para adquirir as virtudes, 
porque através dele, nós somos levados a fazer as escolhas corretas. É o 
posicionamento crítico filosófico que vai nos dar discernimento para intuirmos entre o 
certo e o errado, fazermos escolhas entre o bem e mau. 
Desse modo, iremos fazer uma breve exposição do conceito de virtude em 
Platão, ressaltando a classificação que o filósofo grego as elenca, ele as descreve 
em quatro virtudes naturais, também chamadas de cardeais, sendo elas: a 
sabedoria, a coragem, a temperança e a justiça. 
Dessa forma, o estado ideal para Platão é caracterizado pela moderação, o 
que se encontra no meio, entre a escassez e o excesso onde se reside uma formula 
de Estado ideal. Vale ressaltar, que entre as virtudes por ele citadas, coloca como 
umas das mais célebres virtudes humanas, a justiça, aquela que é capaz de reger 
toda a polis, a qual nós detalharemos com mais precisão no item a seguir. 
 
 
1.4 Justiça em Platão 
 
 
Quando Platão tratou do tema justiça, estava preocupado e voltado para uma 
Polis ordenada e justa, onde o Estado ideal era aquele em que todos os cidadãos 
estavam hierarquicamente cumprindo suas devidas funções. 
Desse modo, aduz: 
 
Tal é, segundo penso, o fim que é preciso ter sem Cesar diante dos 
olhos para dirigir a vida. É preciso que cada um empenhe todas as 
suas forças, todas as do Estado, na direção desse fim, a aquisição da 
justiça e da temperança como condição da felicidade (PLATÃO, 1949, 
p.197). 
 
19 
 
Nesse sentido de solidariedade, preleciona Platão acerca do tema justiça. 3De 
início, podemos notar a noção do justo como solidário na sua teoriapolítica, que não 
está desassociada da justiça. Na cidade perfeita, cujo denominou: Callipolis, ele 
dizia que as funções deviam ser devidamente dividas por classes, mais 
precisamente em três classes: Os comerciantes (que trabalham); os militares (que 
fazem a proteção) e os magistrados/filósofos (que governam). Dessa forma, agindo 
assim como os órgãos do corpo humano, cada um teria sua função. 
Veremos que na verdade toda essa estrutura foi pensada por Platão com 
intuito de promover o bem-estar da polis. Estando essa assim dividida estaria 
assegurada pela justiça, pois a justiça está atrelada a ordem, motivo esse que o 
referido filósofo aduz que alguns Estados nunca alcançaram o nível da justiça. 
Tomando como referência o corpo humano: todos os órgãos devem estar sadios e 
funcionando em concomitância, pois se um ficar adoentado, o conjunto como um 
todo perderá suas forças. Assim deve ser o Estado para Platão: cada instituição 
deve fazer sua tarefa com presteza, aquilo que lhe foi designado, como um dom, 
para que todos possam gozar da justiça e da felicidade. 
Para Platão, na Polis grega, quem deveria governar era necessariamente os 
sábios, pois possuem maestria para tal. Segundo ele, a povo em geral não tem 
maturidade para decidir o melhor, tendo em vista que se deixavam legar por 
discursos preparados. Por esse motivo Platão era contra a democracia, deve existir, 
contudo uma ordem superior, dotada de homens que sejam capazes de domar seus 
desejos sensíveis. Dando poder ao saber: é assim que dentro da polis haverá a 
justiça de fato. Vale ressaltar que mesmo com toda sua perfeição, a “polis perfeita” 
(Callipolis) permaneceu como Utopia. 
Com efeito, foi a partir da noção de justiça dos filósofos gregos, 
especialmente Platão e Aristóteles que o direito de vários Estados se ergueu. Platão 
possuía um meio autentico e particular de pensar: típico de um grande filósofo. Não 
teve medo de criticar o modo vigente de se fazer justiça que segundo ele, tinha sido 
corrompida pelos seus governantes e, deste modo, propôs seu próprio modelo. 
Sua crítica à justiça começa exatamente quando condenam indevidamente 
seu mestre. A partir deste momento Platão começa a refletir sobre aquele modelo 
autoritário de conduzir “o justo”. Toma como pressuposto as virtudes que devem ser 
 
3
 A pólis (πόλις) Era o modelo das antigas cidades gregas, desde o período arcaico até o período 
clássico, vindo a perder importância durante o domínio grego. 
20 
 
exercida pelo homem tanto no seu interior, como no exterior. No que tange a cada 
indivíduo,ela se verifica dentro de cada um no seu mais intimo sentimento, é quando 
brota dentro de si, um sentimento virtuoso, que sempre vai à busca da justiça. Por 
sua vez, os resultados são vistos na Polis, pois uma sociedade justa, é uma 
sociedade feliz. De um lado as ideias inteligíveis, dentro de si, e de outro as 
sensíveis, onde se manifestariam nas cidades-estados através da divisão de tarefas 
de acordo com o seu devido potencial, seu referido dom. Os artesões, os guerreiros 
e os filósofos, exerceriam suas funções da melhor maneira possível, atingindo o tão 
almejado bem comum. 
Foi então com essa noção divisão tarefas, onde a atitude de um, causa o bem 
de todos, que hoje temos uma noção do direito como regulamentação social, ou 
seja, do que se pode ou não fazer. Estando um militar em ofício, poderá praticar 
atividades que um cidadão comum não é autorizado; os empresários por sua vez, 
gozam de benefícios que os civis não os têm; bem como papel do jurista, que não se 
limita apenas em aplicar ou estudar as leis existentes, assim positivadas, pois estão 
legitimados a interpretar, extrapolando suas funções, contudo, todos eles são 
devidamente autorizados pelo Estado. 
Uma vez analisada a justiça grega, agora partiremos para uma analise 
suscinta "do justo" na concepção do então sucessor de Sócrates e Platão: 
Aristóteles, que por sua vez, formulou sua noção própria de justiça, criando uma 
espécie de conjunto com subdivisões, as quais veremos no capítulo que segue. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
CAPÍTULO II 
 
2 O CONCEITO DE JUSTIÇA EM ARISTÓTELES 
 
 
A Grécia antiga foi envolta por grandes teses a cerca da justiça. Como foi 
visto nos capítulos anteriores, Sócrates e Platão deixaram suas marcas na história a 
respeito do tema, assim como Aristóteles. Surgindo também da tradição grega, o 
referido filósofo pertencente ao século IV a.C escreveu sobre diversos temas, 
costumava dizer “[...] que a filosofia começou com a perplexidade, ou melhor, com a 
atitude de assombro do homem perante a natureza[...]” (REALE, 2011, p.06).Tendo 
sempre como base a virtude,entre os temas do qual recorreu, um dos que mais 
obteve destaque foi à justiça. Vale ressaltar que ficou conhecido como um dos 
filósofos mais influentes da história, inclusive fundou sua própria escola, o Liceu, 
período onde foram produzidas suas principais obras. 
A questão a cerca da justiça (diké) em Aristóteles é de primordial importância. 
Sua grandeza se mostra no decorrer dos seus estudos. Foi um dos primeiros 
homens da história a recorrer teoricamente sobre ela, e até hoje suas teses são 
usadas no direito. O mesmo se volta à concepção de justiça como um ponto 
primordial de ordenamento, tanto jurídico, como social. 
Aristóteles recorreu sobre diversos temas importantes da humanidade: amor, 
ética, justiça, felicidade e outros; se tornou um verdadeiro referencial. A ética por sua 
vez foi bastante explorada pelo filósofo, sendo inclusive parte do título de algumas 
de suas obras como por exemplo: Ética a Nicômaco e Ética a Eudemo. 
Seus pensamentos a certa da justiça são expostos principalmente no livro V 
de Ética a Nicômaco (a qual se dirige nosso estudo), com uma breve passagem na 
Ética à Eudemo, que não possuem grandes diferenças. Neles expõe toda a sua 
investigação sistemática a acerca do tema. Ética a Nicômaco, escrita a mais de vinte 
séculos, ainda possui um aspecto contemporâneo, sobretudo por falar de virtudes, 
tema esse que dificilmente cairá em desuso. 
Para Aristóteles a justiça sendo conceituada na noção de sociedade 
igualitária, baseado em um sentido de isonomia onde "[...] todos são iguais perante a 
lei, sem distinção de qualquer natureza [...]" (SARAIVA, 2014, capt. art. 5, CF) não 
satisfaz uma totalidade de justiça, pois a igualdade de fato nem sempre é justa. Por 
22 
 
isso, Aristóteles tratou da justiça entre outras como a forma distributiva, ponderativa. 
Defendendo sua tese com muita maestria diz que justiça de verdade, é muito mais 
do que partir uma laranja em partes iguais, pois aquela mesma parte pode 
caracterizar-se como escassez para uma das pessoas que a recebe, e excesso para 
outra. Nesse sentido, justiça é então uma medida de proporção. Esse modo de 
formular o justo é expresso como princípio da proporcionalidade: tratar os iguais 
como iguais e os desiguais como desiguais, na medida de sua desigualdade. 
 Enquanto as virtudes morais já determinadas são acerca das paixões; a 
justiça, entretanto, é acerca das operações. As virtudes anteriormente determinadas 
em Ética a Nicômaco (verdade, bondade e etc.) são a cerca das paixões dos 
indivíduos, aquelas sentidas internamente, enquanto que a justiça virtuosa que 
veremos aqui, embora brote de dentro de si, pode e deve ser exteriorizada. Nesse 
sentido, o homem torna-se operador da justiça. É portanto, como se fosse: teoria e a 
prática. Nesse sentido, assim considera Bittar: 
 
A ação, seja ela justa, seja ela injusta, diferentemente do que ocorre 
com a coisa justa de per si, depende de um agente que lhe dê causa. 
Assim, Nemo actio sine auctore. Sendo que a prática da injustiça e 
também da justiça requerem a participação de um agentecomo 
causa eficiente de um efeito que se produza na esfera alheia, mister 
se faz análise da diferença entre agir, justa ou injustamente, e o ser, 
justo ou injusto (BITTAR, 1999, p. 31). 
 
Vale ressaltar, para que não nos esqueçamos, que o papel da justiça vem a 
ser a finalidade suprema do direito e da filosofia do direito, aquele “bem maior”, tido 
por excelência, já dito por Aristóteles, e procurado por todos. Contudo, para chegar 
ao bem maior que se tem em mira, segundo Aristóteles, a justiça deve ser vista em 
um conceito amplo, mas não unívoco. Dessa forma, viu a necessidade de dividi-la 
de uma forma geral e estrita, assim, no tópico a seguir, analisaremos a que ele 
denomina: justiça geral. 
 
 
2.1 Justiça Geral para Aristóteles 
 
 
Para Aristóteles: a justiça e a primeira virtude das instituições sociais, ou 
seja, é o bem mais virtuoso que existe. A virtude em sentido amplo (universal) que 
23 
 
para ele abarca as outras particulares, cujas trataremos mais a frente, consiste, pois, 
em uma justiça universal amparada na lei.Afirma dessa forma que visão o bem 
comum. 
 
Em seus preceitos sobre todos os assuntos as leis visam o interesse 
comum a todas as pessoas, ou às melhores, ou às pessoas das 
classes dominantes, ou algo do mesmo tipo, de tal forma que em 
certo sentido chamamos justos os atos que tendem a produzir e 
preservar a felicidade, e os elementos que a compõem, para a 
comunidade política (ARISTÓTELES, 2009, p.109). 
 
De acordo com as palavras do filósofo em questão, nota-se primeiramente 
que a justiça visa um bem maior, um bem comum a todos. Esse bem maior é obtido 
pela excelência, excelência moral denominada justiça universal. É um tipo de justiça 
a latu sensu (em sentido amplo), uma justiça comum que visa produzir a felicidade. 
Ela parte da lei como pressuposto, e vai se estendendo aos indivíduos particulares. 
A lei nesse sentido tem o dever de alcançar esse resultado, certamente por esse 
motivo buscam-se leis voltadas ao subjetivo do homem (direito a dignidade da 
pessoa humana e outros) e ao observarmos a tese de Aristóteles, inferimos que a lei 
quase sempre nos ampara quando praticamos algo por excelência, mas, contudo, 
nos proíbe de fazer tudo aquilo que possui uma deficiência moral. 
 Ao lado da justiça e do sentimento que brota de cada um, existe a injustiça. 
Nota-se nesse sentido que os indivíduos possa a vir cometer atos justos e injustos, 
mesmo partindo da mesma pessoa. O justo, no sentido geral (universal) vem a ser 
aquele que obedece às leis e respeita e respeita a igualdade; por sua vez, o injusto 
será então a transgressão da lei e o desrespeito pela igualdade. 
 A respeito da justiça universal (geral), vejamos a posição de Bittar: 
 
Esse tipo de justiça é o gênero, o sentido mais amplo que se pode 
atribuir ao termo. A justiça total é também chamada de universal ou 
integral, e tal se deve ao fato de ser a abrangência de sua aplicação a 
mais extensa possível. Pode-se mesmo afirmar que toda virtude, 
naquilo que concerne ao outro, pode ser entendida como justiça, e é 
nesse sentido que se denomina justiça total ou universal (BITTAR, 
1999, p.114). 
 
A excelência da justiça reside em cada um, dessa forma, o indivíduo poderá 
escolher tê-la ou não: Ser um homem justo ou injusto. O injusto não é somente 
24 
 
aquele que, por exemplo, na hora de uma escolha apodera-se da maior parte, mas 
também aquele que se apodera da parte menor, quando essa não lhe é devida. 
Sendo a justiça (em modo amplo), aquela baseada na lei e a injustiça aquela 
que a transgride, é certo afirmar nesse sentido que toda a legalidade é de alguma 
maneira justa. 
Desse modo afirma Aristóteles que “[...] cada uma das disposições legais é 
justa” (ARISTÓTELES, 2009, p.10). Ou pelo menos deveria ser, já que visam à 
felicidade do homem. 
A lei é um dispositivo humano baseado em ações justas a serem realizadas: 
impõe coragem ao corajoso; dá oportunidade aos esquecidos; castigo para a 
maldade. É a mais sublime contradição: ao tempo em que autoriza umas ações; 
proíbe outras. 
Desse modo, quando a lei é acertadamente editada pelo legislador, ou seja, 
feita de maneira justa e coerente, será essa, apesar de estar disposta em um 
simples papel, encarada como a própria justiça, se tornando então, segundo o 
filósofo grego “uma excelência completa”. 
A justiça enquanto virtude é a mais poderosa das excelências, ela é 
universal, e por isso deve ser praticada em qualquer lugar do mundo, observando 
claro, as regras de cada sociedade, uma vez que a justiça geral é obtida através da 
lei, e essa poderá variar de acordo com os Estados. 
Nesse sentido assevera Aristóteles: 
 
É assim, se modo supremo, a mais completa das excelências. É, na 
verdade, o uso da excelência completa. É completa porque quem a 
possuir tem o poder de a usar não apenas para si, mas também para 
outrem (ARISTÓTELES, 2009, p.105). 
 
Dessa forma, já que a virtude concedida pela justiça é atributo seu, sendo 
assim você poderá estendê-la a outrem, compete à justiça, conforme explicado, 
ordenar o homem em relação a outro, trata-se a justiça geral de uma virtude 
completa, universal e perfeita; exercida sobre si e em relação ao próximo, que é, 
portanto capaz de salvaguardar a felicidade. 
Partindo da geral, ele elenca alguns outros tipos específicos de justiça, que as 
denomina como: Justiça particular, dividindo- as das formas que detalharemos nos 
itens a seguir. 
 
25 
 
2.2 Justiça Distributiva 
 
 
Podemos observar na tese de Aristóteles, que a justiça e a injustiça 
caminham lado a lado, assim como dois lados de uma moeda, como o bem e o mal, 
são essas inerentes, onde uma estiver ao lado à outra estará. Nesse sentido 
preleciona o filósofo grego: “Assim o sentido do termo justo, tem tantas acepções 
quantas tiver o sentido do termo injusto” (ARISTÓTELES, 2009, p.104). 
Aristóteles investiga a justiça como imersa na excelência. A noção de 
igualdade total, não a satisfaz por completo. Intitula-se como justiça distributiva 
aquele sentimento de dar ao outro aquilo que mereces, observando sempre o seu 
mérito. É a justiça no sentido de equilíbrio; uma igualdade aritmética. 
Parte-se do pressuposto que a igualdade na hora da distribuição, pode vir a 
tornar-se injusta. Ora, porque o justo aqui não é dividir algo em partes iguais, e sim 
fazer com que cada parte adapte-se a cada um. Portando o ponto X a ser observado 
é a distribuição; na hora da partilha. O problema é o modo subjetivo como ela é 
vista: para a democracia a parte justa é liberdade, enquanto que para a oligarquia, 
busca- se a riqueza, ou ainda o status dela. 
Tento em vista o que foi aqui exposto, nota- se que a justiça nesse sentido é 
baseada na proporção. O princípio da proporcionalidade consiste em “tratar os 
iguais como iguais, e os desiguais como desiguais” uma espécie de equação das 
relações reais. Um exemplo prático desse modo de justiça é a oferta de vagas em 
Universidades Públicas, ou ainda o sistema de cotas, tento em vista que esse tipo 
de ação, trata-se de dar oportunidade aqueles que foram de algum modo 
desfavorecidos. 
Essa equação implica ou divide-se em quatro termos: A, B, E, e D, aonde os 
pares se encontram, e após passar pelas devidas etapas; esses pares representam 
dois sujeitos (A e B) e dois objetos (C e D) que irão agir buscando a justiça, o que e 
pertinente observar nessa equação e que os sujeitos A e B dificilmente serão iguais, 
portanto, a lógica consiste em não atribuir a eles, uma vez que não são iguais, 
objetos idênticos. 
Com a junção dos termos possibilita-se, portanto a realização do todo. Vale 
ressaltar ainda que Aristóteles denomina essa, como sendo uma das justiças do 
modo particular. Vejamos outra justiça da sua subdivisão: 
26 
 
2.3 JustiçaCorretiva 
 
 
Ao contrario da justiça distributiva, essa não possui o sentido de repartição e 
sim de reparação. É aqui o âmbito aonde justiça e injustiça se encontram e ocorre 
por ventura a violação da proporção a pouco comentada. Aqui vamos observaremos 
a coisa justa e aquilo que fugiu dela. 
Usando o método indutivo, ela parte do particular para o geral, e aplica- se de 
acordo com cada caso específico. Implica em uma relação bilateral, pois sempre 
haverá dois lados: “Aquele que comete a justiça ou a injustiça e aquele que é 
injustiçado. Estará, pois na mão do juiz o poder da justiça, pois lhe caberá à tarefa 
de “retirar o ganho para ressarcir a perda” (ARISTÓTELES, 2009, p. 110). 
A procura aqui é sempre pelo meio termo, aquele que busca a justa medida. 
Dessa forma, o justo será encontrado quando não houver escassez pela falta, nem 
causar enriquecimento sem causa pelo excesso. É o fiel da balança; como sempre 
preleciona Aristóteles: o meio termo entre os extremos. 
Vale destacar a importância do papel do juiz na justiça corretiva. O 
magistrado encarna-se em uma figura idolatrada, vista sob a óptica do povo como a 
própria justiça, e é através dele que será possível ir a busca do meio termo, que 
embora nem sempre seja encontrado, será o divisor dessa linha invisível. Partindo 
desse pressuposto, a função do juiz, por exemplo, seria calcular uma retribuição 
igual ao dano que o indivíduo sofreu, de modo a readequar as posições dentro da 
ordem social. 
Uma vez definido a noção de justiça como corretiva, justamente em sentido 
de reparação, de castigo, ficará a cargo de cada um cometer ou sofrer uma injustiça, 
já que nessa relação ela sempre existirá, resta saber a cargo de que ela ficará. 
Tendo em vista que esse ser justo ou não é uma questão subjetiva, parte-se 
então da escolha. Fica ao bel prazer de cada individuo, é uma deliberação pessoal, 
que por sua vez poderá ser estendida tanto para prática do bem, como para o mal. É 
certo que nem sempre se decide ser uma pessoa injusta, pois às vezes pratica-se 
algo injusto sem desejar, mesmo partindo da escolha, é o exemplo de quando 
alguém que anda em alta velocidade vem a atropelar outrem, mesmo não 
escolhendo esse fim, ele assumiu o risco ao andar de alta velocidade, portanto 
27 
 
poderia ocorrer um resultado injusto para outra parte. Desse modo, tudo parte então 
da escolha. Dessa forma aduz Aristóteles: 
 
Então, como o objeto da escolha é algo ao nosso alcance, que 
desejamos após deliberar, a escolha será um desejo deliberado de 
coisas ao nosso alcance, pois quando, após a deliberação, chegamos 
a um juízo de valor, passamos a desejar de conformidade com nossa 
deliberação (ARISTOTELES, 2009, p.56). 
 
Portanto, como já foi dito: aonde houver justiça, existirá a injustiça, essa que 
por sua vez corrompe a noção de virtude. Assim, de acordo com as palavras de 
Aristóteles a prática da injustiça deve ser sempre evitada: 
 
A respeito da injustiça praticada, sofrê-la é o menor dos males; mas 
praticá-la é o maior. Ficaram assim determinadas as diferentes 
acepções de sentidos dos termos “justo” e “injusto”, bem como as 
respectivas naturezas (ARISTÓTELES, 2009, p. 115). 
 
Ao evitar a injustiça, estaríamos diminuindo a necessidade de se obter uma 
justiça corretiva, uma vez que essa existe com o intuito de corrigir as injustiças 
existentes. Mas dificilmente se garantirá a estabilidade total em qualquer 
sociedade, reconhece Aristóteles, ou seja, os conflitos acabarão existindo, pois foi 
em virtude de uma sociedade complexa que veio a surgir o instituto do direito. 
 
 
2.4 Justiça Política 
 
 
Dado e concebida a homens livres e iguais. Parte-se do pressuposto, que na 
visão Aristotélica, o homem é por natureza um animal político. Cabe ressaltar que 
um dos propósitos da investigação de Aristóteles é determinar o conceito e sentido 
da justiça política. 
 
A justiça política é em parte natural e em parte legal; são naturais as 
coisas que em todos os lugares têm a mesma força e não dependem 
de as aceitarmos ou não, e é legal aquilo que a princípio pode ser 
determinado indiferentemente de uma maneira ou de outra, mas 
depois de determinado já não é indiferente (ARISTÓTELES, 2009, 
p.121). 
 
28 
 
Essa justiça tem em vista o bem das comunidades, que age procurando 
construir uma analogia de igualdade aritmética. O Estado deverá ser regulado por 
leis para ser justo, leis essas que deverão logicamente serem justas. Dessa forma, 
se o indivíduo falhar com a justiça, falhará com o próprio Estado, surgindo assim a 
injustiça, um dos piores males, capaz de corromper a alma. Segundo Aristóteles: 
 
Praticar injustiça é ficar com uma parte demasiadamente grande, do 
que é considerado absolutamente bom e não ficar com quase nada 
do que é considerado absolutamente mau (ARISTÓTELES, 2004, 
p.109). 
 
Prelecionando desse modo, o grego afirma ainda que não pode um humano 
governar, quem deve governar é a lei. O ser humano, devido a fragilidade da carne, 
pode vir a destruir seu meio, causando inúmeras injustiças na sociedade que atuar. 
Se o governante for probo: tudo girará bem, haverá uma sociedade igualitária e 
justa. Contudo, se o governante for desvirtuoso, não estará apto a governar; usará a 
máquina pública a seu bel prazer. Por esse motivo, aquele que governa, deve ser 
apenas “guardião” da justiça e não querer ser a própria. 
O direito por sua vez é um elemento exterior ao indivíduo, que vai além de 
suas vontades. Aqui o sujeito não possui a faculdade de escolher se quer ou não 
cumprir com o ordenamento, pois, ou ele cumpre, ou será castigado pelo não 
cumprimento. Aristóteles atenta para duas formas de justiça. 
A justiça política divide-se, segundo Aristóteles em duas: A justiça natural e a 
justiça legal (ou convencional). Vejamos a seguir mais detalhadamente o que vem a 
ser esses dois tipos de justiça, sob a ótica Aristotélica: 
 
 
2.4.1 Justiça natural 
 
 
Possui a mesma validade em toda parte e não se limita ao que está 
positivado, vai além de normas pré-existentes. Contudo apesar de ser livre não é 
caracterizada como imutável. Essa justiça natural independe da nossa aceitação, ou 
de qualquer assinatura de algum parlamentar. São normas naturalmente 
determinadas. Sobre a justiça natural, comenta Tomaz de Aquino: 
 
29 
 
Segundo o efeito, o direito natural é aquele que tem em todo o lugar a 
mesma potência e virtude para induzir ao bem e afastar do mal. Isto 
acontece porque a natureza, que é causa deste direito, é a mesma 
em todo lugar para todos (AQUINO, 2006. p.22). 
 
Percebe- se, portanto, que a justiça natural não é nenhum tabelamento já 
imposto, não se origina de nenhuma opinião premeditada, mas da natureza do 
próprio homem. 
 
 
2.4.2 Justiça convencional ou legal 
 
 
Não é a mesma em todos os lugares, admite diversos modos de tabulação, 
mas uma vez estabelecida deve ser cumprida indistintamente. Justiça legal diz 
respeito àquilo que é determinado pelo homem, tendo em vista a observância do 
meio em que vive. São as normas cogitadas pela “indústria humana” (AQUINO, 
2006, p.27). 
Ele nos leva a induzir, através do exposto, que a solução jurídica de um caso 
concreto deve, normalmente, ser obtida através do recurso conjunto a estas duas 
fontes de direito, as quais uma vai completar a outra para se obter uma sentença 
verdadeiramente justa. 
 
 
2.5 Equidade em Aristóteles 
 
 
Em sentido jurídico a equidade é denomina como sendo: a justiça no caso 
concreto. Não sendo conceituado de modo totalmente diverso, vejamos em 
Aristóteles o que vem a ser a equidade e o equitativo, observando de que modo ela 
se relaciona com a justiça. 
Ao estudarmos os significados dessas determinações, observamos que 
existem semelhanças entre elas, mas tambémnotáveis diferenças. Aristóteles, 
ressalta a grandiosidade da equidade, chegando a empregar a referida palavra no 
lugar de “bom”. Nesse sentido, admite-se então, por exemplo, fazer a seguinte 
30 
 
mudança na frase: foi uma decisão boa, utilizar no mesmo contexto: foi uma decisão 
equitativa. A equidade é usada no sentido da boa aplicação da lei, quer em face da 
omissão do texto positivo, quer para suprir sua imperfeição, quer ainda, para 
abrandar-lhe o rigor. 
Equidade e justiça não são paralelas, e sim duas partes de um mesmo 
conteúdo que agindo de formas diferentes, buscam o mesmo resultado. Não 
podemos, portanto, qualificá-los dizendo ser uma boa e outra má, ao contrário, as 
duas são institutos bons. No entanto, assevera Aristóteles que mesmo as duas 
sendo qualidades louváveis, a equidade é mais poderosa. Assim afirma o grego, 
vejamos: 
 
“[...] a equidade embora sendo superior a certa forma de justiça, é 
ainda assim, justa; não é, portanto, melhor do que a justiça, como que 
pertencendo a outro gênero de fenômenos. A justiça e a equidade 
são, pois, o mesmo. E embora ambas sejam qualidades, a equidade, 
a equidade é mais poderosa” (ARISTÓTELES, 2009, p.124). 
 
O que a torna mais célebre é o fato de ir além das escritas, não se limitando a 
agir apenas sob a óptica do texto legal; acreditamos ser ela a retificadora da lei. A 
lógica de ser atribuída a ela essa função é o fato de que mesmo que os textos legais 
fossem perfeitos, mesmo assim, não teriam eles condições de abarcar todos os 
casos concretos. 
Embora o conjunto de leis seja extenso (principalmente no Brasil); universal, 
não consegue regular todos os fatos existentes na vida real, o legislador não é 
capaz de prever todas as situações que acontecerão na sociedade, e é justamente 
ai aonde entra a equidade: nas situações concretas. Nesse sentido pontifica 
Aristóteles: 
 
Por isso o equitativo e justo é melhor que um tipo de justiça, não 
melhor que a justiça absoluta, mas melhor do que o erro que surge do 
caráter absoluto do enunciado. E essa e a natureza do equitativo: 
uma correção naquilo em que ela e defeituosa devido a sua 
universalidade (ARISTOTELES, 2009, p. 125). 
 
As leis são feitas para guiar a sociedade, no entanto, as duas não possuem o 
mesmo ritmo de mutação. O ser humano é muito complexo; se modifica todo o 
tempo; já as leis se modificam a passos mais lentos e, como a justiça deve ser feita 
31 
 
baseada na lei e de acordo com o tempo presente, na ausência de uma lei 
perfeitamente adequada para o caso usa-se a equidade: Mutatis Mutantis4. 
Ao comentar sobre a Ética a Nicômaco de Aristóteles, São Tomaz de Aquino, 
no livro V, ao falar de “equidade” dá ao instituto outra denominação, chamando-a de 
EPIEIKEIA. Mas o importante é saber que o entendimento é o mesmo, e assim 
como Aristóteles, ele fala de certa adaptação da lei: 
 
Epieikes vem do grego epi, que significa acima, e icos, que significa 
obediente. [De onde que com isso se quer dizer que] pela epiekeia 
alguém obedece de um modo mais excelente, na medida em que 
observa a intenção do legislador aonde as palavras da lei destoarem 
(AQUINO, 2006, p.27). 
 
Dessa forma, a equidade vem a ser um modo de justiça, digamos, uma 
justiça adaptável a determinadas situações do dia-dia. Uma vez que não foi possível 
o legislador prever todas as situações que ocorreriam na sociedade, esta vem como 
uma aplicação abstrata. Segundo Aristóteles, podemos -de modo resumido- defini - 
lá da seguinte forma: “Trata-se, pois de certa forma de justiça e não constitui uma 
disposição diferente daquela” (ARISTÓTELES, 2009, p.125). 
 
 
2.6 A finalidade da justiça para Aristóteles 
 
 
Diante de todos os conceitos de justiça aqui abordados, devidamente 
prelecionados por Aristóteles, todas são envoltas por um mesmo telos, tendem a 
uma mesma finalidade; aduz o referido filósofo que visam chegar a um bem maior. 
É interessante ressaltar que Aristóteles diz a que a justiça é um instituto que 
deve ser usado para si e para outrem. Mas e a injustiça? Possui alguma finalidade 
para Aristóteles? Na verdade, ela é muito utilizada por ele, a título de comparação e 
demonstração, uma vez que se torna inevitável falar de uma, sem falar da outra, 
pois da mesma forma que existe no mundo pessoas justas e virtuosas, existem as 
injustas, mais essas não constituem objeto teleológico5 para Aristóteles. 
 
4
 Mutatis Mutantis: Expressão jurídica latina que significa mudando o que deve ser mudado (grifos 
do autor). 
5
 TELEOLOGIA: Finalidade a que determinada coisa se propõe. 
32 
 
Portanto, a finalidade que há de se falar aqui é em relação à justiça, que 
segundo ele constitui uma virtude; aliás, uma das maiores virtudes que se existe.Ela 
é obtida através do meio-termo, e o meio termo é a ponderação, veremos essas de 
modo adequadamente detalhado. 
 
É que tipo de virtude será a justiça? Aristóteles parte da noção 
comum de que [...] justiça é à disposição da alma graças a qual ela 
(as pessoas) se dispõem a fazer o que é justo, a agir justamente e a 
desejar o que é justo [..] Assim a injustiça seria: [...]a disposição da 
alma graças à qual elas agem injustamente e desejam o que é injusto 
(SANTOS, 2000, p.69). 
 
Sendo assim, conclui-se que a justiça parte da alma, e podemos dizer que é 
um remédio para ela, ao tempo em que a injustiça a entristece. O meio termo, sendo 
a ponderância entre a escassez e o excesso busca aquele bem maior já dito por 
Aristóteles; aquilo a que todas as coisas tendem e por consequência caminham a 
ela: a felicidade (eudaimonia). 
Encerrando a noção de justiça em Aristóteles, nós veremos no capítulo a 
seguir um modo de justiça diferenciada, que por sua vez não possui em seus 
preceitos o sentido de virtude: essa teoria é chamada positivismo jurídico (ou 
juspositivismo). Dessa forma faremos uma correlação de ambas, analisando a 
modificação ocorrida no conceito da justiça Aristotélica em relação à justiça 
positivista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
CAPÍTULO III 
 
3 A MODIFICACAO DO CONCEITO DE JUSTIÇA ARISTOTÉLICA EM RELAÇÃO 
A JUSTIÇA POSITIVISTA 
 
 
Como foi visto no capítulo anterior, a justiça estruturada de Aristóteles, 
carregada de valores, por sua vez, é organizada com vista a um bem maior, o que 
se contrapõe um pouco do foco da justiça positivista, tendo em vista que essa não é 
valorativa. 
Segundo ele: “Todo o mecanismo silogístico repousa no papel!” 
(ARISTOTELES, 1987, p.22). Entende-se como juspositivismo, a corrente do direito 
apegada à letra da lei, aquele posicionamento objetivo e reto que segue fielmente os 
escritos jurídicos. 
A justiça juspositivista surgiu após a propagação do positivismo de Auguste 
Comte, que será citado com um pouco mais de detalhes adiante. O positivismo 
jurídico possui traços marcantes e essenciais, contudo rompe de cara com o sentido 
virtuoso de justiça que já vínhamos vendo nas concepções dos gregos. 
Pegando então a base do positivismo criada por Comte, começa então a 
surgir as correntes juspositivistas, que tratam de uma teoria do direito que procura 
explicar o fenômeno jurídico a partir do estudo das normas positivas, ou seja, 
aquelas normas escritas impostas pela autoridade soberana de determinada 
sociedade. Contrapondo-se ao juspositivismo, existe ainda no direito a corrente 
jusnaturalista, que é aquela que observa e toma como referencial além das normas 
escritas, as normas e direitos naturais. 
 Metodologicamente, o positivismo jurídico representa uma opção pela 
neutralidade do intérprete do direito, sustentando que ele não deve se posicionar 
relativamente aos conteúdos das normas, mas apenas descrevê-los, de modo a 
preservar a vontade políticaexpressa por aqueles que criaram as normas. O 
juspositivismo, como já foi dito, é uma corrente baseada em critérios objetivos, e tem 
como seu principal representante o Jusfilósofo Hans Kelsen, que procurou formular 
uma teoria geral do direito. 
 
 
34 
 
3.1 Positivismo 
 
 
Tendo como seu fundador o renomado filósofo e sociólogo Auguste Comte, 
esse movimento filosófico/sociológico foi criado há séculos, e até hoje se faz 
presente em nosso meio, nas mais diversas sociedades. Comte viu que as relações 
sociais já não eram as mesmas e por isso, se fazia necessário um novo meio de 
explicar o mundo. 
Justamente por conta da tamanha complexidade das sociedades fez surgir o 
uso da razão de uma forma diferenciada; uma nova modalidade de conhecimento 
dos fenômenos. A metafísica já não supria as necessidades de conhecimento da 
humanidade (segundo Comte), foi então que surgiu um novo posicionamento 
filosófico, para muitos, uma nova religião: o positivismo de Comte. 
O certo é que tal conjunto de ideias contribuiu em boas medidas para muito 
do que se consideram avanços no campo ideológico e social, ao questionar a inércia 
de certas elites políticas e econômicas do início de século, o positivismo de Auguste 
Comte revolucionou. 
Em sua “religião da humanidade” o francês Comte, procura fazer um paralelo 
entre a cientificidade e a racionalidade pura. Portanto, para o ser humano conseguir 
a prova real daquilo que deseja procurar e pesquisar, o conhecimento científico, 
segundo ele, é o único método eficaz para se chegar a uma sentença verdadeira. 
 Contudo, não basta para o positivismo o método ser experimental, ele deverá 
ser verdadeiro e concreto para provar o que almeja. Afasta-se dos dogmas e das 
crenças, procurando construir um saber ordenado e preciso. 
Auguste Comte definiu a palavra positivo com sete acepções, conforme 
explicita em sua obra “Apelo aos conservadores”, pode-se dizer, segundo ele, que 
positivo significa algo real, útil, preciso, relativo, orgânico e simpático. Partindo dos 
pressupostos da palavra, foram criadas outras correntes seguindo esse mesmo 
sentido, como: O positivismo jurídico (de Hans Kelsen) o positivismo lógico (adotado 
por Rudolph Carnap) e outros. 
 
 
 
 
35 
 
3.2 Juspositivismo de Hans Kelsen 
 
 
Nessa base do positivismo de Auguste Comte, onde o que predominava era o 
cenário francês das revoluções, a elite que começava a dominar o poder nas 
sociedades começou a utilizar como instrumento de autobenefício, o arcabouço 
jurídico. 
 Utilizaram- se dos pressupostos do positivismo filosófico (reto, preciso, 
prático) para estendê-lo a área do direito, ressaltando, porém que aqui não há de se 
falar em experiências cientificas propriamente dita. 
 Dessa forma, podemos definir o juspositivismo ou positivismo jurídico como 
uma corrente que procura explicar o fenômeno jurídico a partir do estudo das 
normas positivas, ou seja, das normas escritas postas pelo poder soberano de 
determinada sociedade. 
 
Se o Estado é uma comunidade, é uma comunidade jurídica. Na 
condição de comunidade, ele é a ordem jurídica da qual dizemos, de 
maneira não perfeitamente correta, que constitui a comunidade. 
Quem poderia negar que o Estado é uma ordem social? E, se essa 
afirmação for aceita, que outra ordem, além da ordem jurídica, 
poderia ser o Estado se – expresso na linguagem usual – é essencial 
ao Estado ter, estabelecer ou aplicar uma ordem jurídica? (KELSEN, 
2001, p.290). 
 
Posiciona-se dessa fora, o principal pensador do positivismo: Hans Kelsen, 
dizendo que o Estado e as normas jurídicas estão tacitamente ligados como se elas 
fossem uma só. As leis, criadas pelo Estado, são sempre o reflexo de determinada 
comunidade que por sua vez tem em seu poder toda a organização social. 
O Juspositivismo é um posicionamento reto, preciso e técnico diante do 
direito, rejeita os elementos abstratos de sua concepção, apegando-se ao que é 
concreto. Vê na letra escrita da lei, a forma exclusivamente adequada de se fazer 
justiça. Como já foi dito, teve como principal expoente Hans Kelsen que adotou 
fielmente a corrente, e a esgotou em sua obra principal: Teoria pura do direito. 
Segundo o referido filósofo “a lei” em lacto senso (sentido amplo)é a teoria pura do 
direito, sendo ela a única fonte necessária para fazê-lo fluir e chegar a alcançar seu 
papel. 
36 
 
Ora, mas sendo o direito totalmente autônomo, se não há necessidade de 
dialogar com outras ciências, como foi dito. Se para ele não tem importância os 
pressupostos de outros ramos, para que serve então as disciplinas propedêuticas da 
cadeia do curso jurídico? 
Na verdade, para os positivistas o que serve como materialização e finalidade 
para o direito é a lei, essa dotada de seu aspecto político e social, deverá uma vez 
promulgada, ser retamente seguida. 
 A justiça positivista segue rigorosamente a norma do Estado e quanto a 
sua aplicação, nega os direitos naturais e as propostas valorativas. Paulo Nader 
assim descreve sua visão do Positivismo Jurídico: 
 
Os positivistas estreitam o campo de abordagem do Direito, limitando-
se à análise do Direito Positivo. O Direito é a lei; seus destinatários e 
aplicadores devem exercitá-la sem questionamento ético ou 
ideológico. Para eles não existe o problema da validade das leis 
injustas, pois o valor não é objeto da pesquisa jurídica. Quanto à 
justiça, consideram apenas a legal, mesmo porque não existiria a 
chamada justiça absoluta. O ato da justiça consiste na aplicação da 
regra ao caso concreto. Os positivistas não aceitam a influência dos 
elementos extra legem na definição do Direito Objetivo (NADER, 
2014, p.175). 
 
Como foi dito acertadamente pelo referido doutrinador, os juspositivistas 
“estreitam” o caminho do direito, deixando a justiça com um aspecto 
demasiadamente limitado. Contudo é importante ressaltar que o apego a lei dos 
juspositivistas visam na sua óptica a melhoria de condições sociais e o ideal de 
justiça, assim como os naturalistas, no entanto, o que difere bastante é a concepção 
do que vem a ser justiça. 
Para Hans Kelsen, a justiça é feita sob um aspecto técnico, objetivo. Fazendo 
um retorno a história, observamos que nem sempre foi possível fazer justiça sob um 
viés positivo, escrito -pois nem sempre houve leis- mas, no entanto, sempre existiu, 
mesmo que tacitamente, a noção de justiça. O problema é que as sociedades foram 
se complexando, e segundo o jusfilósofo foi necessário criar uma normatização 
precisa; escrever as regras para que elas fossem seguidas metodologicamente, 
dessa forma, seria possível alcançar um instrumento de controle social. 
A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo -do Direito positivo 
em geral, não de uma ordem jurídica especial-. Para Hans Kelsen, tudo gira em 
torno da norma, dos atos normativos, que por sua vez são responsáveis por regular 
as relações humanas, de modo que ordene condutas positivas ou negativas. 
37 
 
Segundo Kelsen “a norma funciona como esquema de interpretação” (KELSEN, 
2006, p.04). É a norma que rege todo o aparato social, na visão do mesmo. 
A norma por sua vez é variável, contudo, deve reger todo o espaço que ela 
atua independentemente do local em que for formulada, assim, quando os indivíduos 
são aglomerados por essa norma e a obedecerem como devido, serão dessa forma 
considerados cidadãos. 
Em busca de uma fórmula perfeita para delimitar a justiça e o direito, Hans 
Kelsen vai tentando descrevê-las de modo objetivo. Mas, como já foi visto nesse 
estudo, e como é possível ser observado nos campos do direito e da filosofia, 
conceituar a justiça não é tarefa simplificada e por mais que diversos mestres já 
tenham tentado fazê-la, talvez nunca se chegue a uma resposta completa, que atinja 
perfeitamente o ideal para a pergunta. Nessesentido de complexidade, preleciona 
brilhantemente Hans Kelsen: 
 
Nenhuma outra questão foi tão passionalmente discutida, por 
nenhuma outra foram derramadas tantas lágrimas amargas, tanto 
sangue precioso; sobre nenhuma outra, as mentes mais ilustres - de 
Platão a Kant - meditaram tão profundamente. E, no entanto, ela 
continua até hoje sem resposta. Talvez por se tratar de uma dessas 
questões para as quais vale o resignado saber de que o homem 
nunca encontrará uma resposta definitiva; deverá apenas tentar 
perguntar melhor (KELSEN, 2001, p.01). 
 
Vale ressaltar que embora não tenha sido encontrada uma resposta unívoca 
para a concepção de justiça, talvez por ser demasiadamente complexa, mentes 
preciosas espalhadas em todo o mundo, continuam a buscá-la. 
 
 
3.3 A Modificação do Conceito 
 
 
A teoria pura do direito é em si mesma, uma tese consistente e bem 
elaborada, que por sua vez, teve em sua fonte uma preocupação constante com o 
ser humano. Não há de se negar que a mesma possui um espaço importantíssimo 
na sociedade, até porque durante muito tempo, foi a teoria predominante. Contudo, 
o uso dessa corrente por si só, não satisfaz uma totalidade de justiça, uma vez que a 
falta do elemento valorativo na norma (como é proposto) acaba deixando a noção de 
justo um tanto quanto desumanizada. Dessa forma se percebe no fragmento abaixo: 
38 
 
 
O modelo Kelseniano de Direito, cria, então, uma teoria Jurídica 
formal; uma ciência jurídica destituída de critérios do valor de justiça 
ou de qualquer conexão com a realidade social. A validade de uma 
norma condiciona-se apenas à sua vigência, isto é, à capacidade 
formal de validade por vigorar num sistema jurídico. [...] os comando 
legais não podem ficar desvinculados do contexto histórico cultural e 
do valor de justiça. Logo, a Teoria Pura do direito peca por sobrepor a 
cientificidade à realidade, e por exaltar a forma lógico jurídica em 
detrimento do conteúdo ético-justo (XAVIER, 2002, p.35). 
 
Em virtude desse sentido altamente técnico proposto por Kelsen, notamos 
que ao fazermos uma analogia entre a corrente do positivismo jurídico 
(juspositivismo) e a justiça dos filósofos da antiguidade, vemos que existe uma 
grande divergência entre elas. 
O juspositivismo chegou trazendo uma espécie de cartilha para aplicação da 
justiça, utilizando meios e fins que contrariam as justiças propostas pelos filósofos 
anteriormente citados (Sócrates, Platão e Aristóteles). O que Hans Kelsen idealizou 
foi um conjunto preciso que partia do pressuposto de que criando leis perfeitas e 
justas, estaria ali mesmo se concretizando o ideal de justiça, como uma fórmula 
matemática: crio + aplico = obtenho justiça. O problema é que nós sabemos que 
nem sempre é assim. Os gregos em contrapartida, procuram analisar a justiça sob 
uma óptica virtuosa, justamente para que fosse possível, ao analisar dentro de um 
fato concreto, além de elementos objetivos, aqueles elementos subjetivos que estão 
por traz das normas. 
Para Hans Kelsen, o homem poderia perfeitamente viver fora de normas 
imperativas, sem precisar permitir ou proibir, contudo a própria raça humana se 
coloca nessa posição de obediência ao estado por conta dos diversos conflitos em 
seu meio. O grego Sócrates, diz que a ordem dada pelos governantes da polis, deve 
ser cumprida independente de ser a ideal, mas o fato de cumpri-las é para ele a 
própria justiça, nesse ponto o pensamento de Sócrates se assemelha a teoria de 
Kelsen, porém para esse, o fato de ela residir no aparato jurídico -uma vez que 
seguiu o padrão correto de criação- já a torna justa, o ponto que diverge de 
Sócrates. Aristóteles por sua vez, vai além: começa fundindo a justiça com a virtude. 
Em sua tese, sabiamente prelecionou: Se o instituto da justiça não for uma virtude, o 
que mais será? 
Já na concepção de Kelsen, justiça se faz independente de virtudes 
interiores, se faz seguindo leis previamente ditadas. Nota-se, portanto o quão foi 
39 
 
modificado o conceito de justiça em relação que traz o juspositivista, em relação aos 
dos gregos. Na visão Aristotélica, é justamente o oposto: justiça é virtude, e se faz 
por meio de valores humanos fundamentais. 
No que diz respeito à teleologia (finalidade) da justiça quanto ao 
juspositivismo e a justiça dos gregos, elas também se divergem: enquanto para 
Aristóteles, por exemplo, a finalidade é alcançar o bem maior a felicidade, para os 
juspositivistas é executar de modo perfeito e preciso o que a norma diz. Nesse 
mesmo sentido, assevera Rodrigues: 
 
A doutrina de Kelsen, exclui da ciência jurídica as considerações 
filosóficas de caráter valorativo, bem como as sociológicas 
condizentes aos fatos, refutando tudo o que se refira a política, 
buscando dessa forma, sua total autonomia com foco na absoluta 
neutralidade almejada (apud. RODRIGUES, 2007, p.30). 
 
Apesar das leis serem essências na nossa contemporaneidade, é delicado 
querer que se julgue apenas no seu aspecto objetivo, pois apesar delas possuírem 
uma função ordenadora, não deixam de ter um cunho político, e por isso no 
momento de sua criação, pode vir a ocorrer interesses políticos pessoais, que não 
sejam necessariamente o melhor para o homem, o caminho que os leva a felicidade. 
Muito mais valeria se procurassem em todas as decisões aquilo que há de 
mais virtuoso para ser aplicado, pois nem sempre as leis são virtuosas. Talvez 
seriam todas, se tivessem seguido por exemplo o modelo de sociedade pensado por 
Platão: A Callípolis, nela os filósofos ou os mais sábios governariam, e essas leis 
editadas por eles, seriam envoltas de grandes virtudes, seria portanto uma lei a ser 
aplicada com total segurança. Nesse sentido prelecionou Platão, descrevendo um 
diálogo de Sócrates com Glauco: 
 
Se surgisse uma cidade de homens bons, é provável que nela se 
lutas e para fugir do poder, como agora se luta para obtê-lo, e tornar-
se-ia evidente que, na verdade, o governante autêntico não deve 
visar ao seu próprio interesse,mas ao do governado; de modo que 
todo homem sensato preferiria ser obrigado por outro do que 
preocupar-se em obrigar outros (PLATÃO, 2000, p.38). 
 
Para resolver o problema da relativização da justiça que foi ocasionada pelo 
juspositivismo, como por exemplo: sentenças injustas (pautadas apenas na letra lei), 
tendo em vista que atualmente a lei não deixa de ser primordial na sociedade, a 
solução seria juntar o técnico com o subjetivo e nunca se admitir uma decisão 
40 
 
pautada apenas na letra fria da lei. Na modernidade, principalmente após o horrendo 
movimento nazismo6, que usou a lei como escudo para cometer terríveis barbáries, 
veio a necessidade de mudança, dai, foram surgindo várias formas de interpretação 
da lei que permitem uma visão mais humanística da norma, entre elas, reside: os 
princípios, as jurisprudências e outros. No entanto a lei continua sendo a fonte 
principal, o que às vezes quando utilizada por si só, chega a causar injustiças, pois 
quanto acontece à pura aplicação do dispositivo, deixa-se de olhar para as 
particularidades do ser humano, para olhar apenas as entrelinhas dos códigos. 
Nota-se, portanto que o conceito original de justiça apresentado por 
Aristóteles: do belo e virtuoso, foi perdido, e precisa, ser urgentemente resgatado 
antes que o elemento originário do justo -aquele que se volta ao bem do homem- 
caia definitivamente em desuso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6
 NAZISMO: “[...] foi uma política de ditadura que governou a Alemanha entre 1933 e 1945, período 
que também ficou conhecido como Terceiro Reich, liderado por Adolf Hitler. A ideologia política do 
nazismo surgiu após a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918),

Outros materiais