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Prof. Fernando Antunes Soubhia Direito Penal IV – Crimes Contra a Paz Pública Página 1 TÍTULO IX DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA Incitação ao crime Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime: Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa. Apologia de crime ou criminoso Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime: Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa. Quadrilha ou bando Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: Pena - reclusão, de um a três anos. Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado. Incitação ao crime – art. 286 Apologia de crime ou criminoso – art. 287 Quadrilha ou bando – art. 288 Bem Jurídico Paz Pública Paz Pública Paz Pública Sujeito ativo Qualquer pessoa Qualquer pessoa Qualquer pessoa Sujeito passivo Sociedade Sociedade Sociedade Elemento Subjetivo Dolo Dolo Dolo + elemento subjetivo específico Consumação Incitação dirigida a terceiros Apologia dirigida a terceiros “momento associativo” Circunstancias especiais protestos e marchas pela descriminalização estão abrigados pela liberdade de expressão protestos e marchas apologéticos estão abrigados pela liberdade de expressão forma qualificada Quadrilha ou bando Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: Pena - reclusão, de um a três anos. 1) OBJETIVIDADE JURÍDICA Paz Pública e secundariamente os bens jurídicos isoladamente lesados ou colocados em perigo de lesão. Crime de perigo abstrato. De acordo com Jorge de Figueiredo Dias “Trata-se de intervir num estágio prévio, através de uma dispensa antecipada de Prof. Fernando Antunes Soubhia Direito Penal IV – Crimes Contra a Paz Pública Página 2 tutela, quando a segurança e a tranquilidade pública não forem ainda necessariamente perturbadas, mas se criou um especial perigo de perturbação que por si só viola a paz pública” 2) TIPO OBJETIVO associar-se a três ou mais pessoas com a finalidade de praticar crimes. Associação - Reunião em caráter estável, mediante a conjugação de esforços recíprocos. o Caso não seja estável a associação, trata-se de mero concurso de agentes o A estabilidade deve ser duradoura, mas não se exige que seja perpétua STJ: APn 549-SP Pluralidade de pessoas – Crime de concurso necessário de condutas paralelas. Deve haver no mínimo 04 (quatro) pessoas. o Divergência doutrinária relevante quanto ao cômputo dos inimputáveis: Rogério Greco – computam-se os inimputáveis, independentemente de sua idade. Basta que um dos integrantes seja imputável; Guilherme Nucci – computam-se os inimputáveis, desde que tenham capacidade de compreender o caráter ilícito da finalidade da associação. Cezar Roberto Bittencourt – não se computam os inimputáveis, pois a imputabilidade é requisito para a prática de crimes. o Computam-se os integrantes não identificados. Finalidade - A reunião deve ser direcionada à prática de crimes. o Nucci entende que deve ser para a prática de crimes determinados, e não “o singelo agrupamento de pessoas que não tem a menor noção do que irá fazer” o A reunião para prática de crime único não configura quadrilha ou bando. Prof. Fernando Antunes Soubhia Direito Penal IV – Crimes Contra a Paz Pública Página 3 o A reunião para prática de contravenções penais, ilícitos extrapenais ou atos meramente imorais também não configura o crime em comento 3) TIPO SUBJETIVO Dolo. Consciência e vontade de se associar com três ou mais pessoas. Elemento subjetivo específico – finalidade da associação – prática de crimes 4) SUJEITOS: a. Ativo – Qualquer pessoa, lembrando a divergência doutrinária quanto ao cômputo dos inimputáveis. b. Passivo – Sociedade. Trata-se de Crime vago. Secundariamente, será sujeito passivo aquele que teve seu direito lesado. 5) CONSUMAÇÃO o crime se consuma com a convergência das vontades. A partir desse momento será considerado crime permanente. Rogério Sanches subdivide o momento consumativo em relação aos fundadores e os que passam integrar em momento posterior. Os primeiros seriam no momento da convergência das vontades, os restantes, no momento de sua adesão. Atingido o estado de associação, a quadrilha subsiste ainda que nenhum dos crimes planejados venham a ser executados ou tenham sua execução frustrada Os crimes praticados em quadrilha serão punidos de forma autônoma, em concurso material. o O fato de determinada pessoa pertencer à quadrilha ou bando não faz dela colaboradora automática de todos os crimes perpetrados. Deverá ser analisado o caso concreto. Prof. Fernando Antunes Soubhia Direito Penal IV – Crimes Contra a Paz Pública Página 4 Divergência relevante quanto a incidência de causas de aumento de pena relativas à pluralidade de agente: o Guilherme Nucci os bens jurídicos tutelados são diferentes e o momento consumativo também não será o mesmo, de modo que não há bis in idem o Julgado STF Haverá bis in idem. A saída de um dos quadrilheiros, reduzindo o número de integrantes para abaixo do mínimo exigido, faz cessar a permanência, mas não afeta o crime consumado anteriormente. 6) TENTATIVA Impossível. Qualquer ato anterior ao momento de associação será considerado Ato Preparatório, portanto, impunível. 7) FORMA QUALIFICADA – QUADRILHA ARMADA Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado. Divergência doutrinária relevante: conceito de arma o Para Adré Estefam, aplica-se ao parágrafo único tanto no caso de arma própria quanto para arma imprópria o O aumento de pena se justifica apenas diante das armas próprias Divergência doutrinária relevante: quantidade de membros que devem estar armados o Basta que um membro esteja armado (Hungria, Estefan) o Razoabilidade (Fragoso, Junqueira) o A maioria dos membros deve estar armada (Bento de Faria) Divergência doutrinária relevante: concurso entre a forma qualificada e causas de aumento de pena relativas ao uso de arma o Não há bis in idem – Sanches, Nucci, STJ e STF: Prof. Fernando Antunes Soubhia Direito Penal IV – Crimes Contra a Paz Pública Página 5 o Há bis in idem: Gustavo Junqueira (STF, um julgado: HC 61859) 8) PONTOS PARA DEBATE a. Crime Continuado x Quadrilha ou bando O crime continuado é uma ficção jurídica criada em benefício do réu. De acordo com essa ficção, uma pluralidade de crimes é considerada crime único, praticado de forma continuada. Se o 288 exige a prática de crimes, no plural, é possível haver o reconhecimento da continuidade delitiva e a prática do crime de quadrilha ou bando no mesmo contexto fático? b. Concurso de Pessoas x Quadrilha ou bando É possível que terceira pessoa apenas participe da prática de um crime em concurso com uma quadrilha ou bando, sem se associar à esta? c. Crimes de Perigo Abstrato x Princípio da Ofensividade A proteção de bens jurídicos difusos, sem referenciais imediatos ou mediatos em interesses humanos concretos, coaduna-se com um poder punitivo orientado para a defesa da dignidade do ser humano?(Bottini) Jurisprudência; ROUBO. EXTORSÃO. ARMA. BIS IN IDEM. O paciente associou-se a outros três para a prática de crimes patrimoniais. Primeiro, mediante o uso de arma de fogo, eles roubaram um automóvel e os pertences do condutor, além de restringir sua liberdade. Logo após, usando novamente aquele instrumento, constrangeram outra vítima a fornecer senhas de cartões magnéticos e a assinar cheques para que obtivessem vantagem patrimonial indevida. Por isso, foram condenados pela prática de roubo e extorsão circunstanciados e também pela formação de quadrilha armada. O que se alega é a existência de bis in idem na condenação, em razão da punição mais de uma vez pela mesma circunstância, o uso da arma. Nesse contexto, é certo que o reconhecimento do bis in idem deriva da interpretação crítica dos fatos à luz do conceito fundamental de bem jurídico. No caso, quanto à extorsão e ao roubo, em que a incriminação busca tutelar o patrimônio e a liberdade ou integridade física, por mais que o resultado seja o mesmo (subtração de bens), não há falar em bis in idem, porquanto praticados perante vítimas Prof. Fernando Antunes Soubhia Direito Penal IV – Crimes Contra a Paz Pública Página 6 diferentes. O fato de o juízo reconhecer a continuidade delitiva, não implica deixar de reconhecer que ambos os delitos são circunstanciados. Já quanto ao crime de quadrilha, o bem jurídico protegido com a incriminação é a paz pública, a demonstrar, em comparação ao outro grupo de incriminações, que eles são independentes, a ponto de justificar a exasperação em razão do emprego de arma. Precedentes citados: HC 91.129-SP, DJe 4/8/2008; HC 54.773-SP, DJ 7/2/2008; HC 27.142-RS, DJ 28/8/2006, e HC 33.894- RJ, DJ 14/3/2005. HC 73.234-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 18/6/2009. Direito Penal e Processual Penal. Crimes conexos: quadrilha, roubos e falsidade. Falsidade ideologica: tipicidade (Art. 299 do C.Penal). Competência de foro. Prevenção (arts. 78, II, "c" e 83 do C.P.Penal). Cumulação das qualificadoras de roubo, mediante emprego de armas, e de quadrilha armada (artigos 157, par. 2., incisos I e II, e 288, paragrafo único, do C. Penal). 1. Tratando-se de crimes conexos, praticados em sequencia, em comarcas diversas, o foro de qualquer deles e competente para o processo e julgamento, ficando preventa a competência do juiz que praticar o primeiro ato, com ele relacionado, como e o caso do decreto de prisão preventiva. Sobretudo quando um dos delitos e de caráter permanente, como o de quadrilha. 2. Quem faz inserir, em documento público ou particular, declaração falsa ou diversa da que devia estar escrita, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, incide nas penas do art. 299 do C. Penal (falsidade ideologica). Caracteriza-se essa figura penal, se o agente faz inserir em livro de registro de hospedes (de Hotel) endereco falso de sua residência, com o proposito de dificultar os trabalhos de investigação policial sobre outros delitos que planeja praticar e efetivamente pratica. 3. A jurisprudência mais recente do Supremo Tribunal Federal e firme no sentido de que e possivel a cumulação da qualificadora do roubo mediante uso de arma (art. 157, par. 2., inciso I, do C. Penal) com a qualificadora da quadrilha armada, prevista no paragrafo único do art. 288. Precedentes. 4. "H.C." indeferido. (HC 70843, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Primeira Turma, julgado em 03/05/1994)
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