805 pág.

Pré-visualização | Página 15 de 50
θ. Assim como a medida da projec¸a˜o no eixo x (orientada como o eixo x) do arco de comprimento θ e´ o cosseno do aˆngulo θ. θ 1 sen θcos tan θ θ Figura: Definic¸a˜o elementar de seno e cosseno Seno e cosseno naturalmente sa˜o perio´dicos de per´ıodo 2pi, devido a` ambiguidade na medida do aˆngulo. Agora vamos usar a intuic¸a˜o que temos de que, se variamos um pouquinho o arco θ para θ+h, enta˜o as duas projec¸o˜es vertical e horizontal mudam pouco (as projec¸o˜es sa˜o func¸o˜es cont´ınuas). Ou seja, Afirmamos que seno e cosseno sa˜o func¸o˜es cont´ınuas por serem definidas a partir de projec¸o˜es. Lembro que seno retrito a [−pi 2 , pi 2 ] e´ uma func¸a˜o estritamente crescente; sua func¸a˜o inversa chamada de arcoseno (pois diz de que arco o nu´mero dado e´ um seno) tambe´m e´ estritamente crescente. Isso vale em geral: Se uma func¸a˜o y = f(x) e´ estritamente crescente, sua inversa x = f−1(y) tambe´m e´. 2. POLINOˆMIOS, FUNC¸O˜ES RACIONAIS E TRIGONOME´TRICAS 76 De fato, se por absurdo ocorresse que y 1 < y 2 mas f−1(y 1 ) ≥ f−1(y 2 ) enta˜o ter´ıamos x1 = f −1(f(x1)) ≥ f−1(f(x2)) = x2 contradizendo que y = f(x) e´ estrita- mente crescente. Pelo item 5) do Teorema 1.1, a func¸a˜o sin(x) cos(x) e´ cont´ınua nos pontos onde cos(x) 6= 0, ou seja para x 6= pi/2 + k · pi, k ∈ Z. Essa func¸a˜o e´ por definic¸a˜o a func¸a˜o tangente tan(x) := sin(x) cos(x) . Sera´ importante mais adiante, quando falarmos dos coeficientes angulares de retas. A periodicidade do seno do cosseno repercute na func¸a˜o tangente, que e´ perio´dica de per´ıodo pi. Seu domı´nio e´ uma unia˜o de infinitos intervalos de comprimento pi: . . . ∪ (−pi 2 − pi, pi 2 − pi) ∪ (−pi 2 , pi 2 ) ∪ (−pi 2 + pi, pi 2 + pi) ∪ . . . e na˜o e´ dif´ıcil de ver que quando restrita a cada intervalo ela e´ uma func¸a˜o: • i) estritamente crescente e • ii) que fica em mo´dulo ta˜o grande quanto quisermos se nos aproximamos suficentemente dos extremos pois o denominador cos(θ) de sin(θ) cos(θ) se aproxima de zero enquanto o numerador sin(θ) se aproxima de 1 ou de −1. 4 2 0 -2 -4 x 10,50-1-0,5 Figura: Gra´fico feito no computador de y = tan(x) em (−pi 2 + 0.2, pi 2 − 0.2) Nessa Figura, feita numericamente no computador, na˜o pude pedir para o com- putador trabalhar no intervalo (−pi 2 , pi 2 ), pois os valores de tan explodem em mo´dulo. A restric¸a˜o tan : ( −pi 2 , pi 2 )→ R tem uma inversa arctan : R→ (−pi 2 , pi 2 ). Tambe´m e´ uma func¸a˜o estritamente crescente, como ja´ explicamos acima, mas seus valores na˜o sobrepassam em mo´dulo a pi 2 . CAPI´TULO 6. A NOC¸A˜O DE CONTINUIDADE 77 0,5 1 -0,5 0 -1x 420-2-4 Figura: Gra´fico de arctan(x) Podemos expressar o comportamento de arctan(x) usando a notac¸a˜o da Sec¸a˜o 3: • lim x→+∞ arctan(x) = pi 2 para dizer que arctan(x) fica ta˜o pro´ximo quanto quisermos de pi 2 se deixarmos x crescer o suficiente; • lim x→−∞ arctan(x) = −pi 2 para dizer que arctan(x) fica ta˜o pro´ximo quanto quisermos de −pi 2 se deixar- mos x decrescer o suficiente; E podemos introduzir novos s´ımbolos para comparar com o comportamento de tan(x): • lim θ↘−pi 2 tan(θ) = −∞ significa que tan(θ) fica ta˜o negativo quanto quisermos desde que θ > −pi 2 decresc¸a e se aproxime o suficiente de −pi 2 . • lim θ↗pi 2 tan(θ) =∞ significa que tan(θ) fica ta˜o positivo quanto quisermos desde que θ < pi 2 cresc¸a e se aproxime o suficiente de pi 2 . 3. CONTINUIDADE DA FUNC¸A˜O INVERSA 78 3. Continuidade da func¸a˜o inversa E´ poss´ıvel provar (mas a prova e´ um pouco te´cnica demais) que: Afirmac¸a˜o 3.1. Se f : I → R, y = f(x) definida num intervalo I e´ cont´ınua e tem inversa, enta˜o f−1 : f(I) → I tambe´m esta´ definida num intervalo f(I) e f−1 tambe´m e´ cont´ınua. Chamo a atenc¸a˜o que essa Afirmac¸a˜o pode ser falsa se o domı´nio da f na˜o e´ um intervalo2 Para ver um exemplo disso, considere uma f definida numa unia˜o de intervalos: [0, a] ∪ (a+ 1, b], que seja cont´ınua e que tenha inversa. Note que a continuidade em x = a so´ se refere ao comportamento a f em relac¸a˜o a sequeˆncias xn ∈ [0, a] que tendam a x = a. As sequeˆncias xn ∈ (a+ 1, b] do domı´nio da f na˜o tendem ao ponto a, pois distam dele pelo menos 1, enta˜o na˜o interessam na ana´lise da continuidade da f em a. O gra´fico que segue e´ um exemplo de uma tal f : 0 ba+1a y = f(x) Figura: f : [0, a] ∪ (a+ 1, b]→ R cont´ınua, com x = f−1(y) descont´ınua em f(a) Agora Afirmo que a func¸a˜o inversa x = f−1(y) e´ descont´ınua em y = f(a). De fato, se yn < f(a) e´ uma sequeˆncia de pontos da imagem da f que tende a f(a) vemos na Figura que limn→+∞ f−1(yn) = a. Mas se tomamos yn > f(a) uma sequeˆncia de pontos da imagem da f que tende a f(a), vemos que limn→+∞ f−1(yn) = a+ 1. A Figura a seguir ilustra: y = f^{−1} (x) 0 ba+1a y = f(x) Figura: Aqui y = f(x) e y = f−1(x) esta˜o no mesmo sistema cartesiano 2Como esqueceu o Anton, na pag. 156, Teorema 2.6.2, da Oitava Edic¸a˜o do seu livro de Ca´lculo. CAPI´TULO 6. A NOC¸A˜O DE CONTINUIDADE 79 4. Dois teoremas fundamentais sobre func¸o˜es cont´ınuas A demonstrac¸a˜o dos dois Teorema a seguir foge do conteu´do usual do Ca´lculo, e´ visto em disciplinas mais avanc¸adas de Ana´lise Matema´tica. E´ importante que o estudante medite sobre seus enunciados. Teorema 4.1. (Teorema do Valor Intermedia´rio - abrev.: T.V.I.) Seja f : [a, b] → R func¸a˜o cont´ınua com A = f(a) e B = f(b), com A 6= B, por exemplo A < B. Seja C qualquer nu´mero C ∈ (A,B). Enta˜o existe algum x ∈ (a, b) tal que f(x) = C (pode haver mais de um x desse tipo) Teorema 4.2. (Teorema de Bolzano-Weierstrass) Seja f [a, b]→ R cont´ınua, onde [a, b] e´ intervalo fechado e limitado. Enta˜o f tem mı´nimo e ma´ximo globais assumidos em pontos de [a, b] 5. Primeiras aplicac¸o˜es do T.V.I Vamos dar agora algumas aplicac¸o˜es iniciais do T.V.I. Mais tarde ele sera´ impor- tante na prova do Teorema Fundamental do Ca´lculo, na Parte 2 do Curso. Primeiro um t´ıpico teorema bem geral, mas que na˜o diz nada sobre a soluc¸a˜o em cada caso espec´ıfico: Proposic¸a˜o 5.1. Dado qualquer f : [0, 1] → [0, 1] cont´ınua, existe x ∈ [0, 1] tal que f(x) = x. Demonstrac¸a˜o. Observe que geometricamente o que queremos e´ saber se o gra´fico de y = f(x) corta o gra´fico da diagonal y = x. Se f(0) = 0 ou se f(1) = 1 enta˜o corta e acabou, na˜o ha´ nada mais a provar. Portanto vamos supor que f(0) ∈ (0, 1] e que f(1) ∈ [0, 1), para termos algo a provar. E´ razoa´vel olhar a func¸a˜o diferenc¸a entre elas: f(x)−x. Por ser uma diferenc¸a de duas func¸o˜es cont´ınuas, f(x) − x tambe´m e´ func¸a˜o cont´ınua. Ademais, f(0) ∈ (0, 1] e f(1) ∈ [0, 1) dizem que: f(0)− 0 > 0 e f(1)− 1 < 0. Pelo T.V.I. existe algum x ∈ (0, 1) tal que: f(x)− x = 0, como quer´ıamos. � 6. Ra´ızes de polinoˆmios cujo grau e´ ı´mpar A segunda aplicac¸a˜o do T.V.I.: Proposic¸a˜o 6.1. Todo polinoˆmio de coeficientes Reais e de grau ı´mpar tem algum zero Real: f(x) = 0. 6. RAI´ZES DE POLINOˆMIOS CUJO GRAU E´ I´MPAR 80 Observe que ha´ polinoˆmios de grau par sem zeros Reais, como f(x) = x2 + 1. Demonstrac¸a˜o. Seja f o polinoˆmio de grau 2n− 1: f(x) := a2n−1 · x2n−1 + a2n−2 · x2n−2 + . . .+ a1 · x+ a0, ai ∈ R, n ∈ N Caso a2n+1 > 0: Escrevo para x > 0: a2n−1 · x2n−1 + a2n−2 · x2n−2 + . . .+ a1 · x+ a0 = a2n−1x2n−1 · (1 + a2n−2 x + . . . a0 x2n−1 ). Pelo Teorema 3.1 e pelos Exemplos que o seguem, temos que lim x→+∞ ( a2n−2 x + . . . a0 x2n−1 ) = 0. Portanto para x > 0 suficientemente grande temos que 1 + a2n−2 x + . . . a0 x2n−1 > 0. Logo, para x > 0 suficientemente grande, o sinal de a2n−1x2n−1 · (1