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Prática de Leitura e Escrita em Língua Portuguesa Pt.1

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Na verdade, nós nos comunicamos querendo ou
nãot pois a comunicação pode ser intencional ou não
intencional, consciente ou inconsciente. E, ainda,
prescinde de.palavras. Daí conhecer e ter domínio de
uma língua, embora seja um instrumento valioso
para a comunicação, não é, de certo, a única habilida-
de requerida para tal. É além das palavras, ou apesar
delas, que se dá o fenómeno da comunicação (...).
Antes de tudo, é importante quando da produção
de um texto, se perguntar: para quem escrevo? Qual o
grau de conhecimento do interlocutor para o qual ora
escrevo, acerca do tema?'Em que momento/situação
esse texto será lido, utilizado? Tais questionamentos
corroboram para construção de um texto coerente e
inteligível para o interlocutor intencionado.
>
Um eterno estudante tem
na vida muitos professores.
No entanto, poucos são
mestres de verdade, pois
um mestre tem algo a mais:
gosta do que faz e valoriza
as pessoas acima de tudo.
Por isso tenho a alegria de
dizer que a professora Adria-
na Barbosa foi e sempre
será uma grande mestra.
Tive o prazer de ser seu
aluno em diversas disciplinas,
além de ser um dos funda-
dores do GETED (Grupo de
Pesquisa em Teorias do
Discurso) que ela coordena.
Assim como foram as aulas
dela para mim, certamente
este material será de grande
importância para todos que
querem aprender técnicas
fundamentais de leitura e
escrita, úteis não somente
no meio académico, mas
para toda a vida.
Lucas Nascimento Silva
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA
PRÁTICA DE LEITURA E ESCRITA
EM LÍNGUA PORTUGUESA
©2011 Adriana Maria de Abreu Barbosa
Direitos desta edição reservados à Paço Editorial. Nenhuma parte desta
obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou
processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocó-
pia, gravação, etc, sem a permissão da editora e/ou autora.
Capa e Projeto Gráfico
Laís Foratto
Preparação
Elisa Santoro
Revisão
NicoleGuim
1a Edição: Fevereiro de 2011
B2344 Barbosa, Adriana Maria de Abreu.
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa /Adriana
Maria de Abreu Barbosa -- Jundiaí, Paço Editorial: 2011.
116 p. c/ Bibliografia.
ISBN: 978-85-63381-75-0
1. Linguística. 2. Teoria do texto. 3. Coesão e coerência. 4.
Resenha, l. Barbosa, Adriana Maria de Abreu. II. Título.
CDD:41()
Vianelo- Jundiaí-SP HA)/0/0
Dedicatória
Ao Departamento de Letras da PUC-Rio, em es-
pecial, as amigas da Cadeira de Comunicação e
Expressão: onde tudo começou...
PREFÁCIO
Na realidade toda a palavra comporta duas
faces. Ela é determinada tanto pelo fato de
que procede de alguém, como pelo fato de
que se dirige para alguém. (...) Através da
palavra defino-me em relação ao outro, isto
é, em última instância, em relação à cole-
tividade. A palavra é uma espécie de ponte
lançada entre mim e os outros.
BAKHTIN
Em Prática da leitura e escrita em Língua Portuguesa,
reúno no formato de explicações e exercícios o que tem
sido minha experiência docente no ensino superior desde
1993. Aluando em disciplinas que têm como objetivo de-
senvolver a competência de leitura e escrita nos graduan-
dos, de modo a que possam produzir textos académicos
considerados satisfatórios à demanda universitária, depa-
ro-me com o desafio: ensina-se a escrever?
A grande queixa de docentes, nas mais variadas áreas
do saber, é sobre a falta de preparo dos alunos no que tange
à expressão escrita. Ouve-se muito: os alunos não sabem
interpretar e muito menos escrever. As razões levantadas
são muitas e não é do interesse desse livro esgotá-las.
Ao receber meus alunos, a cada semestre, reitero que
escrever se aprende (não sei se ensina). A escrita é um
processo, assim como todo aprendizado. Exige treino, exi-
ge propósito e de preferência gosto. Aprende-se, inclusi-
ve, a gostar de escrever, já que, como disse Saramago a
uma entrevista a TV Futura, "escrever é dizer: este sou eu".
Em outras palavras, quem escreve se deixa ver. Isso pode
dar até um pouquinho de medo, mas nada tem a ver com
aquela sensação-crença de que não escrevo porque não sei
português. Afinal é impossível não sabermos nossa língua
materna (sobre isso sugiro leitura de Perini ou Bagno, em
vários textos esses autores esgotam esse argumento).
Tomando a gramática da Língua a serviço do texto e
seguindo as instruções básicas, mas fundamentais de Ge-
raldi, partimos da convicção de que só é possível exercer
a escrita, se e somente se: se tenha o que dizer; se tenha
uma razão para dizer o que se tem a dizer; se tenha para
quem dizer o que se tem a dizer; que o locutor se consti-
tua como tal, enquanto sujeito que diz e, por fim, que se
escolham as estratégias para realizar essas premissas (GE-
RALDI, 1997:137).
Por muito tempo se insistiu na técnica pela técnica, e
o ensino da escrita consistia em apresentar as estratégias
sem contextualização ou individualização, sobrando pou-
co espaço para o exercício da autoria discente. A apresen-
tação de modelos de escrita, entretanto, revelou-se pouco
eficaz, pois os alunos continuavam inseguros na prática
da escrita.
Dentro de uma proposta de ressignificação do ensino
de Língua, este livro apresenta discussões e atividades
embasadas na teoria Sociointeracionista, atividades essas
que têm sido utilizadas por mim nos últimos dez anos no
formato de apostila. Nesta nova versão em livro, fico feliz
que integrem comigo como autoras, quatro ex-alunas do
curso de Letras da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia, no campus de Jequié, entre as quais, duas foram
minhas monitoras da disciplina Português Instrumental e,
portanto, compartilharam comigo os planejamentos, ela-
boração de revisão, avaliação de textos etc. Todas elas são
hoje colegas de profissão aluando na docência.
Os cinco capítulos apresentam, a meu ver, os pontos
principais no ensino de leitura e produção textual. O pri-
meiro aborda a concepção Sociointeracionista nos estudos
da comunicação oral e escrita. O segundo trata de uma
unidade importante na gramática do texto: o parágrafo. O
terceiro capítulo propõe atividades de coesão c rortência,
já que uma das maiores dificuldades dos alunos c mirgrar
ideias e dar unidade ao texto. O quarto prestigia os géne-
ros textuais resumo e resenha, géneros nos quais se exige
o exercício da interpretação, síntese, objetividade e uso de
paráfrases, competências cognitivas mais do que necessá-
rias para o aprendizado de qualquer disciplina. Fechamos
o livro com o tema Argumentação, pois sabemos da impor-
tância da capacidade argumentativa exigida na produção
de géneros textuais que o graduando terá que desenvolver
na sua formação, a saber: seminários, resenhas, artigos, e
monografia.
É assim que compartilho com vocês, leitores e leito-
ras, a proposta deste livro que tem como objetivo maior
estimular o gosto pela escrita, transformando o ato de ler
e escrever não apenas em uma necessidade ou sacrifício.
Desejo desmistificar a crença de que escrever requer talen-
to, já que acredito que se aprende a escrever ao longo de
toda uma vida.
ÍNDICE
CAPITULO l
O fenómeno da Comunicação 11
1. A Importância da Comunicação 11
1.1. Comunicação 14
2. Textos: Formatos e Funções 17
3. Os Géneros Textuais 18
4. Vocabulário 26
CAPÍTULO 2
O Parágrafo 31
1. Características e Definições 31
2. Parágrafo e Resumo 36
3. Paragrafação: Planejamento Micro-Textual 39
4. Pontuação 41
CAPÍTULO 3
Coesão & Coerência 47
1. Coesão 47
2. Coerência 59
CAPÍTULO 4
Resumo e Resenha 63
1. O que é resumir? 63
2. Enxugando o texto 65
3. Resumir é interpretar. 67
4. Para que resumir? 71
5. O Resumo não mata o autor do texto original 73
6. Resenha 76
6.1. Resenha X resumo 77
6.2. Principais características da Resenha 77
CAPITULO 5
Argumentação
1. Discutindo teoria
2. Conhecendo os Textos.
3. Concluindo
4. Textos para Atividade...
.89
.94.95
.96
Referências... 111
O FENÓMENO
COMUNÍCAÇÃO
ProP Dra Adriana Maria de Abreu Barbosa
1. A Importância da Comunicação
Sucesso e comunicação são palavras repetidamente as-
sociadas em diversas publicações atuais sobre gestão de ne-
gócios e mundo do trabalho. Dick Morris, "marqueteiro" do
ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, pensa resumir
tudo que tem sido dito a esse respeito com a sintética e la-
cunar sentença de efeito publicitário: "comunicação é tudo".
Concordamos com ele, mas, afinal, o que isso significa?
Uma corrente de estudos sobre comunicação afirma,
acertadamente, que "tudo comunica", aprofundando assim
a discussão apenas sugerida pelo publicitário. Na verdade,
nós nos comunicamos querendo ou não, pois a comunica-
ção pode ser intencional ou não intencional, consciente ou
inconsciente. E, ainda, prescinde de palavras. Daí conhecer
e ter domínio de uma língua, embora seja um instrumento
valioso para a comunicação, não é, de certo, a única habi-
lidade requerida para tal. É além das palavras, ou apesar
delas, que se dá o fenómeno da comunicação.
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
Um exemplo desse vasto domínio dos sentidos gerados
pela comunicação humana é a série de recursos linguísti-
cos ou extralinguísticos de que dispomos para produção
e interpretação de mensagens, como a entoação, o olhar,
ou ainda, o gestual de quem fala. Além, é claro, do valor
simbólico que determinados gestos e atitudes têm em cul-
turas diferentes. Devido à variedade de recursos comple-
mentares ao uso da língua e uma variedade ainda maior
de significados culturais, um mesmo enunciado pode ser
interpretado de diferentes maneiras.
Costumo contar, em treinamentos de comunicação para
empresas, como um simples pedido de documentos em uma
recepção pode gerar significações díspares. Por exemplo, se
a recepcionista pronuncia a palavra /documento/ com entoa-
ção de pergunta e sorriso nos lábios, provavelmente, poderá
ser interpretada como: ela está me desejando boas-vindas e
me comunicando que preciso apresentar um documento. Já a
mesma palavra / documento/ dita em tom mais grave, excla-
mativo e sem expressões faciais cordiais, pode gerar um en-
quadre de assimetria: a recepcionista está me lembrando que
aqui eu só posso entrar se apresentar o documento, o que
lhe dá algum poder sobre mim. Embora a mensagem seja a
mesma - a frase "documento" - a metamensagem pode ser de
solidariedade, ou, ao contrário, de demonstração de poder.
O exemplo anterior nos lembra que todo enunciado com-
põe-se de duas facetas: a mensagem e a metamensagem.
Mensagem e metamensagem referem-se, respectivamente,
às funções referencial e relacional da linguagem. A primeira
veicula informações e conteúdos, enquanto a segunda vei-
cula sentimentos e reflete relações sociais. Durante muito
tempo, os estudiosos da comunicação privilegiaram a pri-
I 12 l
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
meira, acreditando que a comunicação eficaz seria alcança-
da caso o falante dominasse técnicas de uso da língua, nas
quais se prioriza a busca da clareza e da objetividade.
De fato falar e/ou escrever com clareza é uma das habi-
lidades comunicativas que pode e deve ser sempre desen-
volvida para melhorar a transmissão de nossas mensagens.
Mas, como comunicação não pode ser entendida como mera
transmissão de significados, e sim como construção conjun-
ta de sentidos, não podemos negligenciar a importância da
metamensagem. É por meio dela que definimos o compo-
nente relacional de nossas comunicações, que determina no
jogo da comunicação as imagens do locutor e interlocutor e
o tipo de relação que está sendo travada entre eles.
Desse modo, falar a mesma língua não pode mais ser
entendido apenas como compartilhar um mesmo idioma,
é preciso compartilhar valores, interesses e objetivos. Sob
essa perspectiva, os estudos em comunicação reorientam
o foco na figura do receptor. Para que haja compreensão
é preciso haver alinhamento entre os participantes da co-
municação. Cabe ao falante estar atento ao interlocutor,
tentando colocar-se na pele do outro, para minimizar as
possibilidades de ruídos da comunicação. Um dos proble-
mas mais graves que pode ser melindrado nessas ocasi-
ões envolve a questão do poder. Como já mencionamos no
episódio da recepcionista, assimetrias são evidenciadas na
e pela linguagem. Tomando isso como verdade, é também
correto observar que assimetrias podem e devem ser con-
tornadas por um bom desempenho comunicativo, por meio
do qual se transforma essas relações em relações de com-
plementaridades que favorecem uma comunicação eficaz.
Comunicação essa que garante a vida em sociedade.
1 1 3 1
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
Note como a crónica de Veríssimo, abaixo, retoma a dis-
cussão da importância da comunicação e aponta o papel
relevante do interlocutor no fenómeno da comunicação.
TUdo isso com a leveza e humor característicos do autor e
do género por ele escolhido para comunicar (a crónica).
1.1. Comunicação
Lu is Fernando Veríssimo* 22/371995
Casais com problemas de comunicação têm um antece-
dente antigo.
Adão e Eva, segundo Génesis. Pode-se imaginar o cli-
ma quando Adão acordou e levou dois sustos: estava sem
uma costela e com Uma mulher. Especula-se que os dois
levaram dois dias para se falar. Para Começar, não tinham
sido formalmente apresentados. E que assunto poderiam
ter, naquele primeiro encontro?
Como foi seu dia?
- Nem me fale. Até a hora da sesta estava tudo normal.
Depois que sofri uma cirurgia e mudei de estado civil e a
população da Terra duplicou, tudo em questão de horas.
— E eu? Há horas eu nem existia. Agora estou aqui, mu-
lher feita, nua e falando aramaico.
Minha tese é que Adão e Eva só se falaram no terceiro
dia, e assim mesmo porque Adão foi levado por uma neces-
sidade premente.
- Me coça atrás?
E Eva coçou suas costas, e Adão finalmente com/>/ • ( •< v i
deu os desígnios do Senhor ao criar a mulher. r:mhoni nos
anos que se seguiram não fossem poucas as i/r/<v; cm
pensou em dizer a Deus que preferia sua ms/< • /< / ( / < • n » / / < / .
l 1 4 1
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
Quando passaram a ter assunto, Adão e Eva despertaram
o ciúme de Deus. Porque tinham uma coisa em comum da
qual Deus não compartilhava: a humanidade, suas glorias e
suas misérias. Os banhos de riacho e o medo do escuro, o ca-
funé e o furúnculo. E Deus providenciou o pecado para ter um
motivo nobre para expulsa-los do Paraíso, já que não podia só
alegar tagarelice. E quando a prole de Adão e Eva deu sinais
de entendimento, pois falavam a mesma língua e celebravam
a mesma humanidade, Deus decretou a destruição de Babel e
a confusão das línguas. E assim duas vezes usou Deus o De-
mónio para criar a desarmonia entre os homens. Primeiro na
forma da Serpente. Depois na forma do Tradutor.
Mas tudo que é humano quer se comunicar. Sem a mulher,
Adão arranjaria outro jeito de coçar as costas. Talvez encon-
trasse até uma maneira de se reproduzir sozinho. Afinal, anos
depois, um descendente seu inventou o xerox. Quando Deus
lhe deu a mulher, não lhe deu uma fêmea, uma companheira
ou alguém para cuidar das suas camisas. Deu o que ele preci-
sava para progredir, a precondição para o autoconhecimento
e a razão, sem falar na literatura. Um interlocutor.
1
Após a leitura comente:
- qual o assunto da crónica;
151
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
- que tese o autor defende sobre o referido assunto;
- quais tópicos abordados no texto teórico são retoma-
dos pelo cronista;
Depois das duas leituras (o texto teórico e o de Veríssi-
mo), escreva o que você pensa sobre a importância da co-
municação. Escolha ao menos uma passagem de um dos
textos para fazer um tipo de referência: uma citação textual
ou uma paráfrase.
l 161
Prática de leitura e escrita em LínguaPortuguesa
2. Textos: Formatos e Funções
Como vimos, um mesmo assunto pode receber um tra-
tamento totalmente diferente de acordo com a intenção
comunicativa do autor. Este tratamento diferenciado vai
garantir ao texto um formato e uma função.
O texto teórico-científico preocupa-se em definir e ex-
plicar o assunto "comunicação", já a crónica, embora tam-
bém esteja de certo modo definindo um conceito de comu-
nicação, não tem foco no esclarecimento do assunto e sim
no prazer e entretenimento do leitor. Além disso, o texto
científico não retrata opinião pessoal do autor do texto e
sim compilação e organização de conhecimentos e infor-
mações referenciadas em pesquisa. Já a crónica expressa a
crítica e posicionamento do autor.
Sendo assim, os textos (orais e escritos) podem ser clas-
sificados por suas especificidades que compreendem for-
matos e funções. Para Roman Jakobson, o foco depositado
em um dos elementos da comunicação (emissor, receptor,
canal, mensagem, contexto, código) determina a função
predominante da comunicação. Segundo a classificação
do autor, existem as seguintes funções comunicativas:
- Emotiva: foco nos sentimentos do emissor
- Conativa: foco nos sentimentos, interesses e simpatia
do interlocutor
- Poética: foco na elaboração e embelezamento da
mensagem
- Referencial: foco na representatividade do contexto
- Fática: foco na funcionalidade do canal
- Metalinguística: foco no esclarecimento do código
l 171
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
3. Os Géneros Textuais
Mas como falar em comunicação sem citar os veículos pelos
quais ela se locomove? Para isso precisamos falar de Géneros.
São inúmeros os géneros textuais que circulam na nossa
sociedade, como por exemplo, a crónica e o texto teóríco-
científico supracitados. Eles são quase incontáveis, já que são
produtos do cotidiano, e suscetíveis a mudanças e adapta-
ções conforme a necessidade de uso dos falantes. Já os tipos
de textos são limitados quanto ao seu número e não partem
de experiências sociais, estando mais ligados à forma.
Koch (2003) afirma que a competência sociocomuni-
cativa do falante/ouvinte é que o conduz à distinção dos
géneros e, consequentemente, a sua competência textual
permite-lhe saber quais sequências predominam em um
texto para classificar o seu tipo. Há então uma capacidade
metatextual, segundo ela, que provém do contato cotidia-
no do sujeito com os textos.
Obviamente, os falantes/ouvintes da língua têm, a todo
instante, contato com algum texto, seja ele verbal ou não-
verbal. Portanto, entendemos que, tendo esse contato, to-
dos eles desenvolvem certa capacidade de diferenciação
entre um texto e outro por algumas características pró-
prias de cada texto. Essas características próprias, sendo
elas o veículo da comunicação, a linguagem ut i l izada, en-
tre outras, é que vão levar o falante/ouvinte, ao enconlrar-
se com diferentes textos, a saber que não se trata de lexlos
do mesmo género, mesmo que talvez ele não saiba ainda a
definição do que é um género textual.
Por falar em definição, vejamos a definição de ('.curros
textuais segundo Marcuschi:
l 18 l
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
Usamos a expressão género textual como uma noção pro-
positalmente vaga para referiras textos materializados que
encontramos em nossa vida diária e que apresentam ca-
racterísticas sóciocomunicativas definidas por conteúdos,
propriedades funcionais, estilo e composição característi-
cos. (Marcuschi, 2005: 22-23)
Dessa forma, os géneros estabilizam as atividades co-
municativas do nosso dia a dia, embora não sejam uma ma-
terialização textual inflexível, sendo entidades sóciodiscur-
sivas bastante dinâmicas, segundo o autor. Provavelmente,
por conta dessa maleabilidade é que os géneros sejam de
difícil definição formal, pois não se caracterizam por parti-
cularidades linguísticas, e sim, cognitivas e institucionais.
O grande número de géneros possibilita uma maior varie-
dade linguística a circular na sociedade e ajuda a desfazer
o abismo ainda existente entre a oralidade e a escrita, sus-
citando um hibridismo que "[...] inviabiliza deforma defi-
nitiva a velha visão dicotômica ainda presente em muitos
manuais de ensino de língua". (Marcuschi, 2005: 21).
Para a definição de tipos textuais, temos:
Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie
de construção teórica definida pela natureza linguística de sua
composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais,
relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca
de seis categorias conhecidas como: narração, argumentação,
exposição, descrição, injunção. (Marcuschi, 2005:22)
Observamos, portanto, que se trata de uma definição
relacionada à forma e suas peculiaridades linguísticas e
l 191
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
estruturais, o que traz certas limitações tanto para o en-
sino, quanto para a quantidade de tipos existentes, já que
não se partem de necessidades advindas dos falantes de
se comunicarem, sendo uma estrutura fixa. Então um tipo
textual é caracterizado por traços que formam uma sequ-
ência e não um texto e quando o classificamos estamos
nomeando um predomínio de um tipo de sequência.
É notável, porém, que num género textual encontramos
geralmente mais de um tipo dessas sequências, cabendo
ao género uma heterogeneidade que faz dele um instru-
mento importante para agirmos em situações de lingua-
gem e ensino, potencializando a ação do falante/ouvinte, a
ação do educador e do educando.
2
Relacione as funções propostas por Jakobson aos gé-
neros textuais abaixo:
( ) carta de amor
( ) verbete de dicionário
( ) texto de enciclopédia
( ) relatório técnico
( ) letra de música
( ) currículo
( ) anúncio
3
Pense em outros géneros textuais e analise o seu formato
e sua função. Agora pense quais textos prefere escrever e ou
falar. Procure descobrir o porquê, baseado nas características
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
e reflexões feitas até agora sobre o fenómeno da comunica-
ção. Organize seu pensamento sobre o assunto e prepare-se
para relatá-lo oralmente para seu grupo de trabalho. Depois
que cada um do grupo expor sua preferência e razões, o gru-
po deverá elaborar um relatório escrito do que foi discutido.
Leitura Complementar: FEITOSA, Vera. Comunicação
na Tecnologia. Manual de Redação Científica. São Paulo:
Brasiliense, 1987. pp. 11-21.
4
Após a primeira leitura do texto de Feitosa, retorne ao
texto, procurando responder as seguintes questões:
a) Quais as diferenças entre a comunicação escrita e a oral que
são apontadas no texto? Você concorda com o que é exposto?
b) Comente as primeiras diretrizes para uma comunica-
ção eficiente.
l 201 121 l
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
c) Quais os elementos presentes num processo de comu-
nicação? Exemplifique estes elementos.
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
f) Comente um dos cinco tópicos apontados pelo autor
como devendo ser objeto de reflexão mais profunda.
d) Que outro conceito importante é apresentado no pri-
meiro capítulo? Como ele interfere na comunicação?
g) Segundo Feitosa, o autor de qualquer texto deve procurar
responder a 4 perguntas. Explique com suas próprias pala-
vras quais as implicações de cada uma destas perguntas.
e) Por que o ponto de partida de um texto é a caracteri-
zação do receptor?
1 2 2 1
5
Baseie-se nas respostas dadas ao questionário da ativi-
dade, selecione os tópicos mais relevantes para elaboração
de um resumo. Elabore um resumo e crie um título.
Objetivo deste resumo: servir de material de estudo
para o aluno do curso, fixando os conceitos/definições e
estratégias apontadas pela autora.
1231
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
Ainda sobre textos informativos - o relatório técnico
Segundo Othon Garcia, dentre osdiversos tipos de re-
dação técnica, o relatório é o mais exemplar deles, por-
que, por apresentar um número extenso de variedades, por
meio dele exercitamos habilidades comunicativas especí-
ficas, como descrição de mecanismo, procedimentos e/ou
objetos; narrativa minuciosa de ocorrências; explanação
didática e sumário. Entretanto, é essa mesma variedade
que impossibilita 'receitas' generalizantes de como fazer
um relatório; só a prática nos leva a esse resultado.
Dependendo de seu propósito ou finalidade podemos
classificar os relatórios em: de gestão (relatórios empresa-
riais periódicos), de inspeção, de pesquisa e de tomada de
contas, só para citar alguns. Apesar de suas especificida-
des, todo relatório, como texto informativo que é, prioriza
a clareza e a objetividade da mensagem, logo apresenta
uma estrutura, composta de partes, relativamente fixas, de
modo a garantir sua inteligibilidade.
Assim, temos uma introdução na qual se expõe o propó-
sito ou objetivo do relatório. Em seguida, o desenvolvimento
relata minuciosamente o fato e/ou procedimento, indicando a
data, o local, o processo, a discussão (análise do que foi ob-
servado). Por fim, a conclusão é o espaço para avaliações e/ou
recomendações. Em casos de relatórios extensos (máximo 50
laudas), recomenda-se um sumário para facilitar a consulta.
Além de uma estrutura específica, existem outras estra-
tégias que permitem garantir as seguintes qualidades do
texto técnico: a concisão, a coerência e a objetividade.
Grice, teórico da comunicação, aponta as máximas que
norteiam, mesmo que inconscientemente, nossas comunica-
ções. O autor chama o conjunto dessas máximas de Princípio
1 2 4 1
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
da Cooperação. São recursos usados pelo emissor para facilitar
o entendimento de sua mensagem ao receptor. Como se fosse
um jogo, todos conhecem as "regras" e se utilizam delas tanto
para emitir como para decodificar as mensagens recebidas.
Máximas que garantem clareza, coerência e concisão/
objetividade, respectivamente:
- Quantidade
Ao elaborar sua mensagem, avalie a quantidade de
informação necessária ao interlocutor para entender sua
comunicação. Informação demais ou de menos não comu-
nica. Muita informação, pouca objetividade. Pouca infor-
mação, fala lacunar, inconclusa.
- Qualidade
Diga somente aquilo que considera verdadeiro. Pesqui-
se, informe-se e verifique a validade das informações. Uti-
lize informações que possam ser confirmadas/provadas.
- Relação
Acrescente apenas informações relevantes ao assunto
tratado. Vale perguntar, ao planejar seu texto, qual a rela-
ção existente entre as informações apresentadas.
- Modo
Refere-se à escolha de vocabulário, estrutura frasal,
paragrafação, topicalização, formas de dizer que melhor
apresentem sua ideia.
Com o mesmo intuito, Vera Feitosa sugere as quatro
perguntas primordiais ao processo de elaboração de um
relatório técnico.
125
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
a) O que o receptor precisa saber?
b) Para que o receptor precisa dessas informações?
c) Que tipo de informações o receptor já tem sobre o
assunto?
d) Qual será a utilização e o alcance do texto?
6
Compare o relatório entregue pelo seu grupo (ativida-
de 3) com os dos demais grupos. Analise se os relatórios
atendem às máximas de Grice e respondem satisfatoria-
mente as perguntas propostas por Vera Feitosa. Reorga-
nize as informações, reescrevendo o relatório de seu gru-
po no formato proposto por Othon Garcia: "Assim, temos
uma introdução na qual expõe-se o propósito ou objetivo
do relatório. Em seguida o desenvolvimento relata minu-
ciosamente o fato e ou procedimento, indicando a data, o
local, o processo, a discussão (análise do que foi observa-
do). Por fim, a conclusão é o espaço para avaliações e ou
recomendações"
4. Vocabulário
Escrever também consiste na arte de dizer da melhor
maneira possível, daí a necessidade de escolha vocabu-
lar para atingir nosso objetivo, que, no caso da escri-
ta científica, visa à especificidade e à informatividade.
Portanto, tem vezes que precisamos de palavras mais
específicas.
Há em português uma série de verbos genéricos que na
modalidade oral são usados indiscriminadamente e fun-
cionam bem, entretanto o texto escrito científico exige que
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
os troquemos por outros mais específicos ao contexto e a
intenção comunicativa.
7
Considerando as alterações necessárias na comple-
mentação verbal, troque os verbos grifados por verbos
mais específicos:
Se pegarmos a questão da saúde, o naturalismo revela-
se benéfico.
O rádio leva mensagens a toda população, pois pega
em qualquer lugar.
Esta criança tem bronquite logo não tem boa saúde.
Os economistas têm teses com as quais não se pode
estar de acordo.
Por esta rua andam muitos carros.
1271
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
Só no segundo mês, apareceram os sintomas da doença.
Só no último dia de aula, aparecia o seu nome na lista.
O alho dá mau hálito
Finalmente deu com a solução do problema.
O togo fez a madeira em carvão.
Estava calado, mas^ que falasse.
Ele ignorava que 'tépido' é 'morno'.
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
Viver é lutar.
Há vezes, entretanto, que um erro ortográfico implica
não apenas inadequação e sim erro semântico. Isto é, usa-
mos uma palavra que não significa o que desejamos. É o
caso de homónimos e parônimos.
8
Escolha a palavra que garante a correção do enunciado:
Eis a { seção; cessão; sessão } de roupas masculinas.
A milionária fez { sessão; cessão; seção } de seus bens
a um orfanato.
Os sócios foram convocados para uma { cessão; ses-
são; seção } extraordinária.
Não tem { descrição; discrição } o mal-educado.
Isso não tem mais { conserto; concerto }.
Somos contra a { descriminação; discriminação } racial.
Ele ocupa { eminente; iminente } cargo na empresa.
Minha { intenção; intensão } era ir para longe dali.
Em síntese quando se trata de escolha de vocabulário,
devemos: evitar repetições, buscar especifldade e correção.
9
Escolha o vocabulário apropriado para um registro for-
mal da carta de pedido abaixo (elaborado por Clarissa Ro-
lim Pinheiro Bastos da Puc-Rio)
1 2 8 1 1 2 9 1
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
ETCETERA & TAL
Vitória, 16 de julho de 1999
Ao
BANCO BANCADO S. A.
Caixa Postal 999,
Porto Alegre (RS)
Senhores:
Solicitamos a esse banco _
necer informações
de nos for-
sobre a situação econômi-
co-financeira da Empresa Industrial, cujo nome consta na
ficha-cadastro anexa.
Apressamo-nos a recorrer aos Senhores, pois exis-
tem , nos comerciais desta
capital, de que essa empresa está concordata
aos seus credores.
O pronto atendimento do presente pedido nos livrará de
grande , pois somos credores da referida organi-
zação e nada soubemos até o momento de positivo quanto
à sua situação. Como é de , as informações
prestadas terão caráter estritamente confidencial.
Atenciosamente
Fulano de Tal
Diretor Presidente
a a fineza
a detalhadas
a boatos
a círculos
o obséquio
Minuciosas
Alaridos
Meios
o desplante
miúdas
rumores
expedientes
o benefício
particulares
alardes
centros
o favor
pormenorizadas
murmúrios
trânsitos
O PARÁGRAFO
ProP Dra Adriana Maria de Abreu Barbosa
1. Características e Definições
Indicado materialmente na página impressa ou manus-
crita por um ligeiro afastamento da margem esquerda da
folha1, o parágrafo permite ao leitor acompanhar melhor
a proposição e desenvolvimento de ideias do escritor. Por
meio do parágrafo, o escritor isola ideias-tópicos, em es-
pecial nos textos dissertativos e argumentativos2, que são
centrais para o deciframento do texto.
Um parágrafo-padrão consiste em:
- Tópico frasal - um ou dois períodos curtos em que seexpressa de maneira sumária e sucinta a ideia principal;
- Desenvolvimento - esclarecimento e explanação do
tópico;
- Conclusão - retomada do tópico, ou encaminhamento
e relação com o próximo parágrafo.
1 Mais recentemente, há outra opção. Não fazer essa margem, porém
aumentar o espaçamento entre linhas na mudança de parágrafos.
2 Já na narração o núcleo é um incidente(episódio) e na descri-
ção, um quadro.
1 3 0 1
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
Desse modo, o parágrafo-padrão, embora encadeado à
progressão do texto, tem estrutura completa que lhe permi-
te certa autonomia em relação ao resto do texto. Em outras
palavras, é possível entender a ideia proposta pelo parágra-
fo, mesmo quando o retiramos do texto. Como é o caso do
parágrafo introdutório do texto de Wrana Panizzi (reitora da
UFRGS) publicado na revista Galileu em fevereiro de 2004:
"Universidade em perigo", este é o titulo do editorial do "Lê
Monde", datado de 21 de Janeiro último. O jornal expressa des-
sa maneira sua preocupação com as "alarmantes dificuldades
vividas pela universidade francesa" e, comentando um relatório
oficial, afirma que "a França corre o sério risco de ficar para
trás na corrida tecnológica mundiaF caso não aumente seus
investimentos em ensino superior de 1,1% para 1.6% do PIB.
Embora não saibamos qual o desenvolvimento do refe-
rido texto, compreendemos o parágrafo, pois ele está com-
pleto, tornando-se, assim, um fragmento de texto altamente
informativo. Ele afirma que a universidade francesa neces-
sita de investimentos de modo a garantir que o país acom-
panhe a tecnologia mundial. Isso é sustentado por meio
de um desenvolvimento que nos apresenta um fato/ "alar-
mantes dificuldades"/ uma fonte / relatório oficial/ e dados
numéricos / 1.1% e 1.6%. Sendo assim, o parágrafo afirma
uma necessidade, comprova e conclui apontando a solução.
"Vida autónoma" para o parágrafo de um texto que vai dis-
cutir a importância de mudanças nas universidades brasi-
leiras para o crescimento do nosso país. É uma introdução
que tangencia o foco do texto. Isto é, embora não seja uma
introdução clássica (apresentação sumário do tópico a ser
desenvolvido) ela é um exemplo de parágrafo-padrão.
1321
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
O tópico frasal do parágrafo acima é a situação da universi-
dade francesa que nos foi apresentada na forma de uma citação
afirmativa. Existem, segundo Othon Garcia, algumas formas para
construção de um tópico frasal e ou dar início a um parágrafo:
- Declaração afirmativa ou negativa;
- Interrogação;
- Alusão histórica.
1
Observe os tópicos frasais e numere de acordo com a
nomenclatura sugerida por Othon sobre tipos de tópicos:
( ) O debate sobre o destino da instituição universitária
no mundo globalizado não é brasileiro. Ele ocorre na Fran-
ça, na Inglaterra, na Alemanha e em tantos outros países.
Isso acontece porque o conhecimento hoje, mais do que
ontem, é absolutamente estratégico para o desenvolvimen-
to das nações, como reconhece o editorial do "Lê Monde".
( ) O mercado para universitários está tão saturado que
dirigir táxi se tornou uma alternativa. Será verdade? Vamos
por partes. Inicialmente, a resposta não pode ser baseada
na observação casual ("outro dia tomei um táxi."). E com
dados estatísticos que se respondem a tais perguntas. A
primeira questão é saber se o ensino superior leva ao em-
prego ou ao desemprego. Ora, os diplomados do ensino
superior têm uma taxa de desemprego de 2,7%, compara-
da com os 6,7% para os que pararam no secundário. Quer
dizer, embora não seja uma garantia perfeita contra o de-
semprego, o diploma reduz os riscos em mais da metade.
( ) Quando me formei em economia, recebi várias ofertas
de emprego de economista. Hoje, pouquíssimos graduados
viram economistas no sentido estrito do termo, talvez 1%. Sa-
1 3 3 1
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
turação dos mercados? Se tomarmos uma definição rigorosa,
saturação significa que os benefícios económicos não justifi-
cam os custos do diploma. Como, em média, os universitários
ganham mais do que os que pararam no 2° grau (sobretudo
com o passar dos anos), amplamente compensando os custos,
não há propriamente saturação. Mas há outras mudanças.
Quanto ao desenvolvimento do parágrafo, António Suárez
Abreu (1999) nos sugere algumas possibilidades:
- Desenvolvimento por detalhes: que consiste em listar
exemplos que evidenciem o tópico apresentado. Daí preferir-
mos a terminologia desenvolvimento por lista de exemplos;
- Desenvolvimento por definição: que consiste em con-
ceituar algo apresentado pelo/no tópico;
- Desenvolvimento por exemplo específico: que consiste
em ilustrar um exemplo com detalhamento. Daí preferir-
mos a terminologia desenvolvimento por ilustração;
- Desenvolvimento por fundamentação da proposta: que
consiste em fundamentar o tópico com referências biblio-
gráficas, citação de fontes, dados estatísticos. Isto é, evi-
dências argumentativas.
- Desenvolvimento por comparação: que se vale de uma
analogia para esclarecer o tópico.
2
Observe os parágrafos abaixo e numere-os, conforme
os tipos de desenvolvimentos apresentados:
( ) Tendo em vista que a Terra é nossa morada, devería-
mos preservá-la do mesmo modo que preservamos nossas
casas. Imaginemos, por exemplo, se decidíssemos dar uma
festa em nossa residência e no dia seguinte nos deparásse-
1341
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
mós com peças roubadas, tapetes molhados e vasos quebra-
dos. Obviamente, ficaríamos furiosos não só pelo valor sen-
timental de nossas perdas, mas também pelo gasto posterior
que teríamos para repará-las. Sob essa ótica, somos levados
a concluir que o meio ambiente reage do mesmo modo, no
entanto, em maior escala, ou seja, sua depreciação não é tão
facilmente restaurada e seus danos se tornam, muitas vezes,
irreversíveis, quando não, fatais à humanidade.
()Uma das maiores empresas de prospecção de petróleo
do mundo, a Petrobrás, consegue conciliar desenvolvimento
tecnológico à preservação do meio ambiente. Um exemplo
disso é o apoio dado ao projeto TAMAR, que vem salvando e
monitorando a vida de tartarugas marinhas. Desse modo, a
Petrobrás tem contribuído para a preservação dessa espécie.
( ) Muitos lugares, como as ilhas do Caribe e do Pacífico
estão sofrendo com o acúmulo excessivo de lixo. Os ater-
ros não são a única consequência disso, devido a mais de
80% das águas não serem saneadas por falta de métodos
modernos e eficientes, a poluição da água é um grande pro-
blema ecológico dessas ilhas. "As pequenas ilhas do Caribe,
do Pacífico e do Índico são as nações mais vulneráveis do
planeta, devido às previsões de águas potáveis se vêem res-
tringidas". Explicou Klaus Toepfer, diretor da PNUMA.
( ) Imaginemos um urubu chamado Zeca. Ele e outros
urubus habitam um lixão próximo a um grande aeroporto.
Muitos de sua espécie já morreram e Zeca ainda é obrigado
a dividir os céus com enormes aviões que todos os dias pou-
sam e decolam do aeroporto. Várias vezes, Zeca quase foi su-
gado pelas turbinas de uma dessas máquinas enquanto pro-
curava por um lugar tranquilo para descansar. Todos esses
infelizes acontecimentos são frutos da falta de consciência
ecológica em nosso país que permite a construção de lixões
1 3 5 1
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
em lugares inapropriados. Se Zeca morasse em um país mais
desenvolvido, provavelmente ele não correria esses riscos. É
preciso aumentar a consciência ecológica em nosso país e
aproveitar para aprender com outros povos beneficiando-se
da globalização. Só assim avançaremos tecnologicamente e
preservaremos o nosso planeta e suas espécies.
( ) Consciência ecológica é a compreensão do indivíduo
acerca da natureza e dos cuidados necessários para a preserva-
ção do meio ambiente no mundo globalizado, no qual a maiorparte da população preocupa-se apenas com um consumismo
excessivo, sem comprometimento com o futuro do planeta.
2. Parágrafo e Resumo
De parágrafos bem estruturados decorre a possibilida-
de de captação do tópico frasal, isto é, do enunciado que
sintetiza a ideia essencial do parágrafo. Inventariando os
tópicos frasais, traça-se, consequentemente, o esquema
das linhas fundamentais de onde se poderá partir para o
exercício de resumo do texto.
3
Examine a paragrafação do texto seguinte:
a) marque no texto os tópicos frasais de cada parágrafo
b)reescreva os tópicos para figurarem como linhas de
um esquema
REB1MBOCA & CIA: CHIPS DE DOIS GUMES
Como em outros campos da indústria, a eletrônica e,
em especial os computadores, vêm ganhando cada vez
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
mais espaço nos carros. No começo, os "cérebros eletrô-
nicos" se instalaram nas linhas de montagem, assumin-
do a operação de ferramentas pesadas e de função com-
plexa, que antes demandavam a ação de vários homens,
mais tempo e riscos de segurança e ainda dificultavam que
se mantivesse um padrão preciso de produção. Ou seja,
máquinas gerenciadas por máquinas são mais capazes de
fazer a mesma coisa, milhares e milhares de vezes, exata-
mente da mesma forma. O homem, nem sempre.
Essa precisão fez com que, no final dos anos 80, os
computadores embarcassem de vez nos carros. Aos pou-
cos, funções que dependiam exclusivamente da perícia e a
sensibilidade do motorista e a regulagem de peças mecâ-
nicas, passaram a ter o apoio da eletrônica. Os primeiros
a sofrerem essa intervenção foram nossos pés direitos e
os carburadores. Com os sistemas de injeção eletrônica,
ganhou-se eficiência. Carros afogados em excesso de com-
bustível por conta de motoristas com o "sapato pesado" ou
carburadores desregulados saíram de cena. O consumo e
a poluição caíram e o aproveitamento da energia gerada
pela combustão melhorou: os carros com injeção eletrôni-
ca de combustível "andam mais" que os carburados.
Ao longo dos anos 90, os chips, bits e bytes se espalharam
pelos carros, especialmente pelos modelos mais sofisticados.
E trouxeram mais segurança - caso, por exemplo, dos freios
assistidos com o sistema ABS, que é capaz de dosar a pressão
de frenagem nos discos e lonas de freios - de um modo que so-
mente os super-heróis dos quadrinhos poderiam fazer - e con-
forto, na regulagem automática do ar-condicionado; na memó-
ria para guardar os ajustes de bancos, espelhos e volante para
cada condutor e até mesmo para fornecer informações sobre
1361 1371
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
velocidade média, consumo e outros dados instantaneamente.
Isso e muitas outras coisinhas e coisonas que, em carros como
o Citroen C5, ocupam a mufa de alardeados 18 computadores.
E qual o preço de tanta modernidade? No caso dos
sistemas já incorporados pelos modelos "populares", como
a injeção eletrônica, esse custo inicial se dilui e, muitas
vezes, pode até diminuir (chips são mais baratos que um
carburador). E continua mais baixo, pois, em tese, exigem
menos manutenção que os antigos. Em caso de pane ou
quebra, no entanto, a coisa muda, já que, geralmente, não
se conserta componentes eletrônicos como módulos de
injeção. O indicado normalmente é a cara troca.
Para aborrecer ainda mais os amantes da tecnologia, um
levantamento recente realizado na Alemanha e divulgado pela
Deutche Welle (http:7Avww.dw-world.de) mostra que o número
de panes que automóveis com menos de cinco anos de uso so-
frem nas estradas de lá por conta da eletrônica está crescendo
à beça. Em 2003, foram nada menos do que 57% dos defeitos
registrados. O número de recalls das fábricas pelo mesmo mo-
tivo também aumentou. Uma explicação estaria na insuficiência
de energia nos carros para tantas traquitanas. Segundo Helmut
Schmaler, perito em eletrônica do Automóvel Clube Alemão, há
anos as fábricas planejam instalar nos carros baterias de 42
volts. E não fizeram isso até hoje por questões de segurança
e de custos. Ou seja, apesar de toda a tecnologia e evolução,
ainda existem ajustes importantíssimos a serem feitos no que
deveria ser básico nos automóveis. E se isso acontece na Ale-
manha, imagine em outros países ao sul do Equador.
Henrique Hoifman
O Dia 12/02/2004
Caderno Automania
1381
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
3. Paragrafação: Planejamento Micro-Textual
A ordem dos parágrafos e a relação entre eles (sinalizada
pelas marcas de coesão) apontam para o planejamento textu-
al, revelando objetivos e intenções comunicativas. Parágrafos
bem estruturados e conectados aos outros facilitam o trabalho
do leitor, pois aumentam a legibilidade do texto, demonstran-
do, assim, a escrita competente do autor que planejou bem o
seu texto para alcançar maior compreensão de suas ideias.
4
Você consegue colocar este texto em ordem?
UNIVERSITÁRIOS DIRIGINDO TÁXI
Cláudio y oura e Castro (in: Veja, 9 de setembro de 1999)
( ) Mas esse mercado que parece tão despreocupado
com o conteúdo específico dos cursos, na verdade, torna-se
cada vez mais exigente quanto à capacidade do diplomado
de usar bem a cabeça. As empresas (e o setor informal não
é diferente) querem quem entenda o que leu, escreva coisa
com coisa, lide com quantidades, fale inglês, ajunte as peças
de um problema e encaminhe a solução, tome decisões, en-
fim, que saiba pensar. Os quatro anos de faculdade são o mo-
mento de burilar essas habilidades. Interessa o conteúdo do
curso, apenas na medida em que algumas carreiras dão mais
oportunidades de exercitar a cabeça. Interessa supremamen-
te a qualidade do curso, bem como o esforço do aluno, pois
cada vez menos a empresa se importa com o diploma em si
e cada vez mais pela capacidade do diplomado de entender o
139!
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
mundo e aprender com a experiência. Ter informações não é
importante, saber buscá-las é. Infelizmente, muito do nosso
ensino superior não entendeu isso e continua insistindo em
especializações bobas, currículos abarrotados de informa-
ções e pouca ênfase em aprender a usar a cabeça.
( ) O mercado para universitários está tão saturado
que dirigir táxi se tornou uma alternativa. Será verdade?
Vamos por partes. Inicialmente, a resposta não pode ser
baseada na observação casual ("outro dia tomei um táxi.").
E com dados estatísticos que se respondem a tais pergun-
tas. A primeira questão é saber se o ensino superior leva ao
emprego ou ao desemprego. Ora, os diplomados do ensino
superior têm uma taxa de desemprego de 2,7%, compara-
da com os 6,7% para os que pararam no secundário. Quer
dizer, embora não seja uma garantia perfeita contra o de-
semprego, o diploma reduz os riscos em mais da metade.
( ) Quando me formei em economia, recebi várias ofertas
de emprego de economista. Hoje, pouquíssimos graduados
viram economistas no sentido estrito do termo, talvez 1%. Sa-
turação dos mercados? Se tomarmos uma definição rigorosa,
saturação significa que os benefícios económicos não justifi-
cam os custos do diploma. Como, em média, os universitários
ganham mais do que os que pararam no 2° grau (sobretudo
com o passar dos anos), amplamente compensando os custos,
não há propriamente saturação. Mas há outras mudanças.
( ) Aí estamos. O diploma já não é mais uma passagem
permitindo entrar no avião que leva ao país das maravi-
lhas. É apenas uma lista dos equipamentos que levaremos
para empreender uma jornada que pode ter muitos desti-
nos. Ademais, o equipamento não é garantido pelo fabri-
cante e os bons destinos requerem seu uso competente.
1401
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
Para quem tem o diploma, resta o consolo de que a jorna-
da é muito mais árdua para os que não o tem.
( ) A grande mudança, em todos os lugares do mundo,
é a perda do vínculo claro entre diploma e ocupação. O en-
genheiro virasuco, o economista vende terreno. O econo-
mista Roberto Macedo, discutindo ideias semelhantes (no
livro Seu Diploma, Sua Prancha, altamente recomendável),
mostra como mesmo em empresas de primeira linha o nexo
entre diploma e o que fazem os funcionários é mais do que
ténue. Há gente com praticamente todos os tipos de diplo-
ma exercendo praticamente todas as ocupações. O mercado
não encontra grande diferença entre o engenheiro, o conta-
dor e o advogado. Mas premia a pessoa bem informada (não
importa muito em quê) e descarta a mal informada. Exceto
nas profissões legais, pessoas com as mais variadas forma-
ções são aprovadas nos concursos públicos mais difíceis.
( ) Enfrentamos uma longa crise económica e um pro-
cesso em que a economia se livra das gordurinhas acumu-
ladas ao longo dos anos de protecionismo. Nesse clima de
vacas magras, ficou muito mais difícil para um universitário
conseguir trabalho. É duro lutar quatro anos para conseguir
um diploma que não mais dá acesso aos empregos sonha-
dos. Mas o consolo é que sem o diploma seria muito pior.
4. Pontuação
No que tange à estrutura interna do parágrafo, perío-
dos curtos e pontuação garantem a clareza da informação.
Três vícios de estrutura são comuns em textos de alunos
que escrevem períodos muito longos: a subordinação ex-
cessiva, frases incompletas ou fragmentadas e pontuação
equivocada, ou mesmo ausência dela.
141 l
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
- Subordinação excessiva-.
Ex: A escrita é inerente ao ofício do pesquisador e fica
sendo de sua inteira responsabilidade a comunicação do
que descobriu, criou, desenvolveu, por isso é mais neces-
sária a comunicação escrita que é mais eficaz e sem ruído,
por mais que a comunicação escrita esteja em crise é ne-
cessário que um cientista se adapte nas formas de escrever
porque a comunicação oral nem sempre é suficiente, por
atingir um número muito pequeno de pessoas, podendo
criar mal entendido principalmente nos trabalhos cientí-
ficos.
- Frases incompletas:
Ex.l.: Na comunicação oral, segundo a autora, pode
não atingir o desejado e gerar mal entendido.
Ex.2.: O que a família precisa é de transparência,de
pais e filhos que se compreendam e troquem experiências,
sem inibições, sem medo do que os outros irão pensar.
Que se divirtam como crianças, e pensem como adultos.
Mas que acima de tudo que sejam cúmplices e se amem
mutuamente.
- Pontuação:
Ex.: Por este motivo, o ato de comunicar-se abrange
uma gama de recursos, se valendo de expressões faciais,
gestos e até mesmo do próprio silêncio, pois quando um
indivíduo se cala, ele se expressa por um modo rudimentar
de linguagem, uma linguagem que não apresenta um sig-
nificado muito explícito, mas que tem significado, sendo
bem ilustrado pelo texto de Veríssimo quando Adão acorda
e leva um susto ao ver Eva, o próprio susto não seria a ex-
pressão de surpresa ao ver uma mulher pela primeira vez,
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
sendo portanto o comunicado da sua descoberta, poden-
do a mensagem ser facilmente entendida pelo interlocutor,
deste modo a comunicação se faz um elo que aproxima os
semelhantes.
5: Uso da
Dúvidas ninguém as tem.
Ao injusto nada devo.
Começaram antes do início do mês as obras.
Sócrates o grande filósofo chorou.
Maria sai da lata.
Não diga isso Mariana.
Leu ou melhor devorou o livro.
Pode-se apontar além disso outro mal-entendido a res-
peito da greve em serviços essenciais.
142 l 143 l
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
O espírto busca a luz; o coração amor.
Desde que entraram na moda as peças napoleônicas
adquiriram valores incalculáveis.
Desde que entraram na moda as peças napoleônicas
adquiriram valores incalculáveis as normas de etiqueta
francesas.
Olho o papel risco nomes canso-me.
Trancou tudo porém esqueceu o cofre.
Trancou tudo esqueceu porém o cofre.
O homem falava e gesticulava.
O homem falava e a multidão gesticulava.
1441
Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa
ATIVIDADE 6: dois -pontos e ponto-e-
Relacione à cada frase a explicação correspondente que
justifica a sua escolha de pontuação.
( ) separa as orações coordenadas adversativas e
conclusivas com conjunção deslocada;
( ) separa orações que já têm vírgula no seu interior;
( ) separa orações que fazem paralelismo ou contraste;
( ) aparece no final dos itens de uma enumeração;
( ) antes de aposto e oração apositiva
( ) antes de citações;
( ) antes de explicações e ou esclarecimentos;
( ) depois de: a saber, tais como, por exemplo.
a) Manda quem pode obedece quem tem juízo.
b) Ganhava pouco tinha conseguido entretanto uma
fortuna.
c) No início não entendia o funcionamento da empresa
dois anos depois sabia mais que o dono.
d) Para os amigos tudo para os inimigos a lei.
e) Tivera uma infância cheia de dissabores não preten-
derá pois rever os amigos daquela época.
f) "Outros leram da vida um capítulo tu leste o livro
inteiro."(Carlos Drummond)
g) O jardim enfeitado de flores anunciava um lugar de
paz a varanda de onde se via o mar tinha uma rede branca
estendida.
h) Cada funcionário em seu lugar a sala impecavelmen-
te limpa nenhum rádio ligado o chefe voltou.
1451
ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.)
i) Indicaram três cidades Belo Horizonte Florianópolis
e Recife.
j) Restava um consolo a seguradora pagaria tudo.
k) Disse Mário Quintana " O pior dos nossos problemas
é que ninguém tem nada com isso".
1) O detetive guardou a prova do crime um chaveiro de
prata.
m) Anunciada a inflação de novembro 37%.
1461

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