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CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 1 AULA 9: VIGÊNCIA ESPACIAL E VIGÊNCIA TEMPORAL 7. VIGÊNCIA ESPACIAL E VIGÊNCIA TEMPORAL. O assunto vigência, em Direito Tributário, é bastante simples, e as questões que o envolvem, quando aparecem em concurso, não são nem um pouco difíceis. Divide-se o estudo da vigência das leis em dois segmentos: vigência espacial e vigência temporal. Falemos um pouco sobre elas. VIGÊNCIA ESPACIAL O estudo da denominada vigência espacial atém-se à perquirição do território abrangido pela norma, do território em que ela vigora, podendo incidir e ser aplicada. É extremamente simples. A regra é a legislação tributária estar submetida ao denominado princípio da territorialidade. O que diz esse princípio? Diz que a legislação tributária tem vigência, portanto é aplicável, no território da pessoa política que a editou. Como vivemos em uma Federação, as leis e atos normativos da União têm vigência e aplicação em todo o território nacional; as leis e atos normativos do Estado do Rio de Janeiro têm vigência e aplicação no território desse Estado; as leis e atos normativos do Município de Curitiba têm vigência e aplicação no território desse Município; e assim por diante. Só isso. Vocês devem ter percebido que eu afirmei que o princípio da territorialidade, em matéria de vigência espacial da legislação tributária, é regra geral. Por quê? Porque o CTN, no seu art. 102, admite, excepcionalmente, a extraterritorialidade. E o que significa extraterritorialidade? Significa vigência e aplicação da lei (ou outro ato normativo) de uma pessoa política no território de outra. Diz o art. 102 do Código: “Art. 102. A legislação tributária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios vigora, no País, fora dos respectivos territórios, nos limites em que lhe reconheçam extraterritorialidade os convênios de que participem, ou do que disponham esta ou outras leis de normas gerais expedidas pela União.” Dá para perceber que a redação desse artigo é um tanto enviesada. Em vez de afirmar expressamente que a regra, em matéria de vigência espacial, é a territorialidade e, em outro dispositivo, dizer que a extraterritorialidade é admitida excepcionalmente, desde que prevista em leis de normas gerais expedidas pela União ou em convênios, o CTN estabeleceu explicitamente apenas esta última regra, deixando para a interpretação a contrario sensu o princípio da territorialidade. De qualquer forma, o que importa saber sobre vigência espacial da legislação tributária é: 1) Como regra, a vigência espacial observa o princípio da territorialidade. CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 2 2) Excepcionalmente, admite-se a extraterritorialidade no Direito Tributário, isto é, a vigência e aplicação da lei de uma pessoa política no território de outra. 3) Para que ocorra a extraterritorialidade é necessário que ela seja prevista em: a) convênios de colaboração celebrados entre as pessoas políticas (são os convênios integrantes das denominadas normas complementares tributárias, que estudamos ao vermos o assunto “legislação tributária”); ou b) leis de normas gerais tributárias (que, atualmente, têm que ser leis complementares, por força da reserva constante do art. 146, III, da Constituição). É interessante notar que o CTN, no art. 102, fala que a extraterritorialidade pode ser reconhecida em outras leis de normas gerais expedidas pela União, ou nele próprio. Portanto, deve haver algum artigo em que o próprio CTN trate de extraterritorialidade. O único artigo do CTN que, em minha opinião, pode ser enquadrado como previsão de vigência espacial extraterritorial é o art. 120, que diz: “Art. 120. Salvo disposição de lei em contrário, a pessoa jurídica de direito público, que se constituir pelo desmembramento territorial de outra, subroga-se nos direitos desta, cuja legislação tributária aplicará até que entre em vigor a sua própria.” É uma regra muito simples, que quase nunca aparece em concurso. A hipótese a que ela se refere é a seguinte: o Município “X” sofre um desmembramento, dando surgimento a um novo município (Município ”Y”). Pois bem, esse novo município não vai nascer, evidentemente, já com todo um ordenamento jurídico municipal editado pelo seu próprio Poder Legislativo (que nem existia, até aquele momento). Portanto, enquanto não edita suas próprias leis tributárias, têm vigência no território do Município “Y” as leis do Município “X”, que são aplicadas pelo Município “Y” como se fossem dele mesmas. Essa é, a meu ver, a única disposição existente no CTN que poderíamos dizer que reconhece uma hipótese de extraterritorialidade na vigência e aplicação da legislação tributária. Passemos à vigência temporal. VIGÊNCIA TEMPORAL A questão objeto do estudo da vigência temporal é, simplesmente: quando começa a lei a viger? É uma questão importante, porque, como já afirmei algumas vezes, uma lei não pode começar a produzir efeitos enquanto não houver iniciado a sua vigência. Uma lei pode até ter aplicação retroativa, como veremos adiante, mas mesmo essa aplicação retroativa somente poderá ocorrer a partir do instante em que a lei iniciar sua vigência. Para o estudo da vigência temporal, devemos, atentar, antes de mais nada, para o art. 101 do CTN, que diz: CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 3 “Art. 101. A vigência, no espaço e no tempo, da legislação tributária rege-se pelas disposições legais aplicáveis às normas jurídicas em geral, ressalvado o previsto neste Capítulo.” Portanto, não existindo regra específica de vigência no CTN, aplicam-se as regras gerais. Onde estão elas? Interessa, para nós, somente o art. 1º, e seu § 1º, da Lei de Introdução ao Código Civil (LICC), a saber: “Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. § 1º Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.” Não vale tecermos nenhum comentário sobre o § 1º do art. 1º da LICC. Quando a lei brasileira deva ser aplicada em outro país, sua vigência só se inicia três meses (não marquem como verdadeira uma questão que fale 90 dias, a menos, é claro, que as outras alternativas sejam indiscutivelmente erradas), contados da data de sua publicação. Já o caput do art. 1º da LICC tem maiores probabilidades de ser útil em alguma questão. É bastante simples, e estabelece a regra geral de vigência temporal das leis no Brasil. É ela a seguinte: em princípio, a lei pode estabelecer em seu próprio texto quando se inicia sua vigência. Se a lei não disser nada acerca do início de sua vigência (diz-se que a lei é omissão quanto à vigência, ou que não contém cláusula de vigência), esta se inicia em 45 dias, contados de sua publicação. Pois bem, vista a regra geral, resta ainda saber que outras leis podem estabelecer regras específicas de vigência para determinados assuntos. No caso do Direito Tributário, o CTN possui regras específicas de vigência da legislação tributária exclusivamente em seus arts. 103 e 104. O art. 103 do CTN estabelece regras de vigência para os atos integrantes das denominadas normas complementares tributárias, previstas em seu art. 100, já estudado. Vejamos suas disposições: “Art. 103. Salvo disposição em contrário, entram em vigor: I - os atos administrativos a que se refere o inciso I do artigo 100, na data da sua publicação; II - as decisões a que se refere o inciso II do artigo 100, quanto a seus efeitos normativos, 30 (trinta) dias após a data da sua publicação; III - os convênios a que se refere o inciso IV do artigo 100, na data neles prevista.”Os seguintes comentários devem ser feitos: 1) O caput do art. 103 começa com a expressão “salvo disposição em contrário” (diz-se que as normas que contêm essa ressalva são normas dispositivas, em contraposição às normas ditas cogentes ou imperativas). Portanto, as regras nele previstas só serão aplicadas se não houver alguma outra norma estabelecendo regra diversa. Por exemplo, uma instrução normativa pode conter um artigo CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 4 afirmando: “Esta Instrução Normativa entra em vigor em 60 (sessenta) dias, contados de sua publicação”. Se ocorrer algo assim, o ato entrará em vigor na data nele prevista, por se tratar de “disposição em contrário”. 2) O art. 103 não estabelece nenhuma regra de vigência para as “práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas” (praxe administrativa), previstas no art. 100, III, do CTN. Isso é bem óbvio, pelo motivo elementar de que não existe possibilidade de determinar a data em que se iniciou a vigência de nenhuma espécie de costume, seja de costume social, seja de costume administrativo (praxe administrativa). Portanto, não cabe mesmo cogitar de data de início de vigência de “práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas”. 3) A regra do inciso III do art. 103 é totalmente inútil. Porque, quando os convênios estabelecerem a data de início de sua vigência, já valeria, de qualquer forma, o que eles mesmo estabeleceram, uma vez que o art. 103 contém a ressalva “salvo disposição em contrário”. Se os convênios de colaboração nada disserem acerca do início de sua vigência, simplesmente ficamos sem nenhuma regra para aplicar! Incrível, não?! Não se preocupem em inventar regra; não há mesmo nenhuma a ser aplicada (parte da doutrina defende que, nos casos em que os convênios nada disserem acerca do início de sua vigência, deve ser aplicada a LICC, ou seja, considerar que a vigência se inicia em 45 dias, contados da publicação do convênio; não há, entretanto, nenhum consenso quanto à solução a ser adotada). Falemos um pouco, para finalizar este tópico, sobre o art. 104 do CTN. Existe unanimidade na doutrina e na jurisprudência de que estão revogados os incisos I e II do art. 104. A regra constante desses incisos era incompatível com a Constituição de 1969, que tratava o princípio da anterioridade como uma norma relacionada à vigência das leis. Como, no Brasil, a não recepção implica revogação da lei, esses incisos foram revogados pela Constituição pretérita, e não têm sua vigência restaurada, mesmo que sejam compatíveis com as Constituições futuras. Além disso, o STF já afirmou, diversas vezes, sob a Constituição de 1988, que uma lei que institua ou aumente qualquer tributo pode ter vigência imediata, se assim dispuser em seu próprio texto. O que não pode é produzir efeitos imediatos, se estiver sujeita à observância do princípio da anterioridade (devendo- se verificar, também, depois da EC42/2003, se deve ser aguardada a noventena). Apesar de tudo o que eu disse acima, vale sempre a ressalva: diante de uma questão de concurso que apareça com o famoso “nos termos do CTN” e reproduza literalmente os incisos do art. 104, minha opinião é que devemos marcar como verdadeira (salvo, evidentemente, se houver alguma outra alternativa que seja com certeza “mais correta”, ou “menos errada”). Não há como fugir desses problemas! A situação do inciso III do art. 104 é diferente. Ele simplesmente estabelece a seguinte regra de vigência obrigatória: os dispositivos de lei, referentes a impostos sobre o patrimônio ou a renda, que extinguem ou reduzem isenções, entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que ocorra a sua publicação, salvo se a lei dispuser de maneira mais favorável ao contribuinte. CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 5 Não se trata de aplicação do princípio da anterioridade na revogação de isenções. Segundo o STF, na revogação de isenções não se está diante de estabelecimento de nova hipótese de incidência, por isso, não se deve cogitar de observância da anterioridade (anterioridade, lembrem, não é regra de vigência, mas refere-se tão- somente à produção de efeitos pela lei). O art. 104, inciso III, apenas tem uma regra obrigatória de vigência mínima, que só é aplicável às isenções de impostos sobre o patrimônio ou a renda: a lei que revogue total ou parcialmente alguma dessas isenções só pode entrar em vigor, no mínimo, em primeiro de janeiro do ano seguinte (é “no mínimo” porque a própria lei pode trazer em seu texto uma regra de vigência mais favorável, caso em que será ela a aplicável). O art. 104, inciso III, nunca foi incompatível com qualquer Constituição pretérita, nem é incompatível com a CF/88. Além disso, como já frisei várias vezes, as bancas CESPE e ESAF são muito conservadoras (principalmente a ESAF), adotando com muita freqüência o texto literal do CTN. Por esses motivos, minha opinião é que sempre devemos marcar como verdadeira uma afirmativa que reproduza esse dispositivo, atentando sempre que se trata de uma regra mínima de vigência e se aplica só a revogações de isenções de impostos sobre o patrimônio ou a renda. Sobre vigência é isso. Estudemos, agora, a aplicação da legislação tributária. APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA O assunto deste tópico está todo concentrado nos arts. 105 e 106 do CTN. A rigor, já falamos um pouco sobre aplicação da legislação tributária, quando estudamos o princípio da irretroatividade. São assuntos intimamente relacionados. No CTN, o art. 105 estabelece a regra geral de aplicação – aplicação prospectiva e imediata –, e o art. 106 as únicas exceções, as hipóteses em que ocorre aplicação retroativa. Vejamos os artigos. “Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja completa nos termos do artigo 116.” A regra geral de aplicação da legislação tributária, portanto, é: a) aplicação prospectiva Significa que a legislação nova não alcança os fatos já concluídos antes do início da sua vigência. b) aplicação imediata Significa que a legislação nova alcança os fatos pendentes, ou seja, aqueles que já tiveram início, mas ainda não estão concluídos. Com relação a essa regra – a legislação nova alcançar os fatos geradores pendentes –, temos que se observar que isso só é possível quando ela não estiver sujeita ao princípio da anterioridade do exercício financeiro e à noventena. Por exemplo, uma lei que reduza a alíquota de um tributo sempre vai poder alcançar os fatos geradores pendentes, porque não CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 6 se cogita de anterioridade do exercício financeiro ou de noventena nos casos de redução de tributos. Imaginem, portanto, a prestação de um serviço que demore dois meses para ser concluído. Imaginem que, já iniciada a prestação do serviço, é publicada uma lei municipal reduzindo o ISS de 3,5% para 3,0%. Quando o serviço for concluído (momento em que se considera ocorrido o fato gerador), a alíquota de ISS incidente será a de 3,0%. A lei nova, no nosso exemplo, terá alcançado o fato gerador pendente. Se a lei tivesse sido publicada, digamos, em junho, e tivesse aumentado alíquotas de ISS, evidentemente só poderia alcançar os fatos geradores ocorridos depois de 1º de janeiro do ano seguinte e os fatos geradores que estivessem pendentes em 1º de janeiro. Não poderia alcançar, entretanto, os fatos geradores já concluídos até 31 de dezembro, porque o princípio da anterioridade impedia a produção de seus efeitos antes de 1º de janeiro. Vejamos, agora, as exceções à regra geral de aplicaçãoda legislação tributária, ou seja, as hipóteses em que a lei é aplicada retroativamente. “Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; II - tratando-se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.” Portanto, a lei tributária é aplicada retroativamente: 1) quando é expressamente interpretativa Uma lei interpretativa, teoricamente, não modifica nada ano ordenamento jurídico. Ela possui os chamados efeitos declaratórios (não constitutivos). A lei expressamente interpretativa tem sua aplicação desde a data de início da vigência da lei interpretada. Imaginemos o exemplo. Foi publicada a Lei 1, dizendo: “Na hipótese X, incide o tributo Y à alíquota de 15%”. Imaginemos que exista uma dúvida geral quando ao enquadramento, ou não, de uma situação A na hipótese X. Imaginemos, ainda, que, se a situação A estiver enquadrada na hipótese X, estará sujeita à alíquota de 15%; se não estiver enquadrada, a alíquota aplicável será de 10%. Para não complicar nosso exemplo, imaginemos que o tributo Y não seja sujeito nem à anterioridade nem à noventena. Alguns meses depois de publicada a Lei 1, o Congresso Nacional, percebendo a dúvida reinante, publica uma Lei 2, expressamente interpretativa, esclarecendo CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 7 apenas que a situação A enquadra-se na hipótese X. Quais as conseqüências dessa Lei 2? Como ela é expressamente interpretativa, aplica-se desde o início da vigência da Lei 1. Assim, todos os contribuintes que vinham entendendo que a situação A não se enquadrava na hipótese X, terão que pagar a diferença de tributo desde o início da vigência da Lei 1, porque estavam aplicando uma alíquota de 10% e a lei interpretativa esclareceu que a alíquota aplicável é de 15%. Pagarão, entretanto, só a diferença de tributo, mas não estarão sujeitos a nenhuma penalidade (multas). Por quê? Porque a parte final do art. 106, I, do CTN, determina, cabalmente, que fica “excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados”. 2) quando for mais benéfica a lei tributária nova que trate de infrações ou penalidades, desde que se esteja diante de ato não definitivamente julgado. Em relação a essa segunda hipótese de aplicação retroativa, é fundamental atentar para estes pontos: a) só se aplica retroativamente a lei mais benéfica que trate de infrações ou penalidades. Não existe nenhuma regra geral prevendo aplicação retroativa de lei que reduza ou extinga tributo. b) mesmo no caso de lei mais benéfica que trate de infrações ou penalidades, só haverá aplicação retroativa para os atos não definitivamente julgados. O STF considera que um ato é não definitivamente julgado, para efeito de aplicação retroativa da lei benéfica prevista no art. 106, II, do CTN, enquanto existir possibilidade, para o sujeito passivo, de utilização de qualquer ação judicial visando a atacar o ato. Uma última observação. Alguns autores importantes entendem que existe uma contradição lógica entre as alíneas “a” e “b” do inciso II do art. 106 do CTN. Para eles, “deixar de definir como infração” e “deixar de tratar um ato como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão” são expressões sinônimas. Portanto, para esses autores, quando uma lei deixasse de definir algum ato como infração, não seria possível saber se ela deveria, ou não, retroagir quando o ato tivesse sido fraudulento ou tivesse implicado falta de pagamento de tributo. Vejam a redação das alíneas: “a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo;” Minha opinião é que o CTN pretendeu referir-se às infrações das obrigações tributárias principais na alínea “a”, e às infrações das obrigações tributárias acessórias na alínea “b”. Isso nunca aparece com esse grau de detalhamento em concurso. Mais uma vez, recomendo veementemente que vocês marquem verdadeiro para qualquer CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 8 questão que reproduza literalmente o texto legal, sem se preocuparem com a eventual existência de contradição lógica entre as alíneas “a” e “b” do inciso do art. 106. Aliás, se alguém for se preocupar com imperfeições no CTN vai ser obrigado a considerar inválidos diversos de seus dispositivos, o que não podemos fazer, de jeito nenhum, em questões objetivas de concursos públicos. Sobre este assunto é o que temos para ver. Passemos ao próximo. INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA O assunto “interpretação e integração da legislação tributária” é básico e faz parte de qualquer edital de concurso em que seja exigido conhecimento de Direito Tributário. Não é um tema sobre o qual haja muito motivo para nos preocuparmos. Não vejo grandes possibilidades de alguém elaborar uma questão difícil sobre este ponto. Não é nada comum uma lei conter regras de interpretação jurídica. Isso é assunto tratado pela doutrina, especificamente pelos estudiosos da ciência denominada “hermenêutica jurídica”. Apesar disso, o CTN trata de interpretação e integração no Capítulo IV do Título I de seu Livro Segundo, nos artigos 107 a 112. Como o art. 107 afirma que “a legislação tributária será interpretada conforme o disposto neste Capítulo”, somos levados a imaginar a existência de inúmeras normas de interpretação e de outras tantas sobre integração no CTN. A verdade, no entanto, é que o Código apenas traz umas poucas regras específicas, como veremos a seguir. O primeiro ponto que precisamos definir em nosso estudo diz respeito à diferenciação, bem nítida, que o CTN faz entre interpretação e integração. Adotando a terminologia do Código, falamos em “interpretação” quando existe um dispositivo legal (ou de qualquer ato normativo) aplicável a uma situação concreta, e o aplicador da lei procura definir o sentido e a abrangência da norma. O aplicador do Direito procede à pesquisa do conteúdo e do alcance da norma para estabelecer como deve dar-se a incidência no caso concreto. Referimo-nos a “integração” quando não existe norma específica aplicável ao caso concreto. A denominada integração é utilizada quando há uma omissão, quando há um vazio jurídico acerca de um caso determinado. Tecnicamente, diz-se que o aplicador do Direito constata a existência de uma lacuna. A integração consiste na utilização de uma série de métodos para o “preenchimento” dessa lacuna (os juristas gostam de utilizar a expressão “colmatar a lacuna”). Em resumo, na interpretação existe a norma aplicável ao caso concreto e o intérprete apenas define o sentido e o alcance da norma, para saber como se dá a sua incidência e quais são os seus efeitos. Na integração o aplicador do Direito vê-se diante de uma lacuna e soluciona o caso concreto mediante a utilização de métodos que suprem a omissão normativa. CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 9 Iniciaremos nosso estudo pela interpretação. Antes de vermos as regras do CTN acerca de interpretação, é bom estudarmos, rapidamente e sem grandes pretensões acadêmicas, algumas classificações doutrinárias. Começando pela classificação segundo a fonte, a interpretação pode ser: 1) Judicial: É a realizadapelos órgãos do Poder Judiciário na solução dos casos concretos a eles submetidos. É a interpretação realizada pelos juízes singulares e pelos tribunais, no exercício da jurisdição. A interpretação de uma norma jurídica repetidamente realizada em um mesmo sentido compõe a denominada jurisprudência. 2) Doutrinária: Também denominada interpretação científica ou teórica, é a que decorre da obra dos juristas e estudiosos da ciência do Direito. Essa forma de interpretação não tem força obrigatória, embora, inegavelmente, possua grande influência na jurisprudência e na própria elaboração das leis pelos órgãos competentes. 3) Autêntica: A interpretação autêntica, também denominada legislativa ou legal, é a emanada do mesmo Poder Legislativo que editou a norma interpretada. O Poder Legislativo de certa pessoa política, entendendo existir obscuridade em lei de sua autoria, edita outra lei a fim de esclarecer o verdadeiro sentido da anterior. Diz-se que essa segunda lei, chamada lei interpretativa, não inova o Direito, tendo, por isso, natureza meramente declaratória (e não constitutiva). Como veremos mais tarde, no Direito Tributário, a lei expressamente interpretativa tem aplicação retroativa, nos termos e limites estabelecidos no art. 106, inciso I, do CTN. Outra classificação diz respeito aos denominados métodos de interpretação. Segundo o método, a interpretação pode ser literal, lógica, sistemática, teleológica, histórica etc. Há uma enorme quantidade de métodos descritos pela hermenêutica. Veremos, muito sucintamente, apenas aqueles que penso poderem ter alguma utilidade para concursos públicos. 1) Gramatical: O método gramatical ou literal é o primeiro passo para a interpretação de uma norma. Consiste na pesquisa do significado das palavras utilizadas na norma jurídica. Como veremos, o CTN exige que determinadas normas tributárias sejam interpretadas literalmente. Apesar disso, há consenso na doutrina quanto ao fato de não ser possível interpretar-se adequadamente uma norma jurídica mediante utilização exclusiva do método literal. 2) Sistemático: O fundamento do método sistemático é a noção de que para compreender adequadamente uma norma é necessário ao intérprete compará-la com outras relativas ao mesmo assunto, ou a assuntos correlatos, verificando suas relações e a compatibilidade com o sistema jurídico no qual ela se acha inserida. Consiste, CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 10 pois, em confrontar a norma jurídica com outros dispositivos da mesma lei e com o conjunto do ordenamento jurídico, visando a harmonizá-la às normas de igual hierarquia e às de hierarquia superior. 3) Teleológico: O método teleológico tem como essência a idéia de que o interprete deve sempre procurar discernir os motivos da edição da norma e os fins a que ela se destina. Deve-se, segundo o método teleológico, sempre interpretar a norma considerando o seu fundamento e sua finalidade, o porquê e o para quê da lei. Como último critério de classificação, fala-se em interpretação conforme os efeitos (ou a amplitude de seus efeitos). Por esse critério, a interpretação pode ser: 1) Declaratória: A interpretação declaratória ou declarativa reconhece ao dispositivo interpretado conteúdo e sentido correspondentes exatamente ao que está em seu texto. A interpretação não estende nem restringe o texto da norma interpretada. Apenas o esclarece, dando-lhe um sentido que coincide exatamente com o de sua letra. 2) Extensiva: Diz-se extensiva a interpretação quando o intérprete conclui que a norma interpretada abrange casos que não estão nela previstos. O intérprete entende que a norma jurídica diz menos do que o legislador pretendeu dizer, e amplia o alcance de sua aplicação, a fim de possibilitar que ela produza os efeitos que deveria produzir. 3) Restritiva: Ocorre a interpretação restritiva quando a norma interpretada passa a abranger menos casos do que os que pareciam nela compreendidos. O intérprete dá às expressões da norma interpretada um conteúdo menos amplo, procurando reduzir a aplicação da lei. Com isso, terminamos essa parte acadêmica do estudo da interpretação jurídica. Prestem atenção em um aspecto: essas classificações que acabamos de ver são assunto inteiramente doutrinário, essencialmente teórico. É extremamente difícil elaborar exemplos de aplicação prática de métodos ou efeitos de interpretação de normas jurídicas. Não há muita alternativa a não ser ficarmos só com os conceitos e definições que procurei resumir. Passemos, agora, ao estudo, mais importante, das regras específicas constantes do CTN. DISCIPLINA ESPECÍFICA DA INTERPRETAÇÃO NO CTN Como eu havia comentado, o CTN tem pouquíssimas regras específicas de interpretação. Deve ficar claro que não existe uma regra geral de interpretação aplicável especificamente ao Direito Tributário, como existe, por exemplo, no Direito Penal. O Direito Penal segue como princípio geral o brocardo in dubio pro reo (na dúvida, adota-se a interpretação mais favorável ao réu). No Direito Tributário, não são válidas posições preconcebidas, como “na dúvida, contra o CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 11 fisco”, ou “na dúvida, contra o contribuinte”. As normas tributárias são interpretadas como as demais normas de Direito, somente cabendo utilização de alguma regra específica quando expressamente prevista no CTN. Pois bem, no capítulo dedicado a esse assunto, o Código só tem mesmo duas regras de específicas de interpretação. Comecemos por elas. INTERPRETAÇÃO LITERAL O art. 111 do CTN determina que seja interpretada literalmente a legislação tributária que disponha sobre suspensão ou exclusão do crédito tributário e sobre dispensa de obrigações acessórias. Transcrevo o artigo: “Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre: I - suspensão ou exclusão do crédito tributário; II - outorga de isenção; III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.” Observem que o inciso II do art. 111 é completamente redundante. A isenção, conforme expressamente estabelece o art. 175, inciso I, do CTN, é forma de exclusão do crédito tributário. Não se preocupem com isso. Para efeito de concurso público, não há qualquer dúvida quanto a ser a isenção classificada como hipótese de exclusão do crédito tributário. Se uma questão reproduzir literalmente o art. 111 do CTN, evidentemente marcamos verdadeiro. Se suprimir a outorga de isenção e falar em interpretação literal só nos casos de “suspensão ou exclusão do crédito tributário” e “dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias”, marcamos verdadeiro também, pois isenção é forma de exclusão do crédito tributário. A doutrina em geral alerta que esse art. 111 do CTN não pode ser tomado à risca (não pode, ele próprio, ser interpretado literalmente). Por quê? Porque todos são unânimes em afirmar que a interpretação literal não é adequada para ser utilizada como método exclusivo em nenhuma circunstância. Segundo os principais autores, o art. 111 do CTN tem como conseqüência a vedação à utilização da interpretação extensiva para a legislação que trata dos benefícios fiscais nele enumerados. Como a concessão de benefícios tributários deve ser, em tese, algo excepcional (porque a regra geral é a tributação de todos os que se enquadram na hipótese de incidência), as normas que os concedem não comportam extensão a casos não expressamente nelas previstos. INTERPRETAÇÃO BENÉFICA O art. 112 do CTN traz uma regra de interpretação inspirada no Direito Penal. Por isso, aliás, a regra do art. 112 só se aplica à legislação tributária que disponha sobre infrações e penalidades (essa legislação integra a subdivisão do Direito Tributário que algunsautores denominam Direito Tributário Penal). Diz o art. 112 do CTN: “Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto: CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 12 I - à capitulação legal do fato; II - à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos; III - à autoria, imputabilidade, ou punibilidade; IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação.” Como se vê, a regra consagra, no âmbito do Direito Tributário, o conhecido brocardo de Direito Penal in dubio pro reo. Os seguintes pontos devem ser frisados: 1) A interpretação benéfica (ou benigna, ou mais favorável) só pode ser aplicada em caso de dúvida. Quando o aplicador do Direito tiver certeza quanto ao enquadramento dos fatos, não se há de cogitar de interpretação mais favorável. Assim, se existirem duas lei que disciplinem infrações semelhantes, estando a autoridade tributária diante de um caso em que, dadas as circunstâncias e os elementos existentes, seria possível a incidência de qualquer das duas leis, enquadra-se a conduta naquela que estabeleça a penalidade menos gravosa. Da mesma forma, se a dúvida for quanto ao enquadramento ou não da conduta na lei que descreva a infração, deve-se optar pelo não-enquadramento. Diferentemente, caso não exista qualquer dúvida quanto a enquadrar-se a conduta como infração descrita em determinada lei, esta deverá incidir, não importa quão grave seja a penalidade nela cominada. 2) A interpretação benéfica só está prevista para dispositivos da legislação tributária que estabeleçam infrações ou cominem penalidades. Outras leis tributárias devem ser interpretadas como as demais normas jurídicas, sem utilização de posições preconcebidas. Não é correto afirmar que existindo dúvida, por exemplo, quanto ao enquadramento de um determinado produto na tabela de incidência do IPI deva-se adotar o enquadramento que resulte na menos alíquota de IPI. Repito, isso não é correto! A regra de interpretação benigna é exclusiva para leis que tratem de infrações e penalidades. A dúvida de nosso exemplo, quanto ao enquadramento do produto para efeito de incidência do IPI, deverá ser resolvida por qualquer método interpretativo que possibilite a obtenção de uma solução válida, não sendo possível estabelecer, de antemão, qual será o método adotado e a solução obtida; o que se pode afirmar, com certeza, é que é incorreta a idéia de que deverá ser adotada a menor alíquota de IPI, porque isso seria mais favorável ao contribuinte. Além das duas regras de interpretação que acabamos de ver, previstas nos arts. 111 e 112 do CTN, temos, fora do capítulo dedicado a interpretação e integração, uma outra regra, que iremos estudar agora. Trata-se da disposição constante do art. 118 do Código, a qual consubstancia um princípio comumente denominado “pecunia non olet”. PRINCÍPIO PECUNIA NON OLET Embora esteja situado fora do capítulo que trata de interpretação e integração, o art. 118 do CTN veicula uma outra regra própria de interpretação aplicável ao CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 13 Direito Tributário. Não é uma regra de interpretação de dispositivos da legislação tributária, mas, especificamente, de interpretação da definição legal da hipótese de incidência. Comecemos o estudo pela transcrição do art. 118: “Art. 118. A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se: I - da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos; II - dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos.” Como muitas vezes acontece, o legislador, com o intuito de esclarecer o conteúdo do dispositivo, tendo em vista o fato de que o CTN é uma lei de normas gerais, acabou fazendo uma enumeração casuísta dos aspectos que não devem ser levados em conta na interpretação da hipótese de incidência. Quando acontece algo assim, vocês, concursandos, precisam não só conhecer e entender a regra, mas, também, conhecer (e muitas vezes decorar) a enumeração constante do Código (porque as questões freqüentemente são literais). Pois bem. A regra do art. 118 do CTN é uma só, e não comporta exceções. É esta: para sabermos se um fato se enquadra ou não na hipótese de incidência de uma lei que disciplina um tributo, devemos levar em conta exclusivamente os elementos constantes da norma legal. Nenhum outro elemento deve ser considerado para verificarmos se ocorreu o fato gerador e, portanto, se nasceu a obrigação tributária. O exemplo mais simples de aplicação desse art. 118 concerne à hipótese de incidência do imposto de renda. Qual é ela? Simplificando, é “auferir renda ou proventos de qualquer natureza”. Nada mais. A hipótese de incidência não diz “auferir renda proveniente de atividades lícitas”, ou algo assim. Portanto, nos termos do CTN, verifica-se se ocorreu ou não o fato gerador sem levar em conta (abstraindo-se de) qualquer outro elemento que não seja a obtenção de renda ou proventos (nos termos do CTN, art. 43, renda é o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos, e proventos são quaisquer acréscimos patrimoniais que não resultem do trabalho ou do capital). Para não usarmos um exemplo muito dramático, tipo o de um traficante de drogas, imaginemos o exercício irregular da medicina. Um sujeito, sem ter diploma regular de médico, atende em seu consultório diversas pessoas e, evidentemente, cobra pelas consultas. Pois bem, ao receber o pagamento pelas consultas, resulta configurado, ou não, o fato gerador do imposto de renda? Mesmo que alguém pretendesse dizer que o dinheiro pago não foi resultado do trabalho (se quisesse entender que só se pode falar em trabalho quando a atividade é lícita e regular) e que, portanto, não pode ser considerado renda, teria que reconhecer que não há como deixar de enquadrá-lo como provento. CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 14 Entenderam? Não significa que a hipótese de incidência corresponda à descrição de uma atividade ilícita. Isso nunca! O que ocorre é que a lei, em sua hipótese de incidência, simplesmente descreve um fato econômico neutro e o aplicador da lei não pode levar em conta nenhum elemento que não esteja descrito na hipótese legal. Dessa forma, não importa se a aquisição de renda decorre de ato ilícito, qualquer que seja. Não interessa ao Direito Tributário saber se, após realizada uma doação, o doador, com justo motivo, revoga esta doação. Não importa se uma alienação de bem imóvel é resultado de fraude contra credores, e assim por diante. Esse é o motivo de o princípio ser denominado pecunia non olet, que, literalmente, significa “dinheiro não tem cheiro”. Só para finalizar, lembro que não basta conhecer e entender o princípio do art. 118. É recomendável que vocês decorem o texto legal, ou, mesmo que não decorem, pelo menos leiam muitas vezes o dispositivo. OS PRINCÍPIOS GERAIS E OS INSTITUTOS DE DIREITO PRIVADO Vimos, até agora, três regras específicas de interpretação constantes do CTN. Há uma outra, que não é bem uma regra de interpretação, mas algo parecido com um esclarecimento. Trata-se do art. 109 do Código, que diz: “Art. 109. Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos respectivos efeitos tributários.” O art. 109 precisa ser estudado em compreendido em conjunto com o art. 110 do CTN, que estabelece: “Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance deinstitutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.” Antes de adentrarmos a análise sucinta desses dispositivos, alerto que não é nada comum eles aparecerem em questão de concurso de alguma forma que não seja a mera reprodução literal de seus textos. Mas, mesmo assim, vamos falar um pouco sobre o seu conteúdo. Os seguintes pontos podem ser anotados: 1) É comum a Constituição Federal, ao definir as competências tributárias, mencionar conceitos e institutos de Direito privado. Por exemplo, ao definir a competência dos municípios para instituição do ITBI, a Constituição refere-se a “transmissão ‘inter vivos’, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição”. Toda a descrição dessa base econômica utiliza institutos de Direito privado. Fiquemos com o mais simples deles: o conceito de bem imóvel. O que o art. 110 do CTN afirma, e isso é um tanto óbvio, é que a lei de cada município, ao instituir o seu ITBI, não pode CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 15 pretender alterar o conceito de bem imóvel para abranger, como hipótese de incidência do imposto, transmissões de outros bens que o Direito privado não considere como imóveis. 2) A regra do art. 110 do CTN tem uma conseqüência muito mais interessante do que a explicada no item 1. A interpretação a contrario sensu do art. 110 leva à afirmação de que a lei tributária pode alterar conceitos e institutos do Direito privado, desde que eles não tenham sido utilizados pela Constituição para definir ou limitar competências tributárias. Por exemplo, solidariedade, compensação, transação são institutos típicos do Direito privado. Entretanto, não são figuras jurídicas utilizadas pela Constituição para definir ou limitar competências tributárias. Assim, pode a lei tributária dar-lhes tratamento diverso daquele estabelecido na lei civil. E efetivamente o faz. Por exemplo, na lei civil, transação pode ser usada para prevenir litígios; no Direito Tributário não. Na lei civil, solidariedade pode decorrer de vontade das partes; no Direito Tributário não. No Direito Tributário, a compensação de crédito que dependa de reconhecimento judicial somente pode ser feita após o trânsito em julgado da sentença que o reconheça; essa regra não existe no Direito Civil. 3) O art. 109 do CTN esclarece que os conceitos e institutos de Direito privado devem ser interpretados com o mesmo sentido que possuem em sua origem, salvo se o legislador tributário, sendo isso possível, os houver expressamente alterado. Não tendo sido alterado o instituto de Direito privado – seja em razão da proibição do art. 110 do CTN, seja por não ter o legislador tributário desejado modificá-lo – a interpretação do seu conteúdo e alcance será feita mediante a utilização dos princípios gerais de Direito Privado. Quais seriam eles? Os mais importantes princípios gerais de Direito Privado são o princípio da autonomia da vontade e o da liberdade negocial. Portanto, para o intérprete tributário saber se está diante de uma compra e venda, de uma doação, de uma condição suspensiva etc., ele deve usar os princípios de Direito privado. Os dispositivos da lei tributária que definem os efeitos tributários, entretanto, não admitem, na sua interpretação, uso dos princípios de Direito privado, mas apenas dos princípios de Direito público (para vocês visualizarem o que isso significa, imaginem falar em autonomia da vontade relativamente a efeitos tributários de uma situação econômica qualquer; absolutamente impensável, certo?). Vejamos, agora, a disciplina da integração da legislação tributária no CTN. INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA Conforme já foi explicado, a denominada integração da legislação tributária é usada quando não existe regra aplicável a determinada matéria, ou seja, quando se está diante daquilo que os juristas chamam lacuna. Integrar significa completar o sistema, colmatar a lacuna. O aplicador da legislação tributária, vendo-se em face de um caso que efetivamente não foi previsto pelo legislador e que não pode ser alcançado por simples interpretação extensiva, deverá preencher a lacuna mediante a utilização de um dos métodos descritos no art. 108 do CTN. CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 16 Em síntese, quando o aplicador da legislação está diante de norma expressa que permita a solução de um caso concreto, realiza a interpretação; quando verifica a inexistência de norma expressa, efetua a integração. Os métodos de integração previstos no art. 108 do CTN devem ser utilizados na ordem em que estão enumerados. Portanto, trata-se do estabelecimento de um verdadeiro roteiro a ser seguido pelo aplicador do Direito quando encontra uma lacuna e precisa decidir o caso concreto. É a seguinte a seqüência estabelecida pelo art. 108 do CTN: “Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada: I - a analogia; II - os princípios gerais de direito tributário; III - os princípios gerais de direito público; IV - a eqüidade. § 1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei. § 2º O emprego da eqüidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo devido.” Vejam que o Código pretendeu tratar esse assunto quase como se fosse uma questão matemática (exata). A idéia é a seguinte. Primeiro tenta-se a integração por analogia. Não sendo possível solucionar-se o caso, então devem ser usados os princípios gerais de Direito Tributário. Não sendo possível ainda resolver o caso, o aplicador do Direito tenta integrar utilizando os princípios gerais de Direito público. Se ainda persiste a lacuna, integra-se a legislação pela utilização da eqüidade. Não tentem imaginar exemplos concretos de utilização dessa seqüência estabelecida no CTN. Eu não consigo vislumbrar quase nenhum! Como eu disse, o Código tratou de um assunto complexo, em que podem existir inúmeras variáveis, como se fosse uma questão exata, quase matemática. Na prática, tendo em vista a forte presença do princípio da legalidade no Direito Tributário, tendo em vista, especialmente, o fato de que todos os assuntos que envolvam obrigação principal estão sob reserva legal (art. 97 do CTN), é muitíssimo limitada a possibilidade de utilização efetiva de integração no âmbito desse ramo do Direito. Apesar disso, falemos sucintamente de cada um dos métodos de integração. ANALOGIA Integrar mediante analogia significa aplicar ao caso concreto, não previsto na legislação tributária, um dispositivo de outra norma referente a casos semelhantes àquele. CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 17 Embora eu tenha dito que é quase impossível elaborar exemplos, aqui dá para tentar um. A legislação do IR prevê que, quando a autoridade fiscal verifica inconsistências na declaração de renda, pode chamar o sujeito passivo para prestar esclarecimentos na repartição, fixando-lhe um prazo de 20 dias para comparecimento. A legislação do ITR prevê a possibilidade de chamar o sujeito passivo para prestar esclarecimentos relativos à declaração do ITR, mas não estabelece prazo nenhum. Nessa situação, a autoridade administrativa, ao intimar determinado sujeito passivo para prestar esclarecimentos relativos à declaração do ITR, pode fixar-lhe prazo de 20 dias para o comparecimento à repartição,utilizando, por analogia, a legislação do IR. Como foi explicado acima, a possibilidade de integração por analogia não alcança as matérias submetidas à reserva legal previstas no art. 97 do CTN. A conseqüência direta dessa restrição é a impossibilidade de se exigir tributo ou penalidade com base em analogia. Essa impossibilidade está expressa no § 1º do art. 108 do Código, transcrito acima (não há referência, nesse dispositivo, às multas, mas não existe dúvida quanto à impossibilidade de aplicar-se a alguém multa que não esteja expressamente prevista em lei). PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Não podendo a lacuna ser suprida pela analogia, o passo seguinte será a tentativa de utilização dos princípios gerais de Direito Tributário. Os princípios gerais de Direito Tributário devem ser princípios específicos, como o princípio da anterioridade do exercício financeiro; o princípio da vedação de confisco; o princípio da indelegabilidade da competência tributária etc. Eu confesso a vocês que nunca vi um autor explicar como algum caso concreto não previsto na legislação poderia ser resolvido com base em princípios gerais de Direito Tributário. Não consigo imaginar nenhuma situação em que isso fosse possível. Para finalizar, observo que, embora não esteja escrito expressamente no CTN, é indiscutível que o emprego de princípios gerais de Direito Tributário não pode resultar na exigência de tributo ou multa não previstos em lei. PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO PÚBLICO O passo seguinte, previsto pelo o CTN, para a hipótese de não se haver solucionado o caso concreto mediante aplicação dos princípios gerais de Direito Tributário, é a utilização dos princípios gerais de Direito público. Seriam princípios gerais, não específicos de determinado ramo do Direito, como o da supremacia do interesse público e o da indisponibilidade do interesse público (esses dois são freqüentemente mencionados pela doutrina como os mais importantes princípios gerais de Direito público). CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 18 Vale a mesma observação que fiz no tópico anterior: acho impossível alguém elaborar um exemplo convincente de preenchimento de lacuna na legislação pelo emprego dos princípios gerais de Direito público. Também aqui, a despeito de não estar expresso no CTN, é certo que o emprego de princípios gerais de Direito público não pode implicar a exigência de tributo ou multa não previstos em lei. EQÜIDADE A integração por eqüidade significa que, na ausência de disposição expressa de lei, e não tendo sido possível suprir-se a lacuna pelos outros meios previstos, deverá ser adotada, entre as soluções cabíveis, a mais suave e humana, que melhor atenda ao sentido de benevolência e de justiça (jus bonum et aequum). A utilização da eqüidade como método integrativo não pode determinar a dispensa do pagamento de tributo devido (CTN, art. 108, § 2º). Essa regra é um tanto óbvia, e não vejo como pudesse ocorrer o contrário. Por quê? Ora, porque se houver tributo devido é porque há lei, já que só a lei pode estabelecer os elementos da hipótese de incidência de tributos. Se há lei, não teria mesmo sentido falar em integração! Pois é, mas o CTN é recheado dessas imperfeições lógicas. Temos que conviver com elas. Por falar em imperfeições lógicas, prestem atenção neste ponto: o CTN proíbe que do emprego da eqüidade resulte dispensa do pagamento de tributo. Para concursos públicos da ESAF e do CESPE, devemos aceitar como verdadeira a afirmação de que o emprego da eqüidade pode resultar na dispensa de multa. Eu sei que isso, em tese, é um absurdo, uma vez que penalidade tributária também é matéria sob estrita reserva legal. Mas existe em nosso ordenamento jurídico (Decreto nº 70.235/1972, recepcionado com status de lei ordinária) previsão de decisão por eqüidade que implique a dispensa de penalidade. Não procurem discutir com a questão! Se aparecer a afirmativa de que a utilização da eqüidade pode acarretar a dispensa de multa tributária, aceitem como correto, sem medo de errar! Uma última observação, ainda sobre eqüidade. O art. 172, inciso IV, do CTN admite que a lei autorize “a autoridade administrativa a conceder, por despacho fundamentado, a remissão total ou parcial do crédito tributário, atendendo a considerações de eqüidade, em relação com as características pessoais ou materiais do caso”. A hipótese é de remissão, que é forma de extinção do crédito tributário mediante dispensa legal de seu pagamento. A remissão sempre tem que estar prevista em lei específica. Portanto, o CTN, no art. 172, inciso IV, estabelece um comando direcionado ao legislador, autorizando-o a conceder remissão com base em eqüidade. A hipótese nada tem a ver com integração da legislação tributária. Não há lacuna alguma! Pelo contrário, a lei específica expressamente deve instituir a remissão por considerações de eqüidade. Seguem exercícios de concurso sobre interpretação e integração. CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 19 1 - (ESAF/AFTN/Mar. 1994) Na hipótese de o aplicador de lei tributária que comina penalidade ficar em dúvida quanto à graduação da pena, deverá interpretar a norma, em relação ao acusado, de modo a) analógico b) benigno c) eqüitativo d) literal e) integrado 2 - (ESAF/PFN/1998) 1. As normas que tratam de isenção estão sujeitas a ______________. 2. As normas que tratam de moratória estão sujeitas a ______________. 3. As normas que dizem interpretar outras, da mesma fonte, são de ______________. Observe, entre as alíneas w, x, y e z, quais as que, à luz do Código Tributário Nacional, preenchem corretamente, e com explicação plausível, as lacunas acima, e, em seguida, marque a opção que contém, na devida seqüência, as alíneas respectivas. w) interpretação extensiva, em atenção ao princípio favorabilia amplianda x) interpretação extensiva, em atenção a que a regra geral não deve ser restringida pelo intérprete y) interpretação retroativa, porque não tem caráter de inovação do sistema jurídico z) interpretação literal, em atenção a que a regra geral é a tributação e exceções não se interpretam extensivamente a) w, w, y b) w, x, z c) z, x, w d) z, z, y e) z, y, x 3 - (ESAF/PFN/1998) O esclarecimento do significado de uma lei tributária por outra posterior configura a chamada interpretação a) ontológica b) científica c) integrada CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 20 d) autêntica e) evolutiva 4 – (ESAF/Agente Tributário Estadual de MS/2001) Uma das formas de integração da norma jurídica, como etapa final do procedimento de interpretação legal, que visa a preencher lacuna da lei a ser aplicada a caso concreto de natureza tributária, consistente na aplicação de disposição legal relativa a um caso semelhante, é: a) Analogia B) Anatocismo C) Eqüidade D) Remição E) Liberalidade 5 - (ESAF/TRF/2002) Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação tributária utilizará, sucessivamente, na ordem indicada (art.108 da Lei 5.172/65-Código Tributário Nacional): a) a analogia; os princípios gerais de direito tributário; os princípios gerais de direito público; a eqüidade. b) os princípios gerais de direito tributário; os princípios gerais de direito público, a eqüidade; a analogia. c) a eqüidade; os princípios gerais de direito tributário; os princípios gerais de direito público; a analogia. d) a analogia; os princípios gerais de direito público; os princípios gerais de direito tributário; a eqüidade. e) a analogia; a eqüidade; os princípios gerais de direito público; os princípios gerais de direito tributário. 6 - (ESAF/AFRF/2003)Relativamente à interpretação e integração da legislação tributária, avalie o acerto das afirmações adiante e marque com V as verdadeiras e com F as falsas; em seguida, marque a opção correta. ( ) Interpreta-se da maneira mais favorável ao sujeito passivo a legislação tributária que disponha sobre dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias. ( ) Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, bem assim para definição dos respectivos efeitos tributários. CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 21 ( ) Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na rigorosa ordem, a analogia, os princípios gerais de direito público, os princípios gerais de direito tributário e a eqüidade. a) F, V, F b) F, F, F c) F, F, V d) V, V, F e) V, F, V GABARITO 1 - b; 2 - d; 3 - d; 4 - a; 5 - a; 6 - b. 10. OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA PRINCIPAL E ACESSÓRIA. Em nossa aula zero, ao delinear a estrutura da relação jurídica obrigacional tributária típica, foi explicado o que, no Direito Tributário, é denominado obrigação principal e obrigação acessória. Para facilitar o estudo de vocês, reproduzo aqui o que foi dito lá: “As prestações em geral, segundo uma classificação lá do Direito romano, subdividem-se em prestações de dar, de fazer e de não fazer. No Direito Tributário, vamos ter, como regra geral, as prestações de dar como “dar dinheiro”. As prestações de fazer e não fazer, por outro lado, abrangem qualquer coisa que não envolva entrega de dinheiro, como a entrega de declarações, a emissão de notas fiscais, a escrituração de livros contábeis, o abstenção de embaraçar o trabalho da fiscalização etc. Cabe, agora, a seguinte pergunta: qual das espécies de prestação deve ser mais importante, no Direito Tributário? As prestações de dar ou as de fazer e não fazer? É intuitivo verificar que o objetivo principal do Direito Tributário é regular as prestações de dar, porque esse ramo do Direito justamente regula as relações jurídicas que possibilitam ao Estado, legitimamente, obter recursos (dinheiro) dos particulares para o atingimento dos fins de interesse público descritos na Constituição do País. Não é por acaso que as relações jurídicas tributárias que têm como objeto uma prestação de dar (“dar dinheiro”) são ditas obrigações principais. As outras, de fazer e não fazer, que não envolvam entrega de dinheiro, são chamadas, pelo nosso Direito, obrigações acessórias. Mais tarde, veremos por que essa expressão, embora seja a “oficial”, é criticada pelos autores. CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 22 Resumidamente, a crítica se dá porque, no Direito privado, diz-se que “o acessório segue o principal”. Portanto, no Direito privado, não seria possível uma obrigação acessória sem uma principal. Além disso, sempre que fosse extinta a obrigação principal, a acessória seria automaticamente extinta. Nada disso ocorre no Direito Tributário. É possível termos obrigação tributária acessória sem principal (como, por exemplo, a obrigação de apresentar a “Declaração de Isento”). Além disso, o normal, no Direito Tributário, é a extinção da obrigação principal não acarretar a automática extinção da obrigação acessória (por exemplo, se eu pago imposto de renda no ajuste anual, mas não entrego a declaração, continuo obrigado a entregá-la, e ainda por cima vou pagar multa pelo atraso na entrega, mesmo já tendo pagado o imposto correspondente.). Os autores que criticam a expressão obrigações acessórias propõem termos como “obrigações instrumentais”, “obrigações formais” ou “obrigações secundárias”. Qualquer desses termos pode aparecer em concurso, mais o mais comum, disparadamente, é ser usado “obrigações acessórias”, porque é essa a expressão usada no Código Tributário Nacional (CTN).” Pois bem, o CTN define obrigação principal e obrigação acessória no seu art. 113, nestes termos: “Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente. § 2º A obrigação acessória decorrente da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. § 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.” Com base no CTN e no que foi explicado acima, vale enumerarmos os pontos abaixo. Em relação à obrigação principal: 1) É sempre uma obrigação, prevista em lei, cujo objeto é dar ou entregar dinheiro ao Estado, referente a tributo ou multa. 2) Surge automaticamente quando ocorre no mundo concreto a hipótese de incidência descrita na lei. O CTN diz que “a obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador”. Em relação à obrigação acessória: 1) É qualquer obrigação, prevista na legislação, cujo objeto é fazer ou deixar de fazer qualquer coisa de interesse do fisco, que não seja dar ou entregar dinheiro. 2) Também surge automaticamente quando ocorre no mundo concreto a situação descrita na legislação como hipótese de incidência. CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 23 3) Segundo o CTN, a obrigação acessória descumprida “converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária”. Só o último ponto merece um pequeno comentário. Para sermos absolutamente rigorosos, não poderíamos dizer que o descumprimento da obrigação acessória converte-a em obrigação principal relativamente à multa. O que ocorre, com absoluta precisão, é que o descumprimento de uma obrigação acessória é uma infração tributária (qualquer descumprimento de uma obrigação legal, em sentido amplo, é uma infração) e essa infração tributária é fato gerador de uma multa (todas as multas têm como fato gerador uma infração). Dizer que a obrigação acessória converte-se em obrigação principal dá a falsa idéia de que a obrigação acessória desapareceria, ficando no seu lugar apenas a obrigação principal. Não é isso que ocorre. Descumprida a obrigação acessória, ela não desaparece; simplesmente surge, cumulativamente, uma obrigação principal relativa à penalidade (multa) decorrente da infração. Mais uma vez, não se preocupem. Aceitem como verdadeira qualquer afirmativa de questão que simplesmente reproduza o CTN, dizendo que “a obrigação acessória descumprida converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária”. 11. FATO GERADOR. O CTN define fato gerador da obrigação principal e da obrigação acessória nos arts. 114 e 115. São definições um tanto redundantes, por um motivo singelo: a expressão fato gerador já é auto-explicativa. Fato gerador é o fato que gera alguma coisa, faz surgir alguma coisa. Portanto, fato gerador de uma obrigação é o fato que faz surgir uma obrigação. Só isso mesmo! Vejam as definições do CTN: “Art. 114. Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. Art. 115. Fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que, na forma da legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal.” Observamos que o Código enfatiza que o fato gerador da obrigação principal é definido em lei e o fato gerador da obrigação acessória é definido na legislação (ou seja, pode ser definido por atos infralegais, não é matéria reservada à lei). Como eu já mencionei, o CTN nãousa a expressão hipótese de incidência. A distinção entre hipótese de incidência (ou fato gerador em abstrato) e fato gerador em concreto é muito trabalhada pela doutrina, mas o Código sempre usa somente a expressão fato gerador, tanto para referir-se à descrição legal da hipótese, quanto para tratar da ocorrência real da situação descrita. CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 24 O mecanismo de surgimento da obrigação tributária, que implica conhecimento da noção de subsunção do fato à norma, foi explicado na aula zero. Reproduzo, para facilitar o estudo, o que disse antes (a explicação vale para a obrigação principal e para a acessória, com a observação de que, no caso desta, a hipótese de incidência pode estar em um ato infralegal) : “Portanto, temos sempre, previamente, uma lei que estabelece uma situação hipotética. Quando ocorre, no mundo real, a situação descrita na lei, dizemos que a lei incide e surge a obrigação (a relação jurídica obrigacional tributária). A hipótese descrita na lei é, por isso, chamada “fato gerador abstrato” ou hipótese de incidência (porque, quando ocorrida no mundo dos fatos, ou mundo empírico, a lei incide, tornando o fato do mundo real um fato jurídico). O evento, ou situação, ocorrido no mundo real é denominado fato gerador (ou “fato gerador concreto”), porque é o fato cuja ocorrência gerou a obrigação. Em resumo, o vínculo entre o sujeito passivo e o sujeito ativo decorre da lei. Esta estabelece uma hipótese de incidência e, quando ocorre no mundo real o fato descrito abstratamente na norma (chama-se a isso subsunção do fato à norma), imediata e automaticamente surge a obrigação tributária (por isso o fato é chamado fato gerador da obrigação tributária).” No art. 116, o CTN trata do momento em que se considera ocorrido o fato gerador. É a seguinte a sua redação: “Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato gerador e existentes os seus efeitos: I - tratando-se de situação de fato, desde o momento em que o se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios; II - tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável.” O que o Código pretendeu explicar nesses dois incisos meio confusos é que, quando a situação descrita na hipótese legal como fato gerador exigir a observância de algum requisito ou formalidade legal para que se considere ocorrida, somente será considerado ocorrido o fato gerador quando tiverem sido cumpridos os requisitos ou exigências legais. Foi a esse tipo de evento que o Código chamou situação jurídica. São exemplos de situações jurídicas a propriedade imobiliária e o reconhecimento de receitas pelo critério contábil da competência. As outras situações, a que o CTN chamou situações de fato, são aquelas em que não existe qualquer exigência legal para que se considerem constituídas. Para elas, o Código apenas disse o óbvio: considera-se ocorrida uma situação de fato e, portanto, o correspondente fato gerador, quando já se encontram presentes todos os elementos que são normalmente necessários para que aquela situação produza seus efeitos característicos. São exemplos de situações fáticas a posse de um imóvel e a prestação de um serviço. CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 25 Esses dois incisos do art. 116, quando aparecem em concurso, o que é bem raro, sempre aparecem em questões literais, porque o seu entendimento é bastante difícil mesmo. Não vale a pena, de modo algum, perdermos tempo demais com eles. O que aparece com mais freqüência, e é muito simples, é o art. 117, que se refere aos fatos geradores que correspondem a situações jurídicas. Diz o art. 117: “Art. 117. Para os efeitos do inciso II do artigo anterior e salvo disposição de lei em contrário, os atos ou negócios jurídicos condicionais reputam-se perfeitos e acabados: I - sendo suspensiva a condição, desde o momento de seu implemento; II - sendo resolutória a condição, desde o momento da prática do ato ou da celebração do negócio.” Uma condição é uma cláusula que subordina os efeitos de um negócio jurídico a um evento futuro e incerto (pode ser que a condição não chegue a ocorrer jamais, por isso é um “evento incerto”). Uma condição suspensiva impede que o negócio jurídico produza efeitos enquanto ela não acontece. Diz-se que os efeitos do negócio só ocorrem a partir do implemento da condição. Uma condição resolutiva ou resolutória, quando implementada, extingue o negócio jurídico (“resolver”, em Direito, tem o sentido de “extinguir” ou “desfazer”). Entretanto, enquanto a condição não se realizar, o negócio produz plenamente seus efeitos. Tendo em vista as características das condições suspensiva e resolutiva, o CTN, coerentemente, estabeleceu que: 1) Quando um negócio jurídico é fato gerador de um tributo, e é celebrado sob condição suspensiva, só se considera ocorrido o fato gerador quando se realiza a condição. 2) Quando um negócio jurídico é fato gerador de um tributo e é celebrado sob condição resolutiva, o fato gerador já se considera ocorrido desde o momento da celebração do negócio, porque a condição resolutória não impede a produção imediata de efeitos pelo negócio jurídico. Por último, vocês têm que saber que a Lei Complementar nº 104/2001 acrescentou um parágrafo único ao art. 116, estabelecendo uma regra que tem sido denominada “norma geral anti-elisão”. É fácil perceber que o legislador escolheu um lugar equivocado no corpo do CTN para inserir essa norma. Ela confere, na verdade, um poder à Administração tributária, às autoridades fiscais. O dispositivo deveria ter sido acrescentado às regras que disciplinam os poderes das autoridades fiscais, no Capítulo I do Título IV do Livro Segundo do CTN. Elisão fiscal é a expressão usada pela doutrina para referir-se a qualquer operação, ou conjunto de operações, que tenha por fim reduzir os tributos devidos. O mais importante é que as operações caracterizadas como elisão fiscal são lícitas. CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 26 A idéia é esta: se uma operação “X” daria ensejo a uma obrigação tributária de R$1000,00, mas é possível obter o mesmo efeito econômico de “X” praticando uma série de operações lícitas “Y”, “W”, “Z” e “K”, de modo que, ao final, o total de tributos devidos em decorrência dessas operações seja de R$ 700,00, a prática das operações “Y”, “W”, “Z” e “K” configurará elisão fiscal, caso seja possível demonstrar que elas foram realizadas dessa forma (e não da forma direta “X”) com o intuito exclusivo de sofrer tributação menor do que aquela a que estaria sujeita a operação direta “X”. Atualmente, a “norma geral anti-elisão” é uma norma puramente teórica, porque depende de regulamentação por meio de lei ordinária, a qual ainda não existe. Além disso, enfatizo que é quase impossível aparecer uma questão prática sobre elisão fiscal, porque as operações que costumam ser caracterizadas pelo fisco como elisão são extremamente complexas, além de existir enorme polêmica quanto ao enquadramento de uma situação como elisão. Todas as vezes que o art. 116, parágrafo único, do CTN foi cobrado em concursos, foi em questões literais. Para vocês decorarem o dispositivo (isso é imprescindível), transcrevo-o: “A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária.” Passemos ao próximo tópico. 12. SUJEITO ATIVOE SUJEITO PASSIVO. Nós já vimos tudo que há para ser visto sobre sujeito ativo, quando estudamos capacidade tributária ativa, no âmbito do estudo da competência tributária. Simplesmente, sujeito ativo é aquele que ocupa o pólo ativo (credor) da relação jurídica tributária, é aquele que tem capacidade ativa, é aquele que pode exigir o tributo. Diz o CTN, em seu art. 119: “Art. 119. Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de direito público, titular da competência para exigir o seu cumprimento.” Observem que a palavra competência, usada no art. 119 do CTN, não tem nenhuma relação com “competência tributária”. A palavra competência, usada no art. 119 do CTN, tem ali o sentido de atribuição (é o mesmo sentido de “competência” no Direito Administrativo”). Como regra geral, o sujeito ativo é a própria pessoa jurídica de direito público competente para editar leis que instituam e disciplinem o tributo. Isto é, geralmente a mesma pessoa que tem a competência tributária (legislar) tem também a capacidade tributária (exigir). Pode ocorrer, entretanto, como ocorre com muitas contribuições, que o ocupante do pólo ativo da relação obrigacional não seja a mesma pessoa competente para instituir o tributo. Temos essa situação quando uma pessoa jurídica de direito público recebe a atribuição de fiscalizar, arrecadar e executar leis, serviços, atos CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 27 em matéria tributária, conforme previsto no art. 7º do CTN, já estudado. A pessoa jurídica de direito público que possua tais atribuições, sempre recebidas, as atribuições, da pessoa política que detém a competência, passa a ser sujeito ativo da obrigação tributária, que é quem possui a capacidade tributária ativa. Para finalizarmos e reforçarmos o estudo do sujeito ativo, repito, aqui, alguns dos pontos que vimos em nossa aula sobre competência: 1) A competência tributária, que é a competência legislativa para instituir tributos, é sempre indelegável e pertence às pessoas políticas às quais a Constituição Federal a tenha atribuído. 2) As atribuições de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária (competências administrativas) podem ser delegadas a outras pessoas jurídicas de direito público. 3) A pessoa jurídica de direito público que receba essas atribuições passa a ter capacidade tributária ativa. A pessoa que tem capacidade ativa pode ser sujeito ativo na relação jurídica obrigacional tributária. O sujeito ativo é a pessoa que pode exigir o tributo, independentemente de poder instituí-lo. Passemos ao estudo do sujeito passivo. A definição mais ampla de sujeito passivo é extremamente simples e é a mesma para toda e qualquer relação jurídica obrigacional, inclusive as não tributárias. Ser sujeito passivo significa ser a pessoa obrigada à prestação de dar, fazer ou não- fazer, objeto da relação obrigacional. Portanto, no Direito Tributário, sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa que está obrigada a pagar tributo ou multa tributária e sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa que está obrigada a fazer, ou deixar de fazer, qualquer coisa que não seja pagar um tributo ou multa tributária. O CTN trata assim do sujeito passivo da obrigação principal: “Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se: I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei.” Portanto, em relação à obrigação principal, o sujeito passivo pode ser: a) contribuinte: é aquele que possui relação pessoal e direta com o fato gerador da obrigação, ou seja, é quem pratica a ação ou se encontra na situação descrita como fato gerador. CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 28 Exemplo: o fato gerador do imposto de renda é a aquisição de disponibilidade de renda ou proventos. Se Fulano trabalha, quem adquire rendimentos do trabalho é Fulano, e Fulano é contribuinte do imposto de renda. b) responsável: é quem, sem possuir relação direta com o fato gerador, tem a obrigação de pagar, por expressa disposição de lei. A definição de responsável do art. 121, inciso II, deve ser combinada com o disposto no art. 128 do CTN, que estabelece que o responsável deve ser uma terceira pessoa vinculada (não diretamente) à situação fática prevista na hipótese de incidência. Portanto, a lei não pode indicar livremente qualquer pessoa como responsável em uma obrigação tributária principal; embora não tenha uma relação direta como o fato gerador (não seja ela quem pratique o fato gerador), algum vínculo tem que existir entre a pessoa descrita como responsável e a situação que constitui o fato gerador da obrigação principal. Exemplo: o fato gerador do imposto de renda é a aquisição de disponibilidade de renda ou proventos. Se Fulano trabalha e recebe um salário de R$ 1.500,00 mensais, sua fonte pagadora terá que recolher aos cofres da União imposto de renda retido na fonte (IRRF) relativo à remuneração de Fulano. A fonte pagadora, evidentemente, não possui relação pessoal e direta com o fato gerador do imposto de renda (não é a fonte que adquire a renda e sim Fulano, em decorrência de seu trabalho). Entretanto, por expressa previsão legal, a fonte pagadora é obrigada a recolher o IRRF, obrigação tributária principal em que ela, a fonte, figura no pólo passivo como responsável. O critério adotado pelo CTN para distinguir contribuinte e responsável é denominado, pela doutrina, critério da proximidade (o contribuinte é quem tem a relação imediata, mais próxima, direta, com o fato gerador; o responsável tem uma relação indireta, sua ligação com o fato é mais distante, mais remota). Essa bipartição não existe em relação ao sujeito passivo da obrigação acessória. Segundo o CTN, “sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto” (art. 122). Só isso. Não existe “contribuinte” e “responsável” na obrigação acessória, mas apenas “sujeito passivo da obrigação acessória”. Para finalizarmos este tópico, devemos, ainda, estudar um artigo que, na verdade, fica meio “solto” no CTN, mas que é bastante simples. Trata-se do art. 123 do Código, que veicula a regra conhecida como “inoponibilidade das convenções particulares à fazenda”. É a seguinte: “Art. 123. Salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares, relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes.” A regra é um tanto óbvia. Como o Direito Tributário é ramo do Direito público, as relações jurídicas tributárias não são regidas pelo princípio da autonomia da vontade. Portanto, acordos, contratos, convenções, ajustes entre particulares CURSOS ON-LINE – DIREITO TRIBUTÁRIO – PROF. MARCELO ALEXANDRINO www.pontodosconcursos.com.br 29 não podem, evidentemente, modificar as definições estabelecidas pela legislação tributária. Aplicação clássica desse art. 123, para efeito de concurso, temos no caso do contrato de aluguel residencial em que existe uma cláusula atribuindo ao locatário integral responsabilidade pelo pagamento do IPTU. Pergunta-se, se o IPTU deixar de ser pago, de quem deverá a fazenda cobrar, do proprietário ou do inquilino? É evidente que é do proprietário, e este não poderá opor à pretensão da fazenda o contrato em que a responsabilidade pelo pagamento do IPTU foi
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