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FASES DO DESENVOLVIMENTO ADULTO Bruna de Oliveira Moraes Juliana Moraes Almeida Lilian Mariano Castanho A estudiosa da vida adulta, Gail Sheehy, divide a vida em passagens, sendo elas: Os Penosos 20 anos, O Ardil 30 anos, Revisão dos 35 anos, Aprovação dos 40 anos e Renovação. Em seu livro: “Passagens, crises previsíveis da vida adulta” Sheehy declara que antes de ler sobre as teorias do desenvolvimento de Erick Erikson, Margaret Mead e outros autores, tinha uma visão fragmentada do ciclo da vida do ser humano , porém a partir desses teóricos constatou que o que tinha escrito até o momento, não era muito mais do que mostrar as pessoas movendo – se no tempo. A partir dessa constatação, ela se sentiu motivada em escrever de uma maneira diferente sobre as pessoas. As pesquisas realizadas através de vários materiais, como estatísticas, histórias e registros, fez com que ela começasse a sintetizar tudo e a pensar na generalização das pessoas durante o ciclo da vida, formando posteriormente uma composição coerente das fases que envolvem o ser humano. Seu livro foi baseado em entrevistas que realizou com um grupo de reguladores nos EUA, sendo esse um grupo de pessoas saudáveis e motivadas, que começaram a vida na classe média ou que nela ingressaram, tendo antes uma vida na pobreza ou até mesmo em guetos. Sheehy relata que “o período entre os 18 e os 50 anos é o centro da vida e a fase de maiores oportunidades e máxima capacidade”, segundo ela seu livro Passagens, fala sobre as mudanças previsíveis e contínuas na vida adulta e se posiciona contrária a muitos autores que ao falar do adulto, relatam apenas problemas. Ao escrever esse livro, a autora propôs três objetivos: localizar as mudanças interiores do indivíduo; comparar os ritmos de desenvolvimento entre homens e mulheres; examinar as crises previsíveis para os casais. A primeira fase da vida adulta compreende dos 20 aos 30 anos, é classificada pela autora como os "Penosos Vinte Anos". Nesta fase o adulto está cheio de energia, acabando de passar pela transição da adolescência para a vida adulta. O indivíduo está em um estado de êxtase, onde tem consciência de suas potencialidades e tem um ego forte, que orienta suas capacidades. Esse estado é descrito pela autora como um ganho de autenticidade. Os vinte anos são os primeiros passos para a independência, e o indivíduo tem que provar a sua competência perante a sociedade. Nessa fase existem várias tarefas que são ao mesmo tempo excitantes e penosas, é o início de preparação da vida para o trabalho e para dar forma a um sonho que está começando a se pensar. Uma característica importante dessa fase é que o indivíduo acredita que todas as decisões são irrevogáveis, ou seja, que suas opções serão para o resto da vida. Isso acontece porque nas fases antecessoras, ele não teve a experiência de mudar de opção. Sempre dois impulsos atuam nesse período, o primeiro é um sentimento de construir uma estrutura sólida e firme para o futuro e o segundo é à vontade de experimentar e explorar qualquer estrutura provisória e reversível. Para que a pessoa tenha opinião dela mesma ao final desse período e que consiga compensar essas atitudes durante uma vida provisória, é necessário que haja um equilíbrio desses impulsos. Nessa fase por mais que o indivíduo exiba aptidões e tenha bastante energia para entrar no mercado de trabalho, ainda persistem os medos secretos que estão guardados no interior de cada um. É na fase dos vinte anos que a maior parte das mulheres começam a se decidir qual modelo de vida vão seguir. Os modelos de vida femininos são abordados pela autora, começando dos mais comuns entre as mulheres e terminando nos experimentais, que são os modelos em que elas ousam mais e que experimentam vivenciar a vida de maneira diferente da tradicional. Os modelos são: Dispensadoras, Ouou, Nutrizes que adiam as realizações, Realizadoras que adiam as nutrições, Integradoras, Mulheres que nunca se casam e Inconstantes. As Dispensadoras se casam aos vinte anos. Elas vivem para amar, amparar e realizar qualquer ambição pessoal através de outra pessoa, geralmente carregam os sonhos do marido como metas a alcançarem em suas vidas e não pretendem ir além do papel doméstico nessa época. As Ouou são mulheres que aos vinte anos acreditam ser capazes de ter apenas uma escolha, ficando elas entre o amor e filhos, ou trabalho e realização pessoal. A partir dessas escolhas, essas mulheres podem ser classificadas em dois tipos: nutrizes que adiam as realizações, elas adiam a vida profissional para se casarem e dedicarem à família, e mais tarde pretendem dedicar-se a uma atividade extra familiar; e as realizadoras que adiam as nutrições, adiam a maternidade e o casamento para se dedicarem primeiro a sua preparação profissional. As Integradoras tentam combinar maternidade, casamento e profissão. Na década dos trinta anos, elas podem ter experiências de confianças suficientes para integrarem todas as suas prioridades concorrentes. As mulheres que nunca se casam são as paranutrizes e “esposas de escritório”, segundo a autora, que dedicam suas vidas aos cuidados de homens públicos e políticos que voltam as suas criatividades para “filhos do mundo”, essas mulheres geralmente são profissionais da área da saúde e educação. E as Inconstantes escolhem aos vinte anos manter suas opções em aberto, sem comprometimentos, onde ampliam e vagueiam por relacionamentos sexuais, carreiras profissionais e espaços geográficos. O "Ardil-30 anos" é a segunda fase da vida adulta. Nesta fase a autora relata ser frequente às sensações de restrições profissionais e pessoais. Explica que os sentimentos vivenciados pelo indivíduo ao aproximar dos 30 anos, derivam das escolhas feitas aos 20 anos, pois embora possam ter sido apropriadas naquela idade, já não se encaixam no momento atual. Em virtude disso, começam as percepções de alguns aspectos internos como novas escolhas, que não foram possíveis perceber na década anterior. Esses aspectos podem ser vivenciados lentamente ou abruptamente, dependendo dos desejos a serem conquistados. Uma das reações comuns nessa transição para os 30 anos é a de destruir tudo o que se construiu durante uma boa parte dos 20 anos, essa reação pode significar a busca de uma outra alternativa. Isso ocorre porque tais mudanças não significam a modificação das aparências externas, ou seja, por um lado o indivíduo tem mais certeza sobre si mesmo e por outro lado começa a ver e ouvir algumas influências do meio em que vive e reconhecê-las aos poucos. Começamos a relaxar a guarda, a porta de ferro que tentamos fechar contra o ambivalente vigia anterior, quando queríamos provar a força que nossa identidade era fruto exclusivo de nossa própria inspiração, esta porta agora começa a ceder. (SHEEHY, 1998, p. 192). Nesse processo de desenvolvimento o desafio consiste em escolher as qualidades que o adulto deseja reter dos modelos infantis, fundi-las com as qualidades e capacidades que distinguem o homem como indivíduo e formar um novo conjunto. Talvez esse desejo de mudança do que foi planejado na década que passou, esteja no amadurecimento que o indivíduo teve aos longos desses anos, podendo agora com maturidade decidir seu projeto de vida. Para falar da "revisão dos 35 anos", que é a terceira fase da vida adulta a autora faz uma diferenciação entre os gêneros. Abordando sobre as dificuldades e vantagensda figura do sexo feminino, ela relata que as mulheres chegam nessa encruzilhada mais cedo que os homens, a percepção da “corrida do tempo” por volta do 35 anos provoca nas mulheres antecipadamente uma urgência com a sensação de última oportunidade para rever seus projetos de vida. Essa urgência é mais ou menos intensa dependendo do modelo de vida que ela seguiu até o momento. Aos trinta e cinco anos, a mulher revê seus papéis sociais e algumas opções que já fez comparando-os com o que não conseguiu realizar e com aqueles que o futuro previsível a impossibilitará, devido ao envelhecimento ou outro fator biológico. Em virtude desse declínio físico, a mulher entra em uma fase delicada para infidelidade, pois tem a ideia de que “esta é minha última oportunidade de ter um romance antes de eu ficar feia”. (SHEEHY, 1998, p. 356). Essa fase pode ser considerada uma fase de libertação, onde muitas vezes mulheres que são submissas se veem em um momento de transformação e de mudanças, dando novos rumos a sua vida. Para que essa crise de autenticidade seja superada é necessário que a mulher reavalie seus propósitos e passe a ter uma nova visão de como se portar de agora em diante. Em relação às mulheres americanas casadas, é aos trinta e cinco anos que muitas voltam ao mercado de trabalho e esperam fazer parte da força de trabalho nos próximos vinte e quatro anos, a maioria delas trabalham para ajudar o marido a manter um determinado padrão de vida ao que a família está acostumada. As mulheres que tem mais de trinta anos enfrentam dificuldades na reinserção ao mercado de trabalho, e muitas delas que já estão casadas e com filhos conseguem exercer funções que não são tão prestigiosas como as que tinham antes de casar. Aos trinta e cinco anos a fronteira biológica fica presente, é nessa fase que ocorre o fim dos anos fecundos, a mulher nutriz que deixou a gravidez de lado, vê o seu tempo se esgotar e a mulher realizadora que ainda não se casou têm que enfrentar a questão da maternidade. Muitas mulheres solteiras entre trinta e cinco e trinta e nove anos preferem optar pela adoção e outras que são profissionais solteiras se apaixonam pela experiência de estarem grávidas. Segundo a autora, algumas crenças, relatam que após os trinta e cinco anos ter um filho se torna arriscado, não é recomendado. Após uma consulta a várias fontes, a autora informa que o único risco é do bebê nascer com Síndrome de Down e cita outros autores que apontam o principal fator de risco da gravidez aos trinta anos ou mais, que está voltado ao cuidado médico inadequado e ao baixo nível sócio econômico do que a própria questão da idade. Alguns especialistas americanos dizem que “com bom cuidado obstétrico, não deve haver diferença entre mulheres com quarenta anos e mulheres com menor idade”. (Dr. Raymond L. V. Wiet, apud, Sheehy, 1998, p.362). As mulheres que engravidam pela primeira vez aos trinta cinco anos ou mais são chamadas de primogesta idosa e na pesquisa realizada pela autora geralmente são divorciadas, não tem filhos e se casam outra vez aos trinta e oito ou trinta e nove anos. Na quarta fase da vida adulta: "Aprovação dos 40 anos" também se percebe diferença entre os gêneros, nessa fase a autora dá mais ênfase as dificuldades e vantagens da figura do sexo masculino. Gail relata que a maioria dos homens reagem com o aumento da velocidade na corrida pela conquista de posição profissional, sendo a última chance de se destacar no rebanho. Sheehy (1998) acredita que em nossa sociedade, completar 40 anos é para o homem um acontecimento balizador por si só. Por costume, como se ele fosse mercadoria numa prateleira de saldos, será desdenhado por seus empregadores e silenciosamente terá seu valor remarcado para cima ou para baixa, recalcificado numa nova categoria por seus seguradores, rotulado por seus competidores. (SHEEHY, 1998, p. 372). Sendo as pirâmides como são no mundo profissional, a maioria dos homens terão de reajustar para baixo seus sonhos, variando a intensidade do ajuste. Isso não significa que tenham de se flagelar por serem medíocres. Na verdade, isso pode salvá- los de futuras esperanças frustradas e incitá-los a encontrar repouso numa segunda carreira ou em outra maneira de trabalhar dentro da ocupação original que proporciona mais sentido. É nessa fase que o homem começa a perceber e ter consciência que está ocorrendo um declínio biopsicossocial e que junto com ele vêm rótulos e críticas da sociedade que acabam influenciando o modo de pensar sobre si próprio. Em relação à mulher, essa fase é caracterizada por uma busca em renovar seus objetivos nessa segunda metade da vida, isso não se dá através de uma dispensação de cuidados, mas sim pela manifestação de algumas ambições passadas pelo cultivo de talentos semi-acabados e uma certa agressividade a favor de suas convicções. Se essa busca ocorresse na primeira metade da vida, essa seria a favor de outra pessoa e não de si própria. O conceito da generatividade na mulher nessa fase da vida, se dá quando ela perde o poder de procriação e acaba se sentindo obrigada a reorientar as suas energias, tendo uma nova criatividade, e “qualquer que seja a atividade que uma mulher deseja a seguir, ela dá mais de si mesma a essa atividade do que jamais fez do que quando ainda estava aberta a opção de reproduzir –se”. (SHEEHY, 1998, p.401). Com isso, a mulher tende a cada vez mais, se interessar pelas gerações futuras, como também se despertar para movimentos nacionais, reformas políticas e outras questões sociais. Em resumo, o homem tem como luta na meia idade derrotar a estagnação através da generatividade e a mulher busca a independência através da auto – afirmação. A "Renovação" é a última fase na classificação de Gail, num determinado ponto, em meio aos 40 anos o equilíbrio é recuperado pelo fato de atingir uma nova estabilidade, podendo ser mais ou menos satisfatória. A principal virtude dessa idade está associada à experiência, é ela quem vai decidir se a pessoa assume um sentimento de resignação e passa a encarar tudo como abandono ou provoca uma reavaliação das suas verdades privadas durante a passagem da meia idade. Na segunda opção o indivíduo pode modificar muitas suposições e ilusões que tivera na juventude, isso faz com que o indivíduo tenha uma grande possibilidade de enfrentar problemas e eventuais mudanças que possam ocorrer em sua vida. Essas duas possibilidades que a experiência traz ao indivíduo, é que vão determinar se esses serão os melhores ou piores anos da fase em que se encontra. Aos 50 anos as amizades são extremamente importantes para o indivíduo, mas a privacidade também tem um grande valor, o lema desse estágio segundo Sheehy poderia ser "Daqui para frente, nada de besteiras". A coragem de dar novos passos permite-nos abandonar cada estágio com suas satisfações e encontrar as novas respostas, que liberarão a riqueza do estágio seguinte. (SHEEHY, 1998- p. 482). Conforme verificado no texto a autora dá ênfase e dedica-se apenas a vida adulta, que segundo ela é pouco estudada pelos pesquisadores. Sheehy em sua pesquisa descreve as mudanças que ocorrem com os homens e as mulheres na vida adulta de uma forma padronizada e sem interferência do meio, SHEEHY, G. “Passagens, crises previsíveis da vida adulta”, 1998, New York, Editora Francisco Alves. Lilian Mariano Castanho
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