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O Assitente Social Como Trabalhador Assalariado



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0 assistente social com0 trahalhador assalariado:
desafios frente às violaçoes de seus direitos'
The socialworker as a ttage eârner:
challenges due to the violations of his rights
Baquel Raichelis-'
ReSumo: Estc aÍtigo tcÍi por objetiro problenEtizar illguÍiias das
dlmeilsõés do procesD-o dp prec?:izrúo do trabalho do'assistente súciôl
no contexto das irs;slbrnições r r:ri::rniçr1es dc lrabalho na côrrtem-
.pcraneidadq buscanCc e:e!is:::i: nuuas r-on5gurações e dema::das
qug:sê cxpÍcssarn ncs elp1ço.§ sôirc-ocuplcionais, bent c»rno a viola-
ção rle dire.itos a quc tambóm d suhrrratiCr> o profissional na condiçâo
de trabalhaúor assalariad,r.
?almras-chave: Scrviçn Social. Tabalho. precarizrção. Trabalhador
assalariado. Volaçâo de Clreitos.
 bstrac(: This articlc ains at questioni.rg.§ome oÍ thc cllmensions of the pÍdcess of rnaking.the
soci:l.rvorlieris job precaiious io :hs contcxt;íthe trs:FÍi.rmrti,rns snd rsdefinhions ofuork in-con-
tc;:iJ.r!r,v'í.itnes. It ornlyzcs the :rcw fctrnl ani denraniis in s.riai-cccupaüonal spacei, as rveil.as-the
violation offights that the professionul as a uage earner is submitted to.
Keyrotd.s: Sccial Service. Work. Precarious. \tr'ale earner. Volation o[ rights
I ArÍigc bascado na palestÍa profcrida em,nesa-Ícdo&la rjo 40 Semilário Auual dc Seniçrr social:
Ctl.Íe.lo @Pltal, ülbalho e //ítas de rwrsténcr: assistmtes sociais lro elrfrentilnc,tto da supdcxplomção c
do dcsgülÊ Íisico c mcntal. prcmovido pcla cortcz Edilora cm l6 drs maio de 201 l, no Tuce, âuditóÍio dâ
PUC'SP. Agradcço a Eelc Borgiami pcla troca de idciss c sugcslões quc irspiram vârias jdcias abordadas
[;ste trx1o, scodo o scu dsseuvolvimeÀro dc mhh! iDtcira rcsporsabilidadc.
'r Assistcnrc social, m€strc c doutoÍa cm scruíço social pcla puc-sp/sâo paulo, Brasil. coordcnado-
Íâ do Nucleo dê Estudos c Pssquisas sobre Trabalho c Proniseo do PrcgÍamã de Estudos pós-GÍaduados cm
ScÍviço Social da PUGSP; pes.quisadorâ dâ Coordenadorií dc Estudos c Desctvolvimento rle prcjctos Es-
pecia! dâ PUc-sP (cedpc); atual ooordcnâdoÍado pÍogrma dc Estudo! pós-oradutlos cm scruiço social
(201 l-13), da mcsma univcrsidadc. Pêsquisâdora do CNpq, Ê:-racft nichclis@uol.conr.br.
<J\ê»,ro 5
lntrodução
D esde a eclosão da crise mundial do capitalismo de base fordista, emmeados dos anos de 1970, a questão sociat vem assurnindo novasconfigurações c manittstações, pela sua estreita rclação com as trans-formações operadas no "mu[do do trabalho,,, em suas formas de or-
ganização, regulação c gestão, e com as redeiinições no âmbito do Estado e das
políticas públioas.
O processo de flexibilização do trabalho e dos direitos daí derivados são ele-
nrerrtos centrais da nova morfologia do lrabalho (Antunes. 2005), no contexto da
reeltfuturação produtiva e das polÍticas nqoliberais, a partir do suposto receitufuio
para eirfrentarnento da crise clo capital diante dos seus processos de mundialização
e financeirização.
Nesse movimenio dc profuudas transformações do trabalho e da vida social,
consolidou-se "o binôrnlo flexibillznção/precarização e a pe.rda da razão sc'cial do
trabalho, com a reafi:ml-;?:c.d'r.lurroe da competitividade üonio.es:;:riuiâdlarÊs do
inundodo trabalho adesi s!tc,<1..,'.!iscurso e deprogramas de responsai i:idê(i: scctÀll,
(Franco,DruckeSeiignian.S!i,.,a,20l0,p.233).
Ao contráric das iricias quelCvoganr o fim do trabalho e da cirs:c operária,
trata-se de um pmcesso ..'rmpler:s e inultifacetado, que não atingiu apcnas a clusse
opeúria, mas, ao contnaiio,.incide lbrtemente, ainda que cle tôina dcsigual, no
conjunto dos assalariados r: der grrqros sociais gue vivem do trat_ralho (Hirata e
Pretéceillc, 2C02).
No caso do Brcsil.:oiirJe a'precarização do trabalho, a rlgor. i.âo pocie ser
tratadacomo um fenômeno novo, considerando suaexistência desde os primórdios
da sociedade capitalista urbano-industrial, as diferentes formas de precarização do
trabalho e do emprego Ílssumem na atualidade novas configurações e manifestações,
cspecialmente a partir dos anos 1990, quando se presenciam mais claramente os
influxos da crise de acumuiação, da contrarrcforma do Estado e da cfetivação das
políticas neoliberais.
Em um contexto societário de transformações no trabalho de tal monta, mar-
oaCo pela rctração e, mesmo. pela erosão do trabalho conEatado e rcgulamentado,
lrcm como dos direitos sociais c trabalhistas, ampliam-se também as relações entre
trabalho e adoecimento, repercutindo na saúde Íisica e mental dos trúalhadores,
nas formas de objetivaçãn e subjetivação do trabalho.
Sery. Soe Soc. São Paulo. Ír 107. p. 420437. rut /sel 2Ot Í 4Zl420 S€ry. Soq §oc- São Paulo, G 107. O. 42G437. iuL,/sl ZOt,l
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izaçáo t p tccari zação atinge tam bém o rrab ar ho do
:J,::ffi Í:T:T#;T.:: jüI:T::'.?üHru::;xÍíl*:Í*:
imediatos, ausê,cia o" n':-l:|'j.]t 
pelo aumento da produtividad" 
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pectivas de progressão eorlzonÍes 
profissionais de mais tongo ,'*., *," r. 0",=-
profissional, 
..,tre outrosl"ensão 
na carreira' ausência a* potiiitu';. ;;#;;
*r,**l,lrjl,iii,f:::"r dimensões do processo de precarização do trabalho do
contemporaneiouo., 
. u,'"nl'Jul::iffif;[T:ffi ::llH:: [**i::espaços sócio_ocupacionais, be1 
"o,ro 
u violaçao àe direitos a que tambem é
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profissional na condiçâo de trabaliaJor assatariado são os objetivos
0 seruiço sociar na divisâo socíotécníca d0 trarrarho e o processo de
Nas úitimas. três décadas nrêêah,.i^,, .,^ ..,
sociar brasireir", o"-"u."-,11lfl':ffi;:Ji:;i:::Íicath,: avarro do serviço
ri ca' q uar i n c-a ção du .u o produ ça o ci entifi c a. ; 
"il J;?#j[11ffi:':J II-dades científicas e de representação polÍtica.
É na década de t9g0 oue sp i.tpni;ff^n i*_^_.-
reórica da pronssão, 
";; i:ff",ili,T,i'::i#fi:r: J*lÂ: iiffiffr:::brindam, a partir do contributo da teoria social J. ún*
rat do serviço sôcia! no processo 0",""a-;ou.; ;;;,iofl :I^r:f§:'f:,-";capitalistas, paÍicularizando $,a inscrcâo ," iiirír".,., e técnica do trabaJho ereconhecendo o asslstentc social como traUoft uaoa urrufuriuao.
É amplamente conhecido o impacto dessa contribuiç âo para aruptura da pro-fissâo com o legado consenador de sr_ 
"r,r* . O.a,iau quot a análise do signi_ficado sociat da profrssão ganha novos odr;;:;;;;eio da ampta inrerlocuçãocom a koria social crítica e o pensamenÍo social clássico c contemporâneo.
Contudo. e as iecente
atençãoparaisso,não0.,,,'.,Xll'#,.,1i:J,ffT.UJi:ffJrrJ.:I",:ffi I:políticas rnais profundas reracíorrd* uo r..onh."ir.* oa assistente sociar corno
422 
Serv. Soc. soc.. São paulq tr t77,p- 4iç43l.iul./set11ll
trabalhador assarariado de instituições púbricas e privadas, resultante do processo
1';:'""r:ltJil'"zação 
e institucionalizaiao o" or"í*" nos marcos do ca;,i1n1156n
Afirrnar quc o serviço social é uma proâssào inscrita na crivisão social etéonica do trabalhr como- uma especiarização do trabalho coretivo, e identificar o
::ffi i?::fi :JT.1L,:T.#itlit11l,ir"lff Í*H;IffiJil.#como o Estado, as org4nizações privadas 
..pr*rJuir, 
"a" *.".rr1.*"r, ""patronais' Trata-se de uma interpretaçao oaproissão que pretende desvendar suaspurticuraridades como parte do trabaiho *r",i"", ,r" 
"ez 
que o trabarho não é aação isorada de um indivÍduo, mas é sempre 
"i*,o"ir coletiva de caráter emineir-temente social. i ttrl Elnlnen-
O Serviço Social como profissão emeÍge na sociedade capitalista 
.r;rL,estágio nronopo I ista, contexto 
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rã o_"r.o/, !"1; .;;;;;";ià_*idernanda do Estado mecanismos o. iol*rnçao -nrto uo.oo, econômico-s, mas-.
:ilinfii;::: H,;1'sua instit'lrcion;;;Á'';i?e;;;" ;;;;o*i,:
seq:rsrasemanirestaçõc.l"T,:'ff ::'"".1;..t.;,r:Ii:k":,:rlll,lj,lJ,,i;[*l3Í:,L
ciais'em dupla pt:r'spectiva: seja no scnrido oírr."*i, 
"rndições adequadãr.rot, 
-i-t'pleno desenvorvimenro capirarista. r"u, o.o""iroi'ri" u"u,r,uluçào privãdà.ê6....i. :beneficio do grande capitalmonopoli.u; 
., ,ir"iúr;" 
. 
"";;;;,;;;;;;;.sentido responder' por vezes antecipar-se, às pressões de mobitização e organiza-ção da crasse operária, que exige o atendimento d.1...rsiaua", sociais coretivcse individuais derivadas dos Droc,rss^u ," ^:r,.:^':- 
"""'":*: )uular§ coreuvcs.
outros. Netto,2005). s proccsso'§ de prodrrção e reprodução social (cf. enirc.
Em sua relevante contribuição para a análise do Serviço Social no capitalismomonopolista, Netto sintetiza esse processo:
O cantiúo da profissionalização do Serviço Social é, na verdade, o processo pelo qualseus agenles * ainda qua desenvolvendo 
,rro qrrtoroprorentüção e um <liscursocenü'odoy na aulonomia dos sew vatro, u a" rrrrr"^roO"_ se inserem em ativida_des interventivas cuja dinâmic4 org*iruçaq r.*rosl oU;"tiro, sâo determinadospara além do seu controle. [._], o qre f"rr"f ;J";""o altera visceralmenre, con_cretizando a ruprur4 e, objerivamente, 
"..;oü;;;;nre e o significado sociat desua açâo; o agente passa a inscrever-se numarálação dJassaraiiamento e a significa_ção social de sêu fazer passa a ter um sentído novo na malha da reprodução das rela-ções sociais. Em shtese: é com esse giro qrro-S"*ço Social se constitui como
Sery. Soc Soc. São p aulo, r llt, p_ 42Ç431, jtt.lseL ZOt I 423
pÍo'lissão, inserindo-se no mzrccdo de rrabatho,com todss as consequênciru dai de-
rivadas (principarmenre com o seu agente tornando-se vendedor da sua força de tra-
b alho). (Netto, 2005, p. 7 l -72; grifos do autor)
A confomração dessa ordem societáriacria, assim, um novo espaço sócio_osrF
pacional para o assistentc sociar (e para um conjunto de outras profissões) na divi-
são social c técnica do trabalho, constituindo objetivarnente as condições através
das quais a profissão será demandadà e legitimada para a execução de um amplo
leque de atribuiçôes profissionais, notadamente no âmbito das dife;entes politicas
sociais setoriais
contudo, é esse nresmo processo de profissionalização do assistente sociar e
institucionalização da profissâo na divisâo social e técnica do trabarho que circuns-
cre*e as condições 'concretas para que o trabalho do assistente social ingrerse no
pt ocesso de mercantílizaçdo e no universo do varor e da varorizafio .alt capital,
mólel principal da sociedade capihlista-
lsto porque. para além da análise do serviço social como trabalho concreÍo
'(Marx, 1968), dotadi de qualidade.erprcífica que atende a necessidades ,";i;; ;
. partir de suportes interectuais e máteriais para sua realizaç6o, , ...*i"i" *"r"*i;li, :'
nal do assistente sociai em rcsposta a.damandas sociais passa a ser mecriado peio-
mercado, ou seja, pela produçâo'. trocc c conswno das mercadorias (bens e serviços)
.dentro de unra crescente divisão do trabal.to social.
Iamamoto (2007) extrai daí a anárise sobre a dupla dimensão do trabalho do
asslstente social como um trabarhador assarariado, que vende sua força de traharho
em troca de um salário. Afirma a autora:
Ern deconênci4 o 
'.*áter 
sociar desse trabalho assume uma dupladimensão; a) enquan-
to trâbalho útil atcnde a necessidades sociais (quejustiflcam a reprodução japriipl"
profrssão) e efctiva-se através de Íelaçôes corn oukos home's, i'corporando o'tcguao
mateÍial e ilterectual de gerações passadas, ao tempo enr que se beneficia das conqÃtas
atuais das ciências sociais e h*manas; b) mas sópode atender às necessidades gociuis se
seu trabalho puder scr iguarado a quarquer outro etquanto kabalho abstrator* mero
l' Nos tcnnos de Mârx, rmbarho humam abstraído dc rod§ !s suas quaridades e cmctcÍrsricaJ
particulues, iodiferc&iado, jrrdistiDto, desapueccndo o carálêÍ útil dos prcdulos do tÍabalho c do trabalho
nele corporificado, q poíãlio, tâmüém dcsaparcccm as difercntes foÍmar dc tÍabalho comrelo, *êlas nâo
mâis sc distioe,,cm umâ das ourrâs. mu rcdu,crnsg todõ, a mâ üníca cspaie dc trâbalho, o tÍabârho
htrmâno Âbsrrato (1968, p. 44-45).
coágulo de tempo do trabaiho socirü médio: 
-, 
possibilitando que esse trabalho privado
adquira um carátcr social. (2007, p. 421)
Nesses termos, o agente profissional contratado pelas instituições enrprega_
dcras ingressa no rnercado de trabalho como proprietário de sua força de trauatno
especializad4 conquistacra por meio de formação universitária que o legitima a
cxercsr um trabalho complexo em termos da divisão social do trabalho, dótado de
qualificação específica para o seu desenvolvimento-
Mas essa mercadoria '"força de habarho" só pode entrar em ação se dispuser
de meios e instrumentos de trabatho que, não sendo de propriedade do assistente
social, devem ser colocados a sua disposição peros empregadores institucionais:
recursos materiais, humanos, financeiros, para o desenvolvimento de programas,
projetos, serviços, beneÍicios e de um conjunto de ouhas atribuições e competências,
de atendimento direto orr em niver de gestão e gerenciamento institucicnal.
As implicações desse proccsso são profundas e incidem na autonomia relati- .
vadesseprof,ssiona[,quenãopossui,comovimos,opoderdee!efinirasprioridades
nent o rnodo pelc qual pretende desenvolver o trabalho srtcialtnentelru"r,rrà.ip,
coletivq combincdo e.cooperado corn os demais trabalhadores sociais nos difrien_
tes espaços sóciu-olupacionais que demandam essa capacidade dc trabalho'espc-.
cializada-
Assim, analisar o sig^iricado sociar daprofissâo significa inscrever o kabarho
do assistcnte sociat no âmbito do tnrbalho social coletivo na sociedade brasileira
atual, não apenus destacando sua utilidade social e diferencialidade diante de outras
especializações do trabalho social, mas também, e conlraditoriam ente,,,sua.unida_
de enquanto parte do Í,rabalrro social nrédio. comum ao coqiunto de trabarhadores
assaloiados que produzem valor dou mais-valia,'(Iamamoto, 2009b, p. 3g).
Problematizar o trabalho do assistente social na sociedade contemporânea
supõe pensá'lo como parte alÍquota do tabalho da classe trtbalhador4 que vende
sua força de trabalho em troca de um sarário, submetido aos dilemas e constrargi-
2' Pa,u Mârx (1968, p. 44-46): 'cadâ uma rrcssr forgas individ{âis dc kabarho sc Êquipara às demaiq
na mcdida cm que possua o carátcr dc uma força mêdia dc ,,abâ.lho social, c âruc como rssa força sociar
média, p&cisrndo, porta$to, ap€»as do aempo dc Írabarho cm médía ncccssário ou socialmente neccssáriopua a produção de uma mrcadoria. Tcrnpo dc tnbalho sociatmc[tc recssáÍio é o tcmpo d. tÍabatho requeÍido parâprod'íÍ-sêumvaror-dauo quarquer, rns mndiçõcs de produção sociarmqrtc nomaís, cxister;cs,
e com o grau social médio du dcstrcza c iniensidadc do rabalbo,,.
Sery. Sc. Soc" Sâo pauto. n 107, p. 42G437. ird,/sct 20 I I 425
424 Sery. Soc. 90c., Sâo Paulo. tr 'tor, p. 42G437. iul/sel 201 l
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mentos comuns a todo§ os trabalhadores assarariados, o que ímprica urtrapassar avisão liberar que apreende a prática do *.i.,"rt. Jur a partir de uma reração duare individual enrre o profissionut 
. o, ,ffi, 
^ü;,, presta serviços.Esta análise crítica da dupla dirnensão do trabalho do assistente social _conio trabarho concreto e. abstrato 
-. 
,, i*pii""çães da mer"antirização dessaforça de kabarho especiarizada n" r""i.d";; ;;;',;;orânea não forarn q[jç1e5 4sproblematização aprofundada na Iiteratrr^ irJrr-,'oío,, ru.,,.* privilegiando osfundamentos de legitimação social da utiuidad" ao assistente sociar como traba-lho concreto' particurarizando sua util.idade *.i"i* r,ivisão social e técn,ica dotrabarho institucional, conro revera ramamoto (zoô2, zoosu) em sua.s úrrirnasproduçôes.
Nesse sentido, a temática da superexploração e dodesgaste Íisico e mental notrabalho profrssionali é um tema novo. pouco debatido.topoucoconhecidop.ros"*;;';;;#ilil#,1.*."J[:TffJl;iJ,Tll;
acúmulo nâ literatura profissional.
o que se observa com maior frequência 
- 
certanlerte em função da cenrra_Iidade da classe openiria na produção capitalista c dos inúrn.ro, estudos sobre osimpactos da reestruturação produtiva nar rclações e conaiçoe, rle kabalho destaclasse __ é o assistenre social analisar.(" irdig;;:;; ;ento à exploração e ao dcs_gaste a que são submetidos os trabarhadores ãsnahrío,ros, mas estàbelecendo comestes uma reração de exterioridade c de não pertencimento enquanto um segmentodesta rnesma classe.
verifica-se a mesma tendência no dcbate sobre a saúde do trabalhador. Denrodo geral, as pesquisas e análises sobre trabalho e ,*0., ou mais propriamente
sobrc o adoecimento dos trabalhadores ae.o.r.nt. Uas'condições em que realizaseu trabalho. são rclações 
.oroblematizadat u pu.ti, ã sua incidência na classetrabaihador4 nâo incluído aí
sen d o quas c inexi stcntes 
., Jff fi :[ :Hli:ffiffi,:,# fi n :lnJü:::profissionais que sofrem e adoecem a ounir oo."a,oiu"o de seu trabalho e da vio_lação de seus direitos.
Então esta ó waprimeira.ponttnção importante e que remete ao próprioreconhecimento do assisteÍr,ô sociar como trabarhador assarariado e as cilicurr,adespara aprofundar a análise do conjunto de impricações decorrentes dessa reração no
3- TihLlo do scminririo fuiual dc scniço socid orgmiado pclâ codÊz FditoÍa, cm maío dc 201l.
426 
Serv. Soc. soc., São pauto, Â lo7, p. 4ZG43I. iullsel 201 t
estágio atuar do capitarisnro contemporáneo. dianle dos ímpactos sobre o trabarho.os trabalhadores e scus direitos.
Portanto, problematizar a rriolação dos próprios direitos 
.os assistentes sociais,na relação com a vioração dos direitos rros trabalhadores, requer a definição de umaagenda de questões específicas conectada ás lutas gerais da classe trabalhadora nolempo prcsente. Exige uma pauta mais ampliadalque inclui a organização e aslutas sirdicais e traba,rhistas, nlas tarnbém o enfrentamer:to ctas dinrensões compre_
xas envolvidas nos processos e relações de trabalho nos quais os assistentes sociaisestão irrseridos.
os dilernas da alienação sâo indissociáveis do trabarho assarariado e incicremno exerclcio profissional do assistente sociar de difere'tes rnodos, dependendo dequem são seus cmpregadores _ o Estado, a empresa privada, as ONCs, as entida-dLs Íilantrópicas, os organismo, d, ,"pr.r"ntuçao 
*inir" _ e da organização egestão dos processos e relações de trabarho nos diferentes espaços sócio-ocupacio-
nais onde realizam sua atividadc.
sc o serviço social foi regulamentado'istoricamente como .,.orof ssão ,berar,,,
o seu exercício se realiza'mediatizado por instituições púbricas e pri*adas, tensio-
nado pelas contradiçôes que eliavessam us oluss"sso"iar;;;;r:;;; ;il,e pela condição de trabarhador assalariado, cuja atividade é submetida a normaspróprias que regulam as relaç:6ss de trabalho.
Portanto, na asseíiva- reflexão de Iamamoto (2009a), fazcr a passagem daaná'lise da instituiçâo serviço Social para a probrern atização do processamento§oncreto e cotidiano do trabalho do assistente sooiar, em suas múrtipras dimensôes.
agrega um complexo de novas determinaçôes e mediações que pôem ,rn ,.f.uo 
^contradições entre a direção social que o assistente socif ,..,.rã.]*il;;; ,;
Taballo e as exigências impostas peros empregadores aos rmbarhadores assalaria-dos' "Ern outros termos, estaberece-se u t.iraã entre projeto ético-porítico e arie-
nação do trabalho, indissooiável do estatuto assalariado,, llamamoto, 2009a, p. 3 9).
. 
Essa é uma segtnda qtrcstão a ser pontuadae que remele ao debate do as_
sistente social como trabalhador assalariado e a qucstaà da aut.nomia r"tativldesse profissional.
O trabalho profissional, na perspectiva do projeto ético_politico, exige um
sujeito profissionar quarificado capazderealizar um trabalho complexo, social ecoletivo, que tenha competência para propor, negociar conr os empregadorcsprivados ou públicos, defender projetos que ampriã. direitr.rs das crasses subar_
Scry. Soc Soc. Sâo pado. ÍL 107. p.4ZO43l.i\n./seLZOlt
ternas! seu campo de trabarho e sua autonomia técnica, atribuições e prerrogativas
profissionais.
lsto supõe muito mais do que apenas arcalização de rotinas institucionais,
cumprimento de tarefas burocráticas ou a simples reiteração do instituído. Envot_
ve o assistente social como intelectual capaz de rcalizar a apreensão crítica da
realidade e do trabalho no contexto dos interesses sociais e da correração de forças
políticas que o teusionam; a construgão de estraÍégias coretivas e de alianças po-
líticas que possam reforçar direitos nas diferentes áreas de atuação (saúde. previ-
dêrcia, Assistência sociar, Judiciário, organizações enrpr.esariais, oNCs etc.), na
perspectiva de ampliar o protagonismo das classes subalternas na esfera pública_
Exige, portanto, um coúecimento mais'amplo sobre os processos de trabalho,
os mcios de que dispõem o profissional para realizar sua atividade, a matéria sobre
a qual recai a sua intervenção, e também um conhecimento mais profundo sobre o
stjeito vivo responsável por esse tratralho, que é o próprio profissional.
Mas quem é o assiste,te sociar hoje? euern é a força de trabalho ern ação, o
elemento 
'ivo e suhjetivo do processo de trabarho proíissionar, rlos termos de Ma,*( l e68)?
como.iá.bservado, ainda que o serviço sociar teúa sido recoúecido como
"prolissão libera.l" nos estatutos legais e éticos que definem a autonomia teórico-mc-
todológica, técniÇa e ético-política na condução do exercício profissional, o traba-
lho do assistente social é tensionado pela relação de compra e venda da sua força
de trabalho especializada, A condição de trabalhador assarariado 
-- 
seja nas insti-
tuiçõe-s públicas ou nos espaços empresariais c priva.dos ,.sern fins lucrativos,,, [a;:
com que os profissionais não disponham nem tenham controle.sobÍe todas as con-
dições e os meios de trabalho postos à sua disposição no espaço institucionar.
São os empregadores que fornecem instrumentos e meios para o de.senvol-
vimento das tarefas profissionais, são as instituiçôes empregadoras que têrn o
poder de definir as demandas e as condições em que deve ser exercida a atividade
profissional: o contrato de trabalho, ajoruada, o salário, a intensidade, as netas
de produtividade.
Esses organismos empregadores, estatais ou privados, definem também a
maléria (objeto) sobre a qual recai a ação proflssional, ou seja, as dirnensões,
expressões ou recortcs da questão social a serem trabalhadas, as funções e atri-
buições profissionais, além de oferec-erem o suporte material para o dcsenvolvi-
mento do trabalho 
- 
recursos humanos, técnicos, institucionais e financeiros 
-,
decorrendo daí tanto as possibilidades como os lirnites à materialização do proje-
to profissional.
os demais meios de trabarho 
- 
conhecimentos e habiridades profissionais
- 
são propriedade do as.sistente social, nras cujas possibilidades de pleno desen-
volvimento também são condicionadas porum conjunto de determinações que, ,,ão
sendo externas ao trabalho, incidern diretamente no cotidiano profissional e na
atividade do sujeito vivo, e que vão desde o recorte de classe, gênero, raç4 etnia,
passando pelos traços de subalternidade da proflssão, sua herança cultural católica,
sntre outros.
Ao mesnro tempo, para arém das dimensões objetivas que conferem rnateria-
lidade ao tàzer profissional, é preciso considerar também as dimensões subjetivas,
ou sei4 identificar "o modo pelo qual o profissional incorpora na sua consciência
o significado do seu trahalho, as representaçôes que faz da profissão, asjustificati-
vas gue.qlabora para legitimar a sua atividade 
- 
que oÍientamra direção social que
inrprime ao seu exercício profissional,' @aichelis,2010, p.752)-
o trabalho do assistente social é, nesses termos, expressão de um movimento
que articula conhecimentos B luta p()r espaços no mercado de trabalho; competên-
cias e atribuições privativas que têm recoúecimento legal nos seus estatutos nor-
mativos e reguladore.s (Lei de Regulamentação proflssional, código de Ética, Di-
retrizes curricnlares da formação profissionar), cujos sujeitos que a exeroem,
individual e coletivamente, se suboldinam às normas de enquadramento institucio.
nal, mas também se organizam e se rnobilizam no interior dc um movimento dinâ-
mlco e dialético de trabalhadores quc repensam a si mesmos e a sua inten enção no
campo da ação profissionnl-
É nesse processo teuso quc âs profissões constroem seus projetos prof,ssionais
coletivos, no nosso caso, o projeto ético-político profissional que há pelo menos
três décadas vem sendo posto em marcha coretivamente pelo serviço sociar brasi-
leiro. E é esse projeto que entra em permanertc tensão e contradição com o estatu-
to de trabalhador assalariado do assistente social, especialmente em tenrpos de íi-
nanceirização e de capital feticáe (tzunamoto, 2007).
Aprópria implementação das poríticas sociais também é um jogo comprexo de con-
Íiitos e tensões, que envolve difeieutes protagonistas, interesses, projetos e estratégias,
onde são reqüsitadas a preseuça e a intewenção de diferentes calegorias profissionais,
que disputam cspaços tte reconhccimento e podcr no interior do aparolho irstitucio'al.
(Raichelis, 2010, p. 755)
Serv- Soc. Se. São paulo, Â t 07, p. 4ZO!437, iul/ret 201 I 42g
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428 Sery. §oc. Soc,. Sio paulo. tr l07, p. 42G.437, iuuset 20l l
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Nesses termos' a anárise das poríticas sociais e dos espaços ocupacionais nosquais se inserem os assistentes sociais não pocre ser apreendida cie modo rincar edeterrninista' ainda mais considerando as tirrmas de 
"nfrentamento do capitar àssuas crises de acumulação, quc aprofunda, 
" 
uar*,u* as expressões da questãosocial' mas também desencadeiam respostas da sociedade e do conjunto da crasse
illllj,"1li:il: seu movimento de re.sistenc;a ;;.;," de direitos conquisrados
Da autonomia rerativa àaut'nomia c,ntr*rada-o trabaÍho do assistente
social em tempos de intensificação e precarização do trabalho
As condições atuais do capitatiimo contemporâ.eo 
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grobarizaçâ' nnun..,-ra dos capitais e sistemas de produçao 
"p"i.d", i;;ivamente nas tecnologias deinformação 
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promovem expressivas mudanças nas formas de organizaç:ão cgcstão do trabarho, decorrendo daí a.exist.ncia de ampros contingentes de traba_lhadoresfiexibÍrizados'informarizatlorrpru"orirodo-lpouperizados;desprotegitro:;.
de direitos e desprovicios de organização 
""l"rVu-f-ií,res, 2005).Druck (200g)' em sua pesquisa sobre a conslr'ução de indicadores da precari-zação do trabalhc no Brasil, apresenta,cinco g.ora.r,ipo, de precarizaçâo:
a) Dasformas de mercauilização daforça de tabalho * queprodnzem ummercado de trabarho.heterogêneo e marcado por uma vurnerab,idade es-trufurar' conflgurando formas precárias de inserçao dos trabalhadores,explÍcitas ou disfarçadas, em lodos os seÍoÍes, atividades e regiôes, pro_duzindo desestabilização dos trabarhadores cstáveis com pcrda de diieitos
e vínculos, por um.rado, e uma condiçâo .,provisória,, de jr..uriruçao qu"se torna permanente, de outro.
b) Do proces.ro de constnrção d-as iclenticlades individual e coletivo _ adewalorização e descartabiridade das pessoas aprofunda o processo dealienação e estraúarnento do trabalho, radicalizando a coisfi.atçã<t dasrerações humanas e fragilizando as identidades individuar e coretiva e adimensão ética do trabalho, principalmente pela situação dc desempregoestrutural.
c) Da organização e d,as condições de trabalho_ ampliação do ritmo dotrabalho, metas inalcançáveis. extensão da jornada, polivalênci4 rotativi_
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Serv. Soc. Se. São paulo, rL 107, p. 420437, iul.,/seL 201 I
dade, multiexposição aos.agentes Íisicos, químicos, ergonômicos e orga_nizacionais conduzem à intensificação do trabalho. potencializada pelodesenvolv.imenÍo Iecuológico da microcletrônica.
d) Da'r condi ções de seguronça no rrabalho 
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fragirização das condiçôes deseguranÇa no trabalho. diluiçâo de responsabilidades entre 
".tár.i; ;;;_táveis, precárias condições de trabalhoimpticam maior exposição a riscos
e sujeição a condições aviltantes de aumento da produtividade, gerandoprecarização da saúde e da segurança no fahalho.
e) Dar condiçõe.s de representação e,de organizaçíio sindical _ aumento datiagilidade sindical e dos efeitos poftlcos da terceirizaçâo, que produzdiscrimiuação, pülverização e competição entre os proprios traü"rr,àaor"f
enfraquecbnd..a representação porÍtica da crasse trabarhadora.
- 
A reestruturação produtiva do capitar, da quar resultam diferentes formas deprecarização do trabaiho, atinge o mercado de trabarho do assistente sociar, inci-dindo, contraditoriamente, tanto no movirnento d. ,raunço.lo, red,çâo de postosde trabalho e.n algunscampos (por exemplo, nu, *por* lndustriais), como tam_
' bém dc ampriaçãc, como é o caso das poriticas de seguridade sociar, com destaquepara a politica dc assistôncia social, principalmente n;âmbito municipal, 
", 
À;O*das novas e iritensas demandas aos municipio, a".o.r"nt", aa descentrarização do.sserviços sociais públicos.
No âmbito do serviço §ocial, intensificam-se os processos de terceirização,
c.e subcontratação de serviços individuais dos assistenà sociais por parte de em-presas de serviços ou de assessoria (empresas do eu sozinhoou p,./s), de .,coopera-tivas" de trabalhadores, na prestação dc serviços uo, *ou.rno, e organizações nãogovemamentais, acenando para o exerclcio profissional privado (autônomo), tem_porário' por projeto, por tarefa, em função das novas formas cre gestão das políticas
sociais.
os efeitos da tríade flexibilização/p recarização/tercerização do trabarho doassistente social se fazem sentir em niv.is e inrcn;idads antcs desco.hecidas pelaprofissão.
Pesquisa realizadapor Delgado (2010), conr jovens assistentes sociais gra_duados no períocto 2003-o6,nos Estado de Minas G.rais e Rio de Janeiro, revelaque as c.nsequências nrais desastrosos das transformações societárias no âmbitodo Scrviço Social apontam para a,.perda ou Or".uri_Oro do espaço ocupacional
SeD. Soc- Soc.. São páulo, |. 1Ol, p. 42ç431, jullset ZOtl 43t
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sobretudo para aqueles que procuram seu primeiro emprego. una vez que par-
ccla signi.Íicativa da categoria, anteriormente eimpregada- aíndagozadeestabirida-
de no empreg," (20 I 0: 3). os dados sobre condições de contratação, remuneração
e trabalho dos jovens assistentes sociais permitem constatar para quâse 509,. dos
respondentes "o aviltamento da precarização dos contràtos de trabalho no interior
da profissão, seja por contratos temporários, seja por ausência dc víncuro empre-
gatício, ou Íravestidos de profissionais autônomos.. (idem, p. 3).
segundo diferentes aralistas (Fra^co, Druck e serigman-sirva, 20 r 0, p. 233).
a rerceit'ização é uma tras principais formas de flexibilizaçâo do trabalho mediaurtc a
tra'sferência da atividade dc um "primeiro" 
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qu. deveria se responsabilizar pela
relação empregaticia- para unr "terceiro", ribcrando, assin, o gra^rre capitar tros
encaÍgos trabalhistas. [...]. A terceirização lança unr nriurto de invisibilidade sobre o
trabalho real 
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ocultando a reração capitar/trabarho e descaracterizando o ví,curo
empregado/empregador que pauta o direito trabalhista- nrediante a transferêucia
de responsabilidades de gestão e. de custos p.ara um..tcrceiro,,
os efeitos da terceirização pila o trabarho sociar são profundos, pois era: a)
Desconfigura o significadoe a amplitude do trabarho técnico realizado pelos assis-
tentes sociais e demais trabalhadores sociais; b) Desloca as relações entre a popu-
lação. suas formas de representâção e a gestão governarnentar, pela intermediação
de empresas e organizações contratadas; c) subordina as aÇões desenvolvidas a
pr^zos contratuais e aos recursos financeiros definidos, implicando descontinuida-
des, rompimento de vínculos com usuários, descrédito da popuração para com as
ações públicas; d) Realiza uma cisão entre prestação de serviço e dircito, pois o que
preside o trabalho não é a lógica pÍrblica. obscurecendo-se a responsabilidade rlo
Estado perante se us cidadãos, comprimindo ainda mais :u possibilidades de inscre-
ver as ações públicas no campo do direito.
É importante também evidenciar o que Dnrck (2009) denomina cle dimensão
qualitativa da terceirização, que cria divisão entre os trabalhadores (os de.,primei-
ra" e "segunda" categorias), além da fragmentaç.ão entrc os trabalhadores conr di-
ferentes formas de contrato e níveis sarariais, muitas vczes na mesma equipe, ge-
rando diflcutdades e constrangimentos para o trabalho social e para a luta coletiva.
outra questão importante que precisa ser mencionada é a crescente infornra-
tização do trabalho, em todos os âmbitos em que ele se desen'olve. No caso rlo
setor público, a exemplo do setor privado, as mudanças tecnorógicas tamhém estão
sendo profundas em todos os níveis. A incorporação da "curtura do ,.gerenciarismo,,
da empresa privada no setor público esvazia os conteúdos mais criativos do traba-
lho, desencadeando o desgaste criado pera atividade mecânica" repetitiv4 que não
instiga a reflexão.
são muitas as pesquisas e estudos que vêm constatando o quanto as tecnolo-
gias de iuformação intensiflcam os processos de trabalho, produzem um efeito mais
controlador sohre o trabalho, organizam e encadeiam as tarefas de modo que desa-
pareçam os tempos mortos. quantificam as tarefas realizadas e permilem a amplia-
ção da avaliação fiscalizatória do desenrpenho do trabalhador.
As estratégias de intensificação do trabalho vão sendo incorporadas gradati-
vamente e talvez não estejam ainda claramente perceptíveis parao conjunto de
trabalhadores, particularmente na esfera estatal. Mas elas ganham concretude no
ritr»o e na velccidade do trabalho, nas cobranças e exigênoias de produtiVidade,
no maior volume de tarefas, nas características do tabalho Lntelectua.l demandado. no
peso rlaresponsabilidade. Ii se amplianr na medida em que também no Estado está
em plena conshução "a ideologia da gerência e da quaridade total. do e,o zero,
do trabalho a tempo justo, da eficiência das metas e dos resultados,'(Dal Rosso,
2008, p. I88).
Por isso, por mais que seja imprescindível a incorporação das novas têcnolo-
gias de informação, é preciso pioblematizar os efeitos dessa re'roluçdo tecnológica
no trabalho do serviço social e na relação dos assistentes sociais conr os usuários.
c a população, via de regra. mediada pelo computador nos espaços rie atendimento
proflssional.
Thmbém é possi'el constatar o crescimento de um tipo de demanda dirigida
aos assistentes sociais em diferentes áreas, que afasta o profissional do trabalho
direto com a população, pois são atividades que dificultam o estabeleoimcnto de
relaçries continuadas,que exigem acompaúamento próximo e sistemático. A título
de exemplct, pode-se citar o preenchimento de formulários.e a realização de cadas-
tramentos cla população, quando assumidos de forma burocrática e repetitiva, que
não agrega coúecimento e reflexão sobre os dados e o trabalho realizado,.
Trata-se de uma dinâmica institucionat que vai transformando insidiosamen-
te a própria natureza da profissão de serviço social, sua episreme de proflssão re-
lacional, Íragilizando o tÍabalho direto com segmentos populares em processos de
mobilização e organizaçâo, e o desenvolvimcnto de trabalho socioeducativo numa
perspectiva emancipatória.
432 Seru. Soc Soc., São Paulo. Â 107, p. 42Hg7,i\tl./set-2011 Scry. Soc Soc- Sào Psulo, Ê 107, p.42G437,iulJseLZO11 433
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Considerações finais
sintetizando nossas reflexões, é possíver retomar a hipótese anarítica quc asorienta As transformações contemporâneas que afetam o mundo do trabarbo, se,sprocessos e sujeitos, provocam redefinições prof,undas no Estado e nas politicassociais, desencadeando novas requisiçôes- demandas e possibiridades ao trabarhodo assistente social no âmbito das políticas sociais.
É inegável o alargamento do mercado de trabalho profissional no campo daspolÍticas sociais, notadamente no âmbito das polÍticas de seguridade socia!, e maisainda na politica de Assistência sociar, com a iarptantaçao do sistema único deAssistência social, recentemente transformaao..ro'r"i oor ronção presidencial.
Ao mesmo tempo e no mesmo processo, contraditoriamcnte, aprofunda-se aprecarização, aberta ou velada, das condiçoes .^ qra arr* trabarho se reariza.considerando o estatulo de rrabathador assalariado d.'^;;;;;,^i ,i.i,íÍ:do.a processos de alienação, restrição de sua autonomia técnica e intensificação dotrabalho a que estão sujeitos os trabalhadores assalariados em seu conjrmto.
Diante desse complexo contexto, como enfrentar o desgaste provocado pelotrabalho e a violação dos direitos do assistenle social?
A luta pela conquista das trinta horas é urn movimento porítico dos rnais rele-vantes, que está pautando incrusive a mobilização de o,tros profissionais, como ospsicólogos. Mesrno diante de uma conjunfuro udr"rso à ampliação dos ,Cireitos dolrabalho, os assistenÍes sociais conseguiram urna significativa vitória com a aprova-
çâo dajomada de trinta horas de trabarho sem red*uçao sarariar. Tarvez este seja omovimento coletivo mais importante desses últimos anos em defesa de direitos doassistente social como trabalhador assarariado. mâs qug como era de esperar. eslásendo objeto de desconstruçâo poÍ parte dos.*pregudores, exigindo da categoriaprofissional e de suas entidades polÍticas a adoçao de"diferentes eshatégias corctivaspara fazer valer esse direito para todos(as) os(as) profissionais do paÍs.
Mas certamente outms pautas devem ser associadas a esta, relacionadas aosdesafios do cotidiano proflssionar do assistente sociar, que trabatha com as maisdramáticas expressões da questão social, lidando ,o* u àuro rãuii;;r. 
"rffi;;pelas classes subattemas na sociedade brasileira.
Trata-se de uma condição de trabarho que produz um dupro proces§o conrra-ditório nos sujeitos assistentes sociais: a) ae umlaao, o prqzerdiante da possibili-dade de realizlar um 'Írabarho comprometido com os dircitos dos sujeitos viorados
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Serí- S@. SoL, São paulo, r í 07. n. 42H37. iutl§el. ZO I i
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:r" direitos, na perspectiva de lôrtarecer seu protagonismo porítico na esr.e.rapública; b) ao rnesmo tempo, o,rofrinen.to, a dor e o desalento diante daexposição
continuada à impotência frente à ausência de meios e recul.sos que possâol efetiva-
mente remo'eÍ as causas esruturais que provocam a pobreza e a desiguardade social.
Para Franco, Drr-rck e Seligman-Silva (2010), profissionais impedidos deexercer sua ética profissiona.r adoecem de fato. Traia-se de urna dinâmica institu_
cional que desencadeia desgaste e adoecimento fisico c me,tar e que, no caso do
assistcnte sociar, precisa ser mais bem conhecido, impondo-se o imperativo dapesquisa sobre a condiçãb assalariada do assistente sociar e o, ..r, i*pu.to, ,u
saúde dos assistentes sociais.Torna_se 
.rgente, pois, a formulaçao d. un u ug"naudo pesquísa que possa produzir co.rh.cim.ntos ,àur. rrr* situações de sofrimentodo assistente social, pois é daí que poderâo resurtar subsídios fundamentais para acontinuidade daur lutas e embasamento de novas reivíndicaçõcs e direitos qr. p*-ticularízem as especÍficas r;ondições de trabalho do assistente social no conjunt.da
classe trabalhadora.
Na ótica do capital e das ctrasscs dominantes, o essencial de todos esses pro-
cessos de inteusificaçâo e precarização é o aument, da degradação e da exploraçãodo trabalho' ou, cm outros termoq reduzir o trabarho pago e ampriar o trabalho
excedente, o que cstá na raiz do sofrimento do trabalho assalariado-
Esses elementos colocam a necessidade de "estudos e pesquisas concÍetas
sobre situações cóncretas", que desvendem o processamento do rrabarhodo assis_
tente social (Iamamoto, 2007) e as Íbrmas por ere assumidas nos diferentes espaços
ocupacionais, benr como as diversas atividades que desen'orvem no cotidiano dasinstituiçôes públicas e privadas, na reração com os diíerentes empregadores insti_tucionais, exigindo um diálogo cada vez mais próximo entre formação, exercícioprofissional, pes<;uisa e produção de conhecimento.
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Na conjuntura dos grandes desafios a serem enfrentado.s no mundo do traba_lho profissional, mantém-se a perspectiva dc avançar * f *" ."f"iir, ; il;;uma multiplicidacle de espaços que possam forjar sujeitos coletivos capazes defortalecer os espaços de enfrentarnento e resistência diante das diferentes formas
de o capital subjugar o trabalho vivo a seus interesses particularisr., ,. ..r*r"rã
e centralização crescentes.
No âmbito institucional, torna-se imprescindíver fortarecer a resistê.cia ao
mero produtivisn o quantitativo, medido pero número de reuniões, de visitas domi-
ciliares, de atendimentos, sem ter crareza do sentido e da direção social ético-pori
tica do trabalho coletivo.
SeN. Soâ Soc.. Sâo paulo, n- 107, p- 42o.437,ju../ser Z}t I 435
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Por isso a luta pela qualificação e capacitação continuadas, por espaços insri.tucionais coletivos de estudo e de reflexão sobreo rabarho desenvorvido, o debatesobre as concepções que orientam as práticas e os efeítos por eras produzidos rrascondições de vida dos usuários, é parte da luta pela melhoria das relações de tra'a-lho e direito da população de acesso u r"ruiço, So"iuis de qualidade.
Quanto mais quariricados os trabarhadore§ sociais, menos sujeit.s a nranipu-lação e mais preparados para enfrentar o assédio morar no trabarho, os jogos rtepressão política e de cooptação nos espaços instihtcionais.
Embora a perspecti'a neoriberar se utirize de inúmeros mecanismos para di_vidir o conjunto dos trabalhadores e suas entidades representativas, é através daorganização coretiva que se criam condições concretas para a resistência frente àviolação dos direitos, pera nrerhoria das condiçôes de trabarho e fortarecimcnto docompromisso do Serviço Social por uma sociedade emancipada.
Recebidoenr 1r/7lZO11 r Aprovadoem 1l/l/2011
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