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FARMACOTÉCNICA E TECNOLOGIA DE MEDICAMENTOS LÍQUIDOS E SEMISSÓLIDOS João Fhilype Andrade Souto Maior Excipientes e adjuvantes na produção de medicamentos OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: > Identificar os excipientes e adjuvantes empregados na produção de me- dicamentos. > Relacionar excipientes e adjuvantes na produção de medicamentos. > Discutir a importância de excipientes e adjuvantes na composição de medicamentos. Introdução Muitos princípios ativos com potencial terapêutico precisam ser veiculados ao organismo humano com certas associações para que possam exercer suas atividades biológicas de forma segura e eficaz. Nesse sentido, para garantir o sucesso terapêutico de moléculas tão promissoras, é necessário que o far- macêutico utilize outras substâncias auxiliares, também conhecidas como excipientes farmacotécnicos (polímeros naturais ou sintéticos), para obter a forma farmacêutica mais apropriada e segura, de acordo com a via de admi- nistração que se deseja utilizar. Neste capítulo, você vai estudar os principais excipientes e adjuvantes farma- cêuticos utilizados em farmácias de manipulação e indústrias para a produção de medicamentos. Além disso, vai conhecer as principais características físico- -químicas e funções de tais substâncias na composição de diferentes medica- mentos, seja em formulações sólidas, líquidas ou semissólidas. Excipientes farmacêuticos Em geral, todo medicamento ou formulação farmacêutica é constituído por um ou mais fármacos (ingredientes principais, responsáveis pelo efeito tera- pêutico) e por uma ou mais substâncias auxiliares não medicinais, conhecidas como excipientes ou adjuvantes farmacêuticos. Raramente os fármacos são administrados de forma isolada ao organismo. Por isso, a grande maioria dos medicamentos comporta um princípio ativo, independentemente de sua produção, da sua forma farmacêutica, do seu fornecimento ou de sua finalidade terapêutica (SILVA, 2013). Por definição, os excipientes farmacêuticos são substâncias desti- tuídas de poder terapêutico, usadas para assegurar a estabilidade, a eficácia e as propriedades físico-químicas, farmacológicas e organolépticas dos produtos farmacêuticos. Em outras palavras, os excipientes têm a função de converter um fármaco em uma forma farmacêutica estável, funcional e atraente, com um perfil de liberação e absorção adequado (SENA et al., 2014; BALBANI et al., 2006). Os excipientes e adjuvantes farmacêuticos são dotados de propriedades específicas e possuem diversas funções, como conservar, solubilizar, sus- pender, espessar, diluir, emulsificar, lubrificar, promover o fluxo, aglutinar, desintegrar, estabilizar, colorir, flavorizar, entre outras. Assim, além de pro- teger ou melhorar a estabilidade das formulações, podem garantir a precisão e exatidão da dose. Em outros casos, podem ser usados para manter os medicamentos livres de microrganismos e adequados ao consumo por mais tempo (ABRANTES, 2015; BALBANI et al., 2006). Excipientes e adjuvantes na produção de medicamentos2 Ao melhorar as características organolépticas dos medicamentos, alguns excipientes facilitam sua administração tornando-os mais palatáveis e ga- rantindo a adesão dos pacientes à terapia farmacológica. Muitas vezes, tais ingredientes também são usados para completar o volume necessário do produto final e melhorar a biodisponibilidade e a absorção do fármaco no organismo (ABRANTES, 2015). Do ponto de vista químico, os excipientes farmacêuticos possuem ca- racterísticas orgânicas e inorgânicas, podendo ser obtidos de diferentes fontes, seja de origem animal, vegetal ou mineral, ou mesmo sintetizados quimicamente. Vejamos algumas dessas fontes por categoria (ABRANTES, 2015; ARAUJO; BORIN, 2012): � animal — lactose, gelatina, lanolina, cera de abelha, etc.; � vegetal — amidos, celulose, alginatos, pectinas, goma arábica, etc.; � mineral — sílica, fosfato de cálcio, parafina, caulino, etc.; � sintética — ácido bórico, ácido láctico, polissorbato, povidona, etc. Mercado mundial de excipientes De acordo com relatório elaborado pela Coherent Market Insights, o mercado global de excipientes farmacêuticos foi avaliado em cerca de US$ 6,5 bilhões em 2008, com previsão de crescimento anual de 6,9% até 2027, podendo atingir um valor de quase US$ 12 bilhões. A seguir são listadas as fatias percentuais que cada tipo de excipiente perfaz no mercado global (PESSANHA, 2012): � diluentes — 28,8%; � emolientes — 19,7%; � veículos — 18,1%; � materiais para revestimento — 11,8%; � desintegrantes — 7,5%; � flavorizantes — 3,4%; � corantes — 0,9%; � agentes osmóticos — 0,9%; � outros — 8,9%. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica e de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), apesar do Brasil produzir e exportar insumos farmacêuticos de qualidade, ainda está longe de alcançar condição Excipientes e adjuvantes na produção de medicamentos 3 de independência em relação às importações de medicamentos, excipientes e adjuvantes de outros países (PESSANHA, 2012). Outra pesquisa mostra que 50% das importações brasileiras de excipientes farmacotécnicos são provenientes sobretudo de quatro países: Alemanha, China, Índia e Estados Unidos. Embora China e Índia enviem grande quantidade de produtos farmacêuticos para o Brasil, a participação conjunta de ambos não chega a 25% das importações brasileiras. Por outro lado, os Estados Unidos são o principal destino dos insumos farmacêuticos produzidos no Brasil, respondendo a 16% desse mercado. Em seguida, aparece a Argentina como segundo maior parceiro comercial brasileiro, respondendo por 11% das nossas exportações nesse ramo. Outros 52% das exportações brasilei- ras destinam-se a países da Europa, Ásia, África, Oceania e principalmente América Latina (PESSANHA, 2012). Classes e funções dos excipientes Como já mencionado, os excipientes são usados em praticamente todos os medicamentos e têm um papel fundamental no desempenho dos fármacos no organismo. Sendo assim, a produção de um medicamento é realizada com sucesso quando excipientes específicos são associados a determinado fármaco por meio de procedimentos farmacotécnicos bem definidos, que originam um medicamento final seguro e eficaz (ABRANTES, 2015). De modo geral, o desenvolvimento, a produção e o efeito de uma fórmula farmacêutica dependem, na maioria das vezes, das propriedades físicas e químicas dos excipientes. Assim, cada excipiente deve apresentar funções e características adequadas para atender às necessidades específicas de um determinado fármaco de interesse, de acordo com sua finalidade terapêutica. A seguir, serão apresentadas as principais categorias funcionais dos excipientes farmacêuticos, organizadas de acordo com as formas farma- cêuticas mais comumente utilizadas no mercado, seguindo definições de Abrantes (2015). Formulações orais sólidas Diluentes São substâncias de enchimento inerte utilizado para criar quantidades de volume desejado, propriedades de fluxo, força de compressão, formação de grânulos secos ou úmidos, homogeneidade do produto, desagregação Excipientes e adjuvantes na produção de medicamentos4 e dissolução do fármaco, friabilidade e estabilidades dos medicamentos. Exemplos: fosfato de cálcio, caulim, lactose, manitol, celulose microcristalina, carbonato de cálcio, sorbitol, amido. Aglutinantes São incorporados às formulações para facilitar a aglomeração do pó em grânulos durante a mistura com o líquido de granulação (água, misturas hidroalcoólicas ou outros solventes). O aglutinante pode ser dissolvido no líquido de granulação ou misturado no estado sólido. Exemplos: acácia, ácido algínico, etilcelulose, gelatina, glucose líquida, metilcelulose, povidona, amido pré-gelatinizado. Desagregantes São adicionados às formulações para impulsionar a desagregação rápida dos comprimidos nos fluídos intestinais em pequenas partículas,permitindo que o fármaco se dissolva mais rapidamente para sua posterior absorção. Os comprimidos devem apresentar um tempo limite para total desagregação (tempo de desagregação), que varia de acordo com os fármacos ou com a velocidade de absorção desejada. Exemplos: ácido algínico, polacrilato de potássio, alginato de sódio, amidoglicolato de sódio e amido. Lubrificantes São usados especificamente para reduzir as forças de atrito entre as partículas do granulado e as superfícies de contacto do metal (punções e matrizes) do equipamento de compressão dos comprimidos. O lubrificante facilita o des- lizamento do granulado e evita sua adesão às superfícies do equipamento. Além disso, os lubrificantes conferem aos comprimidos um aspecto brilhante e não pulverulento. Exemplos: estearato de cálcio, estearato de magnésio, óleo mineral, ácido esteárico estearato de zinco. Deslizantes e antiaderentes São usados em formulações de comprimidos e cápsulas para melhorar as propriedades de fluxo da mistura dos pós ou reduzir a aglomeração que pode ocorrer quando os pós são armazenados em grandes quantidades. Os deslizantes atuam reduzindo a adesão partícula–partícula devido às forças coesivas. Os agentes antiaderentes podem absorver a umidade livre e impedir a agregação de partículas. Exemplos: sílica coloidal, amido de milho e talco. Excipientes e adjuvantes na produção de medicamentos 5 Corantes Além de melhorar a aparência dos medicamentos, diferentes tipos de corantes são adicionados aos medicamentos com o objetivo de facilitar a distinção entre uma determinada formulação e outras com aparência semelhante. Os corantes são classificados de acordo com sua origem: � orgânicos sintéticos — obtidos por síntese orgânica; � orgânicos naturais — obtidos por extração de fontes vegetais ou animais; � inorgânicos — obtidos de minerais. Exemplos: caramelo, óxido férrico, amarelo de tartrazina, amarelo cre- púsculo, eritrosina, carmim. Revestimento para cápsulas As cápsulas são úteis para mascarar o sabor desagradável de alguns fármacos e excipientes. Além disso, elas permitem veicular uma quantidade precisa de uma formulação (pó ou líquido), além de facilitar seu transporte. Basicamente consistem em duas partes, ambas cilíndricas (corpo e tampa). Exemplos: gelatina ou derivado de celulose. A esses materiais também podem ser adi- cionados outros excipientes, como plastificantes, corantes e conservantes. Revestimento A função de um revestimento é mascarar sabores ou odores desagradáveis, facilitar a administração, melhorar o aspecto, proteger os princípios ativos do meio ambiente (oxigênio ou umidade) e/ou modificar sua liberação (libe- ração modificada). São formados por polímeros naturais, semissintéticos ou sintéticos, que permitem a formação de uma fina película de revestimento sobre o comprimido. Os revestimentos entéricos, por exemplo, são insolúveis em pH baixo (estômago), mas dissolvem-se facilmente em condições de pH neutro (intestino). Exemplos: hidroxietil celulose, hidroxipropil celulose, me- tilcelulose e etilcelulose. Revestimento entérico: acetato ftalato de celulose, Eudragit e polissacarídeos reticulados. A esses materiais também podem ser adicionados outros excipientes, como plastificantes e corantes. Plastificante Um plastificante é uma substância de baixo peso molecular que é adicionada a um material de revestimento (para comprimidos ou cápsulas), geralmente um polímero, para torná-lo flexível, resiliente e mais fácil de manusear. Nesse Excipientes e adjuvantes na produção de medicamentos6 caso, o plastificante atua aumentando a mobilidade intermolecular e intramo- lecular de macromoléculas dos polímeros. Os plastificantes também podem ser usados em formulações semissólidas para melhorar as propriedades reo- lógicas de cremes e pomadas. Exemplos: citratos, ftalatos, glicerina, sorbitol. Formulações orais líquidas Modificador de pH (solução-tampão) Uma solução-tampão é um ácido fraco ou uma base fraca com o seu sal. Assim, deve ser utilizada para reagir às alterações de pH após a diluição ou a adição de agentes ácidos ou alcalinos nas formulações, o que pode contribuir para: � manter um pH próximo do pH dos fluidos corporais; � melhorar a estabilidade de fármacos dependentes do pH; � melhorar a solubilidade de equilíbrio do controle de ácidos fracos ou bases; � manter um estado de ionização de moléculas durante análise química, como a cromatografia líquida de alta resolução (HPLC), por exemplo. Exemplos: metafosfato de potássio, fosfato de potássio, acetato de sódio e citrato de sódio. Umectante/solubilizante São excipientes usados para dissolver moléculas insolúveis. Funcionam por facilitar a transferência de uma fase espontânea para produzir uma solução termodinamicamente estável. Alguns polímeros atuam como solubilizantes ao interagir com moléculas hidrófobas, aumentando a solubilidade por dissolução do agente insolúvel nas cadeias poliméricas. Tais agentes podem ser sólidos, líquidos ou materiais serosos. Exemplos: glicerina, propileno- glicol e sorbitol. Conservante antimicrobiano São usados para eliminar ou evitar o crescimento de bactérias, fungos e leveduras nos medicamentos. A maioria atua causando lesões na membrana e lise celular. Outros mecanismos de ação incluem a inibição do transporte ou a precipitação de proteínas. Devido ao risco de irritações ou reações alérgicas, é preciso ter muito cuidado com o uso de alguns conservantes, os quais não são indicados em soluções parenterais. Exemplos: cloreto de benzalcônio, ácido benzoico, álcool benzílico, parabenos. Excipientes e adjuvantes na produção de medicamentos 7 Quelantes e/ou complexantes Usados para estabilizar soluções, esses excipientes formam moléculas com- plexas solúveis com alguns íons metálicos ou removem tais íons de uma solução, evitando reações indesejáveis com outras moléculas da formulação. Os quelantes também podem melhorar a ação antimicrobiana por meio da remoção de íons que favorecem o crescimento de bactérias. Exemplos: ácido edético e edetato dissódico. Antioxidantes São usados para estabilizar formulações farmacêuticas, já que podem ate- nuar os processos oxidativos, retardando o aparecimento e/ou reduzindo significativamente a taxa de reações oxidativas que podem prejudicar a ação do fármaco. Naturais ou sintéticos, os antioxidantes também podem inibir os radicais livres e os hidroperóxidos, responsáveis por processos oxidativos em cascata (reações em cadeia). Assim, os antioxidantes podem proteger tanto os excipientes quanto os princípios ativos dos medicamentos. Exemplos: ácido ascórbico, taninos, flavonoides, ácido hipofosforoso, monotioglicerol, galato de propilo, ascorbato de sódio, bissulfito de sódio. Adoçantes (edulcorantes) São substâncias que servem para adoçar as formulações orais, principalmente mascarando sabores desagradáveis. Em geral, esses excipientes são solúveis em água e podem ser divididos em três grupos principais: açúcares, álcoois de açúcar e edulcorantes artificiais. Mudanças no pH da formulação podem afetar a estabilidade desses excipientes. Alguns edulcorantes podem degradar certos fármacos, sobretudo quando o processo de produção do medicamento envolve aquecimento. Exemplos: aspartame, dextrose, glicerina, manitol, sacarina sódica, sorbitol, sucralose. Aromatizantes (flavorizantes) Esses ingredientes complementam a ação dos edulcorantes, ou seja, podem ser usados para conferir um sabor, e às vezes um odor, agradável à formula- ção. Algumas vezes, são segredos industriais e, portanto, não vêm descritos nas bulas. Os flavorizantes podem ser naturais (óleos essenciais extraídos de plantas e sabores naturais de frutas) ou artificiais (álcoois aromáticos, aldeídos, bálsamos, fenóis, terpenos, etc.). Exemplos: acetato de benzila (sabor artificial de cereja, abricó, pêssego e morango), óleo de anis, óleo de canela, mentol, óleo de laranja, óleo de hortelã-pimentae baunilha (BALBANI et al., 2006). Excipientes e adjuvantes na produção de medicamentos8 Semissólidos, tópicos e supositórios Base para supositórios São usadas na produção de supositórios (via retal) ou óvulos (via vaginal), podendo ser hidrofóbicos ou hidrofílicos. Os supositórios devem fundir a uma temperatura pouco abaixo da temperatura corporal, permitindo que o fármaco presente na base seja libertado por meio de fusão, erosão ou dissolução. Existem muitos tipos de base, que se distinguem por temperatura de fusão, índice de hidroxilo, índice de ácido, valor de iodo, intervalo de solidificação e número de saponificação. Exemplos: manteiga de cacau, polietilenoglicol (PEG) e PEG 3350. Estabilizadores de viscosidade São utilizados em formulações farmacêuticas para estabilizar os sistemas dis- persos, como suspensões ou emulsões. Existem mecanismos que estabilizam a dispersão ou aumentam a viscosidade, como a formação de gel por meio de uma rede tridimensional de moléculas ou de estabilização estereoquímica, em que o componente de macromoléculas no meio da dispersão é adsorvido à superfície das partículas ou gotículas da fase dispersa. Exemplos: ácido algínico, bentonite, carbómero, povidona, alginato de sódio. Base para pomadas Servem como veículos para a aplicação tópica de substâncias medicamentosas e também como emolientes e agentes protetores da pele. As bases podem ser líquidas ou viscosas e são classificadas como: � bases de pomadas oleaginosas — vaselina; � bases de absorção de unguento — lanolina; � bases de pomada para emulsões (A/O ou O/A) — óleos, ceras e parafinas; � bases para pomadas solúveis em água — PEG. Agentes de rigidez Trata-se de uma substância ou mistura de substâncias que aumenta a visco- sidade ou a dureza de uma preparação, especialmente em pomadas e cremes. Esses agentes têm um ponto de fusão elevado, aumentando o ponto de fusão das pomadas e a consistência dos cremes. Em geral, são sólidos e podem ser hidrofóbicos ou hidrófilos. Exemplos: álcool cetílico, cera microcristalina, parafina, álcool estearílico, cera branca, cera de abelha. Excipientes e adjuvantes na produção de medicamentos 9 Emolientes São excipientes usados em formulações tópicas para garantir a lubrificação e o espalhamento adequado, melhorar a textura e combater a potencial secagem ou o impacto irritante de surfactantes sobre a pele. Além disso, formam uma película de proteção que evita o ressecamento e a perda de água da pele. São compostos oleosos, podendo ser líquidos, semissólidos ou sólidos à temperatura ambiente. Exemplos: lanolina, pomada hidrofílica, vaselina, pomada branca, pomada amarela. Formulações parenterais Água para medicamentos A água destilada é usada como solvente, veículo, diluente ou para completar volumes de muitas formulações, sobretudo aquelas sob a forma líquida, como injetáveis, colírios, soluções orais, soluções para inalação, entre outras. Trata-se de um solvente usado como veículo relativamente seguro e barato. A água para injetáveis (estéril, não pirogênica, sem bacteriostáticos, agentes antimicrobianos ou adição de tampões) é uma preparação destinada apenas à administração parenteral, depois da adição de um ou mais fármacos que requerem diluição ou dissolução. Diluentes São usados para dissolver determinada substância para a preparação de uma solução. As soluções podem ser aquosas ou não. Exemplos: água destilada, álcool, óleo de milho, glicerina, álcool isopropílico, óleo mineral. Os diluentes também são usados em produtos farmacêuticos que pre- cisam ser liofilizados, como os antibióticos injetáveis, por exemplo. Nesse caso, esses excipientes fornecem um liofilizado com integridade estrutural, evitando seu colapso e a perda do fármaco por desfragmentação. Exemplos: oligossacarídeos (glicose ou frutose), aminoácidos, polímeros. Agentes isotônicos A fim de evitar a hemólise dos glóbulos vermelhos do sangue e para atenuar a dor e o desconforto produzido por algumas soluções quando injetadas ou quando administradas em mucosas (olhos, nariz, etc.), elas devem ser isotôni- cas, ou seja, devem ter a mesma pressão osmótica do sangue. Esses agentes podem se apresentar na forma iônica, como cloreto de potássio (KCl), cloreto de lítio (LiCl), iodeto de sódio (Nal), brometo de sódio (NaBr) e cloreto de sódio (NaCl), ou na forma não iônica, como glicerol, sorbitol, manitol ou dextrose. Excipientes e adjuvantes na produção de medicamentos10 Aerossóis Gás propulsor São compostos gasosos nas condições ambientais, utilizados em produtos farmacêuticos como sprays nasais, dispositivos inalatórios e cosméticos. Sua forma líquida apresenta baixo ponto de ebulição, sendo relativamente inertes para os fármacos e outros excipientes de uma formulação. Exemplos: dióxido de carbono, diclorofluoroetano, diclorotetrafluoroetano. Avaliação dos excipientes Para desenvolver uma formulação farmacêutica adequada, é fundamental considerar todas as características físico-químicas e biológicas de todos os componentes usados para sua produção. Por isso, um medicamento seguro e eficaz depende da seleção criteriosa dos excipientes a serem adicionados para facilitar a administração (oral, tópica, nasal, parenteral, etc.), garantir liberação e a biodisponibilidade desejada do fármaco, evitar efeitos adversos ou tóxicos, bem como protegê-lo de uma possível degradação (MATOS, 2013). De fato, é de extrema importância avaliar cuidadosamente algumas carac- terísticas dos excipientes, bem como fatores que podem interferir (positiva e negativamente) na qualidade final de um novo medicamento a ser produzido. Assim, as principais características ideais em um excipiente a ser usado em formulação farmacêutica são (SILVA, 2013): � química e fisicamente inerte; � toxicologicamente inativo; � compatível com outros excipientes e fármacos; � capaz de sofrer compressão; � elevada fluidez e escoamento (principalmente para formas sólidas); � fácil disponibilidade (várias fontes); � custos adequados; � fácil armazenamento; � características reproduzíveis (todos os lotes). Nesse sentido, o conhecido estudo de pré-formulação é uma das etapas mais importantes durante o desenvolvimento de novas formulações (me- dicamentos de referência ou genéricos). Seu objetivo principal é avaliar os fatores que afetam a compatibilidade entre fármacos e excipientes, ou seja, Excipientes e adjuvantes na produção de medicamentos 11 identificar as interações físicas ou químicas que podem influenciar e provocar alterações significativas no desempenho farmacotécnico e/ou farmacológico do medicamento final (MATOS, 2013). Como se sabe, os estudos de pré-formulação farmacêutica têm como objetivo avaliar e compreender melhor o comportamento de fármacos e excipientes durante o desenvolvimento de novas formulações. Contudo, algumas indústrias farmacêuticas negligenciam essa importante etapa. Em geral, com o intuito de economizar tempo e recursos financeiros, partem diretamente para a etapa de formulação, principalmente quando se trata da produção de medicamentos genéricos. Porém, um importante aspecto que pode ser identificado em estudos de pré-formulação é a ocorrência de polimorfismo, que é a capacidade de uma substância existir em mais de uma estrutura cristalina. Assim, diferentes formas cristalinas de um mesmo fármaco podem apresentar diferentes propriedades. Isso pode influenciar diretamente o processo de fabricação de um medicamento e, consequentemente, afetar diretamente suas características físico-químicas, dentre outros aspectos importantes a serem considerados para qualidade, eficácia e segurança de um medicamento (SILVEIRA et al., 2019; MATOS, 2013). Assim como a maioria dos fármacos, os excipientes possuem proprieda- des termodinâmicas próprias, podendo interagir com fármacos, com outros excipientes e inclusive com alguns fatores ambientais (luz, temperatura, umidade), como disposto no Quadro 1. Algumas interaçõesfísicas podem, por exemplo, modificar o tempo de dissolução de uma forma farmacêutica sólida ou a absorção de um determinado fármaco (MATOS, 2013). Quadro 1. Principais fatores que afetam a compatibilidade entre fármacos e excipientes farmacêuticos Propriedades do fármaco Propriedades do excipiente Propriedades da formulação Fatores ambientais � Estrutura química � Forma física � Tamanho da partícula � Área superficial � Morfologia � Impurezas � Umidade � Estrutura química � Forma física � Tamanho da partícula � Área superficial � Morfologia � Impurezas � Umidade � Relação fármaco– -excipiente � Granulação � Moagem/mistura � Compressibilidade � Luz � Umidade � Oxigênio � Temperatura Fonte: Adaptado de Matos (2013). Excipientes e adjuvantes na produção de medicamentos12 Já as interações químicas com os excipientes podem causar a degradação do fármaco ou o aparecimento de impurezas (metabólitos), principalmente por meio de reações como hidrólise, oxiredução, fotólise, isomerização e polimerização. Tais reações podem comprometer a integridade do princípio ativo e, como consequência, levar a medicamentos com doses subterapêuticas ou mesmo com a presença de substâncias tóxicas ao organismo do paciente. Atualmente, a avaliação de compatibilidades e interações entre os princi- pais componentes de uma formulação (fármaco e excipientes) envolve algumas técnicas instrumentais analíticas, com destaque para análises térmicas como a calorimetria exploratória diferencial (DSC) e a termogravimetria (TGA). Além das análises térmicas, outras técnicas complementares podem ser empregadas para essa finalidade, como a espectroscopia de infravermelho (IR), ressonância magnética nuclear (RMN), difração de raios por policristais (DRXP), microscopia eletrônica de varredura (MEV) e cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) (MATOS, 2013). Portanto, podemos concluir que os estudos de pré-formulação compreen- dem uma etapa essencial para o desenvolvimento de novos medicamentos, inclusive genéricos, permitindo não apenas identificar as possíveis interações entre fármacos e determinados excipientes, mas também embasar estratégias para minimizá-las ou evitá-las corretamente. Referências ABRANTES, C. F. G. Segurança dos excipientes utilizados pela indústria farmacêutica. 2015. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas)- Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, 2015. Disponível em: https://core.ac.uk/download/ pdf/48583907.pdf. Acesso em: 27 ago. 2020. ARAUJO, A. C. F.; BORIN, M. F. Influência de excipientes farmacêuticos em reações adversas a medicamentos. Brasília Médica, v. 49, n. 4, p. 267–278, 2012. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/e5a3/9e36b11ae4dc9336d3bd033fe80cd45f2df1.pdf. Acesso em: 27 ago. 2020. BALBANI, A. P. S. et al. Excipientes de medicamentos e as informações da bula. 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