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ANÁLISE DE CASOS CLÍNICOS 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Renato Staevie Baduy 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Em conteúdos anteriores, focamos no texto “Sobre o início do tratamento”, 
buscando compreender as recomendações freudianas para a fase inicial de uma 
análise, ou seja, o que, segundo Freud, precisa acontecer nesse momento para 
que um tratamento com vistas à cura seja possível. Percebemos como, em 1914, 
Freud destacou a dificuldade de se compreender o que ocorre no meio do 
caminho de uma análise, mas enfatizou a possibilidade de se entender o começo 
e o fim. 
Nesta etapa, faremos uma mudança temporal em sua obra, avançando 
para 1937, no texto intitulado “Construções em análise”, no qual Freud se 
debruçou sobre o meio, ou seja, o trabalho do analista durante o percurso da 
análise. É importante ressaltar que esse texto, mesmo escrito mais de vinte anos 
depois, integra seus escritos sobre a técnica. 
Neste texto, encontramos um Freud mais maduro, capaz de sistematizar 
como o analista atua ao longo de uma análise. Se em “Sobre o início do 
tratamento” Freud usou a metáfora do jogo de xadrez para ilustrar que um novato 
logo perceberá a constância relativa do início e do fim do jogo, ressaltando que 
seria muito custoso considerar as diversas possibilidades do meio, aqui ele 
compara o trabalho do analista ao do arqueólogo, com o intuito de demonstrar o 
“trabalho” do psicanalista durante o percurso. 
O texto tornou-se famoso por essa analogia, mas é rico por outros 
aspectos. Freud apresentou uma nova técnica, indo além da interpretação. Com 
ela, ele buscou abranger a escuta e o atendimento clínico do sofrimento psíquico 
que vai além do neurótico (Kofman, 1983). 
Para o desenvolvimento da nosso estudo, esta etapa dá continuidade ao 
conteúdo abordado anteriormente, no sentido de acompanhar a obra de Freud 
em seus escritos sobre a técnica. Ao apresentar sua forma de pensar a clínica, 
buscamos compreender a história da psicanálise e enriquecer nossas técnicas 
clínicas. Para isso, continuaremos a leitura do texto junto a uma vinheta clínica. 
TEMA 1 – VINHETA CLÍNICA 
A paciente busca a análise por meio do plano de saúde. Ela possui um 
extenso histórico de terapias, desde abordagens mais holísticas até a mais 
 
 
3 
recente, com uma profissional de psicologia sistêmica, onde relata ter tido boas 
experiências, mas sente que chegou a hora de se submeter a uma análise. 
Por já ter experiência em narrar sua história em terapias anteriores, a 
paciente não tem dificuldade em falar e também já se situa como sujeito. 
Após dois anos em tratamento de psicologia sistêmica, ela sente que a 
direção do trabalho não a está ajudando mais e que o tratamento atingiu um 
limite. Então, ela encontra o analista por indicação da própria terapeuta da 
época. 
Na primeira sessão, ela narra esse histórico terapêutico e também o 
motivo pelo qual está ali: recentemente, foi ao neurologista devido a fortes 
enxaquecas que a acompanhavam há muitos anos, com uma força 
incapacitante. Quando se encontrou com o profissional, ele logo questionou qual 
antidepressivo ela estava tomando, ao que ela negou, dizendo que não tomava 
nenhum. Ele respondeu que ela estava claramente depressiva e que deveria 
procurar um psiquiatra. 
Mais do que um tratamento para uma hipótese diagnóstica suscitada por 
esses encontros com os profissionais de neurologia e psiquiatria, ainda nesta 
primeira sessão, a paciente expressa que o que a angustiava estava relacionado 
a uma queda — queda de uma posição subjetiva. Para ela, a obviedade com 
que o neurologista indicou sua depressão teve a função de desmontar certa 
postura que ela ocupava subjetivamente, tanto que, ela diz, demonstrando sua 
reação frente à pontuação do profissional: “Eu? Como assim eu tenho 
depressão? Quem tem problemas psiquiátricos na família é meu irmão. Eu não 
tenho problemas, eu trago as soluções”. 
A partir daí, a paciente diz ter ficado muito confusa, com agravamento dos 
seus sintomas de enxaqueca e tristeza, até procurar uma psiquiatra e se 
estabilizar medicamentosamente. É neste contexto, então, que ela chega à 
análise. 
Ainda na primeira sessão, após identificar sua necessidade de tratamento, 
ela passa a explicar por que sentiu que seu mundo desabou depois desse 
episódio, situando-se na dinâmica familiar. Ela é a filha do meio, com uma irmã 
mais velha que foi mãe adolescente e que, com sua chegada, conta ela, sofreu 
muito e não parava de gritar, espernear e “fazer escândalo”, como sempre; e um 
irmão mais novo que a substituiu como a “filhinha do papai”, tornando-se o 
 
 
4 
parceiro do pai, e que na adolescência se envolveu com cocaína, o que desde 
então ocupa muito o tempo dos pais, assim como a irmã, embora de formas 
distintas. 
Sobre essa posição na dinâmica familiar, ela acrescenta ainda (e aqui 
damos um salto temporal para outros momentos do trabalho) os pedidos da mãe 
para que ela não se envolvesse sexualmente como a irmã fez, para não trocar 
seu trabalho por um casamento que dá muito trabalho, para que ela a ajudasse, 
para que fizesse parte de uma parceria com a mãe, afinal. É a partir disso que a 
paciente retira sua função na dinâmica familiar, que é desmontada pela fala do 
neurologista: trazer soluções. 
Voltando à primeira sessão, o analista termina com uma pergunta que 
guia o trabalho: qual é a relação entre essas dores incapacitantes e essa posição 
de trazer soluções, que ela diz ter desmoronado? 
É importante ressaltar que, diante das dores, ela se retirava de qualquer 
ambiente, ia embora e/ou faltava no trabalho, em encontros familiares, sociais, 
enfim, para se deitar no escuro até melhorar. E que já havia, inclusive, construído 
um arranjo para que isso funcionasse, principalmente no trabalho: compensava 
ficando mais tempo trabalhando e mostrando serviço, ao ponto de se sentir e ser 
considerada indispensável, o que, muitas vezes, a impedia de tirar férias. 
Na sessão seguinte, após ser convidada a se deitar no divã, ela chega, 
se deita e fica em silêncio por um longo tempo, até que diz: “engraçado, eu 
costumo chegar do trabalho e me deitar no sofá sob a penumbra, como sua sala 
está, e, ao me deitar aqui agora, me veio uma grande sensação de abandono”. 
Solicitada a falar mais sobre esse abandono, ela lembra uma história que a avó 
materna contava sobre seu nascimento e primeiros anos de vida, onde, diante 
dos gritos e choros da irmã por conta de seu nascimento, demandando a atenção 
dos pais, ela ficava sozinha, ainda bebê, deitada em um quarto fechado, apenas 
sendo protegida por contenções físicas para não se virar e cair da cama. E 
quando a mãe ia passar um tempo com ela, precisava trancar a porta para a irmã 
não ter acesso. 
Este “se virar”, após ser destacado pelo analista, permitiu que a paciente 
brincasse com o sentido, encontrando um novo significado que a expressão 
corriqueira permite: encontrar um jeito, uma solução, um caminho. O giro no 
significante “se virar” também possibilita relacioná-lo à sua posição narrada logo 
 
 
5 
na primeira sessão, obviamente — a de trazer soluções —, trazendo à tona, mais 
uma vez, sua dinâmica, não só familiar, mas subjetiva. 
Dada essa lembrança e construção, proporcionada pelo dispositivo 
analítico já em andamento e, neste momento, pelo divã, muitas sessões se 
desenrolam, onde a paciente vai remontando sua história, narrando as situações 
que vivencia no trabalho, seus encontros familiares, seus encontros amorosos, 
enfim. Mas, sobretudo, sendo trabalhados à luz das construções já feitas. 
Para concluir a vinheta, mas não o caso, em um momento do trabalho, a 
paciente volta a mencionar os gritos e choros da irmã, descrevendo-a como 
sempre escandalosa, e como isso impactou sua forma de existir hoje, trazendo 
muitas dores ao longo do tempo. Neste instante, o analista faz uma pequena 
pergunta: “por que achaque ela chorava?”. Diante da resposta repetida, “ela é 
escandalosa”, a paciente responde, atônita: “porque ela estava sofrendo, e isso 
muda tudo”. 
TEMA 2 – CONSTRUÇÕES EM ANÁLISE 
Se, em 1914 Freud está preocupado com o estabelecimento de certas 
diretrizes para o início do tratamento e, consequentemente, sua implicação para 
o caminho da cura, advertindo que só há relativa previsibilidade no início e no 
final do processo de análise, em 1937, lemos um Freud se esforçando para 
pensar o papel do analista no meio do caminho. 
Neste texto, “Construções em análise”, o psicanalista se propõe a 
responder a uma crítica direcionada à forma como o trabalho clínico em 
psicanálise é conduzido. A saber: um importante pensador da época havia dito 
que, da posição do paciente em relação ao psicanalista, o último estaria sempre 
com a razão, utilizando-se da máxima “Heads I win, tails you lose”1: 
Isso significa que se ele concorda conosco, estamos com razão; mas 
se ele nos contraria, então seria apenas um sinal de sua resistência e, 
portanto, também mostraria que temos razão. Dessa forma, sempre 
teremos razão diante de uma pobre pessoa desamparada que 
analisamos, não importando como ela possa se comportar diante das 
nossas confrontações. Como é verdade que um “não” de nosso 
paciente em geral não nos move a abdicarmos de nossa interpretação 
considerando-a equivocada, tal exposição de nossa técnica foi muito 
bem-vinda para os adversários da análise. Por isso, vale a pena 
apresentar em detalhes como costumamos avaliar o “sim” e o “não” do 
 
1 Literalmente, “cara eu ganho, coroa você perde”. 
 
 
6 
paciente — a expressão de sua concordância e de sua oposição — 
durante o tratamento analítico. (Freud, 1937, p. 365) 
Para sua resposta, Freud irá se debruçar sobre importantes aspectos do 
trabalho psicanalítico, como a natureza da negação, que, inclusive, ele já havia 
trabalhado em um texto de 1925 e que fomentou o debate sobre o psicanalista 
estar sempre com a razão; como compreender se a comunicação, por parte do 
analista, estava correta; os possíveis efeitos no paciente e no decurso da análise 
após uma comunicação; e, sobretudo, o que acontece no meio do caminho, isto 
é, uma nova técnica para a condução de casos clínicos, a qual Freud chamará 
de construção. 
A partir da vinheta clínica apresentada acima, podemos vislumbrar algo 
da teoria freudiana apresentada neste texto, embora, certamente, muito nos 
escape, até porque, só podemos nos basear no que o caso nos permite pensar. 
Enfim, “Construções em análise” se torna célebre não só pela nova 
técnica apresentada, que embora já possa ser observada na condução freudiana 
de casos como o do Homem dos Lobos e no caso da Jovem Homossexual, mas 
também por ser um de seus últimos textos e, principalmente, pela forma como 
Freud nos apresenta: a famosa analogia entre o trabalho do psicanalista e do 
arqueólogo. 
TEMA 3 – A TÉCNICA DA CONSTRUÇÃO 
Para construir seu argumento, Freud nos recorda qual é o objetivo do 
trabalho analítico, a saber: “que o paciente volte a suspender [aufheben] os 
recalques — entendidos aqui no sentido amplo — de seu primeiro 
desenvolvimento, para substituí-los por reações que corresponderiam a um 
estado de maturidade psíquica” (Freud, 1937, p. 366). Para tanto, diz Freud, o 
paciente precisa relembrar determinadas vivências e seus afetos 
correspondentes, que, em sua teoria, são os causadores de sintomas e inibições 
que produzem sofrimento ao sujeito. 
Contudo, como se conduz a rememoração desses conteúdos recalcados? 
Parece-nos que, neste texto, Freud nos dirá que, para tanto, junto da 
interpretação, há a construção. 
Permanece, porém, a questão de quais são os materiais com que o 
psicanalista trabalha para tal recuperação de lembranças perdidas? Segundo 
 
 
7 
Freud, são diversos elementos entrecortados que o paciente apresenta no 
decorrer do trabalho, como: pedaços de lembranças em seus sonhos; 
ocorrências de lembranças, atos falhos, chistes, que o paciente se depara em 
sua fala quando se entrega à “associação livre”; e, de “repetições de afetos 
pertencentes ao recalcado em ações importantes ou triviais do paciente tanto 
dentro quanto fora da situação analítica” (Freud, 1937, p. 366). 
No nosso caso em questão, de alguma forma, a construção do caso se 
inicia com a elevação da palavra dor ao estatuto de significante, que pôde, à 
medida que a análise seguia, se enredar em outros sentidos. Dessa forma, 
podemos compreender como a insistência da paciente em relatar sua dor era um 
“pedido” para que algo fosse escutado. Assim, o que estava velado sob a palavra 
compunha um material importante para a abertura do inconsciente, remetendo-
nos às perguntas freudianas acima. Mas, trabalharemos mais este ponto 
adiante, embora já possamos vislumbrar como um conteúdo importante emerge 
em sessão. 
Em resumo, Freud apresenta como, via de regra, os conteúdos são 
expostos pelo paciente no decorrer do trabalho analítico. Desta forma, ele pode 
se debruçar sobre a nova técnica, demonstrando como o analista trabalha a 
partir daí. Neste sentido, quanto ao trabalho de construção em análise, Freud 
dirá: 
O que queremos é uma imagem dos anos de vida esquecidos do 
paciente, imagem que seja confiável e consistente em todas as partes 
essenciais. Aqui, porém, somos lembrados de que o trabalho analítico 
é composto de duas partes bastante diversas, que ele transcorre em 
dois palcos diferentes, que acontece em duas pessoas, e a cada uma 
delas é atribuída uma tarefa diferente. Por um momento, perguntamo-
nos por que não se chamou a atenção para esse fato fundamental há 
muito mais tempo, mas logo nos dizemos que nada nos foi omitido, que 
se trata de um fato de conhecimento geral, digamos que óbvio, que é 
destacado só aqui com uma intenção específica e que será 
devidamente tratado. Todos nós sabemos que o analisando deverá ser 
levado a se recordar de algo que ele vivenciou e recalcou, e as 
condições dinâmicas desse processo são tão interessantes que, diante 
disso, a outra parte do trabalho, que é o empenho do analista, passa a 
ficar em segundo plano. De tudo o que é essencial aqui, o analista não 
vivenciou nem recalcou nada; não pode ser a sua tarefa lembrar algo. 
O que, então, é a sua tarefa? Ele terá de inferir o esquecido a partir 
dos sinais por ele deixados, ou, mais corretamente, ele terá de 
construir o esquecido. Como, quando e com que explicações ele 
comunica as suas construções ao analisando é o que estabelecerá a 
ligação entre as duas partes do trabalho analítico, entre a sua parte e 
a do analisando. (Freud, 1937, p. 366-367) 
 
 
8 
É neste momento, quando Freud pode apresentar a técnica da 
construção, que ele fará analogia entre o fazer do psicanalista e o trabalho do 
arqueólogo. Freud avalia que ambos são idênticos, ou seja: 
[…] assim como o arqueólogo constrói as paredes de um prédio a partir 
dos resquícios de parede ainda existentes, determina a quantidade e a 
posição de colunas a partir de depressões no solo, reconstitui os 
antigos ornamentos e pinturas de parede a partir de restos encontrados 
nos escombros, o analista procede da mesma forma quando tira as 
suas conclusões a partir de fragmentos de lembranças, associações e 
declarações ativas do analisando. Ambos permanecem tendo o direito 
indiscutível de reconstrução através de complementação e junção dos 
restos conservados. 
Ele ressalta que ao analista, contudo, cabe se valer de maior material de 
apoio por se ocupar com algo vivo e que o arqueólogo está sujeito a importantes 
perdas e destruições de seu material, ao que, por outro lado, o psicanalista não 
está: “duvidamos que qualquer formação psíquica realmente seja suscetível a 
destruição total” (Freud, 1937, p. 369). 
É justamente por trabalhar com algo vivo e que dificilmente se perde, que 
tal vantagem do analista em relação ao arqueólogo encontra dois contrapontos: 
1. a maior complexidadedo objeto psíquico em relação ao arqueológico; e 2. o 
despreparo para aquilo que se deflagra do encontro com o objeto psíquico e sua 
vastidão (Freud, 1937, p. 368-369). 
Por fim, Freud ainda dirá que há uma diferença fundamental entre os dois 
afazeres: para a Arqueologia, a reconstrução é o objetivo final e, para o 
psicanalista, a construção é um trabalho preliminar. 
3.1 Um pequeno adendo: construção e/ou interpretação? 
Neste momento avançado da vida e obra freudiana, servimo-nos de sua 
generosidade: com a técnica da construção, encontramos mais uma ferramenta 
junto à interpretação e, com ela, vamos do início, ao meio, até o fim: “O analista 
produz um pedaço de construção, comunica-o ao paciente, para que faça efeito 
sobre ele; depois, ele constrói mais um pedaço a partir do novo material que 
chega como um afluente e trabalha do mesmo jeito, e nessa alternância vai até 
o fim” (Freud, 1937, p. 369-370). 
Mas, qual seria a diferença entre a interpretação e a construção? Neste 
ponto, Freud faz vacilar a interpretação diante da construção, insinuando que a 
construção seria o mais adequado no trabalho analítico. 
 
 
9 
Ao mesmo tempo, traça uma importante diferença entre as duas técnicas, 
distinguindo sua utilização e demonstrando que são ferramentas distintas: 
“Interpretação se refere àquilo que fazemos com um único elemento do material, 
a exemplo de uma ocorrência [Einfall], um ato falho ou assemelhados. Mas 
falamos em construção quando apresentamos ao analisando um pedaço de sua 
história pregressa esquecida” (Freud, 1937, p. 370). 
Ilustrativo desta diferença, podemos pensar na situação em que, no 
decorrer da análise, a paciente chega relatando suas dores de cabeça e 
enxaqueca e, em seguida, emenda outro assunto, relacionando, mesmo sem 
dizer explicitamente, com sua posição subjetiva desde a infância. Então, o 
analista pôde fazer uma pontuação, com caráter de interpretação, por abrir um 
sentido que a escuta do inconsciente permite, e não a corriqueira que o 
diagnóstico de enxaqueca encerra: o que dói, então, é tentar resolver tudo? 
Uma pequena interpretação como essa, no decurso do trabalho, compõe 
a construção do caso e, também, as construções em análise que veremos mais 
adiante, mas, adianto: com o decorrer do trabalho, a posição de tentar resolver, 
à qual a paciente se submetia, ganha um novo sentido, no qual ela pode se 
separar dessa dinâmica da demanda em que se enredava, devolvendo à cena 
familiar tal demanda, e não exatamente a ela. Às situações que ela se punha a 
resolver, agora diz: “ih, vai sobrar pra mim, vão querer algo de mim”. 
TEMA 4 – RETORNANDO À VINHETA… 
Por si só, a vinheta é bastante ilustrativa de algumas construções feitas 
em análise. Entretanto, vale a pena retornarmos a ela para vermos como, ali, o 
manejo foi trabalhado. 
No texto freudiano, ele lança mão de alguns exemplos e, ao seu estilo, o 
faz de forma a comunicar a construção, apresentando os elementos que o 
paciente trouxe e a relação entre eles. Por exemplo: 
Mas falamos em construção quando apresentamos ao analisando um 
pedaço de sua história pregressa esquecida, da seguinte forma, por 
exemplo: até os seus x anos, você se considerava o dono único e 
irrestrito da sua mãe, até que chegou um segundo filho e, com ele, uma 
grande decepção. “Sua mãe abandonou você durante algum tempo, e 
também mais tarde não se dedicou exclusivamente a você. Seus 
sentimentos em relação à sua mãe tornaram-se ambivalentes, o pai 
passou a ter outra importância para você etc.” (Freud, 1937, p. 370) 
 
 
10 
Contudo, se observarmos a condução do analista na vinheta clínica em 
questão, vemos que a construção fica por conta da analisante e o analista 
apenas a conduz com suas perguntas. 
Neste caso, vemos duas formas de condução: em uma primeira, logo na 
primeira sessão, o analista questiona a relação entre dois elementos distintos, 
as dores de cabeça/a sua posição de trazer soluções. Pergunta que abre um 
longo campo de trabalho, que dá a direção da análise, e que põe a paciente a 
trabalhar em uma construção. Evidentemente, algo no discurso da analisante já 
apontava para essa correlação — como ela apresentou o conteúdo, a sequência 
lógica do discurso e o encadeamento das ideias, enfim — e o analista apenas o 
evidenciou. 
Quanto a esta primeira construção, a direção se mostrou precisa, à 
medida que a dor que tocava o corpo da paciente, por ainda estar solta em seu 
discurso e não enredada pelo simbólico, foi ganhando outro contorno, agora 
amarrada à própria posição subjetiva da paciente. Mais ou menos com esta 
lógica: trazer as soluções é muito custoso, dói muito, e as pessoas, via de regra, 
não as seguem, então, assim, eu fico incapacitada de resolver os impasses que 
se apresentam. Com o andamento do trabalho, as dores foram cessando, não 
mais tomando seu corpo e a colocando de cama: o que foi abrindo espaço para 
a paciente se questionar quanto ao próprio desejo e não mais responder 
automaticamente ao empuxo do “trazer soluções”. 
Uma segunda forma de condução aparece quando o analista coloca uma 
pergunta, de forma certeira, sobre o sentido do choro da irmã. Pergunta capaz 
de reposicionar a fantasia da paciente, que precisava que a irmã fosse 
“escandalosa”, para que ela fosse a “resolvedora”. Obviamente, a pergunta 
poderia ser inócua, e a resposta recair sobre a repetição do significante 
“escandalosa”; mas, dada a relação transferencial, dado ao momento de 
trabalho, onde ela já vinha remontando sua posição subjetiva a partir da relação 
com os irmãos, a pergunta foi o suficiente para que a paciente pudesse juntar os 
elementos que vinha trazendo e produzir uma construção de sua própria história. 
Capaz, como disse ela, de mudar tudo. 
Para ser justo com Freud, mesmo que ele nos demonstre seu estilo no 
texto, ele também abre o campo para o estilo dos próximos psicanalistas, quando 
diz: “como, quando e com que explicações ele comunica as suas construções ao 
 
 
11 
analisando é o que estabelecerá a ligação entre as duas partes do trabalho 
analítico, entre a sua parte e a do analisando” (Freud, 1937, p. 366-367). Essa 
forma tripartite que inicia a frase, o “como, quando e com que explicações”, deixa 
o campo todo aberto para os analistas construírem suas próprias formas de 
condução. 
TEMA 5 – O NÃO, O SIM E O PONTO DE APOIO 
Nesta altura, Freud já tem a seu dispor suficiente munição para adentrar 
no debate que justifica seu texto, isto é, a acusação de que o psicanalista estaria 
sempre com a razão. Aqui o texto começa a ganhar densidade e Freud irá tocar 
em pontos muito sutis do trabalho clínico e da escuta do analista. Na sequência, 
construirá uma saída elegantíssima às acusações. 
Para elaborar seu argumento, Freud lança mão da seguinte questão: “que 
garantias temos durante nosso trabalho nas construções de que não seguiremos 
por caminhos errados, colocando em risco o sucesso do tratamento, caso 
defendamos uma construção incorreta?” (Freud, 1937, p. 370). 
A resposta imediata freudiana diz respeito às manifestações do paciente 
após a comunicação do analista. Mas a perspicácia freudiana reside na 
diferenciação entre dois tipos de manifestações. A primeira seria mais direta, 
onde o paciente diz “sim” ou “não” à construção na sequência da comunicação 
feita pelo analista. Freud dirá que essas respostas imediatas não são muito 
confiáveis, podendo abranger uma pluralidade de significados, e que não se 
mostram tão úteis ao decorrer da análise. 
A segunda manifestação diz respeito a tipos indiretos de confirmação. 
Aqui, Freud é bastante fiel à ética da psicanálise — o inconsciente —, 
convocando, mais uma vez, a escuta dos analistas à elaboração dos seus 
pacientes frente à construção. 
5.1 O não e o sim 
A essas duas modalidades de respostas diretas do analisante, Freud fará 
pouco caso. Na verdade, ele não as desconsidera, mas sustenta queelas 
oferecem pouca fonte de apoio à continuidade do trabalho. 
 
 
12 
Quanto ao “sim”, ou seja, a confirmação pelo paciente de que a 
construção está correta, Freud diz abranger muitos significados, desde um sinal 
de resistência, de fato uma concordância, ou até não ter sentido algum. 
Freud dirá que, diante do “sim”, o analista só conseguirá se apoiar se ele 
for seguido de confirmações indiretas: “novas lembranças que complementam e 
ampliam a construção” (Freud, 1937, p. 372). 
Em relação ao “não”, da mesma forma, Freud a avalia como uma 
abrangendo uma polissemia de sentidos, que precisará ser identificada caso a 
caso. Mas, de forma geral, para ele, “a única interpretação segura do seu “não” 
é aquela que aponta a insegurança; que a construção certamente não lhe disse 
tudo” (Freud, 1937, p. 372). 
5.2 Confirmações indiretas 
Quanto às confirmações indiretas, Freud chamará a atenção para sua 
expressão via formações do inconsciente — lembranças, atos falhos, chistes, 
sonhos — e que elas, embora possam aparecer logo após a comunicação da 
construção, muitas vezes demandam a continuidade do trabalho. O que, 
inclusive, pode significar uma confirmação negativa, ou seja, a construção não 
“acertou” o alvo. 
No texto, Freud irá demonstrar alguns exemplos, principalmente por via 
de atos falhos, demonstrando que é sobre isso — o inconsciente — que o 
psicanalista deverá se apoiar para compreender se sua construção estava 
correta e, neste caso, dar continuidade à direção do tratamento. 
Ainda, fará um importante adendo, que diz respeito a casos em que a 
análise está em um momento delicado, onde a relação transferencial está 
complicada, ou o paciente está relutante quanto ao que “viu” de seu 
recalcamento, enfim, análise em momentos complicados. Freud dirá que, nesses 
casos, é fácil ler como o analisante recebe a construção, dirá: se estiver errada, 
nada muda no paciente; mas, se estiver correta, “ele reagirá a ela com uma 
visível piora de seus sintomas e de seu estado geral” (Freud, 1937, p. 375). 
Porém, sobretudo, o que garante o “acerto” de uma construção é que ela 
produza mais lembranças: isto é, que ela possa abrir o inconsciente, trazê-lo à 
cena. De tal modo, vamos acompanhando como, no decorrer do caso, algumas 
 
 
13 
pontuações e perguntas do analista, como trabalhamos acima, vão dando “gás” 
ao trabalho. 
De tal forma, o “acerto” não diz respeito a uma vaidade do analista, mas 
sim de que se trata, aí, do inconsciente e de que, sobre isso, há mais a dizer. 
Um exemplo disso, ainda neste caso, trata-se de um momento do trabalho 
em que a paciente relata sua repulsa ao se deparar com mulheres grávidas na 
rua, onde sentia, inclusive, necessidade de atravessar a rua. Ela conta essa cena 
de forma muito solta em uma sessão e não dá abertura para entrada do analista 
neste momento. Mas, algum tempo depois, ela chega às sessões, se deita e, de 
imediato, sua barriga começa a “roncar”, o que a faz achar graça. Em dada 
sessão, o analista apenas intervém: “parece que sua barriga está querendo nos 
contar alguma coisa”. Ela diz, “pois é, e eu ainda estou bem alimentada, sempre 
como antes da sessão”, numa espécie de confirmação direta, do “sim”, mas que 
retornará como conteúdo de que há um dizer e, assim, como confirmação 
indireta. 
Nas sessões seguintes, ela retorna à questão das grávidas, ainda mais 
por conta de uma grande amiga que engravidou inesperadamente: a qual ela diz 
que se pegou, por dias, pensando: “que cagada”. Assim, lá se vão um longo 
trabalho de narrar como foi assistir à mãe gestando o irmão e sua depressão 
pós-parto; como foi a gestação na adolescência da irmã, “que fez merda”, e que 
acabou “sobrando pra ela”, pois, no contexto familiar, foi necessário que ela 
fosse morar com o avô em outra cidade relativamente distante da casa dos pais. 
NA PRÁTICA 
Ao longo deste estudo, poderemos observar formas distintas tanto da 
condução do analista quanto das associações feitas pelos pacientes e suas 
capacidades de elaboração. 
Há outro ponto, que, parece-me, é importante trazer para nosso estudo, 
principalmente para aqueles que estão no começo da clínica e, muitas vezes, 
respondem a uma ânsia de “dar certo”, trazer “boas sacadas” para o paciente, 
de “mostrar trabalho”, de ser “bom psicanalista”, por assim dizer. 
Às vezes, muitos de nós incorremos em construções — talvez neste caso 
esteja mais para interpretações — tomando como base ideias recorrentemente 
ligadas à psicanálise e sua história, por vezes muito utilizadas no senso comum, 
 
 
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e que acabam trazendo ruídos para nossa escuta, afastando-nos do discurso 
singular dos pacientes. 
Por exemplo, um analista mais experiente recebeu em supervisão outra 
psicanalista, que trazia o caso de uma mulher que estava interessada em 
engravidar, enquanto seu marido não tinha vontade de ter filhos; ao mesmo 
tempo, a mulher contava que eles estavam tendo questões para a vivência da 
sexualidade, onde o marido dificilmente tinha ereções e, quando tinha, chegava 
ao orgasmo rapidamente, o que a deixava insatisfeita. Dentro dos pormenores 
do caso, a analista comunica uma interpretação à paciente, dizendo que era 
óbvio que a sexualidade deles não funcionaria, sendo que ela se posiciona como 
mãe do marido. Neste instante, o supervisor questiona: mas por que como mãe 
do marido? Por que interpretou assim? Quais elementos do discurso dela te 
fazem entender isso? 
Neste caso, a analista estava escutando a paciente a partir da teoria, 
colando-a na sua escuta, muito mais do que ouvindo o que a paciente poderia 
dizer. Ela faz um recurso a uma forma de abordar e entender o Complexo de 
Édipo, por vezes muito freudianamente — como vemos, inclusive, numa citação 
utilizada nesta etapa, retirada do texto em questão — e, por vezes, muito 
embasada no que o senso comum tem sobre a psicanálise e o Complexo de 
Édipo. 
Desta forma, o trabalho do supervisor foi o de abrir a escuta da analista 
para o discurso de sua analisante, assim como, no caso em que trabalhamos 
nesta etapa, o analista esteve aberto às construções singulares da paciente. 
FINALIZANDO 
Nesta etapa, abordamos uma construção em análise em que toda a 
elaboração dos elementos, que resultam em uma construção, é feita pela 
analisante. Desta forma, diferentemente de Freud e sua abordagem da 
construção no texto, o que vem do analista não é uma comunicação, mas o 
levantamento de uma questão a partir dos elementos que a paciente expõe. 
Neste ponto, encontramos a capacidade e a abertura da paciente para 
articulações e elaborações em análise — talvez por já vir de um longo período 
prévio de terapias, mesmo que fora do campo da psicanálise, talvez pelo seu 
próprio histórico, talvez por ambos e ainda por pontos não mapeados. Tal 
 
 
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capacidade incide na leitura de modo de manejo clínico do analista, que, ao 
escutar a paciente, sabe que ela é capaz de tais articulações mais “por conta 
própria”, digamos assim. 
Enfim, para finalizar, não podemos deixar de mencionar uma opção feita 
por mim, professor responsável, na elaboração deste conteúdo. Há ainda, no 
texto “Construções em análise”, uma terceira e última seção, de extrema 
importância à história da psicanálise e da metapsicologia freudiana, expondo 
todo um campo de estudo que já vinha sendo explorado por Sándor Ferenczi, e 
que, ao ser nomeado por Freud, abre-se à posteridade, mas que não caberia 
neste texto. 
Trata-se da condução de casos em que há uma interrogação quanto ao 
psicodiagnóstico: entre a neurose e a psicose. Nestes casos, Freud dirá, a 
comunicação da construção funciona de outra forma, tendo efeitos semelhantes 
aos dos delírios e alucinações. A partir daí, Freud retira uma forma mais eficaz 
de trabalhar, em seu ponto de vista, com os casos em que os delírios e 
alucinações estão presentes, encontrando nelas um valor de verdade histórica.Para nosso estudo, podemos ficar com isso, mas, aos interessados, 
recomendo vivamente a leitura detida desta seção no texto de Freud e os 
trabalhos de Ferenczi quanto ao trauma. 
Por fim, espero que tenha conseguido abordar com vocês, de forma 
didática e ilustrativa, um texto tão importante, e um dos últimos, da obra 
freudiana. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
FREUD, S. [1937]. Construções em análise. In: Obras Incompletas de 
Sigmund Freud: Fundamentos da Clínica Psicanalítica. Autêntica, 2019. 
KOFMAN, S. Un métier impossible: lecture de “Constructions en analyse”. 
1983.

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