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ANALISTA JUDICIÁRIO DE TRIBUNAIS 2014 
Direito Penal 
Fábio Roque 
1 
DIREITO PENAL 
 
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
 
Trata-se do primeiro artigo do Código Penal 
que assim estabelece: “não há crime sem lei 
anterior que o defina. Não há pena sem prévia 
cominação legal.” 
Encontra-se, também, inserto no art. 5º, 
XXXIX, da Constituição Federal brasileira, o 
que significa dizer que, tal princípio, estando no 
rol dos direitos e garantias fundamentais, é 
acobertado pelo rol das cláusulas pétreas, nos 
termos do art. 60, §4º, IV, da respectiva Carta. 
A legalidade é um princípio que exige uma lei 
escrita, certa e anterior, nos termos em que 
seguem: 
1º LEI ESCRITA: Significa dizer que os 
costumes não podem definir a conduta 
criminosa e estabelecer uma respectiva sanção 
penal. Tal entendimento, porém, não retira a 
característica dos costumes como fonte do 
direito. O que não é possível é os costumes 
sejam fontes de incriminação penal. O papel 
dos costumes, enquanto fonte do direito, é o de 
influir na interpretação da legislação penal. 
A analogia não pode definir conduta criminosa 
e cominar respectiva sanção penal. 
Válido ressaltar que a analogia é perfeitamente 
aplicável na órbita penal, desde que seja 
benéfica ao réu. É o que a doutrina denomina 
de analogia in bonam partem. Não cabe, 
assim, uma analogia em malam partem, ou 
seja, não será cabível uma interpretação 
analógica que venha a prejudicar o réu. 
 
 
Exemplificando: no direito penal, a união 
estável se equipara ao casamento? Depende. 
Serão aplicados os institutos do casamento à 
união estável se esta analogia vier a beneficiar 
o réu. 
Por exemplo, nos crimes patrimoniais sem 
violência ou grave ameaça praticados entre 
cônjuges na constância do casamento e se a 
vítima não tiver idade superior a 60 anos, 
haverá a chamada escusa absolutória, ou seja, 
é crime, mas não há a respectiva pena. Neste 
caso, a união estável é perfeitamente aplicável 
a tal instituto, haja vista trata-se, aqui, de uma 
analogia in bonam partem, já que o réu será 
beneficiado. 
Em contrapartida, uma pessoa casada que, 
sem desconstituir o primeiro vínculo conjugal, 
torna a se casar, comete o crime de bigamia. 
Mas se o sujeito é casado e, sem desfazer 
esse primeiro vínculo matrimonial, passa a 
viver em união estável com uma segunda 
pessoa, também praticará a bigamia? Não. Por 
que, neste caso, a comparação da união 
estável ao casamento seria prejudicial ao réu 
(analogia em malam partem). 
2º LEI CERTA: Também chamado de princípio 
da taxatividade, princípio da certeza ou, ainda, 
princípio do mandado de certeza. 
De acordo com esse princípio a lei penal não 
poderá ter incriminações vagas, imprecisas. 
Não é possível que haja lei, por exemplo, que 
estabeleça como crime “violar a ordem pública 
e os bons costumes”. O que seria a ordem 
pública? Tratar-se-ia de uma incriminação 
vaga, sujeita à livre discricionariedade do 
julgador. 
4º LEI ANTERIOR: Princípio da anterioridade é 
uma decorrência direta da legalidade. 
Legalidade sem anterioridade não faz sentido. 
Isso porque, a idéia da anterioridade é a de 
limitar o poder de punir do Estado e dar a 
certeza ao cidadão de que ele não será punido 
 
 
 
 
 
 
 
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senão por uma circunstância previamente 
estabelecida em lei. Portanto, a lei, 
necessariamente, deverá ser anterior, ou seja, 
ela não poderá retroagir para incriminar um fato 
passado. 
O princípio da anterioridade pode também ser 
chamado de princípio da irretroatividade da lei 
penal ou de princípio da retroatividade benéfica 
da lei penal. Lembrando que a lei penal só 
retroage para beneficiar o réu. 
Importante destacar que, quando falamos em 
princípio da anterioridade, estamos nos 
referindo à lei no sentido material ou formal. 
Não pode, por exemplo, haver decreto, 
resolução, portaria, medidas provisórias, etc., 
que definam condutas criminosas. Acerca do 
tema, a Constitucional Federal, no art. 62, 
prevê, expressamente, que Medida Provisória 
não pode tratar de direito penal. 
Doutrinariamente há quem entenda que 
medidas provisórias poderiam ser aplicadas na 
esfera penal desde que venha a beneficiar o 
réu (é o posicionamento, por exemplo, de Luiz 
Flávio Gomes), mas trata-se de um 
entendimento minoritário. 
Ainda sobre o princípio da anterioridade, 
cumpre lembrar que no Brasil a lei retroage 
para beneficiar o réu a qualquer tempo! 
Inclusive após o trânsito em julgado de uma 
eventual condenação. Exceto quando a pena já 
foi extinta, nesse caso, não há mais de se falar 
em retroatividade da lei benéfica, porque não 
há mais punibilidade. 
Lembre-se que ocorre a abolitio criminis 
quando a lei deixa de considerar determinada 
conduta como criminosa. 
 
 
 
Não devemos confundir, contudo, a abolitio 
criminis com a revogação de tipo penal. Por 
exemplo: até 2009, o art. 213 do Código penal 
tinha a seguinte redação para o crime de 
estupro: “constranger mulher, por violência ou 
grave ameaça, a manter conjunção carnal”. E o 
art. 214, que tratava do atentado violento ao 
pudor, previa que: “constranger alguém, 
mediante violência ou grave ameaça, a praticar 
ou permitir que se pratique ato libidinoso 
diverso da conjunção carnal”. Em 2009, o tipo 
penal do atentado violento ao pudor foi 
revogado e o art. 213 passou a ter a seguinte 
redação: 
“Constranger alguém, mediante 
violência ou grave ameaça, a ter 
conjunção carnal ou a praticar ou 
permitir que com ele se pratique outro 
ato libidinoso”: 
Assim, aquilo que era atentado violento ao 
pudor também se tornou estupro. Então, 
houve abolitio criminis do atentado violento ao 
pudor? Não! Abolitio criminis é quando a 
conduta deixa de ser criminosa. No caso em 
tela, houve a revogação do tipo penal atentado 
violento ao pudor, mas a conduta não deixou 
de ser criminosa. Assim, a conduta que outrora 
se chamava atentado violento ao pudor hoje é 
uma das hipóteses de estupro. 
A abolitio criminis ocorreu, por exemplo, com o 
adultério, a sedução, o rapto consensual. O 
adultério era crime até 2005. Isso não significa 
dizer que o adultério foi legalizado. Ele apenas 
deixou de ser um ilícito penal, continuando a 
ser um ilícito de natureza cível, por exemplo. 
Surge, então, a seguinte indagação: qual a 
conseqüência da abolitio criminis? A abolitio 
criminis faz cessar os efeitos penais da 
condenação! 
Atenção: é possível que caia na prova que a 
abolitio criminis faz cessar todos os efeitos 
da condenação. Essa afirmação não está 
 
 
 
 
 
 
 
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correta! A abolitio criminis faz cessar os efeitos 
PENAIS de uma eventual condenação. 
Assim, se o sujeito estava sendo investigado 
em inquérito policial por conduta 
posteriormente abolida do ordenamento penal, 
esse inquérito será encerrado. Se ele 
respondia ação penal, o processo será extinto 
(trata-se de hipótese de extinção da 
punibilidade prevista no art. 107 do Código 
Penal). Se ele já foi condenado e está 
aguardando julgamento de recurso, da mesma 
forma, haverá extinção desse processo. 
Contudo, se o sujeito já foi condenado e a 
sentença penal condenatória já tiver transitado 
em julgado, ou seja, se o processo já estiver 
em fase de execução penal, sobrevindo a 
abolitio criminis, a aplicação da lei nova quebeneficia o réu ficará a cargo do juiz da 
execução. Frise-se que não é o juiz que 
sentenciou, e sim, o juiz da execução penal, 
conforme preleciona o Súmula 611 do STF: 
“TRANSITADA EM JULGADO A 
SENTENÇA CONDENATÓRIA, 
COMPETE AO JUÍZO DAS 
EXECUÇÕES A APLICAÇÃO 
DE LEI MAIS BENIGNA”. 
Pensemos na hipótese em que, já na fase de 
execução, sobreveio a abolitio criminis do 
adultério. Como visto, a abolitio criminis cessa 
os efeitos penais. O primeiro dos efeitos penais 
é o cumprimento da pena (se o sujeito 
estivesse preso, seria posto em liberdade, se 
fosse obrigado a pagar multa, seria extinta 
essa exigência etc.). Outro efeito penal da 
abolitio criminis é o de que o sujeito volta a ser 
portador da primariedade, ou seja, se ele 
praticasse um novo fato delituoso não seria 
considerado reincidente. 
Os efeitos extrapenais da condenação não 
cessam! Um dos principais efeitos extrapenais 
da condenação é o de tornar certa a obrigação 
de indenizar a vítima. Esse efeito não cessa, 
por ter natureza cível, logo, por ser extrapenal. 
 
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO 
E NO ESPAÇO 
 
a) Teoria da Atividade 
b) Teoria do resultado 
c) Teoria da ubiqüidade. 
 
1. DO TEMPO DO CRIME 
 
O tempo do crime, no direito penal brasileiro, é 
o tempo da atividade, ou seja, é o tempo da 
ação ou omissão. Assim, não se aplica a teoria 
do resultado no que se refere ao tempo do 
crime, tão pouco a teoria da ubiqüidade, vez 
que esta, diz respeito ao lugar, não ao tempo. 
 
2. DO LUGAR DO CRIME 
 
O art. 6º do Código Penal assim dispõe: 
“Considera-se praticado o crime no lugar em 
que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em 
parte, bem como onde se produziu ou deveria 
produzir-se o resultado”. 
Portanto, no que se refere ao lugar do crime, o 
art. 6º do Código penal não aderiu à teoria da 
atividade e nem à teoria do resultado e sim, à 
teoria da ubiquidade. Assim, no que se refere 
ao lugar do crime, é importante ter 
conhecimento de quando se considera ocorrido 
o crime. 
A teoria da ubiquidade é aplicada nos 
crimes à distância. Crimes à distância, por 
sua vez, é aquele em que a ação é realizada 
em um país, e o resultado ocorre em outro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Os manuais de direito penal costumam 
exemplificar a teoria da ubiqüidade, no caso de 
uma pessoa que mora em Brasília e manda 
uma carta bomba para Buenos Aires. Nesse 
caso, qual o local do crime? O Brasil (onde 
ocorreu a ação) e a Argentina (onde se 
produziu, ou deveria se produzir o resultado). 
Outro exemplo, é quando uma pessoa, no 
Brasil, ameaça de morte outra pessoa que está 
na Argentina. Do mesmo modo, com base na 
teoria da ubiquidade, o lugar do crime será o 
Brasil (onde ocorreu a ação) e a Argentina 
(onde se produziu o deveria se produzir o 
resultado). 
 
CONCEITO ANALÍTICO OU EXTRATIFICADO 
DO CRIME 
A doutrina majoritária no Brasil trabalha com 
um conceito tripartido, no qual divide o crime 
em três elementos, fato típico, antijurídico e 
culpável. Mas há alguns autores que defendem 
o critério bipartido, no qual crime seria fato 
típico e ilícito. Para esses autores, 
culpabilidade não seria elemento do crime e 
sim, mero pressuposto de punibilidade. 
Portanto, para a doutrina majoritária crime 
possui três elementos: fato típico, ilícito e 
culpável. 
Importante observar que ilicitude e 
antijuridicidade são consideradas elementos 
sinônimos para o Direito Penal! 
 
1º DOS ELEMENTOS DO FATO TÍPICO 
 
1. Conduta humana penalmente 
relevante: Será uma ação ou omissão, dolosa 
ou culposa. 
 
2. Resultado: a conduta humana deverá 
produzir um resultado. 
 
3. Nexo causal: Também chamado de 
relação de causalidade: É o elo entre a conduta 
e o resultado. 
 
4. Tipicidade 
 
 
2° EXCLUDENTES DO FATO ILÍCITO. 
Antes de tudo é importante termos em mente 
que o fato típico é presumivelmente ilícito. 
Ocorre que essa presunção é relativa. Assim, o 
fato típico deixa de ser ilícito se estiverem 
presentes algumas de suas excludentes. Quais 
sejam: O estado de necessidade, a legítima 
defesa, o estrito cumprimento do dever legal, o 
exercício regular de um direito. Essas 
excludentes estão previstas no art. 23 do 
Código penal. Mas há, ainda, uma causa 
supralegal: o consentimento do ofendido. 
1. Estado de necessidade 
2. Legítima defesa 
3. Estrito cumprimento do dever legal 
4. Exercício regular de direito 
5. Consentimento do ofendido – causa 
supralegal. 
 
3º DOS ELEMENTOS DA CULPABILIDADE 
1. Imputabilidade 
2. Exigibilidade de conduta diversa. 
3. Potencial consciência da ilicitude. 
 
Observações: Lembrando que a coação moral 
irresistível ou a obediência hierárquica são 
modalidade da inexigibilidade de conduta 
diversa. E o erro de proibição é uma 
excludente da potencial consciência da 
ilicitude. Excludentes da culpabilidade que 
serão analisados adiante. 
 
 
 
 
 
 
 
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1. FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS: 
 
A) CONDUTA HUMANA - CRIMES 
DOLOSOS E CULPOSOS: Dolo e culpa 
constituem elementos subjetivos da conduta 
humana. Também chamados de elementos, 
psicológicos, volitivos, de vontade etc. 
 
Dolo é a vontade de praticar a conduta e de 
produzir o resultado. A culpa se diferencia 
porque a intenção não é a de produzir o 
resultado, apenas a de praticar a conduta. 
Dolo é elemento subjetivo por excelência. 
Culpa é elemento subjetivo por exceção. Ou 
seja, quando o tipo penal descreve a conduta, 
ali está descrita uma conduta dolosa. Porque o 
dolo é elemento subjetivo por excelência, é a 
regra. Assim, quando o art. 121 explana “matar 
alguém”, trata-se de tipificação de uma conduta 
dolosa. 
Conduta culposa é a exceção. Só existe crime 
na modalidade culposa quando houver 
expressa disposição na lei. Assim, há 
homicídio na modalidade culposa porque o art. 
121, no § 3º dispõe acerca dessa possibilidade. 
Mas, por exemplo, o Código penal não prevê o 
crime de furto na modalidade culposa. 
A.1) DOLO: O código penal divide o dolo em 
dolo direto e dolo eventual. 
Dolo direto 
 Dolo direto de 1º grau 
 Dolo direto de 2º grau 
 
Dolo Indireto 
 Dolo Indireto eventual 
 Dolo indireto alternativo 
 
 
 
a) DOLO DIRETO DE 1º GRAU: É o dolo 
clássico, que se divide em dois binômios: 
consciência e vontade. Consciência do que se 
está fazendo e vontade de produzir o resultado. 
 
b) DOLO DIRETO DE 2º GRAU: Ocorre 
quando o agente não quer, diretamente, 
praticar o resultado, mas a sua conduta torna o 
resultado inevitável. 
 
c) DOLO INDIRETO EVENTUAL: O código diz 
que ocorre o dolo eventual quando o sujeito 
assume o risco de produzir o resultado. Em 
direito penal, “assumir riscos” significa ser 
indiferente para com o resultado. O lema do 
dolo eventual é: “der no que der, não deixo de 
agir”. Logo, no dolo eventual, o agente é 
indiferente ao resultado, apesar de não ter 
certeza exata de qual será o resultado de sua 
conduta, por isso se afirma que ele assume o 
risco de produzir o resultado. Risco, então, é 
zona de incerteza. 
 
d) DOLO INDIRETO ALTERNATIVO: é 
uma classificação que muitos autores já não 
trabalham. É hoje considerada uma espécie de 
dolo eventual. Dolo alternativo ocorre quando o 
agente tem mais de um resultado possível e 
qualquer deles o satisfaz. Exemplificando: o 
agente atira nas costas do seu desafeto. 
Qualquer que sejao resultado (se a vítima 
morrer ou se ficar tetraplégica, por exemplo) o 
satisfaz. 
 
A.2) DA CULPA 
Culpa consiste na inobservância de um dever 
objetivo de cuidado. Ou seja, culpa significa 
que o sujeito não adotou as cautelas devidas. 
Essa inobservância dos deveres objetivos de 
cuidado pode ocorrer mediante Imprudência, 
Negligência ou Imperícia. Logo, podemos 
afirmar que imprudência, negligência e 
 
 
 
 
 
 
 
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imperícia são modalidades de inobservância 
dos deveres objetivos de cuidado. 
a) IMPRUDÊNCIA: É a inobservância de 
um dever objetivo de cuidado que ocorre por 
meio de uma ação. Assim, imprudente é aquele 
que fez o que não deveria fazer. 
 
b) NEGLIGÊNCIA: É o contrário da 
imprudência. Nessa modalidade, o agente não 
fez aquilo que deveria fazer. Então, negligente 
é, por exemplo, o pai que, de forma 
descuidada, não adota as cautelas devidas 
para retirar a arma do alcance do filho menor. 
 
c) IMPERÍCIA: Poderá ocorrer mediante 
ação ou omissão. Trata-se da inobservância de 
um dever objetivo de cuidado que diga respeito 
à arte, ofício ou profissão. Um erro médico, por 
exemplo. 
 
A culpa poderá ser inconsciente ou consciente. 
Primeiramente, é importante afirmar que, para 
que haja culpa, o resultado deverá ser sempre 
previsível. Logo, se o resultado é imprevisível 
não há de se falar em dolo ou culpa. 
Cite-se, como exemplo, um motorista de 
trânsito que está dirigindo de acordo com todas 
as normas previstas, (respeitando o limite de 
velocidade, obedecendo a sinalização, com o 
cinto de segurança, etc.) e uma pessoa se atira 
diante do carro com a intenção de suicidar-se. 
Nesse caso, não há de se falar em dolo ou 
culpa, porque, de acordo com a conduta do 
agente, não é previsível se que se espere um 
resultado criminoso. 
Assim, se não é possível se vislumbrar o 
resultado, não há de se falar em dolo ou culpa. 
Lembrando, ainda, que dolo e culpa integram a 
conduta humana, (já que conduta humana é, 
por sua vez, toda ação ou omissão dolosa ou 
culposa), e que, esta, encontra-se dentre os 
elementos do fato típico. Dessa forma, a 
ausência de dolo ou culpa torna o fato atípico. 
Então, para que haja culpa o resultado deverá 
ser previsível. Ser previsível não é a mesma 
coisa que previsto. 
 
Se o fato foi PREVISTO, a culpa é consciente. 
Se não foi previsto, a culpa será inconsciente. 
Imaginemos o exemplo de uma pessoa que 
passa todos os dias por determinada rodovia 
com um limite de velocidade superior ao 
permitido em lei, não havendo radares que 
controlem essa conduta e que essa prática seja 
comum dentre todos os motoristas que por ali 
trafegam. Ocorre que, em determinado dia, 
esse agente atropela e mata uma pessoa. Esse 
fato é previsível. Mas é previsto? Não. Porque 
o sujeito fazia esse trajeto todos os dias há 
anos, nessa mesma velocidade, e em 
momento algum imaginou que haveria a 
possibilidade de matar alguém. Trata-se, pois, 
de hipótese de culpa inconsciente. 
Já na culpa consciente o resultado é previsto, 
mas não é aceito, ou seja, o agente não 
assume o risco de produzir o resultado. Logo, 
na culpa consciente, o agente sabe da 
possibilidade de produzir determinado 
resultado, mas acredita que poderá evitá-lo. É 
o caso, por exemplo, de um atirador de facas. 
Ele tem consciência de que poderá atingir a 
pessoa (o resultado é previsto), mas acredita 
que, com suas habilidades, esse resultado não 
irá se consumar. 
Perceba que há uma linha muito tênue entre a 
culpa consciente e o dolo eventual. Na culpa 
consciente o agente acha que poderá evitar o 
resultado. Já no dolo eventual o agente é 
indiferente para com o resultado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A.3) DO CRIME PRETERDOLOSO 
É a junção do dolo e da culpa: preterdolo 
ocorre quando o agente possui dolo na conduta 
e dano no resultado, ou seja, ele queria praticar 
a conduta, mas não tinha a intenção de que 
sua conduta produzisse determinado resultado. 
É o caso, por exemplo, da lesão corporal 
seguida de morte. O agente não tinha a 
intenção de matar a vítima, mas tinha a 
intenção de praticar a lesão corporal. Outro 
exemplo é o aborto quando há morte da 
gestante. Ou a tortura seguida de morte. 
 
B) RELAÇÃO DE CAUSALIDADE 
É também chamada de relação causal, ou nexo 
causal. 
Trata-se do elo entre a conduta e o resultado. 
Estudar a relação de causalidade é analisar 
qual foi o motivo que acarretou em 
determinado resultado. Lembrando que 
resultado, no direito penal, pode também ser 
chamado de evento. 
No que concerne à relação de causalidade, o 
Código Penal, no caput do seu art. 13, adotou 
a TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS 
ANTECEDENTES, também chamada de teoria 
da conditio sine qua non. 
De acordo com essa teoria, causa é tudo aquilo 
que contribuiu para a ocorrência do resultado. 
Assim, o Código Penal não adotou a teoria da 
concausa. Já que tudo aquilo que contribuiu 
para o evento é causa. 
Então para saber se determinada conduta é a 
causa do evento danoso devemos trabalhar 
com o critério de eliminação hipotética. Ou 
seja, para saber se a conduta é causa do 
resultado, vamos eliminar determinada 
circunstância e nos perguntar se o resultado 
teria ocorrido com essa eliminação. 
Assim, imagine que A matou B: Antes de A 
matar B, adquiriu a arma, a munição e, antes 
de chegar na residência da vítima, ele parou 
para almoçar. Chegando à residência de B, A 
armou uma emboscada e deflagrou os 
disparos. Nesse caso, devemos nos perguntar: 
o que é causa do resultado? De acordo com a 
teoria da equivalência dos antecedentes, tudo 
o que contribuiu para que o resultado tivesse 
ocorrido, é causa. Então, devemos eliminar 
hipoteticamente cada uma das circunstâncias a 
fim de chegarmos à causa. Então, vejamos: 
1. Se A n tivesse comprado a arma, o resultado 
teria ocorrido da forma como ocorreu? Não. É 
possível que A tivesse matado B, mas não com 
aquela arma. Ou seja, se A não tivesse 
comprado a arma o resultado não teria ocorrido 
da forma como ocorreu. Assim, podemos 
afirmar que “comprar a arma”, é causa que 
contribuiu para o resultado. O mesmo 
raciocínio se aplica à compra de munição, já 
que, sem esta, A não teria efetuado os 
disparos. 
2. Parar para almoçar não é causa do 
resultado, já que essa ação não teve qualquer 
influência no crime. 
3. Se ele não tivesse armado a emboscada o 
resultado não teria ocorrido da forma como 
ocorreu. Importante lembrar, inclusive, que 
emboscada é causa qualificadora do crime de 
homicídio. 
4. Sem os disparos o resultado também não 
teria ocorrido da forma como ocorreu. 
O grande problema dessa teoria é que, ao 
afirmar que tudo o que contribuiu para o 
resultado é causa, poderá haver o 
REGRESSUS AD INFINITUM, já que, por 
exemplo, se o fabricante de armas não tivesse 
feito aquela arma utilizada por A, o crime não 
teria ocorrido da forma como ocorreu. Da 
mesma forma, se a mãe de A, não o tivesse 
 
 
 
 
 
 
 
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gerado, o crime também não teria ocorrido da 
forma como ocorreu, e assim, sucessivamente. 
Então, para não chegarmos ao infinito, essa 
teoria precisa de um limite que seria os 
ELEMENTOS SUBJETIVOS DOLO OU 
CULPA. 
Dessa forma, por que a mãe de A não vai 
responder pelocrime? Porque o fabricante da 
arma não vai responder pelo crime? Por que 
estes não tiveram o elemento subjetivo (dolo 
ou culpa) necessários para influírem no 
resultado. 
Importante destacar, ainda, que a teoria da 
equivalência dos antecedentes possui uma 
exceção. A exceção reside na causa 
relativamente independente e 
superveniente. 
Da Causa relativamente independente e 
superveniente: 
Trata-se de uma causa que acontece depois da 
conduta. O exemplo mais emblemático é 
aquela hipótese em que, um sujeito deflagra 
um disparo em alguém e essa pessoa é 
socorrida. Ocorre que, no caminho para o 
pronto socorro a ambulância acaba colidindo 
com algum outro veículo e a pessoa que 
estava sendo socorrida morre em razão desse 
acidente. Perceba que o acidente com a 
ambulância é uma causa independente ao 
disparo e superveniente a este. 
Quando há uma causa relativamente 
independente e superveniente a teoria da 
condição sine qua non não será aplicada. Se 
essa teoria fosse aplicada a linha de raciocínio 
seria: se o agente não tivesse atirado, a vítima 
não estaria na ambulância logo, não sofreria 
com o acidente de trânsito e não morreria. 
Assim, esse agente responderia penalmente 
pelo homicídio consumado. O que não ocorre. 
 
O art. 13, § 1º do Código Penal, ao tratar da 
causa relativamente independente e 
superveniente, adotou a TEORIA 
CAUSALIDADE ADEQUADA. 
Perceba que a regra para a averiguação do 
nexo de causalidade é a teoria da condição 
sine qua non, a exceção é a teoria da 
causalidade adequada, esta, só será aplicada 
nos casos em que houver uma causa 
relativamente independente e superveniente. 
Pela teoria da Causalidade Adequada, só é 
causa aquilo que produziu o resultado “por si 
só”, ou seja, causa é aquilo que, isoladamente, 
produziu o resultado. 
Dessa forma, o art. 13, § 1º afirma que, 
ocorrendo a causa relativamente independente 
e superveniente que, por si só produziu o 
resultado, o agente responde apenas pelos 
atos até então praticados. 
“Art. 13 - O resultado, de que depende 
a existência do crime, somente é 
imputável a quem lhe deu causa. 
Considera-se causa a ação ou 
omissão sem a qual o resultado não 
teria ocorrido. 
§ 1º - A superveniência de causa 
relativamente independente exclui a 
imputação quando, por si só, produziu 
o resultado; os fatos anteriores, 
entretanto, imputam-se a quem os 
praticou”. 
Portanto, no exemplo da ambulância, o agente 
responderia, apenas pelos disparos por ele 
efetuados, ou seja, pela tentativa de homicídio. 
Importante destacar, contudo, que há situações 
em que não se aplica a causa relativamente 
independente e superveniente. Por exemplo: 
um agente efetuou disparos e a vítima foi 
levada até o hospital, mas, por conta do grande 
engarrafamento, acaba falecendo antes de ser 
socorrido. Nesse caso, não podemos afirmar 
 
 
 
 
 
 
 
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que o agente faleceu por conta do 
engarrafamento, ou seja, não é possível se 
falar em causa relativamente independente e 
superveniente. O mesmo raciocínio se aplica 
no caso de a vítima contrair uma infecção 
hospitalar, após ser vítima de disparos. Nesse 
caso, há um desdobramento natural da 
conduta criminosa, logo, o agente responderia 
por homicídio consumado, aplicando-se, pois a 
regra da teoria da condição sine qua non. 
 
INSTITUTOS RELACIONADOS AO ITER 
CRIMINIS 
Iter Criminis, literalmente, seria o “itinerário do 
crime”, o caminho produzido pelo crime. Trata-
se, pois, das fases do crime. 
O crime passa por até cinco fases. Nem todos 
os crimes vão passar pelas cinco. 
1ª FASE: Cogitatio ou, simplesmente, 
cogitação – É o planejamento do crime. 
Cogitatio não pode ser punida. A simples 
vontade de praticar um crime não significa 
praticá-lo. 
2ª FASE: Preparação – Em regra, os atos de 
preparação também não são punidos. Diga-se 
“em regra”, por que há vezes em que os atos 
de preparação são tão graves que a lei os 
considera como crimes autônomos. Por 
exemplo, adquirir arma de fogo é um ato 
preparatório para um homicídio, mas, se o 
sujeito não tiver porte de arma, ele já praticou 
um crime. A emissão de moedas falsas é um 
crime, mas a utilização de instrumentos para a 
falsificação de moeda (o que se classificaria 
como ato preparatório), já é outro crime. 
3ª FASE: Execução – Em regra a punibilidade 
se inicia nos atos de execução. 
 
4ª FASE: Consumação – 
Ocorre quando todos os 
elementos do tipo penal estão preenchidos. 
5ª FASE: Exaurimento – Ocorre quando o tipo 
penal prevê uma hipótese além da 
consumação. Por exemplo, crime de corrupção 
de funcionário público: o funcionário público 
que solicita vantagem indevida já praticou, por 
si só, um crime. Logo, se ele receber aquilo 
que solicitou estará apenas exaurindo um 
crime que já estava consumado. 
 
Existem cinco institutos relacionados ao Iter 
Criminis, quais sejam: 
1. Tentativa 
2. Desistência voluntária 
3. Arrependimento eficaz 
4. Arrependimento posterior 
5. Crime impossível 
 
 
1. CRIME TENTADO 
 
Ocorre quando, iniciado os atos de execução, o 
crime não se consuma por circunstâncias 
alheias à vontade do agente. 
Assim, há a tentativa quando o indivíduo inicia 
a terceira fase (fase de execução), mas não 
alcança a quarta fase (de consumação) em 
razão de circunstâncias alheias à sua vontade. 
A consequência do crime tentado: O Código 
Penal nos diz que quando o crime é tentado o 
juiz vai aplicar a pena do crime consumado 
diminuindo-a de 1/3 a 2/3, salvo nos casos 
previstos em lei. 
Excepcionalmente, porém, o Código (ou a 
legislação extravagante) prevê um crime em 
que a consumação e a tentativa possuem a 
mesma pena. São os chamados crimes de 
atentado ou crime de empreendimento. Como 
exemplo, podemos citar o crime eleitoral de 
“votar ou tentar votar no lugar de outrem”. 
 
 
 
 
 
 
 
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Nesse caso, a consumação e a tentativa 
possuem a mesma penalidade. 
A natureza jurídica da tentativa é a de causa de 
diminuição de pena prevista na parte geral do 
Código Penal. 
Classificação doutrinária da tentativa: 
a) TENTATIVA BRANCA OU 
INCRUENTA – É aquela em que a vítima sai 
ilesa. Exemplo: o agente deflagra disparos de 
arma de fogo na vítima, mas não a atinge. 
 
b) TENTATIVA VERMELHA OU 
CRUENTA – É aquela em que a vítima sai 
lesionada. 
 
c) TENTATIVA PERFEITA, TENTATIVA 
ACABADA OU CRIME FALHO – Ocorre na 
hipótese em que o agente exauriu a sua 
potencialidade lesiva e, ainda assim, não 
conseguiu consumar o crime. Por exemplo, o 
agente deflagrou todo o arsenal que possuía, 
ou utilizou de toda a dose veneno de que 
dispunha, enfim, ele fez tudo o que estava ao 
seu alcance para consumar o crime. 
 
d) TENTATIVA IMPERFEITA: O sujeito 
não exauriu a sua potencialidade lesiva, ele 
não fez tudo o que estava ao seu alcance. Por 
exemplo, ele deflagrou o primeiro disparo, mas 
a vítima conseguiu fugir ou alguém o conteve. 
 
e) TENTATIVA ABANDONADA – Muito 
cuidado com essa classificação por que, o que 
a doutrina denomina de tentativa abandonada, 
em verdade, é a desistência voluntária. 
 
f) TENTATIVA INIDÔNEA – Trata-se, na 
verdade, do crime impossível! Nesta, não há 
a possibilidade de haver efetivação do delito. 
 
 
DAS INFRAÇÕES PENAIS QUE NÃO 
ADMITEM A TENTATIVA 
1. As contravenções penais. 
Primeiramente, é importante lembrarque as 
infrações penais são gênero, cujas espécies 
são os crimes e as contravenções. O Decreto – 
lei nº 3688/1941 (lei de contravenções penais) 
dispõe expressamente que não há a 
possibilidade de tentativa nas contravenções. 
Trata-se, então, de uma opção do legislador. 
 
2. Crimes omissivos próprios (ou 
omissivos puros): são aqueles em que o tipo 
penal prevê a possibilidade de omissão. A ação 
pode ser fracionada em vários atos, a omissão, 
por sua vez, é um ato só, o agente praticou ou 
não praticou. No crime de omissão de socorro, 
por exemplo, o agente não tem como “tentar 
não prestar o socorro”. 
 
3. Crimes Unissubsistente: É aquele em 
que a ação, ou omissão, não pode ser 
fracionada. Os crimes omissivos são 
unissubsistentes. Contudo, há crimes 
comissivos que também não podem ser 
fracionados, é o caso, por exemplo, dos crimes 
praticados verbalmente, a exemplo da ofensa à 
honra. Perceba que os crimes de ofensa a 
honra praticados por escrito podem ser 
fracionados, por exemplo, o agente pode 
mandar um email calunioso e a vitima não 
recebê-lo por que está com a sua caixa de 
email lotada. Nesse exemplo, houve o crime 
contra a honra em sua modalidade tentada, já 
que não houve a consumação por razões 
alheias à vontade do agente. 
 
4. Crimes culposos: Tentativa pressupõe 
dolo! Por que, de acordo com a definição de 
tentativa, o crime não se consuma por 
circunstâncias alheias à vontade do agente, 
logo, o agente tinha a intenção (dolo) de 
produzir o resultado. Existe uma exceção a 
essa regra nos casos de CULPA IMPRÓPRIA 
(por extensão ou por assimilação). A culpa 
imprópria (que será estudada mais a frente) 
nada mais é do que a culpa que deriva do erro 
de tipo. Nesse caso, caberá a tentativa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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5. Crimes pretedolosos: crime 
preterdoloso é aquele em que há dolo na 
conduta e culpa no resultado. Se o resultado é 
produzido culposamente, não há de se falar em 
tentativa. 
 
Obs.: Existe uma divergência doutrinaria 
acerca da possibilidade de cabimento da 
tentativa nos crimes de dolo eventual. A maior 
parte da doutrina entende que a tentativa só é 
cabível para os casos de dolo direto, não se 
aplicando, pois, ao dolo eventual. 
Obs. 2: Há quem diga que não cabe a tentativa 
nos crimes de empreendimento ou crime de 
atentado (aquele em que a consumação e a 
tentativa são punidos da mesma forma). Na 
verdade, a questão é que, nos crimes de 
empreendimento a tentativa não possui 
nenhuma aplicabilidade prática, já que será 
punida da mesma forma. 
 
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA 
É também chamada, doutrinariamente, de 
tentativa abandonada. Contudo, a desistência 
voluntária se difere da tentativa por que nesta, 
o crime não se consuma por circunstâncias 
alheias à vontade do agente. Já na desistência 
voluntária, o ato não se consuma por vontade 
do agente, ou seja, ele pode prosseguir na 
execução do crime, mas desiste de fazê-lo. 
Franklin, um teórico alemão, cunhou uma 
fórmula para distinguir a tentativa da 
desistência voluntária, qual seja: 
 
 Tentativa – Quero, mas não posso 
prosseguir na execução. 
 Desistência Voluntária – Posso 
prosseguir na execução, mas não quero. 
 
 
Válido ressaltar que a desistência é voluntária, 
mas não necessariamente ela é espontânea! 
Por exemplo, o agente pode ser aconselhado a 
não prosseguir no crime. 
O espontâneo, como se percebe, é mais do 
que o voluntário, por que não apenas exige um 
ato de vontade como essa vontade deve partir 
do agente, sem interferências externas ou de 
terceiros. 
Conseqüência da desistência voluntária: Diz o 
art. 15 do Código Penal que, na desistência 
voluntária o agente responde apenas pelos 
atos praticados até o momento dessa 
desistência. Ou seja, ele não responde pela 
tentativa (que diminui a pena de 1/3 a 2/3). 
Assim, se, por exemplo, o agente está 
apontando a arma para a vítima, mas desiste 
de atirar, ele responderá pelo crime de 
ameaça. Se esse mesmo agente, podendo 
matar a vítima, desiste de fazê-lo, e atira 
apenas em seu braço, ele não responde por 
tentativa de homicídio e sim, por lesão 
corporal. 
 
ARREPENDIMENTO EFICAZ 
Nesta, o agente já exauriu toda a sua 
potencialidade lesiva, ou seja, ele não pode 
mais desistir por que ele já fez tudo o que 
podia para consumar o crime. A diferença está 
que, após fazer todos os atos necessários para 
consumar o crime, o agente se arrepende, e 
evita, de todos os modos, a consumação. 
Por exemplo, ocorre o arrependimento eficaz 
se o agente, após desferir disparos na vítima, a 
leva ao hospital e a salva. Perceba, portanto, 
que o arrependimento deverá ser eficaz! Ou 
seja, os esforços do agente para evitar a 
consumação devem surtir efeitos. Caso 
contrário, o arrependimento será ineficaz e o 
agente reponderá pela conduta delitiva. No 
 
 
 
 
 
 
 
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exemplo narrado, ele responderia pelo crime 
de homicídio. 
Conseqüência do arrependimento eficaz: É a 
mesma da desistência voluntária, ou seja, o 
agente responderá apenas pelos atos 
praticados até aquele momento. 
 Desistência voluntária: O agente pode 
prosseguir, mas não quer. 
 Arrependimento eficaz: O agente 
prossegue no ato (exaure a sua potencialidade 
lesiva) e depois se arrepende e envida 
esforços para evitar o resultado. 
 
Natureza Jurídica da desistência voluntária e 
do arrependimento eficaz: Em outras palavras, 
o que significam esses institutos para o direito? 
Primeiramente é importante lembrar que, a 
natureza jurídica da tentativa é a de uma causa 
de diminuição de pena prevista na parte geral. 
Para a doutrina majoritária, a desistência 
voluntária e o arrependimento eficaz 
constituem CAUSA DE ATIPICIDADE 
RELATIVA DA CONDUTA! 
Atipicidade é quando o fato deixa de ser típico. 
Essa atipicidade poderá ser absoluta, (quando 
a conduta era criminosa e passou a não ser), 
como poderá ser relativa, quando a conduta 
seria um crime e passou a ser outro. 
Nesses termos, se, por exemplo, a intenção 
inicial do agente era a de matar a vítima, mas, 
desiste (ou se arrepende eficazmente), a 
conduta típica deixa de ser a de homicídio e 
passa a ser a de ameaça. 
 
 
 
 
ARREPENDIMENTO POSTERIOR (art. 16 do 
Código Penal) 
Não devemos confundir arrependimento eficaz 
com arrependimento posterior. Dos 05 (cinco) 
institutos do inter criminis, o arrependimento 
posterior é o único em que há a consumação. 
Só é cabível o arrependimento posterior para 
os crimes praticados sem violência ou grave 
ameaça à pessoa. Ex.: furto, estelionato, 
apropriação indébita, crime de dano, 
corrupção, etc. Nessas hipóteses, o sujeito irá 
reparar o dano, ou restituir a coisa, antes do 
recebimento da denúncia ou queixa crime. 
Conseqüência do arrependimento posterior: 
será a mesma conseqüência da tentativa, ou 
seja, haverá uma diminuição da pena de 1/3 a 
2/3. 
É importante destacar que, no arrependimento 
posterior também há uma conduta voluntária 
do agente, mas não necessariamente 
espontâneo. 
Natureza jurídica: é a mesma natureza jurídica 
da tentativa, qual seja, a de CAUSA DE 
DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA NA PARTE 
GERAL DO CÓDIGO. 
Há casos, porém, em que a própria lei concede 
um benefício maior do que o arrependimento 
posterior. Cite-se, como exemplo, o crime 
tributário, se o agente pagar o tributo antes da 
denúncia ou queixa, haverá a extinção da 
punibilidade.Perceba que, nesse caso, não se 
aplica o arrependimento posterior por que a 
própria lei concede um benefício maior ao 
agente. Outro exemplo em que a lei concede 
um tratamento mais benéfico é o caso do 
peculato culposo, neste, se o agente se 
arrepende e restitui a coisa até a sentença, 
haverá a extinção da punibilidade. Portanto, 
nesses casos, não há de se falar em 
arrependimento posterior por que a lei foi mais 
benéfica do que esse instituto. 
 
 
 
 
 
 
 
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CRIME IMPOSSÍVEL (art. 17, do Código 
Penal). 
Ocorre quando é impossível se consumar o 
crime, e é por isso que doutrinariamente esse 
instituto é chamado de tentativa inidônea. 
É impossível se consumar o crime por: 
 Absoluta impropriedade do objeto 
material do tipo penal. 
 ou ineficácia do meio. 
 
1) Absoluta impropriedade do objeto material: 
Objeto material é a pessoa ou a coisa sobre a 
qual recai a conduta criminosa. Diferencia-se, 
assim, do objeto jurídico do crime, este, refere-
se ao bem jurídico. Por exemplo, no crime de 
homicídio, o objeto jurídico é a vida humana e 
o objeto material é a pessoa que foi morta. No 
furto, o objeto jurídico é o patrimônio, o objeto 
material é a coisa subtraída. 
Falar-se em absoluta impropriedade do objeto 
material significa dizer que o objeto material 
não existe. Ou seja, a pessoa ou a coisa sobre 
a qual recairia a conduta criminosa não 
existem! À exemplo de um agente que dispara 
tiros sobre uma pessoa que já estava morta. 
Nesse caso, o objeto material, no caso, a 
pessoa que seria assassinada, não existe, por 
que não há mais vida humana. 
Recentemente a OAB cobrou uma questão que 
tratava de um caso em que o agente, na 
intenção de roubar um cadáver (crime de 
vilipêndio a cadáver), descobre, ao abrir o 
caixão, que não havia corpo. Trata-se de mais 
um exemplo de crime impossível, em razão da 
absoluta impropriedade do objeto. 
 
 
 
2) Absoluta ineficácia do meio 
Trata-se do meio empregado para a prática do 
crime. A doutrina costuma citar o exemplo de 
um agente que tenta matar uma pessoa 
envenenada e, sem saber, acaba ministrando-
lhe açúcar, ao invés do veneno. 
Obs.: Perceba-se que só há crime impossível 
quando a impropriedade do objeto ou a 
ineficácia do meio são absolutas. Se forem 
relativas, não podemos falar em crime 
impossível e sim, em tentativa!!! 
A relativa impropriedade do objeto material é 
quando o objeto material existe, mas ele não é 
alcançado. Então, se, por exemplo, um agente 
tenta furtar uma pessoa, colocando a mão em 
seu bolso, e não encontrar nada, será uma 
hipótese de crime impossível por absoluta 
impropriedade do objeto. Porém, se essa 
pessoa possuía bens no outro bolso, a 
impropriedade do objeto é relativa, por que a 
coisa sobre a qual recairia a conduta criminosa 
existe, mas não foi alcançada. Nesse caso, não 
é crime impossível e sim, hipótese de tentativa. 
A relativa ineficácia do meio ocorre quando o 
meio empregado naquele caso concreto não 
conseguiu consumar o crime, mas poderia ter 
consumado. É o caso de o agente ter 
ministrado veneno na vítima, contudo a dose 
não foi a suficiente para matá-la, nesse caso, 
não há crime impossível e sim, tentativa. 
SÚMULA 145 DO STF: FLAGRANTE 
PREPARADO – ocorre quando o policial 
provoca o agente para que este pratique o 
crime para poder prendê-lo, o STF entende 
esse crime seria impossível, por que nesse 
caso, há uma absoluta ineficácia do meio. 
“NÃO HÁ CRIME, QUANDO A 
PREPARAÇÃO DO FLAGRANTE 
PELA POLÍCIA TORNA IMPOSSÍVEL 
A SUA CONSUMAÇÃO”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Fim do inter criminis!!! 
 
HIPÓSTESES DE EXCLUDENTES DE 
ILICITUDE 
O Código Penal, no seu art. 23, previu 04 
hipóteses de excludentes de ilicitude, quais 
sejam: 
1. Estado de necessidade 
2. Legítima defesa 
3. Estrito cumprimento de um dever legal 
4. Exercício regular de direito 
 
O Consentimento do ofendido é considerado 
uma causa supralegal, já que o Código Penal 
não fez menção a tal instituto. 
As excludentes de ilicitude são também 
chamadas de JUSTIFICANTES ou CAUSAS 
DE JUSTIFICAÇÃO. 
 
1) DO ESTADO DE NECESSIDADE (art. 24) 
Há duas teorias que versam acerca do estado 
de necessidade: 
a) Teoria unitária (adotada pelo Código Penal) 
b) Teoria diferenciadora 
(adotada pelo Código Penal Militar) 
 
a) TEORIA UNITÁRIA: Para esta, toda 
hipótese de estado de necessidade é 
justificante, ou seja, é uma excludente de 
ilicitude. 
 
b) TEORIA DIFERENCIADORA: Esta 
diferencia o estado de necessidade entre 
justificantes e exculpante, ou seja, ela pode 
excluir a ilicitude ou a culpabilidade. 
 
 
O art. 24 define o estado de necessidade 
dizendo que, “em estado de necessidade está 
quem atua, para salvar de perigo atual, que 
não provocou por sua vontade e nem podia de 
outro modo evitar, direito próprio ou alheio cujo 
sacrifício, naquelas circunstâncias, não era 
razoável exigir-se.” 
1. Salvar de perigo atual: Uma das 
grandes diferenças entre o estado de 
necessidade e a legítima defesa é que, na 
primeira, a intenção do agente é salvar de 
PERIGO. Na legítima defesa o agente quer 
repelir uma agressão. Agressão é um ato de 
violência humana, ao passo que perigo, não se 
relaciona à uma conduta humana. 
 
Na situação de perigo, portanto, não há um ato 
de violência humana, poderá ser ato produzido 
por um animal, por um evento da natureza ou, 
até mesmo, uma conduta humana que, 
indiretamente, possa vir a afetar a esfera de 
direitos de outrem, mas não há uma agressão 
direta, um ato de violência humana dirigida 
diretamente contra alguém. 
Assim, se um cão raivoso avança sobre uma 
pessoa e esta mata o animal, ela comete um 
fato típico (maus tratos aos animais constitui 
uma infração penal, de acordo com a lei de 
crimes ambientais), mas recairá na excludente 
de ilicitude “estado de necessidade”. 
Diferentemente, se uma pessoa vier para 
agredir outra e esta ultima a repele, será o 
caso de legítima defesa. 
Importante destacar também, que o perigo 
deverá ser ATUAL (cuidado na hora da prova, 
por que, na legitima defesa o Código fala em 
“agressão atual ou iminente”). 
2. Que não provocou por sua vontade: 
nesse trecho, leia-se: perigo que não provocou 
dolosamente! Então, se, por exemplo, no caso 
dos náufragos, o agente provocou o naufrágio 
da embarcação e, depois, matou outrem para 
salvar-se, não incorrerá em estado de 
 
 
 
 
 
 
 
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necessidade por que, em que pese o perigo ser 
atual, foi produzido dolosamente pelo agente. 
 
Contudo, se o perigo foi provocado 
culposamente, poderá caber o estado de 
necessidade. 
 
3. Nem podia de outro modo evitar: Ou 
seja, o agente não tinha alternativa para salvar-
se. Se havia alternativa, ou seja, em havendo 
outro meio de se evitar o resultado, não há de 
se falar em estado de necessidade. 
 
Assim, se, por exemplo, um cão raivoso 
avança sobre uma pessoa que está dentro do 
carro com a porta aberta, basta apenas fechar 
a porta, ou seja, há uma alternativa para 
salvar-se, portanto, se, nessa hipótese, o 
agente matar o animal, não incorrerá em 
estado de necessidade. 
 
4. Direito próprio ou alheio: Caberá 
estado de necessidade de terceiro. Por 
exemplo, o agente dispara tiros sobre o cão 
raivosoque avança sobre outra pessoa. 
 
5. Cujo sacrifício, naquelas 
circunstâncias, não se poderia exigir. 
 
No estado de necessidade, basicamente, a 
pessoa sacrifica algum bem jurídico para 
salvaguardar outro. Um exemplo clássico 
ocorre quando, em um naufrágio de navio, e 
tendo apenas uma tábua para salvar-se, uma 
pessoa mata a outra. 
Importante destacar que, para que haja 
exclusão da ilicitude o bem jurídico sacrificado 
deverá ser de igual ou menor importância se 
comparado ao bem que se deseja salvar. 
 
Assim, não há estado de necessidade quando 
o bem jurídico sacrificado é mais importante do 
que o salvaguardado. Por exemplo, é possível 
haver o sacrifício de uma vida para salvar 
outra, ou de um patrimônio para salvar a vida. 
Contudo, não é possível o sacrifício de uma 
vida para se salvar um patrimônio, neste ultimo 
caso, não haverá excludente de ilicitude 
amparada no estado de necessidade, mas 
poderá haver uma hipótese de diminuição de 
pena. 
O § 1º do art. 24 estabelece que “aquele que 
tem o dever legal de enfrentar o perigo não 
pode invocar o estado de necessidade”. 
 
2) DA LEGITIMA DEFESA 
Está em legítima defesa quem repele agressão 
injusta, atual ou iminente, a direito próprio ou 
alheio, utilizando-se, moderadamente dos meio 
necessários. 
1. Repele agressão injusta: Agressão, 
como já vimos, é um ato de violência humana. 
Ela deverá ser injusta, assim entendida como 
aquela agressão que não possui um 
fundamento idôneo para legitimá-la. A legítima 
defesa, por exemplo, é uma agressão justa, por 
que há um fundamento jurídico idôneo que a 
legitima. E é por esse motivo que não cabe, em 
regra, a legítima defesa da legítima defesa, 
salvo se houver excesso por parte daquele que 
está repelindo a agressão. 
 
Importante destacar que, conforme vimos, não 
é cabível a “legítima defesa real da legítima 
defesa real”. Contudo, é perfeitamente cabível 
a “legítima defesa real da legítima defesa 
putativa”. Putare é imaginar, logo, legítima 
defesa putativa significa legítima defesa 
imaginária. 
Ocorre a legítima defesa putativa naquela 
hipótese em que o sujeito imagina estar em 
legítima defesa quando, na verdade, não há 
agressão. Cite-se, como exemplo, uma pessoa 
 
 
 
 
 
 
 
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que dispara tiros em outra achando que esta 
possuía uma arma em mãos, mas na verdade, 
a vítima não havia sacado uma arma e sim, 
sua carteira. Neste caso, a legítima defesa é 
putativa e a vítima poderá repeli-la já que, para 
ela, há uma agressão injusta. Esse seria um 
caso de legítima defesa real de uma legítima 
defesa putativa. 
Não devemos confundir o direito de repelir uma 
agressão injusta com o direito de revidar, de 
revanche. O direito que existe é o de apenas 
se defender. Se a vítima repele a agressão e 
continua a reagir, será hipótese de excesso, 
não havendo mais de se falar em legítima 
defesa, vez que o excesso é punível no Direito 
Penal. Esse excesso, por sua vez, poderá ser: 
a) Doloso ou culposo 
 
b) Extensivo ou intensivo: o excesso 
extensivo é aquele em que a reação de 
estende, se protrai. Por exemplo, se um 
agressor tentar bater na vítima e esta, a fim de 
repelir a agressão, revida e continua a 
agressão quando não há mais necessidade. 
Excesso intensivo é uma reação que não se 
estende, ela é imediata, contudo, é muito mais 
gravosa do que o necessário para repelir a 
agressão. Ocorre, por exemplo, quando uma 
pessoa franzina agride um campeão de vale-
tudo e este, podendo repelir a agressão 
tranquilamente, se excede e dispara tiros 
contra o agressor. 
 
2. Agressão atual ou 
iminente: Não existe legítima defesa de 
agressão pretérita. Do mesmo modo, não 
existe legítima defesa de agressão futura, salvo 
o futuro iminente. Iminente é o futuro imediato, 
que está prestes a ocorrer. Na agressão 
iminente a pessoa não tem tempo de recorrer 
ao Estado. 
 
 
 
Ocorre agressão futura, por exemplo, quando 
um sujeito liga para a casa do outro o 
ameaçando de morte. Essa ameaça não dá o 
direito de a pessoa matar quem a ameaçou 
alegando legítima defesa. 
 
3. Direito próprio ou alheio: 
Da mesma forma que existe o estado de 
necessidade próprio ou de terceiro, também 
existe a legítima defesa própria ou de terceiro. 
 
4. Moderação e necessidade: 
Significa o emprego dos meio que estão à 
disposição da vítima da agressão e que sejam 
suficientes para fazer cessar a agressão. 
Moderação significa “a exata medida do 
repelir”. Uma reação imoderada é aquela que 
extrapola o que seria suficiente para repelir a 
agressão. No Brasil, era muito comum, por 
exemplo, a “legítima defesa da honra”, em que 
a pessoa matava a outra por motivo de 
adultério. Hoje, tal legítima defesa não se 
aplica no ordenamento jurídico, por que não há 
necessidade e nem moderação. 
 
 
3) ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER 
LEGAL 
Primeiramente, é importante que se diga que o 
Código Penal não definiu o estrito cumprimento 
do dever legal, há apenas menção dessa 
hipótese de exclusão da ilicitude. Dessa forma, 
coube a doutrina definir tal espécie de 
excludente. 
Para o entendimento majoritário, o estrito 
cumprimento do dever legal é uma hipótese de 
exclusão da ilicitude aplicada apenas aos 
funcionários públicos! 
Estrito cumprimento do dever legal é aquele 
dever imposto em lei ou em ato infralegal. 
Portanto, haverá estrito cumprimento do dever 
legal não só para as leis em sentido estrito 
como também, por exemplo, no cumprimento 
 
 
 
 
 
 
 
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de decretos, portarias etc. Logo, o dever legal, 
enquanto excludente de culpabilidade, poderá 
ser interpretado de forma ampla. 
Não devemos confundir: pelo princípio da 
legalidade, a norma penal incriminadora deverá 
ser uma lei em sentido material e formal, ou 
seja, decretos ou portarias, por exemplo, não 
poderão definir uma conduta criminosa e 
cominar a respectiva sanção penal. Ocorre 
que, no estrito cumprimento do dever legal o 
que se objetiva é definir norma NÃO 
INCRIMINADORA, uma norma permissiva, 
nesse caso, a legalidade não precisa ser 
estrita. 
No estrito cumprimento do dever legal (assim 
como em qualquer excludente de ilicitude) o 
excesso será punível! Por exemplo: o policial 
possui o dever legal de prender em flagrante e, 
para isso, ele poderá utilizar-se da violência 
NECESSÁRIA para fazer cumprir o seu dever 
legal. Neste caso, portanto, a violência será um 
fato típico, mas não será ilícito, pois incorrerá 
na excludente de ilicitude do “estrito 
cumprimento do dever legal”. Contudo, se esse 
policial vier a se exceder, responderá pelo 
crime. 
Não há de se falar em estrito cumprimento do 
dever legal no caso de troca de tiros entre 
policial e algum criminoso. Nesse caso, haverá 
hipótese de excludente de ilicitude amparada 
na legítima defesa. 
 
4) EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO 
A conduta é típica, mas ao praticá-la, a pessoa 
estará exercendo um direito. Explica-se: por 
que o boxeador não responde por lesão 
corporal? Por que as práticas esportivas 
constituem um exercício regular de direito, 
desde que nos limites das regras do esporte e 
da necessidade. 
O pai que castiga o filho. Ele está no exercício 
regular de direito, desde que amparado nos 
limites da necessidade e da razoabilidade. 
Espancar o filho é excesso, o pai será 
responsabilizado penalmente. 
OFENDÍCULOS: São aqueles instrumentos 
colocadospara a proteção da propriedade. Ex: 
cerca eletrificada. A doutrina majoritária 
entende que a utilização de ofendículos é uma 
hipótese de exercício regular de direito. 
Para que a utilização de ofendículo caracterize 
exercício regular de direito é imprescindível 
que esse proprietário torne esse ofendículo 
VISÍVEL! 
 
5) CONSENTIMENTO DO OFENDIDO – 
CAUSA SUPRA LEGAL DE EXCLUDENTE 
DA ILICITUDE. 
 
REQUISITOS: 
1. Bem jurídico Disponível: Ninguém pode 
consentir a lesão a um bem jurídico 
indisponível. Por exemplo, não é possível que 
haja o consentimento do ofendido ao bem 
jurídico “vida”. Cite-se como exemplo uma 
pessoa que pede para que a matem. Quem 
cometeu o homicídio poderá alegar 
consentimento do ofendido e, assim, excluir a 
sua culpabilidade? Não. Por que a vida é um 
bem jurídico indisponível. Já o patrimônio, por 
exemplo, é um bem jurídico disponível. Logo, 
se uma pessoa autoriza outra a destruir o seu 
carro, não haverá crime de dano, por que 
houve consentimento do ofendido. 
A integridade física, para a doutrina majoritária, 
é um bem jurídico disponível no caso de lesões 
leves. A exemplo do tatuador. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2. Que haja manifestação anterior ou 
concomitante à conduta criminosa: O 
consentimento após a prática do fato não exclui 
a ilicitude. 
3. Capacidade para consentir: A liberdade 
sexual, por exemplo, é um bem disponível. 
Porém, o menor de 14 anos não possui a 
capacidade para dispor de sua liberdade 
sexual. 
Importante destacar que essa capacidade não 
está ligada à capacidade civil. Ela será 
analisada de acordo com o caso concreto. 
4. Legitimidade para consentir: Só haverá 
excludente de ilicitude se o consentimento for 
realizado pelo titular do bem jurídico. Assim, 
por exemplo, só o dono do patrimônio poderá 
consentir que o depredem. 
5. Esse consentimento deverá ser 
manifestado sem vícios, ou seja, sem erro, 
dolo ou coação. 
 
CULPABILIDADE 
Trata-se do terceiro elemento do crime. 
Lembrando que há uma parcela minoritária da 
doutrina que defende que a culpabilidade não é 
elemento do crime, mas apenas mero 
pressuposto para a aplicação da pena. 
A culpabilidade é um juízo de reprovação que 
recai sobre o autor do fato típico e ilícito. Esta 
culpabilidade é constituída por 03 elementos: 
1. Imputabilidade 
2. Exigibilidade de conduta diversa 
3. Potencial consciência da ilicitude 
 
 
 
 
1. DA IMPUTABILIDADE 
 
Imputar é “atribuir algo a alguém”. Imputável é 
aquele a quem eu posso atribuir alguma coisa. 
Como aqui estamos falando em “imputabilidade 
penal”, podemos dizer que imputável é aquele 
a quem podemos atribuir uma responsabilidade 
penal. 
Hipóteses de exclusão da imputabilidade (ou 
seja, hipóteses em que não é possível se 
atribuir uma responsabilidade penal ao 
indivíduo): 
a) Menoridade 
b) Doença mental 
c) Embriaguez completa e fortuita. 
 
 
a) Menoridade: 
 
Menor de 18 anos é inimputável, ainda que ele 
tenha sido emancipado civilmente. Isso quer 
dizer que o critério para a aferição da 
imputabilidade, de acordo com a idade, é 
puramente biológico, também chamado de 
cronológico ou etário. 
Em alguns países o critério para se definir a 
idade é biopsíquico, em que há o limite etário, 
contudo, há a possibilidade de se fazer exames 
psicológicos no indivíduo para saber se ele 
possui imputabilidade psíquica, hipótese em 
que caberia a imputabilidade do menor. No 
Brasil isso não ocorre, o critério é puramente 
etário, não psicológico. 
Logo, quando o sujeito é menor de 18 anos a 
lei presume que ele não possui aptidão 
psíquica. Trata-se de uma presunção absoluta 
(já que beneficia o réu), não admitindo, 
portanto, prova em sentido contrário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Importante destacar que o critério etário da 
imputabilidade está previsto no Código Penal e 
na Constituição Federal, no art. 228. Assim, 
perceba que um projeto de lei não pode reduzir 
a maior idade penal. Para a doutrina majoritária 
uma emenda constitucional poderia prever tal 
redução. De acordo com essa corrente, a 
diminuição etária da imputabilidade não é 
inconstitucional por que ela não estaria 
abolindo um direito, mas apenas reduzindo-o. 
Como a menoridade é uma hipótese de 
exclusão da imputabilidade, podemos afirmar 
que menor não comete crime e sim, ato 
infracional equiparado a crime. Por que o 
menor não pratica crime? Porque ele pratica 
fato típico, ilícito, mas não possui culpabilidade 
já que, por ser menor, não é imputável e, 
imputabilidade, como vimos, é um dos 03 
elementos que integram a culpabilidade. 
Com base no mesmo raciocínio, não se aplica 
pena ao menor e sim, medida educativa. 
 
b) Doença Mental (art. 26) 
 
O critério para aferir a inimputabilidade por 
doença mental é diferente do critério etário. 
Isso por que, o critério para aferir a menoridade 
é puramente biológico (também chamado de 
etário ou cronológico), já para a aferição de 
doença mental, o critério é biopsíquico 
Inimputável é aquele que, por doença mental, 
ou desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado (critério biológico ou etiológico) não 
era, ao tempo da ação ou omissão, capaz de 
entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar-se de acordo com esse 
entendimento (critério psíquico). 
Perceba que no caso da doença mental o 
critério não é puramente biológico, ele é 
biopsíquico. 
Não há como se dizer, a priori, qual a doença 
mental que vai ensejar a inimputabilidade. Para 
saber se o sujeito é inimputável, ou não, 
devemos analisar o caso concreto. 
Perceba que a doença mental, por si só, não é 
o suficiente para se afirmar que a pessoa é 
inimputável ou não. É necessário, então, que 
haja a doença mental (critério biológico) e, em 
razão dela, tal pessoa não possa entender o 
caráter ilícito do fato ou determinar-se de 
acordo com esse entendimento (critério 
psíquico). Por isso é fundamental que se faça 
uma perícia no caso concreto. 
Obs.: o semi-imputável (também chamado, 
doutrinariamente, de fronteiriço) é aquele que, 
por perturbação mental (perceba que o Código 
não fala em doença mental), ou 
desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado, não era, ao tempo da ação ou 
omissão, INTEIRAMENTE capaz de entender o 
caráter ilícito do fato ou determinar-se de 
acordo com esse entendimento. Portanto, o 
semi-imputável tem parcial capacidade de 
entendimento! 
O inimputável não é condenado, já que não 
comete crime. Aplica-se, a ele, a medida de 
segurança! 
A sentença que reconhece a inimputabilidade 
por doença mental é absolutória. O juiz 
reconhece a inimputabilidade por doença 
mental, absolvendo o indivíduo e aplicando a 
medida de segurança. Trata-se da chamada 
SENTENÇA ABSOLUTÓRIA IMPRÓPRIA. 
A semi-imputabilidade, por sua vez, é uma 
causa de diminuição de pena. O juiz reconhece 
a semi-imputabilidade, condena o indivíduo 
(logo, nesse caso, a sentença será 
condenatória) e aplica uma pena, diminuindo-a. 
Contudo, o Código nos diz que o juiz poderá 
converter essa pena em medida de segurança 
se entender que essa conversão é mais 
 
 
 
 
 
 
 
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conveniente para o tratamento do semi-
imputável. 
Antes da reforma de 1984 vigoravao sistema 
do duplo binário. Era um sistema que permitia 
aplicar, ao semi-imputável, a pena cumulada 
com a medida de segurança. Nosso sistema 
atual deixou de ser duplo binário e passou a 
ser o VICARIANTE. 
Pelo sistema Vicariante aplica-se, ao semi-
imputável, a pena OU a medida de segurança! 
Não é possível que haja a cumulação. 
 
MEDIDA DE SEGURANÇA 
No Brasil, só se aplica a medida de segurança 
nos casos de inimputabilidade por doença 
mental. 
O fundamento da medida de segurança é a 
periculosidade do inimputável. O Estado não 
impõe a medida de segurança por reprovação 
(se não há culpabilidade, não há de se falar em 
“reprovabilidade”), e sim, por inaptidão mental 
do indivíduo para o convívio em sociedade. 
 
Existem dois tipos de medidas de segurança: 
 
1. Medida de internação: nesta, o sujeito 
fica internado no HCT (Hospital de Custódia e 
Tratamento Psiquiátrico). Essa internação 
possui um prazo mínimo de 01 a 03 anos. 
Portanto, a sentença fixará o prazo mínimo e, 
passado esse prazo, o sujeito será submetido a 
uma nova perícia, se essa perícia atestar que 
cessou a periculosidade do indivíduo, a medida 
de segurança será extinta. 
 
 
 
Perceba que a medida de segurança não 
possui um prazo máximo. A dúvida é, e se a 
periculosidade do indivíduo não cessar? Em 
que pese a lei não ter previsto o prazo máximo 
para a medida de segurança, o STF entende 
que, quando a Constituição fala que “são 
proibidas as penas de caráter perpétuo” ela 
quis dizer que são proibidas as sanções penais 
de caráter perpétuo, e não apenas as penas 
(interpretação extensiva). E sanção penal é 
gênero, que possuem como espécies, as 
penas e as medidas de segurança. Dessa 
forma, o STF empregou como limite máximo 
para o cumprimento da medida de segurança o 
prazo de 30 anos, por conta de uma aplicação 
analógica do art. 75 do Código Penal que, por 
sua vez, afirma que o limite máximo para o 
cumprimento da pena é de 30 anos. 
 
2. Medida de tratamento ambulatorial: 
nesta, o tratamento psiquiátrico não necessita 
de internação. 
 
d) Inimputabilidade por embriaguez 
completa e fortuita 
 
Primeiramente é importante destacar que 
quando o Código Penal trata da embriaguez, 
ele não se refere apenas à embriaguez 
decorrente do álcool e sim, de qualquer 
substância que afete a capacidade psicomotora 
do indivíduo. 
 
 
Doutrinariamente há 05 (cinco) modalidades de 
embriaguez, quais sejam: 
1) Embriaguez preordenada 
2) Embriaguez voluntária (ou dolosa) 
3) Embriaguez involuntária (ou culposa) 
4) Embriaguez fortuita 
5) Embriaguez patológica 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Ao falar em embriaguez, é imprescindível que 
se mencione a TEORIA DA AÇÃO LIVRE NA 
CAUSA (ou teoria da actio libera in causa): 
quando falamos em culpabilidade, devemos 
analisar se o agente tinha o livre arbítrio (o 
doente mental, por exemplo, não possuía livre 
arbítrio, por isso ele é inimputável), dessa 
forma, o sujeito que está totalmente 
embriagado provavelmente não sabe o que 
está fazendo. 
A grande questão é que, no que tange à 
embriaguez, o livre arbítrio do agente não deve 
ser aferido no momento da prática do fato e 
sim no momento em que ele ingeriu a 
substância. Actio libera in causa significa saber 
se no momento em que o agente ingeriu a 
substância ele era livre, se poderia agir de 
outro modo. 
 
1) Embriaguez preordenada: é aquela em que 
o sujeito quer ingerir a substância, quer se 
embriagar e quer praticar o crime. 
Na embriaguez preordenada a culpabilidade 
não será excluída, por que, conforme dispõe a 
teoria da ação livre na causa, o agente era livre 
para ingerir a substância, ele tinha a 
possibilidade de não ingeri-la, logo, não será 
caso de inimputabilidade penal. 
A embriaguez preordenada além de não excluir 
a culpabilidade, agrava a pena é, pois, causa 
agravante!! 
 
2) Embriaguez voluntária (ou dolosa): é 
aquela em que o sujeito quer ingerir a 
substância, quer se embriagar, mas não quer 
praticar o crime. 
Nesse caso, também de acordo com a teoria 
da ação livre na causa, não haverá a exclusão 
da culpabilidade por que, o ato de ingerir a 
substância e de se embriagar 
(ou seja, a causa que deu ensejo ao crime) foi 
de livre vontade do agente. 
 
3) Embriaguez culposa: O agente quer ingerir 
a substância, mas não quer se embriagar e, 
muito menos, cometer o crime. 
Também não haverá de se falar em exclusão 
da culpabilidade por que a ação do agente 
(ingerir a substância) foi livre. 
 
4) Embriaguez fortuita: É aquela em que o 
sujeito não quer ingerir a substância. É aquela 
hipótese em que alguém coloca drogas na 
substância do agente, ou alguém o obrigou a 
ingerir a substância. 
A embriaguez fortuita vai excluir a culpabilidade 
quando, além de fortuita, ela é completa! 
 
5) Embriaguez patológica: É o vício do álcool 
ou da droga. É considerada uma doença 
mental. 
Portanto, para se averiguar a inimputabilidade 
do indivíduo que possui a embriaguez 
patológica devemos analisar o caso concreto. 
Por que, como vimos, a doença mental só será 
causa de exclusão da culpabilidade quando, 
em razão dela, o sujeito não é capaz de 
entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar-se de acordo com esse 
entendimento. 
Importante destacar que é possível que haja 
exclusão da culpabilidade do embriagado 
patológico ainda que este não esteja sobre o 
efeito da substância, por que se trata de 
hipótese de excludente da imputabilidade em 
razão de doença mental, não em razão da 
embriaguez propriamente dita. Cite-se, como 
exemplo, um dependente químico que esteja 
 
 
 
 
 
 
 
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em estado de abstinência e que, para 
conseguir a substância, agride o pai. 
Encerramos o estudo das excludentes da 
imputabilidade que, como vimos, é um dos 
elementos da culpabilidade. Passaremos agora 
para o segundo elemento da culpabilidade, 
qual seja, a exigibilidade de conduta diversa. 
 
2. DA EXIGIBILIDADE DE CONDUTA 
DIVERSA 
De início, importante que se diga que o Código 
Penal não empregou a expressão “exigibilidade 
de conduta diversa”. Contudo, tal diploma 
trouxe duas hipóteses de inexigibilidade de 
conduta diversa, muito embora também não 
utilize essa expressão. Essas hipóteses estão 
previstas no art. 22. 
Dessa forma, são causas de inexigibilidade de 
conduta diversa: 
a) A coação moral irresistível 
b) Obediência hierárquica. 
 
a) Coação irresistível: Coação é um dos 
vícios da vontade. Coação irresistível ocorre 
quando a vontade não é livre, quando o agente 
está sofrendo algum tipo de ameaça. 
 
 
 
 
O melhor exemplo de coação moral irresistível 
ocorre quando uma quadrilha, com o intuito de 
roubar um banco, seqüestra a família do 
gerente e o ameaça, exigindo que esse gerente 
entregue o dinheiro do banco. Perceba que, 
nesse exemplo, ninguém poderá exigir desse 
agente uma conduta diversa. 
Nesse caso, haverá exclusão da culpabilidade 
da pessoa que foi coagida. 
b) Obediência hierárquica: Nesta hipótese, o 
superior hierárquico profere uma ordem ao seu 
subordinado e esta ordem não é 
manifestadamente ilegal. Obviamente, se a 
ordem é manifestadamente ilegal, responderão 
pelo crime o superior e o subordinado. 
 
Um exemplo de obediência hierárquica é 
quando um policial invade uma residência 
imaginando que háum flagrante. Nesse caso, 
só quem responderá pela infração é o superior 
hierárquico. 
Nossa doutrina admite a existência de causas 
supralegais de inexigibilidade. São hipóteses 
em que, a depender do caso concreto, não se 
poderia exigir do agente outra conduta. 
Por exemplo, um empregador dá uma ordem 
não manifestadamente ilegal a seu empregado. 
Nesse caso, não podemos falar em obediência 
hierárquica por que a relação é de direito 
privado e a obediência hierárquica é um 
vínculo entre funcionários públicos. 
Passaremos agora para o terceiro elemento da 
culpabilidade. Vimos, então, a imputabilidade, a 
exigibilidade de conduta diversa e, agora, 
veremos, a potencial consciência da ilicitude. 
 
 
 
4. POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA 
ILICITUDE 
 
A ausência de potencial consciência da ilicitude 
ocorre quando o agente não tem como 
conhecer a ilicitude da conduta. Ou seja, esse 
agente sabe exatamente o que está fazendo, o 
seu erro não está em uma situação fática e sim 
 
 
 
 
 
 
 
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em uma situação jurídica. Ele acha que a sua 
conduta é lícita. 
A ausência de potencial consciência da ilicitude 
vai dar ensejo ao ERRO DE PROIBIÇÃO 
INEVITÁVEL. 
Erro de proibição é a ausência de potencial 
consciência da ilicitude. Já o erro de proibição 
inevitável é quando o agente não tem 
consciência da ilicitude e não tinha como saber 
que a sua conduta é ilícita. 
Cite-se, como exemplo, o costume indígena de 
matar, logo após o parto, crianças que tenham 
nascido com algum problema físico. Perceba 
que, nesse caso, o índio não integrado em 
sociedade não tem como saber da ilicitude de 
sua conduta. Trata-se do que Zaffaroni chama 
de “erro culturalmente condicionado”. 
Frise-se, mais uma vez, que o erro de proibição 
não repousa sobre a situação fática e sim, 
sobre a situação jurídica. Ou seja, o agente 
sabe o que está fazendo, tem consciência de 
sua conduta, o que ele não sabe (e não 
poderia saber) é que esta conduta é 
considerada ilícita pelo ordenamento jurídico. 
Erro de proibição é diferente de ERRO DE 
TIPO. Este último é um erro sobre a situação 
fática. Ou seja, o agente sabe que determinada 
conduta é criminosa, mas ele não sabe que 
está praticando a conduta. 
 
 
Um exemplo de erro de tipo ocorre quando 
uma pessoa pega o celular de alguém achando 
que está pegando o seu. Nesse caso, o agente 
sabe que furto é um ilícito penal, o que ele não 
sabe é que está cometendo o furto (subtraindo 
para si coisa alheia). Perceba que o erro de 
tipo recai sobre a situação fática, que é 
elementar do crime. 
O erro de proibição inevitável exclui a potencial 
consciência da ilicitude. Já o erro de tipo exclui 
o dolo e permite a condenação pela 
modalidade culposa se houver previsão para 
tanto. Se não houver previsão de modalidade 
culposa, não haverá conduta penalmente 
relevante e o fato será considerado atípico. 
No exemplo narrado acima, não há previsão 
legal de furto na modalidade culposa, logo, o 
fato será considerado atípico. 
Mas, se, por exemplo, um sujeito está em uma 
caçada, avistou um animal em um arbusto, 
dispara tiros e depois descobre que não era um 
animal, mas um ser humano esta será uma 
hipótese de erro de tipo, já que o agente tem 
consciência de que “matar alguém” é uma 
conduta típica, mas não sabe que está 
praticando esta conduta (é um erro sobre a 
situação fática). Nesse caso, como há previsão 
legal de homicídio na modalidade culposa, o 
dolo será excluído e essa pessoa responderá 
por homicídio culposo. 
Essa exclusão do dolo e condenação pela 
modalidade culposa, admitida no erro de tipo, é 
chamada de CULPA IMPRÓPRIA. 
Lembremos que não se admite a tentativa na 
sua modalidade culposa, salvo no caso da 
culpa imprópria, que é aquela que deriva do 
erro de tipo. Então, se, no caso narrado acima, 
a pessoa que sofreu os disparos sobreviver, o 
agente responderá por crime culposo (culpa 
imprópria) tentado. 
 
Portanto, a culpa imprópria é a única hipótese 
em que se admite a culpa na modalidade 
tentada!! 
ERRO SOBRE A PESSOA (ou error in 
personae) 
O agente, por engano, pratica o crime sobre 
pessoa diversa da qual ele pretendia. 
 
 
 
 
 
 
 
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Assim, o agente mata B acreditando estar 
matando A. Nesse caso, ele vai responder pela 
morte de A. É um caso de ficção jurídica. Ele 
responde pela morte de uma pessoa que, na 
verdade, está viva. 
Ou seja, no erro sobre a pessoa, o agente 
responde de acordo com o seu dolo, com a sua 
vontade. 
Cite-se, como exemplo, uma mãe que, sob 
influência do estado puerperal, vai ao berçário 
para matar o próprio filho. Ocorre que, ela se 
enganou e matou o filho de outra pessoa. Se 
essa mãe responder pela morte do recém-
nascido, que ela de fato matou, incorrerá em 
homicídio qualificado (pena de 12 a 30 anos). 
Mas, como se trata de hipótese de erro sobre a 
pessoa, ela responderá como se tivesse 
matado o seu filho, ou seja, como se tivesse 
cometido infanticídio, cuja pena é de 02 a 06 
anos. 
O erro sobre a pessoa não beneficia o réu em 
todos os casos. Veja o caso de uma pessoa 
que deseja matar o próprio pai, para ficar com 
a herança, mas se engana e mata o tio. Nesse 
caso ele responde como se tivesse matado o 
próprio pai, incorrendo em homicídio por motivo 
torpe. 
ERRO NA EXECUÇÃO (previsto no art. 73 do 
Código Penal e também chamado de aberratio 
ictos). 
Ocorre quando o agente erra na execução do 
crime. Por exemplo, o agente deseja atirar em 
A, mas erra o tiro e acerta B. 
O erro de execução tem a mesma 
conseqüência do erro sobre a pessoa! Ou seja, 
o agente responde como se tivesse atingido a 
pessoa que realmente queria atingir. Ele 
responde de acordo com a sua intenção. 
Um exemplo muito comum de erro na 
execução ocorre quando um policial, em troca 
de tiros, acaba acertando 
uma pessoa inocente que estava passando na 
rua. Nessa hipótese, haverá erro na execução 
e, em assim sendo, o policial responde como 
se tivesse atirado na pessoa que ele queria 
acertar, no caso, o bandido que também estava 
atirando nele. E, se ele tivesse acertado esse 
bandido, estaria em legítima defesa, excluindo 
assim, a ilicitude do fato. 
 
CONCURSO DE CRIMES 
Concurso de crimes (também chamado de 
concursos delictorum) se diferencia do 
concurso de pessoas (concursos deliquentium) 
por que, no primeiro, a pluralidade é objetiva, 
ou seja, diz respeito a mais de um crime. Já o 
concurso de pessoas diz respeito a mais de um 
criminoso, nesse caso, a pluralidade é 
subjetiva. 
O concurso de crimes pode ser: 
1. Concurso material (ou concurso real) 
= mais de uma ação ou omissão 
1.1. Homogêneo: Crimes iguais. 
Ex.: Dois homicídios 
1.2. Heterogêneo: Crimes 
distintos. Ex. Homicídio e lesão corporal 
 
2. Concurso formal (ou concurso ideal) 
= uma ação ou omissão 
2.1. Homogêneo 
2.2. Heterogêneo 
 
2.3. Próprio: O agente não tinha a intenção de 
praticar mais de um crime 
2.4. Impróprio: O agente tinha a intenção de 
praticar mais de um crime 
 
3. Continuidade delitiva (ou crime 
continuado) 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1. CONCURSO MATERIAL: 
 
Ocorre quando há mais de um crime mediante 
mais de uma ação ou omissão. Ex: estupro 
seguido de