Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Autor: André Brugni de Aguiar Despesa Pública Na definição de Aliomar Baleeiro, despesa pública é o conjunto de desembolsos de dinheiro efetuados pelo Estado, ou cada um desses desembolsos, tomado em particular. Esse é o sentido adotado pela legislação brasileira. Note que, nesse sentido, despesa pública não corresponde ao conceito contábil de despesa, mas sim ao de gasto. O volume de despesas deve ser estimado anualmente pelo Estado através da Lei Orçamentária, e depende, em maior ou menor grau, do programa de governo a ser implementado. O programa pode até mesmo incluir, como projeto autônomo, a limitação ou redução do volume de despesas em relação a anos anteriores. Alguns doutrinadores classificam as despesas públicas em ordinárias e extraordinárias, conforme sejam esperadas periodicamente ou não. Mais importante é a classificação dada pela Lei 4.320/64, que as subdivide, basicamente, em Despesas Correntes e Despesas de Capital: “Art. 12. A despesa será classificada nas seguintes categorias econômicas:(Vide Decreto- lei nº 1.805, de 1980) DESPESAS CORRENTES Despesas de Custeio Transferências Correntes DESPESAS DE CAPITAL Investimentos Inversões Financeiras Transferências de Capital § 1º Classificam-se como Despesas de Custeio as dotações para manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas a atender a obras de conservação e adaptação de bens imóveis. § 2º Classificam-se como Transferências Correntes as dotações para despesas as quais não corresponda contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive para contribuições e subvenções destinadas a atender à manifestação de outras entidades de direito público ou privado. § 3º Consideram-se subvenções, para os efeitos desta lei, as transferências destinadas a cobrir despesas de custeio das entidades beneficiadas, distinguindo-se como: I - subvenções sociais, as que se destinem a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial ou cultural, sem finalidade lucrativa; II - subvenções econômicas, as que se destinem a emprêsas públicas ou privadas de caráter industrial, comercial, agrícola ou pastoril. § 4º Classificam-se como investimentos as dotações para o planejamento e a execução de obras, inclusive as destinadas à aquisição de imóveis considerados necessários à realização destas últimas, bem como para os programas especiais de trabalho, aquisição de instalações, equipamentos e material permanente e constituição ou aumento do capital de emprêsas que não sejam de caráter comercial ou financeiro. § 5º Classificam-se como Inversões Financeiras as dotações destinadas a: I - aquisição de imóveis, ou de bens de capital já em utilização; II - aquisição de títulos representativos do capital de emprêsas ou entidades de qualquer espécie, já constituídas, quando a operação não importe aumento do capital; III - constituição ou aumento do capital de entidades ou emprêsas que visem a objetivos comerciais ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de seguros. § 6º São Transferências de Capital as dotações para investimentos ou inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou privado devam realizar, independentemente de contraprestação direta em bens ou serviços, constituindo essas transferências auxílios ou contribuições, segundo derivem diretamente da Lei de Orçamento ou de lei especialmente anterior, bem como as dotações para amortização da dívida pública. Art. 13. Observadas as categorias econômicas do art. 12, a discriminação ou especificação da despesa por elementos, em cada unidade administrativa ou órgão de govêrno, obedecerá ao seguinte esquema: DESPESAS CORRENTES Despesas de Custeio Pessoa Civil Pessoal Militar Material de Consumo Serviços de Terceiros Encargos Diversos Transferências Correntes Subvenções Sociais Subvenções Econômicas Inativos Pensionistas Salário Família e Abono Familiar Juros da Dívida Pública Contribuições de Previdência Social Diversas Transferências Correntes. DESPESAS DE CAPITAL Investimentos Obras Públicas Serviços em Regime de Programação Especial Equipamentos e Instalações Material Permanente Participação em Constituição ou Aumento de Capital de Emprêsas ou Entidades Industriais ou Agrícolas Inversões Financeiras Aquisição de Imóveis Participação em Constituição ou Aumento de Capital de Emprêsas ou Entidades Comerciais ou Financeiras Aquisição de Títulos Representativos de Capital de Emprêsa em Funcionamento Constituição de Fundos Rotativos Concessão de Empréstimos Diversas Inversões Financeiras Transferências de Capital Amortização da Dívida Pública Auxílios para Obras Públicas Auxílios para Equipamentos e Instalações Auxílios para Inversões Financeiras Outras Contribuições. Art. 14. Constitui unidade orçamentária o agrupamento de serviços subordinados ao mesmo órgão ou repartição a que serão consignadas dotações próprias. (Veto rejeitado no D.O. 05/05/1964) Parágrafo único. Em casos excepcionais, serão consignadas dotações a unidades administrativas subordinadas ao mesmo órgão. Art. 15. Na Lei de Orçamento a discriminação da despesa far-se-á no mínimo por elementos. (Veto rejeitado no D.O. 05/05/1964) § 1º Entende-se por elementos o desdobramento da despesa com pessoal, material, serviços, obras e outros meios de que se serve a administração publica para consecução dos seus fins. (Veto rejeitado no D.O. 05/05/1964) § 2º Para efeito de classificação da despesa, considera-se material permanente o de duração superior a dois anos. SEÇÃO I Das Despesas Correntes SUBSEÇÃO ÚNICA Das Transferências Correntes I) Das Subvenções Sociais Art. 16. Fundamentalmente e nos limites das possibilidades financeiras a concessão de subvenções sociais visará a prestação de serviços essenciais de assistência social, médica e educacional, sempre que a suplementação de recursos de origem privada aplicados a êsses objetivos, revelar-se mais econômica. Parágrafo único. O valor das subvenções, sempre que possível, será calculado com base em unidades de serviços efetivamente prestados ou postos à disposição dos interessados obedecidos os padrões mínimos de eficiência prèviamente fixados. Art. 17. Somente à instituição cujas condições de funcionamento forem julgadas satisfatórias pelos órgãos oficiais de fiscalização serão concedidas subvenções. II) Das Subvenções Econômicas Art. 18. A cobertura dos déficits de manutenção das emprêsas públicas, de natureza autárquica ou não, far-se-á mediante subvenções econômicas expressamente incluídas nas despesas correntes do orçamento da União, do Estado, do Município ou do Distrito Federal. Parágrafo único. Consideram-se, igualmente, como subvenções econômicas: a) as dotações destinadas a cobrir a diferença entre os preços de mercado e os preços de revenda, pelo Govêrno, de gêneros alimentícios ou outros materiais; b) as dotações destinadas ao pagamento de bonificações a produtores de determinados gêneros ou materiais. Art. 19. A Lei de Orçamento não consignará ajuda financeira, a qualquer título, a emprêsa de fins lucrativos, salvo quando se tratar de subvenções cuja concessão tenha sido expressamente autorizada em lei especial. SEÇÃO II Das Despesas de Capital SUBSEÇÃO PRIMEIRA Dos Investimentos Art. 20. Os investimentos serão discriminados na Lei de Orçamento segundo os projetos de obrase de outras aplicações. Parágrafo único. Os programas especiais de trabalho que, por sua natureza, não possam cumprir-se subordinadamente às normas gerais de execução da despesa poderão ser custeadas por dotações globais, classificadas entre as Despesas de Capital. SUBSEÇÃO SEGUNDA Das Transferências de Capital Art. 21. A Lei de Orçamento não consignará auxílio para investimentos que se devam incorporar ao patrimônio das emprêsas privadas de fins lucrativos. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se às transferências de capital à conta de fundos especiais ou dotações sob regime excepcional de aplicação. As fases de realização da despesa pública são empenho (em que o ordenador da despesa reserva parte da dotação, impedindo que ela se perca ou seja consumida e criando a obrigação relativa condicional de pagar certo credor por certo objeto), liquidação (verificação do direito do credor, isto é, da liquidez e certeza da dívida, mediante exame do empenho, contrato, comprovantes de entrega, etc., cuja parte final em geral está a cargo do “piloto do contrato”) e ordem de pagamento(a cargo da tesouraria, por vezes ocorrendo sob regime de adiantamento, como no caso dos salários, diárias, etc.). É importante ter em mente que o processo de realização da despesa só pode ter início se já foi realizada licitação, ou se esta é inexigível ou dispensada. Controverte-se em doutrina sobre a crescente judicialização do processo de realização de despesas. A Administração, não raro, sustenta a separação de poderes, o caráter programático de certas normas constitucionais (o que é desafiado pelo neoconstitucionalismo) e o princípio da reserva do possível, mas a jurisprudência do STJ e do STF não têm permitido que tal princípio prevaleça sobre o da dignidade da pessoa humana. Chamam-se de créditos orçamentários as dotações existentes no orçamento. São proibidos os créditos de valor ilimitado (art. 167, VII). Assim, por vezes, ocorrem certas necessidades de despesas não previstas no orçamento. Em tais casos, será necessário (mas não obrigatório) ao Legislativo abrir créditos adicionais. Não é permitida a realização de qualquer despesa sem haver crédito orçamentário ou adicional, conforme art. 167, II (controvérsia sobre o art. 17 da LRF). Os créditos adicionais podem ser de três tipos. O primeiro são os créditos suplementares, destinados a complementar uma dotação que se revelou insuficiente (alteração quantitativa, limitada ao próprio exercício). O segundo são os créditos especiais, destinados a despesas para as quais não havia dotação (alteração qualitativa, podendo se projetar para o exercício seguinte, no caso do art. 167, § 2º, CF). O terceiro são os créditos extraordinários, destinado a suprir despesas que, além de imprevistas no orçamento, são urgentes (art. 167, § 3º, CF). Nos dois primeiros casos, o Executivo deve solicitar autorização legislativa, fundamentando e informando de onde virão os recursos (art. 167, V, sendo que, por lógica, devem-se observar as vedações do art. 166, § 3º). Após autorizado, o Executivo baixa decreto abrindo o crédito. No terceiro caso, é possível ao presidente recorrer a uma Medida Provisória (art. 62, § 1º, I, d, CF), e aos governadores e prefeitos, baixar decreto sujeito à posterior apreciação do Legislativo (art. 44 da Lei 4.320/64). É importante salientar que, por expressa previsão do art. 5º, III, o orçamento terá reserva de contingência, de modo que, o Executivo só precisa abrir de imediato as dotações obrigatórias, isto é, aquelas que se estimam incontornáveis, que não precisam aguardar sob a forma de reserva para contingências. O resto ele pode contingenciar, por Decreto. À Fazenda Pública é assegurado o regime de pagamento por precatórios previsto no art. 100 da CF (o STF entende que o caput do artigo se refere também a autarquias, fundações públicas e até mesmo a empresas públicas e sociedades de economia mista, desde que sejam prestadoras de serviços públicos). Ele tem por objetivos: (1) preservar o aparelhamento do Poder Público para atender às necessidades coletivas, evitando a penhora de seus bens; e (2) evitar desequilíbrios orçamentários do Poder Público, que não tem como saber previamente, com exatidão, quanto e quando deve pagar por força de condenações judiciais. Trata-se de um ato administrativo (sem carga decisória, loco inatacável por Mandado de Segurança) de comunicação formal do Judiciário à administração do ente público condenado, para que ele saiba até quando deve pagar o valor a que foi condenado judicialmente. O ente condenado é obrigado a incluir no seu orçamento anual dotações para pagamento dos ofícios precatórios apresentados até 1º de julho do exercício anterior, conforme § 5º. A apresentação a que se refere esse dispositivo é a do ofício precatório, pelo juiz da condenação, ao Presidente do respectivo tribunal, que deve numerá-lo. Quando o Presidente do tribunal despacha a comunicação à Fazenda Pública, esclarece qual a data da apresentação do ofício precatório. O pagamento deve incluir atualização monetária até a data de pagamento. A Súmula Vinculante 17 libera de juros o pagamento feito no período devido (o § 12 é para o que ultrapassa esse período). O preterimento da ordem autoriza o presidente do Tribunal a sequestrar quantia do devedor para satisfazer, a requerimento, o preterido. A CF determinacompensação com débitos tributários incontestados (inclusive parcelas vincendas de parcelamento de débitos passados) no momento da expedição do precatório (§§ 9º e 10, com controvérsia sobre prescritos) e autoriza o credor a usá-lo para aquisição de imóvel público (§ 11). Estão excetuados do regime de precatórios os débitos de pequeno valor, assim definidos em lei do ente devedor, com limite máximo nunca inferior ao maior salário- benefício do regime-geral de previdência social (§§ 3º e 4º). Enquanto não publicada lei do ente, aplicam-se os limites máximos previstos no §12 do art. 97 do ADCT: 40 salários-mínimos para os Estados e DF e 30 salários mínimos para os Municípios. O referido artigo do ADCT foi introduzido pela EC 62/2009 e, ao que tudo indica, não atingiu o referido no parágrafo único do art. 87 do ADCT, que prevê a possibilidade de o credor renunciar ao excedente do limite para receber o saldo (pequeno valor) fora do regime de precatórios. Não é permitido fracionar valores para burlar essa regra (parte final do § 8º), mas o STF permite a divisão entre parte controversa e parte incontroversa. Por uma questão de moralidade administrativa, os precatórios devem ser pagos rigorosamente na ordem de apresentação, sem a possibilidade de preferências pessoais. É o que determina o caput do art. 100. Há inclusive responsabilização do Presidente do Tribunal cuja conduta tenda a burlar essa regra (§ 7º). Mas há uma exceções. Os créditos de natureza alimentar (inclusive honorários), tal como definidos no § 1º, têm fila própria (mas usam precatório, ver Súmula 655 STF. E dentro dessa fila, há preferência para os sexagenários ou doentes graves (situação caracterizada na data da expedição do precatório), até o limite do triplo do que o ente considera maior valor, permitido o fracionamento (o resto será recebido pelo idoso ou doente na ordem cronológica). É possível cessão de precatórios (§§ 13 e 14), mas nesse caso não se aplicam as preferências para os casos alimentícios, inclusive de idosos/doentes graves. É vedada a expedição de precatórios complementares ou suplementares de valor já pago (ex: juros), conforme primeira parte do § 8º. A inadimplência pública levou a diversos regimes excepcionais de precatório, consignados nos arts. 33, 78 e 97 do ADCT
Compartilhar