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Aula 1 de Literatura Portuguesa

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Aula 1 de Literatura Portuguesa -Formação da Literatura Portuguesa: literatura medieval
A formação da literatura portuguesa dá-se em um contexto específico: O de organização da própria identidade pátria. Para os processos de formação da identidade nacional, um elemento fez-se primordial: a língua. É importante compreender a existência de um elo entre os atos de ser e de sentir-se português e o falar da língua portuguesa.
Pelo menos a partir do século XII, há uma distinção entre a língua falada no território ibérico e a língua da escrita oficial: a latina. Nesse momento, os principais falares são oriundos do mesmo tronco linguístico, o galego. Tanto o galego-português, que viria a originar a língua portuguesa, como o castelhano são desdobramentos dessa língua neolatina.
Segundo António Saraiva, no século XII,  as crônicas eram escritas em latim – embora não mais em sua modalidade clássica. Nesse momento, foi escrita uma crônica sobre a batalha de Uclés, ocorrida em 1108. Em tal crônica, há uma passagem na qual a escrita em latim é interrompida.
A crônica sobre a batalha de Uclés ganha força ao identificar a língua ao sentimento. Essa percepção é importante e estará presente, mais tarde, no imaginário ibérico. Afonso VI veio a ser, justamente, avô do primeiro rei de Portugal: Afonso Henrique, que ainda escreve seu testamento em latim, apesar do predomínio, no período de sua morte, do galego-português em seu reino. Já o neto de Afonso Henrique, Afonso II, optou por escrever o seu testamento em português, no século XIII, legando, assim, um dos primeiros documentos escritos em nossa língua.
Portanto, a língua portuguesa, desde os seus primórdios como língua galego-portuguesa, vem a ser uma instância poderosa de organização identitária. Como expressão de linguagem, a literatura assumiu um papel importante nesse processo organizacional. Podemos considerar a poesia galego- portuguesa como uma dimensão fundamental nas reflexões sobre a identidade portuguesa. Agora, conheceremos algumas de suas expressões.
Durante a Idade Média, o domínio da vida cultural e da educação pertencia ao universo da Igreja Católica. No romance O nome da rosa, de Umberto Eco, esse monopólio cultural da Igreja é figurado artisticamente. A obra narra uma série de assassinatos ocorridos em um mosteiro e que são, pouco a pouco, desvendados. Descobre-se, então, que os monges morriam envenenados por uma tinta com a qual se escreviam cópias de livros proibidos pela Igreja Católica. A trama representa um pouco do universo limitado e opressivo da cultura erudita medieval.
Além do ambiente cultural controlado tão estritamente pela Igreja Católica, havia a cultura popular. Não verdade, não tão além: não podemos considerá-la como uma cultura laica, pois é ligada, ainda, à Igreja, como ocorre com os autos medievais, que representavam histórias bíblicas e a vida de santos, por exemplo. No universo medieval, muitas vezes, o profano emerge como sagrado e vice-versa. Porém, a partir do século XII, surgiu, em Portugal, um novo tipo de expressão artística: os cancioneiros e os jograis de poesia trovadoresca. Esse tipo de poesia transitava tanto entre as feiras medievais como entre as cortes dos palácios e era apresentado sempre acompanhado pela música. Muitos jograis eram verdadeiros espetáculos.
Folha 2 aula 1 de literatura portuguesa
Os primórdios da expressão literária em Portugal
A Idade Média assistiu ao surgimento de uma nova forma poética ligada ao gênero lírico: a cantiga. Denominamos cantiga o poema medieval que une a palavra poética à música. É a cantiga da forma fundamental da poesia trovadoresca e tem sua origem na poesia popular.
O trovadorismo da Provença conquistou território para além do francês e alcançou a Itália e a Península Ibérica. Como elementos de contato entre os portugueses e a poesia provençal francesa, podemos citar:
o refúgio dos hereges de Toulouse na Península Ibérica; as Cruzadas; os casamentos reais entre herdeiros de países diferentes e a educação de reis portugueses, em cortes francesas.
O cruzamento entre o popular e o erudito acabará por impactar os próprios modos de configuração dos poemas trovadorescos, como acontecerá nas cantigas de amor, as quais representarão as relações sociais hierárquicas, através de metáforas amorosas.
Em Portugal, a língua dos jograis provençais gerava dificuldades de compreensão e foi, paulatinamente, sendo substituída pelo galego-português. Com o extraordinário sucesso dos jograis em galego-
português, a literatura portuguesa passou a ser escrita também nesta língua. Ou seja: o galego-português tornou-se uma língua literária. Esse fato abriu espaço para o posterior aparecimento da língua portuguesa como modo de expressão oficial, a partir do final do século XIII (1290).
Primeiras manifestações literárias
Durante muito tempo, considerou-se como o primeiro movimento literário registrado em Portugal a publicação do poema A Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós. Mais tarde, descobriu-se um poema ainda mais antigo: Ora faz host'o senhor de Navarra, de João Soares de Pávia. A ironia na cantiga de Paio Soares já mostra um traço importante da poesia trovadoresca portuguesa, que, influenciada pela provençal, vai além de sua cópia, pois cria elementos específicos, que a diferenciarão, como veremos.
As formas da cantiga medieval: de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer.
As cantigas de amor
Pode ter soado estranho o fato do eu lírico de 
'A Ribeirinha" ter empregado o termo “Senhor” para referir-se à mulher amada. No entanto, na época, a expressão “senhora” inexistia em um universo fortemente patriarcal. A mulher amada era a “senhor”, pois era posta em uma condição superior, como objeto da devoção do eu lírico, que metaforizava, na relação amorosa representada literariamente, aspectos hierárquicos de uma sociedade fortemente hierarquizada e teocêntrica. São justamente os ideais relacionados ao sistema ético cristão - como as noções de honra, de temperança e de fidelidade, que aparecem tanto nas relações entre os nobres como, sob figuração literária, nas poesias trovadorescas, especialmente nas chamadas "cantigas de amor".
Pode-se afirmar que a cantiga de amor representa elementos presentes nas relações de suserania e de vassalagem, entre o senhor feudal e o nobre com quem criava laços de proteção e lealdade. Ela figura  uma história de amor entre o eu-lírico masculino e uma mulher de classe social superior, a "senhor", com quem terá uma relação de "vassalagem amorosa". Podemos perceber esses elementos na tradução da cantiga abaixo, “O que vos nunca cuidei a dizer”, escrita por Dom Diniz, na qual o eu lírico mostra a sua veneração pela sua “senhor”, a ponto de preferir morrer a perdê-la:
Direi com tristeza, o que nunca pensei
que vos diria, minha senhor,
porque vejo que por vós morro.
Porque sabeis que nunca vos falei
de como me matava o vosso amor:
porque sabeis bem que de outra senhor
eu não sentia nem sinto temor.
Tudo isto me fez sentir
o temor que de vós tenho,
e desde que  dei a entender a vós
que por outra morreria, de ela tenho,
sabeis bem, nenhum temor;
e desde hoje, formosa minha senhor,
se me matas, eu o bem o mereço.
E creia que gostarei
de que me mates, pois eu sei com certeza
que no pouco tempo em que hei de viver,
nenhum prazer terei;
e porque estou certo disto,
se me quiseres matar, senhor,
eu aceitarei como  grande misericórdia.
As cantigas de amor referem-se e dirigem-se a um público erudito e palaciano e figuram um ritual de "amor cortês", no qual os valores cristãos aos quais nos referimos, como a honra, a fidelidade e a prudência, estão presentes. No amor cortês, a dama amada, a "senhor", é o bem mais precioso do eu lírico. Ciente disso, ele despreza os bens materiais e aceita  a "coita", isto é, o sofrimento por amor, como aparece na cantiga de Bernal de Bonaval: “Senhor fremosa, tan gram coyta ey / por vós que bom consselho no me sey, / cuydand´em vós, ma senhor mui fremosa” (Senhor formosa, tão grandecoita tenho / por vós que não conheço bom conselho/ pensando em vós / minha senhor muito formosa).
DO PONTO DE VISTA FORMAL
Do ponto de vista formal, as cantigas de amor portuguesas partilhavam com as cantigas de amigo o uso de paralelismos, refrões e repetições. O trovador poderia mostrar a sua mestria – o seu domínio dos códigos poéticos - como faz Dom Diniz na cantiga citada, considerada como de mestria. Alguns desses códigos diziam respeito ao emprego de versos pares, de modo predominante na cantiga; ao uso da redondilha maior e do verso sem rima, chamado de palavra perdida. Em Portugal, as cantigas trovadorescas desenvolveram características peculiares e apresentaram elementos inovadores.
NO CASO DAS CANTIGAS DE AMOR
No caso das cantigas de amor, a percepção sobre o amor cortês apresentará diferenças na literatura lusa. Na poesia provençal, a relação amorosa é figurada de modo idealizado e espiritual. Crê-se na mesura, isto é, na superioridade do amor físico sobre o amor espiritual. E embora a mesura seja um conceito também aceito na poesia portuguesa, nesta, o jogo amoroso pode escapar dos limites do ideal e abrir-se para a possibilidade de realização, dada a presença da correspondência amorosa entre o eu lírico e a "senhor", o que não ocorria na lírica trovadoresca provençal. Outro ponto específico das cantigas de amor portuguesas é a presença de certa ironia e humor, relacionadas aos lamentos pela relação amorosa e ao arrependimento por amar em vão, em contraposição ao tom sério das cantigas de amor provençais.
As cantigas de amigo têm como traço característico o fato de serem escritas por homens, porém, enunciadas por um eu lírico feminino. São voltadas para o espaço doméstico ou a vida no campo e representam o lamento da mulher abandonada por seu parceiro, por este ter ido à guerra ou ter partido em companhia do rei. O autor imagina como seria o sentimento da mulher e escreve, a partir disso, o poema.
As cantigas de amigo
Cantigas de amigo de Martin Códax
Referem-se a um contexto histórico no qual o espaço do lar passou a ser governado pela figura feminina, por conta da ausência dos homens, que partiam para as Cruzadas e/ou a serviço do monarca. São cantigas de cunho popular, com traços arcaicos e, geralmente, representam diálogos entre o eu lírico feminino, suas amigas, sua mãe. Há, ainda, diálogos entre o eu lírico e elementos naturais, como as ondas do mar e as árvores. A tais diálogos chamamos de “tenções”.
FOLHA 03 AULA 1 DE LITERATURA PORTUGUESA
Veja abaixo os tipos de cantigas de amigo:
arcarola – refere-se ao mar e à saudade pela ausência do amado; 
Baila – fala sobre dança e conquista; 
Alba - refere-se ao momento em que os amantes se despedem, ao amanhecer; 
Pastorelas - sobre a vida no campo; 
Fonte - sobre o encontro amoroso em rios e fontes; 
Romaria – apelo aos santos, pela vida amorosa; 
Tecedeira –fala sobre a vida doméstica.
As cantigas de amigo usam alguns conceitos presentes nas cantigas de amor como a coita e a mesura. Todavia, se contrapõem às convenções presentes nas cantigas de amor, pois o amor, nas cantigas de amigo, é muito mais erotizado e possível. Nesse sentido, há a presença de metáforas referentes aos encontros de amor físico, como "lavar as tranças“,“ir à fonte”, “encontrar o cervo” e "banhar-se no mar", como aparece na cantiga de Martim Códax:
Quantas sabedes amar amigo 
treydes comig' a lo mar de Vigo: 
E banhar-nos-emos nas ondas!
Quantas sabedes amar amado treydes comig' a lo mar levado: 
E banhar-nos-emos nas ondas! 
reydes comig' a lo mar levado e veeremo' lo meu amado: 
E banhar-nos-emos nas ondas!
As cantigas de escárnio e de maldizer
São cantigas satíricas, que apontam maus costumes e posturas. Cabe lembrar a sua adequação ao princípio presente na poética clássica da sátira como modo de educação, pois, através do riso, buscava-se castigar aqueles que ousavam desobedecer aos códigos de conduta social. 
A principal diferença entre as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer é o tom mais leve da primeira, que satiriza de modo indireto: não é revelada, claramente, a identidade da pessoa ridicularizada. O uso da ambiguidade e da ironia permitem esse afastamento, como podemos perceber na cantiga a seguir, escrita por Anrique de Almeida Passos e compilada no Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende:
A narrativa medieval
A narrativa medieval divide-se em novelas de cavalaria, prosa doutrinária (cujo objetivo era formar e orientar moralmente) e relatos históricos - gênero do qual faziam parte os cronicões (livros de crônicas), os livros de linhagem e as hagiografias (relatos da vida de santos). É importante ressaltar que a noção de histórico, na Idade Média, é muito diversa do sentido atual; àquela época, um simples depoimento poderia ser considerado fato histórico. Você conhecerá mais sobre as novelas de cavalaria agora.
Novelas de cavalaria
as novelas de cavalaria também são conhecidas como romances de cavalaria. Surgem na Idade Média - a documentação mais remota data do século XIII - mas alcançam o século XVI e sobrevivem, sobretudo, pela tradição oral, alcançando tanto a população letrada como a popular, via transmissão oral. Seu auge ocorre nos séculos XIV e XV.
Há um processo de passagem da escrita na forma de versos para a prosa, durante a Idade Média. Frente à emergência das novelas de cavalaria escritas em prosa, assiste-se ao declínio da poesia oral, embora algumas novelas tenham surgido de jograis, como Mio Cid, por exemplo.
FOLHA 6 AULA 1 DE LITERATURA PORTUGUESA
O rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda, em livro medieval.
Inicialmente, as narrativas cavalheirescas chegadas em Portugal eram traduções das canções de gesta francesas e inglesas, chamadas de matéria da França e da Bretanha, respectivamente.
O processo de tradução e a difusão das ditas narrativas em Portugal criaram versões específicas, através dos desvios de tradução, do corte, da mudança e da inserção de elementos nas narrativas originais, o que gerou, muitas vezes, ciclos de novelas paralelas ou derivadas.
As novelas de cavalaria tiveram grande sucesso e aceitação em Portugal, especialmente as do ciclo de lendas sobre o Rei Artur.
A primeira novela de cavalaria considerada como verdadeiramente ibérica (há controvérsias sobre sua origem espanhola ou portuguesa) foi Amadis de Gaula, escrito, provavelmente, em 1508. Não há consenso sobre a sua autoria, mas boa parte da crítica literária a atribui a Montalvo ou a Vasco de Lobeira.
Jovem cavaleiro de ascendência nobre, Amadis, porém, é bastardo, pois é fruto de uma relação proibida. Amadis é criado como alguém sem posição e torna-se pajem da princesa Oriana, por quem se apaixona e arrisca a vida, em aventuras e lutas. Sua recompensa é o amor da moça, que deixa de ser donzela para ser “feita dona”, antes mesmo do casamento.
Embora influenciada por temas do ciclo arturiano, Amadis de Gaula criou um universo narrativo diferente, pois era um exercício criativo independente, sem recontar os mitos e lendas vindos da tradição oral. Além disso, o livro estabeleceu um novo conceito de cavalaria, no qual o conflito entre o subjetivo e o coletivo e o fortalecimento do poder do rei já anunciavam as sementes do que afloraria, tempos depois, como uma sensibilidade humanista.

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