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UN 4 Boas práticas na produção industrial de medicamentos

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Barbara Ramos

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FARMACOTÉCNICA 
E TECNOLOGIA DE 
MEDICAMENTOS 
LÍQUIDOS E 
SEMISSÓLIDOS
Identificação interna do documento
Boas práticas 
na produção 
industrial de 
medicamentos
Marcella Gabrielle Mendes Machado
]OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 > Descrever os aspectos relacionados à fabricação de medicamentos.
 > Formular procedimentos operacionais padrão da indústria farmacêutica.
 > Estabelecer boas práticas de fabricação de medicamentos.
Introdução
O processo de fabricação de medicamentos envolve as etapas de aquisição de 
matérias-primas, produção, liberação, armazenamento e expedição de produtos 
Identificação interna do documento
acabados. Durante o processo de fabricação, são observados procedimentos 
operacionais padrão com instruções sequenciais para a realização de deter-
minadas operações. As preparações industriais devem ser submetidas a um 
rigoroso controle de qualidade antes de serem liberadas para uso, distribuição e 
comercialização. A indústria farmacêutica deve seguir os requisitos mínimos de 
acordo com as Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos a fim de fornecer 
produtos seguros, eficazes e de qualidade. 
Neste capítulo, você vai conhecer as Boas Práticas de Fabricação de Me-
dicamentos que devem ser atendidas pelas indústrias farmacêuticas, com 
base nas Resoluções RDC nº. 658/2022 e RDC nº. 430/2020. Além disso, você 
vai compreender como devem ser formulados os procedimentos operacionais 
padrão utilizados na indústria farmacêutica e em quais situações eles devem 
ser elaborados.
Fabricação de medicamentos
O início do processo de fabricação de medicamentos em escala industrial foi 
marcado pela descoberta da salicilina, ou ácido salicílico, extraída da casca 
do salgueiro-branco (Salix alba), por Raffaele Piria em 1829. Esse composto 
atraiu grande interesse devido à sua atividade analgésica e antitérmica, o 
que levou, em 1897, a indústria farmacêutica alemã Bayer a realizar a síntese 
do ácido acetilsalicílico (Aspirina®) a partir de uma modificação estrutural 
no ácido salicílico, sendo este o primeiro fármaco sintético da história da 
indústria farmacêutica (WANCZINSKI et al., 2016).
No Brasil, a indústria farmacêutica se originou e começou a evoluir entre 
os anos 1890 e 1950, impulsionada pela necessidade de mudar o quadro sani-
tário nacional decadente e pela prevalência de doenças infectocontagiosas. 
Atualmente, somente em relação ao mercado de medicamentos genéricos, 
existem no Brasil 133 empresas fabricantes. Em 2019, os medicamentos ge-
néricos corresponderam à 34,37% das vendas nacionais, foram responsáveis 
por mais de 3,7 mil registros de medicamentos e geraram um faturamento 
de aproximadamente 9,8 bilhões de reais em preço pago pela farmácia (PPP) 
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE MEDICAMENTOS GENÉRICOS, 
[201-?]).
No país, as indústrias farmacêuticas devem atender aos requisitos das 
Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos. Com o intuito de alinhar a 
regulamentação nacional com os guias adotados pelo Esquema de Coope-
ração em Inspeção Farmacêutica (Pharmaceutical Inspection Co-operation 
Boas práticas na produção industrial de medicamentos2
Identificação interna do documento
Scheme — PIC/S), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou 
a Resolução RDC nº. 301, de 21 de agosto de 2019 (BRASIL, 2019a), atualizada 
pela RDC 658/2022 (BRASIL, 2022) que dispõe sobre as diretrizes gerais de 
Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos. Essa adesão do Brasil ao PIC/s 
contribui para uma melhor imagem, além do aumento da qualidade, dos medi-
camentos produzidos no país, o que permite um aumento da competitividade 
dos produtos nacionais nos mercados internacionais. 
É importante distinguir as diferenças dos processos de manipulação e 
fabricação de medicamentos. A manipulação de medicamentos visa atender de 
forma individualizada a necessidade do paciente. Com isso, tem-se a obtenção 
de um produto manipulado obtido mediante procedimento farmacotécnico 
como o resultado de uma prescrição. De acordo com Thompson e Davidow 
(2013, p. 157), a fabricação pode ser definida como: 
[...] Produção, preparação, propagação, conversão ou processamento de um me-
dicamento ou correlato, direta ou indiretamente, por extração das substâncias de 
origem natural ou por meio de síntese química ou biológica. A fabricação inclui 
o acondicionamento ou reacondicionamento de um medicamento ou correlato, 
a rotulagem ou nova rotulagem do recipiente de um medicamento ou correlato, 
para revenda por farmácias, médicos ou outras pessoas.
Segundo o artigo 3º, inciso XXI, da RDC nº. 658/2022 da Anvisa, a 
fabricação é definida como “[...] todas as operações envolvidas no 
preparo de determinado medicamento, incluindo a aquisição de materiais, pro-
dução, controle de qualidade, liberação, armazenamento, expedição de produtos 
acabados e os controles relacionados” (BRASIL, 2022, documento on-line). 
A fabricação de qualquer medicamento depende da produção de fármacos, 
os quais são os responsáveis pela ação farmacológica no organismo, por 
conterem o princípio ativo do medicamento. Os fármacos também podem ser 
chamados de insumos farmacêuticos ativos. Normalmente, os fármacos são 
desenvolvidos na matriz das multinacionais e fabricados em grande escala 
nas filiais espalhadas em diversos países. Segundo dados de associações da 
indústria, o Brasil importa cerca de 90% dos fármacos que são necessários 
para a indústria farmacêutica nacional, tendo empresas chinesas, norte-
-americanas e alemãs como as principais fornecedoras (FEDERAÇÃO DAS 
INDÚSTRIAS DO ESTADO DO PARANÁ, 2019).
Boas práticas na produção industrial de medicamentos 3
Identificação interna do documento
Além do fármaco, um medicamento é composto por excipientes, que, 
de acordo com Thompson e Davidow (2013), são componentes inativos da 
formulação, como edulcorantes, conservantes, aglutinantes de comprimidos, 
entre outros. Os excipientes garantem a eficácia dos fármacos, ao propor-
cionar características importantes para a formulação e consequentemente 
obtenção do efeito terapêutico. 
A aquisição de matérias-primas (como insumos farmacêuticos ativos e 
excipientes) deve ser supervisionada pelo profissional farmacêutico respon-
sável, que deve educar os fornecedores quanto aos critérios de qualidade, 
assegurando que todas as matérias-primas entregues sejam acompanhadas 
do certificado de análise emitido pelo fabricante/fornecedor. As especifica-
ções técnicas para as matérias-primas devem conter: matéria-prima referida 
segundo a denominação comum brasileira (DCB ) ou, na sua ausência, segundo 
a denominação comum internacional (DCI); ensaios de qualidade realizados e 
as metodologias de análise; limites de aceitação quantitativos e qualitativos; 
condições de armazenamento; e demais precauções. Para insumos farmacêuti-
cos ativos e adjuvantes, deve-se informar a referência de monografia nacional 
ou de compêndios internacionais reconhecidos pela Anvisa. 
A qualidade das matérias-primas é avaliada pela análise do seu laudo 
técnico, no momento do recebimento, devendo os fabricantes de produtos 
acabados realizar quaisquer testes de matérias-primas descritos no dossiê 
de registro. Para a fabricação, somente devem ser utilizadas matérias-primas 
que tiverem sido liberadas pelo departamento de Controle de Qualidade. 
O Controle de Qualidade é responsável por coletar amostras e realizar 
testes de matérias-primas, materiais de embalagem, produtos intermediários, 
produtos a granel e produtos acabados. Nenhum produto é liberado para 
utilização, comercialização ou distribuição até que esse departamento ateste 
que sua qualidade é satisfatória. Os métodos analíticos utilizados nos testes 
devem ser atestados e os resultados das análises devem ser registrados a fim 
de demonstrar que os valores foram avaliados em relação à especificação. Além 
disso, devem ser mantidas amostras de referência dematérias-primas e pro-
dutos acabados para permitir, quando necessário, a análise futura do produto.
A produção deve utilizar procedimentos por escrito a fim de assegurar que 
os medicamentos fabricados apresentem concentração, qualidade e pureza 
desejadas. Em seguida, esses procedimentos devem ser encaminhados para 
a garantia de qualidade, e qualquer mudança nos procedimentos deve ser 
registrada e justificada. Esses procedimentos incluem: aspectos relativos ao 
carregamento de todos os produtos, controles de processo, análise de amostras 
e validação de processos e equipamentos (ALLEN JR.; POPOVICH; ANSEL, 2013). 
Boas práticas na produção industrial de medicamentos4
Identificação interna do documento
O operador deve registrar a hora e a data de cada operação, enquanto o 
supervisor deve assinar o documento. Caso as operações sejam controladas 
por equipamentos automatizados, eles devem ser periodicamente conferi-
dos. Os controles de processo realizados pelo setor de produção durante 
a operação devem assegurar que os equipamentos gerem produtos com 
as propriedades esperadas dentro dos limites estabelecidos (tamanho do 
comprimido, dureza, etc.). Caso os produtos apresentem propriedades dife-
rentes das especificadas, podem ser reprocessados conforme os protocolos 
pré-estabelecidos (ALLEN JR.; POPOVICH; ANSEL, 2013).
De acordo com Allen Jr., Popovich e Ansel (2013), o armazenamento, a 
distribuição e o transporte de medicamentos também devem ser realizados 
com base em procedimentos registrados por escrito, sendo que, em geral, os 
produtos aprovados e mais antigos devem ser distribuídos primeiro. 
Os produtos devem ser armazenados e transportados em condições que 
garantam sua estabilidade e não afetem sua qualidade, devendo atender aos 
requisitos da RDC nº. 304/2019 (BRASIL, 2020), que dispõe sobre as Boas Práti-
cas de Distribuição, Armazenagem e Transporte de Medicamentos. De acordo 
com essa resolução, além da área de armazenagem geral de medicamentos, 
é preciso dispor de uma área ou local de armazenagem para medicamentos 
reprovados, vencidos, recolhidos, suspeitos de falsificação ou falsificados, 
assim como um local para medicamentos devolvidos. 
Os medicamentos não devem ser armazenados em contato direto com o 
chão e nem encostados nas paredes, e devem ser mantidos ao abrigo da in-
cidência direta de luz solar. A armazenagem de medicamentos termolábeis 
deve obedecer às recomendações do detentor do registro, e sua expedição 
deve ser feita de forma a minimizar a exposição à temperatura ambiente. 
É responsabilidade dos contratantes dos serviços de transporte de me-
dicamentos qualificar os transportadores, bem como prestar orientações 
caso ocorra acidentes envolvendo os medicamentos durante o transporte. 
Para medicamentos termolábeis, o transporte deve ser feito em condições 
térmicas, com monitoramento e controle constantes da temperatura. 
Procedimento operacional padrão
O procedimento operacional padrão (POP) é definido pela RDC nº. 17/2010, 
a qual foi revogada pela RDC nº 301/2019 e posteriormente atualizada pela 
RDC 658/2022, como:
Boas práticas na produção industrial de medicamentos 5
Identificação interna do documento
[...] procedimento escrito e autorizado que fornece instruções para a realização 
de operações não necessariamente específicas a um dado produto ou material, 
mas de natureza geral (por exemplo, operação, manutenção e limpeza de equi-
pamentos; validação; limpeza de instalações e controle ambiental; amostragem 
e inspeção). Certos procedimentos podem ser usados para suplementar a docu-
mentação mestre de produção de lote de um produto específico (BRASIL, 2022, 
documento on-line).
Os POPs transmitem informações acerca dos mais diversos processos, 
dando segurança ao executor e sendo considerados documentos 
indispensáveis para a realização das operações industriais com qualidade, 
eficiência e eficácia e para o cumprimento dos critérios técnicos e das normas 
das legislações aplicáveis. Os POPs são utilizados tanto para o treinamento de 
pessoal quanto para garantir que os procedimentos sejam realizados de forma 
consistente, uniforme e em tempo hábil (EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS 
HOSPITALARES, 2014; THOMPSON; DAVIDOW, 2013).
É preciso haver um POP para cada instrumento e equipamento utilizado 
no processo de fabricação, incluindo os utilizados no controle de qualidade. 
O mesmo vale para os procedimentos de recebimento de matéria-prima e de 
materiais de embalagem, e também para a amostragem de matérias-primas, 
produtos acabados, etc., com a especificação da área responsável e do pessoal 
responsável pela coleta das amostras. 
Outros exemplos de POPs que devem ser formulados na indústria far-
macêutica incluem: montagem e qualificação de equipamentos; aparato 
analítico e calibração; manutenção, limpeza e sanitização; pessoal, incluindo 
qualificação, treinamento, uniformes e higiene; monitoramento ambiental; 
controle de pragas; reclamações; recolhimentos; e devoluções. 
A Figura 1 apresenta um exemplo de POP utilizado em análises de con-
trole de qualidade. Na elaboração do POP, todos os equipamentos a serem 
utilizados devem ser listados e o item “Descrição das tarefas/métodos” 
deve indicar o passo a passo a ser executado de forma detalhada durante as 
diversas etapas da tarefa. Os POPs devem ser revisados periodicamente, de 
acordo com a necessidade do processo, e o número da revisão deve constar 
no procedimento escrito.
Boas práticas na produção industrial de medicamentos6
Identificação interna do documento
Após o controle de qualidade, devem ser feitos registros demonstrando 
que todos os testes foram realizados e que quaisquer desvios foram devi-
damente registrados e investigados. De acordo com o Conselho Regional 
de Farmácia do Estado do Paraná (WANCZINSKI et al., 2016), os registros dos 
ensaios realizados devem conter no mínimo os seguintes dados: 
 � nome do material ou do produto e, quando for o caso, a forma 
farmacêutica; 
 � número do lote e, quando for o caso, o fabricante e/ou fornecedor; 
 � referências para procedimentos de análise; 
 � resultados analíticos, incluindo observações, cálculos e referências 
utilizados e as especificações (limites); 
 � data em que são realizados os ensaios; 
 � identificação das pessoas que tenham realizado os ensaios; 
 � identificação das pessoas que tenham conferido os ensaios e os 
cálculos; 
 � declaração de aprovação ou reprovação (ou outra decisão), datada e 
assinada pela pessoa responsável.
Figura 1. Exemplo de POP.
Boas práticas na produção industrial de medicamentos 7
Identificação interna do documento
Boas práticas de fabricação 
de medicamentos
A RDC nº. 301/2019 dispõe sobre as Diretrizes Gerais de Boas Práticas de Fa-
bricação de Medicamentos, com o objetivo de garantir qualidade, segurança 
e eficácia das preparações farmacêuticas (BRASIL, 2019a). Como a fabricação 
de medicamentos ainda envolve processos de armazenamento e transporte, 
a RDC nº. 304/2019 também deve ser cumprida pelas empresas que realizam 
tais operações (BRASIL, 2019b). 
As normas gerais dispostas na RDC nº. 301/2019 são complementadas por 
14 Instruções Normativas (IN) vinculadas a essa resolução, descritas a seguir 
(CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO RIO GRANDE DO SUL, 2019). 
 � IN nº 35 — medicamentos estéreis;
 � IN nº 36 — insumos e medicamentos biológicos;
 � IN nº 37 — medicamentos radiofármacos;
 � IN nº 38 — gases substâncias ativas e gases medicinais;
 � IN nº 39 — medicamentos fitoterápicos;
 � IN nº 40 — atividades de amostragem de matérias-primas e materiais 
embalagens utilizados na fabricação de medicamentos;
 � IN nº 41 — medicamentos líquidos, cremes ou pomadas;
 � IN nº 42 — medicamentos aerossóis pressurizados dosimetrados para 
inalação;
 � IN nº 43 — sistemas computadorizados utilizados na fabricação de 
medicamentos;
 � IN nº 44 — radiação ionizante na fabricação de medicamentos;
 � IN nº 45 — medicamentos experimentais;� IN nº 46 — medicamentos hemoderivados;
 � IN nº 47 — atividades de qualificação e validação;
 � IN nº 48 — amostras de referência e de retenção.
Apesar da RDC 301/2019 ser atualizada pela RDC 658/2022, as instruções 
normativas permanecem vigentes como complemento necessário ao bom 
processo de medicamentos em escala industrial.
Além da etapa de fabricação comercial de um produto, a aplicação das 
Boas Práticas de Fabricação abrange também a fabricação de medicamentos 
experimentais e a descontinuação de produtos. No âmbito do Gerenciamento 
Boas práticas na produção industrial de medicamentos8
Identificação interna do documento
da Qualidade, tais práticas referem-se tanto ao processo de produção quanto 
ao controle de qualidade, e devem assegurar que os produtos sejam produzidos 
e controlados conforme os padrões de qualidade apropriados e estabelecidos 
para o uso pretendido.
De acordo com a RDC nº. 658/2022 (BRASIL, 2022), as Boas Práticas de 
Fabricação determinam que:
 � os processos de fabricação devem ser definidos, revisados e capazes 
de produzir medicamentos com o nível de qualidade exigido e em 
conformidade com suas especificações;
 � todas as etapas críticas dos processos de fabricação devem ser atesta-
das, inclusive quaisquer mudanças significativas que venham a ocorrer;
 � devem ser fornecidos todos os recursos necessários como: pessoal 
qualificado e treinado; instalações, áreas, equipamentos e serviços 
apropriados; materiais, recipientes e rótulos corretos; procedimentos 
e instruções aprovadas; e armazenagem e transporte adequados;
 � os procedimentos e instruções devem ser escritos de forma clara, 
instrutiva e inequívoca; 
 � os procedimentos devem ser seguidos corretamente, com treinamento 
dos operadores para tal;
 � devem ser realizados registros durante a fabricação, de forma manual 
ou não, que demonstrem o cumprimento das etapas exigidas pelos 
procedimentos, bem como que a quantidade e qualidade do produto 
estão conforme o previsto;
 � devem ser registrados e investigados quaisquer desvios significativos 
a fim de encontrar sua causa-raiz, identificar soluções adequadas e 
implementar ações preventivas;
 � devem ser mantidos todos os registros que permitam o rastreamento 
do histórico completo de um lote;
 � a distribuição dos produtos deve atender às boas práticas de distri-
buição a fim de minimizar qualquer risco à sua qualidade;
 � deve-se dispor de um sistema para recolher qualquer lote de produto 
em comercialização ou distribuição;
 � todas as reclamações sobre os produtos devem ser examinadas; 
quando constatados desvios de qualidade, deve-se implementar 
ações corretivas adequadas, além de ações preventivas para evitar 
recorrência.
Boas práticas na produção industrial de medicamentos 9
Identificação interna do documento
Pessoal e treinamento 
Para o desempenho adequado das atividades que cabem ao fabricante, é 
necessário haver pessoal qualificado e em quantidade suficiente. Tal pessoal 
deve receber treinamento inicial e contínuo a respeito das Boas Práticas de 
Fabricação, incluindo instruções de higiene, conforme a seção V da RDC nº. 
658/2022, na qual pode-se destacar:
[...] Art. 54. Toda pessoa que entrar nas áreas de fabricação deve usar roupas 
protetoras adequadas às operações a serem executadas. 
Art. 55. É proibido comer, beber, mascar, fumar ou armazenar alimentos, bebidas, 
materiais derivados do tabaco ou medicamentos de uso pessoal nas áreas de 
produção e armazenamento. 
Art. 56. Qualquer prática que não seja higiênica dentro das áreas de fabricação 
ou em qualquer outra área em que o produto possa ser adversamente afetado 
deve ser proibida. 
Art. 57. Deve ser evitado contato direto entre as mãos do operador e o produto 
exposto, assim como com qualquer parte do equipamento que entre em contato 
com os produtos. 
Art. 58. O pessoal deve ser instruído sobre a utilização das instalações para lavagem 
das mãos (BRASIL, 2022, documento on-line).
Além do treinamento básico sobre a teoria e a prática do Sistema da 
Qualidade Farmacêutica e das Boas Práticas de Fabricação, o pessoal recém-
-contratado deve receber um treinamento adequado às tarefas que lhe são 
atribuídas. O pessoal principal da gestão designado pela administração da 
empresa inclui o responsável pela produção, o responsável pelo controle de 
qualidade e o responsável pelo sistema de gestão da qualidade farmacêutica 
para a liberação dos produtos. Para empresas que dispõem de tamanho e 
estrutura organizacional adequados, pode ser nomeado um responsável pela 
garantia da qualidade. 
Instalações e equipamentos
As instalações e os equipamentos devem ser projetados e estar localizados 
de forma que sejam adequados às operações a serem executadas, devendo 
permitir limpeza e manutenção efetiva, a fim de minimizar o acúmulo de pó 
ou sujeira, contaminação cruzada e demais prejuízos que possam afetar a 
qualidade dos produtos fabricados. As instalações devem ser divididas em: 
Boas práticas na produção industrial de medicamentos10
Identificação interna do documento
áreas de produção, áreas de armazenamento, áreas de controle de qualidade 
e áreas auxiliares. 
A estrutura física das áreas de produção deve ser planejada de modo que 
a produção apresente uma ordem lógica, com áreas interligadas. Podem ser 
necessárias instalações dedicadas à fabricação de certos medicamentos, 
dependendo do seu nível de risco. Geralmente, deve-se dispor de uma sala 
separada para a pesagem de matérias-primas. As instalações que realizam 
a embalagem de medicamentos devem ser especialmente projetadas para 
evitar misturas ou contaminação cruzada. 
As áreas de armazenamento devem ser planejadas de modo a terem capa-
cidade suficiente para realizar o estoque ordenado das diferentes categorias 
de materiais e produtos, como: matérias-primas, materiais de embalagem, 
produtos intermediários, a granel e terminados, incluindo os produtos libe-
rados, em quarentena, rejeitados, devolvidos ou recolhidos. Alguns produtos 
requerem condições especiais de armazenamento quanto a temperatura e 
umidade. Tais condições devem ser cumpridas, verificadas e monitoradas. 
Ademais, produtos altamente ativos devem ser armazenados em áreas pro-
tegidas e seguras. 
Os laboratórios de controle de qualidade devem ser separados em áreas 
dedicadas de controle de produtos biológicos, microbiológicos e radioisótopos 
(quando aplicável). Além disso, também devem ser separados das áreas de 
produção. Esses laboratórios devem ser projetados para as operações a serem 
realizadas, devendo existir espaço suficiente para o armazenamento das 
amostras coletadas e dos registros. Podem ser necessárias salas separadas 
para equipamentos sensíveis a umidade, vibração, etc. 
As áreas auxiliares incluem as salas de descanso e os refeitórios, as quais 
devem ser separadas das demais áreas. Os vestiários e os sanitários devem 
ter fácil acesso e ser suficientes ao número de usuários, sendo que os sani-
tários não devem se comunicar diretamente com as áreas de produção ou 
armazenamento. Quanto às áreas de manutenção, devem ser separadas das 
áreas de produção. 
Os equipamentos utilizados na fabricação devem ser projetados e man-
tidos conforme a finalidade pretendida, devendo permitir uma limpeza fácil 
e completa em conformidade com procedimentos detalhados por escrito, a 
fim de evitar qualquer risco de contaminação. As balanças e os equipamen-
tos de medição, com precisão e escala apropriadas, devem ser calibrados e 
verificados periodicamente, estando sempre disponíveis para operações de 
produção e controle. 
Boas práticas na produção industrial de medicamentos 11
Identificação interna do documento
Autoinspeção
De acordo com o artigo 361 da RDC nº. 658/2022: “[...] devem ser realizadas 
autoinspeções a fim de monitorar a implementação e a conformidade com os 
princípios das Boas Práticas de Fabricação, e propor as medidas corretivas 
necessárias” (BRASIL, 2022, documento on-line).Essas autoinspeções devem 
ser registradas e conduzidas de forma independente. O artigo 362 dessa 
mesma resolução ainda determina que:
[...] As questões relacionadas com pessoal, instalações, equipamento, documen-
tação, produção, controle de qualidade, distribuição dos medicamentos, proce-
dimentos para gerenciamento de reclamações e recolhimentos, bem como a au-
toinspeção, devem ser examinadas em intervalos regulares, seguindo um programa 
pré-estabelecido com o fim de verificar sua conformidade com os princípios de 
garantia da qualidade (BRASIL, 2019a, documento on-line).
Requisitos específicos quanto a reclamações e recolhimento de produtos e 
sobre as atividades terceirizadas também estão descritos na RDC nº. 658/2022 
(BRASIL, 2022). Com base em todas as normas regulatórias apresentadas, 
conclui-se que o cumprimento das Boas Práticas de Fabricação pela indústria 
farmacêutica requer treinamento e aperfeiçoamento constantes do pessoal 
envolvido em todas as etapas do processo, além de procedimentos muito 
bem descritos, garantindo a fabricação de produtos com elevada qualidade, 
eficácia e segurança. 
Uma boa dica de consulta é o documento intitulado “Compilado de 
procedimentos do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária”, prepa-
rado pelo Grupo de Trabalho para Gestão de Documentos do Sistema Nacional 
de Vigilância Sanitária. Nele podem ser encontrados inúmeros POPs e anexos 
relativos à inspeção de Boas Práticas de Fabricação, com última atualização 
em agosto de 2019.
Como visto, a produção tem passado por grandes mudanças, seja no as-
pecto técnico ou legal. Como forma de inserção em um mercado internacional 
cada vez mais exigente, a Anvisa, por meio das novas normativas e resoluções, 
modernizou todos os processos relativos às boas práticas na produção in-
dustrial de medicamentos. Ainda existem muitos passos importantes a serem 
Boas práticas na produção industrial de medicamentos12
Identificação interna do documento
adotados, no entanto, o Brasil tem caminhado de forma representativa na 
busca pela melhoria na qualidade dos medicamentos a serem comercializados 
dentro do país e para exportação. 
Nesse contexto, não apenas a produção em si, mas todo o processo de 
logística e armazenamento passam a compor pontos importantes no controle 
de qualidade e estabilidade de medicamentos. 
Referências
ALLEN JR., L. V.; POPOVICH, N. G.; ANSEL, H. C. Formas farmacêuticas e sistemas de 
liberação de fármacos. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
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[201-?]. Disponível em: http://progenericos.org.br/mercado. Acesso em: 16 ago. 2020.
BRASIL. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº. 301, de 21 de agosto de 2019. 
Dispõe sobre as Diretrizes Gerais de Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos. 
Diário Oficial da União, Brasília, 22 ago. 2019a. Disponível em: http://portal.anvisa.
gov.br/documents/10181/5389382/RDC_301_2019_.pdf/2e049461-1e8a-4bbb-8e09-
8d3c04dea07d. Acesso em: 16 ago. 2020.
BRASIL. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº. 304, de 17 de setembro de 2019: 
Dispõe sobre as Boas Práticas de Distribuição, Armazenagem e de Transporte de 
Medicamentos. Diário Oficial da União, Brasília, 18 set. 2019b. Disponível em: http://
portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2957539/RDC_304_2019_.pdf/57303640-91ef-
4d2e-9577-0c9657a5a9a3. Acesso em: 16 ago. 2020.
CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO RIO GRANDE DO SUL. Esclareça suas dúvidas 
sobre a nova RDC nº. 301/2019 sobre BPF de medicamentos. 2019. Disponível em: https://
crfrs.org.br/noticias/ot-informa--esclareca-suas-duvidas-sobre-a-nova-rdc-no-301-
-2019-sobre-bpf-de-medicamentos. Acesso em: 16 ago. 2020.
EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES. Manual de padronização de POPs. 
Brasília: EBSERH, 2014. (E-book). 
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO PARANÁ. Indústria farmacêutica. 2019. 
Disponível em: http://www.fiepr.org.br/fomentoedesenvolvimento/cadeiasprodutivas/
uploadAddress/farmaceutica%5B19550%5D.pdf. Acesso em: 16 ago. 2020.
THOMPSON, J. E.; DAVIDOW, L. W. A prática farmacêutica na manipulação de medica-
mentos. Porto Alegre: Artmed, 2013.
WANCZINSKI, B. J. et al. Diretrizes da indústria farmacêutica. 2. ed. Curitiba: Conselho 
Regional de Farmácia do Estado do Paraná, 2016. (E-book).
Leitura recomendada
SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Compilado de procedimentos do 
sistema nacional de vigilância sanitária. 2019. Disponível em: http://portal.anvisa.
gov.br/documents/33864/0/Compilado+de+Procedimentos+SNVS+-+Revis%C3%
A3o+16+%2801.02.2020%29/a9d23041-d676-4109-aec5-5a23fef71c70?version=1.13. 
Acesso em: 16 ago. 2020.
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