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I - A abordagem malthusiana A primeira abordagem deriva do pensamento clássico de Thomas Robert Malthus (1766 - 1834), economista inglês que escreveu sobre as condições econômicas e sociais da Inglaterra entre os séculos XVIII e XIX realçando aspectos demográficos e econômicos. Preocupou-se basicamente com o problema do crescimento populacional e a produção de alimentos. Suas reflexões ainda são tomadas como base para se estudar questões contemporâneas como o subdesenvolvimento, o equilíbrio demográfico, os males do desenvolvimento e as próprias contradições e conflitos do capitalismo. Os malthusianos estabeleceram limites ao desenvolvimento humano: o esgotamento dos recursos naturais impedem que toda a população alcance a felicidade, é preciso haver um equilíbrio entre o crescimento da população e a produção dos recursos de subsistência. A humanidade está condenada à infelicidade, pois os malthusianos, segundo Sachs: “... Acreditavam, e ainda acreditam, que o mundo já está superpovoado e portanto condenado ao desastre, seja pela seja pela exaustão dos recursos naturais esgotáveis, seja pela excessiva sobrecarga de poluentes aos sistemas de sustentação da vida” (SACHS, 1993:11). Malthus assegurava que a situação de miséria seria provocada pelo crescimento da população, por isso alegava ser necessário conter a explosão demográfica. Este pensador social compreendia a miséria como um obstáculo positivo ao crescimento populacional, indispensável para estabelecer um equilíbrio entre população e os meios de alimentação. Outros obstáculos são sugeridos por este autor, como a restrição prudencial ao casamento, o vício; o incremento da taxa de mortalidade. O crescimento demográfico é muito mais rápido que a produção de alimentos. Entretanto, as transformações histórico-político-econômico-sócio- culturais pelas quais passou, e vem passando, a história humana, desmentiram Malthus e demonstraram que a produção agrícola alcançou altos índices de produtividade, capaz de alimentar suficientemente a população do planeta. O pensamento malthusiano, se analisado profundamente, envereda num sentido de sustentação das condições capitalistas vigentes na Inglaterra do século XVIII, pois quando propõe um equilíbrio às custas de exclusão de uma parte da população, significa que apenas os mais aptos poderiam sobreviver; o equilíbrio entre população e produção de alimentos pode ser visto como a própria garantia da existência do capitalismo. Podemos perceber que a questão central da relação população/natureza examinada à luz da teoria malthusiana é o problema concernente à utilização dos recursos naturais e o aumento da população. Problema este que sempre está presente em discussões sobre o desenvolvimento econômico e social na sociedade contemporânea. É comum, embora não obrigatório, fazermos alusão à obra de Malthus quando debatemos questões relativas ao desenvolvimento, subdesenvolvimento, demografia e até mesmo muitos temas ambientais. A abordagem malthusiana enfatiza que há uma certa interligação entre o crescimento populacional e a produção de alimentos, em que um destes fatores determina o outro. Entendendo a existência deste interrelacionamento, Damiani demonstra que, em alguns momentos na história, especialmente no Pós-Primeira Guerra, o baixo crescimento da população poderia ser prejudicial à expansão da produção econômica. Segundo ela, muitos definem “...como malthusianismo ao revés ou às avessas, a explicação da miséria e do desemprego (depois da primeira guerra mundial e com a crise de 1929), como fruto do débil crescimento da população européia, quando a baixa natalidade atingiria o consumo, de forma a estreitar o mercado e comprometer o desenvolvimento da produção” (DAMIANI, 1997:20). O pensamento malthusiano prega a necessidade de um crescimento adequado da população, apontando para os limites dos recursos naturais. A teoria do ótimo da população garantiria mais recursos disponíveis por habitante, chegando assim ao equilíbrio entre população e produção de alimentos. A partir da década de 20 deste século, com a diminuição da população jovem na Europa se verifica uma aproximação de um equilíbrio entre tais variáveis. A teoria malthusiana volta a ser mencionada quando se iniciam discussões sobre o crescimento populacional no terceiro mundo logo após a segunda guerra, em que surgem novos problemas econômicos e sociais. Os neomalthusianos responsabilizam o crescimento da população pelo subdesenvolvimento nos países da Ásia, África e América Latina. Como salienta Damiani (1997: 20), o malthusianismo compreende o excedente populacional como um entrave ao desenvolvimento, argumentando que boa parte desta população seria formada por pessoas improdutivas, como jovens e crianças, e que os recursos destinados a sustentá-las poderiam ser investidos na produção, o que contribuiria para o progresso econômico dos países. É possível datar este período como o momento em que emerge a preocupação com o controle de natalidade nas nações subdesenvolvidas. O Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional) começam a exigir Políticas de Planejamento Familiar, tendo em vista os custos econômicos e sociais provocados por uma grande população. A escassez de recursos e a superpopulação são considerados como os maiores problemas pela abordagem malthusiana, que impedem o desenvolvimento integral da humanidade. Tal abordagem elabora uma explicação natural para a origem destes problemas, deixando assim implícitos as contradições sócio-econômicos do capitalismo e, as mediações histórico-sociais inerentes à relação sociedade/natureza são ocultadas. Podemos ilustrar esse argumento com as seguintes palavras de Damiani: “os críticos do malthusianismo asseguram que ele encobre as formas concretas e históricas, e suas mediações sociais particulares; e que estuda a relação entre natureza e sociedade, inclusive ocultando as relações de troca desiguais entre os diferentes países. O malthusianismo não explicaria a produção concomitante e contraditória da riqueza e da miséria, da superprodução de alimentos e da fome. Fundamentaria ações imperialistas. Serviria, portanto, a uma política interna- reacionária e externamente agressiva”(DAMIANI, 1997:21). Partindo dessa afirmação parece não ser exagero afirmar que o pensamento malthusiano e o neomalthusiano têm assumido a função de ideologia legitimadora de um modo de produção, pois não esclarece as contradições de um sistema que permite situações em que milhões de pessoas passem fome ao mesmo tempo em que outras pessoas convivem com a abundância. Tais contradições fazem com que exista escassez de alimentos em determinados lugares ao mesmo tempo em que se desperdiçam alimentos em nome das leis do mercado. Segundo Damiani “ao mesmo tempo em que se deplora a escassez dos recursos alimentícios, milhares de toneladas de alimentos são destruídos; ou estocados à espera de um bom preço; seus excedentes deslocados de um país a outro, visando manter seu preço; ou, são limitados os volumes de investimento em produção agrícola” (DAMIANI, 1997:25) Mas o malthusianismo levantou questões muito interessantes, como por exemplo anunciar os limites de crescimento econômico, retomada pelo Clube de Roma em 1972, em que grandes debates enfatizavam a degradação dos recursos naturais provocada pelo crescimento populacional e o desenvolvimento industrial. É colocada a tese do crescimento zero, advogando a necessidade do congelamento do aumento da população e do crescimento do capital industrial, alegando que os recursos naturais são limitados. Portanto, podemos concluir que o pensamento malthusiano delega à dinâmica populacional um papel determinante no desenvolvimento sócio-econômico.
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