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Cadeia produtiva do vinho na Região da Serra Gaúcha: Vale dos Vinhedos

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Cadeia produtiva do vinho na Região da Serra Gaúcha: Vale dos Vinhedos 
 
 
Luis Gambetti de Castro 
Mariana Just Blanco 
Sônia Maria Sandri 
 
 
Resumo 
Este trabalho teve por objetivo identificar os segmentos da cadeia produtiva da vitivinicultura 
na região da Serra Gaúcha. Foram coletadas informações em trabalhos já existentes sobre a 
cadeia e durante a visita técnica à Vinícola Miolo, localizada na região do Vale dos Vinhedos. 
A vitivinicultura possui tradição e importância econômica para o Rio Grande do Sul. O nível 
tecnológico utilizado no processo de elaboração dos vinhos finos pelo setor é comparável 
àqueles existentes nos países de vitivinicultura avançada. Os vinhos finos nacionais têm 
apresentado uma grande evolução qualitativa, atualmente reconhecida nacional e até 
internacionalmente. 
Palavras-chave: vitivinicultura, cadeia produtiva, vale dos vinhedos, Miolo. 
 
Abstract 
This study aimed to identify the segments of the production chain of wine in the region of 
Serra Gaúcha. Information was collected on existing studies about the chain and during the 
technical visit to the Miolo Winery, located in the Valley of Vineyards. The wine industry has 
tradition and economic importance to the Rio Grande do Sul. The level of technology used in 
the process of fine wines by the sector is comparable to those existing in countries with 
advanced winemaking. National fine wines have shown a great qualitative evolution, 
currently recognized nationally and even internationally. 
Keywords: viticulture, production chain, valley of vineyards, Miolo. 
 
 
 
 
Introdução 
 
A vitivinicultura brasileira está concentrada substancialmente no Rio Grande do Sul. 
Segundo a Academia do Vinho, o Rio Grande do Sul responde por aproximadamente 90% da 
produção de vinho brasileiro e abriga as principais entidades ligadas à busca por melhorias do 
vinho brasileiro, como a UVIBRA (União Brasileira de Vitivinicultura) e a ABE (Associação 
Brasileira de Enologia). 
Segundo o Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN, 2013), a vitivinicultura ocupa um 
papel importante dentro do cenário agroindustrial do Rio Grande do Sul, sendo uma cultura 
em que o setor engloba uma população ligada direta e indiretamente à produção de uva, com 
cerca de vinte mil famílias de agricultores e com 731 vinícolas legalmente cadastradas. 
Mesmo com o setor vitivinícola possuindo grande importância em termos sociais e 
culturais na economia gaúcha, estudos realizados dentro do setor apresentam-se ligados 
principalmente a questões técnicas, como a qualidade do vinho e as melhores formas de 
produzi-lo, aos fatores enológicos, aos tipos de uvas usadas na produção e a dinâmica 
estrutural do setor. 
Esse trabalho tem como objetivo tratar dos processos e cadeia produtiva do setor 
vitivinícola do Rio Grande do Sul. Neste sentido, buscamos através de pesquisas 
bibliográficas (sites) e a visitação a Vinícola Miolo, compreender melhor a realidade desse 
setor. 
 
Cadeia Produtiva do Vinho 
 
A cadeia produtiva constitui-se num conjunto de fases consecutivas pelas quais passam 
e são transformados e transferidos os diversos bens intermediários, ou seja, é o conjunto de 
atividades econômicas que se articulam progressivamente desde o início da elaboração de um 
produto. 
Assim, cada etapa do processo produtivo é representada por uma empresa ou um 
conjunto delas. Desta forma, essas cadeias resultam da crescente divisão do trabalho e na 
maior interdependência entre todos os contingentes produtivos que incluem os elos de ligação 
entre matérias-primas básicas, as máquinas e equipamentos, os produtos de consumo 
intermediário e produto final, bem como, com sua distribuição e comercialização. 
 
 
Para Davis et al. (2001), a produção pode ser entendida como um conjunto de 
componentes, cuja função está focada na conversão de insumos em um resultado esperado, 
essa conversão é denominada processo de transformação. 
A análise da cadeia produtiva deve considerar diversos fatores, dentre os quais 
destacam-se os fatores relacionados à macroestrutura em que a cadeia está inserida, os 
condicionantes impostos por esta macroestrutura, diversos tipos de processos que ocorrem no 
interior das cadeias como compras e vendas, troca de informações, estabelecimento e 
repactuação de acordos e normas de conduta e, comportamentos dos agentes formadores da 
cadeia, assim como, as organizações estritamente associadas. 
Assim, o estudo da cadeia é desenvolvido sob a ótica da integração das atividades de 
insumos e produtos, levando em consideração sempre o conhecimento e a dimensão de 
mercados estratégicos de consumo intermediário e produto final, bem como, com sua 
distribuição e comercialização. 
A estrutura central da cadeia produtiva da uva e do vinho é composta por oito elos 
(figura 1), enumerados em ordem decrescente, onde pode-se observar as suas relações por 
meio das setas. 
Os elos básicos da cadeia central são caracterizados pelos viveiros e os importadores de 
mudas de videira, pelos produtores de uvas para consumo in natura ou para produção de 
vinhos e derivados, pelas vinícolas que industrializam a uva para produção de vinho e 
derivados da uva e do vinho, o comércio atacadista e o consumidor final. 
Entre essas duas pontas estão os canais de comercialização e de distribuição de 
matérias-primas, passando pelas unidades de processamento e de industrialização e 
novamente a distribuição dos produtos até o comércio atacadista e varejista. 
A indústria é o elo mais dinâmico desse processo, pois é o que mais agrega valor. Em 
função da concorrência internacional, principalmente dos países do Mercosul, a indústria teve 
que se modernizar adotando novas tecnologias de produção. Ressaltamos, no entanto, que 
essa tecnologia diz respeito ao segmento de vinhos finos. Já a produção de vinhos comuns 
ainda carece de tal processo. 
A seguir (figura 2), ilustra a cadeia produtiva da uva e do vinho com os seus ambientes 
organizacional e institucional e seus principais componentes e fluxos. O papel das instituições 
sejam elas reguladoras ou de pesquisa e desenvolvimento, bem como dos fornecedores de 
insumos e de equipamentos podem constituir-se em elos de impulsão ou de estrangulamento 
para o desempenho da cadeia. 
 
 
O ponto de partida na identificação da cadeia produtiva da uva e do vinho, em sua 
forma linear, é estabelecido pelos elos fornecedores de insumos que são: fertilizantes, 
defensivos, máquinas e equipamentos, embalagens plásticas, vidros, madeira, papelão, além 
dos produtores de mudas e arames, entre outros. 
A atividade vitícola é representada pelos produtores de uva, vindo na sequência a 
agroindústria vitivinícola, responsável pela transformação da matéria-prima. Neste segmento, 
se destacam as cooperativas vinícolas e as pequenas, médias e grandes vinícolas. Na 
sequência aparecem as redes de comercialização e distribuição. Este elo da cadeia é formado, 
primeiramente, pelas redes atacadistas, vindo na sequência a rede varejista, esta última 
representada principalmente por supermercados, restaurantes e cantinas, entre outros 
estabelecimentos de venda dos produtos originados na cadeia. Por fim, chega-se ao mercado 
consumidor, onde o produto passará pelo teste de aceitação ou não dos consumidores. 
 
Vitivinicultura: uma análise 
 
Conforme tabela 1, no período de 2007 a 2012, não ocorreu uma variação significativa 
nos padrões da área total plantada. O que se percebe é uma pequena queda de 2,74% no ano 
de 2011, menor área plantada no período em análise. Comparando com o ano anterior, o 
Estado de Pernambuco em 2010 teve sua área plantada ampliada em 23,89%. Contudo, em2011 a área diminuiu em 20,88%, ou seja, 1.830 hectares de área plantada de videiras 
deixaram de existir. Na Bahia, em 2011, a redução foi de 12,11%. Pode se observar para os 
demais estados que as áreas permaneceram inalteradas ou apresentaram pequena redução. 
Na tabela 2, a concentração territorial mostra-se ainda mais marcante quando se 
diferencia o tipo de uva pelo seu destino, seja ele consumo de mesa ou processamento na 
forma de vinho ou suco. Na medida em que o Rio Grande do Sul – e, em particular, da Serra 
Gaúcha – se destaca na produção de uvas viníferas e para suco, observa-se um índice muito 
mais pronunciado do que na produção de uva para mesa. 
Com relação aos dados informados na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), 
do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), sobre o emprego industrial em vinícolas no 
Brasil e no Rio Grande do Sul, conclui-se que esta participação tem se mostrado relativamente 
estável ao longo do tempo. Na tabela 3 computamos o número de empregados formalmente 
registrados em estabelecimentos cadastrados como produtores de vinho entre 1995 e 2010 no 
Brasil e no Rio Grande do Sul. Destacamos que a correlação entre número de empregos e ano 
 
 
é fortemente positiva e significativa para o Brasil, o que indica que o segmento encontra-se 
em crescimento sustentável nos últimos quinze anos, apesar da exposição competitiva 
associada à valorização do Real e à integração no Mercosul. 
Observamos que parte do crescimento do emprego ao longo do período pode estar 
associado à formalização de postos de trabalho já existentes. Acredita-se que a informalidade 
possa ser a grande responsável pela participação relativamente discreta (abaixo de 50%) do 
Rio Grande do Sul no levantamento do MTE. 
Como a parcela não desprezível das vinícolas gaúchas se organizam sob a forma de 
micro empresas familiares, parcela significativa da mão de obra das mesmas não estaria sendo 
formalizada. Também é preciso observar que a classificação das empresas no interior do 
sistema de RAIS é feita pelo próprio declarante e, a classificação deve ser feita de forma 
homogênea. 
De acordo com os dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE, 2014), a 
produção de vinho e uva no Rio Grande do Sul emprega 3 mil trabalhadores no 
processamento industrial e, direta e indiretamente cerca de 40 mil na produção de uva. 
Analisando a questão da tributação incidente sobre a cadeia do vinho no Rio Grande do 
Sul, tem-se que 42% do preço final de uma garrafa de vinho são tributos envolvidos com 
ICMS 55%; PIS/COFINS 18%; IR 16%. 
 
Área de Estudo: Vale dos Vinhedos 
 
O vale está localizado no nordeste do Rio Grande do Sul, na região serrana do estado. O 
território da indicação geográfica Vale dos Vinhedos abrange áreas dos municípios de Bento 
Gonçalves (60%), Garibaldi (33%) e Monte Belo do Sul (7%). A figura 3 indica a sua 
localização. 
Como podemos observar o município de Bento Gonçalves engloba a maior parte do 
território do Vale dos Vinhedos. Possui uma área total de 274 km², sendo que 82 km² 
corresponde a área total do vale e 26% desta área se encontra cultivada com vinhedos. 
A população estimada pelo IBGE (2013) era de 99 mil habitantes na área urbana e 8 mil 
na área rural. Segundo a Fundação de Economia e Estatística (FEE), o Produto Interno Bruto 
(PIB, 2010) do município foi de R$ 3,1 bilhões, encontrando-se na 14ª posição como o estado 
mais rico. O PIB per capita neste mesmo período foi de R$ 29.352, ficando na 49ª posição 
entre as cidades gaúchas. 
 
 
Segundo dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), a área 
plantada com uvas comuns corresponde a 3.780 ha e com uvas viníferas a 1.620 ha. A 
produção estimada de uvas comuns ficou em torno de 94 mil toneladas e de uvas viníferas em 
torno de 33 mil toneladas. A estimativa para a produção de uvas comuns é de 25 mil quilos 
por hectare e para as uvas viníferas de 20,5 mil quilos por hectare. O município possui cerca 
de 1.400 propriedades rurais e 1.200 famílias envolvidas com a produção de uva. 
 
Vinícola Miolo 
 
A Miolo é líder no mercado nacional de vinhos finos com cerca de 40% do market 
share, elabora mais de 12 milhões de litros de vinho e possui a maior área de vinhedos 
próprios do Brasil (MIOLO WINE GROUP, 2011). Maior parte da produção (90%) é 
absorvida internamente, mais precisamente na região sudeste (São Paulo) e no Rio Grande do 
Sul e, os 10% restantes são exportados (1,2 milhão litros), sendo estes distribuídos em 30 
países. 
Com o processo de fusão em 2009, as famílias Miolo (60%), Benedetti/Techio (15%), 
Randon (15%) e Bueno (10%), criaram o grupo Miolo Wine S/A., o que garantiu ao grupo 
uma maior penetração nos mercados internacionais. A Miolo Wine S/A. pretende destinar 30% 
da sua produção para a exportação em 2020. 
Conforme dados do Plano de Negócios (2012) e informações fornecidas pela empresa, 
no ano de 1997 (início das atividades), a vinícola teve um faturamento de R$ 1 milhão, em 
2000 de R$ 35 milhões, em 2009 de R$ 95 milhões e para 2020 estima alcançar os R$ 500 
milhões. 
O grupo Miolo Wine S/A. possui quatro regiões vitivinícolas brasileiras constituídas por: 
Vale dos Vinhedos com 120 ha de área não contínua, respectivamente em Garibaldi, Bento 
Gonçalves e Monte Belo do Sul; Campos de Cima da Serra com 180 há, englobando Vacaria 
e Muitos Capões; Campanha Gaúcha com 100 ha em Candiota (Fazenda Fortaleza do Seival) 
e em Santana do Livramento (Vinícola Almadén), essa última adquirida em 2009 com área de 
1200 ha, sendo que 600 ha são de produção de vinhedos e 600 ha de área de preservação 
ambiental e o Vale de São Francisco com 200 ha, no município de Casa Nova-BA (Vinícola 
Ouro Verde) adquirida em 2000. 
 
 
Nos últimos dez anos, a Miolo Wine S/A. investiu R$ 120 milhões em expansão da 
produção, tecnologia de ponta, mudas importadas, instalações e equipamentos de última 
geração. 
No que se refere ao quadro de empregados, a vinícola possui 130 funcionários, entre 
profissionais da administração, área técnica e operacional, gerência e diretoria. Destaca-se que 
na área do cultivo possui 15 funcionários e no período de colheita absorve uma mão de obra 
temporária de 40 pessoas. 
 
Certificações 
 
Para atender às exigências do mercado, a Miolo fez várias adequações e, desde 2008 
possui as certificações internacionais ISO 22000 que garante a segurança dos alimentos por 
meio do sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle e a ISO 9001 que tem o 
foco em gestão da qualidade. 
Por meio destas duas normas é possível monitorar e estabelecer políticas de prevenção 
dos perigos e riscos, desde o preparo e a adubação do solo, o cultivo das videiras, a maturação 
das uvas, a colheita, a elaboração dos vinhos, o engarrafamento e a distribuição. 
A partir deste ajuste, a Miolo está trabalhando com o conceito de sistema de gestão 
integrado, com um completo programa de rastreabilidade, ou seja, através do lote marcado no 
rótulo é possível conhecer a história de cada garrafa produzida, incluindo todos os processos 
de produção, como as características da uva e elaboração, incluindo os cortes realizados, os 
controles de envelhecimento e de engarrafamento, bem como os controles fitossanitários. 
A certificação foi realizada pela Lloyd's Register Quality Assurance Limited (LRQA), 
braço certificador de sistemas de gestão do Grupo Lloyd’s Register, certificadora que possui 
atuação mundial e é reconhecida pela sua credibilidade. 
 
Produção 
 
A Vinícola Miolo importa 42 variedades de uvas viníferas, principalmente da França, 
Itália, Portugal e Espanha. Na região serrana e na campanha o cultivo é bem diferenciado.A 
diversidade ambiental oportuniza a produção de uvas que originam vinhos com diferentes 
características de tipicidade, de acordo com o tipo de solo e as condições climáticas 
específicas de cada zona de produção. Na região serrana são cultivas 3.333 plantas por ha, 
 
 
com uma produção de 1,5 kg a 2 kg por pé. Já na campanha o cultivo é de 4.000 plantas por 
ha, com uma produtividade de 6 kg por pé. Em todas as quatro regiões a empresa utiliza em 
seu cultivo o sistema espaldeira
*
. 
A colheita da uva no Vale dos Vinhedos é realizada toda manualmente em razão da sua 
topografia acidentada. Na Campanha a colheita é metade mecanizada e outra metade é feita 
manualmente e no Vale São Francisco (BA) é totalmente mecanizada. O início da colheita se 
dá na primeira quinzena de janeiro e termina em meados de março. 
 
Processos: da uva ao vinho 
 
Para se obter vinhos finos é de grande importância a qualidade da uva, que mediante a 
avaliação do grau de amadurecimento e do estado sanitário irá influenciar no tipo de vinho 
que será elaborado. Também o transporte rápido e o acondicionamento adequado das uvas 
previne o seu esmagamento, fator que pode causar alterações na qualidade do vinho. Os 
processos (figura 4) são descritos a seguir. 
Recepção: fator importante, pois está relacionado à conservação das uvas e às condições 
higiênicas apropriadas nos taques de recebimentos. 
Classificação: prevê a separação rápida e sua condução à linha de produção. 
Desengace: método que retira do cabinho a uva. As uvas entram pela parte superior da 
desengaçadeira passando entre cilindros, um fixo e outro móvel. Já desengaçada passa para 
outro cilindro perfurado para que os grãos possam cair e serem separados do engace. 
Esmageamento: nesse processo tem-se a fermentação pela trituração das uvas, que 
resulta na liberação de mosto pela ruptura das películas. 
Sulfitagem do mosto: é adicionado como papel de desinfetante o anidrido sulfuroso ou 
dióxido de enxofre. Ele é colocado antes da fermentação para obter algumas finalidades como 
inibir crescimento de bactéria e leveduras indesejáveis; antioxidante protege o mosto do ar; 
efeito seletivo da flora microbiana. 
Maceração: são extraídos os componentes da cor, ou seja, das cascas formados pelas 
antocianinas e taninos. As antocianinas são pigmentos vermelhos, extraídos rapidamente, 
possuem cor atijolada, correspondem aos vinhos envelhecidos. Os taninos, que demoram mais 
a incorporar-se ao líquido, oferecem a longevidade da cor e da estrutura e corpo dos vinhos 
tintos. 
 
*
 Dossel vertical e a poda é mista ou em cordão esporonado. As varas são atadas horizontalmente aos fios da 
produção do sistema de sustentação do vinhedo. 
 
 
Fermentação: dura vários dias, se caracteriza pelo grande desprendimento de gás 
carbônico e pela elevação da temperatura no meio. O desdobramento do açúcar inicia-se de 
maneira lenta e vai aumentando com o tempo. 
Descuba: operação na qual serão separados o mosto das substâncias sólidas mais 
grosseiras em suspensão. A esse conjunto denomina-se bagaço, pois é composto em sua 
maioria pelas películas de baga. 
Sulfitagem do vinho: serve para neutralizar possíveis reações químicas e bioquímicas de 
oxidação e evitar o crescimento de microrganismos indesejáveis no vinho. 
Trasfegas: consiste em transferir o vinho de um recipiente para outro, visando separá-lo 
dos sólidos insolúveis que sedimentam no fundo da cuba ao final da fermentação (borras). 
Podem servir também em alguns casos para a aeração do vinho, reequilibrando seu potencial 
de óxido-redução. 
Atestos: consistem em manter completamente cheios os recipientes de estocagem 
evitando o contato do vinho com o ar. Esse contato pode ocasionar no vinho oxidação 
descontrolada ou condições para o desenvolvimento de bactérias nocivas à qualidade. 
Tratamento a frio: também pode ser chamado de estabilização física do vinho, este 
processo visa atingir dois pontos básicos para se obter um produto de qualidade. 
Clarificação: consiste em adicionar ao vinho um produto clarificante (orgânico ou 
mineral), que por adsorção apresenta a faculdade de coagular, flocular e arrastar as partículas 
em suspenção. Após a clarificação ocorre a 1ª filtração. 
Maturação: obtém-se o ponto máximo qualitativo através da lenta oxidação, 
provocando alterações de cor, aroma e gosto das frutas para o vinho. 
Corte: significa a mistura de dois ou mais vinhos com o objetivo de obter um produto 
bem equilibrado e harmonioso, remediando o excesso ou a deficiência de alguns 
componentes. 
2ª filtração: é importante porque retém as partículas sólidas do meio, deixando fluir 
apenas o líquido. Desta forma o produto filtrado tem sua limpidez momentânea garantida, 
porém não estabiliza, pois certamente ocorrerão novas precipitações de cristais quando o 
vinho for submetido a baixas temperaturas. 
Engarrafamento: não deve ser realizado imediatamente. O vinho deve ser deixado em 
repouso de um a três meses, dependendo do tipo para reencontrar o seu equilíbrio. 
Envelhecimento: na garrafa só acrescenta qualidade em vinhos que possuem potencial 
para isto. É na garrafa que o vinho encontra um meio redutor onde realmente se verifica a 
 
 
transformação do aroma em bouquet, devido principalmente ao fenômeno de esterificação. 
Quanto ao sabor, os vinhos envelhecidos beneficiam-se de um arredondamento, salientando a 
harmonia de suas qualidades. 
Consumo: fim de todo o processo. 
 
Considerações Finais 
 
Podemos concluir que a vitivinicultura no estado do Rio Grande do Sul representa um 
setor notável dentro da agroindústria gaúcha. Herança dos imigrantes do norte da Itália, o 
desenvolvimento do cultivo da uva e da produção do vinho foi, mais tarde, seguido pela 
modernização e aprimoramento tecnológico, elevando sua qualidade. Apesar disso, mesmo 
sendo o maior produtor disparado no Brasil, o vinho gaúcho (e brasileiro em geral) ainda 
perde para o vinho de outros países como França, Itália, Espanha, Chile e Argentina. 
Durante a visita técnica à Vinícola Miolo, localizada no Vale dos Vinhedos em Bento 
Gonçalves, foi possível entender como a cadeia produtiva do vinho funciona, assim como se 
dão todas as suas etapas. 
O objetivo proposto para o trabalho foi atingido, tendo a disciplina de Geografia 
Econômica contribuído na elaboração da parte escrita e no reforçamento dos saberes relativos 
à matéria. O aprofundamento do tema escolhido ampliou nosso conhecimento não somente 
quanto à questão econômica que o vinho e a uva exercem no Rio Grande do Sul, mas também 
nos permitiu entender a influência sobre o papel sociocultural das vitiviniculturas. 
 
Referências 
 
 
DOLABELLA, R.V.M. et al. A consolidação das Competências Organizacionais na 
Vitivinicultura Brasileira: o caso na Vinícola Miolo. Revista Organizações Rurais & 
Agroindustriais, Lavras, v. 14, n. 2, p. 174-189, 2012. Disponível em: 
<http://revista.dae.ufla.br/index.php/ora/article/view/506/363>. Acesso em: 30 Jun 2015. 
 
GIOVANINI, A.; FREITAS, C. Mensurando a Carga Tributária Incidente sobre a 
Cadeia do Vinho do Rio Grande do Sul. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 2, p.495-520, 
dez. 2014. Disponível em: 
<http://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/viewFile/2597/3518>. Acesso em: 17Jun 
2015. 
 
HOECKEL, P.H.O et al. A Concentração de Mercado no Setor Vinícola do Rio Grande 
do Sul (2004-2012). Disponível em: http://www.fee.rs.gov.br/wp-
content/uploads/2014/05/201405 
 
 
267eeg-mesa20-concentracaosistemaagroindustrialvitivinicolars.pdf>.Acesso em: 12 Jun 
2015. 
 
HOEPERS, D. Processamento deVinhos. Disponível em: 
<http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAIW8AA/processamento-vinhos?part=2>. Acesso 
em 3 Jul 2015. 
 
MIOLO WINE GROUP. A Empresa. Disponível em: 
<http://www.miolo.com.br/empresa/miolo_wine_group/>. Acesso em: 2 Jul 2015. 
 
PAIVA, C. A.; LENTZ JR, l. A Dimensão Socioeconômica da Vitivinicultura Gaúcha. 
Disponível em: 
<http://www.ibravin.org.br/public/upload/downloads/1377634352.pdf>. Acesso em 18 Jun 
2015. 
 
TRICHES, D. et al. Identificação e análise da cadeia produtiva da uva e do vinho da 
Região da Serra Gaúcha#. Disponível em: 
<http://www.sober.org.br/palestra/12/04o237.pdf>. Acesso em: 17 Jun 2015. 
 
 
 
 
Figura 1. Estrutura central da cadeia produtiva da uva e do vinho 
 
 
 Fonte: TRICHES; SIMAN; CALDART (2004) 
 
 
 
Figura 2. Representação dos fluxos de uma cadeia produtiva vitivinícola 
 
 
 
 
Figura 3. Região do Vale dos Vinhedos – Área de Estudo 
 
 
 
Figura 4. Fluxograma do processo do vinho 
 
 
 
 
 
Tabela 1. Área plantada de videiras no Brasil, em hectares, 2007-2012 
 
 
 
 
 
 
Tabela 2. Quantidade Produzida e Valor da Produção de Uva de Mesa e Vinho/Suco nos Estabelecimentos 
com mais de 50 pés no Brasil, RS e Principais Municípios Produtores do RS, 2006 
 
 
 
Fonte IBGE 
Uva para 
mesa
Uva para 
vinho ou 
suco
Total
Uva para 
mesa
Uva para 
vinho ou 
suco
Total
Brasil 252.697 576.195 828.892 632.389 420.941 1.053.330
Rio Grande do Sul 28.042 535.466 563.508 22.859 362.998 385.857
% do RS no BR 11,10% 92,93% 67,98% 3,61% 86,23% 36,63%
Bento Gonçalves 3.166 98.530 101.696 18,05% 1.712 66.946 68.658 17,79%
Flores da Cunha 303 78.433 78.736 13,97% 379 58.430 58.809 15,24%
Caxias do Sul 2.317 50.723 53.040 9,41% 2.917 33.007 35.924 9,31%
Farroupilha 2.991 48.914 51.905 9,21% 2.241 28.554 30.795 7,98%
Monte Belo do Sul 0 31.957 31.957 5,67% 0 20.438 20.438 5,30%
Garibaldi 1.158 37.071 38.229 6,78% 692 19.440 20.132 5,22%
Antônio Prado 25 18.190 18.215 3,23% 21 15.661 15.682 4,06%
São Marcos 423 14.877 15.300 2,72% 377 11.529 11.906 3,09%
Cotiporã 64 15.562 15.626 2,77% 35 10.071 10.106 2,62%
Nova Pádua 0 22.491 22.491 3,99% 0 9.637 9.637 2,50%
10 Princip Prod RS 10.447 416.748 427.195 75,81% 8.374 273.713 282.087 73,11%
Quantidade produzida 
(Toneladas)
Valor das Produção 
(Mil Reais)
Tabela 1177 do CAg2006 - Produção e Valor da produção de uva nos estabelecimentos agropecuários com mais de 50 pés 
Território % da 
Quantidade 
Produzida 
Municipal na 
Produção do 
RS
% do Valor 
da Produção 
Municipal no 
Valor da 
Produção do 
RS
 
 
Tabela 3. Número de Empregados na Produção Industrial de Vinho no BR e no RS - 1995-2010 
 
 
 
 
 
 
Ano Brasil RS
% RS no 
BR
Produto
1995 4.618 2.513 54,4%
1996 4.629 2.094 45,2%
1997 4.371 2.036 46,6%
1998 4.490 1.935 43,1%
1999 4.775 2.140 44,8%
2000 5.247 2.220 42,3%
2001 4.609 2.227 48,3%
2002 4.374 2.022 46,2%
2003 4.321 2.061 47,7%
2004 4.598 2.139 46,5%
2005 4.894 2.293 46,9%
2006 5.151 2.331 45,3%
2007 5.305 2.402 45,3%
2008 5.371 2.158 40,2%
2009 5.864 2.508 42,8%
2010 5.882 2.571 43,7%
Média 4.906 2.228 45,6%
Correl Ano 0,75 0,48 -0,49
Sig Correl 0,01 0,16 0,56
Fonte dos Dados BrutosL: RAIS - MTE
Vinho

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