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FACULDADES INTEGRADAS “ANTONIO EUFRÁSIO DE TOLEDO” Faculdade de Direito de Presidente Prudente – SP ___________________________________________________________________ O NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Bruno VENDRAMINI 1 RESUMO: O presente trabalho analisa algumas mudanças trazidas pela lei 13.105 de 2015 - Novo Código de Processo Civil. O tema estudado aborda a diferença de fatos, atos, atos-fatos jurídicos e negócios jurídicos. Após, adentra ao conceito de negócio jurídico processual, a diferença entre negócios processuais típicos e atípicos, forma, objeto, agente, tempo, requisitos de validade e a forma de impugnação. Dentre os principais métodos de pesquisa existentes para o desenvolvimento de um artigo científico, foram adotados os métodos dialético e comparativo. Para pesquisa do tema foram utilizados livros, pesquisas teóricas, artigos, publicações, legislações e sites da internet. Palavras-chave: Novo Código de Processo Civil. Negócio Jurídico Processual. Autorregramento da vontade. Artigo 190 NCPC. 1 INTRODUÇÃO O objetivo do presente estudo foi trazer, de maneira clara e sucinta algumas mudanças processuais trazidas pelo Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015) em relação ao Código de Processo Civil de 1973, ainda vigente, em um estudo geral. Após, adentra ao tema específico, abordando a diferença de fatos, atos, atos-fatos jurídicos e negócios jurídicos; ao conceito de negócio jurídico processual, tema considerado uma grande mudança trazida pelo NCPC, com previsão legal no art. 190, que permite as partes criarem cláusulas que irão ajustar o procedimento processual conforme suas especificidades. Aborda também a diferença entre negócios processuais típicos e atípicos, a forma, o objeto, os agentes, o tempo, os requisitos de validade e a forma de impugnação do negócio jurídico processual. 1 Discente do 8º termo C do curso de Direito das Faculdades Integradas “Antonio Eufrásio de Toledo” de Presidente Prudente. E-mail brunovendra@gmail.com. FACULDADES INTEGRADAS “ANTONIO EUFRÁSIO DE TOLEDO” Faculdade de Direito de Presidente Prudente – SP _________________________________________________________________ 2 2 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O NCPC Com o advento no Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015) e a revogação do Código de Processo Civil de 1973, ainda vigente, diversas inovações vieram à voga, das quais as principais serão abordadas a seguir. Primeiramente, vale pontuar que o CPC/39 e o CPC/73 adotaram o modelo social ou publicístico. A contrario sensu, no CPC/2015 passa a ganhar força o direito de liberdade com o exercício da autonomia da vontade no processo e consequentemente a possibilidade de autorregramento da vontade das partes no processo, assim, a partir disso ganhou o apelido de “código das partes”. Buscou-se, ainda, com o novo código, a valorização da conciliação e a instituição de um modelo cooperativo do processo. Para tanto, foram realizadas audiência públicas para elaboração do código, com o acolhimento das sugestões da sociedade. Tanto é que, já nos primeiros artigos, o código elenca princípios norteadores do processo civil, normatizando uma quantidade maior de princípios do que o código anterior, demonstrando, desde já, a essência e o objetivo do código: a valorização dos princípios constitucionais, a duração razoável do processo, o incentivo à conciliação, o direito de defesa, entre outros. Assim, segundo Luiz Dellore2, o novo código trouxe consigo diversas mudanças orientadas pelos princípios supracitados, quais sejam: a) A criação da audiência de conciliação e mediação, com o objetivo de incentivar a conciliação, a solução consensual dos conflitos, e para diminuir a carga de processos do Poder Judiciário. Para tanto, os tribunais serão obrigados a criar setores especializados para audiências de mediação e conciliação; b) A subordinação e a tentativa de estabilização da jurisprudência e reconhecimento desta como fonte do Direito: os juízes e tribunais serão obrigados a seguir decisões do STJ e STF, podendo arquivar um processo sem mesmo citar a parte contrária caso esta contrarie a jurisprudência dos tribunais superiores; c) A criação do incidente de resolução de demandas repetitivas, para “desafogar” o judiciário; 2 Web site disponível em < http://dellore.jusbrasil.com.br/artigos/179494111/as-principais-inovacoes-do-novo- cpc-ncpc-novocpc > Acessado em 22 de outubro de 2015 FACULDADES INTEGRADAS “ANTONIO EUFRÁSIO DE TOLEDO” Faculdade de Direito de Presidente Prudente – SP _________________________________________________________________ 3 d) A contagem dos prazos processuais somente em dias úteis e as férias do advogado do dia 20 de dezembro a 20 de janeiro, permitindo um maior descanso aos advogados; e) As ações de família terão tramitação especial, objetivando sempre a solução consensual do conflito; f) A ordem cronológica para julgamento dos processos, em que os juízes terão de seguir a ordem para análise e decisão, afastando assim qualquer influência sobre a sequência dos julgamentos; g) As demandas individuais, caso demonstrem interesse da coletividade poderão transmudar-se em ações coletivas, valendo a decisão proferida neste processo para toda a coletividade interessada; h A extinção do agravo retido, que foi criado somente para evitar a preclusão. O encarecimento das custas da fase recursal, com a finalidade de evitar recursos meramente protelatórios, seguindo o princípio da celeridade processual; i) Os honorários advocatícios de sucumbência serão pagos também na fase recursal; j) Em ações que envolvam pagamento de pecúnia, o executado que deixar de cumprir essa obrigação terá seu nome negativado e esse será inserido em cadastro de devedores e em órgãos de proteção ao crédito; l) A regulamentação do amicus curiae, podendo este instituto ser utilizado em ações de matéria controversa e relevante, para auxiliar com sua experiência na matéria objeto do processo, na defesa do interesse público; m) E, finalmente, a criação do negócio jurídico processual, previsto no artigo 190 do CPC/153, tema que será debatido no presente artigo. 3 FATOS, ATOS, ATOS-FATOS JURÍDICOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS Os fatos jurídicos podem surtir da natureza ou de atos humanos. Surtindo de atos humanos, os fatos jurídicos podem ser um ato jurídico, negócio jurídico, ato ilícito ou ato-fato. 3 Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. FACULDADES INTEGRADAS “ANTONIO EUFRÁSIO DE TOLEDO” Faculdade de Direito de Presidente Prudente – SP _________________________________________________________________ 4 Os atos que manifestam ou exteriorizam a vontade humana tornam-se atos jurídicos quando sofrem incidência da norma que os prevê. Já os atos ilícitos são aqueles que contrariam o direito, os quais trazem uma consequência ruim para o sujeito que pratica o ato. Já os atos-fatos jurídicos são “atos humanos, em que não houve vontade, ou dos quais se não leva em conta o conteúdo de vontade, aptos, ou não, a serem suportes fáticos de regras jurídicas”4. Ou seja, quando a vontade humana é desprezada, tem-se o ato-fato. Por fim, o negócio jurídico, objeto do presente estudo, que se relaciona coma autonomia da vontade e com a escolha na estruturação do conteúdo da relação jurídica. Pode se dizer, ainda, que consiste em uma declaração de vontade com o fim de produzir efeitos jurídicos. Geralmente é definido como ato de autonomia privada e, por consequência, tem como característica a autodeterminação, autovinculação, autorregulação5. Posto isso, passa-se a discorrer sobre o conceito de negócio jurídico processual. 4 CONCEITO DE NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL De acordo com os ensinamentos de Pedro Henrique Pedrosa Nogueira, pode-se definir o negócio jurídico processual como: O fato jurídico voluntário em cujo suporte fático, descrito em norma processual, esteja conferido ao respectivo sujeito o poder de escolher a categoria jurídica ou estabelecer, dentre dos limites fixados no próprio ordenamento jurídico, certas situações jurídicas processuais.6 Ou, em outras palavras, como fato jurídico voluntário em que o sujeito tem o poder de escolher ou estabelecer certas situações jurídicas processuais, sempre dentro dos limites permitidos no próprio ordenamento jurídico. 4 MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de direito privado. Atual. Vilson Rodrigues Alves. Campinas: Bookseller, 1999, t.1, § 26, n. 2, p. 133. 5 CUNHA, Leonardo Carneiro da. Negócios jurídicos processuais no Processo Civil Brasileiro, 2014. 6 NOGUEIRA, Pedro Henrique Pedrosa. Negócios Jurídicos Processuais: Análise dos provimentos judiciais como atos negociais. Salvador: Tese de Doutorado da UFBA, 2001, p. 137. FACULDADES INTEGRADAS “ANTONIO EUFRÁSIO DE TOLEDO” Faculdade de Direito de Presidente Prudente – SP _________________________________________________________________ 5 O negócio jurídico processual é produto da autonomia privada e da autorregulação de interesses, o que implica liberdade de celebração e de estipulação. Desta feita, fica evidente, na forma do art. 190 do NCPC, que o legislador permite a influência do autorregramento da vontade, e, ainda, deixa um espaço para que os sujeitos do processo possam influir e participar na construção da atividade procedimental. 5 NEGÓCIOS PROCESSUAIS TÍPICOS E ATÍPICOS Os negócios jurídicos processuais podem ser divididos em típicos e atípicos. O NJP típico é aquele previsto em lei, estando nela regulado, do qual o esforço das partes na sua regulação é dispensável, pois esta já está regulada em lei. Pode-se perceber vários NJPs típicos no Código de Processo Civil de 1973, dentre eles: a) modificação do réu na nomeação à autoria (arts. 65 e 66); b) sucessão do alienante ou cedente pelo adquirente ou cessionário da coisa litigiosa (art. 42, § 1º): c) acordo de eleição de foro (art. 111); d) prorrogação da competência territorial por inércia do réu (art. 114); e) desistência do recurso (an. 158; art. 500, IlI); f) convenções sobre prazos dilatórios (art. 181); g) convenção para suspensão do processo (arts. 265, II, e 792); h) desistência da ação (art. 267, § 4°; art. 158, parágrafo único); i) convenção de arbitragem (art. 267, VII; art. 301, IX); j) revogação da convenção de arbitragem (art. 301, IX, e § 4º); k) reconhecimento da procedência do pedido (art. 269, II); l) transação judicial (arts. 269, IlI, 475-N, IlI e V, e 794 II); m) renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação (art. 269, V); n) convenção sobre a distribuição do ônus da prova (art. 333, parágrafo único); o) acordo para retirar dos autos o documento cuja falsidade foi arguida (art. 392, parágrafo único); p) conciliação em audiência (arts. 447 a 449); q) adiamento da audiência por convenção das partes (art. 453, I); r) convenção sobre alegações finais orais de litisconsortes (art. 454, § 1º); s) liquidação por arbitramento em razão de convenção das panes (art. 475-C, I); t) escolha do juízo da execução (art. 475-P. parágrafo único): u) renúncia ao direito de recorrer (art. 502); v) requerimento conjunto de preferência no julgamento perante os tribunais (art. 565, parágrafo único); w) desistência da execução ou de medidas executivas (art. 569); FACULDADES INTEGRADAS “ANTONIO EUFRÁSIO DE TOLEDO” Faculdade de Direito de Presidente Prudente – SP _________________________________________________________________ 6 x) escolha do foro competente pela Fazenda Pública na execução fiscal (art. 578, parágrafo único); y) opção do exequente pelas perdas e danos na execução de obrigação de fazer (art. 633); z) desistência da penhora pelo exequente (an. 667, III): aa) administração de estabelecimento penhorado (an. 677, § 2º): bb) dispensa da avaliação se o exequente aceitar a estimativa do executado (art. 684, I): cc) opção do exequente pelo por substituir a arrematação pela alienação via internet (art. 689-A): dd) opção do executado pelo pagamento parcelado (art. 745-A); ee) acordo de pagamento amigável pelo insolvente (art. 783); ff) escolha de depositário de bens sequestrados (art. 824, I); gg) acordo de partilha (art. 1.031).7 Estes são negócios jurídicos processuais típicos, expressamente regulados no CPC/73. Nota-se que esses negócios podem ser unilaterais, como por exemplo, a desistência da penhora pelo exequente; mas também podem ser bilaterais, como a desistência da ação depois da resposta do réu. Em regra, produzem efeitos imediatamente, com exceção da desistência da ação, que só produz efeitos depois de homologada pelo juiz. Em contrapartida, é possível que as partes pactuem negócios fora dessas hipóteses, de forma a atender às suas conveniências e necessidades. Desta forma, quando houver detalhamento legal, o negócio jurídico é atípico. No CPC/73, os negócios jurídicos processuais atípicos estão autorizados pelo disposto no art. 158, que fora reproduzido no art. 200 do NCPC: “Os atos das partes, consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade, produzem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção de direitos processuais” e, no CPC/15, no referido art. 190. Os negócios jurídicos atípicos podem ser unilaterais, bilaterais ou plurilaterais e produzem efeitos imediatos. 6 FORMA No negócio jurídico processual, a declaração de vontade deve ter necessariamente a forma escrita. Ainda que manifestada oralmente em audiência ou 7 CUNHA, Leonardo Carneiro da. Negócios jurídicos processuais no Processo Civil Brasileiro. 2014. FACULDADES INTEGRADAS “ANTONIO EUFRÁSIO DE TOLEDO” Faculdade de Direito de Presidente Prudente – SP _________________________________________________________________ 7 por outro meio, essa vontade deve ser reduzida a termo ou registrada de alguma forma que permita a reprodução.8 Ainda, a manifestação de vontade deve ser sempre de forma expressa, nunca de forma tácita. Além disso, não há exigência de celebração por instrumento público e, em contrapartida, se celebrado de forma particular, esse deverá ser juntado aos autos, ganhando forma pública9. 7 OBJETO De início, é importante observar que o negócio processual pode ser feito antes ou durante o processo. Além disso, pode-se instituir e regular um processo extrajudicial, como por exemplo a realização de atividade de instrução preliminar, semelhante ao sistema do common law.10 O objeto do negócio processual é indeterminado, haja vista que cada um apresenta elementos particulares, sempre voluntários, de conteúdo indeterminado, o que torna impossível examinar o objeto do negócio processual de forma exaustiva. Claro que nesses acordos, tanto a validade como a eficácia deverão passar pelo crivo do judiciário. Ainda, as partes só poderão pactuar sobre direitos que admitamautocomposição, na forma da lei. 8 AGENTE Antes de adentrar ao tema, vale pontuar que o juiz não é agente do negócio processual, mas sim as partes que são os agentes. Além disso, o juiz não precisa ou deve “homologar” o ato das partes, até porque não há previsão legal para isso, mas sim observar e efetivar aquilo que foi pactuado pelas partes. Em contrapartida, o juiz deve também, em momento oportuno, controlar a licitude do pacto, em decisão fundamentada e sujeita a impugnação, a qual deve vir em forma de incidente, que será melhor discorrido neste trabalho.11 8 YARSHELL, Flávio Luiz. Convenção das partes em matéria processual: rumo a uma nova era? 9 YARSHELL, op. cit. 10 YARSHELL, op. cit. 11 YARSHELL, op. cit. FACULDADES INTEGRADAS “ANTONIO EUFRÁSIO DE TOLEDO” Faculdade de Direito de Presidente Prudente – SP _________________________________________________________________ 8 9 TEMPO No que tange ao tempo, as partes podem tanto pactuar tanto em momento anterior ao processo, como para regulamentar uma situação extrajudicial, como a instrução preliminar, ou para regulamentar uma eventual futura ação judicial envolvendo o contrato ou negócio que está sendo realizado. As partes podem ainda pactuar durante o processo, durante qualquer fase do procedimento, desde que haja o que convencionar. As partes poderão, por exemplo, na audiência de mediação e conciliação, pactuar que todas as interlocutórias serão irrecorríveis, e que a sentença será irrecorrível, de forma a tornar o procedimento mais célere. Até mesmo na fase recursal as partes poderão negociar; todavia, é notório que as possibilidades para o exercício da autonomia da vontade diminuem nesta fase do procedimento. O tempo do negócio é importante também para determinar a legislação aplicável, para o caso de mudança legislativa entre a celebração do negócio e futuro litígio. Primeiro, há de se esclarecer que o negócio jurídico processual não é um ato processual, então não há de se falar da regra do isolamento e impor imediata aplicação da lei nova ao negócio processual. Posto isso, a superveniência de norma processual cogente e de ordem pública tornaria inviável a execução da regra processual que as partes pactuaram. Porém, se a execução desse pacto for viável, o juiz e as partes deverão respeitar o pactuado, de forma a respeitar o direito constitucional do ato jurídico perfeito e do direito adquirido. Claro que as partes, com a ocorrência da alteração da legislação, podem rever o negócio para ajustar a nova norma e a sua vontade.12 10 REQUISITOS DE VALIDADE O primeiro requisito de validade é que o negócio jurídico processual deve ser resultado de processo volitivo com a presença de adequada consciência da 12 YARSHELL, loc. cit. FACULDADES INTEGRADAS “ANTONIO EUFRÁSIO DE TOLEDO” Faculdade de Direito de Presidente Prudente – SP _________________________________________________________________ 9 realidade e do que se está contratando, juntamente com a liberdade de escolha e boa-fé. Se isso não estiver presente, o negócio deve ser anulado por vício resultante de erro, dolo ou coação. O segundo requisito é a igualdade real das partes e a paridade de armas, ou seja, as partes não podem, por sua proeminência econômica ou de qualquer outra, se sobrepor à outra parte de forma que a “force” realizar o negócio, de modo que imponha regras processuais que lhe sejam mais favoráveis ou vantajosas, considerando caso a caso. Neste requisito, vale lembrar o parágrafo único do art. 190 do NCPC, que trata exatamente deste requisito, normatizando que o juiz deverá controlar a validade das convenções e recusar a aplicação se perceber a nulidade - que trata o primeiro requisito - ou de inserção abusiva em contrato de adesão – que seria o consumidor – ou alguma parte que se encontre em situação de vulnerabilidade por qualquer motivo que seja econômico, de relação empregatícia ou qualquer outra. Desta forma, a desigualdade e a disparidade de armas é uma característica corriqueira da vida e do mundo capitalista, e, o juiz, tendo isso em mente, deve controlar a validade dessas cláusulas abusivas e eventual preponderância de um dos sujeitos não deve resultar em regras favoráveis a ele e desfavoráveis a outra parte. Portanto, pode sim haver negócio processual entre pessoas desiguais visto de qualquer ponto de vista, desde que no processo haja a igualdade real. O negócio processual exige também, na foram do art. 190 sujeitos “plenamente capazes”. Portanto, em uma intepretação reversa, não é possível a celebração de negócio processual por sujeitos relativa ou absolutamente incapazes, mesmo que na pessoa de seus representantes legais, gerando a nulidade do ato, qualquer que seja o grau de incapacidade do indivíduo.13 10.1 Presença De Advogado A validade do negócio processual não depende da presença do advogado, todavia é recomendável a orientação desse, por se tratar de matéria técnica, o que foge ao conhecimento do leigo. Isso se dá porque o negócio 13 YARSHELL, loc. cit. FACULDADES INTEGRADAS “ANTONIO EUFRÁSIO DE TOLEDO” Faculdade de Direito de Presidente Prudente – SP _________________________________________________________________ 10 processual não é um ato processual, que exige capacidade postulatória. Ou seja, o fato do negócio processual envolver o procedimento e posições jurídicas não o torna um ato que seja indispensável a presença de advogado. Podemos pensar, por exemplo, em um sujeito que já teve orientação por advogado, já demandou várias vezes o Poder Judiciário e faz constantemente um determinado tipo de contrato. Diante disso, este sujeito chegou à conclusão que o melhor para ele é que a sentença transite em julgado imediatamente, não sendo possível a apelação. Chegando a esta conclusão, este sujeito começa a estipular neste determinado tipo de contrato esta cláusula de irrecorribilidade da sentença. Portanto, chega-se à conclusão que seria abusivo para esse sujeito a presença do advogado toda vez que firma-se seus contratos, tendo de arcar com honorários de advogado. Em contrapartida, se mostra inviável que as partes pactuassem que seria desnecessária a presença do advogado em eventual e futura ação judicial envolvendo aquele contrato, haja vista que o leigo não tem conhecimento técnico suficiente para realizar o trabalho do advogado. Ainda, a Constituição Federal estabelece que o advogado é indispensável à administração da justiça, o que exige adequada informação acerca dos direitos, deveres, riscos e chances envolvidas em demandar ou resistir a pretensão da outra parte14. Da mesma forma, seria nula eventual disposição que excluísse ou mudasse a destinação dos honorários de sucumbência, haja vista os honorários advocatícios serem considerados de natureza alimentar. Porém, seria válida essa disposição se os advogados das partes comparecessem ao ato e concordassem com o pactuado. 11 FORMA DE IMPUGNAÇÃO Como já dito, o controle da validade e eficácia do negócio jurídico processual deve se dar pelo órgão jurisdicional. Ainda, esse controle deve ser feito de ofício pelo juiz ou a requerimento da parte, incluindo-se o Ministério Público como fiscal da lei. 14 YARSHELL, loc. cit. FACULDADES INTEGRADAS “ANTONIO EUFRÁSIO DE TOLEDO” Faculdade de Direito de Presidente Prudente – SP _________________________________________________________________ 11 Isso deveser dar de forma incidental ao processo em que o conteúdo do negócio for apresentado ao Poder Judiciário, ou seja, o processo principal seria o litígio em si, e o processo incidental seria a discussão existente sobre a validade de cláusula de negócio jurídico processual15, o qual deve ser chamado de “incidente de negócio processual”. Certamente que o juiz não deve examinar a integralidade do negócio, de modo a adiantar eventuais nulidades futuras, o que seria a desfavor da celeridade. O controle deve ser feito de acordo com a fase processual e, ainda, vale ressaltar que não há preclusão sobre o tema. Já em fase recursal, caso haja alguma estipulação sobre essa fase do processo, o controle deverá ser feito pelo relator, cuja decisão será revista pelo colegiado. Em contrapartida, não haveria interesse processual uma demanda cuja discussão seria exclusivamente uma cláusula de negócio processual, pois esta cláusula só surtiria efeitos no mundo jurídico com a propositura de eventual litígio sobre aquele contrato estipulado entre as partes com cláusula de negócio processual. Em caso de pluralidade de partes no contrato, o reconhecimento de invalidade em um incidente de negócio processual para uma das partes prevalecerá perante todos, podendo utilizar o julgamento desse incidente para futura demanda. Isso deve se dar para evitar decisões conflitantes, não sobrecarregar o Judiciário com incidentes repetitivos e em razão da celeridade.16 12 CONCLUSÃO Com a entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil, apelidado de “código das partes”, fica evidente a valorização da autonomia da vontade das partes em matéria processual. Ainda, essa autonomia não deve ser utilizada apenas como forma de exercitar a criatividade dos advogados e sim, alterar as regras criadas pelo Legislador para se adequem a cada caso concreto, dando efetividade e racionalidade, com o objetivo de trazer resultados relevantes ao processo. 15 YARSHELL, loc. cit. 16 YARSHELL, op. cit. FACULDADES INTEGRADAS “ANTONIO EUFRÁSIO DE TOLEDO” Faculdade de Direito de Presidente Prudente – SP _________________________________________________________________ 12 Isso deve se dar com a colaboração, aceitação do novo código e boa vontade dos magistrados e de todos os operadores do Direito, que devem estar abertos a esse novo cenário do processo civil. Somente assim, será possível o sucesso das novas e relevantes disposições, que levarão o processo civil a uma nova Era. FACULDADES INTEGRADAS “ANTONIO EUFRÁSIO DE TOLEDO” Faculdade de Direito de Presidente Prudente – SP _________________________________________________________________ 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Código de processo civil. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o código de processo civil. Web site disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm > Acessado em 22 de outubro de 2015. ______. Código de processo civil. Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o código de processo civil. Web site disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869compilada.htm > Acessado em 22 de outubro de 2015. BUENO, Cassio Scarpinella. Novo código de processo civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2015. CUNHA, Leonardo Carneiro da. Negócios jurídicos processuais no Processo Civil Brasileiro, 2014. DELLORE, Luiz. As principais inovações do Novo CPC. 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