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SISTEMAS DE ENSINO, 
LEGISLAÇÃO E GESTÃO 
DEMOCRÁTICA 
AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Katia Cristina Dambiski Soares 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Gestão Democrática 
Conforme já abordamos anteriormente, a estrutura e o funcionamento do 
ensino no nosso país seguem sempre a legislação educacional estabelecida. A 
gestão democrática, inclusive, também é uma definição legal. 
A gestão democrática nas escolas da rede pública do nosso país está 
definida tanto na Constituição Federal (1988) quanto na Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação Nacional (Lei n. 9.394/1996). Nesta etapa, vamos apresentar quais 
são os princípios da gestão democrática na educação conforme a legislação. 
Outra definição da legislação educacional é que todas as instituições 
escolares precisam elaborar e colocar em prática a Proposta Pedagógica, 
também denominada de Projeto Político-Pedagógico (PPP). Vamos refletir sobre 
a importância desse documento para a instituição escolar, bem como sobre a 
necessidade de que sua elaboração e implementação aconteçam de forma 
democrática por meio do planejamento participativo. Essa participação precisa 
envolver toda a comunidade escolar, por meio dos mecanismos de gestão. 
Destes, vamos abordar os conselhos escolares, associações de pais 
professores e funcionários (APPFs) e grêmios estudantis. 
Trataremos ainda da eleição dos diretores escolares e o papel dos 
diretores e pedagogos como gestores da instituição escolar. Os gestores da 
instituição escolar – ou a equipe gestora –, são aqueles que estão à frente da 
organização de todo o trabalho pedagógico a ser desenvolvido. Você, hoje 
estudante de um curso de licenciatura, pode vir a ser um gestor na área 
educacional e, por esse motivo o tema desta etapa é importante. 
Conforme podemos verificar, são muitos os aspectos que envolvem a 
gestão democrática da instituição escolar e vários os desafios que precisam ser 
enfrentados para a sua implementação. Assim, convidamos você a refletir a 
respeito de práticas e políticas educacionais desenvolvidas com vistas a 
construir a gestão democrática. 
 
 
 
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TEMA 1 – PRINCÍPIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA NA LDBEN E 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
O que é gestão escolar? O que define essa gestão como democrática? 
Para responder a essas questões, vamos seguir o entendimento de Vitor 
Paro (2010, p. 763), que conceitua gestão como sinônimo de administração. 
Para o autor, administração é uma forma de mediação para a realização de 
determinados fins. A gestão está, de acordo com o autor, relacionada a uma 
concepção de política como convivência (conflituosa ou não) entre sujeitos. Isso 
significa que, no campo da educação, a gestão precisa ter sempre presente o 
caráter necessariamente democrático da educação para a formação de 
personalidades humano-históricas: 
administração é sempre utilização racional de recursos para realizar 
fins, independentemente da natureza da “coisa” administrada: por isso 
é que podemos falar em administração industrial, administração 
pública, administração privada, administração hospitalar, 
administração escolar, e assim por diante. Tal conceito diz respeito 
também a toda a administração, o que inclui os vários “setores” da 
empresa, ou os vários locais ou momentos do processo a que ela se 
refere. Isso nos permite falar em administração de pessoal, 
administração de material, administração financeira, assim como 
administração de atividades-meio, administração de atividades-fim etc. 
De acordo com esse conceito mais abrangente de administração, a 
mediação a que se refere não se restringe às atividades-meio, porém 
perpassa todo o processo de busca de objetivos. Isso significa que não 
apenas direção, serviços de secretaria e demais atividades que dão 
subsídios e sustentação à atividade pedagógica da escola são de 
natureza administrativa, mas também a atividade pedagógica em si – 
pois a busca de fins não se restringe às atividades meio, mas continua, 
de forma ainda mais intensa, nas atividades-fim (aquelas que envolvem 
diretamente o processo ensino-aprendizado). (Paro, 2010, p. 765) 
Com base na compreensão do que é gestão, ou administração em geral, 
e a gestão escolar, cabe ressaltar que a gestão democrática no Brasil não é uma 
questão de escolha, mas de lei, estabelecida pelo art. 206 da Constituição 
Federal (1988). A Carta Magna indica os princípios do ensino, entre os quais, no 
inciso VI, a gestão democrática do ensino público. Assim, a gestão democrática 
é um princípio do ensino no Brasil, estabelecido pela legislação vigente – e 
princípio não se negocia: ele deve ser seguido, norteando todas as decisões que 
envolvem os processos pedagógicos. 
Em conformidade com a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação Nacional (LDBEN, Lei n. 9. 394/1996) também define como 
princípio a gestão democrática em seu art. 3º, inciso VIII. Em seu art. 14, ela 
 
 
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estabelece que estados, municípios e o Distrito Federal definirão as normas da 
gestão democrática do ensino público na Educação Básica (Educação Infantil, 
Ensino Fundamental e Ensino Médio), de acordo com as suas peculiaridades e 
conforme os seguintes princípios: 
I. Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto 
pedagógico da escola; 
II. Participação das comunidades escolar e local em Conselhos Escolares e 
em Fóruns dos Conselhos Escolares ou equivalentes. 
Importa destacar que, além da Educação Básica, a gestão democrática é 
princípio também no Ensino Superior, conforme a LDBEN indica em seu art. 56: 
As instituições públicas de educação superior obedecerão ao princípio 
da gestão transparente e democrática, assegurada a existência de 
órgãos colegiados deliberativos, dos quais participarão os segmentos 
da comunidade institucional, local e regional. 
Uma vez que se compreenda a gestão democrática como prescrição 
legal, faz-se necessário aprofundarmos o conhecimento a respeito da concepção 
de gestão democrática, principalmente sobre como garantir a participação de 
todos os envolvidos em processos de planejamento e implementação das 
práticas pedagógicas a serem desenvolvidas. Este será o próximo assunto que 
vamos abordar. 
TEMA 2 – PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS 
POLÍTICOS PEDAGÓGICOS 
A necessidade de as escolas públicas da Educação Básica elaborarem 
seus projetos políticos pedagógicos é uma atribuição da LDBEN. Tal atribuição, 
articulada com a definição constitucional de que as escolas no Brasil devem 
seguir a proposta da gestão democrática, nos direcionando a saber mais sobre 
o planejamento participativo. 
O planejamento participativo visa garantir que a elaboração dos projetos 
políticos pedagógicos seja coletiva, buscando que todos os sujeitos envolvidos 
no processo educacional possam participar efetivamente da sua escrita, das 
definições envolvidas e das decisões a serem tomadas acerca da sua 
implementação. Nesse sentido, é inconcebível que propostas pedagógicas 
sejam elaboradas apenas pelos gestores da instituição escolar, por seus 
diretores ou pedagogos. Também é inadmissível que as propostas pedagógicas 
 
 
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sejam elaboradas somente para dar conta de uma atividade burocrática a ser 
entregue para as secretarias de educação, para depois ficarem guardadas nas 
gavetas da direção escolar. Por isso, é importante que todos os segmentos da 
escola participem e tenham ciência do que constitui o PPP, além de serem 
diretamente envolvidos na sua execução1. 
Os segmentos envolvidos no processo de elaboração de um PPP são os 
estudantes, professores, pais, funcionários e toda a comunidade escolar. Aliás, 
o termo “comunidade” refere-se ao que é comum a todos os envolvidos em um 
determinado projeto, voltados para um determinado objetivo – e o objetivo da 
instituição escolar é a efetivação da aprendizagem. 
O planejamento participativo deve orientar todas as ações desenvolvidasna escola, tendo como eixo norteador a preocupação comum, de toda a 
comunidade escolar, com a elaboração das propostas de experiências que serão 
desenvolvidas para garantir a aprendizagem dos estudantes, por meio dos 
diversos componentes curriculares que engloba. 
 Para Libâneo (1992, p. 221), o planejamento global da escola envolve o 
processo de reflexão, de decisões sobre a organização e o funcionamento da 
instituição escolar. É um processo de racionalização, organização e 
coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática 
do contexto social. 
TEMA 3 – PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE ESCOLAR: GRÊMIOS, 
CONSELHOS ESCOLARES E ASSOCIAÇÕES 
A gestão colegiada se efetiva pela participação na tomada de decisões, e 
não apenas peça sua execução. A escola precisa ter autonomia na elaboração 
e desenvolvimento do seu PPP e na administração dos seus recursos advindos 
da mantenedora. Nessa direção, o processo de construção de uma gestão 
substancialmente democrática pressupõe, entre outras ações, o fortalecimento 
dos órgãos de decisão colegiados. Ressaltamos que a participação da 
comunidade escolar é elemento essencial para o desenvolvimento da gestão 
democrática. Essa participação não é um processo natural: precisa ser 
construída intencionalmente por meio da implementação de diversos 
 
1 Usamos como sinônimos os termos “projeto político-pedagógico” e “proposta pedagógica”, 
dado que a legislação em vigor atualmente usa ambas as formas (LDBEN, 1996). 
 
 
6 
mecanismos que podem auxiliar na efetivação da gestão democrática. Entre 
estes mecanismos e órgãos de gestão colegiada, vamos destacar aqui os 
grêmios estudantis, os Conselhos Escolares e as Associações de Pais 
Professores e Funcionários (APPFs). 
O grêmio estudantil, como mecanismo de organização e 
representatividade dos estudantes, é um importante instrumento de gestão 
democrática, podendo colaborar com o planejamento participativo e com a 
organização do trabalho pedagógico desenvolvido na escola na medida em que 
promove o envolvimento dos estudantes como sujeitos de sua própria 
aprendizagem. Os estudantes que têm a oportunidade de participar de um 
grêmio estudantil podem vir a ampliar sua formação política e pedagógica ao 
aprender a problematizar, buscar alternativas às situações-problema reais que 
envolvem a escola e a comunidade local, além de serem estimulados para a 
resolução de conflitos e a melhoria no relacionamento interpessoal e no diálogo. 
O Conselho Escolar ou Conselho de Escola é o órgão máximo de 
decisão na escola; é expressão da participação coletiva e, ao mesmo tempo, 
instrumento para efetivar a gestão democrática. 
O art. 14 da LDBEN estabelece: 
§ 1º O Conselho Escolar, órgão deliberativo, será composto do Diretor 
da Escola, membro nato, e de representantes das comunidades 
escolar e local, eleitos por seus pares nas seguintes categorias: 
I – professores, orientadores educacionais, supervisores e 
administradores escolares; 
II – demais servidores públicos que exerçam atividades administrativas 
na escola; 
III – estudantes; 
IV – pais ou responsáveis; 
V – membros da comunidade local. 
O Conselho Escolar possibilita que, por meio de representantes de cada 
segmento da escola (pais, professores, funcionários, alunos e a própria direção), 
haja a participação efetiva no processo de tomada de decisões e no 
funcionamento da organização escolar, pois é preciso criar mecanismos que 
viabilizem o envolvimento de todos na escola, utilizando o Conselho Escolar 
como instrumento comprometido com a construção de uma escola autônoma e 
democrática. O princípio da representatividade assegura o equilíbrio entre os 
diferentes segmentos, de modo que um deles não se sobreponha aos demais, e 
que a direção escolar respeite a vontade da maioria. 
 
 
7 
O Conselho Escolar deve ter estatuto próprio que oriente e determine suas 
ações, objetivos e finalidades, e é o órgão máximo de decisão da escola. 
Ressaltamos a natureza política e pedagógica do Conselho Escolar, pois, ao 
definir os rumos da escola, este deve se pautar na natureza e especificidade do 
trabalho escolar, um trabalho não material cujo norte é a socialização de 
conhecimentos. Assim, podemos dizer que o Conselho Escolar é o guardião do 
PPP da escola, pois cuida da existência e efetivação deste. Conforme Souza 
(2019, p. 284), 
A existência do PPP e sua elaboração com maior participação docente 
também é um elemento que dialoga com a legislação educacional, pois 
a exigência mencionada no artigo 14 da LDB se estende à participação 
dos profissionais da educação na confecção deste documento de 
referência escolar. [...] tanto um (CE) quanto outro (PPP), são 
instrumentos importantes para oportunizar a participação e a condição 
democrática na escola. 
Ademais, o Conselho Escolar também é um instrumento de fomento ao 
exercício democrático, ao dar vez e voz aos diferentes segmentos da 
comunidade escolar, ampliando as discussões na busca da construção dos 
consensos possíveis em cada determinado momento histórico. 
A Associação de Pais, Professores e Funcionários (APPF), é uma 
instituição jurídica, de direito privado, um órgão de representação de pais, 
professores e funcionários da Unidade Escolar, não devendo ter caráter político 
partidário, religioso, racial, nem fins lucrativos. O objetivo principal da APPF deve 
ser possibilitar a discussão, representar os interesses da comunidade escolar e 
sugerir ações que oportunizem a integração família-escola-comunidade. Além 
do mais, a APPF tem a atribuição de gerenciar e administrar os recursos 
financeiros próprios e repassados por convênios, ou pelas mantenedoras. 
A participação ativa da APPF e do Conselho de Escola, por meio do 
diálogo aberto, possibilita o exercício de uma gestão democrática, o crescimento 
do grupo e a construção de uma escola de qualidade. 
Por meio dos mecanismos ou órgãos de gestão colegiada, o trabalho 
educativo realizado na instituição escolar se materializa como sendo 
essencialmente coletivo: 
O trabalho escolar é essencialmente coletivo. A escola é uma 
instituição que só se faz no coletivo. Assim, o desenvolvimento de 
ações que promovam maior horizontalidade nas relações de trabalho 
na escola contribui para o incremento da própria natureza do trabalho 
escolar. Ou, dito de outra forma, quão mais horizontal a escola 
consegue operar, mais coletiva ela se faz. Quão mais coletiva ela se 
 
 
8 
produz, mais se aproxima da sua função formadora e de promoção da 
ação comunicativa, portanto, torna-se uma instituição com mais 
qualidade educacional. (Souza, 2019, p. 279) 
Desse modo, o trabalho escolar é uma forma de trabalho coletivo e, sob 
uma perspectiva democrática, deve prezar sempre pela participação de toda a 
comunidade escolar, buscando desempenhar sua função formadora e de 
promoção da ação comunicativa em prol da qualidade da educação. 
Cabe agora indagar: Qual o papel da equipe gestora (direção e 
pedagogos) nesse processo em busca da gestão democrática da escola? 
TEMA 4 – LIDERANÇA E MEDIAÇÃO NO AMBIENTE EDUCACIONAL 
A direção escolar e os pedagogos são aqueles que compõem a equipe 
gestora que coordena o trabalho realizado por toda a escola. Coordenar significa 
fazer junto, como uma orquestra necessita de um maestro para conseguir atingir 
a harmonia na música. Entendemos que direção e pedagogos juntos são os 
gestores da instituição escolar, não se sobrepõem, nem se colocam acima dos 
professores e funcionários da escola. 
Os gestores da instituição escolar têm a missão de liderar os professores, 
funcionários e administrativos para a efetivação do que é definido coletivamente 
e de forma democrática, no PPP da escola. Contudo, esse trabalho não é fácil e 
exige a mediação de conflitos que podem vir a surgir no ambiente educacional e 
que, com certeza, não são poucos. É necessário saber lidar comas contradições 
que podem existir em relação às determinações legais ou advindas da 
mantenedora devido a diferentes concepções de mundo e de educação dos 
professores e funcionários, à compreensão dos pais e dos alunos em relação à 
função social da escola e à participação da comunidade nesta: 
sobre os professores que assumem a gestão escolar pesa a 
expectativa do papel do gestor definido na lógica gerencial, presente 
nos discursos políticos, administrativos, culturais, educacionais e 
econômicos, o que exige, no cotidiano das escolas, ações efetivas que 
coadunam com essa concepção. (Paschoalino, 2018, p. 1304) 
Precisamos considerar que a função do diretor escolar não é apenas de 
cunho administrativo, mas também pedagógico. O pedagógico e o administrativo 
deveriam estar sempre integrados e articulados, considerando o objetivo da 
escola, que é a efetivação do processo ensino-aprendizagem. Tanto os diretores 
quanto os pedagogos são líderes no contexto escolar e, dependendo do caminho 
 
 
9 
que eles apontarem para a sua equipe, os rumos que a escola vai tomar poderão 
ser bem diferentes. 
Importante destacar que o processo educativo é político e, portanto, 
tensionado o tempo todo. As visões diferentes e também os interesses 
distintos permeiam as relações escolares e, muitas vezes, surgem os 
conflitos. Mas não adianta adotar a perspectiva ingênua de tentar 
eliminá-los; pelo contrário, o reconhecimento de que eles existem e 
precisam ser explicitados e discutidos possibilita a construção de 
estratégias coletivas capazes de alterar a realidade. (Paschoalino, 
2018, p. 1309) 
Saber lidar com os conflitos e mobilizar os conhecimentos em prol da 
resolução dos problemas que ocorrem no dia a dia da escola são habilidades 
necessárias ao gestor escolar. O atual contexto educacional exige que os 
gestores saibam respeitar as singularidades e as especificidades da instituição 
em que trabalham, entendendo que 
em cada escola, o gestor assume a condição de liderança e que as 
relações interpessoais precisam ser observadas e melhoradas para a 
formação de uma boa equipe de trabalho, torna-se essencial a 
formação contínua desse profissional, que enfrenta cotidianamente 
uma diversidade de questões e problemas. (Paschoalino, 2018, p. 
1317) 
A equipe gestora lida o tempo todo com as relações interpessoais e com 
desafios e problemas que envolvem tanto a mantenedora e os funcionários da 
escola quanto pais, alunos e a comunidade em geral. Para conseguir dar conta 
das demandas impostas pelo cotidiano escolar é preciso que os gestores sejam 
profissionais competentes, com domínio teórico-prático do seu ofício; porém, tão 
relevante quanto isso é ter habilidade para lidar com pessoas, mediar conflitos, 
construir consensos e estimular o trabalho em equipe entendido como trabalho 
coletivo. 
TEMA 5 – DESAFIOS PARA A EFETIVAÇÃO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA 
São muitos os desafios para a implementação da gestão democrática na 
educação; embora esta seja uma prescrição legal, não está dada, tampouco é 
natural: precisa ser construída continuamente, pois é um processo. 
Se a gestão é administração e organização dos meios para atingir 
determinados fins, é preciso considerar que, na prática, existem diferentes 
modelos de gestão, nem sempre democráticos. Todavia, como já mencionamos, 
por lei, a gestão democrática é obrigatória nas instituições públicas de ensino. 
Entretanto, entre a prescrição legal e a materialização de uma gestão 
 
 
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democrática, há um longo caminho a percorrer, e neste há obstáculos e desafios 
a serem transpostos, como a formação (inicial e continuada) dos profissionais da 
escola para compreensão dos fundamentos e princípios da gestão democrática; 
a implementação dos mecanismos de gestão (Conselho Escolar, assembleias, 
associações, grêmio estudantil, entre outros); eleição dos diretores das 
instituições escolares; participação efetiva da comunidade na escola; elaboração 
e implementação do PPP com participação de todos os segmentos. 
Todos os desafios aqui elencados são também ferramentas que podem 
contribuir para a gestão democrática; porém, a existência de cada um não 
garante que ela de fato ocorra. Logo, são condições para seu desenvolvimento: 
O uso da expressão “condições de gestão democrática” tem relação 
com o fato de que os usuais procedimentos adotados nas escolas e 
redes públicas de ensino com vistas à constituição ou incremento da 
GD são, ao nosso ver, ferramentas. Isso significa que não é a 
existência de um ou vários desses procedimentos que garante o 
desenvolvimento democrático das escolas públicas. (Souza, 2019, p. 
273) 
O diretor escolar, além de ser escolhido por todos os envolvidos no 
processo educativo (pais/alunos e funcionários), supera a visão tradicional de 
quem manda, sob uma perspectiva verticalizada, para uma gestão horizontal, 
compreendendo que trabalha com pares e que é necessário tomar as decisões 
em conjunto, respeitando sempre a vontade da maioria, ao mesmo tempo em 
que respeita a legislação vigente e as normativas dos órgãos mantenedores. 
prover diretores por meio de eleições, nas quais a comunidade escolar 
tenha o poder decisório sobre quem ocupará a função/cargo2 de 
dirigente escolar, é algo decisivamente democrático. Por outro lado, 
levar um profissional a ocupar o lugar de diretor escolar a partir de uma 
indicação (política ou técnica) é visto como um procedimento que 
contraria o princípio democrático. (Souza, 2019, p. 274) 
A escola tem autonomia para desenvolver o seu trabalho, com base no 
seu PPP e a equipe gestora (diretor e pedagogos) que está à frente do trabalho 
educativo realizado. No entanto, a autonomia da escola não pode ser confundida 
com deixar fazer o que se quer livremente. A autonomia exige considerar a 
legislação educacional vigente e as ações, sob um olhar democrático, precisam 
ser baseadas na participação, no diálogo, no respeito e na colaboração mútua 
que caracteriza o trabalho coletivo. As ferramentas apresentadas (formação dos 
profissionais, Conselho Escolar, APPF, grêmio estudantil, assembleias, eleição 
de diretores) podem potencializar a efetivação da gestão democrática: 
 
 
11 
são elementos de incentivo à participação e, por isso, 
potencializadores do contraditório, uma vez que a participação cria as 
condições para a gestão democrática e potencializa o diálogo (Souza, 
2009). Sem o diálogo, não há espaço para a contradição, para o 
pensamento diferente, para a diversidade de opiniões, o que significa 
que, sem contradição, sem diversidade, não há democracia. (Souza, 
2019, p. 273) 
Nesse ponto, destacamos que a gestão democrática precisa ser 
desenvolvida em todos os âmbitos da escola – não apenas entre os profissionais 
da escola –, mas na relação com os pais, com os alunos, dentro das salas de 
aula e na relação da escola com a comunidade. Esse é um grande desafio, um 
exercício constante, pois lidar com quem pensa diferente, com a contradição, 
escutar e respeitar o pluralismo de ideias e concepções, não é fácil. O ambiente 
escolar, à sua maneira, reflete as relações conflituosas que existem na própria 
sociedade. Por outro lado, ao propiciar na escola a vivência de relações 
democráticas, podemos estar contribuindo para que as pessoas que a 
constituem exercitem a democracia também em outros círculos de convivência 
social. 
NA PRÁTICA 
Vamos agora buscar conhecer um pouco mais sobre os órgãos de gestão 
colegiada. Propomos nesta atividade a realização de uma entrevista. 
1. Você irá visitar uma escola de Educação Básica (pode ser de Educação 
Infantil, Ensino Médio ou Ensino Fundamental) e deverá conversar com um 
membro da equipe gestora (direção ou pedagogos) sobre a existência e 
atuação do Conselho Escolar, da APPF e do grêmio estudantil (o grêmio 
geralmente é desenvolvido com estudantes dos anos finais do Ensino 
Fundamental e do Ensino Médio; o que significa que, com as criançasmenores, na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, podem 
existir outras experiências voltadas para o exercício da democracia, como a 
eleição de representantes ou monitores de turma). Se você não conseguir 
conversar com a equipe gestora, poderá conversar com algum professor da 
escola. 
2. O que perguntar para o entrevistado? 
• Cargo/função do entrevistado; 
• Tempo de atuação na educação em geral e na escola em específico; 
• Há, na escola, Conselho Escolar, APPF e grêmio estudantil instituídos? 
 
 
12 
• Como funcionam esses mecanismos de gestão? São atuantes? 
• Quais os maiores desafios para a implementação da gestão democrática 
por meio desses mecanismos? 
• Poderia dar um exemplo de atuação de um destes mecanismos de gestão 
(Conselho Escolar, APPF ou grêmio estudantil)? 
Observação: As questões acima propostas, são apenas sugestões; você 
pode organizar as perguntas para a conversa com o entrevistado da maneira 
que melhor lhe convier, ou for necessário. Peça permissão para registrar de 
alguma forma as respostas, por escrito ou gravando, o que permitirá poder 
organizar as informações que obteve. 
3. Registre a entrevista realizada em forma de texto. Não é necessário informar 
o nome do entrevistado, nem da escola, mas apenas o cargo do profissional, 
a cidade/estado da escola e a etapa da Educação Básica a que a escola 
atende. 
4. Envie seu texto para a tutoria da disciplina no AVA. Será ótimo saber o que 
você aprendeu acerca da existência e da atuação dos órgãos de gestão na 
escola. Se tiver interesse de participar uma aula ao vivo de seu curso e relatar 
sobre a atividade desenvolvida para seus colegas, avise o(a) professor(a) por 
meio da tutoria. 
FINALIZANDO 
Nesta etapa, abordamos a gestão democrática na educação e 
entendemos que ela é prescrita pela Constituição e pela Lei de Diretrizes e 
Bases da Educação Nacional (LDBEN). Apresentamos os princípios da gestão 
democrática conforme a legislação. 
Vimos que todas as instituições escolares, em conformidade com a 
legislação educacional vigente, precisam elaborar e colocar em prática a 
Proposta Pedagógica, também denominada de Projeto Político-Pedagógico 
(PPP). Refletimos sobre a importância desse documento para a instituição 
escolar como norte do trabalho pedagógico que será desenvolvido. Destacamos 
a necessidade de que a elaboração e implementação do PPP aconteça de forma 
democrática, por meio do planejamento participativo. Por sua vez, o 
planejamento participativo precisa envolver toda a comunidade escolar, por meio 
 
 
13 
dos mecanismos de gestão, como os Conselhos Escolares, Associações de Pais 
Professores e Funcionários (APPFs) e o grêmio estudantil. 
Além do mais, destacamos a importância da eleição dos diretores 
escolares e o papel da equipe gestora da instituição escolar. A equipe gestora 
(direção e pedagogos) estão à frente da organização do trabalho pedagógico 
desenvolvido; são líderes e mediadores das relações, muitas vezes conflituosas 
e contraditórias, que se desenvolvem no ambiente escolar. 
Compreendemos que são muitos os aspectos que envolvem a gestão 
democrática na educação, e há muitos desafios e problemas a serem superados. 
Esperamos que esta etapa tenha propiciado a você reflexões importantes 
a respeito da gestão democrática e sua importância para a qualidade da 
educação. 
 
 
 
 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. 
Disponível em: 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. 
Acesso em: 18 mar. 2025. 
BRASIL, Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, 
Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 18 mar. 2025. 
LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1992. 
PARO, V. H. A educação, a política e a administração: reflexões sobre a prática 
do diretor de escola. Educação e Pesquisa, v. 36, n. 3, p. 763-778, set. 2010. 
PASCHOALINO, J. B. de Q. Gestão escolar na educação básica: construções e 
estratégias frente aos desafios profissionais. Educação & Realidade, v. 43, n. 
4, p. 1301-1320, out. 2018. 
SOUZA, Â. R. de. As condições de democratização da gestão da escola pública 
brasileira. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, v. 27, n. 103, 
p. 271-290, abr. 2019.

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