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SISTEMAS DE ENSINO, LEGISLAÇÃO E GESTÃO DEMOCRÁTICA AULA 4 Profª Katia Cristina Dambiski Soares 2 CONVERSA INICIAL Gestão Democrática Conforme já abordamos anteriormente, a estrutura e o funcionamento do ensino no nosso país seguem sempre a legislação educacional estabelecida. A gestão democrática, inclusive, também é uma definição legal. A gestão democrática nas escolas da rede pública do nosso país está definida tanto na Constituição Federal (1988) quanto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/1996). Nesta etapa, vamos apresentar quais são os princípios da gestão democrática na educação conforme a legislação. Outra definição da legislação educacional é que todas as instituições escolares precisam elaborar e colocar em prática a Proposta Pedagógica, também denominada de Projeto Político-Pedagógico (PPP). Vamos refletir sobre a importância desse documento para a instituição escolar, bem como sobre a necessidade de que sua elaboração e implementação aconteçam de forma democrática por meio do planejamento participativo. Essa participação precisa envolver toda a comunidade escolar, por meio dos mecanismos de gestão. Destes, vamos abordar os conselhos escolares, associações de pais professores e funcionários (APPFs) e grêmios estudantis. Trataremos ainda da eleição dos diretores escolares e o papel dos diretores e pedagogos como gestores da instituição escolar. Os gestores da instituição escolar – ou a equipe gestora –, são aqueles que estão à frente da organização de todo o trabalho pedagógico a ser desenvolvido. Você, hoje estudante de um curso de licenciatura, pode vir a ser um gestor na área educacional e, por esse motivo o tema desta etapa é importante. Conforme podemos verificar, são muitos os aspectos que envolvem a gestão democrática da instituição escolar e vários os desafios que precisam ser enfrentados para a sua implementação. Assim, convidamos você a refletir a respeito de práticas e políticas educacionais desenvolvidas com vistas a construir a gestão democrática. 3 TEMA 1 – PRINCÍPIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA NA LDBEN E CONSTITUIÇÃO FEDERAL O que é gestão escolar? O que define essa gestão como democrática? Para responder a essas questões, vamos seguir o entendimento de Vitor Paro (2010, p. 763), que conceitua gestão como sinônimo de administração. Para o autor, administração é uma forma de mediação para a realização de determinados fins. A gestão está, de acordo com o autor, relacionada a uma concepção de política como convivência (conflituosa ou não) entre sujeitos. Isso significa que, no campo da educação, a gestão precisa ter sempre presente o caráter necessariamente democrático da educação para a formação de personalidades humano-históricas: administração é sempre utilização racional de recursos para realizar fins, independentemente da natureza da “coisa” administrada: por isso é que podemos falar em administração industrial, administração pública, administração privada, administração hospitalar, administração escolar, e assim por diante. Tal conceito diz respeito também a toda a administração, o que inclui os vários “setores” da empresa, ou os vários locais ou momentos do processo a que ela se refere. Isso nos permite falar em administração de pessoal, administração de material, administração financeira, assim como administração de atividades-meio, administração de atividades-fim etc. De acordo com esse conceito mais abrangente de administração, a mediação a que se refere não se restringe às atividades-meio, porém perpassa todo o processo de busca de objetivos. Isso significa que não apenas direção, serviços de secretaria e demais atividades que dão subsídios e sustentação à atividade pedagógica da escola são de natureza administrativa, mas também a atividade pedagógica em si – pois a busca de fins não se restringe às atividades meio, mas continua, de forma ainda mais intensa, nas atividades-fim (aquelas que envolvem diretamente o processo ensino-aprendizado). (Paro, 2010, p. 765) Com base na compreensão do que é gestão, ou administração em geral, e a gestão escolar, cabe ressaltar que a gestão democrática no Brasil não é uma questão de escolha, mas de lei, estabelecida pelo art. 206 da Constituição Federal (1988). A Carta Magna indica os princípios do ensino, entre os quais, no inciso VI, a gestão democrática do ensino público. Assim, a gestão democrática é um princípio do ensino no Brasil, estabelecido pela legislação vigente – e princípio não se negocia: ele deve ser seguido, norteando todas as decisões que envolvem os processos pedagógicos. Em conformidade com a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, Lei n. 9. 394/1996) também define como princípio a gestão democrática em seu art. 3º, inciso VIII. Em seu art. 14, ela 4 estabelece que estados, municípios e o Distrito Federal definirão as normas da gestão democrática do ensino público na Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I. Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II. Participação das comunidades escolar e local em Conselhos Escolares e em Fóruns dos Conselhos Escolares ou equivalentes. Importa destacar que, além da Educação Básica, a gestão democrática é princípio também no Ensino Superior, conforme a LDBEN indica em seu art. 56: As instituições públicas de educação superior obedecerão ao princípio da gestão transparente e democrática, assegurada a existência de órgãos colegiados deliberativos, dos quais participarão os segmentos da comunidade institucional, local e regional. Uma vez que se compreenda a gestão democrática como prescrição legal, faz-se necessário aprofundarmos o conhecimento a respeito da concepção de gestão democrática, principalmente sobre como garantir a participação de todos os envolvidos em processos de planejamento e implementação das práticas pedagógicas a serem desenvolvidas. Este será o próximo assunto que vamos abordar. TEMA 2 – PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS POLÍTICOS PEDAGÓGICOS A necessidade de as escolas públicas da Educação Básica elaborarem seus projetos políticos pedagógicos é uma atribuição da LDBEN. Tal atribuição, articulada com a definição constitucional de que as escolas no Brasil devem seguir a proposta da gestão democrática, nos direcionando a saber mais sobre o planejamento participativo. O planejamento participativo visa garantir que a elaboração dos projetos políticos pedagógicos seja coletiva, buscando que todos os sujeitos envolvidos no processo educacional possam participar efetivamente da sua escrita, das definições envolvidas e das decisões a serem tomadas acerca da sua implementação. Nesse sentido, é inconcebível que propostas pedagógicas sejam elaboradas apenas pelos gestores da instituição escolar, por seus diretores ou pedagogos. Também é inadmissível que as propostas pedagógicas 5 sejam elaboradas somente para dar conta de uma atividade burocrática a ser entregue para as secretarias de educação, para depois ficarem guardadas nas gavetas da direção escolar. Por isso, é importante que todos os segmentos da escola participem e tenham ciência do que constitui o PPP, além de serem diretamente envolvidos na sua execução1. Os segmentos envolvidos no processo de elaboração de um PPP são os estudantes, professores, pais, funcionários e toda a comunidade escolar. Aliás, o termo “comunidade” refere-se ao que é comum a todos os envolvidos em um determinado projeto, voltados para um determinado objetivo – e o objetivo da instituição escolar é a efetivação da aprendizagem. O planejamento participativo deve orientar todas as ações desenvolvidasna escola, tendo como eixo norteador a preocupação comum, de toda a comunidade escolar, com a elaboração das propostas de experiências que serão desenvolvidas para garantir a aprendizagem dos estudantes, por meio dos diversos componentes curriculares que engloba. Para Libâneo (1992, p. 221), o planejamento global da escola envolve o processo de reflexão, de decisões sobre a organização e o funcionamento da instituição escolar. É um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social. TEMA 3 – PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE ESCOLAR: GRÊMIOS, CONSELHOS ESCOLARES E ASSOCIAÇÕES A gestão colegiada se efetiva pela participação na tomada de decisões, e não apenas peça sua execução. A escola precisa ter autonomia na elaboração e desenvolvimento do seu PPP e na administração dos seus recursos advindos da mantenedora. Nessa direção, o processo de construção de uma gestão substancialmente democrática pressupõe, entre outras ações, o fortalecimento dos órgãos de decisão colegiados. Ressaltamos que a participação da comunidade escolar é elemento essencial para o desenvolvimento da gestão democrática. Essa participação não é um processo natural: precisa ser construída intencionalmente por meio da implementação de diversos 1 Usamos como sinônimos os termos “projeto político-pedagógico” e “proposta pedagógica”, dado que a legislação em vigor atualmente usa ambas as formas (LDBEN, 1996). 6 mecanismos que podem auxiliar na efetivação da gestão democrática. Entre estes mecanismos e órgãos de gestão colegiada, vamos destacar aqui os grêmios estudantis, os Conselhos Escolares e as Associações de Pais Professores e Funcionários (APPFs). O grêmio estudantil, como mecanismo de organização e representatividade dos estudantes, é um importante instrumento de gestão democrática, podendo colaborar com o planejamento participativo e com a organização do trabalho pedagógico desenvolvido na escola na medida em que promove o envolvimento dos estudantes como sujeitos de sua própria aprendizagem. Os estudantes que têm a oportunidade de participar de um grêmio estudantil podem vir a ampliar sua formação política e pedagógica ao aprender a problematizar, buscar alternativas às situações-problema reais que envolvem a escola e a comunidade local, além de serem estimulados para a resolução de conflitos e a melhoria no relacionamento interpessoal e no diálogo. O Conselho Escolar ou Conselho de Escola é o órgão máximo de decisão na escola; é expressão da participação coletiva e, ao mesmo tempo, instrumento para efetivar a gestão democrática. O art. 14 da LDBEN estabelece: § 1º O Conselho Escolar, órgão deliberativo, será composto do Diretor da Escola, membro nato, e de representantes das comunidades escolar e local, eleitos por seus pares nas seguintes categorias: I – professores, orientadores educacionais, supervisores e administradores escolares; II – demais servidores públicos que exerçam atividades administrativas na escola; III – estudantes; IV – pais ou responsáveis; V – membros da comunidade local. O Conselho Escolar possibilita que, por meio de representantes de cada segmento da escola (pais, professores, funcionários, alunos e a própria direção), haja a participação efetiva no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar, pois é preciso criar mecanismos que viabilizem o envolvimento de todos na escola, utilizando o Conselho Escolar como instrumento comprometido com a construção de uma escola autônoma e democrática. O princípio da representatividade assegura o equilíbrio entre os diferentes segmentos, de modo que um deles não se sobreponha aos demais, e que a direção escolar respeite a vontade da maioria. 7 O Conselho Escolar deve ter estatuto próprio que oriente e determine suas ações, objetivos e finalidades, e é o órgão máximo de decisão da escola. Ressaltamos a natureza política e pedagógica do Conselho Escolar, pois, ao definir os rumos da escola, este deve se pautar na natureza e especificidade do trabalho escolar, um trabalho não material cujo norte é a socialização de conhecimentos. Assim, podemos dizer que o Conselho Escolar é o guardião do PPP da escola, pois cuida da existência e efetivação deste. Conforme Souza (2019, p. 284), A existência do PPP e sua elaboração com maior participação docente também é um elemento que dialoga com a legislação educacional, pois a exigência mencionada no artigo 14 da LDB se estende à participação dos profissionais da educação na confecção deste documento de referência escolar. [...] tanto um (CE) quanto outro (PPP), são instrumentos importantes para oportunizar a participação e a condição democrática na escola. Ademais, o Conselho Escolar também é um instrumento de fomento ao exercício democrático, ao dar vez e voz aos diferentes segmentos da comunidade escolar, ampliando as discussões na busca da construção dos consensos possíveis em cada determinado momento histórico. A Associação de Pais, Professores e Funcionários (APPF), é uma instituição jurídica, de direito privado, um órgão de representação de pais, professores e funcionários da Unidade Escolar, não devendo ter caráter político partidário, religioso, racial, nem fins lucrativos. O objetivo principal da APPF deve ser possibilitar a discussão, representar os interesses da comunidade escolar e sugerir ações que oportunizem a integração família-escola-comunidade. Além do mais, a APPF tem a atribuição de gerenciar e administrar os recursos financeiros próprios e repassados por convênios, ou pelas mantenedoras. A participação ativa da APPF e do Conselho de Escola, por meio do diálogo aberto, possibilita o exercício de uma gestão democrática, o crescimento do grupo e a construção de uma escola de qualidade. Por meio dos mecanismos ou órgãos de gestão colegiada, o trabalho educativo realizado na instituição escolar se materializa como sendo essencialmente coletivo: O trabalho escolar é essencialmente coletivo. A escola é uma instituição que só se faz no coletivo. Assim, o desenvolvimento de ações que promovam maior horizontalidade nas relações de trabalho na escola contribui para o incremento da própria natureza do trabalho escolar. Ou, dito de outra forma, quão mais horizontal a escola consegue operar, mais coletiva ela se faz. Quão mais coletiva ela se 8 produz, mais se aproxima da sua função formadora e de promoção da ação comunicativa, portanto, torna-se uma instituição com mais qualidade educacional. (Souza, 2019, p. 279) Desse modo, o trabalho escolar é uma forma de trabalho coletivo e, sob uma perspectiva democrática, deve prezar sempre pela participação de toda a comunidade escolar, buscando desempenhar sua função formadora e de promoção da ação comunicativa em prol da qualidade da educação. Cabe agora indagar: Qual o papel da equipe gestora (direção e pedagogos) nesse processo em busca da gestão democrática da escola? TEMA 4 – LIDERANÇA E MEDIAÇÃO NO AMBIENTE EDUCACIONAL A direção escolar e os pedagogos são aqueles que compõem a equipe gestora que coordena o trabalho realizado por toda a escola. Coordenar significa fazer junto, como uma orquestra necessita de um maestro para conseguir atingir a harmonia na música. Entendemos que direção e pedagogos juntos são os gestores da instituição escolar, não se sobrepõem, nem se colocam acima dos professores e funcionários da escola. Os gestores da instituição escolar têm a missão de liderar os professores, funcionários e administrativos para a efetivação do que é definido coletivamente e de forma democrática, no PPP da escola. Contudo, esse trabalho não é fácil e exige a mediação de conflitos que podem vir a surgir no ambiente educacional e que, com certeza, não são poucos. É necessário saber lidar comas contradições que podem existir em relação às determinações legais ou advindas da mantenedora devido a diferentes concepções de mundo e de educação dos professores e funcionários, à compreensão dos pais e dos alunos em relação à função social da escola e à participação da comunidade nesta: sobre os professores que assumem a gestão escolar pesa a expectativa do papel do gestor definido na lógica gerencial, presente nos discursos políticos, administrativos, culturais, educacionais e econômicos, o que exige, no cotidiano das escolas, ações efetivas que coadunam com essa concepção. (Paschoalino, 2018, p. 1304) Precisamos considerar que a função do diretor escolar não é apenas de cunho administrativo, mas também pedagógico. O pedagógico e o administrativo deveriam estar sempre integrados e articulados, considerando o objetivo da escola, que é a efetivação do processo ensino-aprendizagem. Tanto os diretores quanto os pedagogos são líderes no contexto escolar e, dependendo do caminho 9 que eles apontarem para a sua equipe, os rumos que a escola vai tomar poderão ser bem diferentes. Importante destacar que o processo educativo é político e, portanto, tensionado o tempo todo. As visões diferentes e também os interesses distintos permeiam as relações escolares e, muitas vezes, surgem os conflitos. Mas não adianta adotar a perspectiva ingênua de tentar eliminá-los; pelo contrário, o reconhecimento de que eles existem e precisam ser explicitados e discutidos possibilita a construção de estratégias coletivas capazes de alterar a realidade. (Paschoalino, 2018, p. 1309) Saber lidar com os conflitos e mobilizar os conhecimentos em prol da resolução dos problemas que ocorrem no dia a dia da escola são habilidades necessárias ao gestor escolar. O atual contexto educacional exige que os gestores saibam respeitar as singularidades e as especificidades da instituição em que trabalham, entendendo que em cada escola, o gestor assume a condição de liderança e que as relações interpessoais precisam ser observadas e melhoradas para a formação de uma boa equipe de trabalho, torna-se essencial a formação contínua desse profissional, que enfrenta cotidianamente uma diversidade de questões e problemas. (Paschoalino, 2018, p. 1317) A equipe gestora lida o tempo todo com as relações interpessoais e com desafios e problemas que envolvem tanto a mantenedora e os funcionários da escola quanto pais, alunos e a comunidade em geral. Para conseguir dar conta das demandas impostas pelo cotidiano escolar é preciso que os gestores sejam profissionais competentes, com domínio teórico-prático do seu ofício; porém, tão relevante quanto isso é ter habilidade para lidar com pessoas, mediar conflitos, construir consensos e estimular o trabalho em equipe entendido como trabalho coletivo. TEMA 5 – DESAFIOS PARA A EFETIVAÇÃO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA São muitos os desafios para a implementação da gestão democrática na educação; embora esta seja uma prescrição legal, não está dada, tampouco é natural: precisa ser construída continuamente, pois é um processo. Se a gestão é administração e organização dos meios para atingir determinados fins, é preciso considerar que, na prática, existem diferentes modelos de gestão, nem sempre democráticos. Todavia, como já mencionamos, por lei, a gestão democrática é obrigatória nas instituições públicas de ensino. Entretanto, entre a prescrição legal e a materialização de uma gestão 10 democrática, há um longo caminho a percorrer, e neste há obstáculos e desafios a serem transpostos, como a formação (inicial e continuada) dos profissionais da escola para compreensão dos fundamentos e princípios da gestão democrática; a implementação dos mecanismos de gestão (Conselho Escolar, assembleias, associações, grêmio estudantil, entre outros); eleição dos diretores das instituições escolares; participação efetiva da comunidade na escola; elaboração e implementação do PPP com participação de todos os segmentos. Todos os desafios aqui elencados são também ferramentas que podem contribuir para a gestão democrática; porém, a existência de cada um não garante que ela de fato ocorra. Logo, são condições para seu desenvolvimento: O uso da expressão “condições de gestão democrática” tem relação com o fato de que os usuais procedimentos adotados nas escolas e redes públicas de ensino com vistas à constituição ou incremento da GD são, ao nosso ver, ferramentas. Isso significa que não é a existência de um ou vários desses procedimentos que garante o desenvolvimento democrático das escolas públicas. (Souza, 2019, p. 273) O diretor escolar, além de ser escolhido por todos os envolvidos no processo educativo (pais/alunos e funcionários), supera a visão tradicional de quem manda, sob uma perspectiva verticalizada, para uma gestão horizontal, compreendendo que trabalha com pares e que é necessário tomar as decisões em conjunto, respeitando sempre a vontade da maioria, ao mesmo tempo em que respeita a legislação vigente e as normativas dos órgãos mantenedores. prover diretores por meio de eleições, nas quais a comunidade escolar tenha o poder decisório sobre quem ocupará a função/cargo2 de dirigente escolar, é algo decisivamente democrático. Por outro lado, levar um profissional a ocupar o lugar de diretor escolar a partir de uma indicação (política ou técnica) é visto como um procedimento que contraria o princípio democrático. (Souza, 2019, p. 274) A escola tem autonomia para desenvolver o seu trabalho, com base no seu PPP e a equipe gestora (diretor e pedagogos) que está à frente do trabalho educativo realizado. No entanto, a autonomia da escola não pode ser confundida com deixar fazer o que se quer livremente. A autonomia exige considerar a legislação educacional vigente e as ações, sob um olhar democrático, precisam ser baseadas na participação, no diálogo, no respeito e na colaboração mútua que caracteriza o trabalho coletivo. As ferramentas apresentadas (formação dos profissionais, Conselho Escolar, APPF, grêmio estudantil, assembleias, eleição de diretores) podem potencializar a efetivação da gestão democrática: 11 são elementos de incentivo à participação e, por isso, potencializadores do contraditório, uma vez que a participação cria as condições para a gestão democrática e potencializa o diálogo (Souza, 2009). Sem o diálogo, não há espaço para a contradição, para o pensamento diferente, para a diversidade de opiniões, o que significa que, sem contradição, sem diversidade, não há democracia. (Souza, 2019, p. 273) Nesse ponto, destacamos que a gestão democrática precisa ser desenvolvida em todos os âmbitos da escola – não apenas entre os profissionais da escola –, mas na relação com os pais, com os alunos, dentro das salas de aula e na relação da escola com a comunidade. Esse é um grande desafio, um exercício constante, pois lidar com quem pensa diferente, com a contradição, escutar e respeitar o pluralismo de ideias e concepções, não é fácil. O ambiente escolar, à sua maneira, reflete as relações conflituosas que existem na própria sociedade. Por outro lado, ao propiciar na escola a vivência de relações democráticas, podemos estar contribuindo para que as pessoas que a constituem exercitem a democracia também em outros círculos de convivência social. NA PRÁTICA Vamos agora buscar conhecer um pouco mais sobre os órgãos de gestão colegiada. Propomos nesta atividade a realização de uma entrevista. 1. Você irá visitar uma escola de Educação Básica (pode ser de Educação Infantil, Ensino Médio ou Ensino Fundamental) e deverá conversar com um membro da equipe gestora (direção ou pedagogos) sobre a existência e atuação do Conselho Escolar, da APPF e do grêmio estudantil (o grêmio geralmente é desenvolvido com estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio; o que significa que, com as criançasmenores, na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, podem existir outras experiências voltadas para o exercício da democracia, como a eleição de representantes ou monitores de turma). Se você não conseguir conversar com a equipe gestora, poderá conversar com algum professor da escola. 2. O que perguntar para o entrevistado? • Cargo/função do entrevistado; • Tempo de atuação na educação em geral e na escola em específico; • Há, na escola, Conselho Escolar, APPF e grêmio estudantil instituídos? 12 • Como funcionam esses mecanismos de gestão? São atuantes? • Quais os maiores desafios para a implementação da gestão democrática por meio desses mecanismos? • Poderia dar um exemplo de atuação de um destes mecanismos de gestão (Conselho Escolar, APPF ou grêmio estudantil)? Observação: As questões acima propostas, são apenas sugestões; você pode organizar as perguntas para a conversa com o entrevistado da maneira que melhor lhe convier, ou for necessário. Peça permissão para registrar de alguma forma as respostas, por escrito ou gravando, o que permitirá poder organizar as informações que obteve. 3. Registre a entrevista realizada em forma de texto. Não é necessário informar o nome do entrevistado, nem da escola, mas apenas o cargo do profissional, a cidade/estado da escola e a etapa da Educação Básica a que a escola atende. 4. Envie seu texto para a tutoria da disciplina no AVA. Será ótimo saber o que você aprendeu acerca da existência e da atuação dos órgãos de gestão na escola. Se tiver interesse de participar uma aula ao vivo de seu curso e relatar sobre a atividade desenvolvida para seus colegas, avise o(a) professor(a) por meio da tutoria. FINALIZANDO Nesta etapa, abordamos a gestão democrática na educação e entendemos que ela é prescrita pela Constituição e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). Apresentamos os princípios da gestão democrática conforme a legislação. Vimos que todas as instituições escolares, em conformidade com a legislação educacional vigente, precisam elaborar e colocar em prática a Proposta Pedagógica, também denominada de Projeto Político-Pedagógico (PPP). Refletimos sobre a importância desse documento para a instituição escolar como norte do trabalho pedagógico que será desenvolvido. Destacamos a necessidade de que a elaboração e implementação do PPP aconteça de forma democrática, por meio do planejamento participativo. Por sua vez, o planejamento participativo precisa envolver toda a comunidade escolar, por meio 13 dos mecanismos de gestão, como os Conselhos Escolares, Associações de Pais Professores e Funcionários (APPFs) e o grêmio estudantil. Além do mais, destacamos a importância da eleição dos diretores escolares e o papel da equipe gestora da instituição escolar. A equipe gestora (direção e pedagogos) estão à frente da organização do trabalho pedagógico desenvolvido; são líderes e mediadores das relações, muitas vezes conflituosas e contraditórias, que se desenvolvem no ambiente escolar. Compreendemos que são muitos os aspectos que envolvem a gestão democrática na educação, e há muitos desafios e problemas a serem superados. Esperamos que esta etapa tenha propiciado a você reflexões importantes a respeito da gestão democrática e sua importância para a qualidade da educação. 14 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 18 mar. 2025. BRASIL, Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 18 mar. 2025. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1992. PARO, V. H. A educação, a política e a administração: reflexões sobre a prática do diretor de escola. Educação e Pesquisa, v. 36, n. 3, p. 763-778, set. 2010. PASCHOALINO, J. B. de Q. Gestão escolar na educação básica: construções e estratégias frente aos desafios profissionais. Educação & Realidade, v. 43, n. 4, p. 1301-1320, out. 2018. SOUZA, Â. R. de. As condições de democratização da gestão da escola pública brasileira. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, v. 27, n. 103, p. 271-290, abr. 2019.