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DIREITO 
ADMINISTRATIVO
Estado, Governo e
Administração Pública.
Conceito. Interpretação.
Fontes.
EDIÇÃO 1
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SUMÁRIOSUMÁRIO
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DIREITO ADMINISTRATIVODIREITO ADMINISTRATIVO
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ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA1. 03
PODERES DO ESTADO2. 07
GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA3. 09
DIFERENÇAS ENTRE FUNÇÃO ADMINISTRATIVA E FUNÇÃO POLÍTICA4. 12
QUAIS SÃO OS SENTIDOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA?5. 15
ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS QUE COMPÕEM O SENTIDO OBJETIVO,
MATERIAL OU FUNCIONAL
6. 18
DIREITO PÚBLICO X DIREITO PRIVADO7. 20
DIREITO ADMINISTRATIVO E OS RAMOS DO DIREITO8. 21
DIREITO ADMINISTRATIVO NO BRASIL9. 23
COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO ADMINISTRATIVO10. 24
CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO11. 25
O OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO12. 29
INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO13. 30
SISTEMAS DE CONTROLE JURISDICIONAL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA14. 31
O SISTEMA ADMINISTRATIVO NO BRASIL15. 31
LEGITIMÇÃO ATIVA E ASPECTOS PROCESSUAIS16. 32
NOVAS TENDÊNCIAS DO DIREITO ADMINISTRATIVO17. 34
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DIREITO ADMINISTRATIVODIREITO ADMINISTRATIVO
O surgimento do Estado e sua organização estão intimamente ligados à construção
normativa do Direito, bem como à tendência natural do ser humano de formar comunidades.
A ideia de viver em sociedade é intrínseca à condição humana. Em muitas situações, as
necessidades e interesses dos indivíduos só podem ser atendidos por meio da cooperação
com outras pessoas, o que justifica esse comportamento.
Ao longo da história, os seres humanos buscaram se organizar em coletividades para atingir
diversas finalidades, especialmente as de ordem econômica. Consciente dessa realidade, o
Direito passou a atribuir personalidade jurídica a determinados grupos de pessoas,
permitindo-lhes agir e responder por seus atos de forma autônoma, como entidades distintas
dos indivíduos que as compõem. Assim, podemos definir as pessoas jurídicas como entidades
às quais o ordenamento jurídico confere personalidade, tornando-as sujeitos de direitos e
deveres.
Essas pessoas jurídicas podem ser classificadas em dois tipos principais: as de direito privado
e as de direito público (interno ou externo), com base em sua função e área de atuação.
Conforme o Código Civil, no artigo 44, as pessoas jurídicas de direito privado incluem:
Associações
Sociedades
Fundações privadas
Organizações religiosas
Partidos políticos
Empresas Individuais de Responsabilidade Limitada (EIRELI)
Já as pessoas jurídicas de direito público interno, de acordo com o artigo 41 do Código Civil,
são compostas por:
A União;
Os Estados federados;
O Distrito Federal;
Os territórios;
Os municípios;
As autarquias (inclusive as associações públicas);
Outras entidades de caráter público criadas por lei (como as fundações públicas de direito
público).
Por fim, as pessoas jurídicas de direito público externo, conforme o artigo 42 da Codificação
Civil, englobam:
Estados estrangeiros;
Todas as entidades regidas pelo direito internacional público;
Dentro desse contexto, é fundamental compreender o conceito de Estado e sua função.
1. ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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1.1 CONCEITOS 
O conceito de Estado pode ser entendido de diferentes maneiras, dependendo da
perspectiva adotada.
Do ponto de vista sociológico, o Estado é visto como uma corporação territorial, dotada
de um poder de autoridade originário (segundo Jellinek).
Sob a ótica política, é uma comunidade de indivíduos estabelecida sobre um território,
que possui uma autoridade superior para agir, mandar e coercionar (definição de Malberg).
Em termos constitucionais, o Estado é caracterizado como uma pessoa jurídica soberana
e territorial (segundo Biscaretti di Ruffia).
No contexto do nosso Código Civil, o Estado é considerado uma pessoa jurídica de
Direito Público Interno.
IMPORTANTE - No sistema federativo brasileiro, cada componente da federação (União,
Estados, Municípios e Distrito Federal) representa o Estado, com suas respectivas
competências delimitadas pela Constituição Federal. Desde a Constituição de 1891, quando
o Brasil se tornou uma república, o país adota o regime federativo como forma de Estado. Esse
modelo continua vigente na Constituição de 1988, conforme os artigos 1º e 182.
No próximo tópico, vamos analisar de maneira mais detalhada o conceito de federação. Neste
momento, vamos nos concentrar em apresentar uma definição geral de Estado, com foco no
estudo do Direito Administrativo.
O Estado é uma pessoa jurídica territorial soberana, de direito público, composta por três
elementos essenciais e indissociáveis:
a) O povo, que é o componente humano;
b) O território, que constitui a base física;
c) O governo soberano é aquele que não se submete a nenhuma outra autoridade externa,
sendo detentor do poder (derivado do povo) de autodeterminação e auto-organização.
IMPORTANTE - Não pode existir um Estado independente sem soberania. Ou seja, não se
pode falar em Estado sem que este possua o poder absoluto, indivisível e incontestável de se
organizar e se governar conforme a vontade de seu povo, além de fazer cumprir suas
decisões, inclusive utilizando a força, se necessário.
Ademais, o Estado, enquanto uma entidade com personalidade jurídica, é sujeito capaz de
assumir direitos e responsabilidades no ordenamento jurídico. O Estado atua tanto em
relações internas, como, por exemplo, nas interações com seus servidores e cidadãos, quanto
em relações externas, estabelecidas com outros Estados soberanos.
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1.2 FORMAS DE ESTADO
De acordo com a forma como o território de um Estado é organizado politicamente, é possível
distinguir duas modalidades de Estado: o Estado unitário e o Estado federado (também
chamado de complexo ou composto).
O Estado unitário é aquele em que existe um único poder político central, caracterizando-
se pela centralização política, como é o caso do Uruguai.
O Estado federado (ou complexo) é caracterizado pela descentralização política, com a
coexistência de diversos poderes políticos autônomos, como ocorre no Brasil.
O Brasil é, portanto, organizado sob a forma de federação, conforme estabelecido pela
Constituição Federal. A nossa federação é composta por várias pessoas jurídicas de direito
público interno, que são as entidades políticas da União, dos Estados-membros, do Distrito
Federal e dos Municípios.
Assim, no território brasileiro, coexistem diferentes níveis de poder político: um poder central
(a União), poderes regionais (os Estados-membros) e poderes locais (os Municípios). Além
disso, há uma situação particular no Distrito Federal, que não é dividido em municípios e
acumula, portanto, funções de poder regional e local, conforme o artigo 32, §1º, da
Constituição vigente:
Art. 32 - O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger-se-á por lei orgânica, [...].
§1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos Estados e
Municípios.
A relação entre os entes federativos no Brasil é de coordenação, ou seja, não há subordinação
entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Cada um desses entes possui
autonomia para criar suas próprias leis e organizar sua estrutura política, administrativa e
financeira, sempre respeitando os limites definidos pela Constituição de 1988.
Entretanto, ao dividir as competências legislativas, a Constituição determinou que algumas
matérias sejam regulamentadas por leis de caráter nacional, editadas pelo Congresso
Nacional, são de observância obrigatória para todos os entes da federação, e não apenas para
a União. Um exemplo disso é a Lei nº 8.666/1993, que estabelece normasde jurisdição única,
que estabelece o controle administrativo sob a responsabilidade da Justiça Comum.
As constituições posteriores – de 1934, 1937, 1946 e 1969 – reforçaram o afastamento da
possibilidade de coexistência entre uma Justiça administrativa e a Justiça ordinária. Esse
movimento refletiu uma tendência já presente entre os estadistas mais progressistas do
período imperial, que se opunham ao contencioso administrativo incipiente daquela época.
Com a Emenda Constitucional nº 7 de 1977, foi aberta a possibilidade de criação de dois
contenciosos administrativos (artigos 11 e 203), mas eles nunca foram implementados. A
Constituição de 1988, por sua vez, encerrou definitivamente essa possibilidade.
A escolha brasileira foi fortemente influenciada pelo Direito Público norte-americano, que
serviu de base para a primeira Constituição Republicana. Esse modelo incorpora os princípios
do rule of law e do judicial control, que asseguram o controle jurisdicional das atividades
públicas. Tal vínculo histórico é essencial para compreender o Direito Público Brasileiro,
especialmente o Direito Administrativo, evitando o uso equivocado de princípios do sistema
francês em nossa organização político-administrativa e judiciária, uma vez que seguimos o
modelo anglo-saxônico.
Por fim, no Brasil, tanto a Administração quanto os administrados possuem acesso aos
mesmos instrumentos processuais do Direito Comum para a revisão judicial de atos
administrativos ou para lidar com resistências às atividades públicas. Ambos recorrem ao
mesmo Poder Judiciário, que é único e competente para decidir conflitos tanto de Direito
Público quanto de Direito Privado. Essa é a essência do sistema de jurisdição única adotado
em nosso país.
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16. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO
De acordo com a doutrina clássica, representada por autores como Hely Lopes Meirelles, as
principais fontes do Direito Administrativo são quatro: 
A lei, 1.
A doutrina, 2.
A jurisprudência E3.
Os costumes.4.
16.1 A LEI
A lei é a principal fonte do Direito Administrativo. Ela é uma norma geral, abstrata e
impessoal, sendo considerada primordial ou primária. O termo "lei" deve ser entendido em um
sentido amplo, abrangendo a Constituição, emendas constitucionais, leis complementares,
leis ordinárias, medidas provisórias, decretos legislativos, resoluções parlamentares, entre
outras normas.
16.2 A DOUTRINA
A doutrina, composta pelas teorias elaboradas por estudiosos do Direito, é uma fonte
secundária. Ela influencia tanto a produção legislativa quanto as decisões administrativas e
judiciais. Embora não tenha força normativa, a doutrina desempenha um papel essencial na
interpretação e aplicação das normas.
16.3 A JURISPRUDÊNCIA
A jurisprudência, que consiste no conjunto de decisões reiteradas sobre uma mesma questão
jurídica, também é uma fonte secundária do Direito Administrativo. Diferente da doutrina, a
jurisprudência possui um caráter mais prático e adaptativo.
No Brasil, em regra, as decisões judiciais não têm efeito vinculante, ou seja, não obrigam a
aplicação em casos futuros. Contudo, decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) em controle concentrado de constitucionalidade, como em Ações Diretas de
Inconstitucionalidade (ADIs), possuem efeito vinculante e abrangem toda a Administração
Pública e o Judiciário. Além disso, a Emenda Constitucional nº 45/2004 introduziu as súmulas
vinculantes, que, após reiteradas decisões do STF sobre um tema constitucional, tornam-se
obrigatórias para todos os órgãos do Judiciário e da Administração Pública.
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16.5 A PRAXE ADMINISTRATIVA
A praxe administrativa, que se refere às práticas reiteradas adotadas pelos agentes
públicos, pode ser considerada uma fonte secundária do Direito Administrativo. Essas
práticas geram expectativas nos administrados e devem seguir os princípios da boa-fé,
lealdade e moralidade administrativa. No entanto, diferentemente dos costumes, parte da
doutrina argumenta que a praxe não possui a mesma força normativa, pois não preenche os
dois requisitos fundamentais para ser classificada como fonte.
16.6. PRINCÍPIOS GERAIS E TRATADOS INTERNACIONAIS
Além das fontes mencionadas, há quem defenda os princípios gerais do Direito e os tratados e
convenções internacionais incorporados no ordenamento jurídico como fontes do Direito
Administrativo. Os princípios gerais, mesmo que não expressos em lei, orientam o sistema
jurídico como um todo, enquanto os tratados, após sua incorporação, também assumem
papel normativo, especialmente quando regulam matérias administrativas.
Por fim, embora fontes secundárias como praxe administrativa e jurisprudência não possuam
força normativa igual às leis, a Administração Pública deve garantir a transparência e a
publicidade de eventuais mudanças de conduta, assegurando segurança jurídica aos
administrados.
16.4 OS COSTUMES
Os costumes são práticas reiteradas e aceitas socialmente como normas obrigatórias.
Embora sejam fontes secundárias, eles têm relevância no Direito Administrativo,
especialmente para suprir lacunas da legislação. Contudo, só são considerados válidos se
estiverem em conformidade com a lei (secundum legem) ou quando se aplicam a assuntos
não regulados (praeter legem). Costumes que contrariam a legislação (contra legem) não
podem ser aceitos como fonte.
Para que um costume seja reconhecido como fonte, é necessário que ele cumpra dois
requisitos:
Uso reiterado: Prática constante de determinada conduta.1.
Convicção de obrigatoriedade: A crença generalizada de que aquela prática deve ser
seguida.
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17. NOVAS TENDÊNCIAS DO DIREITO ADMINISTRATIVO
De acordo com Maria Sylvia Z. Di Pietro, o Direito Administrativo tem passado por
transformações significativas, que incluem as seguintes tendências:
1) CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO
A constitucionalização ocorre de duas formas:
Ao trazer para o texto constitucional matérias antes tratadas em normas
infraconstitucionais.
Pela incorporação de princípios administrativos no âmbito constitucional, fenômeno
conhecido como "filtragem constitucional". Esse processo orienta todo o sistema jurídico,
promovendo uma releitura dos institutos administrativos sob a ótica dos princípios
constitucionais.
2) DEMOCRATIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A Administração Pública passou a prever diversos mecanismos para incentivar a participação
do cidadão na gestão e controle administrativo, como consultas e audiências públicas. Esses
instrumentos garantem maior transparência e engajamento social.
3) MUDANÇAS NO CONCEITO DE DISCRICIONARIEDADE ADMINISTRATIVA
O conceito de discricionariedade administrativa tem sido debatido entre duas visões:
Ampliação da discricionariedade: Visa substituir a administração burocrática por uma
gerencial, conferindo mais flexibilidade à atuação estatal.
Limitação da discricionariedade: Argumenta que a atuação administrativa deve sempre
estar fundamentada na lei e restrita pelos princípios do ordenamento jurídico.
Esse debate também se aplica à discricionariedade técnica. Alguns entendem que questões
técnicas não devem ser apreciadas judicialmente, enquanto outros defendem que soluções
técnicas podem ser revisadas judicialmente, com apoio de especialistas.
4) CRISE NO CONCEITO DE SERVIÇO PÚBLICO
Há uma tendência de transferir para a iniciativa privada serviços que antes eram exclusivos do
Estado, como telecomunicações e energia elétrica. Essa reconfiguração busca maior eficiência
e competitividade.
5) MOVIMENTO DE AGENCIFICAÇÃO
Foi marcada pela criação de autarquias de regime especial, conhecidas como agências
reguladoras, com o objetivode supervisionar e regular setores econômicos específicos.
6) APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE
O Estado deve atuar apenas quando os particulares não puderem atender às necessidades
sociais de forma eficiente. Essa ideia fundamenta políticas de privatização, fomento à iniciativa
privada e parcerias público-privadas.
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7) ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GERENCIAL
Esse modelo prioriza o controle baseado em resultados, ampliando a autonomia
administrativa, financeira e orçamentária dos órgãos públicos. Um exemplo é o contrato de
gestão previsto na Lei nº 9.649/1998.
8) BUSCA PELA CONSENSUALIDADE
A decisão estatal, em vez de ser unilateral, é construída por meio de consensos, negociações
e participação popular. Exemplos incluem:
Mediação e termos de ajustamento de conduta firmados pelo Ministério Público.
Contratualização no Direito Administrativo, que legitima as decisões estatais ao envolver
os destinatários na formação da vontade estatal.
9) CENTRALIDADE DA PESSOA HUMANA
A aplicação do princípio da supremacia do interesse público sobre o particular tem sido
mitigada pela necessidade de respeitar direitos fundamentais. Princípios como razoabilidade e
proporcionalidade, aliados à técnica da ponderação, são utilizados para equilibrar interesses
públicos e privados.
10) PRIVATIZAÇÃO OU "FUGA PARA O DIREITO PRIVADO"
Há um movimento crescente de utilização de instrumentos do Direito Privado no âmbito
administrativo. Isso inclui parcerias público-privadas, contratos de natureza privada e a criação
de entidades administrativas regidas por normas de direito privado.
Licensed to psicologia2014kelly@gmail.com - Kelly Verena Santos e Santosgerais para
licitações e contratos da Administração Pública. Essa lei foi criada com base na competência
legislativa prevista no artigo 22, inciso XXVII, da Constituição da República Federativa do
Brasil (CRFB/1988).
IMPORTANTE - No Brasil, a forma federativa do Estado está expressamente definida como
uma "cláusula pétrea" (art. 60, § 4º, I, da CRFB), o que significa que não pode ser abolida por
meio de Emenda Constitucional.
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1.3 FORMAS DE GOVERNO
O conceito de formas de governo se refere ao conjunto de instituições políticas pelas quais
um Estado organiza e exerce seu poder sobre a sociedade. O objetivo dessas instituições é
regular a disputa pelo poder político e seu exercício, além de regular a relação entre as
autoridades (aqueles que detêm o poder) e os administrados (os cidadãos).
As duas formas clássicas de governo são:
República: É caracterizada pela elegibilidade dos representantes do povo, pela
temporariedade dos mandatos dos governantes e pela responsabilidade dos governantes
em prestar contas sobre suas ações.
Monarquia: Nessa forma, a chefia de Estado é ocupada por um monarca, e a transmissão
do poder se dá de forma hereditária e vitalícia (ou até a abdicação). Tradicionalmente, não
há responsabilidade do monarca, ou seja, ele não é obrigado a prestar contas sobre sua
gestão.
IMPORTANTE - O Brasil, atualmente, adota a república como sua forma de governo.
1.4 SISTEMAS DE GOVERNO
O sistema de governo, outro aspecto crucial na organização do Estado, refere-se à forma
como o Poder Legislativo e o Poder Executivo interagem no exercício das funções
governamentais. A maneira como esse relacionamento é estabelecido, seja para garantir maior
independência ou colaboração entre esses poderes, origina dois sistemas distintos de
governo:
No presidencialismo, a chefia do Poder Executivo é exercida pelo Presidente, que
acumula as funções de Chefe de Estado e Chefe de Governo. O Presidente ocupa um
mandato fixo e não depende da confiança do parlamento para permanecer no cargo. Por
sua vez, os membros do Poder Legislativo também são eleitos para mandatos fixos, e o
órgão legislativo não está sujeito à dissolução.
No parlamentarismo, as atribuições do Poder Executivo são divididas em duas funções
distintas: a Chefias de Estado, que pode ser exercida por um Monarca ou um Presidente, e
a Chefias de Governo, normalmente ocupada pelo Primeiro-Ministro ou pelo Presidente
do Conselho de Ministros. O Primeiro-Ministro é, geralmente, indicado ou nomeado pelo
Chefe de Estado, mas sua investidura definitiva e sua permanência no cargo dependem da
confiança do Parlamento (Poder Legislativo). Caso o Parlamento retire essa confiança, o
governo cai, e um novo governo deve ser formado. Além disso, se o governo acreditar que
o Parlamento perdeu a confiança popular, pode decidir dissolver o Parlamento,
convocando eleições extraordinárias para formar um novo Parlamento que o sustente.
IMPORTANTE - O Brasil adota o sistema presidencialista de governo.
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2. PODERES DO ESTADO
O poder, embora derivado do povo, é um atributo do Estado, com caráter instrumental, ou
seja, ele é um meio para alcançar os fins do Estado. O Estado brasileiro, enquanto um Estado
Democrático de Direito, tem como objetivo principal atender ao interesse público.
O poder do Estado se manifesta por meio de seus órgãos, que exercem as três funções
estatais fundamentais:
Administrativa (ou executiva), 1.
Legislativa E 2.
Judicial.3.
Para que essas funções sejam desempenhadas adequadamente, elas são atribuídas a
diferentes órgãos do Estado, os quais são organizados em três blocos, chamados de Poderes.
Assim, os Poderes do Estado, conforme a clássica tripartição de Montesquieu, ainda vigente
nos Estados de Direito, são: Legislativo, Executivo e Judiciário. Esses Poderes são
independentes e harmônicos entre si, e suas funções são inegociáveis e não podem ser
delegadas (art. 2º da CRFB/1988).
Esses Poderes são inerentes e estruturais ao Estado, e não devem ser confundidos com os
poderes administrativos, que são de natureza instrumental e incidental à Administração
Pública.
Cada um dos Poderes exerce uma função estatal principal, que lhe foi atribuída:
O Poder Legislativo tem como função principal a elaboração de leis (função normativa).
O Poder Executivo tem como função principal a execução da lei, ou seja, transformar as
leis em atos concretos e individuais (função administrativa).
O Poder Judiciário tem como função principal a aplicação da lei, resolvendo os conflitos
entre as partes e fazendo cumprir as normas (função jurisdicional).
Embora cada Poder tenha uma função principal atribuída, isso não significa que as funções
sejam exclusivas de cada um deles. Todos os Poderes podem, por exemplo, praticar atos
administrativos, ainda que restritos à sua organização interna e ao seu funcionamento. Além
disso, em casos excepcionais e com base na Constituição, um Poder pode exercer funções
que, em princípio, são atribuídas a outro Poder.
Portanto, não existe uma separação absoluta de Poderes e funções. O que ocorre é uma
distribuição das funções estatais entre órgãos independentes, mas harmônicos e
coordenados em seu funcionamento. Afinal, o poder estatal é único e indivisível.
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A ideia de atribuir a diferentes órgãos a execução das funções estatais por meio de funções
típicas e atípicas tem dois objetivos principais:
Garantir os direitos individuais, evitando que o poder se torne absoluto, ao ser
equilibrado por outro poder que o controle.
1.
Garantir a eficiência por meio de uma divisão racional de atribuições e competências
entre órgãos especializados.
2.
Portanto, na clássica separação de Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), está
essencialmente a proteção aos direitos individuais, sendo aplicado o sistema de controle
recíproco entre os Poderes, conhecido como "freios e contrapesos" (checks and balances),
que visa prevenir abusos de poder ou até a formação de um regime ditatorial.
IMPORTANTE - O Estado é composto por Poderes, que são os segmentos estruturais em que
se divide o poder geral e abstrato decorrente de sua soberania. A tripartição dos Poderes foi
concebida por Montesquieu em sua obra clássica (De l’esprit des Lois, Paris, 1748), que
defendia a ideia de que deveria haver um equilíbrio entre os Poderes, para evitar a supremacia
de um sobre os outros.
INFORMAÇÃO ADICIONAL - Nem os Poderes nem os órgãos que os compõem possuem
personalidade jurídica. A personalidade jurídica pertence ao ente político (União, Estados,
Distrito Federal e Municípios), do qual os Poderes fazem parte.
Também é importante observar que todos os entes federativos possuem Poderes Executivo
e Legislativo. No entanto, o Poder Judiciário existe apenas nos âmbitos da União, Estados e
Distrito Federal, não existindo um Poder Judiciário municipal. 
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2.1 SEPARAÇÃO DE PODERES NO ESTADO BRASILEIRO 
No Brasil, a separação dos poderes, assim como a forma federativa de Estado, está protegida
por cláusula pétrea, o que a torna imune a emendas constitucionais que visem à sua abolição
(art. 60, § 4º, III, da Constituição Federal).
Como observado, as funções dos poderes estatais não são completamente isoladas. A teoria
dos freios e contrapesos prevê mecanismos de controle e limitações mútuas entre os
poderes. Nesse sentido, o Poder Legislativo cria leis que podem ser vetadas pelo Chefe do
Executivo ou declaradas inconstitucionais pelo Poder Judiciário. Da mesma forma, atos
praticados pelo Executivo estão sujeitos ao controle judicial e, em certos casos, também ao
Legislativo, como na suspensão de contratos ou na anulação de atos que excedamo poder
regulamentar (art. 71, § 1º, e art. 49, V, da Constituição). Além disso, destaca-se a
prerrogativa do Presidente da República de conceder graça ou indulto, extinguindo a
punibilidade de condenados pelo Judiciário.
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Além do sistema de freios e contrapesos, a separação dos poderes não é absoluta, já que
cada poder, além de suas funções típicas, desempenha algumas funções atípicas que, em
princípio, seriam próprias dos outros poderes.
No Brasil, as funções típicas de cada poder são claramente identificadas pela Constituição:
Poder Legislativo: Sua função principal é a legislativa, ou seja, a criação de normas que
regulam as relações sociais.
Poder Judiciário: Sua função predominante é jurisdicional, que consiste na aplicação das
normas para resolver conflitos, com a definitividade da coisa julgada.
Poder Executivo: Sua função essencial é administrativa, relacionada à gestão de bens,
serviços e interesses públicos de acordo com a lei.
Já as funções atípicas de cada poder incluem:
Poder Executivo: Atua de forma legislativa ao editar medidas provisórias e realiza
julgamentos administrativos para resolver conflitos, embora sem a definitividade da coisa
julgada.
Poder Legislativo: Julga o Presidente da República em casos de crimes de
responsabilidade, administra bens sob sua responsabilidade e organiza licitações e
concursos públicos em sua esfera de atuação.
Poder Judiciário: Exerce função legislativa ao editar regimentos internos e função
administrativa ao realizar concursos públicos ou licitações para contratação de bens e
serviços.
Portanto, embora a administração pública seja típica do Executivo, ela também ocorre de
maneira atípica nos âmbitos Legislativo e Judiciário, já que ambos precisam gerenciar os bens
e serviços que lhes são atribuídos. Assim, o regime jurídico administrativo, embora tenha
como espaço principal o Poder Executivo, se aplica também aos demais poderes quando
desempenham atividades administrativas.
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3. GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
3.1. CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO
O termo "administração" possui duas possíveis origens etimológicas. Alguns entendem que
deriva da combinação da preposição ad com o verbo ministro ou ministare, significando
"servir" ou "executar". Outros defendem que sua origem está na expressão ad manus, que
remete à ideia de direção ou gestão.
Independentemente da etimologia, ambas as explicações revelam um sentido comum: a
existência de uma relação de subordinação e hierarquia. Assim, administrar não se limita a
executar ou prestar serviços, mas também implica dirigir, governar e exercer a vontade com o
propósito de alcançar um objetivo útil. Em termos mais simples, administrar é planejar um
curso de ação e implementá-lo.
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Dessa forma, o conceito abrange tanto a função superior de planejar, comandar e dirigir
quanto a função subordinada de executar. Por isso, alguns estudiosos atribuem ao termo
"administração", no âmbito do direito público, um sentido amplo que inclui tanto a criação de
normas quanto a sua execução. Outros restringem o conceito à função administrativa
propriamente dita e à função de governo.
Tanto no direito público quanto no privado, os atos administrativos estão limitados à guarda,
conservação e aproveitamento dos bens geridos, excluindo atos de alienação. Esses atos
sempre seguem uma orientação externa, que impõe ao administrador uma finalidade a ser
perseguida.
A relação administrativa caracteriza-se por ser uma relação jurídica orientada por um objetivo
obrigatório. Diferenciando-se da propriedade, onde predomina a vontade do titular, na
administração, o dever e a finalidade assumem o papel principal.
É importante destacar que a administração diz respeito à gestão de algo que não pertence
ao administrador de forma absoluta. Tanto na administração privada quanto na pública, as
ações do administrador estão subordinadas a uma vontade externa — seja ela individual ou
coletiva — e vinculadas ao princípio da finalidade. Em outras palavras, todas as atividades
administrativas devem atender ao interesse que o administrador deve proteger.
No contexto da Administração Pública, essa vontade externa é estabelecida pela lei, que
define os objetivos que o administrador deve perseguir.
FUNÇÃO ADMINISTRATIVA
Na prática, a função administrativa é frequentemente entendida como de caráter residual, ou
seja, aquela que não corresponde nem à criação de normas gerais (função legislativa) nem à
resolução de conflitos concretos (função jurisdicional). De forma mais técnica, pode-se
definir a função administrativa como:
A atividade desempenhada pelo Estado ou por seus delegados, em conformidade com
as disposições constitucionais e legais, sob um regime de direito público, visando à
realização dos objetivos determinados pela ordem jurídica.
Enquanto a essência da função legislativa está na elaboração de normas inovadoras (ius
novum), e a função jurisdicional se concentra na resolução de controvérsias, a função
administrativa tem como foco a gestão dos interesses coletivos em suas mais diversas
formas. Essa atividade envolve a execução de inúmeros atos e ações direcionados ao
cumprimento de metas específicas, frequentemente valendo-se de processos administrativos
como ferramenta para alcançar seus objetivos.
3.2 GOVERNO X ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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Devido à ampla gama de responsabilidades atribuídas ao Estado, muitos autores destacam a
distinção entre governo e administração, bem como entre função política e função
administrativa. A função política é caracterizada pela ausência de subordinação jurídica direta,
enquanto a função administrativa está sempre subordinada a normas jurídicas superiores.
3.3. DIFERENÇAS ENTRE GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O Governo é exercido pelos Poderes Legislativo e Executivo, que, em conjunto, têm a
responsabilidade de formular políticas públicas e estabelecer diretrizes que orientam as ações
da Administração Pública. Por outro lado, o Poder Judiciário, embora não exerça funções
governamentais, possui a prerrogativa de controlá-las quando há violação dos limites impostos
pela Constituição.
O Governo possui uma natureza política, sendo encarregado de definir as políticas públicas.
Já a Administração Pública tem a tarefa de executar essas decisões. O Governo (função
política) é desempenhado por agentes que tomam decisões de forma relativamente
independente e discricionária, estabelecendo metas, objetivos e diretrizes em conformidade
com o texto constitucional. Essa função caracteriza-se por atividades de comando,
coordenação, planejamento e direção, dotadas de soberania, e subordinadas apenas à
Constituição. Em contraste, a Administração Pública atua de maneira técnica e neutra,
geralmente vinculada à lei ou a normas técnicas, e organiza suas ações de forma hierarquizada,
sendo uma atividade subordinada e executiva.
Por exemplo, a decisão de melhorar o sistema de saúde por meio da compra de novos
equipamentos, da ampliação de hospitais, da contratação de novos profissionais de saúde e
do aumento de suas remunerações é uma atividade governamental. Essa decisão decorre de
manifestações políticas discricionárias e independentes do Chefe do Executivo e do
Legislativo. Após a tomada da decisão, cabe à Administração Pública, de maneira neutra e em
rigorosa obediência à política estabelecida pelo Governo, realizar os processos licitatórios,
adquirir os equipamentos, organizar concursos públicos e nomear os aprovados.
Em resumo, o Governo tem um caráter político e pode ser visto como o “arquiteto do bem-
estar social”, enquanto a Administração Pública possui um caráter instrumental, funcionando
como umaferramenta a serviço do Governo para concretizar as políticas públicas por ele
formuladas.
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4. DIFERENÇAS ENTRE FUNÇÃO ADMINISTRATIVA E
FUNÇÃO POLÍTICA
4.1. ASPECTOS OBJETIVOS
Para compreendermos melhor a distinção entre Administração Pública (no sentido estrito) e
Governo, é necessário inicialmente entender a diferença entre as três funções do Estado e,
em seguida, estabelecer a diferença entre função política (ou de governo) e função
administrativa.
Embora o poder estatal seja uno — uma característica reconhecida pela doutrina como o
“bloco de poderes” —, ele é indelegável e indivisível. No entanto, divide-se em três funções
distintas:
Função Legislativa: Consiste na criação de normas gerais e abstratas, conhecidas como
leis.
1.
Função Jurisdicional: Aplica as leis ao caso concreto, resolvendo conflitos de interesses e
impondo a aplicação da lei, caso as partes não a cumpram voluntariamente.
2.
Função Executiva ou Administrativa: Realiza atos concretos voltados à satisfação das
necessidades coletivas e à execução dos objetivos do Estado.
3.
4.2 DIFERENÇAS SOB O ASPECTO JURÍDICO
Do ponto de vista jurídico, as três funções envolvem a criação de atos que alteram situações
jurídicas preexistentes, mas com diferenças importantes:
Legislação: Produz atos primários, baseados diretamente no poder soberano, regulando
relações de forma geral e permanecendo acima delas.
Jurisdição: Gera atos subsidiários, derivados dos atos legislativos, aplicando-os a casos
concretos enquanto mantém uma posição superior e imparcial em relação às partes.
Administração: Produz atos complementares, que concretizam as normas gerais da lei,
integrando-se às relações jurídicas como parte ativa. Aqui, o Estado exerce poder
unilateral, podendo influenciar interesses de terceiros, o que o distingue das relações
privadas.
4.3 DISTINÇÕES ADICIONAIS ENTRE JURISDIÇÃO E
ADMINISTRAÇÃO
A jurisdição é exercida mediante provocação das partes interessadas, sendo uma função
subsidiária, ativada somente quando as partes não cumprem a lei voluntariamente.
A administração atua de forma espontânea, implementando a vontade legal e garantindo a
realização dos fins do Estado.
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4.5 ATOS POLÍTICOS E CONTROLE JUDICIAL
Atos políticos, como a convocação extraordinária do Congresso Nacional, a declaração de
guerra ou paz, e a nomeação de ministros de Estado, em regra, não são passíveis de controle
judicial, desde que não afetem direitos subjetivos ou interesses coletivos. Contudo, quando
atos políticos violam direitos individuais ou interesses difusos, eles podem ser analisados
judicialmente, conforme garantido por instrumentos como a ação popular e a ação civil
pública.
EXEMPLOS DE ATOS POLÍTICOS
Entre os atos políticos mais notáveis estão:
Convocação extraordinária do Congresso Nacional.
Nomeação de Comissões Parlamentares de Inquérito.
Relações com Estados estrangeiros.
Declarações de guerra e de paz.
Permissão para o trânsito de forças estrangeiras pelo território nacional.
Declaração de estado de sítio e emergência.
Intervenção federal nos Estados.
Esses atos, que incluem a definição de metas, diretrizes ou planos governamentais,
pertencem à função política do Governo. Após estabelecidos, cabe à Administração Pública,
no exercício da função administrativa, implementar as decisões tomadas.
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4.4 A FUNÇÃO POLÍTICA OU DE GOVERNO
A função política, ou de governo, é uma atividade de ordem superior que dirige o Estado
como um todo, determinando os objetivos e as diretrizes para as demais funções. Ela busca
assegurar a unidade da soberania estatal e abrange atividades como a formulação de políticas
públicas, planejamento estratégico e direção geral.
Sob o ponto de vista material, não há uma separação rígida entre função política e função
administrativa, já que ambas envolvem a aplicação concreta da lei. No entanto, a função
política distingue-se por se referir diretamente à Constituição e à gestão da sociedade
como um todo, em vez de tratar de interesses individuais.
4.6 ASPECTOS SUBJETIVOS
Distribuição das Funções Estatais nos Três Poderes: Embora a Constituição Federal, em seu
artigo 2º, afirme que os Poderes da União (Legislativo, Executivo e Judiciário) são
independentes e harmônicos entre si, na prática, cada um deles exerce funções
predominantes e algumas funções secundárias, em um sistema de freios e contrapesos.
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Funções Predominantes de Cada Poder:1.
Legislativo: Legislar, ou seja, criar normas gerais e abstratas.
Executivo: Administrar, executando as políticas públicas definidas pelas leis.
Judiciário: Julgar, solucionando conflitos de interesse.
Funções Secundárias Exercidas pelos Poderes:2.
Funções Administrativas:
O Legislativo e o Judiciário exercem funções administrativas, como a gestão de
seus servidores e a organização interna (exemplo: aplicação de sanções
disciplinares).
Funções Legislativas pelo Executivo:
O Executivo participa da elaboração de leis, ao propor projetos, vetar proposições
legislativas ou adotar medidas provisórias (art. 62 da Constituição).
Funções Judicantes pelo Legislativo:
O Senado julga crimes de responsabilidade de altas autoridades, como o
Presidente da República e Ministros do Supremo Tribunal Federal (art. 52, incisos
I e II).
FUNÇÃO POLÍTICA - QUEM A EXERCE?
Historicamente, a função política englobava todas as atividades do Estado, incluindo a
jurisdição e a legislação. Nos primórdios, o direito era criado por costumes, e os governantes
limitavam-se a arbitrar conflitos aplicando essas normas preexistentes. Legisladores surgiram
apenas posteriormente, muitas vezes codificando leis tradicionais ou apresentando-as como
mandamentos divinos (EXEMPLO - Licurgo, Sólon, Hammurabi, Moisés).
Com o tempo, as funções do Estado se diferenciaram:
A justiça separou-se primeiro, formando a função jurisdicional.
A legislação veio em seguida, criando normas gerais e abstratas.
A administração, em seu sentido moderno, permaneceu fundida à função governamental
por longos períodos, carecendo de identidade própria.
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4.7 O GOVERNO NO DIREITO BRASILEIRO
No Brasil, onde prevalece o regime presidencialista, há uma concentração de atribuições
políticas no Poder Executivo. Essa tendência de associar governo ao Executivo se justifica pela
sua posição central na formulação de políticas públicas e no planejamento das ações
governamentais.
No entanto, a função política não é exclusiva do Executivo:
O Legislativo participa de decisões políticas ao aprovar ou rejeitar medidas propostas pelo
Executivo, especialmente em áreas de grande impacto, como orçamento, políticas
tributárias e regulamentação econômica.
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O Judiciário, por sua vez, possui uma atuação limitada na função política, restringindo-se,
em geral, ao controle da constitucionalidade dos atos do Governo e ao papel de árbitro
em disputas que envolvam direitos fundamentais ou interesses coletivos.
4.8 PAPEL COMPARATIVO DOS PODERES
PODER EXECUTIVO1.
Principal responsável pelas decisões políticas, traçando diretrizes e elaborando planos
de governo.
Possui autonomia para propor e implementar políticas públicas, embora muitas delas
dependam de aprovação legislativa.
PODER LEGISLATIVO2.
Amplia sua influência sobre as decisões políticas ao exercer papel fiscalizador e
deliberativo.
Participa da formulação de políticas públicas em parceria com o Executivo.
PODER JUDICIÁRIO3.
No Brasil, sua influência política é limitada, focando na análise da legalidade e
constitucionalidade das ações governamentais.Diferente dos Estados Unidos, onde o Judiciário desempenha papel relevante em
decisões políticas, no Brasil sua atuação concentra-se na jurisdição.
IMPORTANTE - Assim, no contexto brasileiro, as funções políticas distribuem-se entre o
Executivo e o Legislativo, com predominância do primeiro. Embora o Judiciário exerça papel
de controle, sua influência direta nas decisões políticas é reduzida, destacando-se como
árbitro em questões legais e constitucionais.
5. QUAIS SÃO OS SENTIDOS DE ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA?
A expressão "administração pública" possui múltiplos significados na doutrina
administrativista, devido à diversidade de atividades e tarefas que compõem os objetivos do
Estado, bem como à ampla quantidade de órgãos e agentes públicos responsáveis por sua
execução.
Para entender melhor essa expressão, é necessário analisá-la sob dois enfoques principais: 
Executores da atividade pública, de um lado, E1.
Natureza da atividade realizada, de outro.2.
Dessa forma, a administração pública pode ser interpretada sob três perspectivas distintas: 
Sentido subjetivo, 1.
Sentido objetivo E2.
Sentido amplo ou estrito.3.
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É importante ressaltar que as duas primeiras acepções, subjetiva e objetiva, estão
relacionadas à administração pública em sentido estrito, que constitui o foco do Direito
Administrativo. Já o governo e a função política, que integram a administração pública em
sentido amplo, são temas mais apropriados ao estudo do Direito Constitucional.
5.1 SENTIDO SUBJETIVO, FORMAL OU ORGÂNICO
No sentido subjetivo (também chamado de formal ou orgânico), a expressão "Administração
Pública" refere-se aos entes responsáveis pelo desempenho das funções administrativas,
incluindo as pessoas jurídicas, os órgãos e os agentes encarregados dessas atividades. Em
resumo, nesse contexto, a Administração Pública é identificada com os próprios sujeitos que
compõem a estrutura administrativa do Estado.
Sob o ponto de vista constitucional e legal, a Administração Pública em sentido subjetivo
engloba os entes políticos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) e as entidades
criadas por esses entes para integrar a Administração Indireta, como autarquias, fundações
públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista e consórcios públicos.
No caso dos entes políticos, temos a chamada Administração Direta, que realiza as atividades
administrativas de maneira centralizada. Já no âmbito das entidades, forma-se a
Administração Indireta, que desempenha as funções administrativas de maneira
descentralizada.
É comum ouvir que a Administração Pública é composta por entes, órgãos e entidades
administrativas. No entanto, essa descrição é redundante, já que todos os órgãos pertencem
a algum ente ou entidade. Assim, basta afirmar que, no Brasil, a Administração Pública consiste
nos entes políticos e nas entidades administrativas que integram a Administração Indireta.
De maneira similar, é redundante afirmar que a Administração Pública em sentido subjetivo,
formal ou orgânico, abrange Poderes e órgãos públicos, pois os "Poderes" nada mais são do
que conjuntos de órgãos. Da mesma forma, incluir órgãos e agentes públicos no mesmo
conceito também é redundante, já que os agentes públicos são os componentes humanos
dos órgãos públicos e estão diretamente ligados a eles. Embora os conceitos de órgãos e
agentes sejam distintos, ambos pertencem ao mesmo contexto.
É importante destacar que a Administração Pública, sob o enfoque subjetivo, não deve ser
confundida com nenhum dos Poderes estruturais do Estado, especialmente o Poder
Executivo, ao qual se atribui tradicionalmente a função administrativa. Para compreender sua
abrangência, é necessário observar a própria função administrativa, independentemente do
Poder em que ela é exercida.
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Embora o Poder Executivo seja o principal responsável por atividades administrativas, os
Poderes Legislativo e Judiciário também realizam funções administrativas, como a organização
interna de seus serviços e servidores.
NOTA - Integram a Administração Pública em sentido subjetivo todos os órgãos e agentes
que, em qualquer dos Poderes do Estado, estejam desempenhando funções administrativas.
5.2. SENTIDO OBJETIVO, MATERIAL OU FUNCIONAL
No sentido objetivo (também conhecido como material ou funcional), a administração pública
refere-se à atividade administrativa realizada pelo Estado por meio de seus órgãos e agentes.
Nesse caso, a expressão "administração pública", escrita com letras minúsculas, caracteriza-
se pela própria função de administrar, ou seja, pelo desempenho concreto das atividades
voltadas ao interesse público.
Nesse contexto, ao tratar da administração pública em seu sentido objetivo, não se está
mencionando os órgãos ou entidades em si, mas sim o exercício da função administrativa, que
visa atender, direta ou indiretamente, ao bem comum e opera sob um regime jurídico
predominantemente de direito público.
As principais características da administração pública em sentido objetivo são:
Atividade concreta - Trata-se da materialização das previsões abstratas e gerais da lei em
situações práticas e palpáveis no mundo real.
1.
Finalidade pública - É orientada para o interesse público, seja diretamente (nas atividades-
fim), seja indiretamente (nas atividades-meio), sendo toda ação estatal legitimada pelo
bem comum.
2.
Regime jurídico predominantemente de direito público - Ainda que algumas situações
específicas sejam reguladas por normas de direito privado, estas são parcialmente
modificadas por princípios e regras de direito público.
3.
5.3 APLICAÇÃO DO DIREITO PRIVADO NA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA
Em situações em que o regime jurídico de direito privado é aplicado à administração pública, a
relação jurídica entre a administração e o particular ocorre de forma horizontal, ou seja, ambas
as partes estão em igualdade, sem qualquer prerrogativa de supremacia por parte da
administração.
Entretanto, mesmo sob um regime de direito privado, a administração pública continua
submetida a restrições típicas do direito público, devido ao princípio da indisponibilidade do
interesse público. Esse princípio estabelece que o interesse público deve sempre ser
protegido, o que implica limitações mesmo quando a administração adota normas de direito
privado.
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Por exemplo, ao atuar no domínio econômico em concorrência com o setor privado, a
administração pública não possui prerrogativas. No entanto, se essa atuação ocorrer por meio
de entidades da administração indireta, como empresas públicas ou sociedades de economia
mista, as contratações promovidas por essas entidades ainda precisam observar requisitos
específicos, como a realização de concurso público.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
Indisponibilidade do interesse público: Esse princípio é uma constante e está presente
tanto no regime de direito público quanto no de direito privado.
Supremacia do interesse público: Esse princípio, por sua vez, é exclusivo do regime de
direito público, sendo aplicado por meio das prerrogativas da administração pública, o que
caracteriza o chamado regime jurídico administrativo.
RESUMO
Enquanto no sentido subjetivo a administração pública se relaciona com quem exerce a função
administrativa (os órgãos e agentes), no sentido objetivo o foco está no que é exercido, ou
seja, na própria atividade administrativa. Assim, a administração pública, em seu aspecto
objetivo, material ou funcional, depende de uma definição precisa das atividades que podem
ser consideradas como exercício da função administrativa.
6. ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS QUE COMPÕEM O
SENTIDO OBJETIVO, MATERIAL OU FUNCIONAL 
Asatividades-meio da administração pública, ou seja, aquelas que são instrumentais e
auxiliares, destinadas exclusivamente a viabilizar o desempenho das atividades-fim, devem ser
reconhecidas como parte integrante da "atividade administrativa". Da mesma forma, as
atividades-fim — voltadas diretamente ao atendimento do interesse coletivo — também se
enquadram nesse conceito.
Assim, ao identificar as atividades-fim da administração pública, que são aquelas voltadas de
maneira imediata para a realização do bem comum, e ao incluir as atividades-meio que lhes
dão suporte, conclui-se que ambas compõem o exercício da administração pública.
No sentido objetivo, a administração pública refere-se à própria gestão dos interesses
públicos realizada pelo Estado. Essa gestão pode se manifestar de diversas formas:
Prestação de serviços públicos: Oferta de serviços essenciais à sociedade.
Organização interna: Estruturação dos próprios órgãos e agentes públicos.
Intervenção no setor privado: Exercício de atividades regulatórias ou até mesmo
restritivas, como no caso do poder de polícia.
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Independentemente do tipo de administração da coisa pública (res publica), é inegável que o
destinatário final dessa gestão deve ser a sociedade. Ainda que, em certas situações, a
atividade administrativa possa beneficiar diretamente o próprio Estado, a sua finalidade última
deve sempre estar voltada aos indivíduos. Afinal, a função pública só se justifica quando
destinada à proteção, segurança e bem-estar da população.
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6.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICO EXTERNA OU EXTROVERSA X
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICO INTERNA OU INTROVERSA
No contexto em análise, o professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto destaca que as
funções identificadas como atividades-fim da administração, por atenderem diretamente aos
interesses públicos primários e beneficiarem diretamente os administrados, caracterizam a
administração pública de natureza externa ou extroversa.
Por outro lado, as funções definidas como atividades-meio, por atenderem aos interesses
públicos de forma indireta e, de modo imediato, atenderem aos interesses institucionais da
Administração relacionados a seu pessoal, bens e serviços, configuram a administração
pública de caráter interno ou introverso.
6.2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO AMPLO
De forma abrangente, a Administração Pública, analisada sob o aspecto subjetivo, abrange
tanto os órgãos constitucionais de governo, encarregados de elaborar políticas públicas e de
dirigir e comandar a administração, quanto os órgãos administrativos subordinados,
responsáveis pela execução dos planos governamentais.
Por outro lado, sob o aspecto objetivo, o termo Administração Pública, em sentido amplo,
inclui tanto a atividade de elaboração das políticas públicas (função de governo) quanto a
execução dessas políticas (função administrativa).
6.3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO ESTRITO
De maneira restrita, sob o ponto de vista subjetivo, a Administração Pública contempla apenas
os órgãos administrativos subordinados.
Por sua vez, em sentido estrito e sob o aspecto objetivo, o termo Administração Pública diz
respeito exclusivamente às atividades de execução dos planos governamentais, ou seja, à
atividade administrativa.
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7. DIREITO PÚBLICO X DIREITO PRIVADO
O Direito pode ser conceituado como o conjunto de normas e princípios impostos de forma
coativa pelo Estado, com a finalidade de organizar e disciplinar as relações sociais.
Tradicionalmente, divide-se em dois grandes ramos:
Direito Público E1.
Direito Privado.2.
É importante destacar que a antiga classificação romana está superada, pois nenhum ramo
jurídico é completamente exclusivo de um dos campos. Isso significa que todas as disciplinas
jurídicas possuem, de alguma forma, normas de ambos os domínios. O que diferencia os
ramos do Direito é a natureza das relações jurídicas que cada um regula.
Nesse sentido, o Direito Privado disciplina as relações jurídicas em que predomina o interesse
dos particulares, enquanto o Direito Público regula aquelas onde o interesse público é o
principal.
No caso do Direito Administrativo, ele é classificado como ramo do Direito Público, pois regula
relações jurídicas em que o interesse público prevalece, como ocorre na desapropriação ou no
exercício do poder de polícia. Além disso, os princípios que orientam o Direito Público, como a
supremacia e a indisponibilidade do interesse público, bem como o princípio da legalidade,
fazem parte do chamado Regime Jurídico Administrativo. Este corresponde ao conjunto de
regras e princípios que guiam a Administração Pública no desempenho de sua função
administrativa.
Por outro lado, o Direito Privado, caracterizado pela predominância de interesses particulares,
tem como princípios fundamentais:
a) Igualdade entre as partes;
b) Disponibilidade de interesses, salvo aqueles legalmente considerados indisponíveis, já que
mesmo na prevalência de interesses privados há normas cogentes relacionadas à ordem
pública; e
c) Liberdade contratual, que expressa a autonomia da vontade das partes.
Em contrapartida, o Direito Público, em razão da supremacia dos interesses coletivos, é
pautado pelos seguintes princípios:
a) Supremacia do interesse público sobre o interesse privado;
b) Indisponibilidade do interesse público; e
c) Legalidade.
Assim, no Direito Privado, a relação entre as partes é horizontalizada, com ênfase na
igualdade jurídica entre elas. Já no Direito Público, as relações são verticalizadas, com o
Estado detendo prerrogativas que o colocam em posição superior em relação aos particulares,
em função da proteção dos interesses coletivos.
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O Direito Privado é orientado pela disponibilidade dos interesses, especialmente os de
natureza patrimonial. Nesse contexto, o particular tem liberdade para administrar seu
patrimônio como desejar, podendo inclusive adotar medidas que resultem em sua diminuição,
como ocorre ao perdoar uma dívida.
Por outro lado, o Direito Público é regido pela indisponibilidade dos interesses públicos.
Como o patrimônio estatal não pertence à autoridade administrativa, esta não pode dispor
dele livremente. Assim, sem autorização expressa da lei, o gestor público está impedido de
realizar ações que prejudiquem o patrimônio público, como, por exemplo, perdoar um tributo.
Entre os particulares, prevalece o princípio de que é permitido fazer tudo o que a lei não
proíbe, e as pessoas podem estabelecer compromissos livremente por meio de contratos, o
que reflete o princípio da autonomia da vontade.
No entanto, quando se trata da atuação administrativa, aplica-se o princípio da legalidade,
que exige que a autoridade pública aja apenas conforme as permissões expressas em lei,
sendo vedadas ações que não estejam previamente autorizadas.
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8. DIREITO ADMINISTRATIVO E OS RAMOS DO DIREITO
O estudo do Direito não admite mais uma abordagem isolada e estática de seus ramos. Na
essência, o Direito é único; o que varia é a natureza das relações jurídicas que ele regula.
Assim, ainda que de forma breve, é possível apontar algumas áreas em que o Direito
Administrativo se conecta e interage com outras disciplinas jurídicas, destacando sua
interdisciplinaridade e complementaridade no tratamento das questões jurídicas.
8.1 DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO CONSTITUCIONAL
O Direito Administrativo mantém uma relação de estreita proximidade com o Direito
Constitucional, e isso se justifica, pois é o Direito Constitucional que estabelece as bases e os
limites para o funcionamento do Direito Administrativo.
De fato, o Direito Constitucional pode ser visto como o lado dinâmico do Direito
Administrativo, fornecendoo quadro normativo fundamental. Na Constituição, encontram-se
os princípios da Administração Pública (art. 37), as disposições sobre servidores públicos
(artigos 39 a 41) e as competências do Poder Executivo (artigos 84 e 85). A Constituição
também aborda temas como a desapropriação (artigos 5º, XXIV, 182, § 4º, III, 184 e 243), as
concessões e permissões de serviços públicos (art. 175), os contratos administrativos e
licitações (artigos 37, XXI, e 22, XXVII), e a responsabilidade extracontratual do Estado (art.
37, §6º), entre outros aspectos relevantes.
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8.2 DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO PROCESSUAL
O Direito Administrativo se conecta com o Direito Processual devido à presença do
processo em ambos os ramos. Embora cada disciplina possua princípios próprios, há pontos
de intersecção entre os processos administrativos e judiciais.
Um exemplo claro dessa interação é o direito ao contraditório e à ampla defesa, que se aplica
tanto nos processos administrativos quanto nos judiciais, conforme disposto no artigo 5º,
inciso LV, da Constituição Federal.
Além disso, nos processos administrativos de natureza acusatória, alguns princípios e normas
do processo penal são aplicáveis. Já o Direito Processual Civil conta com normas específicas
que reconhecem o Estado como parte na relação processual, conferindo-lhe prerrogativas
distintas em virtude dessa condição.
8.3 DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO PENAL 
A relação entre o Direito Administrativo e o Direito Penal se dá por diversos vínculos, sendo
um deles a previsão de crimes contra a Administração Pública no Código Penal, mais
especificamente nos artigos 312 a 326. Além disso, a definição dos sujeitos passivos desses
crimes está no artigo 327, caput e §1º, do Código Penal.
Outra interseção ocorre nas chamadas normas penais em branco, que são normas cuja
aplicação depende do preenchimento de detalhes ou complementos por normas
administrativas. Essas normas penais em branco ilustram a interação entre as esferas penal e
administrativa, pois sua eficácia depende da regulamentação ou detalhamento administrativo.
8.4. DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO TRIBUTÁRIO 
O Direito Administrativo também se conecta com o Direito Tributário em várias questões.
Uma dessas conexões é a atribuição ao Poder Público do exercício do poder de polícia, uma
atividade tipicamente administrativa que é remunerada por meio de taxas, conforme o artigo
145, inciso II, da Constituição Federal e os artigos 77 e 78 do Código Tributário Nacional.
Além disso, as normas relacionadas à arrecadação tributária fazem parte do Direito
Administrativo, pois envolvem a organização e a execução das funções administrativas do
Estado para garantir a efetividade da cobrança dos tributos.
8.5 DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO DO TRABALHO
O Direito do Trabalho também apresenta pontos de interseção com o Direito
Administrativo. Um exemplo disso é que as normas que regulam a função fiscalizadora das
relações de trabalho estão inseridas no âmbito do Direito Administrativo.
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Além disso, ao Estado-Administração é permitido recrutar servidores sob o regime
trabalhista, aplicando-se predominantemente as normas da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT) a essa relação jurídica. Assim, as normas trabalhistas influenciam a atuação
administrativa, especialmente no que se refere à contratação e fiscalização do trabalho no
setor público.
8.6 DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO ELEITORAL
O Direito Administrativo também se relaciona com o Direito Eleitoral em diversos aspectos,
especialmente na organização da votação e na apuração dos pleitos eleitorais. Além disso, o
Direito Administrativo se conecta ao funcionamento dos partidos políticos, ao ordenamento e
à fiscalização da propaganda partidária, e a outras questões de caráter claramente
administrativo, ainda que sob a competência da Justiça Eleitoral. Esses pontos de contato
demonstram a interação entre as normas administrativas e eleitorais na gestão e
regulamentação do processo eleitoral.
8.7 DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITOS CIVIL E EMPRESARIAL 
Há também relações entre o Direito Administrativo e os Direitos Civil e Empresarial. Vale
destacar que a teoria civilista dos atos e negócios jurídicos, assim como a teoria geral dos
contratos, aplica-se de forma supletiva aos atos e contratos administrativos, conforme o
artigo 54 da Lei nº 8.666/1993.
Ademais, o Estado tem a prerrogativa de criar empresas públicas e sociedades de economia
mista para a exploração de atividades econômicas, conforme estabelecido no artigo 173, §1º,
da Constituição Federal. Essas entidades, embora sujeitas ao regime jurídico empresarial,
operam em conformidade com as normas e princípios administrativos para atender ao
interesse público.
9. DIREITO ADMINISTRATIVO NO BRASIL
No Brasil, o Direito Administrativo não está codificado, ou seja, não há um código único que
concentre e sistematize as principais normas relacionadas a essa área, como ocorre no caso
do Direito Civil, Penal ou Tributário.
Dessa forma, o estudo do Direito Administrativo se baseia em uma extensa legislação
dispersa, criada por todos os entes políticos. Por exemplo, cada ente federativo possui sua
própria legislação para regulamentar o regime jurídico de seus servidores, além de poder
editar normas específicas sobre seus processos administrativos.
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Além dessas leis locais, elaboradas no exercício das competências legislativas de cada ente da
federação, existem também leis nacionais editadas pela União. Essas normas, ao serem
criadas no âmbito da competência legislativa federal para matérias específicas, vinculam
todos os entes federados. Exemplos incluem a Lei de Licitações e Contratos (Lei nº
8.666/1993) e as disposições sobre desapropriação.
No Brasil, o Direito Administrativo é um ramo autônomo e não codificado do Direito,
estruturado com base em princípios próprios e característicos.
A questão da codificação do Direito Administrativo divide os estudiosos em três correntes:
Aqueles que rejeitam a ideia de codificação, considerando-a desvantajosa;1.
Os que defendem uma codificação parcial, limitada a aspectos específicos; e2.
Os que advogam pela codificação completa e sistemática.3.
O saudoso professor Hely Lopes Meireles sempre foi um defensor da unificação dos textos
administrativos em um único corpo legislativo, à semelhança dos outros ramos do Direito que
já possuem códigos próprios. Em sua visão, a fragmentação legislativa dificulta o acesso e a
compreensão das normas pelos interessados, além de impedir uma visão ampla e integrada
do sistema jurídico. A codificação, para ele, resolveria esses problemas ao reunir, organizar e
coordenar os textos legais relacionados, promovendo maior clareza e coesão normativa.
10. COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO
ADMINISTRATIVO
Em resumo, todos os entes federativos (União, Estados, Municípios e Distrito Federal)
possuem autonomia para criar suas próprias leis e organizar sua estrutura política,
administrativa e financeira. Assim, podem legislar sobre o Direito Administrativo de forma
independente, e as normas que editarem terão validade e aplicação restritas ao ente que as
promulgou. Por exemplo, caso o Estado do Rio de Janeiro aprove uma lei regulando seus
órgãos e bens públicos, essa norma será válida e vinculante apenas para a Administração
Pública desse estado, desde que respeite os princípios e disposições constitucionais.
Entretanto, é necessário atenção, pois existem matérias em que a Constituição Federal, ao
distribuir as competências legislativas, determinou que sejam regulamentadas por leis
nacionais. Essas leis, editadas peloCongresso Nacional, possuem caráter obrigatório para
todos os entes federados, e não apenas para a União. Um exemplo é a Lei nº 8.666/1993, que
define normas gerais sobre licitações e contratos administrativos, fundamentada no art. 22,
inciso XXVII, da Constituição Federal de 1988.
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11.1 CRITÉRIO LEGALISTA 
Os defensores dessa corrente atribuíam ao Direito Administrativo um conceito restritivo,
definindo-o como o ramo do Direito que se ocupa do estudo das normas administrativas (leis,
decretos, regulamentos) de um país específico.
Essa definição apresenta limitações, pois não esclarece de forma precisa o que se entende
por normas administrativas. Além disso, reduz o Direito Administrativo a um simples conjunto
de leis, negligenciando o papel essencial desempenhado pelos princípios jurídicos na
estruturação e aplicação dessa disciplina.
11. CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Como vimos anteriormente, o Direito Administrativo é classificado como um ramo do
Direito Público, pois tem como finalidade regular as relações jurídicas em que predomina o
interesse público, disciplinando a atuação do Estado no desempenho de sua função
administrativa.
Para entender a origem do Direito Administrativo, foi necessário analisar diversos momentos
históricos de forma interligada. Da mesma forma, a definição de seu conceito também exige
uma abordagem semelhante.
O conceito de Direito Administrativo depende do critério adotado para defini-lo. Alguns
critérios dão destaque à atividade administrativa em si, enquanto outros focam nos objetivos
que o Estado busca alcançar. Esses critérios podem ser classificados como unitários (ou
simples), quando consideram apenas uma dimensão, ou pluridimensionais (ou compostos),
quando integram múltiplos aspectos. É importante lembrar que nenhum critério, por si só, é
suficiente para definir o Direito Administrativo. É preciso combiná-los para se aproximar de
uma compreensão mais ampla da função administrativa.
Entre os critérios unitários frequentemente utilizados, destacam-se os que serão
apresentados a seguir.
11.2 CRITÉRIO DO PODER EXECUTIVO
Define-se o Direito Administrativo como o ramo jurídico que regula as atividades do Poder
Executivo.
No entanto, essa definição mostra-se limitada, uma vez que a função administrativa não é
exclusiva do Poder Executivo. Os Poderes Legislativo e Judiciário também desempenham, de
forma atípica, funções administrativas.
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Além disso, é importante destacar que o Poder Executivo não se limita às funções
administrativas, pois também exerce funções de governo, que não são objeto de estudo do
Direito Administrativo.
11.3 CRITÉRIO DA DISTINÇÃO ENTRE ATIVIDADES DE AUTORIDADE E
ATIVIDADES DE GESTÃO
Esse critério faz uma diferenciação entre atividades de autoridade (atos de império) e
atividades de gestão. Nas atividades de autoridade, o Estado atua como uma entidade
superior em relação aos particulares, exercendo prerrogativas próprias e aplicando o direito
público. Já nas atividades de gestão, o Estado age em condições de igualdade com os
particulares, sendo regido pelo direito privado.
Com base nesse entendimento, apenas as atividades de autoridade (atos de império) seriam
regulamentadas pelo Direito Administrativo. Contudo, essa visão recebe críticas, pois exclui
do escopo do Direito Administrativo diversos atos que não envolvem prerrogativas públicas,
como os atos negociais, que resultam de um acordo de vontades entre as partes. Esses atos,
mesmo sem prerrogativas públicas, estão sujeitos a normas de direito público sempre que
envolvem a Administração.
Além disso, a abordagem defendida pela escola da potestade, que considera a ação
administrativa como fruto de um poder conferido à pessoa jurídica, também é alvo de
questionamentos. Essa crítica surge porque a potestade, em essência, não pertence à pessoa
jurídica, mas ao conjunto dos cidadãos, ou seja, à sociedade organizada sob um governo
escolhido ou aceito por ela.
11.4 CRITÉRIO DO SERVIÇO PÚBLICO
Essa corrente define o Direito Administrativo como o ramo jurídico que regula as regras de
organização e gestão dos serviços públicos.
Trata-se de uma abordagem de origem francesa, inspirada na jurisprudência do Conselho de
Estado Francês, especialmente após o caso Blanco. Esse caso estabeleceu a competência dos
Tribunais Administrativos com base na execução de serviços públicos. Assim, a escola do
serviço público surgiu como contraponto à escola da puissance publique, enfatizando os fins
do Direito Administrativo, ou seja, a presença ou ausência de serviço público, em vez de focar
no regime jurídico aplicado à Administração (se público ou privado).
A escola francesa evoluiu em torno de duas concepções principais:
A primeira, defendida por Duguit e Bonnard, via o serviço público de forma ampla,
abrangendo todas as funções estatais, inclusive a judiciária, sem distinção quanto ao
regime jurídico aplicável.
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A segunda, representada por Jèze, adotava uma visão mais restrita, considerando
serviço público apenas as atividades materiais exercidas pelo Estado para atender às
necessidades coletivas, desde que submetidas a um regime jurídico especial, distinto do
direito comum.
Independentemente do sentido atribuído à expressão "serviço público", ela não é suficiente
para delimitar o objeto ou o conceito do Direito Administrativo. Em seu sentido amplo, excede
os limites da disciplina; no sentido estrito, exclui temas que também são parte integrante do
Direito Administrativo, como os serviços públicos parcialmente regidos por normas de direito
privado.
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11.5 CRITÉRIO DAS RELAÇÕES JURÍDICAS
Essa abordagem definia o Direito Administrativo como o conjunto de normas que regulam as
relações jurídicas entre a Administração Pública e os administrados.
No entanto, esse critério é considerado insuficiente, pois outras áreas do Direito, como o
Direito Constitucional e o Direito Tributário, também têm como foco as relações entre a
Administração e os particulares.
Além disso, essa definição exclui importantes aspectos do Direito Administrativo, como as
normas relacionadas à organização interna da Administração Pública, à execução das
atividades administrativas e à regulamentação jurídica dos bens públicos.
11.6 CRITÉRIO TELEOLÓGICO/ FINALÍSTICO 
Nesse entendimento, o Direito Administrativo seria definido como o conjunto integrado de
princípios jurídicos que regula a atuação concreta do Estado na busca de seus objetivos.
Contudo, esse critério apresenta limitações, pois não delimita claramente quais atividades
competem ao Estado. Não fica especificado se ele abrange apenas a função administrativa, o
que pode levar à interpretação equivocada de que o Direito Administrativo incluiria, por
exemplo, a função legislativa, o que não seria apropriado.
11.7 CRITÉRIO NEGATIVO/RESIDUAL
Sob essa perspectiva, o Direito Administrativo é definido por exclusão. Assim, eliminando-se a
atividade legislativa, a jurisdicional e as atividades patrimoniais regidas pelo direito privado,
resta como objeto do Direito Administrativo o conjunto de normas que regulamentam as
atividades voltadas à realização dos fins públicos.
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No entanto, esse critério enfrenta as mesmas críticas dirigidas ao critério teleológico, pois
vincula a definição do conceito à questão ideológica dos fins públicos. Além disso, o critério
negativista ou residual restringe-se às atividades realizadas pelo Estado, deixando de abarcar
outros aspectos igualmente regulados pelo Direito Administrativo,como a estruturação da
Administração Pública e suas relações com os administrados.
Esse entendimento define o Direito Administrativo como o conjunto de princípios e normas
que regulam integralmente a Administração Pública, abrangendo as atividades administrativas
que ela desempenha, os órgãos e as pessoas jurídicas que a compõem, além de sua estrutura
e das relações que estabelece com os particulares.
Embora seja amplamente aceito na doutrina contemporânea brasileira, esse critério, se
considerado isoladamente, revela-se insuficiente, pois desconsidera que também há normas
de direito privado aplicáveis à Administração Pública.
Nesse contexto, Hely Lopes Meireles conceitua o Direito Administrativo como o "conjunto
harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas
voltadas a realizar, de forma concreta, direta e imediata, os fins almejados pelo Estado".
11.8 CRITÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Embora algumas das correntes mencionadas não abordem diretamente o conceito de Direito
Administrativo, é relevante analisá-las brevemente, pois representam critérios ou
nomenclaturas que já foram ou podem vir a ser objeto de provas.
ESCOLAS E SEUS CRITÉRIOS
A) ESCOLA ITALIANA
Defendia uma visão restritiva, considerando o Direito Administrativo como o estudo dos
atos do Poder Executivo.
Principais representantes: Lorenzo Meucci, Oreste Ranelletti e Guido Zanobini.
B) ESCOLA DO INTERESSE PÚBLICO
Centralizava o conceito de Direito Administrativo na ideia de bem comum ou interesse
público, entendido como a finalidade essencial do Estado.
C) ESCOLA DO BEM PÚBLICO
Proposta por André Buttgenbach, destacava o bem público como a noção-chave para
definir o Direito Administrativo.
D) ESCOLA DOS INTERESSES COLETIVOS
Argumentava que a proteção dos interesses coletivos era o alicerce para conceituar o
Direito Administrativo.
E) ESCOLA FUNCIONAL
Associava o Direito Administrativo ao estudo da função administrativa e suas
particularidades.
11.9 CRITÉRIOS E NOMENCLATURAS IMPORTANTES PARA PROVAS
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F) ESCOLA SUBJETIVA
Defendida no Brasil por Ruy Cirne Lima e José Cretella Júnior, enfatizava as pessoas e
órgãos responsáveis pela execução das atividades administrativas como elemento central
do conceito.
G) ESCOLAS CONTEMPORÂNEAS
Utilizam critérios combinados para oferecer um conceito mais abrangente de Direito
Administrativo, adequado às múltiplas atividades desenvolvidas pela Administração
Pública moderna.
H) ESCOLA DA ADMINISTRAÇÃO SOCIAL
Focada na operacionalização de políticas sociais e na provisão de serviços públicos
voltados ao bem-estar social, considerando as ações do Estado em conjunto com
instituições e grupos que compartilham essa responsabilidade.
I) ESCOLA DA ADMINISTRAÇÃO GERENCIAL
Considera o Estado como uma grande empresa, com serviços voltados para seus
"clientes" (cidadãos). Prioriza eficiência, avaliação de desempenho e controle de
resultados, sendo influenciada pelos avanços tecnológicos e pela nova ordem política e
econômica mundial.
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Definir o objeto do Direito Administrativo é estabelecer o foco de seu estudo, ou seja,
identificar as relações jurídicas reguladas por esse ramo do direito público interno. Assim
como na construção de seu conceito, diversos critérios foram utilizados para determinar o seu
objeto.
Nesse contexto, podemos dizer que o objeto do Direito Administrativo varia ao longo do
tempo e entre diferentes países. A variação entre os países reflete a diversidade de sistemas
jurídicos, já que cada nação possui seu próprio ordenamento interno. Por outro lado, as
mudanças ao longo do tempo são consequência da evolução na forma como as atividades
administrativas são exercidas.
No início, no Brasil, a Administração Pública restringia-se a funções relacionadas à segurança
interna e externa, além de alguns serviços básicos. Hoje, no entanto, sua atuação também
inclui intervenções no âmbito econômico e social.
Embora o Direito Administrativo seja classificado como um ramo do direito público, isso não
significa que todas as relações jurídicas que ele regula estejam exclusivamente sob normas de
Direito Público. Por exemplo, em um contrato de locação em que o Poder Público é o
locatário, as normas predominantes são de direito privado, mas o contrato também está
sujeito a regras administrativas, como as chamadas cláusulas "exorbitantes" previstas na Lei nº
8.666/1993.
12. O OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO
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Dessa forma, o objeto do Direito Administrativo moderno abrange as seguintes relações
jurídicas:
Relações internas entre órgãos e entidades administrativas.1.
Relações entre a Administração e seus agentes, regidas por estatuto funcional ou pela
CLT.
2.
Relações entre a Administração e os administrados, sejam elas de natureza pública ou
privada.
3.
Atividades administrativas realizadas por prestadores de serviços públicos delegados.4.
Na França, durante a origem do Direito Administrativo, o foco estava na interpretação de leis e
atos administrativos, que tratavam de temas como a organização do Poder Executivo, relações
entre Administração e administrados, e obras públicas. Doutrinadores da época limitavam-se a
compilar e interpretar as leis existentes, formando a chamada Escola Exegética.
Esse método foi criticado por ser restritivo, pois o Direito Administrativo vai além das leis e
regulamentos, abrangendo também princípios e conceitos doutrinários.
12.1 ESCOLA EXEGÉTICA, LEGALISTA, EMPÍRICA OU CAÓTICA
Posteriormente, o Direito Administrativo ampliou seu campo de estudo, incorporando
princípios e conceitos da Ciência da Administração, que analisa políticas e estratégias
administrativas. Contudo, com o aumento do escopo de atuação estatal, separaram-se as
matérias jurídicas e administrativas, deixando para o Direito Administrativo as normas e
princípios que regem a organização administrativa, enquanto a Ciência da Administração
passou a tratar de aspectos sociais e técnicos.
12.2 DIREITO ADMINISTRATIVO E CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO
Com a delimitação do objeto do Direito Administrativo às questões jurídicas, os estudos
doutrinários tornaram-se mais sistemáticos e científicos. Esse método busca definir os
institutos específicos e princípios que informam esse ramo do Direito, diferenciando-se da
abordagem exegética predominante em sua origem.
12.3 MÉTODO TÉCNICO-CIENTÍFICO
A interpretação das normas e atos administrativos ainda se baseia, em parte, nos princípios do
Direito Privado, adaptados à natureza pública. Três fundamentos principais devem ser
considerados:
A desigualdade jurídica entre Administração e administrados.1.
A presunção de legitimidade dos atos administrativos.2.
A necessidade de discricionariedade administrativa para atender ao interesse público.3.
13. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO
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14. SISTEMAS DE CONTROLE JURISDICIONAL DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Existem dois sistemas principais de controle dos atos administrativos:
Sistema do contencioso administrativo (francês), que estabelece uma jurisdição
específica para questões administrativas.
1.
Sistema de jurisdição única (inglês), adotado no Brasil, em que todas as demandas,
inclusive as administrativas, podem ser analisadas pelo Poder Judiciário.
2.
No Brasil, o sistema de jurisdição única é respaldado pelo princípio da inafastabilidade da
jurisdição, garantido pela Constituição Federal. Embora a Administração Pública tenha
poderes para revisar ou anular seus atos, o administrado pode recorrer ao Judiciário para
questioná-los.
15. O SISTEMA ADMINISTRATIVO NO BRASIL
Desde a Proclamação da República, em 1891, o Brasil optou pelo sistema

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