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Enogastronomia e Bebidas William Maximo Galheira DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró- Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho, Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha, Direção de Operações Chrystiano Mincoff, Direção de Mercado Hilton Pereira, Direção de Polos Próprios James Prestes, Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção de Relacionamento Alessandra Baron, Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli, Gerência de Produção de Contéudo Gabriel Araújo, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey, Coordenador de Contéudo Sandra Franchini, Projeto Gráfico e Editoração Jaime de Marchi Junior e José Jhonny Coelho, Designer Educacional Maria Fernanda C. Vasconcelos, Revisão Textual Simone Limonta, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock e Istockphoto. NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050- 900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Edu- cação a Distância: Enogastronomia e Bebidas. William Maximo Galheira Maringá - PR, 2015. Reimpressão 2018 148 p. “Graduação em Gastronomia - EaD”. 1. Gastronomia. 2. Enogastronomia. 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0178-5 CDD - 22ª Ed. 641.5 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Impresso por: “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, forman- do profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” Missão 3 Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualida- de, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conheci- mento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhe- cimento, formando profissionais cidadãos que con- tribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desen- volvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecida como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qua- lidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão uni- versitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e adminis- trativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educa- ção continuada. pa la vr a do re it or Reitor Wilson de Matos Silva Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a UNICESUMAR tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, demo- cratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comuni- cação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conec- tividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets acelera- ram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipa- mentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em infor- mações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. bo as -v in da s Pró-Reitor de EaD Willian V. K. de Matos Silva 5 bo as -v in da s Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequente- mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transfor- mação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pe- dagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desen- volvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de ma- neira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e partici- pe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. Diretora Pedagógica Kátia Solange Coelho E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s Ap re se nt aç ão d o Li vr o Professor Especialista William Maximo Galheira Caro(a) aluno(a), é grande a minha satisfação em estar com você conduzindo a disciplina de Enogastronomia e Bebidas. Sou o professorWilliam Maximo Galheira, graduado em Ciências Jurídicas pela Unimar, formado em Cozinheiro Chef Internacional e Sommelier pelo Campus Universitário SENAC Águas de São Pedro e pós-graduado em Gestão de Segurança de Alimentos pelo SENAC Curitiba. Atualmente, possuo certificação internacional módulo II pela instituição britânica Wine & Spirits Education Trust. O crescente interesse por conhecimento sobre o mundo dos vinhos tem me levado a ministrar cursos e palestras para os diversificados setores da gastronomia, bem como para os apreciadores da bebida. A oportunidade de ministrar a disciplina de Enogastronomia aflorou, ainda mais, a minha paixão por esse mundo de aromas, sabores e sensações. Na primeira unidade, vamos iniciar a jornada com referências básicas sobre o vinho, a sua evolução histórica, passando pelos países produtores e o seu processo de fabricação (vinificação). Já na segunda unidade, iniciaremos com uma rápida abordagem sobre o que tem a dizer o vinho dentro de uma garrafa. A importância das rolhas, bem como do rótulo. Num segundo momento, vamos aprender sobre a degustação do vinho, com as técnicas e os termos utilizados para descrever essa bebida que vem acompanhando o homem por séculos. Finalizando a unidade, já colocando em prática os conhecimentos até em tão assimilados, vamos aprender o modo mais adequado de servir o vinho. Para finalizar, na terceira unidade, onde se encontra a alma da disciplina, iremos discorrer sobre a harmonização entre o vinho e a comida. Passaremos dicas de combina- ção e técnicas de harmonização e, para finalizar, como a gastronomia envolve também a bebida, iremos falar brevemente sobre outras bebidas, no caso, os principais destilados. SUMÁRIO UNIDADE 1 Vinho 13 Introdução ao Vinho 27 Uvas Viníferas 39 Produção do Vinho UNIDADE 2 Degustação 67 Garrafas, Rolhas e Rótulos 73 Técnicas de Degustação 91 Armazenagem e Serviço do Vinho UNIDADE 3 Harmonização 111 Noções de Harmonização 121 Técnicas de Harmonização 129 Conhecendo outras Bebidas Além do Vinho dica do chef habilidades Legendas de Ícones recapitulando saiba mais fatos e dados minicaso reflita Dica do Chef: dicas rápidas para complementar um conceito, detalhar procedimentos e proporcionar sugestões. Habilidades: elo entre as disciplinas do curso. Mão na massa: indicação de atividade prática. Fatos e Dados: complementação do conteúdo com informações relevantes ou acontecimentos. Minicaso: aplicação prática do conteúdo. Reflita: informações relevantes que proporcionam a reflexão de determinado conteúdo. . Recapitulando: síntese de determinado conteúdo, abordando principais conceitos. Saiba mais: Informações adicionais ao conteúdo. mão na massa Vinho WILLIAM MAXIMO GALHEIRA A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Introdução ao vinho • Uvas viníferas • Produção do vinho • Compreender o contexto histórico do vinho. • Identificar a influência do clima e do solo na viticultura. • Diferenciar as principais uvas brancas e tintas. • Entender o processo de vinificação. Plano de Estudo Objetivos de Aprendizagem Introdução Nesta unidade, faremos uma introdução ao vinho, com base no seu desenvolvimento histórico e comercial. A minha proposta é que, por meio desta introdução, tenhamos um suporte para conhecer suas principais caraterísticas. Por se tratar de uma bebida milenar, o apanhado histórico visa apresentar-lhe a relação que o vinho tem com o desenvolvimento da humanidade. Identificaremos, em um segundo momento, as características das principais uvas tintas e brancas, usadas nos processos de fabricação do vinho. Desta forma, vamos conhecer as suas particularidades, as regiões do mundo onde melhor se adaptam e também aprender a fazer uma diferenciação dos principais sabores e aromas que são peculiares de cada uva. Abordando o tema referente ao clima e ao solo, iremos compreender a determinante influ- ência destes no desenvolvimento da uva. Iremos, ainda, abordar temas que envolvem o grande momento de um vinho: o seu processo de vinificação. Os franceses costumam dizer que não fazem vinho, são apenas parteiras que os ajudam a nascer. Poesia à parte, o momento determinante da qualidade final de um vinho são os detalhes que constituem a vinificação. Será abordado cada processo na sua devida sequência, desde o momento em que as uvas chegam à vinícola até o seu envase, e cada ponto deste será tratado de uma forma que você con- seguirá vislumbrar as suas nuanças, tendo como ponto alto a junção de todos em um sistema que irá trazer o entendimento correto da vinificação. Veremos de forma distinta os processos de vinificação que cercam o fabrico dos vinhos tintos, brancos e espumantes, pois cada tipo requer métodos que são comuns de todos, mas outros que são específicos. Assim, mais que conhecer os padrões de vinificação, será fundamental com- preender as necessidades que cada tipo de vinho requer. Os vinhos tintos têm como principal quesito que o seu mosto seja vinificado conjuntamente com as cascas da uva, para que adquira a coloração desejada. Já os vinhos brancos, quando vão iniciar a fermentação, devem ter as cascas extraídas, ficando somente o mosto, para garantir uma maior leveza. Os espumantes são feitos com duas fermentações, sendo que a segunda ocorre dentro da garrafa, processo fundamental para gerar o gás carbônico que irá se integrar à bebida e garantir a gaseificação a ela. Vamos, ainda, conhecer quais são os tipos de madeira utilizados na fabricação do vinho e os países que têm a sua maior produção. Além disso, será apresentada a forma que os barris são confeccionados. Assim, vamos conhecer quais são os principais aromas e sabores que a madeira irá conferir ao vinho, bem como as influências de aromas e de sabores que irão integrar-se à bebida. 11 E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s 13G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Introdução ao vinho Quando falamos de vinhos, estamos falando da história da huma- nidade. Pesquisas indicam a Geórgia (Rússia), região conhecida como Cáucaso, como o local onde provavelmente se produziu vinho pela primeira vez, mas cada cultura narra o surgimento do vinho de variadas formas, de acordo com a sua tradição e suas crenças. Os cristãos acreditam que o primeiro vinhedo foi cultivado por Noé, que produziu o primeiro vinho. Para os gregos, tratava-se de uma bebida dos deuses. E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s É no Egito que encontramos desenhos e hieróglifos em que foi re- gistrada a vinicultura com a prensagem das uvas e o processo de fermentação. Com o passar do tempo, o consumo de vinho aumen- tou e, juntamente com o azeite de oliva, passou a ser mercadoria importante para o comércio egípcio. Para os romanos, o vinho surgiu como uma forma de impor seus costumes e sua cultura nas áreas conquistadas, tornando-se a bebida dos gladiadores e dos soldados. Junto com os romanos, os vinhedos chegaram à Gália, que mais tarde viria a se chamar França. Com a Revolução Industrial, no século XVIII, o vinho passou a ser fabri- cado com técnicas bem menos rústicas, possibilitando a produção em massa, adaptando-se ao mundo industrializado. 15G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Há muitas lendas e histórias sobre a origem do vinho. Contam que um pastor de ovelhas deixou aciden- talmente as uvas fermentarem dentro de uma bolsa de couro e quando viu, teve a curiosidade de provar aquele líquido espesso e como um gosto forte. Outra história, segundo Viana Junior e Santos (2010) , muito citada, faz referência não ao gosto do vinho, mas sim ao seu efeito inebriante. Segundo a lenda, no castelo do rei Jamshid da Pérsia, as uvas eram armazenadas em jarros. Certo dia, um desses vasilhames começou a exalar aromas estranhos e a borbulhar. Foi logo separado dos demais, pois se acreditava que o líquido poderia ser venenoso. Uma odalisca, quesofria de fortes dores decidiu beber o líquido para acabar com a própria vida. A consequência foi da euforia ao alívio, seguido por um sono profundo. A notícia logo se espalhou pelo reino, ganhando fama. São histórias deliciosas. Filoxera, Phylloxera vastatrix, é o inseto responsável pela devastação de muitas indústrias vinícolas no fim do século XIX. Ele ataca as raízes das vinhas, matando os vinhedos. A França foi o país mais prejudicado, mas a praga causou prejuízos nas vinhas de outros países vizinhos. Até hoje, a única maneira de controlar a praga é enxertar as vinhas europeias nas raízes das vinhas americanas, pois estas são resistentes à filoxera. Fonte: Keevil (2010, p. 19) E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s Desde o século XX, a vitivinicultura vem evo- luindo, acompanhada dos avanços tecnológicos e genéticos. Entretanto, o bom vinho ainda de- pende da qualidade da uva, que vem da combi- nação harmoniosa do solo, do clima e da espécie da uva. Segundo Viana Junior e Santos (2010), o clima tem influência fundamental sobre o de- senvolvimento da videira, sendo que o inverno é útil para o repouso da planta, e a temperatura amena na primavera é favorável para a brotação e a floração. Já o sol tem ação direta no bom amadurecimento, que por sua vez, tem um im- pacto direto na concentração de açúcar e ácidos que compõem a fruta. A chuva em excesso no verão encharca os frutos, provocando a diluição dos aromas e sabores, além de causar doenças. A videira se adapta a diferentes climas, mas as zonas temperadas dos hemisférios Norte e Sul, entre as latitudes 30º e 50º, são consi- deradas as regiões apropriadas para o desen- volvimento da viticultura, onde as estações do ano se caracterizam por invernos frios, verões quentes e secos, outonos ensolarados e amenos. Visualizando isso no globo, as regiões apropria- das se espalham por parte dos Estados Unidos e parte da Europa e, no hemisfério Sul, pela parte meridional da América do Sul, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Mas, além das regiões que ficam entre essas latitudes, exis- tem vinícolas no Reino Unido, México, Peru, Nordeste do Brasil, Índia e outros países. Figura 1: Regiões apropriadas para a viticultura no mapa mundi. Fonte: Viana Junior e Santos (2010, p. 33) 50º 30º 0º (Equador) 30º 50º Estados Unidos Brasil Argentina França Portugal Itália Austrália Chile Uruguai Alemanha Espanha Áustria Áustria do Sul Nova Zelândia 17G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Assim como o clima, o solo onde a videira é plantada é importante para obtenção de uvas de qualidade. A videira é uma planta resistente e se adapta a diversos tipos de solos (areno- sos, argilosos, com pedregulho). Entretanto, não tolera umidade excessiva. Ainda, segundo Viana Junior e Santos (2010): os melhores solos são aqueles que permitem que as raízes penetrem até 10 metros de profundidade, em busca de umidade e nutrientes, tal como ocorre em solos profundos e soltos, como os de calcário e cascalho. Também temos os solos de pedregulho, que, além de refletir o calor do sol para a fruta, contribuindo para seu amadu- recimento, armazenam o calor durante o dia para manter a temperatura das raízes durante a noite. Agora que já conhecemos o contexto his- tórico do vinho, bem como a importância dos fatores climáticos e do solo para a sua produ- ção, continuaremos nossa jornada introdu- tória ao mundo do vinho falando um pouco sobre os principais produtores do mundo. E iniciaremos falando, é claro, da França, refe- rência mundial quando o assunto é vinho de qualidade. A França é um dos maiores produtores e um dos maiores consumidores da bebida no mundo. As vinícolas francesas são conhecidas mundialmente, e os seus vinhos estão entre os mais famosos. E qual é a razão para tudo isso? As condições naturais combinadas com uma variedade de uvas nobres e o respeito do francês à produção do vinho. Aliado a tudo isso, se tem o rigor da legislação francesa, que regulamenta tanto a qualidade, produção de distribuição do vinho quanto as nomenclaturas e as classifica- ções técnicas. Segundo Johnson (2011, p. 34): É difícil encontrar alguém que negue a pri- mazia da França como o país que determi- na os padrões internacionais de avaliação da qualidade de vinhos. O vinho fino, tal como é entendido hoje, foi simplesmente uma invenção francesa, um produto do mesmo talento nacional que produziu a variada, inventiva e (em sua melhor forma) sublime culinária francesa. E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s Continuando nossa jornada pela França, lhe faço uma pergunta: “quem nunca ouviu falar de Bordeaux, Borgonha ou Champanhe”? São as mais importantes regiões produtoras de vinho da França. Em Bordeaux, com as uvas tintas Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, se pro- duzem os vinhos da mais alta qualidade. Na Borgonha, temos cepas, como a tinta Pinot Noir e a Branca Chardonnay com suas incon- fundíveis notas ricas em manteiga em algu- mas partes desta região, e em outras, como Chablis, proporcionam tons mais minerais. A região de Champanhe produz o mais famoso espumante do mundo e vinho símbolo das celebrações. 19G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Terroir é um conceito francês que vem sendo seguido pelos produtores do mundo inteiro. Os franceses são famosos por produzirem excelentes vinhos porque eles entenderam que determinado tipo de uva produz vinhos melhores quando a videira é plantada em determinado tipo de solo e de clima. Fonte: Viana Junior e Santos (2010, p. 31) Segundo Keevil (2010, p. 49), Guia Ilustrado Zahar – Vinhos do mundo todo, na França, a comida e o vinho estão vinculados, fazendo parte da herança cultural e gastronômica. O vinho quase sempre é consumido com o acompanhamento adequado. Servem-se pratos regionais com vinhos dessa área, pois evoluíram juntos, de forma que harmonizam perfeitamente. Cita, por exemplo, peixes de água doce com molho à base de manteiga servidos com um Borgonha branco. Na disciplina de Cozinha Clássica, estudamos toda a evolução da cozinha francesa, sua importância, e, inseridos nesse contexto, seus vinhos e sua culinária, trabalhando a relação entre eles e sua grande con- tribuição para o universo gastronômico. Não deixe de revisitar sempre esse assunto tão importante para o nosso aprendizado! E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s Da França, partimos para Portugal, que é um país que, em relação aos demais, tem como grande diferencial as uvas autóctones, ou seja, cepas que são tipicamente portuguesas, e que raramente são cultivadas fora do território português. Por muito tempo, o país era conhecido basi- camente pelos seus vinhos fortificados (Porto) e pelos vinhos verdes, mas este panorama vem se modificando. Desde o início da década de 1990, o país vem produzindo excelentes produtos, oriun- do da região do Dão, do Douro e do Alentejo. Isso graças à modernização dos vinhedos e à preocupação com a qualidade da bebida. Rumo à Itália, descobrimos um grande pro- dutor de vinhos, com mais de 3.000 mil anos de história em viticultura. As principais regiões produtoras e as que mais se destacam, segundo Viana Junior e Santos (2010), são Piemont, Vêneto e Toscana. Como segundo maior produtor e exportador mundial de vinhos, a Itália, possui “uma surpre- endente gama de sabores de vinho, derivada de uma variedade de videiras autóctones. A coleção é extraordinária, com cerca de mil variedades de uva sendo cultivadas” (JOHNSON, 2011, p. 288). Já na Espanha, a área dedicada aos vinhe- dos é maior do que em qualquer outro país. As principais regiões são Rioja e Ribera del Duero, seguida pela Catalunha. Ainda, conforme Keevil (2010), os vinhos espanhóis estão entre os mais modernos, uma vez que o país reinventou-se no vinhedo e na vinícola, apresentandouma indústria dinâmica e moderna. Vindo para o novo mundo (não Europeu) chegamos ao Chile, onde, assim como nos outros países da América-Latina, as vinhas só chegaram no século XVI, trazidas pelos invasores espa- nhóis. O Chile tem uma posição geográfica que o limita pelos Andes, pelo deserto de Atacama e pelo gelo da Antártica. Essa posição geográfica garante a ele um isolamento das pragas (filo- xera) que afetam as outras viticulturas, sendo que as vinhas viníferas, como os chamados pés francos, podem ser plantadas sem a necessidade do enxerto em pés de uvas Vitis americanas. Os vinhos produzidos na região de Champanhe são os únicos que podem utilizar oficialmente a denominação “champagne” para os espumantes obtidos pelo método champenoise. Esse método, também, só pode ser usado para os vinhos lá produzidos. Os espumantes produzidos em outras localidades recebem outras de- signações, como sekt na Alemanha, cava na Espanha e sparkling wine nos Estados Unidos. Fonte: Viana Junior e Santos (2010, p. 136) 21 A cepa considerada emblemática no Chile é a Carmenère, uva que foi redescoberta, pois pen- savam que ela tinha sido extinta, há pouco mais de 15 anos, sendo que antes ela era confundida com a Merlot. Entretanto, a cepa mais cultivada no Chile é a Cabernet Sauvignon. A Argentina é a 5ª maior produtora de vinho do mundo. A maioria dos vinhedos encontra-se na Região de Mendoza, que fica quase na mesma latitude de Santiago, no Chile. A casta Malbec surgiu como a principal uva da Argentina, em que pese sua origem seja francesa. Tão perfeita quanto a combinação do homem e a mulher dançando tango, é a harmonização do vinho Malbec com o churrasco argentino. Os Estados Unidos são, depois dos Europeus, os produtores e consumidores de vinho mais im- portantes. A principal região produtora encon- tra-se na Califórnia. O país apareceu no cenário do vinho no ano de 1976, quando vinhos ca- lifornianos venceram os vinhos franceses em uma degustação às cegas, fato este que gerou surpresa e muitas con- trovérsias. Esse acontecimento foi chamado de o Julgamento de Paris, e rendeu até a produ- ção de um filme, que particularmente recomen- do a todos (conferir no Material Complementar da unidade). Assim, os Estados Unidos surgiram como grandes representantes do Novo Mundo. Para encerrar, cabe falar um pouco do Brasil como produtor de vinhos. As vinícolas brasileiras pos- suem tecnologia moderna e estão trabalhando para melhorar a qualidade da uva aqui produzi- da. O grande obstáculo é o clima, uma vez que costuma chover muito na época de maturação da fruta. Este entrave está sendo superado com melhoramento genético, diminuição de rendi- mento da vinha, aplicação de conhecimentos tecnológicos e a formação especializada de enólogos. Hoje, além do Rio Grande do Sul, outras regiões, como o Nordeste (Vale do Rio São Francisco), figuram no cenário nacional da vitivinicultura. Entre os vinhos aqui pro- duzidos, destacam-se os espumantes brutos brasileiros, que são considerados os melhores da América do Sul. “Enquanto a produção mundial está do- minada por um punhado de cepas inter- nacionais, Portugal se manteve isolado dos modismos e preservou sua tradição de cepas nativas de qualidade” (KEEVIL, 2010, p. 327). E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s Em relação ao velho mundo, a história do Brasil é muito recente e, consequentemente, a do vinho brasileiro. Esta, que é uma bebida mile- nar no contexto mundial, em nossa pátria não chega a ter quinhentos anos se contarmos desde a chegada das primeiras videiras, que foram plantadas em solo tupiniquim em 1532, quando Brás Cubas as trouxe da Europa. A localização é onde hoje está fixado o município de Santos. Mas durante alguns séculos, não houve desenvolvimento de plantio e fabricação de vinho. Isso ocorreu somente em meados do século XVII, quando os colonos europeus co- meçaram a desembarcar no território brasileiro e, juntamente com suas bagagens, trouxeram videiras europeias que plantaram nas regiões onde estabeleceram suas colônias, por exemplo, a hoje conhecida Serra Gaúcha. Várias dificuldades se apresentaram neste momento, pois as videiras europeias não se adaptaram bem ao solo e ao clima, geralmente muito chuvoso, e tiveram o ataque da filoxera que devastou rapidamente os vinhedos recém- -cultivados. A pouca produção que obtiveram gerou vinhos pouco alcóolicos, muito leves e extremamente ácidos, e nada agradáveis de consumir, totalmente diferente dos vinhos que estavam acostumados a produzir na sua terra natal. Desta forma, tiveram que procurar alternativas e, uma delas, foi utilizar videiras nativas da América (Vitis americana), algumas delas tintas, como Isabel, Bordô e Concord e a branca Niágara. Mas o resultado eram vinhos de baixa qua- lidade, conhecidos como vinhos de mesa, que durante muito tempo foram a grande fonte de consumo desta bebida entre os brasileiros. Na maioria das vezes, estes vinhos possuíam doçura muito destacada, alguns produtores misturavam açúcar de cana para mascarar os defeitos do vinho e torná-los mais palatáveis. Isso explica a dificuldade que o cidadão brasileiro encontrou para hoje consumir os vinhos secos, o paladar foi adaptado à doçura. Quando houve o aumento do consumo dos vinhos feitos de uvas Vitis americanas, as casas de vinho, conhecidas na época como Cantina, Segundo Keevil (2010, p. 187), Guia Ilustrado Zahar – Vinhos do mundo todo, L’abbinamento (combinação) é o termo utilizado para o casamento entre a comida e o vinho. Bistecca alla Fiorentina e Chianti Clássico, ossobuco e Barolo, são exemplos de harmonizações perfeitas, em que os sabores se completam. A acidez e o tanino fazem do vinho italiano um companheiro perfeito para as carnes, molhos cremosos e salames. 23G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R passaram a investir na aquisição e na melhoria dos equipamentos para a produção de vinho. Assim, na década de 30, começam a equipar as Cantinas com instalação de prensas, cubas de madeira e filtros, para poderem produzir em larga escala. Com o crescimento populacional brasileiro, já na década de 70, algumas empresas interna- cionais do ramo do vinho voltaram os olhos para o mercado de vinhos do Brasil, que come- çava a ter potencial e consumo, e que ainda não havia sido explorado. Desta maneira, empresas como Maritin & Rossi, Moet & Chandon, entre outras, aportam em solo nacional e trazem a melhor tecnologia de ponta existente, além das videiras Vitis viníferas (uvas europeias), fazem uma pesquisa para identificar as melho- res regiões produtoras e as castas que melhor se adaptam em cada local. Começa assim um plantio mais organizado e sistêmico de uvas, como a Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Syrah, Chardonnay e Sauvignon blanc, entre outras. A comercialização aumenta e o vinho de qualidade vai ganhando espaço no mercado brasileiro, que está em franco desenvolvimento a cada ano que passa. Com o grande desenvolvimento da viti- cultura nacional, os investidores das empresas internacionais que se instalaram necessitavam criar uma diferenciação dos seus produtos mais refinados, dos vinhos produzidos até então no Brasil. Desta forma, surge a criação de uma no- menclatura para diferenciar dois tipos de vinhos produzidos no Brasil, sendo Vinhos de Mesa e Vinhos Finos. E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s • Vinhos de Mesa: em muitos países da Europa, vinhos de mesa são os vinhos mais simples da vinícola, que são feitos de uvas Vitis vinífera. Já no Brasil, essa denominação passou a classificar os vinhos de mesa com sendo todos os vinhos produzidos de uvas Vitis ameri- cana, como já citamos, Isabel, Bordô e Niágara. Esses vinhos são colocados para o consumo logo após a sua vinificaçãoe são encontrados, hoje, em supermer- cados a preços muito baixos, diferente dos vinhos finos. • Vinhos Finos: no Brasil, ficou restrito a somente os vinhos que fossem pro- duzidos com uvas Vitis viníferas, como a Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Chardonnay, entre outras da família. Desta forma, ganharam destaque e di- ferenciação no mercado nacional. Assim, com estas modificações e melhorias, o mercado nacional vem ganhando grande desta- que dentro do país e também reconhecimento internacional em feiras e eventos realizados mundo afora. Chegamos ao final deste tópico, e com esses breves apontamentos, podemos con- cluir que cada país possui a sua tradição vi- nícola e muitos outros estão surgindo neste panorama. O intuito nesta rápida aborda- gem não é trazer um grande conhecimento sobre cada área vinícola mundial, até porque isso seria quase impossível e mera pretensão tentar traçar paralelos em poucas linhas. Mas o que vale é que você tenha uma pequena visão do que é a indústria do vinho hoje, suas influências no comércio mundial e as tradições arraigadas de cada povo com seus costumes e modos de preparar esta bebida milenar. 25G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R O enólogo, o enófilo e o somellier – geralmente esses três termos são utilizados de forma equivocada. Em termos gerais, podemos diferenciá-los da seguinte maneira: • Enólogo: Vem do grego eno (vinho) + logo (técnico). É o profissional res- ponsável pela produção do vinho na adega. Ou seja, gerencia o processo da formação do vinho, passando por todas as etapas, desde a escolha do solo, clima, passando pela plantação, colheita, vinificação e engarrafamento. É o profissional voltado para a indústria. • Enófilo: Também vem do grego eno (vinho) + filo (amigo). É o apreciador do vinho, geralmente o consumidor final. É aquele que ama o vinho, que sem qualquer formação reconhecida ou maiores pretensões, vive no encantador e surpreendente mundo do vinho. • Sommelier: Termo francês para designar o funcionário encarregado dos vinhos. É o profissional responsável pelo vinho nos restaurantes, bares, lojas. Hoje, grandes redes de supermercados dispõem deste profissional no setor de be- bidas. Este profissional não exige curso de graduação superior, mas sim curso profissionalizante. Em 2011, a profissão foi regulamentada pela Lei 12.467, de 26 de agosto de 2011, reconhecendo a importância do profissional para o setor de alimentos e bebidas. Fontes: Amarante (2005, p. 48), Mccarthy e Mulligan (2008, p. 92) E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s 27G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Uvas Viníferas O vinho na sua composição, desde a matéria-prima até o envase, constitui uma bebida natural. As uvas são amassadas, formando um caldo espesso constituído pelas sementes, pela polpa e pela casca. Assim, temos o mosto, que receberá uma série de leveduras que irão iniciar o processo de fermentação. As leveduras são micro-organismos que, quando entram em contato com o mosto, começam a se alimentar dos açúcares que existem neste, transformando estes açúcares em álcool e, conse- quentemente, este processo acaba por gerar a formação de álcool etílico e também gás carbônico (CO2). Lembrando que esses pro- cedimentos geram um aumento de temperatura no tanque onde está acontecendo a fermentação. Todo o processo descrito será res- ponsável pela produção do vinho como bebida. Existe uma fórmula simples que bem ilustra este processo. Temos assim: AÇÚCAR + LEVEDURAS = ÁLCOOL + GÁS CARBÔNICO + ENERGIA. E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s Mas o fator primordial que irá determinar a produção do vinho será a mão humana, que vai controlar todos os processos dentro do estágio de fermentação, dando ao vinho as caracterís- ticas que o produtor pretende atingir. Assim, é fundamental durante a fermentação que o produtor controle a temperatura que é gerada dentro do tanque, pois se esta temperatura subir muito, as leveduras irão morrer e a fermentação será interrompida. Para estabilizar essa temperatura, devem ser utilizadas cintas térmicas que revestem os barris. Essas cintas agem de forma a diminuir a tempe- ratura interna da fermentação, pois se elevar em demasia, irá provocar a morte das leveduras antes da finalização do processo. Já o gás carbônico que for produzido durante o processo praticamente será eliminado no meio ambiente, não ficando integrado à bebida que será envazada. Os processos de fermentação serão aborda- dos mais à frente, ainda na unidade I do livro, de uma forma mais abrangente, buscando diferen- ciar os diversos tipos de fermentação conforme o tipo de uva, pois é importante salientar que os processos se diferenciam. Após conhecer de forma objetiva como se dá o processo de feitura do vinho, precisamos saber um pouco sobre as principais uvas utilizadas no processo de fabricação desta bebida. Existem algumas espécies de uvas, mas a única espécie capaz produzir vinhos de qua- lidade é da família Vitis vinífera. São uvas que conseguem reunir na sua fruta todos os elemen- tos necessários para que a fermentação ocorra da maneira desejada para a fabricação do vinho. Então, quando falamos da Vitis vinífe- ra, estamos falando, por exemplo, de uvas como Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Torrontes, entre outras. Dentro desta espécie, há uma enormidade de uvas. Para se ter uma ideia, somente da fa- mília da Vitis vinífera existem mais de cinco mil tipos, todas estas aptas a produzir vinho de qua- lidade, mas é claro que nem todas são usadas. Se pensarmos nas mais comerciais, podemos dizer que existem cerca de duzentas uvas da espécie da Vitis vinífera que são comumente usadas para a fabricação de vinhos. O mais interessante, e por que não dizer fascinante, é que cada uva tem uma identidade própria que a distingue de todas as outras. Cada qual tem suas peculiaridades. Se observarmos o desenho das folhas da videira, todas parecem iguais, mas olhando mais atentamente, iremos observar que cada uma tem um formato próprio. A videira é uma planta com grande capa- cidade de sobreviver aos climas e às condições de solo mais difíceis. Dizem que quanto mais a videira sofre com a escassez de recursos na- turais que a suprem, melhor será o fruto que irá produzir no final. Claro que não podemos seguir à risca esta ideia, mas não deixa de ter o seu fundo de verdade. 29G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s O mais interessante é que ela pode se adaptar aos mais diferentes climas, solos e condições, podendo ser cultivada em diversas regiões do mundo. O que mais impressiona é que de- pendendo do local onde ela está, irá produzir um vinho com as características do clima do local. Se cultivarmos a uva Chardonnay em um clima mais frio, ela irá proporcionar no vinho notas de frutas cítricas ou maçã verde, mas se cultivada em um clima mais quente, iremos encontrar notas de frutas tropicais, como banana, abacaxi e pêssego. O impor- tante a se compreender aqui é que o clima vai interferir diretamente no resultado final do vinho, alterando os sabores que poderão ser percebidos durante o consumo. Agora, vamos ver alguns exemplos das prin- cipais uvas cultivadas e usadas na fabricação de vinho. Tomo cuidado ao pontuar as uvas brancas e tintas mais importantes usadas na vinificação (fabricação do vinho), pois, como citei anterior- mente, existe uma grande quantidade de uvas da espécie Vitis vinífera, desta forma, seria muito pretensioso determinar quais são as principais. Assim, vou citar as que considero dentro das brancas e as tintas as mais comumente usadas na vinificação e, consequentemente, as mais conhecidas do grande público. Uvas Brancas Chardonnay: podemos dizer que esta uva é umadas mais conhecidas do mundo, sendo cultivada na maioria dos países vinícolas. A Chardonnay tem uma grande capacidade de adaptação nas mais diferentes regiões do mundo. Adapta-se muito bem em algumas regiões, como na Califórnia nos Estados Unidos, na Borgonha na França e em vários países do mundo, como Austrália, Chile, Argentina, Nova Zelândia etc. A fama da Chardonnay origina-se no fato de ser responsável pela produção do magnífico Champagne, vinho espumante produzido na região de Champagne na França, tão famoso no mundo todo. A Chardonnay é a única uva branca que pode entrar na sua composição. Os aromas que são bem característicos desta uva se distinguem quando em regiões mais frias, como na França, onde temos notas aromáticas de frutas brancas maduras e de mi- nerais, mas quando plantada em regiões mais quentes, como a Argentina, temos notas aromá- ticas mais pronunciadas para frutas tropicais, como abacaxi e banana. A Chardonnay pode ainda apresentar al- gumas notas que lembram sabores de mantei- ga, baunilha, coco, bala de caramelo e toques amendoados. Claro que tudo isso irá depender do local de cultivo e se foi utilizado barril de carvalho para descansar este vinho pronto, antes de ser engarrafado, pois o barril de carvalho também confere notas aromáticas que irão se integrar ao vinho e lhe trazer novos sabores. Sauvignon Blanc: juntamente com a Chardonnay, são consideradas as duas grandes rainhas bran- cas do mundo do vinho, mas as características da Sauvingon Blanc são bem distintas. Esta uva já não se adapta facilmente a qual- quer tipo de clima. Necessita de climas mais frescos e com menor incidência de calor para que possa expressar todas as suas qualidades para a feitura do vinho. Nas últimas décadas, ela vem ganhando grande popularidade entre os consu- midores de vinho branco e reconhecimento de grande uva. Sua adaptação é plena em regiões como Bordeaux, na França, Marlborough, na Nova Zelândia, Casablanca, no Chile e também em alguns países, como Uruguai, Estados Unidos, África do Sul etc. E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s Compõem os mais famosos vinhos de sobre- mesa da França, os conhecidos Sauternes, que chegam a custar milhares de cifras no mer- cado do vinho. Os Sauternes são vinhos de sobremesa feitos com três Castas (tipos de uva), Sauvignon Blanc, Semillion e Muscadelle, produzidos na Região de Bordeaux, no vila- rejo de Sauterne. São vinhos brancos muito doces, proporcionando grande untuosidade na boca, com uma acidez balanceada que irá conferir frescor juntamente com a doçura. Os Sauternes harmonizam facilmente com sobre- mesas leves, por exemplo, Torta de Amêndoas (AMARANTE, 2005, p. 206). A Sauvignon Blanc é conhecida principal- mente pela sua acidez, que irá transparecer no vinho com frescor na boca. Seus aromas são muito destacados, com toques herbáce- os, minerais, figo maduro ou maracujá. Pode ainda conferir toques de groselha e aspargos frescos. Uma curiosidade é que os vinhos feitos com a Sauvignon Blanc geralmente não passam por carvalho e são consumidos jovens, mas claro que tem as suas exceções, podendo passar por carvalho e envelhecer muito bem em garrafa. Riesling: é uma uva que se adapta muito bem em regiões mais frias. O seu grande lar é a Alemanha, país onde se desenvolveu muito bem e conseguiu atingir o apogeu da sua expressão em aromas e sabores. Vinhos alemães de produ- tores renomados feitos com as uvas Riesling são verdadeiras iguarias no mundo dos vinhos, mas também encontramos exemplares mais modes- tos que têm boa expressão em sabores e aromas em boca. A Riesling é tão importante para o mundo do vinho branco como a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. A Alsácia é uma região da França que faz fronteira com a Alemanha e por isso tem condi- ções climáticas muito semelhantes ao vizinho, o que possibilitou o cultivo da Riesling. Mas as características de aroma alteram de uma localidade para outra. Também tem uma boa adaptação em outros países do mundo, como Canadá, Estados Unidos, Chile, Austrália, Nova Zelândia e Áustria. As principais características aromáticas da Riesling são maçã verde fresca, casca de lima, frutas cítricas, frutas de caroço e notas minerais, podendo lembrar petróleo e aromas resinosos quando envelhecem em garrafa. Viognier: é uma uva que está se fixando cada vez mais no mundo do vinho, seja em vinhos cortados (que misturam dois ou mais tipos de uvas Vitis vinífera), seja em vinhos varietais (feitos de um único tipo de uva Vitis vinífera). Ela vem mostrando toda a força de sua expressão no contexto de aromas e sabores. De forma simplória, podemos dizer que a 33G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Viognier é uma casta que possui uma textura moderada e um caráter de fruta mais aromá- tico. Quanto ao clima, precisa de locais rela- tivamente quentes, onde se adaptam melhor, desenvolvendo suas características principais para a produção de excelentes vinhos. Na França, esta casta tem as suas maio- res expressões em regiões como Condrieu e Languedoc, mas está bem disseminada em outras localidades do mundo, como na Argentina, Austrália, Estados Unidos e até mesmo no Brasil. Aromas como pêssego, pera, damasco e notas florais geralmente estão pre- sentes quando compõem um vinho. A Viognier é uma das poucas castas bran- cas que promovem a produção de excelentes vinhos, quando misturadas com uvas tintas. No mundo do vinho, na hora de se produ- zir um vinho cortado, não é muito comum misturar uvas tintas com uvas brancas, mas a Viognier, que é uma casta branca, se apre- senta muito bem nestas misturas com uvas tintas, trazendo maior frescor e equilíbrio ao resultado final do vinho. Geralmente uma mistura que sempre dá muito certo é quando fazemos um vinho cortado resultante da mis- tura da Viognier com a Syrah, que é uma casta tinta. Alvarinho: tem seu grande papel no mundo do vinho. Não é uma das uvas mais cultivadas e nem uma das mais conhecidas, porém é responsável pela fabricação de um dos vinhos mais conhecidos do mundo, que sempre nos remete a um país específico. Trata-se dos famosos vinhos verdes produzidos no norte de Portugal, mais precisamente na região do Minho. Quando falamos de Portugal, lembra- mos de dois vinhos peculiares, o Vinho do Porto e o Vinho Verde. Esta uva precisa geralmente de condições mais equilibradas para garantir sua produção e extração de todas as qualidades que são per- tinentes a ela. Os vinhos feitos de Alvarinho geralmente são consumidos jovens e com temperaturas em torno de 8ºC. Possuem uma acidez elevada, o que lhes confere um alto frescor. Geralmente são vinhos bem leves que acompanham entradas e alguns tipos de saladas de folhas verdes, mas o ponto alto da sua harmonização se dá com preparações leves à base de Bacalhau. Tem uma concentração de aromas que lembra a maçã verde, frutas brancas de caroço, frutas cítricas e alguns toques florais e de mi- nerais, geralmente são bem delicados e de boa expressão no nariz. A Alvarinho encontrou outro local no mundo onde conseguiu ter um grande desen- volvimento, trata-se da região da Galícia, na Espanha. Lá recebe o nome de Albariño e possui características aromáticas bem semelhantes a sua coirmã de Portugal. E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s Uvas Tintas Cabernet Sauvignon: quando falamos desta uva, podemos dizer que é a rainha das uvas tintas. A casta Cabernet Sauvignon é filha do cruza- mento natural de duas outras uvas, são elas a Cabernet Franc (uva tinta) e a Sauvignon Blanc (uva branca). É uma das uvas tintas mais conhe- cidas e cultivadas no mundo. Tem um grande poder de adaptação nas mais diferentes regiões de climas do mundo, podendo ser cultivada em praticamente todos os lugares, exceto em regiõesextremamente frias. Precisa de calor para uma maturação plena, geralmente demora a atingir a maturidade para a colheita, pois sua casca é mais espessa que as demais uvas. Devido a esta casca, ela produz uma grande concentração de sabores e de coloração, e seus taninos são mais firmes. Seu grande berço é a França, mais precisa- mente na famosa região de Bordeaux, mas con- segue grandiosos resultados em outras regiões do mundo, como em Coonawarra, na Austrália, Bolgheri, na Itália, em Penèdes, na Espanha, em Mendoza, na Argentina e em Valle Central, no Chile. Quando em regiões onde o clima é mais ameno, ela acaba desenvolvendo notas mais herbáceas e com grande concentração de pi- razimas (substância encontrada no pimentão verde). Geralmente, quando cultivadas neste tipo de condição, pode oferecer vinhos com maior adstringência, mas quando cultivadas em climas mais quentes, tem suas melhores expressões e consegue atingir o ápice das suas qualidades, gerando vinhos opulentos com grande concentração aromática, revestidos de notas aromáticas que se baseiam essen- cialmente em frutas negras (amora negra e ameixa), frutas maduras e até secas, notas de doces feitos em compota, especiarias doces, como cravo e canela, também estão presentes. Passando alguns anos em garrafa, irão desen- volver aromas de fumo e grafite, notas minerais intensas. Vinhos feitos da uva Cabernet Sauvignon geralmente são mais licorosos e encorpados e combinam muito bem com carnes assadas em geral e molhos vermelhos mais pesados, como molho à bolonhesa. Merlot: também tem uma fácil adaptação aos mais diferenciados tipos de condições climá- ticas, desta forma, em todos os grandes países vinícolas de maior destaque ela será encontrada. Sua casca é bem mais fina que a da Cabernet Sauvignon, isso faz que ela produza vinhos mais leves e de sabores e de aromas mais suaves. Assim como a Cabernet Sauvignon, o seu berço mais famoso é a Região de Bordeaux, onde se produz um dos vinhos mais caros e cultuados do mundo, trata-se do Chateau Pétrus, que por décadas vem sendo comentado com um dos ícones da vinificação mundial. 35G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R O tanino é uma substância que está na- turalmente presente nas cascas, semen- tes ou caroços e galhos das uvas. Como os vinhos tintos são fermentados com as cascas e sementes das uvas e como as variedades de uvas vermelhas, geral- mente, possuem mais tanino do que as variedades brancas, os níveis de tanino são muito mais altos nos vinhos tintos do que nos brancos. As barricas de carvalho também podem aumentar a quantidade de tanino dos vinhos, tanto tinto quanto branco. Você já tomou um gole de vinho e teve a imediata sensação de resseca- mento em sua boca, como se sua saliva tivesse sumido? Este é o tanino . Fonte: Mccarthy e Mulligan (2008, p. 22) Em regiões frias, o vinho feito da uva Merlot acaba tendo uma presença mais acentuada de notas herbáceas, toques de cereja. Mas quando cultivada em climas quentes, concentra seus sabores de ameixas maduras, flores e frutas passas. Quando envelhece em madeira, pode evoluir muito bem em garrafas onde vai adquirir aromas terrosos como cogumelo e trufas. Esta uva se adapta muito bem em regiões como o norte da Itália, os Estados Unidos, região do Pomerol na França, Vale dos Vinhedos no Brasil, no Chile etc. De acordo com McCarthy e Mulligan (2008, p.39): Uma parte dos que apreciam vinhos, podem ter a sensação que é mais fácil gostar da Merlot do que da Cabernet Sauvignon, pelo fato de ela ser mais leve e possuir uma menor concentração de tanino, mas este tipo de situação pode ser alterada pelo enólogo (res- ponsável pela fabricação do vinho), pois se deixar a Merlot amadurecer em barril de carvalho novo, irá extrair muito tanino do barril e este integra- rá a bebida, deixando o vinho mais encorpado e com toques intensos de madeira. Pinot Noir: uma das castas tintas mais leves e delicadas, tanto nos seus aromas quanto nos sabores, produz vinhos com extrema elegância. Possui uma pele bem fina, isso fica evidente quando observamos a colo- ração do vinho, que adquire uma tonalida- de quase rosé. Consequentemente, possui menos tanino, o que o torna mais leve. É uma uva que requer cuidados especiais na hora do cultivo, manejo e colheita, por isso os vinhos feitos de Pinot Noir costumam ser mais caros. E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s A região de maior destaque para a Pinot Noir é a região da Borgonha, na França, onde vinhos famosos são produzidos. Um grande Pinot fran- cês é rapidamente associado ao clássico e icônico Romanée Conti. Esta casta é a grande uva tinta usada na fabri- cação dos Champagnes, podendo ser misturadas ou não com a Chardonnay. Nas últimas décadas, a Pinot Noir vem sendo cultivada nas mais dife- rentes regiões do mundo. Tem se adaptado muito bem em regiões como Califórnia nos Estados Unidos, Nova Zelândia, Chile, Austrália etc. Dificilmente esta uva é usada em vinhos cortados, pois perdem a sua expressão própria. Por ser muito sutil em suas características, acaba sendo suplantada pelas características de uvas com maior potencial de expressão de aromas e sabores. Os principais aromas da Pinot Noir são de morango, de cereja, de framboesa (frutas ver- melhas) ou, depois de envelhecidas, acabam por adquirir aromas terrosos, como cogume- los, vegetais em decomposição. Vinhos feitos desta casta envelhecem extremamente bem e acabam por proporcionar verdadeiras relíquias no mundo do vinho. Existem pessoas que chegam a pagar exorbitantes valores por uma garrafa com estas características. Syrah: é uma das variedades mais antigas de que se tem conhecimento. Alguns pesquisadores atribuem a sua origem à região onde foi a Pérsia. Trata-se de uma uva com características muito peculiares e marcantes. O seu grande destaque está nas regiões do Rhône e no Languedoc, si- tuadas na França. Esta casta tem boa introdução em outras regiões vinícolas mundo afora, tem se fixado bem na África do Sul e na região da Califórnia nos Estados Unidos. Também é cultivada em outras regiões, como Argentina, Chile, Uruguai e Brasil. Mas onde ganhou grande destaque fora do solo francês foi na Austrália. Lá os vinhos feitos de Syrah recebem outra pronúncia para o nome, sendo definidos como Shiraz, mas in- dependente da mudança da pronúncia, a uva é a mesma. É responsável por produzir vinhos mais en- corpados, fortes, como uma fruta negra madura quase passando, agrega ainda toques de espe- ciarias e pode ter sabores tênues de menta. Na Austrália, esta uva se tornou símbolo do país e uma das grandes regiões produtoras é a aclama- da Barossa, que produz os melhores exemplares neste país. A Syrah, quando varietal em um vinho, geralmente devido a seus aromas de especia- rias, que tem como destaque pimenta do reino, consegue harmonizar bem com carnes de caça de sabor mais intenso, cordeiro, e pratos com sabores mais picantes. Vinhos feitos com esta casta podem enve- lhecer muito bem em garrafa e conferir notas aromáticas que vão nos lembrar a couro, carne de caça, charutos e toques defumados e fumaça. 37G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R André Tchelitscheff, o lendário fabrican- te de alguns dos melhores Cabernets da Califórnia, uma vez nos disse que, se ele pudesse fazer tudo novamente, ele esco- lheria a Pinot Noir no lugar da Cabernet. Provavelmente, ele não é o único. O caber- net é um vinho que não exige sensibilida- de – um vinho bom, estável e confiável, que não causa muitos problemas ao pro- dutor e pode ser de qualidade excelente – enquanto o Pinot Noir é enjoado causador de problemas, enigmático e desafiador. No entanto, um ótimo Pinot Noir pode ser um dos melhores vinhos de todos os tempos. Fonte: McCarthy e Mulligan(2008, p. 40) Tempranillo: é a grande casta da Espanha. Pela sua característica de amadurecer antes de outras espécies de Vitis vinífera tintas, tem em seu nome sua característica principal no manejo no campo. Tempranillo significa em espanhol temprano, que quer dizer prematura. Esta casta possui uma coloração bem in- tensa voltada para o azulado quando atinge o ápice de sua maturação (estágio em que está pronta para ser colhida no campo). Seus aromas são muito peculiares e marcantes, atinge seus melhores resultados em regiões da Espanha, como Rioja e Ribeira del Duero. Tem bom desenvolvimento em outras partes do mundo, como em Portugal, na Argentina, está se adaptando à Austrália e com alguma expressão no Brasil. É importante observar aqui que a Tempranillo também está em Portugal há muito tempo, recebendo um nome diferente. Nas regi- ões do Douro e Dão, ela recebe o nome de Tinta Roriz, já na região do Alentejo, ela é conhecida como Aragonês. Independente do nome e da região na qual está instalada, o importante é que sempre irá proporcionar vinhos bem estru- turados com boa gradação alcoólica. Segundo Johnson e Robinson (2008, p. 22): Tempranillo, folhas de tabaco, codi- mento, couro. A uva mais famosa da Espanha. Como Tinto Fino ou Tinto del País, é a espinha dorsal dos tintos vivazes e saborosos de Ribeira del Duero. Em Rioja, é misturada com Garnacha. Na Catalunha, é conhecida como Ull de Lebre, em Valdepeñas, Cencibel, Em Navarra, é muitas vezes misturada com uvas de Bordeaux, com Tinta Roriz, tem sido usada no Porto e é cada vez mais respeitada como uma uva de vinho de mesa em Portugal, onde, no Alentejo, é conhecida como Aragonês. Seu brota- mento precoce a torna vunerável à geada de primavera e sua pele fina, ao apodre- cimento, mas é cada vez mais valoriza- da internacionalmente na produção de vinhos finos. E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s 39G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Produção do Vinho Quando falamos em produção do vinho, o que nos vem à mente é a uva colhida que entra na vinícola e ao final sai em garrafa. Isto é correto? Sim, mas é uma forma simplista de pensar no processo de vinificação. Do momento da chegada à vinícola até a sua saída em garrafa, a uva irá passar por muitos processos e por um conjunto de fatores que irão determinar o resultado final. Neste tópico, iremos abordar mais a fundo estes processos que envolvem a vinificação das uvas. Iremos abordar de forma distinta os processos para vinificar vinhos tintos, uvas brancas e rosés e também os métodos de fabricação de espumantes, pois cada qual tem suas particularidades e metodologia. E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s Mas voltando a falar do processo de vinificação de forma geral, o que é este processo? A vinificação é formada por um conjunto de operações que irão desde pequenos detalhes até grandes ações. Todo o resultado do campo, ou seja, tudo o que a uva conseguiu melhorar no seu cultivo agora será colocado na mão de um enólogo (aquele que faz o vinho), que terá um papel decisivo no resultado final obtido. O viticultor pode ser considerado como um es- cultor que irá dar a sua forma ao vinho, colocar a sua marca e estilo de fazer. Muitas vezes, o viticultor traz uma receita ou uma forma de fazer o vinho que vem passada de geração em geração por sua família. Outras vezes ele inova, usa técnicas modernas e altera todo o curso da história de sua produção. Fato é que os franceses procuram se colocar em uma situação em que não se denominam produtores de vinho, mas simplesmente parteiros do vinho. Dizem que o vinho já está pronto quando a uva chega à vinícola, eles apenas o ajudam a nascer. Histórias à parte, se os processos que cita- remos a seguir não forem seguidos, a chance do resultado final dar errado é muito grande, por isso produtores de vinhos costumam ser muito metódicos nos processos. Os cuidados na vinificação começam desde o momento da colheita da uva no campo, que geralmente é feita no final da madrugada ou no início da manhã para que não haja incidência de calor, para que as uvas não comecem o processo de fermentação antes do desejado. Usam-se caixas de plástico em que cabem no máximo 20 kg de uva, para evitar que o peso venha a romper o fruto e o seu líquido entre em processo de fermentação gerando uma oxidação precoce que poderá conferir sabores e aromas estranhos ao vinho no re- sultado final. A colheita só terá início quando a uva tiver atingido o seu ponto de maturação ideal para a produção do vinho ou até que o viticultor enten- da que o ponto está dentro do que ele pretende para o vinho. Uma uva colhida antes do tempo poderá resultar em um vinho sem estrutura e todo desequilibrado em seus aromas e sabores, e irá desenvolver notas que irão amarrar na boca, sobressaindo a todas as qualidades que o vinho teria. Tomados todos estes cuidados, a uva co- lhida será transportada para o local onde sua vinificação irá ocorrer. Chegando à vinícola, a primeira coisa a ser feita é verificar o estado sa- nitário dos cachos e retirar os que estão podres ou que não maduraram corretamente. Muitas vezes, essa seleção tem início no campo, quando os catadores não colocam nas caixas aqueles cachos defeituosos. 41G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R G eralmente a colheita é feita manu- almente, mas também podem ser empregadas máquinas colheitadei- ras de uvas para um serviço mais rápido e com o uso de pouca mão de obra. Mas neste processo existe uma ressalva, os resultados são mais genéricos e sem grande seleção, em consequência, são usados para vinhos mais baratos sem grande expressão. Já os vinhos de grande valor são feitos de uvas que foram colhidas à mão, pois este processo é mais delicado e garante a integridade do cacho. Algumas vinícolas chegam ao capricho de usar somente mão de obra feminina no processo de colheita, pois as mulheres são mais delicadas na extração do cacho, protegendo tanto o fruto como a videira. Verificadas então as condições da uva, esta será colocada em um tapete de seleção (esteira para selecionar as uvas), onde várias pessoas ficam ao seu entorno selecionando os frutos; este é um segundo momento em que uma nova verificação irá classificar novamente o que será utilizado no processo de vinificação e o que será definitivamente descartado. Até este momento, basicamente todos os processos são bem semelhantes para todos os tipos de vinho e uvas que pretendemos vinificar. A partir daqui, iremos diferenciar e entender a vinificação de vinhos tintos, brancos, rosés e espumantes. E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s Vinificação de Tintos • Desengace Passado o momento da seleção final das uvas tintas, estas irão para um desenga- çador. Trata-se de uma máquina que tem a função de separar todos os bagos das uvas do esqueleto do cacho que chama- mos de engaço (é toda a parte lenhosa que prende as uvas no cacho). Se deixar os engaços serem macerados juntamente com as uvas, irão conferir um gosto extremamente herbáceo e também um acúmulo desequilibrado de taninos que vão desequilibrar o vinho. Veja, tanino é necessário para que o vinho ganhe em estrutura, mas taninos em ex- cesso causam defeito no produto final. • Esmagamento Neste momento, os bagos já separados do cacho vão para uma máquina esma- gadora, constituída de cilindros com pontas de borracha que tem uma rotação alternada que faz uma pressão no bago da uva, causando o seu rompimento. O importante é romper a uva para liberar o líquido que está dentro dela, mas evitar que as sementes sejam esmagadas, se isso ocorrer, o vinho estará perdido, pois as sementes têm uma alta concentração de tanino, e assim como o engaço, será danosa ao resultado final da vinificação. Depois dosprocessos de fermentação, as sementes são extraídas do tanque e serão destinadas à indústria de cosméticos, que as utiliza na preparação de seus óleos essenciais (VIANA JUNIOR; SANTOS, 2010, p. 27). Terminado este processo de esmagamen- to, teremos um mosto que é composto pela polpa das uvas, as sementes e as cascas. Este será transferido por meio de bombas de sucção para dentro de tan- ques de aço inoxidável, carvalho ou de cimento. • Sulfitagem Quando todo o mosto for transportado para o tanque de fermentação, será rea- lizada, em primeiro momento, a adição de pequenas quantidades da substância química SO2 (Anidrido Sulfuroso), com o intuito de preservar a saúde do vinho, evitando que se oxide com o contato do ar, agindo como conservante, impedido as bactérias de deteriorarem o mosto. O tanque será cheio com dois terços de sua capacidade, pois durante o proces- so de fermentação, será formada uma grande quantidade de gás carbônico que precisará de espaço para expandir, sem contar que o mosto começa a borbulhar e elevar a sua densidade. 43G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R • Fermentação Alcoólica Neste momento, começa o processo de fermentação da uva. É a transformação do mosto em vinho, em que o viticultor irá tomar decisões cruciais para chegar ao resultado final. Como vimos ante- riormente, a fermentação alcóolica nada mais é do que a transformação do açúcar em álcool, tendo início com as leveduras. Estas estão presentes na casca da uva, e quando o fruto é rompido, entram em contato com a polpa rica em açúcares e começam a comer estes açúcares pre- sentes no mosto. Mas somente estas leveduras que chamamos de selvagens (presentes na casca) não são suficien- tes para eclodir o processo de vinifica- ção, sendo necessária a colocação de leveduras cultivadas para completar o processo. Com o começo da fermentação, as le- veduras consomem o açúcar, trans- formando-o em álcool, e expelem gás carbônico; todo este processo tem como consequência o aumento de temperatura dentro do tanque. Aí se torna necessário controlar esta temperatura, pois, se ela subir muito, vai matar as leveduras e, consequentemente, irá parar a fermen- tação antes do tempo. Na fermentação de vinhos tintos, é importante manter a temperatura do tanque entre 20ºC e 25ºC para que as leveduras não adormeçam. Esta faixa de temperatura nos vinhos tintos tem uma função importante, que é a extração de substrato de cor, as antocianinas que estão presentes na casca da uva tinta são fundamentais para dar a coloração ao vinho, pois geralmente a polpa tem uma coloração muito baixa. Durante todo este processo, com o au- mento do gás carbônico no tanque, a parte do mosto mais sólida composta pelas cascas acaba subindo e preenchen- do cerca de 80 centímetros do tanque, por este fator é que colocamos apenas dois terços de mosto no tanque, para que durante o processo de fermentação ele possa se expandir. Esta parte que fica acima, chamamos de chapéu, e todo o líquido que estiver próximo ao chapéu na parte superior do tanque irá adquirir a cor das cascas, mas o líquido que fica em baixo terá apenas nuances de coloração. Devido a isso, é necessário fazer o processo de Remontagem – esta é feita periodica- mente e consiste em uma mangueira ligada a uma bomba de sucção, que leva E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s o vinho da parte de baixo do tanque para a parte de cima, sendo derramado sobre o chapéu. Fazendo isso diversas vezes, o mosto que está mais claro irá começar a agregar coloração e a tonalidade ficará mais homogênea. Este processo é repetido de três a quatro vezes por dia. Geralmente, cada vez dura uma hora, sendo feito isso durante toda uma semana, desta forma, o vinho ga- nhará a coloração desejada. A fermentação chega ao final quando o viticultor, por decisão sua, resolve subir a temperatura do tanque até que a leve- dura morra, ou então até que estas leve- duras consumam todo o açúcar do mosto e, sem alimentos, irão se extinguir. • Descuba Quando o processo de fermentação ter- minar, o vinho produzido terá de ser se- parado de suas partes sólidas que ficaram no tanque. Assim, pela parte de baixo do tanque, através de uma torneira acoplada a uma mangueira, extraímos o vinho e a parte pesada, ou seja, o substrato irá ficar no tanque. Após este momento, todo este subs- trato constituído de resto de polpa, cascas e sementes será prensado e irá produzir um vinho de colônia, geral- mente consumido pelos trabalhadores da vinícola, e o bagaço final poderá ser destilado, produzindo água ardente vínica, conhecida, em Portugal, como Bagaceira e, na Itália, como Grappa. • Clarificação A clarificação (colagem) é o processo de limpeza do vinho. Depois da descuba, ainda fica uma quantidade de impurezas misturadas ao vinho. Esta geralmente fica depositada no fundo do tanque e, quando o vinho é retirado para outro recipiente, acaba levando consigo este material. Desta forma, o seu aspecto pode ficar um tanto quanto turvo. Para eliminar esta turbidez, às vezes é necessário adotar o processo de clarifi- cação. Uma das formas mais clássicas de se fazer isso é colocar diversas claras de ovo no recipiente onde está o vinho. A albumina terá um poder de atração sobre essas matérias em suspenso, assim, todas irão se juntar à clara e se precipitar para o fundo do tanque, posteriormente o vinho será retirado pela parte de cima, ficando embaixo apenas as sujidades encontra- das. Esta maneira de clarificar o vinho recebe o nome de colagem. Segundo Amarante (2005, p. 145): Colagem consiste na adição ao vinho de substâncias denominadas clarifican- tes ou colas, que agregam os materiais em suspensão, mesmo os de tamanho menor, provocando sua precipitação e garantindo ao vinho uma limpidez 45G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R perfeita. A colagem favorece também a estabilização da bebida com a pre- cipitação de certas proteínas, assim como a estabilização da cor ou material polifenólico. As colas são matérias coloidais de origem animal ou mineral, tais como albumina ou clara de ovo (adotada nos melhores tintos), albumina seca de ovo e de sangue (proibida no Brasil), sangue fresco, ca- seína (proteína do leite), colas de peixe (ictiocolas), colas de osso (osteocolas), bentonita, gelatina e etc. Em geral, a colagem dos tintos de guarda é realizada na própria barrica de car- valho. Antigamente os vinhos tintos eram macerados longamente como os bagaços, e o excesso de tanino retirado posteriormente, por meio da colagem. Hoje em dia, atravessamos a era da eno- logia preventiva – em consequência, há a preocupação de controlar a extração dos antocianos (pigmentos vermelhos) com o mínimo de absorção de taninos. Dessa forma, é possível elaborar excelentes vinhos usando a colagem somente em casos excepcionais, como, por exemplo, nos vinhos de prensa. • Amadurecimento Esta fase é opcional do produtor, de- pendendo do resultado que ele pretende atingir. Desta forma, o vinho poderá ou não ser amadurecido por um período, que será determinado pelo produtor. A amadurecimento é a fase em que o vinho irá descansar em barril de carvalho, isso será benéfico para a evolução da sua estru- tura, seus aromas e sabores. O carvalho irá transferir ao vinho pequenas quantidades de tanino que vão aumentar a complexida- de dos seus sabores. Além disso, permite uma pequena oxidação que vai ajudar a suavizar os taninos mais ásperos. Este processo de amadurecimento poderá ser feito por pequenos ou longos períodos, geralmente os produtores que optam pelo amadurecimento em car- valho deixam o vinho no barril por 6 meses, 12 meses, 18 meses ou 24 meses. Mas existem enólogos que se utilizam de prazos ainda maiores. E n o ga s t r o n o m i a e B e b i d a s • Corte Quando o vinho tinto chega nesta fase, o seu processo de fabricação está quase finalizado. Assim, o vinho poderá ser mantido com um varietal ou ser cortado. Quando temos o líquido vinho pronto, a vinícola terá vários tanques ou barricas cheias com vinhos varietais, por exem- plo, várias barricas de Malbec, várias barricas de Cabernet Sauvignon e várias barricas de Merlot. O enólogo pode optar por engarrafar estes vinhos separadamente e, desta forma, serão vinhos varietais, ou então ele pode resolver fazer cortes, misturar duas ou mais uvas para depois engarra- far, tendo assim um vinho de corte ou cortado. Este momento é crucial, pois Os engaços são a parte lenhosa dos cachos e foram separados pelo desen- gaçador. Geralmente são aproveitados na própria vinícola como adubo natural para as videiras que estão no campo em desenvolvimento. Fonte: Viana Junior e Santos (2010, p. 26 e 88) estas misturas do enólogo irão determi- nar o resultado final em garrafa, podendo gerar um vinho de grande expressão ou uma decepção aos seus apreciadores. Todo o conhecimento de técnicas de vi- nificação e históricos da vinícola terão que ser analisados, pois qualquer falha irá colocar tudo a perder. Mas o resul- tado de um vinho cortado de sucesso é a grande complexidade aromática que este irá desenvolver, aguçando o olfato e o paladar dos seus consumidores. • Filtragem Antes de ir para a garrafa, o vinho poderá ser filtrado ou não, isso depende da intenção de quem o está produzindo. A filtragem tem como benefício retirar o restante de micropartículas que ainda persistem no líquido, mas, em contra- partida, pode acabar por descolorir um pouco mais o vinho, pois também irá retirar um pouco de cor. A filtragem é realizada dentro de uma máquina que tem o seu desenho sanfo- nado, onde o vinho passa e os últimos depósitos irão para o fundo, saindo ao final o vinho com total limpidez. Segundo Amarante (2005, p.146): Certos mercados, notadamente o nor- te-americano, têm privilegiado ultima- mente os tintos comercializados sem colagem nem filtração. Essa ausência é claramente atestada no rótulo ou no 47G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R contra-rótulo, informando que o caldo pode apresentar depósitos naturais por causa dessa opção. Cada vez mais produ- tores de grandes tintos adotam tal prati- ca, por acharem que ela fornece vinhos mais “naturais”, sem a perda de nenhum de seus constituintes originais. Sem dúvida, são vinhos mais concentrados, mas, em contrapartida, não apresentam o aveludado dos caldos que seguem a receita tradicional. • Engarrafamento O engarrafamento hoje se tornou mais avançado com controles que antigamen- te não existiam. Ainda hoje pequenos produtores engarrafam seu vinho no método antigo, que consiste em uma torneira no barril ou no tanque, onde a garrafa é colocada embaixo para receber o vinho depois de forma manual intro- duz-se a rolha. Mas as grandes vinícolas usam equipa- mentos modernos, em que as garrafas vazias deslizam em esteiras, recebendo o vinho, depois o arrolhamento e, por final, o rótulo, muitas vezes sem o con- tato manual. Alguns sistemas de engarrafamento ultra- modernos chegam a possuir salas a vácuo, procurando com isso evitar qualquer con- tato com o oxigênio, evitando assim a pro- liferação de bactérias nocivas ao vinho. O mais importante após este processo é que o vinho engarrafado descanse por um tempo para que a sua estrutura se estabilize e volte à condição normal, proporcionando toda a sua expressão de aromas e de sabores. Abaixo segue um esquema de vinificação de vinhos tintos. Figura 1: Vinificação de Vinhos Tintos. Fonte: Castilhos (online, p. 24) http://images.slideplayer.com.br/1/83895/slides/slide_3.jpg E n o g a s t r o n o m i a e B e b i d a s Tanto as uvas tintas quanto as uvas brancas têm a sua polpa incolor, salvo raras exceções. Se vinificarmos sem as cascas, não haverá coloração ou esta será muito tênue. O processo de fermentação dos vinhos brancos tem algumas mudanças em relação aos vinhos tintos. Começamos a perceber isso desde o mo- mento da colheita, quando os catadores saem ao campo. As uvas brancas geralmente são co- lhidas antes das uvas tintas, pois não queremos que o excesso de maturação diminua muito a acidez, que é fundamental no vinho branco, para que este apresente o frescor que geralmente é característico dele. • Desengace O processo de desengace nos vinhos brancos é semelhante ao dos vinhos tintos. Desde o momento em que chegam à vinícola até a separação do engaço, ocorre da mesma forma. Mas por opção, milhares de produtores preferem não separar a parte lenhosa e acabam levando o cacho todo direta- mente para dentro da prensa. Ocorre que, por se tratar de uma prensagem mais sutil e delicada, não haverá risco de extrair taninos desagradáveis do engaço que pode proporcionar sabores desagra- dáveis no vinho. Vinificação de Brancos Segundo Johnson (2011, p. 26): As uvas brancas costumam ser prensa- das com os engaços (caules que prendem as uvas ao cacho), a não ser que sejam co- lhidas a máquina. A razão é que a polpa e o suco da uva não fermentada são cheios de pectina e açúcar, o que os tornam escorregadios e pegajosos. Os engaços facilitam a operação da prensa, parti- cularmente quando se trata de partir o “bolo” para prensar uma segunda vez. A prensa não deve ser usada para espremer qualquer suco amargo derivado dos en- gaços ou sementes. Hoje muitos vinhos de alta qualidade estão sendo produzidos prensando-se tudo, sem antes esmagar ou desengaçar. A técnica ajuda a reter o aroma e manter um baixo pH. • Prensagem Aqui iremos observar que o processo de vinificação dos vinhos brancos se torna diferente da vinificação dos vinhos tintos. Quando termina a fase anterior, as uvas brancas irão para dentro de uma prensa pneumática, onde os cachos de uva são colocados dentro da desengaça- deira, o fruto se rompe liberando o líqui- do que escorre por pequenos orifícios e cai em um coletor que irá agrupar todo o suco que for liberado. O mais importante é que esta prensa não esmaga a lenha e muito menos as sementes, impedindo 49G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R assim o surgimento de óleos amargos. Outro fator que diferencia a vinificação de tintos e brancos é que nesta fase o líquido da uva tinta vai para dentro do tanque de fermentação juntamente com as sementes e as cascas. Já os nos bran- cos, o suco da uva branca foi totalmente separado das cascas, engaços e sementes, e irá para dentro do tanque de fermen- tação sem estes materiais. • Sulfitagem Depois que o tanque for preenchido em dois terços do seu volume com o mosto da uva branca, serão acrescidas doses de (SO2) anidrido sulfuroso para evitar que agentes externos e bactérias acabem destruindo o líquido que será encami- nhado posteriormente para a fermenta- ção. A quantidade de anidrido sulfuroso utilizado nos vinhos tem uma regula- mentação específica para cada país e sua aplicação geralmente segue um mínimo e um máximo utilizado. Até o momento não há exigência de que seja colocado no rótulo as quantidades que se utili- za de anidrido, somente é importante que conste, no contra rótulo, a presença desta substância. • Decantação Este é um processo que não existe na fa- bricação do vinho tinto. No vinho branco, depois que separamos o líquido da parte sólida, ele ainda estará cheio de impu- rezas e, antes de iniciar a fermentação, precisamos retirar estas. Para isso existe a decantação, que nada mais é que separar as partículas em suspensão do líquido. Decantar estas partículas leva em média de 10 a 24 horas e, para evitar que duran- te este período as leveduras comecem a comer o açúcar e iniciem o processo
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