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TRABALHO E SOCIABILIDADE Daniella Tech Doreto sa SOLUÇÕES EDUCACIONAIS INTEGRADASDesemprego, precarização do trabalho e Questão Social Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever as expressões da Questão Social decorrentes do modelo capitalista brasileiro. Reconhecer desemprego e a precarização do trabalho como ex- pressões da Questão Social. Identificar a necessidade de novas mediações nas relações de trabalho. Introdução O capitalismo assenta as suas bases na alienação e na exploração do trabalho, levando à apropriação privada da riqueza socialmente produ- zida. Uma das consequências do sistema capitalista é a Questão Social. Quando relacionada ao mundo do trabalho, tal questão se expressa principalmente por meio do desemprego e da precarização das relações trabalhistas. Nesse contexto, há desregulamentação de direitos, explora- ção e condições precárias de vida e trabalho. Neste capítulo, você vai estudar as expressões da Questão Social, em especial desemprego e a precarização do trabalho. Além disso, você vai verificar a necessidade de novas mediações nas relações traba- frente à intensificação dos processos de alienação e exploração do trabalho. 1 modelo capitalista brasileiro e as expressões da Questão Social A Questão Social não pode ser analisada de forma isolada da sociedade ca- pitalista. Afinal, a expressão "Questão Social" surgiu na década de 1930, momento em que o processo de industrialização iniciado na Europa trazia2 Desemprego, precarização do trabalho e Questão Social importantes mudanças econômicas, sociais e políticas para diferentes países, refletindo-se também na realidade brasileira. Em síntese, a Questão Social é gerada pela contradição existente entre capital e trabalho, uma vez que a classe trabalhadora responsável por produzir a riqueza não se apropria dela. Assim, a origem da Questão Social está relacionada ao caráter coletivo da produção e à concentração da riqueza socialmente produzida nas mãos de uma parcela minoritária da população (IAMAMOTO, 2000). Veja: [A] Questão social [é] apreendida como o conjunto das expressões das desigual- dades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade (IAMAMOTO, 2000, p. 27). A relação entre o capitalismo e as sucessivas crises sociais ocorridas ao longo dos anos é bastante evidente. De acordo com Meirelles (2017, documento on-line), "A 'questão social' é um conceito que abrange dupla dimensão, ou seja, envolve a exploração capital/trabalho e, também, a inconformidade e a resistência da classe trabalhadora frente à exploração capitalista". Para o autor, o conceito emergiu durante a Revolução Industrial, quando o modo de produção capitalista se consolidou e quando se registrou a pauperização da classe operária. Ele complementa ainda que, "naquele momento, a pauperização absoluta se apresentava como um fenômeno recente, inédito para as expecta- tivas da produção capitalista em seu período concorrencial" (MEIRELLES, 2017, documento on-line). Veja o que afirma Alves (2013, documento on-line): A questão social que surgiu na Europa Ocidental do século XIX, designan- do o fenômeno de pobreza material crescente entre os membros da classe operária, se põe, historicamente, num primeiro momento, como dizendo respeito à condição da exploração e desigualdade social originária de am- plos contingentes da classe operária industrial excluída da participação na riqueza social. Ela surge nos primórdios do capitalismo industrial no século XIX com a classe trabalhadora alienada dos produtos de consumo da civili- zação capitalista emergente. Naquela época, os trabalhadores assalariados não eram sujeitos de direitos. A precariedade salarial originária assumiu formas extremas, desreguladas e articuladas, no núcleo mais dinâmico da acumulação, com modos de espoliação de homens, mulheres e crianças. A indústria era o polo da brutalidade salarial, onde vigorava o trabalho degradante, trabalho infantil por extensas jornadas de trabalho com remu- neração abaixo da linha de subsistência. A pobreza expressava, naquelasDesemprego, precarização do trabalho e Questão Social 3 condições históricas, o modo de exploração intensiva e extensiva da força de trabalho, constituindo aquilo que denominamos de primeira geração da precarização do trabalho. Até a década de 1930, a pobreza era considerada um problema individual, e não o resultado das expressões da Questão Social. Nessa época, no Brasil, o cenário político era governado por Getúlio Vargas. Do ponto de vista do trabalho, buscava-se a regulamentação das relações entre trabalhadores e empregadores como forma estratégica de evitar conflitos sociais. Na prática, isso representava um acesso restrito aos direitos, uma vez que apenas os que possuíam vínculos empregatícios podiam requerer garantias. As considerações destacadas evidenciam que as expressões da Questão Social são inerentes à sociedade capitalista e que resultam da relação capital versus tra- balho, tendo como um dos seus determinantes a exploração da classe trabalhadora pela classe dominante. Segundo Yazbek (1999, p. 95), "[...] a subalternidade é aqui entendida como resultante direta das relações de poder na sociedade e se expressa em diferentes circunstâncias e condições da vida social, além da exploração do trabalho. (ex.: a condição do idoso, de mulher, de negro, etc.)". Em outras palavras, a Questão Social é gerada pela contradição entre capital e trabalho: a classe trabalhadora produz a riqueza, da qual os capitalistas se apropriam. Assim, o trabalhador não usufrui das riquezas que produz, o que gera desigualdades, insatisfações e diversos problemas ligados à exploração do trabalho. Além dos aspectos destacados, você deve considerar ainda que as condições do capitalismo mundial, a financeirização da economia e o desenvolvimento tecnológico e informacional geraram mudanças nas relações de trabalho. Isso, por sua vez, ocasionou precarização, terceirização, subcontratações, trabalho temporário e outras condições problemáticas que repercutem na Questão Social. Assim, a Questão Social se manifesta de diversas formas, por exemplo: desigualdades econômicas, políticas, desemprego e subemprego, diferenças de classe, gênero, questões étnico-raciais e pessoas em situação de rua. Como você já viu, o mundo capitalista também vivenciou períodos de crise, que, de acordo com Fontes (2017), influenciaram a reprodução da miséria, do desemprego e de outras situações que atingem diretamente a vida dos indivíduos. Com a introdução de novas tecnologias, por exemplo, diminui o número de trabalhadores necessários para produzir dada quantidade de mercadorias. Ademais, "[...] o desemprego é crescentemente constitutivo dessa dinâmica social e vem sendo convertido em forma de exploração do trabalho sem a mediação contratual, sem direitos, sem limites de jornada de trabalho" (FONTES, 2017, documento on-line).4 Desemprego, precarização do trabalho e Questão Social Outro aspecto a ser considerado é que as contradições entre capital e trabalho e as lutas que permeiam essa relação acabam levando a Questão Social para a esfera pública. Assim, passa-se a exigir que o Estado legalize e reconheça a situação dos sujeitos sociais no que diz respeito aos seus direitos e deveres. Por esse motivo, não raras vezes, a resposta do Estado às demandas vem em forma de políticas sociais. A ideia é compensar a sua decisão de não realizar as tarefas e reformas necessárias para favorecer a distribuição da riqueza, até porque esse não é o interesse do Estado. que existe, portanto, são políticas focalizadas que possibilitam o acesso a programas sociais por uma parcela específica de usuários (FONTES, 2017). O Estado, enquanto regulador da sociedade, foi mudando de posiciona- mento com o passar do tempo. Na sociedade capitalista contemporânea, com a instauração da agenda neoliberal na década de 1990, o Estado intermedeia as relações entre economia e política e interfere de forma parcial na economia. Desse modo, aos poucos o Estado foi se legitimando perante a sociedade e conquistando sua autonomia, sua força. No tocante às expressões da Questão Social, o Estado tem agido por meio dos mínimos sociais ofertados pelas políticas públicas de caráter restritivo ao atendimento da extrema pobreza, considerando as famílias que vivem em vulnerabilidade social. Fique atento As políticas sociais são a principal forma de enfrentamento da Questão Social. A centralidade do Estado na condução dessas políticas, em meio ao processo de desenvolvimento capitalista, resulta no aumento da demanda por serviços e programas sociais, na ampliação da relação entre as políticas sociais e Serviço Social, bem como na diversificação do mercado de trabalho do assistente social (RAICHELIS, 2009). Alves (2013) destaca que o principal problema relacionado à Questão Social no século XXI é a evidente contradição entre desenvolvimento das capacidades humanas e degradação da personalidade humana. Para o autor, no momento em que os homens adquirem maior capacidade civilizatória no campo objetivo das possibilidades e do desenvolvimento de sua individualidade, sua subjetividade e sua alteridade, há o reforço dos obstáculos ao desenvolvimento da personalidade humana, ampliando-se sua degradação.Desemprego, precarização do trabalho e Questão Social 5 Com o passar do tempo, a Questão Social tem sido naturalizada e crimina- lizada. Ou seja, a ideologia dominante embute no ideário da população a noção de que a pobreza é aceitável, não deixando claro que ela é uma expressão da Questão Social e que resulta da contradição entre capital e trabalho. Não fica evidente que a pobreza, a violência, a fome e a falta de acesso a bens e recursos, por exemplo, tratam-se de problemas engendrados pelo capitalismo financeiro, que cria novas formas de renovar o exército industrial de reserva. Nesse sentido, você deve ter em mente que as bases que sustentam o capitalismo são a livre concorrência e o lucro, que são obtidos por meio da exploração do trabalho. Assim, a Questão Social manifesta-se claramente como resultado do modo de produção capitalista. No entanto, as manifestações da Questão Social e as crises pelas quais o capitalismo vem passando ao longo do tempo não são condições imutáveis. É preciso compreender a lógica da estrutura capitalista e entender como a Questão Social se expressa na sociedade de classes. Assim, como apontam Barros e Silva (2015), é possível encontrar uma solução para essa questão. Tal solução somente será concretizada por meio de uma socia- bilidade diferente da que existe hoje. O ideal é que todos tenham acesso aos bens produzidos necessários à sua subsistência, que não haja exploração de classe e opressão e que todos participem coletivamente das decisões. 2 Desemprego e precarização do trabalho As considerações feitas a seguir não têm a pretensão de esgotar o tema em ques- tão, mas de fornecer a você os principais elementos necessários para fomentar uma discussão sobre o desemprego e a precarização do trabalho no mundo capitalista. É consenso que a Questão Social se relaciona diretamente ao mundo do trabalho na sociedade capitalista. Dessa relação, outras surgem em decor- rência principalmente do desemprego e da precarização do trabalho. De acordo com Fontes (2017), as crises no mundo capitalista influenciam a reprodução da miséria, do desemprego e de outras situações que atingem a vida dos indivíduos. As várias mudanças que ocorreram no mundo do trabalho resultaram também de alterações nas relações trabalhistas e se agravaram ao longo da história. Tais transformações motivaram a luta de classes, por meio da qual diversas categorias defenderam seus interesses: registrava-se a resistência da classe trabalhadora contra a ideologia dominante e seu descontentamento com a lógica estabelecida, que a fragilizava enquanto classe; de outro lado, havia a burguesia, que instigava a concentração de renda por meio da apropriação privada da riqueza socialmente produzida, inibindo a organização da classe trabalhadora.6 Desemprego, precarização do trabalho e Questão Social Saiba mais Aluta dos trabalhadores brasileiros se intensificou nas primeiras décadas do século quando contingente de profissionais assalariados já atingia um número considerável. Nessa época, estados de São Paulo e Rio de Janeiro vivenciaram momentos de tensão, em que os trabalhadores lutavam por melhores condições de trabalho (salários mais altos e jornadas menores) e contra a propriedade privada concentrada nas mãos da burguesia. Além disso, no início de 1900, trabalhadores como alfaiates, tecelões, mine- radores, ferroviários e outras categorias também passaram a demonstrar insatisfação com a ordem vigente. A organização dos trabalhadores foi considerada uma ameaça e houve respostas do governo, que tentou reprimir movimento (SOUZA, 2020). No modo de produção capitalista, predomina o trabalho assalariado, ou seja, o trabalhador vende a sua força de trabalho em troca de um salário. Assim, institui-se o trabalho formal por meio do emprego, que é a forma encontrada pelo capital para amenizar as resistências dos trabalhadores, garantindo a coesão social e a legitimidade da ordem. Do ponto de vista histórico, a Questão Social está estreitamente relacionada à exploração do trabalho. Considere o seguinte: Na atualidade, o que se observa é a eliminação de postos de trabalho, a redução de trabalho vivo e crescentes taxas de desemprego, que assume di- mensão estrutural, ampliando o índice de trabalhadores supérfluos ao capital. Diferentemente do desemprego temporário e cíclico causado em períodos e conjunturas de crise do capital, o desemprego estrutural é caracterizado pela expulsão dos indivíduos da cadeia produtiva sem possibilidade de reinserção futura no mercado de trabalho (GUIRALDELLI, 2014, documento on-line). O desemprego favorecido pelo sistema capitalista é uma das mais graves consequências que podem ser geradas para a população. Além disso, a classe trabalhadora sofre com as condições precárias de vida e trabalho e com a falta de acesso às condições materiais de existência. Para ela, o único meio de assegurar a sua sobrevivência é a venda da força de trabalho, uma vez que é a burguesia que dispõe dos meios para realizar todo o processo produtivo. Diante disso, a acumulação baseia-se na contratação da força de trabalho daqueles que não possuem outra alternativa senão vendê-la (BARROS; SILVA, 2015). Destaca-se ainda mais uma possibilidade de acirramento da Questão So- cial como consequência da sociedade capitalista: a desresponsabilização das empresas que contratam trabalhadores sem assegurar direitos de cidadania,Desemprego, precarização do trabalho e Questão Social 7 fundamentais em casos de acidentes ou atendimento médico e previdenciário, por exemplo. No geral, os trabalhadores encontram-se vinculados às empresas terceirizadas que contratam os seus serviços, com condições precárias de trabalho, jornadas excessivas, contratos temporários e aumento da exploração, uma vez que não se encontram protegidos pela legislação trabalhista vigente no País. No sistema capitalista, os trabalhadores se encontram pressionados pelo capital, pelo desemprego, pela retirada de direitos até então consolidados, pela precarização do trabalho e pela pobreza. No Brasil, diante da retração dos postos de trabalho formais, ou seja, com direitos e garantias sociais, cresceram as ocupações informais. A informa- lidade, embora seja alvo de definições variadas, tende a abarcar os regimes de trabalho que se caracterizam pelos assalariados sem carteira assinada e pelos profissionais autônomos, que trabalham de forma individual, familiar ou associativa. Embora a questão da legalidade não seja o critério para de- finir o trabalho informal, as atividades implicadas nesse tipo de ocupação caracterizam, de um modo ou de outro, um ambiente de ausência de direitos publicamente assegurados. Nesse sentido, considere o seguinte: É nesse ambiente que se sinaliza para o desemprego como expressão evidente da questão social na contemporaneidade, não se trata de um problema indivi- dual. É um problema social, que atinge amplas camadas da população indepen- dente de sua condição, que ao contrário querem trabalhar, mas não conseguem emprego. Mesmo utilizando as estatísticas mais conservadoras projetadas pelo IBGE, revelam-se aumentos abusivos de desemprego. Visualiza-se, assim, uma conjuntura social dramática que produz um desemprego exacerbado e aumenta a incidência de novas formas de trabalho: trabalho parcial, tempo- rário, terceirizado, precário, subcontratado. trabalho formal assegurado pelo Estado cede espaço para o trabalho informal. Eis a flexibilização das relações de trabalho (SANTOS, [2006], documento on-line). Assim, a classe trabalhadora precisa encontrar condições para lutar por seus direitos e por melhores condições de vida. Em outras palavras, precisa lutar por seus direitos e, ao mesmo tempo, lutar para conservar o que conquistou e ainda resta. aumento do índice de pobreza já se encontra em nível alarmante e tem como uma de suas consequências o desemprego crônico. Além disso, houve um deslocamento da pobreza para a periferia, e podem ser observadas inclusive situações de pobreza extrema, o que passa a compor uma nova ordem social. Nesse sentido, a pobreza não pode ser associada a problemas no desenvolvimento das forças produtivas ou à escassez de produção, pois é possível produzir, na maioria das vezes, além do que a humanidade precisa.8 Desemprego, precarização do trabalho e Questão Social verdadeiro problema é que a produção tem como função a reprodução do capital, não a preocupação com os indivíduos (COSTA, 2010). Para superar o problema do desemprego e da precarização do trabalho, é necessário colocar no centro dos objetivos a garantia de emprego, de trabalho, com condições dignas a todos os brasileiros asseguradas por uma política do Estado. Link Leia artigo de Maria Beatriz Costa Abramides "Lutas sociais e desafios da classe trabalhadora: reafirmar projeto profissional do serviço social brasileiro", disponível no link a seguir. 3 Novas mediações nas relações de trabalho O capitalismo, como sistema econômico, tem mostrado as suas diversas facetas no decorrer do desenvolvimento da humanidade. Com o passar das décadas, esse sistema foi aprimorando os seus mecanismos de acumulação de riqueza e apropriação privada da riqueza socialmente produzida. O estágio atual, de acumulação flexível, tem se adaptado às crises cíclicas do capital, aprofun- dando as expressões da Questão Social. Entre tais expressões, destacam-se: o desemprego, a pobreza, a falta de acesso às políticas públicas, a desregula- mentação de diretos sociais e trabalhistas, o desmantelamento de sindicatos, entre outras mazelas que atingem a classe trabalhadora. Enquanto isso, a classe dominante também tem aprimorado as estratégias para a manutenção da sua ideologia, principalmente por meio da indústria cultural materializada no mercado consumidor. Com isso, o fetiche da mer- cadoria tem adentrado a vida da população, que vê nos diferentes produtos disponíveis no mercado algo de que necessita. Desse modo, mantém-se a dinâmica da economia do País em funcionamento. Nesse contexto, cada vez mais propagandas buscam convencer o consumidor de que determinado produto é necessário para que ele tenha qualidade de vida, quando na verdade o resultado do consumismo é o aumento do lucro do capitalista. A forma com que o trabalho tem sido estabelecido não favorece a classe trabalhadora, no sentido de oferecer as condições para que ela, além de manterDesemprego, precarização do trabalho e Questão Social 9 a sua subsistência, possa desenvolver outras habilidades e desfrutar de outros elementos que compõem a qualidade de vida, como a arte, o lazer e os exer- cícios físicos. Tais elementos também se tornaram mercadorias que podem ser "compradas", mas apenas por parte da sociedade. Assim, é necessário desenvolver novas mediações nas relações de trabalho, ou seja, criar outras formas de constituir o trabalho, para além da alienação e da exploração, que servem apenas como ferramenta para a geração de mais-valia e lucro para o capitalista. Concomitantemente, é preciso viabilizar alternativas de fortale- cimento da classe trabalhadora e das lutas sociais. Veja o que afirma Alves (2015, documento on-line): A reprodução ampliada do capital processo que se desenvolveu ao longo de fins do século XVIII e por todo o século XIX e XX, desde a acumulação mercantilista a [sic] esfera da circulação, até a sua fase monopólica in- tensifica, gradativamente e sob muita resistência (por meio de processos revolucionários), esses processos alienantes e a apropriação privada dos bens socialmente produzidos. capital, em seu desenvolvimento, instaura novas formas de intercâmbio do homem com a natureza, entre si e sua própria ati- vidade o trabalho. Consolida um processo produtivo centrado na produção da mais-valia, tendo nela sua base material. Instaura ainda uma contradição extremada, pois, ao mesmo tempo que contribui com o indiscriminado desen- volvimento das forças produtivas para ampliar as possibilidades de escolhas e alternativas de realização do ser social intensificando o afastamento das barreiras naturais e o processo de complexos no campo da reprodução social intensifica e exacerba a acumulação da mais-valia pela exploração do trabalho, que é socialmente construída. Observar a formação da sociedade capitalista e encontrar novas mediações a fim de construir formas diferentes de trabalho é importante para desenvolver habilidades de análise crítica e para definir estratégias de enfrentamento à Questão Social e às suas manifestações. Tais estratégias devem ser consolida- das nos espaços de discussão e em grupos que apoiam a classe trabalhadora enquanto detentora dos meios de produção e que defendem a redistribuição da riqueza de forma coletiva. Assim, é necessário fortalecer as estratégias de luta contra as mazelas do capital que se expressam no desemprego, no trabalho precarizado, na alienação e na exploração do trabalho, entre outras situações, para que o trabalhador seja incluído como produtor e detentor de riquezas. sistema capitalista tem aprimorado as suas estratégias de manutenção da ideologia dominante, valorizando o individualismo como forma de afastar qualquer movimento de oposição que instiga a revolta e o questionamento ao capital. Nota-se uma tendência, também, à valorização do "ter" em contraponto10 Desemprego, precarização do trabalho e Questão Social ao "ser". Nesse sentido, a mercadoria se torna um fetiche que transmite ao sujeito a ligeira e rápida necessidade de possuí-la, movimentando o mercado e produzindo lucro para o capitalista. A indústria do consumo mantém sua estabilidade despertando nas massas "a necessidade do ter" e desenvolvendo produtos de vida curta, processo chamado de "obsolescência Os produtos, cada vez mais sofisticados devido aos avanços tecnológicos, têm a sua vida útil reduzida com a finalidade de gerar no consumidor o desejo de compra, alimentando a economia e o mercado. problema do fetichismo, expressão mais complexa dos processos de alie- nação, apresenta na confluência entre trabalho e valor o que redunda na materialização da mercadoria, ou seja, na contradição própria do sistema capitalista contemporâneo, e, ao mesmo tempo em que se explicita o caráter social do trabalho, ele é escamoteado por um caráter associal. Trata-se a fan- tasmagoria consolidada pela equação entre relações sociais no processo de produção-relações entre coisas, apreendida na sua factualidade/naturalização fetichismo é parte constitutiva da função totalizadora do capital, pois ele se afirma e se desenvolve cristalizando-se em coisas, escamoteando as relações sociais com base em coisas, mercadorias, no contexto próprio de consolidação extrema do capitalismo, potencializando-se na financeirização do capital, sua dimensão atual (ALVES, 2015, documento on-line). Portanto, as relações sociais são permeadas pelas relações de mercado, determinadas pelas condições de funcionamento deste. Vê-se a corrida pela produtividade como meio de gerenciar as crises cíclicas do capital, a desvalo- rização do direito ao trabalho e a valorização da competitividade, contexto em que o indivíduo é compreendido como mero consumidor. Diante da mercado- rização dos diretos, a inovação tecnológica serve aos interesses do Estado e do capital como forma de ampliar o controle da informação. O Estado assume o papel de garantir a expansão e a extração do trabalho excedente (mais-valia) e reforça a produção e a reprodução da Questão Social. As inúmeras ferramentas implementadas para tentar corrigir as intempéries produzidas pelo sistema não conseguem eliminar os antagonismos do capital. Os rebatimentos no campo das políticas públicas são incontestes e se ex- pressam em elementos tais como: o gasto com a seguridade social tornou-se impulsionador da demanda agregada ao ativar diretamente o consumo das famílias (aquisição de medicamentos, alimentos, vestuário e outros bens de primeira necessidade); há uma relação direta entre redução da pobreza e da desigualdade social e o favorecimento à formação do capital; há uma relaçãoDesemprego, precarização do trabalho e Questão Social 11 entre gasto social e ampliação do investimento privado como reação ao con- sumo (saúde, educação e assistência social); e a proteção social está atrelada à elevação da produtividade (linhas de crédito, capacitação de trabalhadores) (ALVES, 2015, documento on-line). É necessário identificar novas mediações nas relações de trabalho para fortalecer as ações de combate às expressões da Questão Social e de empo- deramento da classe trabalhadora. desmonte das políticas sociais, derivado dos rebatimentos da reestruturação produtiva, amplia o setor privado e reforça a mercantilização dos serviços sociais (saúde, educação, assistência social), via atuação do terceiro setor. Diante do estreitamento das relações de traba- lho, que é intensificado pelas diversas formas de alienação e exploração, é necessário compreender a realidade social com uma visão de homem e mundo crítica, percebendo o indivíduo e a sociedade que o cerca sob a perspectiva da totalidade. O mundo do trabalho passou por diversas transformações e teve como ápice o modo de produção capitalista, que valoriza o trabalho estranhado e coisificado em detrimento do trabalho ontológico. Isso influenciou a construção das relações sociais e de trabalho, que colocaram o trabalhador em posição de submissão ao capital, ao passo que o capitalista aumenta a sua riqueza a partir da acumulação do capital que advém do lucro e do trabalho não pago. Esse contexto cria insatisfação em diversos segmentos da sociedade, que, a partir de movimentos, unem-se para construir alterna- tivas contra a opressão do sistema capitalista, a fim de fortalecer a classe trabalhadora e as lutas sociais. É nesse sentido que novas mediações devem ser desveladas, a fim de aprofundar a compreensão acerca das nuances da Questão Social, resul- tado da contradição entre capital e trabalho. Como você sabe, as políticas sociais foram criadas com o objetivo de amenizar as expressões da Questão Social; contudo, elas devem ser utilizadas como instrumento para construir com os sujeitos as alternativas para as demandas sociais resultantes dessa relação contraditória. É importante fortalecer o pertencimento de classe e discutir com os sujeitos a sua visão acerca da sociabilidade, partindo de suas vivências cotidianas. O pensamento crítico e o questionamento podem ser meios para que os membros da classe trabalhadora alcancem a sua emancipação política, reconhecendo-se como cidadãos e sujeitos de sua própria história.12 Desemprego, precarização do trabalho e Questão Social Referências ALVES, G. Crise estrutural do capital, maquinofatura e precarização do trabalho: a questão social no século XXI. Textos & Contextos, V. 12, n. 2, p. 235-248, 2013. Disponível em: em: 4 mar. 2020. ALVES, G.L. Processo de trabalho, precarização e serviço social: uma relação necessária! Social em Questão, V. 18, n. 34, p. 181-204, 2015. Disponível em: http://osocialemquestao. ser.puc-rio.br/media/OSQ_34_8_Alves.pdf. Acesso em: 4 mar. 2020. BARROS, A.; SILVA, E. G. Fundamentos da questão social, da crise estrutural e do de- semprego. 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Assim, editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.Encerra aqui 0 trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.Conteúdo: S a SOLUÇÕES EDUCACIONAIS INTEGRADAS