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PROCESSO PENAL – 1ª FASE PROFESSOR – ANDRE QUEIROZ PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PROCESSUAIS PENAIS A Constituição Federal de 1988 se caracteriza como um sistema normativo aberto de regras, princípios e valores. Para se entender o que esta afirmação realmente significa, mister a conceituação de princípio. Segundo o Aurélio, princípio tem o significado de causa originária. A noção de princípio, ainda que fora do âmbito jurídico, sempre se relaciona a causas, alicerces, orientações de caráter geral. Trata-se, indubitavelmente, do começo ou origem de qualquer coisa. Consoante a definição de De Plácido e Silva (1993, p. 447): No sentido jurídico, notadamente no plural, quer significar as normas elementares ou os requisitos primordiais instituídos como base, como alicerce de alguma coisa. E, assim, princípios revelam o conjunto de regras ou preceitos, que se fixaram para servir de norma a toda espécie de ação jurídica, traçando, assim, a conduta a ser tida em qualquer operação jurídica. (...) Princípios jurídicos, sem dúvida, significam os pontos básicos, que servem de ponto de partida ou de elementos vitais do próprio direito. Assim, podemos dizer que os Princípios irão servir como postulados básicos para nortear a solução dos conflitos entre o ius puniendi estatal e o ius libertatis do particular. São mandamentos de otimização, dando plasticidade à Constituição, que nasceu para ter validade eterna. Já as regra, servem para dar segurança jurídica aos mandamentos constitucionais, e aplica- se o sistema da subsunção, isto é, o tudo ou nada ao caso concreto. Já aquele, o sistema deve ser o da ponderação. Devemos observer que o importante é sabermos que a principal função da Constituição se resume em conformar a sociedade, limitando a intervenção estatal em face das liberdades públicas, traçando com precisão as hipóteses em que sera legítimo ao Estado interferer na esfera particular do cidadão. Com isso, passamos a analisar os princípios constitucionais que tem decorrência no campo do Processo Penal. 1. Princípio da Dignidade Como decorrência processual deste princípio, temos o sistema acusatório, que tem como características a maior publicidade dos atos processuais, a tripartição de funções (acusar, defender e julgar), presence do contraditório e maior isenção do magistrado ao conduzir o processo. Além disso, o princípio da dignidade também determina a exigência de uma outra condição (leia-se requisito para o provimento final válido), que é a justa causa para a ação penal. No Processo Civil basta a possibilidade juridica do pedido, interesse de agir e a legitimidade de partes. Já no Processo Penal, além deste, temos a justa causa, que nada mais é do que o lastro probatório mínimo para o oferecimento da denúncia. São os indícios de autoria e da materialidade do fato. Para outros, como o professor Afrânio Silva Jardim, ainda existe uma quinta condição da ação, que seria a originariedade, isto é, uma demanda só deve ser proposta se não houver litispendência ou coisa julgada. Assim, para o autor, a ausência de demandas em duplicidade seria uma quinta condição da ação. Observe o que preceitua a Súmula Vinculante 11 do STF: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. A todo evidente, podemos perceber que nossa Corte consolidou entendimento sobre o cumprimento de legislação que já trata do assunto. É o caso, entre outros, do inciso III do artigo 1º da Constituição Federal (CF); de vários incisos do artigo 5º da (CF), que dispõem sobre o respeito à dignidade da pessoa humana e os seus direitos fundamentais, bem como dos artigos 284 e 292 do Código de Processo Penal (CPP) que tratam do uso restrito da força quando da realização da prisão de uma pessoa. Além disso, o artigo 474 do Código de Processo Penal, alterado pela Lei 11.689/08, dispõe, em seu parágrafo 3º: “Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o período em que permanecer no plenário do Júri, salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes”. 2. Princípio da igualdade (art. 5o, caput). Trata-se da isonomia processual. Em juízo, as partes devem ter as mesmas oportunidades processuais, isto é, de fazer valer suas razões, e de serem tratadas igualitariamente na medida de suas igualdades, e desigualmente na medida de suas desigualdades, para diminuir estas desigualdades. Como decorrência deste princípio, temos a paridade de armas, onde os personagens processuais devem ter instrumentos equivalentes para a busca da verdade dos fatos. Este, inclusive é o ponto chave que diferencia o processo civil do penal. Naquele, entende-se como verdade formal. Já neste, a busca é da verdade real ou substancial, isto é, não importa somente aquilo que foi produzido no processo, mas sim aquilo que é a verdade dos fatos. Assim, o juiz deve perquirir com os meios inerentes ao processo a elucidação daquilo que ocorreu no momento do crime, mesmo que para isso haja uma relativização da imparcialidade do juízo. 3. Princípio da legalidade (art. 5o, inc. II). No processo penal, a legalidade não é tão rígida quanto no direito penal material. Afinal, o próprio CPP dispõe que a lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais do direito. Já a reserva legal significa que determinadas matérias apenas podem ser regulamentadas por lei em sentido estrito, sendo vedado o uso de qualquer outra espécie normativa, inclusive a medida provisória, que tem força de lei, de acordo com o artigo 62 da CR. Podemos estabelecer, de forma simplificada, 4 tipos de legalidades: 1. Legalidade genérica ou ampla – art. II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Assim, entende-se que o particular pode fazer TUDO, exceto aquilo que a lei proíbe. 2. Legalidade penal – art. 5o XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. Aqui podemos extrair o princípio da anterioridade. Note que sua divisão se relaciona com o preceito primário da norma penal (criação de crimes) e preceito secundário (imposição de sanção). 3. Legalidade administrativa – art. 37, caput da CR - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Isso quer dizer que o administrador não pode fazer NADA, exceto aquilo que a lei determina ou permite que ele faça. 4. Legalidade tributária – art. 150, I - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. 4. Princípio da inafastabilidade da apreciação judicial (art. 5o, inc. XXXV). “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Está, portanto, de braços dados com princípio do amplo acesso ao Judiciário e do direito fundamental de ação. O termo lei (“a lei não excluirá”) deve ser interpretado extensivamente, para que sejam incluídos, obviamente, os decretos, as portarias, as medidas provisórias, as leis complementares e até emendas constitucionais que tenham como finalidade excluir da apreciação do Poder Judiciário certasmatérias. O dispositivo não deve ser entendido apenas como um aviso ao Poder Legislativo ou ao Poder Executivo, mas sobretudo ao Poder Judiciário. Aqui cabe uma distinção entre este princípio e a reserva de jurisdição. Neste, o Poder Judiciário deve dar a PRIMEIRA e única palavra na solução da questão. Já na inafastabilidade do controle, cabe ao Poder Judiciário dar a ÚLTIMA palavra. Ainda podemos dizer que hoje existe tanto a reserva de jurisdição, como também a reserva legal e a reserva de decreto, isto é, algumas matérias estão adstritas exclusivamente ao crivo do Poder judiciário, legislativo e executivo, respectivamente. 5. Princípio do Devido Processo Legal (art. 5o, LV). É a matriz deontológica onde todos os demais princípios processuais vão buscar fundamento. É “o fundamento, sobre o qual todos os outros direitos de liberdade repousam” (Loewenstein). Observe-se que o termo inglês "law", da qual proveio a expressão devido processo legal (due process of law), não tem a acepção de "lei" (rule), mas de "direito". Ou seja, a melhor tradução seria "devido processo jurídico" ou "devido processo constitucional". Até porque, o devido processo, graças à construção jurisprudencial da Suprema Corte norte americana, tem uma acepção procedimental ou formal (procedural due process) e outra substancial ou material (substantive due process). A primeira acepção, ou seja, o devido processo procedimental, tem por objetivo apenas assegurar o regular e justo andamento do processo judicial, através da instrução contraditória, do direito de defesa, do direito de ser citado, do duplo grau de jurisdição e da publicidade dos julgamentos, entre outras garantias. Já em sua segunda acepção, de cunho material, tem-se que "a essência do substantive due process of law reside na necessidade de proteger os direitos e as liberdades das pessoas contra qualquer modalidade de legislação que se revele opressiva ou destituída do necessário coeficiente de razoabilidade" (STF, ADIMC- 1755/DF, rel. Ministro CELSO DE MELLO). Ou seja, o próprio conteúdo do princípio do substantive due process vai muito além do que a simples observância dos dispositivos legais, já que as próprias leis podem ser "invalidadas" pelo "devido processo legal", num dialético paradoxo. 6. Princípio do juiz natural - art. 5.°, inc. LIII - Encontra-se enunciado no art. 5o, incisos XXXVII e LIII: “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” e “não haverá juízo ou tribunal de exceção”. Juiz natural, de acordo com a Constituição e o CPP é o juiz pré-constituído, isto é, na medida em que ocorre um fato criminoso, já deve haver previamente um órgão investido de jurisdição e competência para julgar aquele crime realizado. Isso significa “que ninguém pode ser subtraído da jurisdição do juiz constitucionalmente previsto para o julgamento de cada caso” (Rev. dos Tribs., vol. 703, págs. 418/419). Como juízo ou tribunal de exceção podemos entender que são aqueles criados para julgar fatos anteriores à sua criação, bem como aqueles criados para julgar um determinado fato ocorrido. Essa questão, inclusive foi ventilada e enfrentada pela Corte Maior ao julgar a constitucionalidade do Tribunal Penal Internacional, com a ratificação do Tratado de Roma (art. 5o §4o - O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão) e as varas especializadas da justiça federal para julgar crimes de lavagem de capitais e crimes contra o sistema financeiro. Neste último caso, para o Ministro do STF Ricardo Lewandovsky, não há ofensa ao princípio do juiz natural — “aquele cuja competência jurisdicional é prévia e formalmente estabelecida antes dos fatos”. Isso porque, esclareceu Lewandowski, a resolução do TRF-5 que criou as varas especializadas, conferiu à 11ª Vara Federal determinadas competências, in abstracto, sem fazer menção a pessoas ou situações. 7. Princípio da reserva de jurisdição. O postulado da reserva constitucional de jurisdição - consoante assinala a doutrina (J. J. GOMES CANOTILHO, “Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, p. 580 e 586, 1998, Almedina, Coimbra) - importa em submeter, à esfera única de decisão dos magistrados, a prática de determinados atos cuja realização, por efeito de verdadeira discriminação material de competência jurisdicional fixada no texto da Carta Política, somente pode emanar do juiz, e não de terceiros, inclusive daqueles a quem se hajam eventualmente atribuído “poderes de investigação próprios das autoridades judiciais”. É por esse princípio que se veda à comissões parlamentares de inquérito, por exemplo, praticar atos que a Constituição reservou com exclusividade aos magistrados. Entre essa "reserva de jurisdição" constitucional incluem-se: a prisão, salvo flagrante (CF, art. 5º, inc. LXI); a busca domiciliar (CF, art. 5º, inc. X) e a interceptação ou escuta telefônica (art. 5º, inc. XII); exercer o poder geral de cautela judicial: isso significa que a CPI não pode adotar nenhuma medida assecuratória real ou restritiva do ‘jus libertatis’, incluindo-se a apreensão, seqüestro ou indisponibilidade de bens ou mesmo a proibição de se afastar do país. Note, que, apesar de haver posições contrárias, a CPI pode determinar a quebra (rectius – transferência) de sigilo bancário e fiscal do investigado, assim como também pode o MP determinar a quebra de sigilo bancário, desde que o fato criminoso investigado verse sobre desvio de verbas públicas. 8. Princípio do promotor natural (art. 5o, LIII). Significa que ninguém será processado senão pelo órgão do Ministério Público, dotado de amplas garantias pessoas e institucionais, de absoluta independência e liberdade de convicção e com atribuições previamente fixadas e conhecidas. Somente um membro do Ministério Público pode exercer as funções do parquet, vedada a indicação de promotores "ad hoc" ou dativos. O Plenário do STF, por maioria de votos, vedou a designação casuística de promotor, pela Chefia da Instituição, para promover a acusação em caso específico, uma vez que tal procedimento chancelaria a figura do chamado "promotor de exceção". Decidiu ainda o STF que, tratando-se de denúncia oferecida e recebida anteriormente à LOMP (Lei 8625/93) não ofende o chamado "princípio do promotor natural" - ao qual mencionada lei veio conferir eficácia - a participação em audiência de inquirição de testemunhas de promotor de justiça que até esse momento não havia atuado no processo. Daí podemos concluir que este princípio foi construído à partir: 1. Devido processo legal – ninguém será “sentenciado” (juiz) ou “processado” (MP) sem o devido processo legal. 2. Vedação ao tribunal ou juízo de exceção. 3. Art. 127 §1 o - São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. 4. Art. 128, I – São garantias do MP a inamovibilidade, irredutibilidade de subsídios e vitaliciedade. 9. Princípio do contraditório (art. 5.°, inc. LV). Além do disposto na constituição, o princípio pode ser encontrado também em diplomas internacionais de direitos humanos, como, por exemplo, o Pacto de São José da Costa Rica, que, entre as garantais judiciais mínimas (art. 8o), enumera o direito de toda pessoa a ser comunicada prévia e pormenorizadamente da acusação formulada, bem como de participar da relação processual. Melhor doutrina entende que a essência do contraditório pode ser simplificada em ciência e oportunidade de resistência. Aqui, a resistência não precisa ser efetiva, bastando que a parte tenha a oportunidade real de se defender daquilo que foi alegado pela outra parte. Com isso, está observado o contraditório quando o réu se cala durante seu interrogatório, quando não participa da reprodução simulada dos fatos, etc. Inclusive, nestas hipóteses, estamos diante de umpreceito definido na exposição do motivos do CPP, qual seja, NEMO TENETUR SE DETEGERE, isto é, o réu não pode ser compelido a produzir prova contra si mesmo, devendo ser este considerado como um corolário ao direito ao silêncio. Temos como exemplo deste postulado: exame de alcoolemia (bafômetro), reprodução simulada dos fatos, padrão grafotécnico, DNA, silêncio no interrogatório, entre outros. 10. Princípio da ampla defesa (art. 5.°, inc. LV). O processo não é um procedimento inquisitório, mas acusatório. Deve-se, portanto, dar aos litigantes a oportunidade de apresentarem defesa em sentido amplo. “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentes”. Pode-se dizer que a ampla defesa corresponde a dimensão ativa do contraditório, isto é participação na dialética processual. Surgem daí várias decorrências: a) ter conhecimento claro da imputação b) poder apresentar alegações finais contra a acusação formulada c) poder acompanhar toda a produção da prova e fazer contraprova d) poder recorrer das decisões desfavoráveis Este princípio pode ser dividido em: 1. Defesa técnica – exercido por quem tem capacidade postulatória (advogado), com exceção em algumas hipóteses, como na reclamação trabalhista, o habeas corpus, juizado especial cível em causas de até 20 salários-mínimos, etc. Súmula 523 do STF - No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu. 2. Autodefesa – aquela feita pelo próprio réu no processo. Podemos dividir em: a) direito de presença aos atos processuais b) interrogatório c) interpor recursos Em uma das várias alterações sofridas pelo legislador, o próprio CPP faz uma ponderação entre este direito e a observância da segurança pública na remoção de presos perigosos no momento de sua inquirição. É o que diz o art. 185 §2 o , onde excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes finalidades: prevenir risco à segurança pública, viabilizar a participação do réu no referido ato processual, impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima ou responder à gravíssima questão de ordem pública. É de crucial importância ter em mente que a ampla defesa, enquanto direito fundamental, não é uma garantia absoluta, vez que é limitada por outros direitos também de índole constitucional. É por esta razão também que há um prazo para que a contestação seja apresentada e um limite no número de testemunhas. Não houvesse esse prazo ou essa limitação de testemunhas, a ampla defesa tornaria impraticável o exercício do direito à efetividade do processo. Daí, de logo, podemos dizer que a efetividade do processo é um direito fundamental limitador da ampla defesa. 11. Princípio da correlação ("ne eat judex ultra petita partim"). O juiz deve pronunciar- se sobre aquilo que lhe foi pedido. O que efetivamente vincula o juiz criminal, definindo a extensão do provimento jurisdicional, são os fatos submetidos a sua apreciação. Aqui outra diferença fundamental entre o Processo Civil e Penal. Enquanto naquele, o que estabelece o princípio da correlação, adstrição ou congruência é o pedido articulado na peticai inicial, no Processo Penal o que vincula a sentença do magistrado é a causa de pedir, leia-se, os fatos articulados na denúncia. Assim, aquela idéia no Processo Civil de sentença extra, ultra e citra petita dá lugar a outros institutos processuais (rectius – técnicas de sentença), quais sejam a emendatio e mutatio libelli, que serão estudados em momento oportuno. "Art. 383 - O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da que constar da queixa ou da denúncia, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave. Art. 384 - Se o juiz reconhecer a possibilidade de nova definição jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de circunstância elementar, não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou na queixa, baixará o processo, a fim de que a defesa, no prazo de 8 (oito) dias, fale e, se quiser, produza prova, podendo ser ouvidas até três testemunhas. Parágrafo único - Se houver possibilidade de nova definição jurídica que importe aplicação de pena mais grave, o juiz baixará o processo, a fim de que o Ministério Público possa aditar a denúncia ou a queixa, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, abrindo-se, em seguida, o prazo de 3 (três) dias à defesa, que poderá oferecer prova, arrolando até três testemunhas". 12. Princípio da soberania do júri popular (art. 5.°, inc. XXXVIII). A soberania dos veredictos constitui preceito constitucional. Porém, como já decidiu o STF "as decisões do Júri não podem ser alteradas quanto ao mérito, mas podem ser anuladas quando se mostrarem contrárias à prova dos autos, para que o mesmo Tribunal do Júri profira novo pronunciamento. São características essenciais deste Tribunal: 1. Competência constitucional mínima para julgar os crimes dolosos contra a vida, isto é, o legislador infraconstitucional pode ampliar, mas nunca restringir sua competência. 2. Sigilo das votações. Não é mais possível que o réu no Júri seja condenado por um placar de 7x0. Chegando-se a 4 votos, o juiz-presidente deve interromper a votação. Com isso, preserva-se o sigilo dos votos dos jurados. 3. Soberania dos veredictos. Uma eventual apelação no júri, atacando-se a decisão dos jurados, o TJ só poderá anular a votação, submetendo o réu a novo julgamento. Se assim não fosse, as decisões dos jurados não seriam soberanas. 4. Plenitude de defesa. Por esta característica o réu pode se defender de TODAS as formas, ainda que não admitidas expressamente no Digesto Processual. Esta diferença é fundamentas para a ampla defesa, que preceitua que o acusado pode se defender de todas as formas admitidas pelo ordenamento jurídico. No Tribunal do Júri suas decisões são subjetivamente complexas, isto é, o Conselho de Sentença dá o veredicto e o Juiz-Presidente do júri faz a dosimetria da pena e o seu regime inicial de cumprimento. Daí concluímos que soberano é o veredicto dos jurados e não a sentença do juiz. Assim temos que o recurso que ataque a decisão dos jurados só pode arguir o error in procedendo (vício processual, com consequente anulação e submissão do réu a novo julgamento), e nunca o error in judicando (injustiça da decisão com sua eventual reforma). A soberania dos vereditos, prevista no art. 5º, inc. XXXVIII, c, da Constituição Federal, não exclui a recorribilidade das decisões do Júri, como proclama a vasta jurisprudência do Supremo Tribunal Federal". Como decorrência do princípio em comento, é possível, apesar de decisões em sentido contrário, a reformatio in pejus indireta, em se tratando de julgamento pelo júri (v. 6.1.). As prerrogativas de foro contidas nas Constituições dos Estados (ou na legislação dos Estados) não prevalecem se se tratar de crime doloso contra a vida, pois a competência do júri tem assento constitucional. Veja-se, porém, que o STF, já entendeu que, havendo na Constituição do Estado, a prerrogativa de Secretário de Estado ser julgado pelo Tribunal de Justiça, essa prerrogativa prevalece mesmo nos crimes dolosos contra a vida, porquanto haveria uma simetria (princípio da simetria) entre a prerrogativa dos Ministros de Estado constante na ConstituiçãoFederal. Súmula 721 do STF – A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual. 13. Princípio da inadmissibilidade das provas ilícitas. Encontra-se expresso no art. 5o, LVI: “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos.” A Constituição brasileira de 1988, inspirada na Jurisprudência da Suprema Corte dos Estados Unidos, adota no seu artigo 5º, inciso LVI, o princípio da invalidade no processo das provas obtidas por meios ilícitos. Consagra assim, no nosso sistema constitucional, segundo entendimento do Pretório Excelso, a famosa doutrina constitucional americana sintetizada na expressão “fruits of the poisonous tree”, frutos da árvore envenenada, observada em alguns casos pelo Supremo Tribunal Federal, que já decidiu que a prova ilícita contamina as provas obtidas a partir dela. São as chamadas provas ilícitas por derivação. Art. 155 §1 o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. Por exemplo, com fundamento na doutrina dos “frutos da árvore envenenada”, o Pretório Excelso determinou, por maioria de votos, o trancamento de ação penal por crime de tráfico de entorpecentes, em que o flagrante - apreensão de 80 quilos de cocaína - e demais provas só foram possíveis em virtude de interceptação de ligações telefônicas autorizada pelo juiz, antes de regulamentada a lei de escuta telefônica. O STJ, contudo, tem sido mais flexível na admissibilidade de provas derivadas de provas ilícitas, com base no princípio da proporcionalidade. 14. Princípio da publicidade (art. 5.°, inc. LX, e art. 93, inc. IX) Está positivado no art. 5o, LX: “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem.” O art. 93 também reproduz o princípio: “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes”. Diz o CPP: "se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz ou tribunal, câmara ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes" (art. 792, §1o). A publicidade dos atos processuais tem dupla dimensão. Por um lado serve para dar eficácia ao mesmo. Da mesma forma, para a parte, é elemento essencial para que este controle as decisões jurisdicionais. 15. Princípio da motivação das decisões. Está expresso no art. 93, IX: “Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes”. Motivação é o ato de expor os motivos, externalizar as razões que levaram o julgador a decidir daquela forma. Já o motivo são as razões de fato e de direito que levam o agente a decidir. 16. Princípio do estado de inocência (art. 5.°, inc. LVII). “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Aqui não podemos confundir estado de inocência, que se relaciona com o tratamento que o Estado vai dar ao réu no processo penal, da presunção de inocência, onde o legislador só vai poder considerar o réu culpado somente após o transito e julgado da sentença penal condenatória. Além disso, temos o princípio da presunção de não-culpabilidade, que nada mais é do que um tratamento de neutralidade que o Estado deve dispensar ao réu no decurso da relação jurídico-processual penal. Deste princípio podemos extrair três REGRAS: 1. De tratamento – Por esta, o réu deve ter sua imagem preservada de condutas sociais nocivas, estigmatizações feitas pelo Estado. Além disso, as prisões que ocorrerem antes do transito e julgado da sentença penal condenatória, que tem natureza cautelar, devem ser uma exceção. Isto é, só caberá a prisão cautelar se outra medida não for necessária e adequada para o processo. Este é o teor do art. 282 do CPP, com redação determinada pela lei 12.403/11. 2. De julgamento – Aqui, cabe ao magistrado observar quatro decorrências: a) Ao aplicar a sentença, sendo esta um ato de certeza, observa-se o princípio do in dubio pro réu, isto é, na dúvida, absolvição. Como dizia Rui Barbosa, “é preferível absolver mil culpados a condenar um inocente”. b) No Processo Penal, há a chamada inversão do ônus da prova, isto é, de início, é o MP que deve demonstrar no processo que o réu é culpado. c) Irretroatividade da lei penal maléfica e retroatividade da lei penal benéfica. Art. 5o XL da CR. O juiz ao aplicar a lei no caso concreto, deve, numa eventual alteração legislativa, aplicar aquela mais favorável ao réu. d) Existência de recursos exclusivos da defesa, como no caso dos embargos infringentes e de nulidade, quando não for unânime a decisão de segunda instância, desfavorável ao réu, e que poderão ser opostos dentro de 10 (dez) dias, a contar da publicação de acórdão. e) Revisão criminal, que é espécie de demanda autônoma de conhecimento de caráter desconstitutivo da coisa julgada, só é possível em sentenças condenatórias e nunca absolutórias, mesmo que haja erro quanto à sua existência e validade. 3. De garantia – É a inadmissibilidade das provas obtidas por meio ilícito. Por isso, é corrente na doutrina afirmar que as provas ilícitas podem ser utilizadas no processo, desde que seja para beneficiar o réu. Observe que no passado o STJ tinha sumulado o entendimento de que "a exigência de prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional da presunção de inocência". Também por seis votos contra cinco, o Pleno do STF entendeu que a regra do art. 594 do CPP - "o réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão,(...)" - continua em vigor, não tendo sido revogada pela presunção de inocência do art. 5º, LVII, da CF - que, segundo a maioria, concerne à disciplina do ônus da prova -, nem pela aprovação, em 28.05.92, por decreto-legislativo do Congresso Nacional, do Pacto de S. Jose, da Costa Rica. Ficaram vencidos os Ministros Maurício Corrêa, Francisco Rezek, Marco Aurélio, Ilmar Galvão e Sepúlveda Pertence. Hoje toda essa controvérsia perdeu o sentido com a revogação dos artigos 594 e 595, ambos do CPP. 17. Princípio da vedação à reformatio in pejus (art. 617). O tribunal não pode agravar a pena quando só o réu tiver apelado. Súmula 160 do STF: “é nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não argüida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício”. Assim, a menos que a acusação recorra pedindo o reconhecimento da nulidade, o tribunal não poderá decretá-la ex officio em prejuízo do réu, nem mesmo se a nulidade for absoluta. Reformatio in pejus indireta. Anulada a sentença condenatória em recurso exclusivo da defesa, não pode ser prolatada nova decisão mais gravosa do que a anulada. Por exemplo: réu condenado a um ano de reclusão apela e obtém a nulidade da sentença; a nova decisão poderá impor-lhe, no máximo, a pena de um ano, pois do contrário o réu estaria sendo prejudicado indiretamente pelo seu recurso. Trata-se de hipótese excepcional em que o ato nulo produz efeitos (no caso, o efeito de limitar a pena na nova decisão). A regra, porém,não tem aplicação para limitar a soberania do Tribunal do Júri, uma vez que a lei que proíbe o reformatio in pejus não pode prevalecer sobre o princípio constitucional da soberania de veredictos. Assim, anulado o Júri, em novo julgamento, os jurados poderão proferir qualquer decisão, ainda que mais gravosa ao acusado (e.g. conhecer uma qualificadora que não havia sido conhecida anteriormente). Como já decidiu o STF, "tratando-se de preceito decorrente da lei ordinária (CPP, art. 617), a vedação da reformatio in pejus indireta não se aplica às decisões do Tribunal do Júri, cuja soberania assenta na própria Constituição Federal (art. 5º, XXXVIII). Aplica-se, todavia, ao Juiz-Presidente, que não pode, no segundo julgamento, e em face de idêntico veredicto, exasperar a pena imposta no primeiro". Obs. No caso de a sentença condenatória ter sido anulada em virtude de recurso da defesa, mas, pelo vício da incompetência absoluta, a jurisprudência não tem aceito a regra da proibição da reformatio in pejus indireta, uma vez que o vício é de tal gravidade que não se poderia, em hipótese alguma, admitir que uma sentença proferida por juiz absolutamente incompetente, tivesse o condão de limitar a pena na nova decisão. 18. Princípio da oficialidade. A pretensão punitiva do Estado deve-se fazer por órgãos públicos, quais sejam, a autoridade policial, no caso do inquérito, e o Ministério Público, no caso da ação penal pública. Tais órgãos devem ser autoridades públicas (princípio da autoridade). Este princípio é mitigado nos casos de ação penal privada e a chamada "ação penal popular", ou princípio da denunciabilidade popular dos crimes de responsabilidade. Mais à frente, quando tratarmos da ação penal, trataremos da "denúncia popular". 19. Princípio da oficiosidade. Os órgãos incumbidos da persecução penal devem proceder ex officio, não devendo aguardar provocações de quem quer que seja, ressalvados os casos de ação penal privada e de ação penal pública condicionada à representação do ofendido. A discussão sobre a ação penal nos crimes tributário será tratada oportunamente. 20. Princípio da indisponibilidade da ação penal pública. A autoridade policial não pode determinar o arquivamento do inquérito policial (CPP, art. 17) e o MP não pode desistir da ação penal pública, nem do recurso interposto (CPP, arts. 42 e 576). Tal princípio foi mitigado pela Lei 9.099/95, que regulamentou o instituto constitucional da transação penal, nas infrações de menor potencial ofensivo. Parte da doutrina, mas progressista, vem defendendo que o promotor, reconhecendo que a ação penal é completamente infundada, teria o dever de requerer a desistência, pois, no processo penal, antes de parte (acusação) o MP é fiscal da lei. 21. Princípio da disponibilidade da AP privada. Na AP privada, admite-se o perdão, pode ocorrer a perempção e a desistência, dada a disponibilidade do conteúdo do processo. 22. Princípio da indivisibilidade da AP privada. "A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade" (art. 48 do CPP)."A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá" (art. 49). " O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar" (art. 51). 23. Princípio da verdade real. É bastante comum dizer que, no processo civil, o juiz busca a verdade meramente formal, ao passo que, no processo penal, procura-se a verdade material. No meu modesto entender, em qualquer processo se busca a verdade material, independentemente dos interesses em jogo (obviamente, tratando-se de interesses meramente privados, pode-se flexibilizar um pouco mais na busca da verdade real). Daí, ser dever do juiz participar ativamente da instrução, inclusive determinando diligências e produzindo provas de ofício. “O princípio da imparcialidade do juiz não é empecilho para a participação ativa do julgador na instrução; ao contrário, supõe-se, na fase atual, que parcial é o juiz que, sabendo que uma prova é fundamental para a elucidação da matéria fática, queda-se inerte” (Marinoni, p. 102). 24. Princípio da iniciativa das partes. Por este princípio, decorrente do processo acusatório, o juiz não pode dar início ao processo sem a provocação da parte. Cabe ao MP promover privativamente a ação penal pública e ao ofendido, a ação penal privada, inclusive a subsidiária da pública. Com base neste princípio, alguns tribunais têm sustentado a insubsistência do chamado "recurso" ex officio, ou remessa obrigatória. O STF tem entendido, contudo, que, mesmo em face da Carta Magna de 88, subsiste a remessa de ofício, nos casos previsto no CPP (absolvição sumária, concessão ou denegação de habeas corpus). Ainda por esse princípio, tem-se como inconstitucional do art. 26 do CPP ("A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial"). 25. Princípio do duplo grau de jurisdição. “O princípio (do duplo grau de jurisdição) não é garantido constitucionalmente de modo expresso, entre nós, desde a República; mas a própria Constituição incumbe-se de atribuir a competência recursal a vários órgãos da jurisdição”. O Decreto nº 678, de 06-11-92, que incorporou ao direito positivo nacional a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (pacto de São José da Costa Rica), de 22-11- 69, reconhece, dentre as diversas garantias judiciais consagradas no texto, o “direito de recorrer da sentença para Juiz ou Tribunal Superior”. Logo, para aqueles que aceitam a tese de que os tratados de direitos humanos são normas constitucionais, por força do art. 5o, §2o, da Constituição, tem-se que o direito de recorrer é um direito fundamental (no nosso entender, não existem direitos fundamentais infraconstitucionais; portanto, o direito ao duplo grau de jurisdição seria um direito constitucional, embora possa, como qualquer direito fundamental, ser limitado, desde que essa limitação seja proporcional, vale dizer, adequada, necessária e proporcional em sentido estrito). 26. Princípio da identidade física do juiz. O princípio que vincula o juiz aos processos cuja instrução acompanhou não vigora no processo penal. Aplicabilidade da Norma Penal Aplicação da lei penal – a lei penal tem as seguintes características: a) imperatividade, isto é, aplica-se a todos independente de sua vontade ou concordância, há imposição da norma penal; b) exclusividade - somente a ela cabe a tarefa de definir infrações penais e cominar sanções; c) generalidade - incide sobre todos de modo geral, com impessoalidade e abstração, não indicando pessoas determinadas para incidência da norma, mas apenas acontecimentos futuros a serem punidos. Espécies de normas penais: a) incriminadora - dispositivos penais que descrevem condutas e comina penas; b) norma não incriminadora – descreve certos parâmetros que são explicativos ou complementares ou permite certas condutas. A lei processual penal tem aplicação imediata, vez que o artigo 2º, do CPP estabelece que “a lei processual penal aplica-se desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a urgência da lei anterior”. Note-se, então, que o legislador pátrio adotou o princípio do “tempus regit actum” (aplicação imediata das normas processuais penais), não havendo efeito retroativo, visto que, se tivesse, a retroatividade anularia os atos anteriores, o que não ocorre, pois os atos processuais realizados sob a égide da lei anterior se consideram válidos. Convém assinalar, com o intuito de melhor explicar, que, em decorrência do aludido princípio, duas são as conseqüências, então: a) os atos processuais realizadossob a égide da lei anterior são considerados válidos; b) as normas processuais têm imediata aplicação, regulando o desenrolar restante do processo, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada (CF, art.5º, XXXVI; LICC, art.6º, CPP, art.2º). Todavia, há que se atentar para um aspecto: não é raro que as normas jurídicas possuam natureza mista, ou seja, sejam dotadas de natureza processual e material, concomitantemente. Assim, se a norma processual penal possuir também caráter material penal, aplicar-se-ão, quanto à sua disciplina intertemporal, as regras do art. 2º e parágrafo único do Código Penal, recepcionadas pelo artigo 5º, inciso XL, da Constituição Federal; em outras palavras, atribuir-se-á efeito retroativo ao dispositivo que for mais favorável ao réu (ultratividade e retroatividade benéfica). Tarefa difícil é, entretanto, fazer esta identificação. A norma terá caráter penal material quando versar sobre o direito de punir do Estado (tanto em sua forma abstrata quanto em seu aspecto concreto, isto é, como pretensão punitiva), criando-o, extinguindo-o ou modificando-o. Assim, normas relativas ao direito de representação, à prescrição, à decadência e a perempção serão, concomitantemente, penais e processuais penais (CP, art. 107, IV). Vê-se isso nas discussões em torno da Lei nº 9.099/95, que transformou as infrações de lesões corporais leves e de lesões culposas em crimes de ação penal pública condicionada à representação (art. 88). Do mesmo modo, normas que dizem respeito à progressão de regime, por ampliarem ou restringirem a satisfação do direito de punir do Estado, implicando maior ou menor rigor no cumprimento da pena, têm natureza preponderantemente penal, devendo submeter-se ao princípio constitucional da retroatividade in mellius (nesse sentido: STJ, 6ª T., REsp. 61.897-0/SP, rel. Min. Adlemar Maciel, v. u., DJU, 20 de maio de 1996; 6ª T., Resp. 78.791-0/SP, rel. Min. Adhemar Maciel, m. v., DJU, 9 de setembro 1996; 5ª T., Resp 70.882-0/PR, rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini, v. u., DJ,5 de agosto de 1996). Para tanto, vemos a necesidade de diferenciarmos as teorias a respeito da visão sobre os sistemas conceituais do processo. Por essa razão, entretanto, já dividiu a doutrina e a jurisprudência em posições divergentes, fazendo com que uns sustentem a irretroatividade da norma processual penal, enquanto outros sustentem sua retroatividade. Melhor explicando, temos 3 os sistemas de caracterização do processo: 1. Se a perspectiva for do processo como um conjunto unitário, sem nenhuma dúvida podemos considerar que a lei penal que deve ser aplicada e a lei processual que efetivará a realização dessa norma penal aplicável constituem um todo que deve se manter idêntico desde a época do evento definido como delituoso. Essa perspectiva, conhecida como "sistema da unidade processual", coloca como referência a data do fato delituoso. 2. Uma outra perspectiva leva em consideração de que o processo tem fases distintas e autônomas, hipótese em que se admite a incidência da lei processual nova às fases processuais que se iniciarem sob seu império, regendo-se as anteriores inteiramente pela lei velha. Trata-se do "sistema das fases processuais", segundo o qual a lei nova não se aplicaria enquanto não se concluísse a fase em que se encontra o processo que continuará regulado pela lei velha, considerando-se basicamente a fase postulatória, a fase probatória, a fase decisória e a fase recursal. 3. Em última perspectiva, sem ignorar as fases processuais, considera que o processo constitui-se de uma sucessão de atos legalmente regulados e raciocina com a suposição de que a lei nova deve ser melhor do que a anterior, inclusive no assegurar com mais eficiência os direitos do acusado. Nesses termos, aplicar-se-á a lei velha ao ato processual em desdobramento, mas a lei nova aos atos processuais posteriores, independentemente da fase em que se encontrar. Trata-se do "sistema do isolamento dos atos processuais", segundo o qual não há falar nem em retroatividade nem em irretroatividade, mas em aplicação imediata da lei processual penal. Por isso é correto o entendimento de que as leis processuais penais novas tem eficácia atual e futura, não podendo afetar a atividade processual já definitivamente cumprida dentro do processo, nem as situações jurídico- processuais já adquiridas. Além disso, a doutrina elenca também todas as normas processuais que se relacinam com o status libertatis do ré, isto é, aquelas normas processuais que influenciam diretamente a condição de liberdade do réu. Temos como exemplo o art. 10 do CPP, que estabelece o prazo para conclusão do inquérito policial - O inquérito deverá terminar no prazo de 10 (dez) dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 (trinta) dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. Também temos as normas processuais heterotópicas, que compreendem-se aquelas que, apesar de inseridas em diplomas processuais penais (v.g., o Código de Processo Penal), possuem um conteúdo eminentemente material. É o que ocorre, por exemplo, com o direito ao silêncio assegurado ao réu em seu interrogatório. Esta garantia, a despeito de sua previsão no Código de Processo Penal (art. 186), possui caráter nitidamente assecuratório de direitos, o que evidencia sua natureza material. Um outro bom exemplo é o artigo 225 do CP, que preceitua sobre ação penal nos crimes sexuais, procedendo-se mediante ação penal pública condicionada à representação. Note-se que a importância da identificação do caráter heterotópico de uma determinada norma não se prende, unicamente, a aspectos doutrinários. Há, com efeito, relevância de ordem prática, relacionada, muito especialmente, às regras aplicáveis nos casos de conflito de leis no tempo. Por último, vale lembrar, ainda, alguns institutos importantes: a) Vacatio legis: período decorrente entre a publicação e a data em que começa a sua vigência (45 dias se a lei não dispuser ao contrário e 3 meses para sua aplicação nos Estados Estrangeiros, quando esta é admitida art. 1º e §1º da LIDB). b) Revogação: encerra-se a vigência da lei com a sua revogação, que pode ser expressa (uma lei posterior determina expressamente a cessação da eficácia da anterior) ou tácita (a lei posterior é incompatível com a lei anterior, ou regule inteiramente a matéria anteriormente tratada – LIDB, art. 2º, § 1º). A revogação parcial chama-se derrogação sendo a total chamada de ab-rogação. A auto-revogação ocorre quando cessa a situação de emergência ou anormalidade, no caso da lei excepcional ou se esgota o prazo, tratando-se de lei temporária. c) Repristinação: a lei revogada volta a viger quando a lei revogadora perde a vigência. A regra é a não ocorrência da repristinação, salvo se houver disposição legal expressa (LIDB, art. 2º, § 3º). Cabe, ainda destacar, por fim, alguns julgados acerca do presente assunto, a saber: 01) APLICAÇÃO TEMPORAL DA LEI PROCESSUAL – LEIS DE NATUREZA MISTA SE SUBMETEM À RETROATIVIDADE IN MELLIUS: “Processo penal – execução da pena – Tráfico de entorpecente – Anterior à lei vigente – Regime prisional – Progressão – Possibilidade – Princípio da legalidade – Lei nº8.072/90, art. 2º, § 1º” (STJ,6º T., Resp. 61.897-0/SP, rel. Min. Adhemar Maciel, v. u., DJ, 20 maio 1996). 1.2. Lei processual penal no espaço A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais cometidas em território brasileiro, sem prejuízo de convenções,tratados e regras de direito internacional. Vigora o princípio da absoluta territorialidade, que impõe a aplicação da lex fori ou locus regit actum, segundo a qual, aos processos e julgamentos realizados no território brasileiro, aplica-se a lei processual penal nacional. A exegese justifica-se por ser a função jurisdicional a manifestação de uma parcela da soberania nacional, podendo ser exercida apenas nos limites do respectivo território. O Código de Processo Penal trata da territorialidade da lei processual penal no seu artigo 1º, incisos I a V e parágrafo único. Art. 1º - O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade; III - os processos da competência da Justiça Militar; IV - os processos da competência do tribunal especial; V - os processos por crimes de imprensa. As ressalvas mencionadas no citado artigo não são, como podem parecer, exceções à territorialidade da lei processual penal brasileira, mas apenas à territorialidade do Código de Processo Penal. Impõem a aplicação de outras normas processuais positivadas na Constituição Federal e em leis extravagantes (lei que regula o tráfico ilícito de entorpecentes – 11.343/06; lei que trata do crime organizado – 9.035/95; lei que dispõe os crimes eleitorais – lei 4.737/65,p.ex.). O inciso I do mesmo artigo (tratados, convenções e regras de direito internacional) contempla verdadeiras hipóteses excludentes da jurisdição criminal brasileira, isto é, os crimes serão apreciados por tribunais estrangeiros segundo suas próprias regras processuais. Considera-se praticado em território brasileiro o crime cuja ação ou omissão, ou cujo resultado, no todo ou em parte, ocorreu em território nacional (CP, art. 6º). Foi adotada, nesse caso, para Capez(3) , a teoria da ubiqüidade ou mista. Considera-se como extensão do território nacional, para efeitos penais, as embarcações e aeronaves públicas ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, e as embarcações e aeronaves particulares que se acharem em espaço aéreo ou marítimo brasileiro, ou em alto-mar ou espaço aéreo correspondente (CP, art. 5º, §§ 1º e 2º). A lei penal aplica-se aos crimes cometidos fora do território nacional que estejam sujeitos à lei penal brasileira (CP, art. 7º). É a chamada extraterritorialidade da lei penal. Contudo, é preciso que se frise: a lei processual brasileira só vale dentro dos limites territoriais nacionais (lex fori).Se o processo tiver tramitação no estrangeiro, aplicar-se-á a lei do país em os atos processuais forem praticados. A legislação processual brasileira também se aplica aos atos referentes às relações jurisdicionais com autoridades estrangeiras que devem ser praticados em nosso país, tais como o de cumprimento de rogatória (CPP, arts. 783 e ss.), homologação de sentença estrangeira (CP, art. 9º; CPP, art. 787) e procedimento de extradição (Lei nº6.815/80, arts. 76 e ss.; CPP, art.784, § 1º). Inquérito Policial Vamos começar abordando a questão do Inquérito Policial e de antemão objetivamos o nosso estudo: vai do art. 4º ao art. 23º do Código de Processo Penal, com alguns artigos posteriores positivados no CPP. A persecução criminal (“persecutio criminis”) é dividida em duas fases distintas: a primeira, não obrigatória, realiza-se no inquérito policial, onde se buscam informações sobre a autoria e a materialidade do delito; a segunda, obrigatória, é a ação penal em juízo, onde se busca, através da denúncia ou da queixa, oferecer provas ao juiz de que o réu é o autor de determinada infração penal e deve ser considerado culpado. Quando falamos no Inquérito Policial, a nossa preocupação é saber a sua natureza jurídica. Qual é a natureza jurídica do inquérito Policial? Para Fernando da Costa Tourinho Filho, o conceito de inquérito policial é “um conjunto de diligências realizadas pela Polícia Civil ou Judiciária (como a denomina o CPP), visando a elucidar as infrações penais e sua autoria”. O Inquérito Policial tem natureza jurídica de procedimento administrativo. Haja vista tratar-se de um conjunto de atos administrativos realizado por um servidor público, por um agente da administração pública, autoridade policial, leia-se, delegado de polícia. Então Inquérito Policial tem natureza de ato administrativo investigatório concatenado, isto é, sistematizado e com um objetivo – a busca da elucidação do fato criminoso e a descoberta da autoria deste delito. O delegado investiga a autoria de um crime e a materialidade do fato. Vai requerer indícios de autoria e materialidade do fato. Note: o Inquérito Policial é um procedimento administrativo porque é um conjunto de atos administrativos realizados pela administração pública, sendo este preparatório e antecedente à ação penal. Uma distinção importante que deve ser feita é sobre o direito penal objetivo e subjetivo. Aquele pode ser conceituado como o conjunto de normas postas pelo legislador. O direito penal objetivo nada mais é que o conjunto de regras, o conjunto de leis e normas impostas pelo Estado com caráter sancionador impostas pelo legislador, e partir do momento que o indivíduo viola essa norma, viola o direito penal objetivo, surge pro Estado o direito penal subjetivo. Este é o ius puniendi do Estado. É o direito que o Estado tem de punir o indivíduo quando ele descumpre com a norma penal. Então, cabe aqui uma observação: Lei e norma é a mesma coisa? Resposta negativa. Lei se relaciona com direito penal objetivo e a norma penal é o comando dado pela lei para que o cidadão tenha comportamentos normais no convívio social. Quem estabelece o direito penal objetivo é o Estado, são as leis postas. Quando o indivíduo descumpre com as leis do direito penal objetivo, descumpre com a norma penal, descumpre com esse comando dado pelo legislador, surgindo para o Estado o direto subjetivo de punir esta pessoa. Surge assim o direito penal subjetivo, ou então ius puniendi, o direito de punir do Estado. Para que o Estado possa punir, deve-se exercer a sua persecutio criminis, perseguição do crime. Ele tem que solucionar aquele caso concreto para dar uma resposta pacificadora à sociedade. Então a partir do momento que o Estado tem esse direito de punir, ele pode gerar a persecutis criminis, e esta se inicia com o Inquérito Policial, que é esse procedimento administrativo, o procedimento administrativo investigatório e preparatório da ação penal. E você sabe que a ação penal, se ela for pública, ela vai iniciar com uma denúncia do Ministério Público ou se a ação penal for de iniciativa privada, uma queixa- crime oferecida pelo querelante e termina com uma sentença - ato de certeza dada pelo juiz. Podemos concluir que o Inquérito Policial é o início da persecutis criminis, onde a autoridade policial investiga a materialidade do fato e os indícios de autoria. Mas é um procedimento administrativo por quê é um conjunto de atos concatenados, atos investigatórios. Eles preparam a Ação Penal, sendo este procedimento dispensável, em razão dos artigos 4º, parágrafo único, artigo 12, artigo 27, artigo 39, parágrafo 5º, 46, parágrafo 1º e artigos 523 e 524, todos do Código de Processo Penal. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa,sempre que servir de base a uma ou outra. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção. O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias. Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de informações ou a representação. Os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos, cujo processo e julgamento competirão aos juízes de direito, a queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou justificação que façam presumir a existência do delito ou com declaração fundamentada da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas. No processo e julgamento dos crimes contra a propriedade imaterial, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e III do Título I deste Livro, com as modificações constantes dos artigos seguintes. Então, podemos concluir que o Inquérito Policial é um procedimento administrativo investigatório. O delegado vai investigar os indícios de autoria e da materialidade do fato. Agora, o promotor não necessariamente terá que pedir a instauração de Inquérito Policial pra que ele ofereça denúncia, haja vista ser este dispensável quando já houver indícios de autoria e materialidade do fato, isto é, no momento em que o órgão do MP já tiver lastro probatório mínimo pra oferecimento da denúncia, que é denominado pela doutrina de justa causa. Sendo um lastro probatório mínimo, basta que eu tenha indícios de autoria e indícios da materialidade do fato. Eu não preciso ter certeza do cometimento do crime. Então, fique atento: o processo ele se inicia com uma denúncia e uma queixa crime e ele termina em primeiro grau numa sentença. Ao oferecer denúncia vigora o princípio do in dubio pro societatis. O que significa dizer que na dúvida, o órgão do Parquet de ve atuar em favor da sociedade. Basta que haja indícios de autoria de materialidade do fato. Para indícios o promotor precisa da justa causa, que é um ato probatório mínimo para oferecer a denúncia. Agora uma coisa é certa: o juiz para sentenciar tem que ter certeza de que a pessoa cometeu o crime, porque se houver dúvida o juiz deve absolver o réu em razão do princípio constitucional já exposto acima da presunção de inocência. Resumindo: Quando o MP ou querelante tiver a justa causa, esse lastro probatório mínimo, obtido ou não através do Inquérito Policial, que é um procedimento administrativo, investigatório, antecedente e preparatório da ação penal e dispensável, devem estes deflagrar a ação penal. Devemos analisar, antes mesmo de entrar nas características do Inquérito Policial, que a autoridade policial, leia-se o Delegado de Polícia, faz parte do poder executivo, assim como o Ministério Público também faz parte deste mesmo poder e o juiz faz parte do poder Judiciário. Então, fique atento: o delegado de policia é um servidor público, fazendo parte da administração publica, mas ele exerce o poder de policia judiciário, porque o seu poder de policia é a posteriori, ele é investigatório. Então na verdade, no Inquérito Policial, o delegado de policia é um agente administrativo, mas ele não exerce a policia administrativa, e sim a judiciária, porque a policia administrativa é preparatória, ela é preventiva, e a policia judiciária é repressiva. Inclusive, esta questão já foi objeto de provas em outras bancas, inclusive na Fundação Getúlio Vargas: o delegado de polícia preside o Inquérito Policial porque ele é um agente administrativo, no entanto, como ele investiga, ele faz parte da policia judiciária, porque ela é investigatória, ela é repressiva. A policia civil atua após o cometimento de um crime, nunca antes. Policia Judiciária - Policia Civil e Federal. Policia Administrativa, Policia Militar, Policia Rodoviária Federal. Elas são preventivas. Elas evitam o cometimento de um crime. O que é importante, e agora vamos nos ater, são as características do Inquérito Policial, a saber: 1. Sigiloso 2. Inquisitivo 3. Formal 4. Unidirecional 5. Discricionário 6. Sistemático 1. SIGILOSO Uma primeira questão à ser solucionada é a seguinte: “se o Inquérito Policial é sigiloso, e se quem o preside é o delegado de policia, que é um agente administrativo pertencente a administração pública, ele deve respeitar os princípios da Administração Pública, que de acordo com o art. 37, caput da Constituição são: Legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Da mesma forma, e complementando, a doutrina mais abalizada já preleciona a releitura dos princípios da Administração Pública. Onde temos o “LIMPE”, devemos agora saber: 1. Legalidade – legitimidade 2. Impessoalidade – probidade 3. Moralidade – eticidade 4. Publicidade – transparência 5. Eficiência – razoabilidade. Assim, como coadunar a sigilosidade do inquérito com a publicidade dos atosadmistrativos? A sigilosidade do inquérito está definida no artigo 20 do CPP. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Nos atestados de antecedentes que Ihe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os requerentes, salvo no caso de existir condenação anterior. Temos assim dois tipos de sigilo: o interno e o externo. Deve ser sigiloso internamente pra garantir a eficácia das investigações. Se o Inquérito Policial for público, eu perco essa eficácia. Essas investigações podem ficar comprometidas, ineficazes. Então pra não comprometer a eficácia das investigações, o Inquérito Policial dever ser sigiloso. Assim também eu tenho o sigilo externo, isto é, o Inquérito Policial dever ser sigiloso com relação á sociedade, justamente pra que se preserve a imagem do indiciado, do investigado, do suspeito. Sabemos muito bem que a Constituição preceitua que o réu no processo é presumido inocente. Então se o réu no processo é presumido inocente, quanto mais no Inquérito Policial. Se a administração tem que respeitar a legalidade, a impessoalidade, a moralidade e a publicidade, ela também tem que ser eficiente. Então, eu posso restringir a publicidade do ato pra garantir a eficácia das investigações, por isso ele é sigiloso. Por isso o artigo 20 é Constitucional. E, além disso, porque o inquérito é sigiloso internamente e eu não permito que a sociedade tenha acesso aos dados do Inquérito Policial justamente para preservar a imagem do investigado. Agora, este sigilo abrange a figura do advogado? Imaginem a segunte hipótese:“Senhor delegado, eu gostaria de ter acesso aos autos do Inquérito Policial. Eu sou advogado desse cliente que está preso, gostaria de ter acesso aos autos do Inquérito Policial pra que eu possa impetrar um habeas corpus, pedir a revogação de uma prisão preventiva, liberdade provisória dessa prisão em flagrante...” Delegado: “Não, não pode não. Não pode porque Inquérito Policial é sigiloso em razão do artigo 20 do CPP. O Inquérito Policial é sigiloso, então você não vai ter acesso aos autos.” Poderíamos dizer que a conduta da autoridade policial está correta? Atodo evidente que não. O advogado vai falar a seguinte frase pro delegado: “Delegado, realmente o Inquérito Policial é sigiloso para garantir a eficácia das investigações,só que tem um detalhe. A Constituição, artigo 5º, inciso LV fala: “ao litigante, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são asseguradas contraditória e ampla defesa, com meios e recursos á ela inerente, e, além disso, lá no artigo 7º, inciso XIV, do estatuto da OAB, fala que o advogado tem acesso a todos os autos de Inquérito Policial e da ação penal. Então, deve ser respeitado este direito constitucional. E ele ainda pode também falar: “Senhor Delegado, se o senhor não permite que eu tenha acesso aos autos do Inquérito Policial, você está comprometendo o exercício da minha profissão. Você não está permitindo que eu trabalhe de forma adequada. Art. 5 o , XIII também da Carta Maior” É mais ou menos o dentista falar com seu paciente: eu gostaria de fazer a sua cárie ,dá pra você abrir a boca? Não, não vou abrir a boca.” Como o dentista vai trabalhar? Nunca. “Senhor delegado, se o senhor não permitir que eu tenha acesso aos os autos de Inquérito Policial, você compromete o exercício da minha função, e compromete a ampla defesa.” Então é óbvio que o advogado tem acesso a todos os autos. Só que tem um detalhe: o Supremo começou a visualizar o que: infelizmente muitos advogados, sem muito escrúpulo, tinham acesso aos dados de todo o Inquérito Policial e comprometiam as investigações. Então o Supremo nada mais fez que ponderar o seguinte: o sigilo das investigações pra garantir sua eficácia e a ampla defesa. Para ponderar o sigilo das investigações e garantir a eficácia, e a ampla defesa, o STF declarou a súmula vinculante 14, e ela fala três coisas: O advogado vai ter acesso aos autos do Inquérito Policial, mas no nome do seu representado. Você não pode agora chegar na delegacia e ter acesso á todos os autos que queira. Ele tem uma responsabilidade de agir em nome do seu representado. E ele só vai ter acesso aos atos que já foram realizados. Se porventura o delegado representou por uma interceptação telefônica, uma busca e apreensão domiciliar (que ainda será feita), ele terá acesso á esse material? Não, não terá. Vai permanecer em sigilo. Por quê? Porque esses atos ainda serão realizados. Ele terá acesso total aos autos voltados ao exercício do direito de defesa. Toda essa regra está na súmula vinculante 14 do STF. É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. Ao falar de Inquérito Policial, uma atenção é a sumula vinculante 14 e a súmula vinculante 11 do Supremo, que fala do uso de algemas. O uso de algemas hoje não é um regra, é uma exceção, fundamentada por escrito, mas com hipóteses definidas na súmula. Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. Incomunicabilidade do investigado Quando lemos o artigo 21 do CPP, este preceitua que o indiciado, o preso, ele pode ficar incomunicável, e isso pode durar por até 3 dias. Artigo 21, parágrafo único. Esse artigo é Constitucional ou Inconstitucional?” A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir. A incomunicabilidade, que não excederá de 3 (três) dias, será decretada por despacho fundamentado do juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no Art. 89, III (rectius art. 7 o , III) do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil. Aqui, temos que fazer uma análise do artigo 136, parágrafo 3º, inciso IV da Constituição, que diz o seguinte: mesmo em estado de defesa, a Constituição diz que é vedada a incomunicabilidade do preso. Por exemplo: se o Brasil estiver num estado de calamidade publica, guerra declarada, de acordo com o artigo 34, é vedada a incomunicabilidade do preso. Esse artigo 21 é Constitucional ou não? Temos 2 correntes doutrinárias a esse respeito. O Supremo, em decisão antiga disse: “se não é possível a incomunicabilidade em estado de defesa, por razão maior ainda, eu não devo permitir a incomunicabilidade por razões normais.” Então esse artigo 21 é inconstitucional. Quanto ao procedimento da incomunicabilidade previsto no CPP no artigo 21, e contrastá- lo com a regra contida no presente inciso LXII do artigo 5º, vemos que o propósito é salientar que a norma contida no inciso LXII da Constituição nada tem a ver com a regra da incomunicabilidade do preso, nos termos do art. 21 do CPP. A conexão de conteúdo não se opera entre o inciso LXII da CF/88 e o art. 21 do CPP, mas entre aquela regra e o 306 do diploma processual penal. Com relação ao art. 21 do CPP, é comum dizer-se que ele não foi recepcionado pela CF/88, devendo ser considerado revogado. A não recepção decorreria de uma incompatibilidade material entre a regra constitucional averbada nesse inciso LXII e aquele art. 21 da lei ordinária processual penal. Essa é uma posição antiga, e honestamente eu discordo dela. Entendo que o preso pode perfeitamente ficar incomunicável, desde que respeitado o prazo dado pelo legislador, haja vista a ponderação de interesses. Em estado de exceção, eu não tenho todos os direitos fundamentais garantidos. Neste estado, de defesa, eu perco alguns direitos fundamentais. Então o que o professor quis dizer? Como em estado de defesa você perde alguns direitos fundamentais, incomunicável você não pode ficar. Agora numa situação normal onde você tem todos os direitos fundamentais, você pode ficar incomunicável. O Torinho, ele tem uma opinião mais abalizada, porque ele fala o seguinte: “se no estado de defesa, que é um estado de exceção, você perde alguns direitos, eu preservo alguns, e um deles é a incomunicabilidade. Agora numa situação normal, de convívio normal, onde você tem todos os direitos fundamentais do art., 5º, eu posso restringir alguns direitos, entre eles a incomunicabilidade”. E o Torinho termina de dar uma cacetada. Ele fala o seguinte: “vocês estão esquecendo um detalhe: se a incomunicabilidade fosse proibida no ordenamento jurídico ela não estaria no artigo 136, estaria no art. 5º.” O artigo 5º fala o seguinte: são inadmissíveis as provas obtidas por meios ilícitos. Então se eu tentasse a incomunicabilidade em todas as hipóteses, não estaria no art. 36, e sim no 5º. Posição muito mais bem abalizada. Note pra você que tá fazendo uma prova da OAB, isso é péssimo pro teu cliente. Então me parece que o réu, o suspeito, ele pode ficar preso, que não há problema. Sistema Inquisitivo. O primeiro ponto, pra você saber a diferença de um sistema inquisitivo pro sistema acusatório: Qual a diferença? Primeiro,quando eu falo de sistema inquisitivo, eu tô falando do Inquérito Policial, é a primeira diferença. Já no sistema acusatório eu tô falando da ação penal. A ação penal é acusatória, no Inquérito Policial o sistema é inquisitivo. Segunda diferença: no sistema inquisitivo eu tenho a figura do investigado, suspeito ou indiciado. Já na ação penal eu tenho a figura do réu, do acusado ou denunciado. Quando eu falo de Inquérito Policial eu estou falando do sistema concentrado. Como assim? O sistema concentrado é diferente do sistema de tripartição de funções. “André,quando você fala de tripartiçãode funções,que figuras eu tenho?” Você tem 3 figuras: a função do Juiz, de julgar, do MP de acusar e do Defensor Público, de defesa. Eu tenho assim uma tripartição de funções. Quem acusa não defende,quem defende não acusa. Cada um na sua função. Agora quando eu falo do Inquérito Policial, a figura que eu tenho é outra. No Inquérito Policial eu tenho a figura do sistema concentrado. O que é isso? As investigações estão concentradas na figura do delegado. Isso aqui é muito importante. O delegado investiga. Na ação penal há uma tripartição de funções. O juiz quando julga,ele é eqüidistante. O mesmo tratamento que ele vai dar á acusação,é o tratamento que ele vai dar á defesa. Esse é o procedimento da isonomia processual. Eqüidistância entre as partes, paridade de armas. No inquérito eu tenho o sistema concentrado e na ação penal a tripartição de funções. Cada um desempenha a sua função. No Inquérito Policial não. O que é mais importante é o seguinte: quando eu falo de Inquérito Policial, a princípio não existe contraditório, até porque o sistema é concentrado. Já na ação penal há contraditório. Isso aqui é importantíssimo, porque gera várias decorrências. Conseqüentemente, no Inquérito Policial, a princípio, não há produção de provas. Isso só é feito na ação penal. “Professor, o que o delegado produz? O que ele faz? O que ele investiga?” Ele colhe elementos informativos, não colhe provas. Por que prova só acontece quando houver contraditório, e como Inquérito Policial não há contraditório, não produzem provas, a principio. Além disso, o réu na ação penal é um sujeito de direitos. Ele é uma pessoa que tem direitos e obrigações. São chamados de direitos processuais. Agora quando eu falo de investigado, ele é um mero objeto de investigações. Na verdade ele está sendo investigado, ele não tem direito a praticamente nada. E ele está sendo investigado quando ele for indiciado. A partir desse momento, ele passa a ser um objeto de investigações. Quando que eu faço indiciamento? Ele é feito quando eu aponto o principal suspeito das investigações. Já o réu não, o réu é um sujeito de direitos inerentes ao processo. Esse ponto aqui é importantíssimo. “André, já que você falou que o sistema é concentrado, qual a forma que o delegado investiga? O que ele faz nas investigações?” Dá uma olhada lá no art. 6º do CPP e veja o que o delegado pode fazer porque o sistema é concentrado, ele conduz as investigações, não há contraditório, produz elementos informativos e ele é objeto de investigações. Passando por isso, vamos pras nossas observações. O delegado produz provas? Sim ou não?”Não, porque no Inquérito Policial não tem contraditório, porque o sistema é um sistema inquisitivo. Sabe o porquê da Santa Inquisição? Na época da Santa Inquisição quem julgava quem investigava quem colhia as provas, quem sentenciava era a Igreja. Ela concentrava todos os poderes na sua mão. Por isso ela analisava se a pessoa era ou não herege, porque ela que fazia as investigações, ela analisava a acusação, analisava a defesa, produzia as provas e sentenciava. Ela fazia tudo. Hoje não, hoje a investigação é inquisitiva, mas o processo penal não. A ação penal é contraditória. Contraditório vem de contradizer, e é dividido em 2 partes. No processo não tem contraditório? Tem tudo que uma parte alega num processo, pra outra parte tem que dar a ciência. Tudo que for argüido num processo de uma parte tem que dar ciência pra outra parte, pra que ela possa ter uma oportunidade de defesa. Então são dois momentos: tudo que é argüido por uma parte, tem que dar ciência á outra. E não bastar dar ciência tem que abrir prazo pra ela, pra que ele tenha oportunidade de defesa. Mas tem duas coisinhas que eu queria falar pros senhores: a primeira é o seguinte: eu falei que o indiciado é um objeto de investigações,ele não é sujeito de direitos. Mas a ministra Ellen Grace, do Supremo falou o seguinte: ”Isso não está muito certo não. Ele realmente é um objeto de investigações,mas ele tem alguns direitos. Primeiro,o seu direito de permanecer em silêncio, e uma das decorrências é não produzir prova contra si mesmo”. Fica atento que o direito de permanecer em silêncio é chamado pela doutrina de NEMO TENETUR SE DETEGERE. Esse principio diz que o réu não pode ser obrigado a produzir provas contra si mesmo. O réu é obrigado a participar da produção simulada dos fatos? Onda está a reprodução simulada dos fatos? No art. 7º do CPP. “O Nardoni na época do crime dele foi obrigado a participar da reprodução simulada dos fatos?” Não. NEMO TENETUR SE DETEGERE. Ele não é obrigado a gerar provas contra si mesmo. “Parei numa blitz, enchi a cara de cachaça. Eu sou obrigado a soprar no bafômetro?” É controvertido, mas a principio, o que você pode argüir: NEMO TENETUR SE DETEGERE. O problema, se você beber você não vai lembrar-se de falar isso. E se lembrar e falar, o policial vai achar que está falando línguas estranhas e argumentar: “esse cara ta bêbado mesmo, tá falando línguas estranhas. Ele não tá bêbado, tá com o diabo no corpo, tem que ser exorcizado” Qual é a regra? O indiciado é sujeito de direito ou objeto de investigações? No Inquérito Policial, é objeto de investigações. Mas a ministra Ellen Gracie fala o seguinte: “ele também tem alguns direitos: o direito de permanecer calado, de não produzir provas contra si mesmo, respeito á sua imagem perante á sociedade e o principal, respeito á dignidade da pessoa humana.” Então Inquérito Policial tem contraditório? Não. O Inquérito Policial produz provas? A principio não. Mas eu posso produzir sim, quando eu estiver falando de uma prova irrepetível. Raciocina comigo. Eu acabei de falar pra você que não há contraditório, então eu não produzo provas. Eu falei que persecutions crimis é o Inquérito Policial mais ação penal. Aqui eu sei que não produzo provas: Inquérito Policial. Aqui eu sei que produzo: Ação Penal. Em que hipótese eu produzo provas no Inquérito Policial? Se essa prova for irrepetível, quando ela não pode ser produzida novamente na ação penal. Se uma testemunha for ouvida no Inquérito Policial, ela deve ser ouvida novamente na ação penal? Claro. Isso é prova repetível. Agora o que é importante você saber é o seguinte; existem algumas provas que não podem ser produzidas novamente. Exemplo, existe uma prova que eu só posso produzir no Inquérito Policial: exame de corpo de delito. Se eu faço um exame de corpo de delito; saí,briguei,levei uma paulada na cabeça; isso é materialidade do crime. O delegado vai fazer o que? Exame de corpo de delito. E isso não vai ser feito na ação penal, mas no Inquérito Policial, muitas vezes até mesmo antes disso. Eu posso fazer novamente na ação penal? Impossível. Se ela for daqui a seis meses, um ano, minha cara já está perfeita. Eu devo já produzir provas lá no Inquérito Policial? Sim, esse exame de corpo de delito vai ser feito lá no Inquérito Policial, porque eu não posso repetir essa prova. O contraditório vai ser postergado nesse caso, vai ser prorrogado, vai ser diferido. Provas irrepetíveis são provas que eu tenho que colher logo, porque no futuro eu não vou fazer. Então eu produzo logo no Inquérito Policial. É uma prova, mesmo sem contraditório naquele momento, mas terá no futuro, numa eventual ação penal. Eu posso contradizer questionar aquela prova? Posso. E existe até outra prova, que essa é uma particularidade chamada prova inaudita altera pars. O que vem a ser isso? In=não. Audita=ouvir. Sem ouvir a outra parte. Você nunca se questionou? Uma interceptação telefônica é feita sem ouvir a outra parte. Eu produzo no Inquérito Policial, até mesmo antes, desde que haja um procedimento prévio, mesmo que informal ou administrativo. São provas
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