Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Histologia Sistema Urinário Christian Natã Melo Recife 2014 Histologia Sistema Urinário O sistema urinário é o sistema do organismo mais especializado para excreção de compostos não-aproveitáveis. Ao todo, os 5 L de sangue passam pelo sistema em até cinco minutos e cerca de 180 L são filtrados diariamente, com excreção de apenas 1,5 L nesse mesmo intervalo de tempo. Composto por dois rins, dois ureteres, uma bexiga e uma uretra, a ele cabem as seguintes funções: ● Limpeza do sangue a partir da filtração e da posterior excreção; ● manutenção da homeostase corporal por meio da reabsorção de água e solutos; ● equilíbrio de eletrólitos no organismo graças à filtração e à excreção; ● regulação da pressão arterial pela produção de renina; ● produção da eritropoetina, fator estimulante da medula óssea para gênese eritrocitária e leucocitária; ● formação do 1,25-hidroxicolecalciferol, forma ativa da vitamina D. Primeiramente, começaremos a falar sobre o rim. Depois falaremos sobre os outros órgãos. ● Rim É um órgão em forma de feijão (riniforme) que mede de 10 a 12 cm de comprimento em um indivíduo adulto. O rim, assim como o baço e o fígado, também é revestido por uma cápsula feita de tecido conjuntivo denso não-modelado. Possui uma extremidade côncava e outra convexa sendo que, esta primeira é o local de instalação de tecido adiposo abundante, de desembocadura dos nervos de caráter renal e das artérias renais, além de ser a região de saída dos ureteres e das veias renais. A região em si é denominada hilo renal. A fim de facilitar a busca histológica por estruturas renais, é comum utilizarmos a divisão do rim apenas em córtex e medula (externa e interna) porém, para avaliar o percurso do ultrafiltrado sanguíneo, observamos essa mesma divisão de uma forma mais detalhada. O processo de filtração começa no córtex renal, e a urina já formada passa dos raios medulares para a base das pirâmides renais (pirâmides de Malpighi). Ao todo, existem de 10 a 18 pirâmides em cada rim e seu ápice, na medula interna, converge para papilas, as quais são circuncidadas pelos cálices menores, que unem-se para formar os cálices maiores para, em seguida, direcionar a urina para o ureter por meio de uma dilatação chamada pélvis renal. Vale lembrar que a região composta por uma pirâmide renal, mais as áreas adjacentes equivalem a um lobo renal. Quanto à irrigação, temos uma artéria renal que se ramifica para cada lobo. Essas ramificações são as artérias interlobares, que se dividem em artérias interlobulares (irrigam cada lóbulo renal), artérias arqueadas (irrigam o limite entre córtex e medula do rim) e artérias retas (responsáveis pela irrigação ao redor da alça de Henle). As veias seguem esse mesmo padrão mas, no córtex, encontramos também ramificações dos vasos interlobulares, que são as arteríolas das quais se retira o ultrafiltrado. São elas as glomerulares aferentes (entram no néfron) e eferentes (saem do néfron). A saída do córtex se dá pela veia estrelada. A filtração do rim é realizada por milhões de unidades funcionais em ambos os rins. São os chamados néfrons. Cada néfron é composto por um corpúsculo renal (corpúsculo de Malpighi), um túbulo contorcido proximal, uma alça néfrica (alça de Henle) e um túbulo contorcido distal, que são acoplados a um ducto coletor, o qual completa o túbulo urinífero[1]. Vejamos agora cada uma dessas partes, incluindo o aparelho justaglomerular: [1]: cada ducto coletor receberá o filtrado de vários néfrons adjacentes. A região que envolve esse ducto e o restante dos néfrons constituirá o lóbulo renal, por onde passarão as artérias e veias interlobulare. Favor não confundir lobo com lóbulo. ○ Corpúsculo Renal Também chamado de corpúsculo de Malpighi, é uma área encontrada no córtex do rim e que marca o início do néfron e a filtração renal. Ele é composto pela cápsula glomerular (cápsula de Bowman) e pelo glomérulo. A cápsula de Bowman comporta-se como uma cavidade corporal. (pleura, peritônio, mediastino). Assim como estas, a cápsula possui dois folhetos: o folheto parietal (epitélio pavimentoso simples), que é mais externo e que forma a parede do corpúsculo renal; e o folheto visceral, que é mais interno e é acoplado às arteríolas glomerulares. Entre os dois folhetos, temos o espaço de Bowman, destino do ultrafiltrado após o mesmo ser absorvido pelos pedicelos, rumando para o polo urinário[2] da cápsula. O visceral diferencia-se do parietal por possuir células compostas por podócitos que, por sua vez, formam pequenas microvilosidades rumo aos capilares, que são os pedicelos, os principais responsáveis pela obtenção do ultrafiltrado sanguíneo. Esse filtrado se assemelha ao plasma sanguíneo, exceto pela pouca concentração de proteína que ele tem. O glomérulo compreende o tufo que, visualizado no microscópio óptico, adentra no corpúsculo de Malpighi. Ele compreende tanto as arteríolas glomerulares aferentes quanto as eferentes[3], além de possuir o mesângio, estrutura formada por células mesangiais e matriz mesangial e que possui funções que vão desde o apoio mecânico às arteríolas até a regulação da pressão arterial sanguínea pela sua sensibilidade à angiotensina II, substância presente no sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). [2]: polo urinário: extremo do corpúsculo renal em contato com o túbulo contorcido proximal. [3]: ambas arteríolas possuem fenestras sem diafragma, por onde o filtrado passa para os podócitos. ○ Aparelho Justaglomerular Ainda no córtex renal, próximo a cápsula de Bowman, encontramos uma estrutura de extrema importância tanto para o sistema urinário, quanto para o circulatório: o aparelho justaglomerular ou, simplesmente, aparelho JG. Ela possui três componentes: ■ Células Mesangiais Extraglomerulares: realizam as mesmas funções do mesângio localizado dentro do glomérulo. ■ Células Justaglomerulares: responsabilizadas pela produção de renina, um peptídeo que, ao entrar em contato com o angiotensinogênio, transforma a mesma em angiotensina I, fase inicial do SRAA, sistema esse que tem como objetivo final elevar a pressão arterial[4]. ■ Mácula Densa: região encontrada próxima ao túbulo contorcido distal e que é bastante sensível a concentração de cloreto de sódio (NaCl) e de renina no sangue, diminuindo esta, com posterior diminuição daquela também. [4]: é sobre esse mecanismo que atuam os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA’s), como o captopril e o enalapril. Essa classe de fármacos impede a conversão da angiotensina I em angiotensina II, o principal fator para aumento da pressão arterial sanguínea. ○ Túbulo Contorcido Proximal (TCP) O túbulo contorcido proximal é encontrado apenas no córtex do rim e possui uma parede constituída de epitélio cúbico baixo simples com microvilosidades do tipo borda-em-escova na superfície apical da célula. Por meio dele, cerca de 70% do água presente no ultrafiltrado é reabsorvida, além da glicose, dos íons cloreto (Cl-), potássio (K+) e sódio (Na+) e outros solutos. Dependendo do tipo de microscópio, ele pode ser visualizado diferentemente. Em microscópios eletrônicos, o TCP aparenta ter um lúmen e uma parede amplas. todavia, no microscópio óptico, encontramos um TCP reduzido, circular e com lúmem aparentemente obstruído ou pequeno devido ao grande número de microvilosidades desorganizadas. ○ Alça de Henle Trata-se de uma estrutura néfrica em forma de “U” que pode ser visto na zona de transição entre o córtex ea medula, apesar de ser melhor visualizada na área medular do rim. Possui um segmento descendente permeável à água e que desce para a medula interna e um segmento ascendente impermeável ao soluto universal que retorna para o córtex. Ambos segmentos possuem um ramo espesso, que é contínuo com os túbulos contorcidos proximal e distal e cujas paredes são feitas de epitélio cúbico simples; e um ramo delgado, que realiza a curvatura da alça e que tem limites de epitélio pavimentoso simples. Durante sua passagem pela alça de Henle, o filtrado recebe um novo refino. Cerca de 15% da água presente é reabsorvida, junto com 25% de solutos como NaCl [5] e K+. [5]: é sobre a reabsorção de cloreto de sódio que atuam diuréticos como a furosemida (Lasix©). Em casos como hipertensão arterial sistêmica (HAS) e formação de edemas, a reabsorção de NaCl é maior, o que piora mais a condição. O fármaco tem como objetivo inibir a bomba de sódio-potássio (Na+-K+-ATPase) e, assim, conter a reabsorção do NaCl e contribuindo para sua excreção pela urina. ○ Túbulo Contorcido Distal (TCD) Após a volta do néfron ao córtex renal, a alça de Henle adquire paredes mais grossas e torna-se o túbulo contorcido distal. Difere-se do TCP pelo fato de ter um epitélio cúbico baixo simples sem microvilos. Portanto seu lúmen, em microscópio óptico é mais visível em comparação com o TCP. Nesse mesmo tipo de microscopia também temos um TCD que possui paredes ovaladas ou deformadas, o que também serve na diferenciação do mesmo. Nele é filtrado 7% de todo o cloreto de sódio restante no néfron. Possui permeabilidade para a água porém essa característica é regulada pela ação do hormônio antidiurético (ADH), o qual torna a urina mais concentrada. ○ Ducto Coletor Nesse componente, já temos uma urina quase formada e prestes a ser levada até as pirâmides renais. O ducto coletor, assim como os túbulos, possui um epitélio cúbico simples, cujas células podem ser: ■ Células Principais: células com um cílio primário no domínio apical e com invaginações em seus domínios basolaterais. São capazes de reabsorver Na+ e secretar K+. ■ Células Intercaladas: células com minúsculos microvilos na superfície apical e com abundantes mitocôndrias. Secretam HCO3- e H+ e reabsorvem K+. Assim como o túbulo contorcido distal, sua permeabilidade à água só é possível graças à atuação do ADH. Após a saída do ducto coletor, a urina segue caminho até o início do ureter. ● Ureter e Bexiga Depois da saída da urina rumo aos cálices renais, ondas peristálicas levarão o produto até a bexiga, onde será armazenada. Como se tratam de vísceras, tendemos a observar os ureteres e a bexiga pela divisão em camadas (do mais interno ao mais externo) mucosa, muscular e serosa (ou adventícia). Na camada mucosa, temos um tecido epitelial especializado: o urotélio. Ele é composto por epitélio de transição, um tecido imprescindível que permite o armazenamento da urina até um volume médio de 800 mL. Suas células adquirem um formato em raquete (ou em abóbada) quando está relaxada. Contudo, quando a mesma está contraída sobre ação muscular, as células adquirem uma conformação achatada a fim de suportar o volume líquido. O urotélio tem como base uma lâmina própria [6] rica em camadas longitudinais e helicoidais de células musculares lisas. Abaixo da mucosa, encontramos a camada muscular. Ela é composta por dois feixes: um circular ou transversal (mais interno) e outro longitudinal (mais externo) [7]. Na bexiga, encontramos apenas o músculo detrusor, que comanda a micção. Em seguida, temos a serosa, bem aderida à camada muscular longitudinal e que é feita de epitélio pavimentoso simples. [6]: convém lembrar que lâmina própria é sinônimo de lâmina basal. Damos esse nome ao tecido conjuntivo localizado abaixo do epitélio nos sistemas urinário, respiratório e digestório. [7]: basicamente, todas as vísceras possuem essa sequência de conformação de feixes musculares. ● Uretra A uretra é um tubo circular que leva a urina localizada na bexiga para o meio externo, realizando assim, o processo da excreção propriamente dita. Para ela, vamos nos ater apenas nos tipos de epitélios que a revestem. Nos indivíduos do sexo masculino, temos uma uretra que chega a ter 20 cm de comprimento. Além da excreção de urina, a mesma também serve para a liberação de esperma durante o ato sexual. Ela pode ser dividida em três regiões. A primeira região é a uretra prostática, que fica interiorizada na próstata, onde recebe o sêmen. É formada por epitélio de transição. Depois dela temos a uretra membranácea, que possui 1 cm de comprimento e tem o esfíncter externo da uretra. Por último temos a uretra esponjosa (ou peniana), que é revestida pelos corpos cavernosos do pênis. Essas duas últimas uretras possuem epitélio pseudoestratificado colunar, sendo que na uretra peniana, temos algumas regiões com epitélio pavimentoso estratificado. A uretra feminina tem apenas 4 cm de comprimento e serve apenas para excreção de urina. Boa parte de sua extensão é feita de epitélio pavimentoso estratificado moderadamente queratinizado e que tende a se tornar altamente queratinizado quanto mais próxima do óstio externo da uretra. Fotografias das Lâminas (Sistema Urinário) Aula Prática ● Córtex Renal (HE, PAS: 100x) cápsula renal (tecido conjuntivo denso - observar pequena região rosa-clara na extremidade) cápsula de Bowman (estrutura inteira) ● Córtex Renal (HE, PAS: 400x) folheto parietal da cápsula de Bowman (epitélio pavimentoso simples) espaço subcapsular (observar região esbranquiçada que circunda o glomérulo) glomérulo renal túbulo contorcido proximal (epitélio cúbico simples com microvilos borda-em-escova) túbulo contorcido distal (epitélio cúbico simples) ● Medula Renal (HE, PAS: 100x) cápsula renal ramo delgado da alça de Henle (epitélio pavimentoso simples) ramo espesso da alça de Henle (epitélio cúbico simples) Obs.: poucas lâminas de rim possuem uma medula com essa conformação vista na imagem mas, por via das dúvidas, estudem a alça de Henle. Nas outras lâminas, vocês podem observar alguns ramos de lúmen pequeno e agrupados entre si. Esses são os ramos delgados. Os que não se enquadrarem nesse estilo, são ramos espessos da alça de Henle • Bexiga (HE, PAS: 400x) mucosa (epitélio de transição) lâmina própria (tecido conjuntivo frouxo e denso) Obs.: não consegui tirar um foto muito boa das camadas muscular e serosa. Porém, sigam o seguinte raciocínio: depois da lâmina própria, teremos uma muscular e, em seguida, uma fina serosa. Obs.2: não será obrigatório especificar a conformação do feixe muscular. Referências Bibliográficas JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, José. Sistema Urinário. In: JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, José. Histologia Básica. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. Cap. 19. p. 368-384. KIERSZENBAUM, Abraham L.; TRES, Laura L.. Sistema Urinário. In: KIERSZENBAUM, Abraham L.; TRES, Laura T.. Histologia e Biologia Celular: Uma Introdução à Patologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. Cap. 14. p. 415-444. TORTORA, Gerard J.; DERRICKSON, Bryan. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. 1230 p.
Compartilhar