Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

SISTEMAS DE ENSINO, 
LEGISLAÇÃO E GESTÃO 
DEMOCRÁTICA 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Katia Cristina Dambiski Soares 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Espaço escolar e não escolar 
Nesta etapa, apresentaremos diferenças, similaridades e relações entre 
os espaços escolares e não escolares. Por que esse assunto é importante? 
Porque a educação é uma prática social que não se restringe ao espaço escolar, 
mas tem esse espaço, a escola, como a instituição formalmente reconhecida 
para dar conta do processo de ensino-aprendizagem, da socialização de 
conhecimentos científicos, elaborados, para toda a população. Todavia, para 
além da escola, outros espaços de convivência, como família, trabalho e 
sociedade em geral, também podem ser educativos. 
Primeiro, trataremos da função social da escola e de seu papel na 
educação para cidadania e direitos humanos. No segundo tópico, discutiremos 
sobre a integração entre os espaços escolares e comunitários, ou seja, 
abordaremos a relação dos espaços escolares com a educação informal e não 
formal. Na continuidade, o tema será dedicado à reflexão sobre a gestão de 
conflitos no espaço escolar: mediação e práticas restaurativas. No quarto tópico, 
abordaremos as possibilidades de parcerias na área da educação com ONGs, 
empresas e órgãos públicos, comentando oportunidades e desafios. E, para 
finalizar, abordaremos os ambientes virtuais de aprendizagem e a educação a 
distância (EaD), discorrendo sobre sua regulamentação e suas potencialidades. 
Portanto, compreender a educação como uma prática que transcende o 
espaço escolar, mesmo que se reconheça a incontestável importância histórica, 
social e cultural desse espaço que é a escola, é fundamental para todos que 
cursam uma licenciatura. 
É importante que os profissionais da educação saibam agir de maneira 
competente, comprometida e com responsabilidade em diferentes contextos de 
ensino e aprendizagem que se manifestam em diversos ambientes culturais, 
classes sociais e faixas geracionais. 
TEMA 1 – FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA: EDUCAÇÃO PARA CIDADANIA E 
DIREITOS HUMANOS 
A escola, como instituição, surgiu com o advento da sociedade capitalista, 
no contexto da Revolução Industrial, no século XVIII. Sua origem está 
 
 
3 
relacionada com a demanda por qualificação, mesmo que básica, de 
trabalhadores/operários, e com a necessidade de se estabelecer um local para 
as crianças ficarem enquanto as mães trabalhavam nas fábricas. Contudo, a 
escola é também uma reivindicação das classes trabalhadoras por acesso a 
conhecimentos formais. 
No Brasil, a escola pública destinada à maioria da população data da 
década de 1970, embora, a partir da Proclamação da República experiências 
educacionais na rede pública já tivessem alguma expressão. A esse respeito, 
Bueno (2001, p. 2) comenta: 
A ampliação/universalização do acesso ao ensino obrigatório no país 
é um fato, pode-se afirmar que, a partir da década de [19]60, foi se 
constituindo uma verdadeira escola de massas. Esse acesso 
generalizado à escola fundamental trouxe, é claro, um problema grave, 
qual seja, o da ampliação rápida da quantidade de alunos que 
passaram a frequentar a escola, que, por falta de uma política 
educacional que realmente privilegiasse a qualidade do ensino, foi 
atendida por meios, sobejamente conhecidos, que comprometeram o 
que havia sido construído em termos de qualidade de ensino: 
ampliação do número de turnos diários, ampliação do número de 
alunos por turma etc. Mas, além do impacto do crescimento 
quantitativo vertiginoso, a universalização do acesso à escola 
fundamental permitiu que crianças com condições pessoais, familiares, 
culturais e econômicas, que anteriormente eram excluídas por 
mecanismos de seletividade, passassem a frequentar a escola; fez 
aflorar, de forma incontestável, os problemas da seletividade escolar; 
e passou a ser objeto de preocupação tanto dos gestores das políticas 
quanto dos estudiosos e pesquisadores da educação nacional. 
A função social da escola, portanto, está relacionada com as 
possibilidades de acesso da maioria da população aos conhecimentos 
historicamente produzidos. Essa função não se consolidou de um dia para o 
outro nem de forma natural, mas foi resultado de um longo e contraditório 
desenvolvimento histórico. Conforme Bueno (2001), a ampliação do acesso ao 
ensino obrigatório no Brasil possibilitou às classes trabalhadoras o acesso aos 
conhecimentos que antes eram restritos às elites, porém os problemas da 
seletividade escolar e das dificuldades de a escola dar conta de ensinar a todos 
e com qualidade ficaram mais visíveis. 
A compreensão de que a função social da escola está atrelada às 
possibilidades de socialização dos conhecimentos científicos e elaborados se 
baseia na concepção de educação como direito humano que possibilita a cada 
um e a todos viver com dignidade e exercer a cidadania. “À escola foi delegada 
a função de formação das novas gerações em termos de acesso à cultura 
socialmente valorizada, de formação do cidadão e de constituição do sujeito 
 
 
4 
social” (Bueno, 2001, p. 5). 
E o que significa afirmar que a educação é um direito humano 
fundamental, universal? Significa que é um direito de todas as pessoas, 
indistintamente, e que o Estado tem a obrigação, prescrita por lei, de garantir 
que esse direito seja respeitado e usufruído. Acerca disso, Oliveira e Moreira 
(2024, p. 2) declaram: 
entendemos ser importante nos remetermos ao fato de a educação ser 
um direito humano fundamental – portanto, de todas as pessoas – e 
obrigação do Estado, na perspectiva da responsabilidade que este 
deve assumir para assegurar o exercício efetivo desse direito. Presente 
na Declaração Universal dos Direitos do Homem como direito humano 
fundamental, na esteira da afirmação da dignidade humana como base 
para a formulação da referida Declaração, esse direito – na perspectiva 
individual do direito humano à educação – também se faz presente na 
maior parte das legislações no mundo, aparecendo, no Brasil, já no 
artigo 206 da Constituição Cidadã de 1988. 
É importante ressaltar o papel das políticas educacionais na busca pela 
garantia do direito à educação em todas os seus níveis, etapas e modalidades 
de ensino. É fato que houve avanços com a ampliação do acesso na educação 
básica e o atendimento à diversidade por meio das modalidades de ensino 
específicas, como a educação de jovens e adultos e a educação especial, por 
exemplo; no entanto, as dificuldades e problemas persistem e até se ampliam 
em alguns campos, conforme assinalam Oliveira e Moreira (2024, p. 7): 
políticas recentes atentam, em maior ou menor medida contra o direito 
à educação como direito público subjetivo e como direito humano, na 
medida em que comprometem o acesso e as possibilidades de 
permanência de partes da população à educação pública, gratuita e de 
qualidade. A privatização da coisa pública por meio de políticas 
públicas de caráter privatista, excludente ou apenas pela redução de 
investimentos, como ocorreu recentemente no Brasil, é um tema que 
habita a reflexão sobre as políticas educacionais e os perfis, propostas 
e critérios nos quais se baseiam. 
É necessário cuidar, monitorar, participar dos processos de decisão e 
implementação de políticas públicas voltadas para a garantia do direito à 
educação. Especialmente na condição de profissionais da educação, temos o 
direito e o dever de contribuir de alguma maneira com a efetivação de uma 
educação de qualidade no país. 
Como você tem participado dos processos de definição e implementação 
das políticas educacionais? Já pensou sobre isso? Fica aqui o convite para a 
reflexão! 
 
 
5 
TEMA 2 – INTEGRAÇÃO ENTRE ESPAÇOS ESCOLARES E COMUNITÁRIOS: 
EDUCAÇÃO INFORMAL E NÃO FORMAL 
No primeiro tópico, discorremos a respeito da função social da escola, do 
direito à educação e da relação dela com as possibilidadesde exercer a 
cidadania plena. Agora trataremos da integração entre os espaços escolares e 
os espaços comunitários. 
Até o momento, focamos na educação formal, aquela que acontece nas 
instituições escolares de ensino regular sob a égide da legislação educacional 
vigente, mais especificamente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
(Lei n. 5.692/1971). Contudo, a educação é muito mais abrangente do que o 
campo escolar, mesmo que a escola seja a instituição formal privilegiada para o 
acesso aos conhecimentos científicos. 
A educação é uma prática social que ocorre para a transmissão de 
conhecimentos de geração a geração, de pai para filho, das famílias para seus 
descendentes. Logo, a educação também ocorre fora das escolas, nas relações 
familiares, na vida cotidiana, no trabalho, nas conversas com os amigos, nas 
diversas instituições das quais participamos, como igrejas, ONGs, hospitais, 
empresas, mercados, entre outros espaços. Ora, abordaremos a educação 
informal e a não formal, iniciando com a seguinte ressalva: 
Caracterizar os espaços de educação não formal não se constitui em 
tarefa simples, e, muitas vezes, os termos formal, não formal e informal 
são utilizados de modo controverso fazendo com que suas definições 
estejam ainda longe de serem consensuais. (Marandino, 2017, p. 811) 
Assim, alertando para as divergências que possam existir em torno das 
definições de educação não formal e informal, especificaremos aqui o 
entendimento mais comumente aceito. 
A educação informal é aquela que, como o nome indica, ocorre na 
informalidade, na relação entre as pessoas: pais e filhos, irmãos, vizinhos, 
colegas de trabalho etc. É inegável que há aprendizagem quando conversamos 
com outras pessoas, escutamos uma notícia de jornal, lemos uma reportagem 
na internet, ou recebemos uma mensagem de texto de um conhecido. 
Resumidamente, a educação informal é a que ocorre nas relações interpessoais, 
sem necessariamente ter intenção de educar, embora uma mãe possa 
intencionalmente ensinar algo ao filho por meio de uma conversa, mesmo num 
contexto informal. É uma forma de educação incidental. 
 
 
6 
Já a educação não formal tem intencionalidade, é preparada para ensinar 
alguma coisa a alguém, mas não acontece em uma instituição escolar formal, 
tampouco segue as normativas da legislação educacional vigente. Alguns 
exemplos são: cursos de culinária, de música, de canto, oficinas de artesanato, 
círculos de leitura, entre outros momentos formativos organizados com a 
intenção de ensinar algo, mas que não fazem parte da estrutura formal dos 
sistemas de ensino do país. Esse tipo de educação, representada muitas vezes 
por cursos livres, tem maior flexibilidade em sua estrutura, ao tempo e ao 
currículo (ao que ensina). 
Marandino (2017, p. 812) adverte que é possível encontrar “referências 
na literatura que optam por utilizar outras expressões e conceitos que se 
aproximam da ideia de não formal como ‘pedagogia social’, ‘educação social’ e 
‘aprendizagem por livre-escolha’”. 
Para além dos conceitos de educação formal, informal e não formal, é 
relevante pensar nas propostas que buscam integrar espaços escolares com 
espaços comunitários. Nesse quesito, há projetos e políticas voltadas, por 
exemplo, para abrir os espaços das instituições escolares para a comunidade 
com finalidade educativa e de lazer, considerando a escola um lugar seguro e de 
acolhimento para crianças e jovens, além da comunidade em geral. 
A escola pública tem como compromisso oportunizar condições para 
sua clientela construir conhecimentos, atitudes e valores, contribuindo 
na formação de cidadãos críticos, éticos e participativos nos contextos 
que integram (BRASIL, 2004). No entanto, que requer superação de 
obstáculos, pois segundo Atié (1999, p. 3), em sua análise sobre a 
escola pública: "Hoje, o desafio que se coloca diante da escola é 
fornecer educação e informação para toda a vida... ela precisa romper 
seus muros e estar plenamente inserida no seu tempo e na 
comunidade a qual pertence." Ações escolares devem ser 
consolidadas em um contexto participativo, integrador de todos seus 
segmentos, sincronizadas com o contexto atual, que requer uma 
política educacional capaz de contribuir na condução do país ao pleno 
desenvolvimento, em conformidade com os princípios democráticos 
em evolução. (Bezerra et al, 2010, p. 281) 
Talvez você conheça algum projeto de integração escola-comunidade na 
região onde vive, em que a escola abriga oficinas, cursos profissionalizantes, 
grupos de estudo, aulas de música etc. A ideia subjacente é de que o espaço 
público, a escola, é do povo e precisa ser por ele utilizado, com seriedade e 
responsabilidade, sobretudo com o propósito de fomentar a cultura, o 
aprendizado e as relações interpessoais de convivência saudável e solidária. 
 
 
7 
TEMA 3 – GESTÃO DE CONFLITOS NO ESPAÇO ESCOLAR: MEDIAÇÃO E 
PRÁTICAS RESTAURATIVAS 
A instituição escolar é um espaço de ensino e de aprendizagem; portanto, 
é também um local em que as relações interpessoais ocorrem com a mesma 
complexidade presente na sociedade em geral. Parece obvio, mas é necessário 
lembrar, que na escola não trabalhamos com máquinas, mas com gente; e gente 
tem emoção, afeto, tristezas, alegrias, referências anteriores, enfim, é fruto de 
múltiplas determinações. 
Lançar olhares sobre a escola é partir do pressuposto de que ela é um 
espaço dinâmico, um lugar sociocultural que abarca duas dimensões: 
por um lado, é uma instituição pautada por regras e normas que a 
tornam um sistema escolar; por outro, é constituída por sujeitos 
imersos em redes de relações, tramas sociais de acordos, confrontos 
e interesses, espaços de apropriação constante de práticas e saberes 
entre a instituição e os indivíduos. (Silva; Almeida; Almeida, 2022, 
p. 303) 
Na escola, bem como em outros espaços de convivência social, nem tudo 
é harmonia, nem tudo é concordância, nem sempre o consenso é atingido de 
forma fácil ou rápida. Democracia não é fácil! É processo! Exige trabalho, estudo, 
paciência, comprometimento, seriedade, participação, diálogo, respeito. Com 
certeza, a escola é um ambiente propício para esse aprendizado, para o debate, 
a discussão, a pluralidade de ideias e, até mesmo, para as discordâncias. Isso 
tudo faz parte do processo democrático e deve envolver todos os sujeitos: 
professores, pais, alunos, funcionários e a comunidade. É certo, os conflitos são 
parte da construção de um consenso sobre diversos assuntos no ambiente 
escolar: “O conflito faz parte da vida social, alterando e provocando mudanças 
sociais necessárias como força integradora dos indivíduos, que move e dá vida 
ao processo relacional” (Silva; Almeida; Almeida, 2022, p. 308). 
 Da equipe gestora, da direção e dos pedagogos requer-se preparo, 
formação e base teórico-prática que lhes dê o suporte necessário para gerenciar 
conflitos no espaço escolar. Igualmente, exige-se do professor, ao lidar com 
alunos, pais e colegas de trabalho, essa formação para que possa mediar 
situações conflituosas e instaurar práticas restaurativas, buscando alternativas 
conjuntas para problemas e desafios que se apresentem. 
A escola pública, sendo um espaço dinâmico e intenso de relações, 
não se exime de conflitos, até porque estes são inerentes à 
sociabilidade, assegurando o processo de crescimento e 
 
 
8 
transformação. Por outro lado, o contexto das escolas é afetado pelas 
manifestações das violências, sob diversas formas e sentidos, sejam 
elas simbólicas, físicas ou microviolências, interferindo 
substancialmente nas relações e convivências sociais e, por 
consequência, no processo de ensino-aprendizagem. (Silva; Almeida; 
Almeida, 2022, p. 316) 
O que está em jogo não é evitar os conflitos ou simplesmente aceitá-los, 
mas lidar com as condições adversas da melhor maneira possível, baseando-se 
sempre no que diz a legislação educacional vigentee os documentos 
norteadores da instituição escolar como o projeto político pedagógico (PPP) e o 
regimento escolar. O conhecimento, o diálogo e o respeito pelo outro podem 
auxiliar a encontrar soluções para cada problema a ser superado no âmbito 
escolar. 
TEMA 4 – PARCERIAS COM ONGS, EMPRESAS E ÓRGÃOS PÚBLICOS: 
OPORTUNIDADES E DESAFIOS 
Ao considerar as dificuldades e as carências (financeiras, estruturais, de 
formação e valorização dos profissionais etc.) que afetam as escolas públicas da 
educação básica no contexto brasileiro, tem-se buscado parcerias com ONGs, 
empresas e órgãos públicos com o intuito de melhorar as condições de trabalho 
dessas instituições. 
Conforme alertamos em etapa anterior, o tema da parceria público-
privada é bastante polêmico e questionado, especialmente pelas entidades de 
defesa da escola pública, universal e gratuita, como alguns sindicatos e 
associações dos profissionais da educação da rede pública de ensino. 
Costumam ser muito sérias as críticas que envolvem tais ações de parceria e 
precisam ser levadas em conta na análise de cada caso. Destinar 
inadvertidamente dinheiro público ao setor privado é algo preocupante, pois 
encerra políticas de cunho neoliberal voltadas para privatização, precarização e 
terceirização dos serviços públicos. 
Todavia, as parcerias já integram a realidade educacional vigente e 
podem (dependendo dos objetivos a que se propõem e de quem está sendo 
beneficiado com essa ação) resultar em melhorias nos processos de ensino-
aprendizagem. Também é preciso considerar que nem sempre o que está 
diretamente envolvido numa parceria é o incremento financeiro, podendo 
envolver recursos, troca de conhecimentos, espaços a serem utilizados e 
potencializados. 
 
 
9 
Aqui comentaremos alguns exemplos fictícios, mas possivelmente você 
conheça exemplos reais e pode refletir criticamente sobre esses casos de sua 
localidade. 
Um exemplo, no campo cultural, é a parceria de museus públicos ou 
privados com escolas. Estas podem se beneficiar com visitas aos museus, bem 
como, com a formação de professores potencializada pelos profissionais que 
trabalham na instituição museológica, como historiadores, museólogos, 
curadores, geólogos, podendo envolver nas formações conhecimentos voltados 
para as artes visuais, arquivos históricos, autores diversos. 
Outro exemplo, no caso de uma escola localizada em um bairro industrial, 
é a parceria da secretaria de educação com empresas locais para firmar projetos 
conjuntos beneficiando as escolas públicas. Tais projetos podem abarcar uma 
infinidade de possibilidades, como a visita dos alunos às fábricas para conhecer 
o processo de produção, a possibilidade de reverter para a comunidade 
benefícios relacionados com o produto que a fábrica produz e até palestras e 
oficinas; há, ainda, a possibilidade de envolver os pais em certas atividades, uma 
vez que muitos deles podem trabalhar nessas empresas. A escola precisa ir além 
dos conteúdos dos livros didáticos e analisar com seus alunos os elementos da 
vida real, com suas variabilidades, possibilidades e problemas. 
Ademais, no setor público, advogamos que as diferentes secretarias de 
governo estadual ou municipal trabalhem de forma integrada. Por exemplo, as 
secretarias de Cultura, de Esportes, de Lazer e de Planejamento podem atuar 
de maneira articulada em projetos conjuntos com a Secretaria de Educação. O 
município pode ter um cinema ou um teatro que não é utilizado pelos alunos da 
rede pública, o que é lamentável. Seria de grande valia o teatro, o cinema, o 
parque, o transporte público, serem todos utilizados em prol da educação. Se os 
setores do governo que atuam nas políticas públicas de educação, cultura, saúde 
e lazer trabalharem em conjunto, de forma articulada, o maior beneficiado será 
o aluno dessa rede de ensino. 
Precisamos unir forças, pois é urgente que todos os esforços sejam 
envidados para possibilitar o enriquecimento da educação ofertada para a 
maioria da população, garantindo uma educação de qualidade. E que qualidade 
seria essa? 
Acreditamos que a educação de qualidade é aquela que tem sentido e 
significado na vida das pessoas, que possibilita a inserção e a intervenção crítica 
 
 
10 
e consciente na sociedade, que amplia exponencialmente as oportunidades de 
vida digna para todos. 
TEMA 5 – AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO À 
DISTÂNCIA (EAD): REGULAMENTAÇÃO E POTENCIALIDADES 
A utilização das tecnologias da informação e da comunicação perpassa 
toda a sociedade, e o uso das tecnologias na educação não pode mais ser 
ignorado. A EaD, os ambientes virtuais de aprendizagem, as ferramentas 
tecnológicas que hoje existem são fruto do conhecimento e do trabalho humano 
e podem contribuir enormemente para o processo de ensino-aprendizagem. 
O Conselho Nacional de Educação (CNE) e o Ministério da Educação 
regulamentam a EaD por meio da legislação educacional. O art. 80 da Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) – Lei n. 9.394, de 20 de 
dezembro de 1996 – estabelece que: “O Poder Público incentivará o 
desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos 
os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada” (Brasil, 1996). 
Além da LDBEN, existem outros documentos legais que tratam da EaD.1 
Por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais 
Anísio Teixeira (Inep), o Ministério da Educação realiza avaliação, 
monitoramento e reconhecimento dos cursos que são ofertados na modalidade 
a distância. 
Com base nessas considerações a respeito da regulamentação legal da 
EaD, podemos analisar as potencialidades que essa modalidade de ensino pode 
apresentar. O acesso ao conhecimento pode ser ampliado enormemente com a 
utilização dos ambientes virtuais e da EaD contribuindo para a aprendizagem de 
mais pessoas, independentemente do local onde estejam, numa perspectiva que 
extrapola as salas de aula. E o cerne da questão não é a quantidade de pessoas 
que possam vir a aprender via EaD, mas também da qualidade e do acesso aos 
conhecimentos, já que nos ambientes virtuais de aprendizagem, é possível 
explorar conhecimentos que seriam impossíveis há algumas décadas. 
Não estamos afirmando aqui que a EaD seja melhor do que a modalidade 
presencial. São modalidades diferentes de ensino, mas o objetivo que une 
ambas é idêntico: a aprendizagem. 
 
1 Você pode consultar esses documentos em Brasil (2025). 
 
 
11 
Eis um exemplo bem simples de não se considerar os avanços 
tecnológicos produzidos historicamente e que deveriam ser acessíveis para 
todos: é inegável que o avião possibilita transpor distâncias que antigamente 
eram intransponíveis e que se trata de um meio de transporte que oferece 
rapidez e comodidade. Negar isso seria negar um avanço tecnológico no campo 
dos meios de transporte. De maneira semelhante, não é possível ignorar o uso 
das ferramentas digitais para o alcance de conhecimentos e troca de 
experiências. Emerge aqui um questionamento: É melhor ter um professor de 
excelência na sala de aula falando com 20 ou 30 estudantes ou possibilitar que 
50 a 100 pessoas no país inteiro e fora dele tenham acesso a esses 
conhecimentos? Como se alcança isso? Com aulas síncronas, espaços virtuais 
com presença real, uma presença conectada, pois o virtual pode ser síncrono e 
real, prevendo a interação, o diálogo entre os sujeitos envolvidos. 
A EaD é uma modalidade educacional cujo desenvolvimento relaciona-
se com a administração do tempo pelo aluno, o desenvolvimento da 
autonomia para realizar as atividades indicadas no momento em que 
considere adequado, desde que respeitadas as limitações de tempo 
impostas pelo andamento das atividades do curso, o diálogo com os 
pares para a troca de informações e o desenvolvimento de produções 
em colaboração. A par disso, o “estar junto virtual” indica o papel do 
professor comoorientador do aluno que acompanha seu 
desenvolvimento no curso, provoca-o para fazê-lo refletir, 
compreender os equívocos e depurar suas produções […]. (Almeida, 
2003, p. 331) 
A argumentação apresentada acerca das potencialidades do ambiente 
virtual de aprendizagem e da EaD não elimina a necessidade de se considerar 
a desigualdade social e a dificuldade de acesso às ferramentas digitais e à 
internet. Afinal, muitas pessoas não têm acesso nem mesmo a salas de aula 
físicas, a livros, a bibliotecas. É imprescindível pensar soluções para a 
desigualdade social que impede a tantas pessoas acessar o que há de mais 
novo e avançado em muitos campos relacionados com a ciência e a tecnologia. 
NA PRÁTICA 
Nesta etapa, tratamos sobre os espaços escolares e não escolares. 
Abordamos a especificidade e a articulação entre esses dois espaços de 
aprendizagem (escolares e não escolares), espaços que podem ser bem 
diferentes em seus objetivos e sua estrutura, mas sempre voltados à 
aprendizagem. 
 
 
12 
Pesquise na localidade onde mora um projeto para a utilização do espaço 
da escola pela comunidade ou projetos educativos realizados na comunidade, 
fora do espaço escolar, mas que têm uma finalidade educativa, por exemplo 
educação ambiental, alimentação saudável, economia solidária etc. 
Siga esse passo a passo: 
1. Visite o projeto, converse com os sujeitos envolvidos, pergunte a respeito 
do financiamento da estrutura física, dos materiais, dos recursos 
envolvidos, dos sujeitos que participam, das pessoas que trabalham no 
local, dos resultados obtidos etc. 
2. Verifique se há materiais de divulgação, fôlderes, cartazes, fotos, sites etc. 
3. Registre tudo o que descobriu; depois, grave um podcast curto, de 2 a 5 
minutos, em que reporte tudo o que aprendeu sobre o projeto, 
mencionando em que localidade ele é desenvolvido. Não cite nomes de 
pessoas no áudio. Ao final, comente os pontos positivos do projeto e em 
que poderia ser melhorado. 
4. Envie seu áudio no link tutoria da disciplina. 
FINALIZANDO 
Discorremos sobre as diferenças, as similaridades e as relações entre os 
espaços escolares e não escolares. Enfatizamos a importância do assunto e sua 
pertinência na atualidade, dado que a educação é uma prática social que não se 
limita ao espaço escolar. Explicamos que os espaços de convivência 
(intencionalmente organizados ou não), como família, trabalho e sociedade em 
geral, também podem ser educativos, tendo ou não uma intencionalidade. 
Primeiramente, comentamos a função social da escola e seu papel na 
educação para cidadania e direitos humanos. Na sequência, discutimos sobre a 
integração entre os espaços escolares e comunitários, esclarecendo a relação 
dos espaços escolares com a educação informal e não formal. 
Também refletimos a respeito da gestão de conflitos no espaço escolar, 
da necessidade de mediação e da instauração de práticas restaurativas. 
Destacamos o papel da equipe gestora (direção e pedagogos), pois os conflitos 
sempre existirão, e se não é possível eliminá-los, devemos lidar com eles da 
melhor forma em busca da superação e da aprendizagem. Isso significa utilizar 
o conhecimento científico, o respeito e o diálogo em diferentes situações que 
 
 
13 
surgem na instituição escolar. 
Ainda, retomamos a temática das parcerias com ONGs, empresas e 
órgãos públicos, valorizando as oportunidades e compreendendo os desafios 
que tais ações podem encerrar. 
Por fim, debatemos acerca dos ambientes virtuais de aprendizagem e a 
EaD, abordando sua regulamentação e suas potencialidades para o acesso ao 
conhecimento historicamente produzido. 
Esses temas são de extrema importância porque os futuros professores 
precisam compreender que a educação e o conhecimento ultrapassam os muros 
da sala de aula e da escola. 
 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
ALMEIDA, M. E. B. de. Educação a distância na internet: abordagens e 
contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem. Educação e Pesquisa, 
v. 29, n. 2, p. 327-340, jul. 2003. 
BEZERRA, Z. F. et al. Comunidade e escola: reflexões sobre uma integração 
necessária. Educar em Revista, n. 37, p. 279-291, maio 2010. 
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, 
Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: 
. Acesso em: 18 mar. 
2025. 
BRASIL. Ministério da Educação. Educação a distância. Documentos 
importantes. Disponível em: . Acesso em: 18 mar. 2025. 
BUENO, J. G. S. Função social da escola e organização do trabalho 
pedagógico. Educar em Revista, n. 17, p. 101-110, jan. 2001. 
MARANDINO, M. Faz sentido ainda propor a separação entre os termos 
educação formal, não formal e informal?. Ciência & Educação, Bauru, v. 23, 
n. 4, p. 811-816, out. 2017. 
OLIVEIRA, I. B. de.; MOREIRA, A. F. B. A educação como direito humano e o 
direito humano à educação: o nacional no contexto da internacionalização das 
políticas educacionais. Educar em Revista, v. 40, p. e97172, 2024. 
SILVA, M. C. L. da.; ALMEIDA, R. de O.; ALMEIDA, S. M. N. de. Tecendo 
olhares sobre a gestão dos conflitos na escola. Dilemas: Revista de Estudos 
de Conflito e Controle Social, v. 15, n. 1, p. 303-320, jan. 2022.

Mais conteúdos dessa disciplina