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DIREITO CIVIL VI - CCJ0095
Semana Aula: 6
Sucessão Legítima (Ordem de Vocação Hereditária)
Tema
Sucessão Legítima (Ordem de Vocação Hereditária)
Palavras-chave
Objetivos
1-    Compreender a sucessão dos ascendentes e analisar a concorrência do cônjuge supérstite.
2-    Analisar a sucessão do cônjuge.
3-    Compreender a sucessão dos colaterais até 4o. grau.
4-    Analisar a sucessão decorrente da união estável e questionar o posicionamento adotado pelo Código Civil de 2002.
 
Estrutura de Conteúdo
Sucessão Legítima 
Sucessão dos Ascendentes
Sucessão dos ascendentes em concorrência com o cônjuge supérstite
Sucessão do cônjuge 
Sucessão dos colaterais até 4o. grau
Sucessão do Estado (herança jacente estudada na aula 3)
2.       Sucessão e União Estável
 
Procedimentos de Ensino
O presente conteúdo pode ser trabalhado em uma única aula, podendo o professor dosá-lo de acordo com as condições (objetivas e subjetivas) apresentadas pela turma.
 
O professor deverá retomar os principais aspectos da ordem de vocação hereditária, firmados na aula anterior, e, a partir deles, dar continuidade à análise da sucessão legítima.
 
SUCESSÃO LEGÍTIMA
 
Sucessão dos ascendentes e concorrência do cônjuge supérstite
 
Na aula anterior iniciou-se o estudo da sucessão legítima, apontando-se que a primeira classe de herdeiros é a dos descendentes em concorrência com o cônjuge sobrevivente. Passa-se, agora, à análise da segunda classe que são os ascendentes (herdeiros necessários com direito à legítima – art. 1.845, CC), também em concorrência com o cônjuge supérstite.
 
Os ascendentes[1]� são chamados a suceder quando não há descendentes (art. 1.836, CC), mas, diferente da linha descendente cuja sucessão se dá ‘ad infinitum’, na linha reta ascendente a sucessão pode ser limitada, uma vez que há direito de representação (art. 1.852, CC). A divisão da herança se fará por linha de ascendência (paterna e materna). Assim, por exemplo, se o ‘de cujus’ tem viva sua mãe e seus avós paternos, herdará apenas a mãe. Em outra situação, se o ‘de cujus’ não tem pai e mãe vivos, sendo ainda vivos sua avó materna e seus avós paternos a herança deverá ser dividida em 50% para a avó materna e 25% para cada um dos avós paternos.
 
Verifica-se, dessa forma, que “a partilha na sucessão dos ascendentes, a partir da geração dos pais quando já falecidos, faz-se, entretanto, por linha, não por cabeça, mas sem perder de vista que só os integrantes do mesmo grau podem concorrer à herança” (Francisco José Cahali, 2007, p. 148) regra que, obviamente, se coaduna com a ordem de que o mais próximo exclui o mais distante.
 
Já a concorrência do cônjuge supérstite como os ascendentes seguem regras diferentes da concorrência com os descendentes. Nesta, viu-se na última aula, a concorrência sofrerá forte influência do regime de bens; enquanto naquela pouco importa o regime adotado, sendo indiferente se o cônjuge tem direito à meação ou não. O cônjuge sobrevivente ao concorrer com os ascendentes terá sempre direito sucessório (o que explicaria a abolição do direito real de usufruto sobre metade dos bens da herança), percebendo no mínimo um terço da herança e no máximo a metade, dependendo do número de parentes ascendentes existentes, sendo o quinhão calculado sobre a herança a ser atribuída aos herdeiros necessários em sua totalidade (art. 1.837, CC).
 
Sucessão do cônjuge
 
Não havendo descendentes ou ascendentes, herda por direito próprio o cônjuge supérstite por ser o terceiro na ordem sucessória (art. 1.838, CC), também com direito à legítima (art. 1.845, CC). O consorte sobrevivo também herdará quando o casamento for declarado nulo ou for anulado (arts. 1.548 e 1.550, CC) e for ele declarado de boa-fé, desde que a sucessão tenha sido aberta antes do trânsito em julgado da sentença. Ao cônjuge sobrevivo é garantido, além dos direitos sucessórios, o direito real de habitação[2]�, podendo continuar na posse do bem que serve à residência da família, independente do regime de bens (art. 1.831, CC), até que contraia novo casamento ou constitua união estável.
 
Embora a lei não faça nenhuma ressalva vinculando o direito sucessório ao regime de bens, ressalta Maria Berenice Dias (2011, p. 137) que “a jurisprudência ainda não está pacificada, no entanto, quando existe pacto antenupcial consagrando o regime de separação de bens. O STJ exclui do cônjuge sobrevivente tanto a condição de herdeiro necessário bem como o direito de concorrência hereditária”, entendo que da escolha do regime já decorreria a vontade de não tornar o outro cônjuge seu herdeiro.
 
Vale lembrar também que se os bens do cônjuge falecido estiverem clausulados de incomunicabilidade o cônjuge supérstite não terá direito a meação e, segundo o STJ, esse fato também exclui o direito de concorrência. “A incomunicabilidade beneficia os herdeiros descendentes, ascendentes e até os herdeiros colaterais, pois o cônjuge é alijado da sucessão com referência aos bens. Somente quando inexistirem herdeiros antecedentes, o viúvo recebe, a título de herdeiro necessário, a integralidade da herança, inclusive os bens incomunicáveis, desaparecendo a cláusula restritiva que afetava o seu direito” (Maria Berenice Dias, 2011, p. 138).
 
Entende-se, por fim, absurdo o conteúdo do art. 1.830, CC, que permite que o cônjuge separado de fato seja chamado à sucessão até dois anos após a separação quando o ‘de cujus’ foi por ela culpado[3]�, promovendo-se,  com isso, uma forma de enriquecimento sem causa e, ainda, que o cônjuge concorresse com o companheiro. Deve-se entender que a separação de fato subtrai do viúvo a condição de herdeiro, sendo-lhe apenas preservado o direito à meação, sendo-lhe excluído qualquer direito sucessório.
 
Sucessão dos colaterais
 
Na quarta classe de herdeiros legítimos (mas não necessários) estão os colaterais[4]� até 4o. grau (art. 1.839, CC). Assim, são herdeiros no caso de inexistência de descendentes, ascendentes e cônjuge: os irmãos; os tios; os sobrinhos; os primos; o tio-avô e o sobrinho-neto.
 
Na classe colateral também se aplica a regra de que os mais próximos excluem os mais remotos (art. 1.840, CC) e o direito de representação limita-se aos filhos dos irmãos (3o. grau). Estas regras se completam, no entanto, com o contido no art. 1.843, CC, que traz regras próprias com relação à sucessão dos sobrinhos. Pode-se afirmar que, para a maior parte da doutrina, os sobrinhos preferem aos tios do ‘de cujus’, ainda que não sejam beneficiados pelo direito de representação e que o parentesco seja unilateral[5]�.
 
Assim, “se os irmãos concorrem pessoalmente, herdam por cabeça; se houver irmãos bilaterais e unilaterais, os bilaterais receberão o dobro dos unilaterais (art. 1.841); filhos de irmãos unilaterais ou bilaterais concorrendo com tio (ou tios), herdam por direito de representação, devolvendo-se o que caberia ao pai ou à mãe; não concorrendo irmãos bilaterais, ou unilaterais[6]�, dividirão a herança, entre si, igualmente por cabeça (art. 1.842). [...]. Havendo tios e sobrinhos, herdam os sobrinhos; não havendo, nem sobrinhos, herdam os sobrinhos-netos, os tios-avós e os primos-irmãos (colaterais de 4o. grau), todos na mesma qualidade e, portanto, por cabeça” (Eduardo de Oliveira Leite, 2005, p. 146-147).
 
No entanto, por não serem herdeiros necessários o ‘de cujus’ pode o autor da herança clausular os bens dos colaterais de incomunicabilidade, inalienabilidade e impenhorabilidade (art. 1.848, CC).
 
Sucessão do Estado
 
Não havendo descendente, ascendente, cônjuge, companheiro ou colaterais, herdeiros testamentários, ou tendo os herdeiros renunciado à herança, esta se ‘devolve’ ao ente público após a declaração de vacância, conforme art. 1.844, CC (cujos detalhes já foram estudados na aula 3).
 
Lembre-se que o poder público não é herdeiro, é mero sucessor e, por isso, “a natureza jurídica[7]� do direito sucessório do poder público é político-social,em reconhecimento ao fato de a ordem jurídico-econômica estatal possibilitar o acúmulo patrimonial” (Maria Berenice Dias, 2011, p. 142). Sendo o único sucessor obrigatório ‘causa mortis’ não aceita nem poderá renunciar à herança.
 
Sucessão e União Estável
 
Afirma Francisco José Cahali (2007, p. 161) que “o legislador de 2002 foi extremamente falho na técnica, confuso na apresentação do tema, tumultuado na variada casuística de identificação da convocação, de acordo com elementos jurídicos ou situações fáticas (existência de bens particulares, separação de fato por culpa do falecido, existência de filhos comuns ou exclusivos, incidência de quinhão apenas sobre patrimônio posterior à união etc.), e até injusto por, conforme a circunstância, deixar a união estável mais atraente que o casamento, para efeito sucessório em favor do viúvo, ou prever o direito sucessório de um cônjuge ao outro, mas não deste em favor daquele.
 
Determina o art. 1.790, CC, que: “A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente[8]� na vigência da união estável, nas condições seguintes: I- se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho; II- se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles; III- se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; IV- não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança”. Diferente do que pode ocorrer no casamento, o companheiro só participará da sucessão se a morte ocorrer durante a constância da união estável.
 
Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 190-191) afirma que “parte da doutrina critica a disciplina da união estável no novo diploma, no tocante ao direito sucessório, sublinhando que, em vez de fazer as adaptações e consertos que a doutrina já propugnava, especialmente nos pontos em que o companheiro sobrevivente ficava numa situação mais vantajosa do que a viúva ou o viúvo, acabou colocando os partícipes de união estável, na sucessão hereditária, numa posição de extrema inferioridade, comparada com o novo ‘status’ sucessório dos cônjuges. Outros estudiosos, todavia, afirmam que o novo Código procura, com largueza de espírito, guindar a união estável ao patamar de casamento civil, sem incidir em excessos, não representando discriminação, mas pleno atendimento ao mandamento constitucional que, em momento algum, equiparou a união estável ao casamento”.
 
É bem verdade que união estável e casamento não se equiparam, no entanto, tecnicamente nada justifica a tomada de posições diferenciadas para situações similares. O companheiro, inexplicavelmente, não foi inserido na ordem de vocação hereditária, sendo a sua sucessão regulamentada pelo confuso e incoerente art. 1.790, CC. Esse artigo insere o companheiro como herdeiro facultativo na quarta classe de sucessores após os colaterais (que inclusive herdam o dobro do companheiro). O companheiro também é considerado herdeiro concorrente com os ascendentes, descendentes (mantida a estranha diferença entre descendentes comuns e descendentes unilaterais) e colaterais (até 4o. grau). Portanto, apenas se não houver descendente, ascendente e colateral o companheiro herdaria por direito próprio. Além disso, ao companheiro é assegurado o direito de concorrência hereditária apenas se houver bens adquiridos onerosamente na constância da união estável. Assim, embora haja possibilidade dos companheiros escolherem o regime de bens aplicável à sua união (por meio de escritura pública ou instrumento particular), este não refletirá no direito de concorrência, como ocorre com o casamento. Da mesma forma, o companheiro pode ser excluído da sucessão por testamento, o que não ocorre com o cônjuge que é herdeiro necessário.
 
Em virtude dessas breves considerações a doutrina “vem fazendo outra leitura deste dispositivo legal, e considerando o companheiro herdeiro necessário sob o fundamento de ter direito de concorrência sobre os aquestos. Ao fim, nada mais do que um salutar subterfúgio para contornar a injustificável discriminação. [...].” Além disso, “da forma como o legislador tratou o convivente, passou ele a ser herdeiro de última classe, nada recebendo dos bens particulares, pois tanto o direito à meação como o direito de concorrência estão limitados aos bens adquiridos onerosamente na constância da união estável. A saída para essa tormentosa questão é interpretar os incisos III e IV do art. 1.790 como fazendo referência à totalidade dos bens do ‘de cujus’, amealhados a qualquer tempo e a qualquer título, e não apenas aos aquestos, como parece sinalizar o ‘caput’ do artigo. Esta é a forma de assegurar ao companheiro um terço da herança se existirem ascendentes, ou parentes colaterais até o quarto grau. O restante vai para os pais, avós, irmãos, sobrinhos, sobrinhos-netos, tios-avós ou primos” (Maria Berenice Dias, 2011, p. 139). Vale citar que alguns julgados, inclusive, tem afastado a aplicação deste artigo por evidente inconstitucionalidade.
 
Para ilustrar esta confusão legislativa em que a própria lei estipula soluções diferentes para situações idênticas, destaca Maria Berenice Dias (2011, p. 155) que “a mais insólita situação é quando nenhum do par tem filhos e nem bem antes de se unirem. Quando da morte de um deles, diferente será a divisão de bens se optaram pelo casamento ou por simplesmente viverem juntos. Se casaram sem fazer pacto antenupcial, o regime é da comunhão parcial. Assim, se tiveram dois filhos e adquiriram bens, quando do falecimento de um, o outro receberá somente a sua meação (50% dos bens que foram adquiridos). O restante, que compõe a herança do falecido, é dividido entre os filhos, uma vez que eles são herdeiros necessários (CC 1.845) e primeiros figurantes da ordem da vocação hereditária (CC 1.829 I). No entanto, se viveram em união estável, além da meação, o companheiro sobrevivente faz jus a um terço da herança a título de concorrência sucessória, ficando o restante para os dois (2) filhos: um terço para cada um”. Por isso, para muitos autores e parte da jurisprudência, o art. 1.790, CC, deve ser considerado inconstitucional uma vez que afronta claramente os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade (entre pessoas e entre grupos familiares), seja naquilo que favorece o companheiro em relação à sucessão do cônjuge, seja no que o desfavorece.
 
Feitas essas breves considerações indica-se ao professor que instigue a turma a tomar posicionamento com relação a adequação ou não do art. 1.790, CC. Após, deve-se passar à análise de situações específicas de concorrência do companheiro com outros herdeiros.
 
Sucessão do companheiro com os descendentes
 
Na união estável a concorrência com os descendentes não depende do regime de bens adotado e, portanto, o companheiro terá direito sucessório sobre os bens adquiridos onerosamente na constância da união.
 
Assim, quando concorre com descendentes comuns (e não apenas filhos) o companheiro terá direito à quota equivalente a que será atribuída ao descendente, tendo-se por base de cálculo os bens adquiridos onerosamente na constância da união.
 
Quando o companheiro concorrer com outros descendentes do autor da herança (independente se herdam por cabeça ou por representação) terá direito à metade do que couber a cada um deles, mantendo-se como base de cálculo os bens adquiridos onerosamente na constância da união. Exemplifica Francisco José Cahali (2007, p. 184): “somam-se os convocados por cabeça. Cada filho recebe dois, e a companheira recebe um. Assim, multiplica-se o número de filhos por dois e soma-se a parcela do sobrevivente. Àqueles destinam-se duas partes do total, a este uma parte do total. Exemplificando: 4 filhos x 2 = 8; mais 1 do sobrevivente = 9; cada filho recebe 2/9 e o sobrevivente, 1/9; sendo 3 filhos x 2 = 6, mais 1 = 7; 2/7 para cada filho e 1/7 para este. Existindo netos convocados por representação,vão herdar, por estirpe, o que o seu genitor, por cabeça, herdaria”.
 
A diferenciação entre descendentes comuns e descendentes só do autor da herança é inoportuna conforme já comentado e dificulta o cálculo de quotas hereditárias quando há filiação híbrida (discussão realizada no início desta aula), para a qual tende a prevalecer a corrente que afirma que sendo a filiação híbrida o cálculo deve pautar-se pelas regras constantes no inciso I do art. 1.790, CC.
 
Sucessão do companheiro com outros parentes sucessíveis
 
Quando o companheiro concorre com outros parentes sucessíveis (ascendentes e colaterais até 4o. grau) terá direito a um terço do que foi adquirido onerosamente na constância da união.
 
Compreende-se a regra com relação aos ascendentes, mas não se justifica quanto aos colaterais de até 4o. grau. O companheiro deveria continuar em situação privilegiada quanto aos colaterais como já ocorria na Lei n. 8.971/94 e, por isso, nesse aspecto o Código Civil retrocede.
 
Apenas no caso de não haver descendentes, ascendentes e colaterais, terá o companheiro direito à totalidade da herança (dos bens adquiridos onerosamente na constância da união). Inexistindo bens comuns, mas apenas bens particulares, aplica-se na ausência de parentes sucessíveis, o disposto no art. 1.844 do Código Civil (herança jacente).
 
Ao final da aula o professor deve perguntar se ainda existem dúvidas com relação aos tópicos abordados. Após, deve realizar breve síntese dos principais conceitos e considerações feitas, preparando ao aluno para o próximo tópico: herdeiros necessários, restrições à liberdade de testar e direito de representação.
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[1] Frise-se, por fim, que apenas o pai que reconheceu o filho tem direito à sucessão.
[2] Enunciado 271, III Jornada de Direito Civil STJ: “o cônjuge pode renunciar ao direito real de habitação, nos autos do inventário ou por escritura pública, sem prejuízo de sua participação na herança”.
[3] Destaca Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 181-182) que “a lei presume que o decurso de prazo superior a dois anos de rompimento da relação conjugal é suficiente para arredar a ‘affectio maritalis’ e, consequentemente, a participação sucessória do sobrevivente no acervo pertencente ao ‘de cujus’. Essa presunção é, no entanto, como já se disse, relativa, uma vez que se permite ao cônjuge supérstite a prova de que a separação de fato se deu não por culpa sua, mas por culpa exclusiva do falecido. A regra tem em mira evitar injustiças que certamente ocorreriam se se admitisse o total afastamento do cônjuge da sucessão, pela mera separação de fato, sem qualquer exceção”.
“Será o cônjuge supérstite, todavia, afastado da sucessão caso de comprove que a culpa pela separação foi exclusivamente dele, ou ainda se ficar demonstrada culpa concorrente, imputável a ambos os membros do casal separado de fato há mais de dois anos” (Carlos Roberto Gonçalves, 2011, p. 183).
[4] Nota histórica: “Historicamente, ainda nas Ordenações, os colaterais eram chamados até o décimo grau, com primazia ao cônjuge. Assim se manteve até 1907, quando, pelo Decreto 1.839, modificou-se a ordem de preferências para privilegiar o cônjuge em detrimento dos colaterais, restringindo estes até o sexto grau para o direito à herança. Esta ordem e abrangência foram absorvidas pelo Código Civil de 196 em sua versão original, mas, em razão da modificação introduzida pelo Decreto-Lei n. 9.461/1946, o direito hereditário dos colaterais foi limitado ao quarto grau de parentesco, mantendo esta posição o legislador do Código Civil de 2002 (CC, art. 1.839)” (Francisco José Cahali, 2007, p. 206).
[5] A regra do parentesco unilateral ou bilateral mostra-se, mais uma vez, injusta. Assim, deverá se verificar se o sobrinho era filho de irmão unilateral ou bilateral, já que seu direito de representação será drasticamente afetado em virtude desse critério. O sobrinho filho de irmão bilateral (pré-morto) herda em dobro do que os sobrinhos filhos de irmãos unilaterais (pré-morto). 
[6] Inexplicável a diferença conferida pelo legislador aos irmãos unilaterais e bilaterais (art. 1.842, CC). “Trata-se de perverso resquício da discriminação de que era alvo a filiação chamada ilegítima ou espúria, por ser fruto de relações extramatrimoniais. Outrora, ter irmãos unilaterais era escandaloso e pejorativo, porque, em regra, indicava filiação ilegítima no âmago familiar. Arcaica a repulsa à fraternidade unilateral. Mas insiste a doutrina em não ver inconstitucionalidade na concessão de direitos diferenciados a irmãos e sobrinhos, sob o fundamento de que estes não se estendem as normas constitucionais que garantem a igualdade. Diante da vedação constitucional de conceder tratamento diferenciado aos filhos (CF 227 §6o.), é de se ter tais dispositivos como letra morta. ” (Maria Berenice Dias, 2011, p. 140-141).
[7] Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 202-203) aponta que há divergência doutrinária sobre a natureza jurídica do direito sucessório atribuído ao Estado. “Uma corrente adota a tese da ocupação, dizendo que o Estado se apossa dos bens, que se tornam coisas sem dono. Na verdade, o falecido não abandona os bens hereditários. Se isso ocorresse, pertenceriam eles a quem praticasse em primeiro lugar o ato de apropriação – o que não é verdadeiro. Para outros, o direito do Estado decorre de sua soberania (‘jus imperii’). Terceira corrente, ainda, sustenta que o direito do Estado filia-se ao ‘jus successionais’: falta de outras pessoas sucessíveis, por lei ou por testamento, herda o Município em reconhecimento da colaboração prestada ao indivíduo na aquisição e conservação da riqueza. Essa a teoria que se filia o direito pátrio”.
[8] Ensina Francisco José Cahali (2007, p. 182) que “não é pela forma de aquisição, mas pelo acréscimo patrimonial efetivo e real que se identifica a parcela da herança na qual participará o companheiro sobrevivente”.
Estratégias de Aprendizagem
Indicação de Leitura Específica
Recursos
quadro e pincel; datashow.
Aplicação: articulação teoria e prática
Caso Concreto 1
Carlos Alberto, solteiro, faleceu em 15 de agosto de 2010. No momento de seu falecimento Carlo Alberto não tinha filhos, seu pai já era falecido, restando-lhe na linha ascendente apenas sua mãe e os avós paternos. Pergunta-se: quem é herdeiro de Carlos Alberto e como a herança deve ser repartida? Explique sua resposta.
 
Caso Concreto 2
Carolina, viúva, tem três irmãs (Carla, Camila e Cassyana) e três sobrinhos (filhos de Camila que faleceu em outubro de 2007). Carolina, após anos batalhando contra um câncer, finalmente perdeu a batalha e faleceu em fevereiro de 2011. Sendo ela viúva e não tendo filhos, a quem caberá a sua herança? Explique sua resposta. 
 
Questão Objetiva
(OAB-SC 2007.1) Sobre a sucessão legítima pode-se afirmar:
a)    Quando o regime de bens for o de separação obrigatória, o cônjuge sobrevivente só herda caso não existam descendentes ou ascendentes.
b)    Os filhos dos que forem excluídos da sucessão por indignidade, deserdação ou renúncia podem herdar por direito de representação.
c)    Concorrendo o cônjuge sobrevivente com descendentes exclusivamente do autor da herança, esta partir-se-á por cabeça, e, sendo descendentes comuns ao falecido e ao cônjuge sobrevivente, sua cota não poderá ser inferior a um quarto da herança, independente do número de descendentes.
d)    Quando o regime de bens do casamento for o de comunhão universal, o cônjuge sobrevivente não concorre com descendentes ou ascendentes na sucessão, visto já ter recebido a metade de todo o patrimônio do casal, por direito à meação.
Avaliação
Caso Concreto 1
Carlos Alberto, solteiro, faleceu em 15 de agosto de 2010. No momento de seu falecimento Carlo Alberto não tinha filhos, seu pai já era falecido, restando-lhe na linha ascendente apenas sua mãe e os avós paternos. Pergunta-se: quem é herdeiro de Carlos Alberto e como a herança deve ser repartida? Explique sua resposta.
 
Gabarito: Herdeira necessáriade Carlos Alberto é apenas a sua mãe, que herdará 100% da herança, uma vez que na linha ascendente não há direito de representação (arts. 1.836 e 1.852, CC).
 
Caso Concreto 2
Carolina, viúva, tem três irmãs (Carla, Camila e Cassyana) e três sobrinhos (filhos de Camila que faleceu em outubro de 2007). Carolina, após anos batalhando contra um câncer, finalmente perdeu a batalha e faleceu em fevereiro de 2011. Sendo ela viúva e não tendo filhos, a quem caberá a sua herança? Explique sua resposta. 
 
Gabarito: Conforme as regras estabelecidas no art. 1.829, CC, a herança deverá ser repartida em três partes. Carla ficará com 1/3 e Cassyana com 1/3 porque herdam por cabeça. E os três sobrinhos, que herdam por representação, devem igualmente dividir o terço restante.
 
Questão Objetiva
(OAB-SC 2007.1) Sobre a sucessão legítima pode-se afirmar:
a)    Quando o regime de bens for o de separação obrigatória, o cônjuge sobrevivente só herda caso não existam descendentes ou ascendentes.
b)    Os filhos dos que forem excluídos da sucessão por indignidade, deserdação ou renúncia podem herdar por direito de representação.
c)    Concorrendo o cônjuge sobrevivente com descendentes exclusivamente do autor da herança, esta partir-se-á por cabeça, e, sendo descendentes comuns ao falecido e ao cônjuge sobrevivente, sua cota não poderá ser inferior a um quarto da herança, independente do número de descendentes.
d)    Quando o regime de bens do casamento for o de comunhão universal, o cônjuge sobrevivente não concorre com descendentes ou ascendentes na sucessão, visto já ter recebido a metade de todo o patrimônio do casal, por direito à meação.
 
Gabarito: C
Considerações Adicionais
Referências Bibliográficas:
Nome do livro: Direito das Sucessões
Nome do autor: CAHALI, Francisco José
Editora: Revista dos Tribunais
Ano: 2007
Edição: 3ª edição
Nome do capítulo: Capítulos 8 a 10
Número de páginas do capítulo: 70
 
Referências Bibliográficas – Leitura Complementar (cópia anexa):
Nome do livro: Família e Sucessões
Coordenação: NUNES, João Batista Amorim de Vilhena
Nome do autor: MALUF, Carlos Alberto Dabus
Editora: Juruá
Ano: 2009
Nome do capítulo: A Sucessão do Cônjuge Sobrevivente Casado no Regime da Separação Convencional dos Bens
Número de páginas do capítulo: 371-380

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