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História da América 
Aula 4
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Compreender os objetivos da expansão espanhola, como se estabeleceu a conquista e a dominação das terras americanas;
2. identificar o choque de culturas entre o velho e o novo mundo e como os europeus se deslumbraram diante da organização e da beleza com a qual se depararam;
3. entender como, segundo a dinâmica do mercantilismo, os Estados absolutistas estabeleceram o monopólio sobre o comércio com as colônias, favorecendo as metrópoles.
Para começar, consideraremos as explicações geralmente propostas para a vitória fulgurante de Cortez. Uma primeira razão é o comportamento ambíguo, hesitante e até mesmo melancólico, bastante próprio de Montezuma, que não opõe a Cortez quase nenhuma resistência (fato relacionado à primeira fase da conquista, até a morte dele).
Este comportamento talvez tenha, além de motivos culturais, razões pessoais. É importante ressaltar que em vários aspectos este comportamento difere dos demais dirigentes astecas. Tendo os espanhóis chegado à sua capital, o comportamento de Montezuma é ainda mais singular. Não somente se deixa prender por Cortez e seus homens, como também, uma vez preso, só se preocupa em evitar qualquer derramamento de sangue.
Diante dos inimigos, prefere não usar seu imenso poder, como se não tivesse certeza de querer vencer; como diz Gomara, capelão e biógrafo de Cortez: “Nossos espanhóis nunca puderam saber a verdade, porque na época não compreendiam a língua, e depois já não vivia nenhuma pessoa com quem Montezuma pudesse ter compartilhado seu segredo”.
A conquista da América começa logo após o descobrimento, em 1492, tendo início com a ocupação das Antilhas, seguida do Império Asteca (por Hernan Cortez em 1521) e do Império Inca (por Francisco Pizarro em 1533).
Durante a conquista, funcionava o sistema de adelantado, ou seja, o Rei concedia um título (de adelantado) aos conquistadores que empreendessem expedições com meios privados e que se convertiam em representantes da Coroa no território que conquistassem, com a garantia de poderes civis e militares a todos os particulares que empreendessem a conquista.
Após a conquista e dominação, os espanhóis adotaram posturas diferentes em relação às sociedades já estabelecidas na América. As sociedades encontradas podiam ser divididas em três grupos, a saber:
Caçadores e coletores >> Agricultores sedentários>> Impérios e Cidades-Estado
Interessavam-lhes apenas os grupos que pudessem ser úteis aos seus objetivos, dessa forma, os grupos de caçadores e coletores, que não se enquadravam no sistema colonial que pretendiam implantar, foram descartados (exterminados ou, quando não, expulsos da área que ocupavam), resguardando-se os grupos que dominavam a agricultura e os Impérios estabelecidos, após serem impiedosamente combatidos e subjugados, posto que possuíam estruturas sociais e políticas aproveitáveis para exploração comercial. Notadamente no caso dos Astecas e Incas, foram aproveitadas as relações de trabalho previamente existentes.
Mesmo promovendo a destruição da cultura dos povos dominados, Cortez relata que as maravilhas que vê são as maiores do mundo, senão vejamos: “Não há nenhum príncipe conhecido no mundo que possua coisas de tal qualidade”; “No mundo todo não se poderia tecer vestimentas como essas, nem feitas com cores naturais tão numerosas e tão variadas, nem tão bem trabalhadas”; “Os templos são tão bem construídos, que não se poderia fazer melhor em parte alguma. Tão finamente executados em ouro e prata que não há joalheiro no mundo capaz de fazer melhor” e “Essa cidade – do México - é a coisa mais bela do mundo”. (das crônicas de Bernal Díaz del Castillo, citado por Todorov).
A descoberta da América por Cristóvão Colombo faz parte do processo de expansão do capitalismo europeu. O comércio,(( A escassez de metais preciosos provocava falta de moeda em circulação, agravando os problemas já existentes. As nações da costa atlântica (Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Holanda), detentoras do comércio sobrevivente, eram as que mais sofriam com a crise e, para superá-la, precisavam encontrar metais preciosos para valorizar suas moedas. Por outro lado, dependiam das cidades italianas para o fornecimento das mercadorias orientais trazidas pelos árabes, que dominavam o comércio Mediterrâneo.)) renascido em fins da Idade Média e desenvolvido no interior da Europa entre as cidades italianas e flamengas, foi deslocado, no século XIV, para o litoral atlântico.
Assim, a busca de novos caminhos para atingir o Oriente, terra encarada como fonte de riquezas, passou a constituir uma questão de sobrevivência. Era necessário enfrentar o Atlântico, explorá-lo, buscando saídas, e para financiar um empreendimento desse porte era condição prévia a existência de Estados Nacionais com poder político centralizado e recursos financeiros volumosos. Portugal e Espanha formaram os primeiros Estados Nacionais. Estavam, portanto, aptos para liderar o expansionismo marítimo e, levados pela necessidade, assim procederam.
Os espanhóis encontraram diferentes tipos de sociedades durante o processo de conquista da América. Elas apresentavam tipos de organização social, política e econômica diferentes e, para cada uma, adotaram uma forma própria de dominação.
Cçadores e coloetores
A economia da caça e coleta exigia uma grande extensão de terra. Eram nômades, pois as aldeias ou povoações permanentes não eram viáveis. Os grupos eram forçados a migrar, sempre que a disponibilidade local de alimentos começasse a se escassear. As coisas que podiam possuir eram poucas e limitadas ao que pudesse ser transportado de um lugar para outro. As habitações, geralmente consistiam de simples barracas, tendas, ou cabanas rústicas feitas de folhas e cascas de plantas ou de peles secas dos animais caçados. Os grupos sociais nunca podiam ser grandes, já que apenas um número limitado de pessoas podia conviver, sem esgotar rapidamente os recursos alimentares da região.
Agricultores sedentários
Grupos que residiam permanentemente numa área definida à volta de uma aldeia, um acampamento permanente ou numa área limitada. Praticavam agricultura comunal e possuíam alguns animais para complementar a atividade agrícola.
Os Incas, que possuíam um vasto exército, um hierarquizado sistema administrativo e técnicas próprias de produção, viviam em impérios centralizados, assim como os Astecas, enquanto os Maias viviam em Cidades-Estado independentes.
A Economia nas Colônias Espanholas: a Mineração como Núcleo da Economia Colonial
Passado o período da conquista, subjugados os nativos, os europeus montaram sua estrutura de exploração nas Américas. Embora semelhante em muitos aspectos, algumas diferenças foram se estabelecendo nas diversas áreas de colonização. 
A dominação espanhola estabelece-se tendo por base a extração de mineral, secundada por uma agricultura de subsistência e de um complexo comercial que permitia a chegada dos minerais à Espanha e dos produtos europeus à América colonial.
SAIBA MAIS
Ao longo dos primeiros duzentos anos de dominação colonial, os espanhóis desenvolveram um setor mineiro que permitiu a manutenção da economia metropolitana e da posição internacional espanhola em meio às demais nações da Europa Ocidental. As primeiras descobertas ocorreram no México e no Peru, no curto período de vinte anos (1545-65). Os territórios necessitavam de grande quantidade de mão de obra indígena que, recrutada por sorteio, era encaminhada periodicamente às minas, retornando a seguir às comunidades de origem para ser substituída por novos contingentes requisitados de igual maneira. Os horrores desse tipo de mão de obra forçada (mitas) constituem uma vasta literatura de exploração.
A Economia nas Colônias Espanholas: a Mineração como Núcleo da Economia Colonial
A mita era prática dos Incas (e dos Astecas, chamada de Cuatequil), que consistia no trabalho forçado das aldeias durante quatromeses, com o benefício revertido ao Estado. Os espanhóis se aproveitaram deste esquema na mineração, assumindo o antigo papel representado pelos estados indígenas.
A Encomienda era uma concessão feita pelo Rei da Espanha e empreendedores particulares, que tinham o direito de exigir das aldeias indígenas prestação de serviços sem remuneração, sobretudo na agricultura. A escravidão de negros africanos foi praticada especialmente na agricultura de produtos tropicais nas Antilhas.
Como já vimos anteriormente, dentro da lógica mercantilista, os Estados absolutistas estabeleceram o monopólio do comércio colonial, concretizado na regulação do tráfico e na política fiscalista da Coroa e na ação de poucos comerciantes concessionários, permitindo que a metrópole vendesse caro seus produtos à população das colônias e comprasse barato as exportações americanas.
O monopólio foi, portanto, um dos veículos de acumulação de capital comercial na Europa nos tempos modernos. O Estado espanhol manteve esse monopólio até o século XVIII, quando, após a derrota na Guerra de Sucessão (1701 – 1713), assina o tratado de Utretch, permitindo à Inglaterra comerciar com as colônias hispânicas (navio de permiso – autorização à Inglaterra para enviar um navio por ano com capacidade de carga de 500 toneladas para comerciar com as colônias espanholas e asiento - permissão dada pelo governo espanhol para outros países para vender as pessoas como escravos para as colônias espanholas).
Ordenamento Social na América Espanhola
Divisão étnica como elemento de divisão de classes: 
Chapetones – Brancos nascidos na Espanha que monopolizavam os altos cargos da administração, da Igreja, da Justiça e das forças militares coloniais.
Criollos – Brancos nascidos na América, com descendentes nascidos na Europa. Formavam a verdadeira elite econômica, proprietários de terras e de minas. Eram impedidos de atuar no comércio externo e ocupavam cargos inferiores nas instâncias burocráticas, militares e religiosas da colônia.
Mestiços – Originários da miscigenação entre brancos e índios que ocupavam funções intermediárias, tais como de artesão, capataz e pequenos negócios.
Negros – Eram mais comum nas colônias das Antilhas, sendo a maioria escravos.
Indígenas – Os mais numerosos na sociedade. Não podiam ser legalmente escravizados, tendo seu trabalho explorado através da mita e da encomienda.
Estrutura Administrativa: a Casa de Contratação
O principal órgão administrativo referente à colônia foi de natureza econômica, a Casa de Contratación de las Índias, fundada em 1503, em Sevilha, ((Sevilha era o centro comercial da região mais rica da Espanha e possuía a população, as facilidades portuárias e uma organização financeira necessárias para desenvolver um novo comércio. Importante artéria do comércio interno, o rio Gaudalquivir, possibilitava boa comunicação com o interior. Os carregamentos que chegavam das Índias, além de valiosos, exigiam um eficiente sistema de vendas. Por outro lado, vinho, farinha e azeite eram as cargas exportadas de Sevilha, cujo porto estava menos exposto ao inimigo. O metal precioso, de suma importância para a Coroa, na Casa de Contratação em Sevilha estava relativamente seguro. Logo, a escolha de Sevilha para a Capital administrativa das Índias foi lógica e natural.)) destinada a fomentar e regular o comércio e a navegação com os novos territórios.
A Casa não era uma organização dedicada ao comércio, mas ao seu controle. O comércio cabia exclusivamente a particulares. Teve, inicialmente, as funções de uma alfândega, examinando as cargas e as importações e exportações, bem como recolhendo os tributos, especialmente os que iam para a Coroa. Registrava os passageiros que saíam para as Índias e era também responsável pelo controle técnico: armava e aprovisionava os navios que navegavam por conta da Coroa e inspecionava os navios particulares, antes de zarparem, para assegurar-se de que estavam em condições de navegabilidade.
A Economia nas Colônias Espanholas: o Conselho das Índias
Na terceira década do século XVI, tendo a Espanha se tornado a maior potência da Europa, o poder real, que começara a se afirmar, promove uma série de mudança no setor administrativo, com tendência claramente centralizadora, como manifestação de sua afirmação. O interesse da realeza era recuperar cada vez mais os seus poderes para arrecadar com mais eficiência as rendas dos novos territórios ultramarinos.
A Coroa passou, então, a implantar um complexo aparelho administrativo e fiscal. O poder político passou dos conquistadores para os funcionários da máquina estatal, pagos pelo erário régio. A autoridade suprema para todas as questões coloniais, em Madri, era o Conselho das Índias. Inicialmente, após o retorno de Colombo de sua segunda viagem, a Rainha Isabel escolheu alguns membros do Conselho de Castela, para sob a direção de seu capelão Juan Rodríguez de Fonseca, gerir os assuntos americanos.
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 A este grupo de conselheiros encarregados de todos os assuntos referentes aos territórios recém descobertos deu-se o nome de Real y Supremo Consejo de las Índias. Sua existência separada e legal foi decretada pelo imperador Carlos V, em 1524. O conselho foi, predominantemente, um órgão legal e suas decisões dependiam somente do Rei. Inicialmente, a composição do Conselho era variável, bem como o seu lugar de residência, seguindo a peregrinação da Corte. O Conselho das Índias, além de ser uma autoridade administrativa era também um tribunal superior em todas as causas cíveis e penais referentes aos territórios americanos. Estava constituído por um presidente e seus conselheiros, juristas burgueses, chamados de letrados, legistas oriundos da pequena nobreza e da burguesia, formados na ciência jurídica universitária, além de estar composto por eclesiásticos. As decisões do Conselho se estendiam a todas as instâncias da vida colonial: consultivas, legislativas e jurídicas. Como cabeça hierárquica de toda a autoridade administrativa, ele dirigia a administração civil, militar, fazendária e de justiça, além de estar encarregado do padroado régio. Nesta função, controlava a administração eclesiástica nas Índias, bem como o contato entre o clero colonial e a Cúria romana.
AULA
A Economia nas Colônias Espanholas: Vice-Reinos
Representantes diretos do Rei da Espanha. Responsáveis por comandar os exércitos coloniais, controlar armas, fiscalizar a conversão dos índios, com poderes para intervir em todos os assuntos da colônia.
O cargo político mais importante nos territórios ultramarinos espanhóis era o de vice-rei, que recebia uma alta remuneração. Entretanto, não podia, entre outras coisas, tornar-se independente do controle da metrópole, nem tampouco dispor do dinheiro público por sua própria autoridade.
Tinham os poderes limitados apenas pelas Audiências (tribunal de apelação de estrutura colegiada - principal órgão de justiça de Castela, criado por Henrique II em 1369.) e pelos Juízes de Visitação, mandados da Europa para fiscalizar a administração. Em 1535, foi criado o Vice-reino de Nova Espanha, abrangendo o México e parte da América Central; em 1544, o Vice-reino do Peru, englobando boa parte da América do Sul espanhola (atuais Bolívia, Peru, Equador, Paraguai e Argentina). Quanto à sua formação, o vice-rei podia ser advogado, eclesiástico ou um militar aristocrata.
O seu poder era grande: exercia o cargo de governador da província pertencente à sua capital, presidia à audiência do vice-reino e era também capitán general. Ao vice-rei não cabiam atribuições jurídicas ou administrativas concretas. Como representante do poder real, ele dispunha de uma autoridade política geral e sua esfera de influência foi delineada inicialmente para o México e para Lima. O Império colonial não estava dividido em dois vice-reinos representando entidades administrativas fechadas em si.
Os poderes e atribuições do vice-rei eram regulados pela Coroa: as nomeações para as sedes episcopais e a organização de tropaspagas para repelir uma invasão, por exemplo, tinham de ter a prévia aprovação do rei. Além disso, ele era vigiado e, de certo modo, contido pelos juízes de audiência e, como os demais funcionários, deveria ser submetido a uma residência, ou seja, uma investigação judicial quanto ao desempenho de seu cargo, ao final de seu mandato. Na prática, o poder do vice-rei dependia de sua habilidade.
AS AUDIÊNCIAS
Antes mesmo da criação do primeiro vice-reino, um importante passo na organização administrativa das colônias havia sido dado pela metrópole, com a criação em 1511 da audiência de Santo Domingo. Um tribunal de apelação de estrutura colegiada, a audiência era um tribunal composto por juízes profissionais, os oidores, que tinham formação jurídica e seguiam o direito civil geral. Foi um instrumento eficaz de controle das autoridades representantes da Coroa contra o abuso de poder. Embora fosse uma instância de caráter exclusivamente jurídico, desempenhou um papel altamente político durante a história colonial.
A Economia nas Colônias Espanholas: Cabildos
Eram as corporações municipais (câmaras), que eram responsáveis pelos assuntos legislativos e judiciários locais. Composto pela elite dos criollos.
Veja, estamos falando de uma importante instituição.
Os cabildos eram uma importante instituição de autogoverno na colônia, que futuramente centralizariam os movimentos de independência.

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