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SISTEMAS DE ENSINO, LEGISLAÇÃO E GESTÃO DEMOCRÁTICA AULA 5 Prof.ª Katia Cristina Dambiski Soares 2 CONVERSA INICIAL Espaço escolar e não escolar Nesta etapa, apresentaremos diferenças, similaridades e relações entre os espaços escolares e não escolares. Por que esse assunto é importante? Porque a educação é uma prática social que não se restringe ao espaço escolar, mas tem esse espaço, a escola, como a instituição formalmente reconhecida para dar conta do processo de ensino-aprendizagem, da socialização de conhecimentos científicos, elaborados, para toda a população. Todavia, para além da escola, outros espaços de convivência, como família, trabalho e sociedade em geral, também podem ser educativos. Primeiro, trataremos da função social da escola e de seu papel na educação para cidadania e direitos humanos. No segundo tópico, discutiremos sobre a integração entre os espaços escolares e comunitários, ou seja, abordaremos a relação dos espaços escolares com a educação informal e não formal. Na continuidade, o tema será dedicado à reflexão sobre a gestão de conflitos no espaço escolar: mediação e práticas restaurativas. No quarto tópico, abordaremos as possibilidades de parcerias na área da educação com ONGs, empresas e órgãos públicos, comentando oportunidades e desafios. E, para finalizar, abordaremos os ambientes virtuais de aprendizagem e a educação a distância (EaD), discorrendo sobre sua regulamentação e suas potencialidades. Portanto, compreender a educação como uma prática que transcende o espaço escolar, mesmo que se reconheça a incontestável importância histórica, social e cultural desse espaço que é a escola, é fundamental para todos que cursam uma licenciatura. É importante que os profissionais da educação saibam agir de maneira competente, comprometida e com responsabilidade em diferentes contextos de ensino e aprendizagem que se manifestam em diversos ambientes culturais, classes sociais e faixas geracionais. TEMA 1 – FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA: EDUCAÇÃO PARA CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS A escola, como instituição, surgiu com o advento da sociedade capitalista, no contexto da Revolução Industrial, no século XVIII. Sua origem está 3 relacionada com a demanda por qualificação, mesmo que básica, de trabalhadores/operários, e com a necessidade de se estabelecer um local para as crianças ficarem enquanto as mães trabalhavam nas fábricas. Contudo, a escola é também uma reivindicação das classes trabalhadoras por acesso a conhecimentos formais. No Brasil, a escola pública destinada à maioria da população data da década de 1970, embora, a partir da Proclamação da República experiências educacionais na rede pública já tivessem alguma expressão. A esse respeito, Bueno (2001, p. 2) comenta: A ampliação/universalização do acesso ao ensino obrigatório no país é um fato, pode-se afirmar que, a partir da década de [19]60, foi se constituindo uma verdadeira escola de massas. Esse acesso generalizado à escola fundamental trouxe, é claro, um problema grave, qual seja, o da ampliação rápida da quantidade de alunos que passaram a frequentar a escola, que, por falta de uma política educacional que realmente privilegiasse a qualidade do ensino, foi atendida por meios, sobejamente conhecidos, que comprometeram o que havia sido construído em termos de qualidade de ensino: ampliação do número de turnos diários, ampliação do número de alunos por turma etc. Mas, além do impacto do crescimento quantitativo vertiginoso, a universalização do acesso à escola fundamental permitiu que crianças com condições pessoais, familiares, culturais e econômicas, que anteriormente eram excluídas por mecanismos de seletividade, passassem a frequentar a escola; fez aflorar, de forma incontestável, os problemas da seletividade escolar; e passou a ser objeto de preocupação tanto dos gestores das políticas quanto dos estudiosos e pesquisadores da educação nacional. A função social da escola, portanto, está relacionada com as possibilidades de acesso da maioria da população aos conhecimentos historicamente produzidos. Essa função não se consolidou de um dia para o outro nem de forma natural, mas foi resultado de um longo e contraditório desenvolvimento histórico. Conforme Bueno (2001), a ampliação do acesso ao ensino obrigatório no Brasil possibilitou às classes trabalhadoras o acesso aos conhecimentos que antes eram restritos às elites, porém os problemas da seletividade escolar e das dificuldades de a escola dar conta de ensinar a todos e com qualidade ficaram mais visíveis. A compreensão de que a função social da escola está atrelada às possibilidades de socialização dos conhecimentos científicos e elaborados se baseia na concepção de educação como direito humano que possibilita a cada um e a todos viver com dignidade e exercer a cidadania. “À escola foi delegada a função de formação das novas gerações em termos de acesso à cultura socialmente valorizada, de formação do cidadão e de constituição do sujeito 4 social” (Bueno, 2001, p. 5). E o que significa afirmar que a educação é um direito humano fundamental, universal? Significa que é um direito de todas as pessoas, indistintamente, e que o Estado tem a obrigação, prescrita por lei, de garantir que esse direito seja respeitado e usufruído. Acerca disso, Oliveira e Moreira (2024, p. 2) declaram: entendemos ser importante nos remetermos ao fato de a educação ser um direito humano fundamental – portanto, de todas as pessoas – e obrigação do Estado, na perspectiva da responsabilidade que este deve assumir para assegurar o exercício efetivo desse direito. Presente na Declaração Universal dos Direitos do Homem como direito humano fundamental, na esteira da afirmação da dignidade humana como base para a formulação da referida Declaração, esse direito – na perspectiva individual do direito humano à educação – também se faz presente na maior parte das legislações no mundo, aparecendo, no Brasil, já no artigo 206 da Constituição Cidadã de 1988. É importante ressaltar o papel das políticas educacionais na busca pela garantia do direito à educação em todas os seus níveis, etapas e modalidades de ensino. É fato que houve avanços com a ampliação do acesso na educação básica e o atendimento à diversidade por meio das modalidades de ensino específicas, como a educação de jovens e adultos e a educação especial, por exemplo; no entanto, as dificuldades e problemas persistem e até se ampliam em alguns campos, conforme assinalam Oliveira e Moreira (2024, p. 7): políticas recentes atentam, em maior ou menor medida contra o direito à educação como direito público subjetivo e como direito humano, na medida em que comprometem o acesso e as possibilidades de permanência de partes da população à educação pública, gratuita e de qualidade. A privatização da coisa pública por meio de políticas públicas de caráter privatista, excludente ou apenas pela redução de investimentos, como ocorreu recentemente no Brasil, é um tema que habita a reflexão sobre as políticas educacionais e os perfis, propostas e critérios nos quais se baseiam. É necessário cuidar, monitorar, participar dos processos de decisão e implementação de políticas públicas voltadas para a garantia do direito à educação. Especialmente na condição de profissionais da educação, temos o direito e o dever de contribuir de alguma maneira com a efetivação de uma educação de qualidade no país. Como você tem participado dos processos de definição e implementação das políticas educacionais? Já pensou sobre isso? Fica aqui o convite para a reflexão! 5 TEMA 2 – INTEGRAÇÃO ENTRE ESPAÇOS ESCOLARES E COMUNITÁRIOS: EDUCAÇÃO INFORMAL E NÃO FORMAL No primeiro tópico, discorremos a respeito da função social da escola, do direito à educação e da relação dela com as possibilidadesde exercer a cidadania plena. Agora trataremos da integração entre os espaços escolares e os espaços comunitários. Até o momento, focamos na educação formal, aquela que acontece nas instituições escolares de ensino regular sob a égide da legislação educacional vigente, mais especificamente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 5.692/1971). Contudo, a educação é muito mais abrangente do que o campo escolar, mesmo que a escola seja a instituição formal privilegiada para o acesso aos conhecimentos científicos. A educação é uma prática social que ocorre para a transmissão de conhecimentos de geração a geração, de pai para filho, das famílias para seus descendentes. Logo, a educação também ocorre fora das escolas, nas relações familiares, na vida cotidiana, no trabalho, nas conversas com os amigos, nas diversas instituições das quais participamos, como igrejas, ONGs, hospitais, empresas, mercados, entre outros espaços. Ora, abordaremos a educação informal e a não formal, iniciando com a seguinte ressalva: Caracterizar os espaços de educação não formal não se constitui em tarefa simples, e, muitas vezes, os termos formal, não formal e informal são utilizados de modo controverso fazendo com que suas definições estejam ainda longe de serem consensuais. (Marandino, 2017, p. 811) Assim, alertando para as divergências que possam existir em torno das definições de educação não formal e informal, especificaremos aqui o entendimento mais comumente aceito. A educação informal é aquela que, como o nome indica, ocorre na informalidade, na relação entre as pessoas: pais e filhos, irmãos, vizinhos, colegas de trabalho etc. É inegável que há aprendizagem quando conversamos com outras pessoas, escutamos uma notícia de jornal, lemos uma reportagem na internet, ou recebemos uma mensagem de texto de um conhecido. Resumidamente, a educação informal é a que ocorre nas relações interpessoais, sem necessariamente ter intenção de educar, embora uma mãe possa intencionalmente ensinar algo ao filho por meio de uma conversa, mesmo num contexto informal. É uma forma de educação incidental. 6 Já a educação não formal tem intencionalidade, é preparada para ensinar alguma coisa a alguém, mas não acontece em uma instituição escolar formal, tampouco segue as normativas da legislação educacional vigente. Alguns exemplos são: cursos de culinária, de música, de canto, oficinas de artesanato, círculos de leitura, entre outros momentos formativos organizados com a intenção de ensinar algo, mas que não fazem parte da estrutura formal dos sistemas de ensino do país. Esse tipo de educação, representada muitas vezes por cursos livres, tem maior flexibilidade em sua estrutura, ao tempo e ao currículo (ao que ensina). Marandino (2017, p. 812) adverte que é possível encontrar “referências na literatura que optam por utilizar outras expressões e conceitos que se aproximam da ideia de não formal como ‘pedagogia social’, ‘educação social’ e ‘aprendizagem por livre-escolha’”. Para além dos conceitos de educação formal, informal e não formal, é relevante pensar nas propostas que buscam integrar espaços escolares com espaços comunitários. Nesse quesito, há projetos e políticas voltadas, por exemplo, para abrir os espaços das instituições escolares para a comunidade com finalidade educativa e de lazer, considerando a escola um lugar seguro e de acolhimento para crianças e jovens, além da comunidade em geral. A escola pública tem como compromisso oportunizar condições para sua clientela construir conhecimentos, atitudes e valores, contribuindo na formação de cidadãos críticos, éticos e participativos nos contextos que integram (BRASIL, 2004). No entanto, que requer superação de obstáculos, pois segundo Atié (1999, p. 3), em sua análise sobre a escola pública: "Hoje, o desafio que se coloca diante da escola é fornecer educação e informação para toda a vida... ela precisa romper seus muros e estar plenamente inserida no seu tempo e na comunidade a qual pertence." Ações escolares devem ser consolidadas em um contexto participativo, integrador de todos seus segmentos, sincronizadas com o contexto atual, que requer uma política educacional capaz de contribuir na condução do país ao pleno desenvolvimento, em conformidade com os princípios democráticos em evolução. (Bezerra et al, 2010, p. 281) Talvez você conheça algum projeto de integração escola-comunidade na região onde vive, em que a escola abriga oficinas, cursos profissionalizantes, grupos de estudo, aulas de música etc. A ideia subjacente é de que o espaço público, a escola, é do povo e precisa ser por ele utilizado, com seriedade e responsabilidade, sobretudo com o propósito de fomentar a cultura, o aprendizado e as relações interpessoais de convivência saudável e solidária. 7 TEMA 3 – GESTÃO DE CONFLITOS NO ESPAÇO ESCOLAR: MEDIAÇÃO E PRÁTICAS RESTAURATIVAS A instituição escolar é um espaço de ensino e de aprendizagem; portanto, é também um local em que as relações interpessoais ocorrem com a mesma complexidade presente na sociedade em geral. Parece obvio, mas é necessário lembrar, que na escola não trabalhamos com máquinas, mas com gente; e gente tem emoção, afeto, tristezas, alegrias, referências anteriores, enfim, é fruto de múltiplas determinações. Lançar olhares sobre a escola é partir do pressuposto de que ela é um espaço dinâmico, um lugar sociocultural que abarca duas dimensões: por um lado, é uma instituição pautada por regras e normas que a tornam um sistema escolar; por outro, é constituída por sujeitos imersos em redes de relações, tramas sociais de acordos, confrontos e interesses, espaços de apropriação constante de práticas e saberes entre a instituição e os indivíduos. (Silva; Almeida; Almeida, 2022, p. 303) Na escola, bem como em outros espaços de convivência social, nem tudo é harmonia, nem tudo é concordância, nem sempre o consenso é atingido de forma fácil ou rápida. Democracia não é fácil! É processo! Exige trabalho, estudo, paciência, comprometimento, seriedade, participação, diálogo, respeito. Com certeza, a escola é um ambiente propício para esse aprendizado, para o debate, a discussão, a pluralidade de ideias e, até mesmo, para as discordâncias. Isso tudo faz parte do processo democrático e deve envolver todos os sujeitos: professores, pais, alunos, funcionários e a comunidade. É certo, os conflitos são parte da construção de um consenso sobre diversos assuntos no ambiente escolar: “O conflito faz parte da vida social, alterando e provocando mudanças sociais necessárias como força integradora dos indivíduos, que move e dá vida ao processo relacional” (Silva; Almeida; Almeida, 2022, p. 308). Da equipe gestora, da direção e dos pedagogos requer-se preparo, formação e base teórico-prática que lhes dê o suporte necessário para gerenciar conflitos no espaço escolar. Igualmente, exige-se do professor, ao lidar com alunos, pais e colegas de trabalho, essa formação para que possa mediar situações conflituosas e instaurar práticas restaurativas, buscando alternativas conjuntas para problemas e desafios que se apresentem. A escola pública, sendo um espaço dinâmico e intenso de relações, não se exime de conflitos, até porque estes são inerentes à sociabilidade, assegurando o processo de crescimento e 8 transformação. Por outro lado, o contexto das escolas é afetado pelas manifestações das violências, sob diversas formas e sentidos, sejam elas simbólicas, físicas ou microviolências, interferindo substancialmente nas relações e convivências sociais e, por consequência, no processo de ensino-aprendizagem. (Silva; Almeida; Almeida, 2022, p. 316) O que está em jogo não é evitar os conflitos ou simplesmente aceitá-los, mas lidar com as condições adversas da melhor maneira possível, baseando-se sempre no que diz a legislação educacional vigentee os documentos norteadores da instituição escolar como o projeto político pedagógico (PPP) e o regimento escolar. O conhecimento, o diálogo e o respeito pelo outro podem auxiliar a encontrar soluções para cada problema a ser superado no âmbito escolar. TEMA 4 – PARCERIAS COM ONGS, EMPRESAS E ÓRGÃOS PÚBLICOS: OPORTUNIDADES E DESAFIOS Ao considerar as dificuldades e as carências (financeiras, estruturais, de formação e valorização dos profissionais etc.) que afetam as escolas públicas da educação básica no contexto brasileiro, tem-se buscado parcerias com ONGs, empresas e órgãos públicos com o intuito de melhorar as condições de trabalho dessas instituições. Conforme alertamos em etapa anterior, o tema da parceria público- privada é bastante polêmico e questionado, especialmente pelas entidades de defesa da escola pública, universal e gratuita, como alguns sindicatos e associações dos profissionais da educação da rede pública de ensino. Costumam ser muito sérias as críticas que envolvem tais ações de parceria e precisam ser levadas em conta na análise de cada caso. Destinar inadvertidamente dinheiro público ao setor privado é algo preocupante, pois encerra políticas de cunho neoliberal voltadas para privatização, precarização e terceirização dos serviços públicos. Todavia, as parcerias já integram a realidade educacional vigente e podem (dependendo dos objetivos a que se propõem e de quem está sendo beneficiado com essa ação) resultar em melhorias nos processos de ensino- aprendizagem. Também é preciso considerar que nem sempre o que está diretamente envolvido numa parceria é o incremento financeiro, podendo envolver recursos, troca de conhecimentos, espaços a serem utilizados e potencializados. 9 Aqui comentaremos alguns exemplos fictícios, mas possivelmente você conheça exemplos reais e pode refletir criticamente sobre esses casos de sua localidade. Um exemplo, no campo cultural, é a parceria de museus públicos ou privados com escolas. Estas podem se beneficiar com visitas aos museus, bem como, com a formação de professores potencializada pelos profissionais que trabalham na instituição museológica, como historiadores, museólogos, curadores, geólogos, podendo envolver nas formações conhecimentos voltados para as artes visuais, arquivos históricos, autores diversos. Outro exemplo, no caso de uma escola localizada em um bairro industrial, é a parceria da secretaria de educação com empresas locais para firmar projetos conjuntos beneficiando as escolas públicas. Tais projetos podem abarcar uma infinidade de possibilidades, como a visita dos alunos às fábricas para conhecer o processo de produção, a possibilidade de reverter para a comunidade benefícios relacionados com o produto que a fábrica produz e até palestras e oficinas; há, ainda, a possibilidade de envolver os pais em certas atividades, uma vez que muitos deles podem trabalhar nessas empresas. A escola precisa ir além dos conteúdos dos livros didáticos e analisar com seus alunos os elementos da vida real, com suas variabilidades, possibilidades e problemas. Ademais, no setor público, advogamos que as diferentes secretarias de governo estadual ou municipal trabalhem de forma integrada. Por exemplo, as secretarias de Cultura, de Esportes, de Lazer e de Planejamento podem atuar de maneira articulada em projetos conjuntos com a Secretaria de Educação. O município pode ter um cinema ou um teatro que não é utilizado pelos alunos da rede pública, o que é lamentável. Seria de grande valia o teatro, o cinema, o parque, o transporte público, serem todos utilizados em prol da educação. Se os setores do governo que atuam nas políticas públicas de educação, cultura, saúde e lazer trabalharem em conjunto, de forma articulada, o maior beneficiado será o aluno dessa rede de ensino. Precisamos unir forças, pois é urgente que todos os esforços sejam envidados para possibilitar o enriquecimento da educação ofertada para a maioria da população, garantindo uma educação de qualidade. E que qualidade seria essa? Acreditamos que a educação de qualidade é aquela que tem sentido e significado na vida das pessoas, que possibilita a inserção e a intervenção crítica 10 e consciente na sociedade, que amplia exponencialmente as oportunidades de vida digna para todos. TEMA 5 – AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA (EAD): REGULAMENTAÇÃO E POTENCIALIDADES A utilização das tecnologias da informação e da comunicação perpassa toda a sociedade, e o uso das tecnologias na educação não pode mais ser ignorado. A EaD, os ambientes virtuais de aprendizagem, as ferramentas tecnológicas que hoje existem são fruto do conhecimento e do trabalho humano e podem contribuir enormemente para o processo de ensino-aprendizagem. O Conselho Nacional de Educação (CNE) e o Ministério da Educação regulamentam a EaD por meio da legislação educacional. O art. 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) – Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – estabelece que: “O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada” (Brasil, 1996). Além da LDBEN, existem outros documentos legais que tratam da EaD.1 Por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Ministério da Educação realiza avaliação, monitoramento e reconhecimento dos cursos que são ofertados na modalidade a distância. Com base nessas considerações a respeito da regulamentação legal da EaD, podemos analisar as potencialidades que essa modalidade de ensino pode apresentar. O acesso ao conhecimento pode ser ampliado enormemente com a utilização dos ambientes virtuais e da EaD contribuindo para a aprendizagem de mais pessoas, independentemente do local onde estejam, numa perspectiva que extrapola as salas de aula. E o cerne da questão não é a quantidade de pessoas que possam vir a aprender via EaD, mas também da qualidade e do acesso aos conhecimentos, já que nos ambientes virtuais de aprendizagem, é possível explorar conhecimentos que seriam impossíveis há algumas décadas. Não estamos afirmando aqui que a EaD seja melhor do que a modalidade presencial. São modalidades diferentes de ensino, mas o objetivo que une ambas é idêntico: a aprendizagem. 1 Você pode consultar esses documentos em Brasil (2025). 11 Eis um exemplo bem simples de não se considerar os avanços tecnológicos produzidos historicamente e que deveriam ser acessíveis para todos: é inegável que o avião possibilita transpor distâncias que antigamente eram intransponíveis e que se trata de um meio de transporte que oferece rapidez e comodidade. Negar isso seria negar um avanço tecnológico no campo dos meios de transporte. De maneira semelhante, não é possível ignorar o uso das ferramentas digitais para o alcance de conhecimentos e troca de experiências. Emerge aqui um questionamento: É melhor ter um professor de excelência na sala de aula falando com 20 ou 30 estudantes ou possibilitar que 50 a 100 pessoas no país inteiro e fora dele tenham acesso a esses conhecimentos? Como se alcança isso? Com aulas síncronas, espaços virtuais com presença real, uma presença conectada, pois o virtual pode ser síncrono e real, prevendo a interação, o diálogo entre os sujeitos envolvidos. A EaD é uma modalidade educacional cujo desenvolvimento relaciona- se com a administração do tempo pelo aluno, o desenvolvimento da autonomia para realizar as atividades indicadas no momento em que considere adequado, desde que respeitadas as limitações de tempo impostas pelo andamento das atividades do curso, o diálogo com os pares para a troca de informações e o desenvolvimento de produções em colaboração. A par disso, o “estar junto virtual” indica o papel do professor comoorientador do aluno que acompanha seu desenvolvimento no curso, provoca-o para fazê-lo refletir, compreender os equívocos e depurar suas produções […]. (Almeida, 2003, p. 331) A argumentação apresentada acerca das potencialidades do ambiente virtual de aprendizagem e da EaD não elimina a necessidade de se considerar a desigualdade social e a dificuldade de acesso às ferramentas digitais e à internet. Afinal, muitas pessoas não têm acesso nem mesmo a salas de aula físicas, a livros, a bibliotecas. É imprescindível pensar soluções para a desigualdade social que impede a tantas pessoas acessar o que há de mais novo e avançado em muitos campos relacionados com a ciência e a tecnologia. NA PRÁTICA Nesta etapa, tratamos sobre os espaços escolares e não escolares. Abordamos a especificidade e a articulação entre esses dois espaços de aprendizagem (escolares e não escolares), espaços que podem ser bem diferentes em seus objetivos e sua estrutura, mas sempre voltados à aprendizagem. 12 Pesquise na localidade onde mora um projeto para a utilização do espaço da escola pela comunidade ou projetos educativos realizados na comunidade, fora do espaço escolar, mas que têm uma finalidade educativa, por exemplo educação ambiental, alimentação saudável, economia solidária etc. Siga esse passo a passo: 1. Visite o projeto, converse com os sujeitos envolvidos, pergunte a respeito do financiamento da estrutura física, dos materiais, dos recursos envolvidos, dos sujeitos que participam, das pessoas que trabalham no local, dos resultados obtidos etc. 2. Verifique se há materiais de divulgação, fôlderes, cartazes, fotos, sites etc. 3. Registre tudo o que descobriu; depois, grave um podcast curto, de 2 a 5 minutos, em que reporte tudo o que aprendeu sobre o projeto, mencionando em que localidade ele é desenvolvido. Não cite nomes de pessoas no áudio. Ao final, comente os pontos positivos do projeto e em que poderia ser melhorado. 4. Envie seu áudio no link tutoria da disciplina. FINALIZANDO Discorremos sobre as diferenças, as similaridades e as relações entre os espaços escolares e não escolares. Enfatizamos a importância do assunto e sua pertinência na atualidade, dado que a educação é uma prática social que não se limita ao espaço escolar. Explicamos que os espaços de convivência (intencionalmente organizados ou não), como família, trabalho e sociedade em geral, também podem ser educativos, tendo ou não uma intencionalidade. Primeiramente, comentamos a função social da escola e seu papel na educação para cidadania e direitos humanos. Na sequência, discutimos sobre a integração entre os espaços escolares e comunitários, esclarecendo a relação dos espaços escolares com a educação informal e não formal. Também refletimos a respeito da gestão de conflitos no espaço escolar, da necessidade de mediação e da instauração de práticas restaurativas. Destacamos o papel da equipe gestora (direção e pedagogos), pois os conflitos sempre existirão, e se não é possível eliminá-los, devemos lidar com eles da melhor forma em busca da superação e da aprendizagem. Isso significa utilizar o conhecimento científico, o respeito e o diálogo em diferentes situações que 13 surgem na instituição escolar. Ainda, retomamos a temática das parcerias com ONGs, empresas e órgãos públicos, valorizando as oportunidades e compreendendo os desafios que tais ações podem encerrar. Por fim, debatemos acerca dos ambientes virtuais de aprendizagem e a EaD, abordando sua regulamentação e suas potencialidades para o acesso ao conhecimento historicamente produzido. Esses temas são de extrema importância porque os futuros professores precisam compreender que a educação e o conhecimento ultrapassam os muros da sala de aula e da escola. 14 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. E. B. de. Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem. Educação e Pesquisa, v. 29, n. 2, p. 327-340, jul. 2003. BEZERRA, Z. F. et al. Comunidade e escola: reflexões sobre uma integração necessária. Educar em Revista, n. 37, p. 279-291, maio 2010. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: . Acesso em: 18 mar. 2025. BRASIL. Ministério da Educação. Educação a distância. Documentos importantes. Disponível em: . Acesso em: 18 mar. 2025. BUENO, J. G. S. Função social da escola e organização do trabalho pedagógico. Educar em Revista, n. 17, p. 101-110, jan. 2001. MARANDINO, M. Faz sentido ainda propor a separação entre os termos educação formal, não formal e informal?. Ciência & Educação, Bauru, v. 23, n. 4, p. 811-816, out. 2017. OLIVEIRA, I. B. de.; MOREIRA, A. F. B. A educação como direito humano e o direito humano à educação: o nacional no contexto da internacionalização das políticas educacionais. Educar em Revista, v. 40, p. e97172, 2024. SILVA, M. C. L. da.; ALMEIDA, R. de O.; ALMEIDA, S. M. N. de. Tecendo olhares sobre a gestão dos conflitos na escola. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, v. 15, n. 1, p. 303-320, jan. 2022.