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<p>PONTO 3</p><p>REGRAS DE CONEXÃO APLICADAS NO BRASIL</p><p>1. ASPECTOS GERAIS</p><p>2. REGRAS INCIDENTES SOBRE A PESSOA FÍSICA OU NATURAL (LINDB, ART. 7º)</p><p>A. ESTATUTO OU LEI PESSOAL DA PESSOA FÍSICA (LINDB, 7°, “CAPUT”)</p><p>Art. 7°, caput – A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.</p><p>a) Regra Geral de Conexão (Art. 7º “caput”) –</p><p>(CESGRANRIO/ADVOGADO JÚNIOR DA PETROBRAS/2015) – Sr. X, brasileiro e domiciliado em Portugal, sofreu procedimento de interdição por prodigalidade, proposto por sua esposa no Tribunal de Justiça de Lisboa, Portugal. Considerando-se que em Portugal a prodigalidade é causa de incapacidade absoluta, Sr. X, por ser domiciliado em Portugal, será considerado como absolutamente incapaz, pois a lei que rege a capacidade é aquela do domicílio da pessoa.</p><p>b) Exceção –</p><p>· Convenção destinada a regular conflitos de leis em matéria de letras de câmbio e notas promissórias, de 1930 (promulgada pelo Decreto nº 57.663/66).</p><p>Art. 2º - A capacidade de uma pessoa para se obrigar por letra ou nota promissória é regulada pela respectiva lei nacional.</p><p>· Convenção destinada a regular certos conflitos de leis em matéria de cheques, de 1931 (promulgada pelo Decreto nº 57.595/66).</p><p>Art. 2º - A capacidade de uma pessoa para se obrigar por virtude de um cheque é regulada pela respectiva lei nacional (...).</p><p>B. FATOS ENVOLVENDO O CASAMENTO</p><p>a) Aspectos formais de validade do casamento</p><p>a. Casamento realizado/celebrado no Brasil – Hipótese regulada pelo Art. 7º, §1º da LINDB.</p><p>LINDB, 7°, § 1° - Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.</p><p>(a) Regra de conexão aplicável –</p><p>(b) Característica –</p><p>(FGV//2023) – Emma, cidadã francesa, e Gabriel, cidadão espanhol, ambos domiciliados no Brasil, casam-se aqui e estabelecem seu primeiro domicílio conjugal na cidade de Manaus. Posteriormente, por motivos profissionais, o casal se muda para a Bélgica, onde fixa novo domicílio e Emma vem a falecer. Ela deixa bens no Brasil, onde se processa o inventário. Ao longo do processo de inventário é descoberta causa de impedimento matrimonial conforme o direito brasileiro, o que suscita questionamentos à validade do casamento entre Emma e Gabriel. Com base na Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, pode-se afirmar que a validade do casamento entre Emma e Gabriel é regida pela lei brasileira.</p><p>(c) Efeito –</p><p>(OAB-MG/2006) – Uma viúva francesa, domiciliada na Itália, veio para o Brasil para se casar com um brasileiro aqui domiciliado, sob o regime da comunhão parcial de bens. Entretanto, haviam se passado apenas oito meses de sua viuvez, o que é considerado causa suspensiva no Brasil, mas não na França e na Itália. É correto afirmar que a francesa poderia se casar sob o regime que pretendesse, já que as causas suspensivas são reguladas pela lei do domicílio</p><p>b. Casamento celebrado/realizado em outro país –</p><p>Foto extraída da internet</p><p>(a) Característica –</p><p>(b) Requisito –</p><p>LRP, Art. 32. Os assentos de nascimento, óbito e de casamento de brasileiros em país estrangeiro serão considerados autênticos, nos termos da lei do lugar em que forem feitos, legalizadas as certidões pelos cônsules ou quando por estes tomados, nos termos do regulamento consular.</p><p>[...]</p><p>Resolução 155/12 do CNJ – Art. 1º O traslado de assentos de nascimento, casamento e óbito de brasileiros em país estrangeiro, tomados por autoridade consular brasileira, nos termos do regulamento consular, ou por autoridade estrangeira competente, a que se refere o caput do Art. 32 da Lei nº 6.015/1973, será efetuado no Livro "E" do 1o Ofício de Registro Civil de Pessoas Naturais da Comarca do domicílio do interessado ou do 1º Ofício de Registro Civil de Pessoas Naturais do Distrito Federal, sem a necessidade de autorização judicial.</p><p>CC, Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em 180 (cento e oitenta) dias, a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1o Ofício da Capital do Estado em que passarem a residir.</p><p>CIVIL. CASAMENTO REALIZADO NO ESTRANGEIRO, SEM QUE TENHA SIDO REGISTRADO NO PAÍS. O casamento realizado no exterior produz efeitos no Brasil, ainda que não tenha sido aqui registrado. Recurso especial conhecido e provido em parte, tão-só quanto à fixação dos honorários de advogado (REsp n. 440.443/RS, relator Ministro Ari Pargendler, Terceira Turma, julgado em 26/11/2002, DJ de 26/5/2003, p. 360)</p><p>CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DIVÓRCIO. CASAMENTO REALIZADO NO EXTERIOR SEM A DEVIDA AVERBAÇÃO EM CARTÓRIO BRASILEIRO. POSSIBILIDADE. I Reputa-se válido no Brasil o casamento realizado no estrangeiro, independentemente de aqui ter sido registrado, na medida em que o enlace matrimonial consumou-se como ato jurídico existente e perfeito, somente carecendo da devida averbação no Registro Civil próprio para repercutir e gerar efeitos perante terceiros (STJ, Decisão monocrática; Processo: REsp 1087281; Relator(a): Ministro Marco Buzzi; Data da Publicação: 06/08/2013)</p><p>Resolução 155/12 do CNJ – Art. 13, § 11 O traslado no Brasil, a que se refere o § 1º do referido artigo, efetuado em Cartório de 1º Ofício, tem o objetivo de dar publicidade e eficácia ao casamento, já reconhecido válido para o ordenamento brasileiro, possibilitando que produza efeitos jurídicos plenos no território nacional.</p><p>(c) Limites ao reconhecimento do casamento realizado em outro país –</p><p>(OAB-DF/2005) – Um casamento realizado na República Italiana terá sua validade reconhecida no território brasileiro quando não ofender a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.</p><p>LINDB, Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.</p><p>Resolução 155/12 do CNJ, Art. 13, § 10 – Os casamentos celebrados por autoridades estrangeiras são considerados autênticos, nos termos da lei do local de celebração, conforme previsto no caput do Art. 32 da Lei nº 6.015/1973, inclusive no que respeita aos possíveis impedimentos, desde que não ofendam a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes, nos termos do Art. 17 do Decreto nº 4.657/1942.</p><p>b) Casamento diplomático ou consular de estrangeiros (LINDB, Art. 7º, §2º)</p><p>LINDB, Art. 7º, §2o - O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.</p><p>a. Regra de conexão aplicável –</p><p>b. Requisito legal –</p><p>c) Invalidade do casamento (LINDB, Art. 7º, §3º)</p><p>§ 3o - Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.</p><p>ERRO MATERIAL, CUJA CORREÇÃO SE IMPÕE. SENTENÇA ESTRANGEIRA, A QUE SE NEGA HOMOLOGAÇÃO. A NULIDADE DE UM CASAMENTO HÁ DE REGER-SE PELA LEI A QUE ELE OBEDECEU, AO SER CELEBRADO. O PARÁGRAFO 3º DO ART. 7º DA LEI DE INTRODUÇÃO RESULTOU DE EQUÍVOCO EVIDENTE E NÃO HÁ COMO APLICÁ-LO (STF, PROCESSO: SEC 2085; ÓRGÃO JULGADOR: TRIBUNAL PLENO; PUBLICAÇÃO: DJ 10-11-1972 PP-07727 EMENTA VOL-00892-01 PP-00056 RTJ VOL-00063-03 PP-00609; JULGAMENTO: 13 DE SETEMBRO DE 1972; RELATOR: MIN. LUIZ GALLOTTI).</p><p>d) Regime de bens (LINDB, Art. 7º, §4º)</p><p>Art. 7°, § 4° – O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, / e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.</p><p>a. Art. 7º, §4º, primeira parte –</p><p>(FGV-OAB/2011 – Adaptada) – Em janeiro de 2003, Martin e Clarisse Green, cidadãos britânicos domiciliados no Rio de Janeiro, casam-se no Consulado-Geral britânico, localizado na Praia do Flamengo. Em meados</p><p>de 2010, decidem se divorciar. Na ausência de um pacto antenupcial, Clarisse requer, em petição à Vara de Família do Rio de Janeiro, metade dos bens adquiridos pelo casal desde a celebração do matrimônio, alegando que o regime legal vigente no Brasil é o da comunhão parcial de bens. Martin, no entanto, contesta a pretensão de Clarisse, argumentando que o casamento foi realizado no consulado britânico e que, portanto, deve ser aplicado o regime legal de bens vigente no Reino Unido, que lhe é mais favorável. Com base no caso hipotético acima e nos termos da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), pode-se afirmar que Clarisse tem razão em sua demanda, pois o regime de bens é regido pela lex domicilli dos nubentes e, ao tempo do casamento, ambos eram domiciliados no Brasil</p><p>b. Art. 7º, §4º, segunda parte –</p><p>(FGV-OAB/2015) – Ricardo, brasileiro naturalizado, mora na cidade do Rio de Janeiro há 9 (nove) anos. Em visita a parentes italianos, conhece Giulia, residente em Roma, com quem passa a ter um relacionamento amoroso. Após 3 (três) anos de namoro a distância, ficam noivos e celebram matrimônio em território italiano. De comum acordo, o casal estabelece seu primeiro domicílio em São Paulo, onde ambos possuem oportunidades de trabalho. À luz das regras de Direito Internacional Privado, veiculadas na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), não havendo pacto antenupcial, pode-se afirmar que a legislação que irá reger o regime de bens entre os cônjuges é a lei brasileira, porque aqui constituído o primeiro domicílio do casal.</p><p>e) Alteração do regime de bens pela naturalização (LINDB, Art. 7º, §5º)</p><p>§ 5º - O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro. (Redação dada pela Lei nº 6.515, de 1977).</p><p>CC, Art. 1.639, § 2º - É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.</p><p>C. DIVÓRCIO DE BRASILEIRO REALIZADO NO ESTRANGEIRO (ART. 7º, §6º)</p><p>§ 6º - O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais (Redação dada pela Lei nº 12.036, de 2009).</p><p>a) Requisitos –</p><p>NCPC, Art. 961, § 5o - A sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de homologação pelo Superior Tribunal de Justiça.</p><p>b) Mitigações importantes ao dispositivo decorrentes, alterações legislativas posteriores a 2009 –</p><p>a. Sentença estrangeira de divórcio consensual, simples ou puro –</p><p>Provimento n. 53, de 16 de maio de 2016 do CNJ – Dispõe sobre a averbação direta por Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais da sentença estrangeira de divórcio consensual simples ou puro, no assento de casamento, independentemente de homologação judicial.</p><p>b. Decurso do prazo de 1 ano ou separação judicial prévia –</p><p>CF, Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.</p><p>§ 6º - O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio (direto). (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 66, de 2010)</p><p>SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVÓRCIO. REQUISITOS FORMAIS. CUMPRIMENTO. AUSÊNCIA DE OFENSA À SOBERANIA NACIONAL E À ORDEM PÚBLICA. DEFERIMENTO DO PEDIDO HOMOLOGATÓRIO. 1. Com a Emenda Constitucional 66, de 13 de julho de 2010, que instituiu o divórcio direto, a homologação de sentença estrangeira de divórcio para alcançar eficácia plena e imediata não mais depende de decurso de prazo, seja de um ou três anos, bastando a observância das condições gerais estabelecidas na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) e no Regimento Interno do STJ. [...] (Sentença Estrangeira Contestada Nº 4.445 - Ex (2011/0129806-9) Relator: Ministro Raul Araújo Requerente; Data do Julgamento: 06 de maio de 2015).</p><p>Recurso Extraordinário (RE) 1167478, julgado (em 08/11/2023) com repercussão geral. Tese fixada para o tema 1.053: “Após a promulgação da Emenda Constitucional 66/2010, a separação judicial não é mais requisito para o divórcio, nem subsiste como figura autônoma no ordenamento jurídico. Sem prejuízo, preserva-se o estado civil das pessoas que já estão separadas por decisão judicial ou escritura pública, por se tratar de um ato jurídico perfeito”.</p><p>D. DOMICÍLIO</p><p>a) Domicílio necessário ou legal (LINDB, Art. 7º, §7º)</p><p>LINDB, Art. 7º, § 7o - Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, / e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda.</p><p>b) Adômides (LINDB, Art. 7º, §8º)</p><p>§ 8o – Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre.</p><p>image1.jpeg</p><p>1</p><p>PONTO 3</p><p>REGRAS DE CONEXÃO APLICADAS NO BRASIL</p><p>1. ASPECTOS GERAIS</p><p>1</p><p>PONTO 3</p><p>REGRAS DE CONEXÃO APLICADAS NO BRASIL</p><p>1. ASPECTOS GERAIS</p>