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A Função Social e a Boa-Fé Objetiva nos Contratos de Seguro - Monografia

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS – UEMG 
CAMPUS DE FRUTAL 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
A BOA-FÉ OBJETIVA E A FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO DE 
SEGURO 
 
 
 
 
 
AUGUSTO STUCHI ROMERA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Frutal (MG) 
201
1 
 
 
Augusto Stuchi Romera 
 
 
 
 
 
 
A BOA-FÉ OBJETIVA E A FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO DE 
SEGURO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência 
parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito à 
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG – Campus de 
Frutal, sob a orientação do Professora Loyana de Lima Tomaz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Frutal (MG) 
2015 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ROMERA, Augusto Stuchi. 
A boa-fé objetiva e a função social do contrato de seguro. / 
Augusto Stuchi Romera. – Frutal: EDITOR, 2015. 
xx f.; il. 
Orientadora: Loyana de Lima Tomaz. 
Trabalho de conclusão de curso (Graduação) – Universidade 
do Estado de Minas Gerais, UEMG. Campus de Frutal. Direito, 2015. 
 
1. Contratos. 2. Seguros. 3. Função Social. 4. Boa-fé objetiva 
I. TOMAZ, Loyana de Lima. II. A boa-fé objetiva e a função social do 
contrato de seguro. 
 
 
 
 
3 
 
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS – UEMG 
CAMPUS DE FRUTAL 
CURSO DE DIREITO 
 
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). 
 
 
A BOA-FÉ OBJETIVA E A FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO DE 
SEGURO. 
 
Elaborada por 
AUGUSTO STUCHI ROMERA 
como requisito parcial para obtenção de Bacharel em Direito. 
 
Frutal, ___ de Novembro de 2015. 
 
________________________ 
Prof. Dr. Glauber Camacho Gimenez Garcia 
Coordenador do Curso 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
__________________________________ 
Profª. Mª. Loyana de Lima Tomaz. 
Profª. Orientadora 
 
__________________________________ 
Prof(a). --------------------------------- 
Membro da Banca Examinadora 
 
__________________________________ 
Prof(a). --------------------------------- 
Membro da Banca Examinadora 
 
 
4 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A minha família, principal provedora de toda minha felicidade e 
conhecimento de vida, aos amigos e a Deus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiro à minha mãe, Carlota de Cássia Stuchi, principal provedora de todos os elementos essenciais 
para a minha mantença, bem como a pessoa que me ensinou o sentido da palavra ‘dedicação’, me mostrando qual 
o melhor caminho a seguir, sempre com muito empenho, amor e carinho. 
Segundo ao meu irmão André Stuchi Romera que me ensinou o valor de buscar o conhecimento em 
defesa do justo, bem como por todo companheirismo e preocupação a mim dado. 
Terceiro ao meu pai, José Romera Filho, que mesmo não estando mais no plano presente, sempre buscou 
me confortar com afeto paternal. 
Ao Estado de Minas Gerais que me deu a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosa, me acolhendo 
da melhor maneira. 
Posteriormente, estendo o mesmo sentimento de gratidão às amizades, que sempre foram tão leais 
durante meu período acadêmico: Carolina Cavasana de Paula e Silva, que sempre esteve ali nos momentos que 
mais precisei; e aos amigos Fernando Augusto Miranda Arcain, Hugo Santos de Oliveira, José Augusto Madi 
Pinheiro Alves e Luis Henrique Sescão Paulino, que compartilharam comigo momentos importantes de angústia 
e felicidade. 
Por fim, a Deus, que sempre me guiou e protegeu. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
RESUMO 
 
 
A presente monografia visa apresentar uma visão panorâmica das relações securitárias em 
consonância com a estrutura econômica presente em nossa sociedade. Este trabalho apresenta 
algumas problemáticas que se alojam entre os princípios da boa-fé objetiva bem como o da 
função social dos contratos, tais como dignidade da pessoa humana e sob a luz dos dispositivos 
legais a respeito do tema. A partir do método dedutivo e histórico foram analisadas várias 
jurisprudências e obras sobre o tema, para que, a partir deste estudo, ganhe mais subsídios para 
futuras pesquisas e discussões. 
 
 
Palavras-chave: Contratos. Seguro. Função Social. Boa-fé objetiva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 8 
1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONTRATO DE SEGURO .................................... 11 
1.1 Surgimento do contrato de seguro ............................................................................. 11 
1.2 O contrato de seguro após a Renascença ................................................................... 12 
1.3 Evolução do seguro no Brasil .................................................................................... 13 
2 ASPECTOS GERAIS DO CONTRATO DE SEGURO ............................................. 14 
2.1 Conceito e natureza jurídica ...................................................................................... 14 
2.1.1 Teoria geral dos contratos................................................................................... 14 
2.1.2 Do contrato de seguro ......................................................................................... 16 
2.2 A vulnerabilidade e hipossuficiência do consumidor ............................................... 19 
2.3 Contrato de seguro de adesão .................................................................................... 21 
2.3.1 Cláusulas limitativas nos contratos de seguro .................................................... 23 
2.3.2 Breve análise crítica do contrato de seguros de adesão ...................................... 25 
3 ELEMENTOS SUBJETIVOS E OBJETIVOS DO CONTRATO DE SEGURO .... 28 
3.1 Elementos subjetivos ................................................................................................. 28 
3.1.1 Segurador ............................................................................................................ 28 
3.1.2 Segurado ............................................................................................................. 30 
3.1.3 Estipulante .......................................................................................................... 32 
3.1.4 Beneficiário ........................................................................................................ 33 
3.2 Elementos objetivos ................................................................................................... 33 
3.2.1 Prêmio ................................................................................................................. 33 
3.2.2 Risco ................................................................................................................... 39 
3.2.3 Indenização ......................................................................................................... 46 
3.2.4 Franquia .............................................................................................................. 50 
4 A BOA-FÉ OBJETIVA E A FUNÇÃO SOCIAL dO CONTRATO DE SEGURO . 52 
4.1 A boa-fédas partes contratantes ................................................................................ 52 
4.1.1 Deveres anexos à boa-fé objetiva ....................................................................... 52 
4.1.2 A positivação da boa-fé objetiva no Brasil ......................................................... 53 
4.1.3 A boa-fé objetiva nos contratos de seguro.......................................................... 55 
4.2 A função social do contrato de seguro frente o liberalismo econômico .................... 58 
CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 64 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 66 
 
 
8 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho visa elaborar um aprofundado estudo sobre as delimitações da 
função social do contrato de seguro. Assim, o estudo esclarecerá aos consumidores os seus 
devidos direitos, conquanto adquirentes de um serviço de seguradora, bem como agentes 
sociais, realizando uma análise ampla sobre a referida problemática, havendo, assim, a 
pretensão de enquadrar as questões técnicas e específicas do contrato de seguro. 
Portanto, trata-se de uma pesquisa com o intuito de chegar o mais próximo possível 
de se conseguir conclusões à cerca do problema envolvido, demonstrar as possíveis violações 
dos direitos pertencentes a esses consumidores amparados pelo Código de Defesa do 
Consumidor e também as responsabilidades dos fornecedores no âmbito civil e penal, para que 
haja um provável auxílio aos segurados ao adquirir o serviço e, não obstante, uma consequente 
diminuição de violações contratuais por parte das seguradoras. 
O contrato de seguro surgiu no Direito Medieval, sendo um instituto do Direito que 
traz tranquilidade e segurança ao contratante, visto que concerne a um instrumento que, ao 
ocorrer uma situação de risco prevista e coberta pelo seguro, o prejuízo sofrido pelo segurado 
será sustentado pela seguradora contratada. 
Porém, não apenas de benefícios os consumidores se deparam ao contratar tal 
serviço. É importante que se ressalte que o contrato de seguro, em sua maior parte, é 
consequentemente um contrato de adesão, no qual as cláusulas contratuais são preestabelecidas 
unilateralmente pela seguradora e impostas ao segurado, dando, dessa forma, abertura e 
liberdade o suficiente para que aquela abuse contratualmente desta. 
Trata-se, portanto, de um complexo estudo de um importante tema para a sociedade 
e as suas respectivas relações de consumo. É de ressaltada complexidade devido a sua 
demasiada particularidade, já que se trata de consulta documental, doutrinária e jurisprudencial. 
É de suma importância, pois se trata de um assunto pertinente aos dias atuais, visto que se lida 
com contratos de grande utilidade à sociedade, havendo, assim, uma imensa quantidade de 
contratações por esse serviço e um consequente aumento de casos que são levados à apreciação 
do Judiciário. 
O desequilíbrio resultante da concentração de forças econômicas e de capitais do 
monopólio nas relações de consumo desencadeou sérios problemas de cunho contratual, 
havendo a necessidade de interferência do Estado, como uma ação protetora das partes. 
9 
 
 Contudo, possui o objetivo de ser um instrumento de suma importância para um melhor 
aperfeiçoamento das relações de consumo, buscando um equilíbrio entre as partes da relação, 
tão quanto uma segurança jurídica ao consumidor, sempre visando sua vulnerabilidade. 
Portanto, faz-se necessário a ressalva de que na maioria das vezes, o contrato de 
seguro acaba sendo, por consequência, um contrato de adesão, no qual as cláusulas já são 
preestabelecidas unilateralmente pelas seguradoras, competindo apenas ao contratante aceitá-
las, e, dessa forma, ficam sob a égide da proteção Contratual do Código de Proteção do 
Consumidor – no qual exemplifica as hipóteses de cláusulas abusivas em seu artigo 51 – e 
acabam, por isso, fazendo-se merecer por uma apreciação acerca do tema proposto. 
 Por conseguinte, o presente estudo trata das relações de direito securitário entre o 
consumidor contratante de serviço de seguro (segurado) e o fornecedor (seguradora) no âmbito 
do abuso contratual exercido pela mesma. Logo, surge-se a proposição no qual o presente 
estudo se volta, questionando-se quais seriam os meios de interpretação de tais cláusulas. 
É de se evidenciar que o presente estudo terá a possibilidade de trazer contribuições 
teóricas acerca do tema, relativos a uma provável confirmação sobre o cerne do problema dentro 
de sua função social, além das praticáveis sugestões de mudanças dentro do direito securitário, 
ligado com uma observância analítica da realidade econômica, social e política em que o Brasil 
se insere. 
Além disso, haverá a pretensão de fazer uma análise sob os casos específicos nos 
diversos tipos de contratos, tão quanto os principais e variados tipos de seguradoras (de 
automóvel, transporte, habitacional, saúde, pessoas, etc.), além de jurisprudências proferidas 
sobre o tema, para que, dessa forma, se obtenha um estudo com uma maior riqueza de detalhes 
e um proveniente amparo aos vulneráveis consumidores brasileiros vítimas de poderosos 
agentes econômicos, donos de um antigo e necessário mercado, que evolui de forma cada vez 
mais progressiva em nossa sociedade. 
Portanto, o estudo que se faz presente, tem por justificativa a falta de conhecimento 
mais detalhada por parte dos consumidores a respeito deste tipo de contrato, que resultará, 
possivelmente, na maior parte das vezes, num completo descumprimento legal por parte das 
seguradoras frente a luz do Código de Defesa do Consumidor e do Princípio da Função Social 
do Contrato. 
Até o ano de 1990, os problemas relacionados ao consumo eram decididos de 
acordo com o Código Civil. Assim, devido a sua ineficácia na resolução de tais problemas, o 
mesmo foi substituído pela Lei n. 8078/90 que cria o Código de Defesa do Consumidor, cujo 
cunho de seu conteúdo é justamente as relações de consumo, garantindo uma segurança jurídica 
10 
 
aos consumidores e uma clara imposição de deveres aos fornecedores de mercadorias e 
serviços. 
Desta forma, as seguradoras, configuradas como prestadoras de serviço pelo 
próprio Código (Art. 3º, § 2), não se excluem da submissão imposta pelo ordenamento, tão 
quanto qualquer outro fornecedor produtos ou prestador de serviço. 
 Portanto, o objeto de estudo é a desordem e o descumprimento legal frente ao 
Código de Defesa do Consumidor por parte das seguradoras em suas relações de consumo, no 
que tange ao contrato de adesão com cláusulas abusivas imposto ao consumidor; além de suas 
devidas responsabilidades e os respectivos direitos assegurados aos consumidores em face ao 
descumprimento da função social do contrato. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONTRATO DE SEGURO 
1.1 Surgimento do contrato de seguro 
 
Apesar das várias teorias à cerca do surgimento do contrato de seguro, ainda é 
desconhecido o exato período do primeiro negócio jurídico que teve como objeto o seguro de 
um bem. Assim, a título de elucidar o presente trabalho, faz-se necessário uma breve 
demonstração das duas principais teorias à cerca do tema, quais sejam: os Cameleiros Nômades 
e os Fenícios em alto-mar. 
Os cameleiros nômades eram obrigados a viajar em regiões desérticas em situações 
insalubres que não facilitavam a sobrevivência de seus camelos. Assim, já contando com risco 
de perdê-los e evitar que osefeitos dessa perda fossem assumidos apenas a um dos integrantes, 
os cameleiros do grupo prestavam assistência ao prejudicado como forma de cooperação mútua, 
diminuindo, dessa forma, o prejuízo advindo dos riscos da viagem. 
Quanto aos donos de embarcações Fenícios, exímios comerciantes da época, com a 
intenção de salvaguardar o lucro advindo dos produtos de suas embarcações e temendo os riscos 
e dificuldades das longas viagens em alto-mar, pactuavam entre si, que, se porventura algum 
prejuízo fosse sofrido por um dos integrantes do grupo, o dano seria recomposto através da 
participação de todos os proprietários de navios em certo percentual previamente ajustado. 
Em Roma, também há relatos de institutos basilares do seguro, como PEDRO ALVIM 
(1999, p.3.), em obra clássica, expõe: 
 
Na Roma antiga, sob a denominação de sodalitia ou collegia, reuniam, em 
geral, os indivíduos mais pobres ou pertencentes a classes humildes, com o 
propósito de angariar meios para a assistência médica aos doentes, despesas 
de funeral, sepultura honrosa etc. Posteriormente, os collegia adquiriram 
maior importância no meio social romano.1 
 
Portanto, a precaução humana deu espaço para o seguro se formar, sendo moldado 
conforme as necessidades e anseios da sociedade, se adequando cada vez mais à diversidade 
cultural e à evolução mercantil. Assim, fica claro que a formação do seguro se respalda sobre a 
égide da cooperação mútua e do trabalho, sendo aplicadas nos movimentos de proveito 
mercantil, permeando-se nesse molde até os dias atuais. Nesse sentido: 
 
 
1 ALVIM, Pedro, O Contrato de seguro, 3. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p.3. 
12 
 
A função das empresas de seguros é por isso uma função de repartição: 
repartem entre aqueles que são designados pela sorte, pelo fogo, pela saraiva, 
ou pela morte, a cobrarem de todos os que se achavam ameaçados pelo mesmo 
perigo, e que procuram defender-se dele por meio do seguro.2 
 
À vista disso, o indivíduo, como ser social que é, fora tomando para si direitos e 
obrigações num crescente que se consubstanciava conforme a história se moldava, 
desenvolvendo, dessa forma, as relações de direito privado. Nesse diapasão, bem explica Ivan 
de Oliveira Silva ao dizer: 
 
Nessa simetria de direitos e obrigações pautados na ajuda mútua, o seguro 
encontra a sua razão de existir com o propósito de enfocar a impossibilidade 
de uma existência estritamente individual e distante dos naturais ajuntamentos 
sociais. (2012, p.33).3 
 
Deste modo, observa-se que o mutualismo, um dos principais elementos do seguro, 
adaptou-se à conjuntura social, sendo encontrado nos mais diversos tipos de relação cultural. 
Assim, fica evidente a evolução do instituto do seguro conforme se desenvolve as relações 
mercantis, ganhando cada vez mais espaço no cotidiano, envolvendo quase todas as atividades 
humanas. Nessa lógica, “entendemos que o homem e seguro, como instituto de preservação 
sociocultural, caminham juntos em prol do bem comum”. (SILVA, 2012, p. 32). 
 
1.2 O contrato de seguro durante após a Renascença 
 
Passada a fase da concretização da concepção de mutualismo, ainda no século XIV, 
durante a evolução histórica da Renascença, têm-se registro de que fora realizado os primeiros 
pactos de apólices de seguro que se tem conhecimento, ganhando grande aceitabilidade do 
público mercantil, tendo o instituto grande desenvolvimento de magnitude econômica durante 
esse período. 
A aceitabilidade do seguro durante essa fase supracitada ensejou a criação de seguros 
destinados à cobertura de outros riscos que sobrevinham das necessidades consequentes da 
transfiguração social a qual passava a Europa no século XVII, ensejando a modalidade de 
seguro terrestre, mais precisamente o seguro contra incêndio, devido à fatídica tragédia do 
 
2 Cesare Vivante. Instituições de direito comercial. Trad. J. Alves de Sá. 3. Ed. São Paulo: Livraria C. Teixeira, 
1928, p.218. 
3 LOPES, Serpa, Curso de direito civil: fonte das obrigações – contratos. 4. Ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 
1993, p.388. 
13 
 
Grande Incêndio Londrino em 1966. Assim, na Inglaterra, durante esse ano, como aponta Serpa 
Lopes, deu-se a criação das primeiras companhias de seguros, “a Fire Office e a Royal 
Exchange, surto esse que se espalhou por outros países como Estados Unidos, Alemanha e 
França, onde [...] se refletiu no Código Napoleônico [...]”4. Desse modo, podemos afirmar que 
o desenvolvimento dos seguros terrestres foi mais rápido que o marítimo, não só na Inglaterra, 
como em outros países. 
Contudo, foi a partir do século XVIII que o seguro passou a ser gerenciado com 
parâmetros técnicos, em virtude dos avanços científicos do século anterior, abandonando os 
critérios de especulações unicamente empíricos, possibilitando, dessa forma, o êxito dos 
investidores do mercado securitário com o pulsar da Revolução Industrial. 
 
1.3 Evolução do seguro no Brasil 
 
Quanto a evolução do seguro no Brasil, podemos elucidar que, embora as primeiras 
embarcações seguradas que chegaram em solo brasileiro ocorreram em 1500, apenas em 1850 
é que fora realizada a inauguração do conjunto de normas próprias do comércio brasileiro, o 
Código Comercial, onde se encontra no Artigo 666 a primeira referência ao instituto do Seguro, 
mais precisamente o Marítimo, deixando, dessa forma, o livre arbítrio entre os contraentes nos 
contratos relativos aos seguros terrestres. 
 
Art. 666 - O contrato de seguro marítimo, pelo qual o segurador, tomando 
sobre si a fortuna e riscos do mar, se obriga a indenizar ao segurado da perda 
ou dano que possa sobrevir ao objeto do seguro, mediante um prêmio ou soma 
determinada, equivalente ao risco tomado, só pode provar-se por escrito, a 
cujo instrumento se chama apólice; contudo julga-se subsistente para obrigar 
reciprocamente ao segurador e ao segurado desde o momento em que as partes 
se convierem, assinando ambas a minuta, a qual deve conter todas as 
declarações, cláusulas e condições da apólice.5 
 
Porém, cabe fazer a ressalva que a vacância legislativa não impediu a criação de 
sociedades para a exploração do mercado de seguros, sendo as primeiras companhias a serem 
criadas: Boa Fé (1808); Conceito Público (1808) e Indemnidade (1810). (SILVA, 2012, p.38). 
 
4 SILVA, Ivan de Oliveira, Curso de Direito do Seguro, 2.Ed. São Paulo: Saraiva. 2012, p. 33. 
5 Artigo 666 do Código Comercial Brasileiro – Lei n. 556/1850. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L0556-1850.htm> Acesso em 13 de julho de 2015. 
14 
 
Contudo, mesmo diante da crescente aceitação do mercado securitário no Brasil, com 
exceção do seguro marítimo, os contratos de seguro, até o Código Civil de 1916, eram regidos 
pelas normas gerais dos contratos. 
 Não obstante, é no Século XX que a atividade securitária passou a ser usado 
principalmente pelas grandes sociedades empresárias, formadas unicamente para esta 
finalidade, ensejando, portanto, a necessidade de matizes publicistas, bem como com uma 
complexa conjuntura de leis do sistema de Seguridade Social, tal qual conhecemos atualmente. 
Portanto, depreende-se que essa evolução tecnológica e científica tenha contribuído de 
forma expressiva para o real progresso e a devida credibilidade ao instituto do seguro. 
 
2 ASPECTOS GERAIS DO CONTRATO DE SEGURO 
2.1 Conceito e natureza jurídica 
 
Desde os tempos mais remotos, o homem, direta ou indiretamente, está intimamente 
ligado a algum negócio jurídico proveniente de uma relação contratual. Essencial,portanto, 
afirmar que os contratos fazem parte da estrutura da sociedade neoliberalista. Diante disso, 
forçoso se faz a conceituação do contrato e, não obstante, a delimitação do contrato de seguro 
para melhor aprofundamento do presente estudo. 
 
2.1.1 Teoria geral dos contratos 
 
A conceituação do contrato lato sensu se faz necessário afim de abarcar a sua teoria 
geral, bem como delinear a real direção das manifestações de vontade sedimentadas em nosso 
ordenamento jurídico, buscando, portanto, na visão de Ivan de Oliveira Silva (2012, p.73) “[...] 
atender os anseios do reconhecimento de que os atos humanos passíveis de exteriorização de 
vínculos jurídicos devem acenar para o princípio da função social”6. 
Portanto, é preciso que a vontade pactuada entre os indivíduos tenha sustentação na 
função social dos contratos, bem como na boa-fé objetiva, tal qual preceitua nosso Código Civil 
em seu artigo 421, vez que “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da 
função social do contrato”7, assim como o ordenado pelo artigo 2.035 do mesmo código: 
 
6 SILVA, Ivan de Oliveira, 2012, p.73. 
7Artigo 421 do Código Civil de 2002 – Lei n° 10.406 – Disponível em < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 23 de julho de 2015. 
15 
 
 
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes 
da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, 
referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste 
Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas 
partes determinada forma de execução. 
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de 
ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a 
função social da propriedade e dos contratos.8 
 
Contudo, com respaldo basilar constitucional e respeitando de forma minuciosa a égide 
da teoria geral dos contratos, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho bem 
conceituam: 
 
O contrato [...] é um negócio jurídico bilateral, por meio do qual as partes, 
visando a atingir determinados interesses patrimoniais, convergem as suas 
vontades, criando um dever jurídico principal (de dar, fazer ou não fazer), e, 
bem assim, deveres jurídicos anexos, decorrentes da boa-fé objetiva e do 
superior princípio da função social.9 
 
Dessarte, ao passo que a o Direito Civil passa pelo processo de constitucionalização, a 
observância do respeito função social da propriedade passa a nortear a forma que o contrato é 
conduzido, sempre em referência à dignidade da pessoa humana. 
Portanto, como bem explica Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2013, 
p.52), o contrato somente atenderá a função social do contrato quando respeitar a dignidade da 
pessoa humana e admitir a relativização do princípio da igualdade das partes contratantes, assim 
como consagrar uma cláusula implícita de boa-fé objetiva dos deveres anexos da lealdade, 
confiança, assistência, confidencialidade e informação10. 
Em epítome, Ivan de Oliveira Silva (2012, p.74) finaliza sua conceituação em 
consonância com o acima exposto: 
 
[...] o contrato, seja na forma verbal ou escrita, é compreendido como uma 
espécie de negócio jurídico, submisso ao princípio da função social, em que 
duas ou mais pessoas vinculam suas vontades para o fim de criar, modificar 
ou extinguir direitos e obrigações de cunho econômico.11 
 
8Artigo 2.035 do Código Civil de 2002 – Lei n° 10.406 – Disponível em < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 23 de julho de 2015. 
9 STOLZE, Pablo, Novo Curso de Direito Civil – Contratos: Teoria Geral, 9. Ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p .52. 
10 STOLZE, Pablo; PAMPLONA, Rodolfo, 2013, p.52. 
11 SILVA, Ivan de Oliveira, 2012, p.74. 
16 
 
 
 Quanto a interpretação dos contratos, especialmente os advindos de relações 
consumeristas, relevante registrar que os mesmos devem valorizar a intenção das partes 
contratantes do que o sentido literal da linguagem. Ou seja, é mais importante que a 
interpretação recaia sobre o real interesse das partes do que a linguagem escrita propriamente 
dita, de forma que se respeite os limites da boa-fé objetiva, assim como a função social e os 
costumes do lugar onde fora realizado o contrato. Além disso, as interpretações das cláusulas 
devem ser de maneira mais benéfica ao consumidor, conforme o que preceitua o artigo 47 do 
Código de Defesa do Consumidor e os artigos 112 e 113 do Código Civil: 
 
Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais 
favorável ao consumidor.12 
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas 
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. 
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e 
os usos e costumes do lugar de sua celebração.13 
 
A mesma lógica se aplica em relação aos contratos de adesão, modalidade contratual 
inserida nos contratos de seguro, devendo a interpretação observar a regra na qual dispõe o 
Código Civil: “Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou 
contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. ” 
 
2.1.2 Do contrato de seguro 
 
Destarte, passada a conceituação do contrato bem como as delimitações de sua teoria 
geral, passamos ao estudo do conceito do contrato de seguro. 
Com efeito, sob a ótica basilar das premissas limitativas da autonomia da vontade, 
podemos dizer que o contrato de segura se baseia na convenção entre duas ou mais pessoas com 
o objetivo de criar, modificar e extinguir direitos e obrigações entre si, atendida a sua função 
social e a boa-fé objetiva. 
Assim, respeitado os ditos limites, o Código Civil de 2002 optou por registrar o conceito 
da seguinte maneira: 
 
12 Artigo 47 do Código de Defesa do Consumidor – Lei 8.078/90 – Disponível em < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm> Acesso em 24 de julho de 2015. 
13 Artigos 112 e 113 do Código Civil de 2002 – Lei n° 10.406 – Disponível em < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 24 de julho de 2015. 
17 
 
 
Artigo 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o 
pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a 
pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.14 
 
Isto posto, afim de elucidar de forma completa o presente trabalho, aferimos a leitura da 
redação do Artigo 1° do Projeto de Lei n. 3.555/2004 que estabelece normas gerais em contratos 
de seguro privado e revoga dispositivos do Código Civil, do Código Comercial Brasileiro e do 
Decreto-Lei nº 73 de 1966 ao qual se nota bastante semelhança com o atual diploma, porém, 
mostra-se mais abrangente de modo que “inclui o segurador como um garantidor dos interesses 
legítimos tanto do segurado como do beneficiário do seguro”15, senão vejamos: 
 
Art. 1° - Pelo contrato de seguro, a seguradora se obriga, mediante o 
recebimento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado ou do 
beneficiário contra riscos predeterminados.16 
 
No entanto, devemos ressalvar que, por mais que a visão legal do texto normativo seja 
abrangente, ela não é exaustiva, já que há um grande rol das modalidades securitárias que são 
regidas por leis próprias, sendo esse aspecto reconhecido pelo Código Civil em seu artigo 777, 
inserido no capítulo XV que versa sobre o Seguro no qual diz que “o disposto no presente 
Capítulo aplica-se,no que couber, aos seguros regidos por leis próprias”. Assim, podemos citar 
como exemplo de seguros regidos por leis próprias o Seguro Obrigatório de Danos Pessoais 
causados por veículos automotores de via terrestre (Lei n. 6.194/74), bem como o Seguro 
Obrigatório de Danos Pessoais causados por embarcações ou por sua carga (Lei n. 8.374/91). 
Consoante o exposto, observa-se que o legislador se preocupou em garantir o interesse 
legítimo do segurado, implicando dessa forma que as obrigações primordiais das sociedades 
securitárias se baseiem na garantia dos interesses patrimoniais (ou extrapatrimoniais) dos 
sujeitos passivos dessa relação. Ou seja, o conceito legal recai sobre a garantia do interesse – 
no sentido mais puro dessa palavra – deixando por entender, portanto, que o objeto do contrato 
de seguro não é a coisa em si, mas sim que o contrato realize a garantia a qual se prestou a 
cumprir. Nesse aspecto, bem conceitua Ivan de Oliveira Silva (2012, p.84): 
 
14 Artigo 757 do Código Civil de 2002 – Lei n° 10.406 – Disponível em < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 27 de julho de 2015. 
15 SILVA, Ivan de Oliveira, 2012, p. 83 
16 Artigo 1° do Projeto de Lei n. 3.555/2004 – Disponível em < 
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=3D857DADECB3670919C1C58A2
53B0D02.proposicoesWeb2?codteor=1279376&filename=PL+3555/2004>. 
18 
 
 
[...] o contrato de seguro é a convenção em que um ente específico, o 
segurador, se obriga, mediante a paga de prêmio, a garantir legítimo interesse 
do segurado, concentrado em pessoa ou coisa, contra riscos advindos de 
circunstâncias adversas.17 
 
No mesmo sentido, também conceitua observando a garantia do interesse legítimo Pablo 
Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2013, p.491) que o contrato de seguro é: 
 
[...] o negócio jurídico por meio do qual, mediante o pagamento de um prêmio, 
o segurado, visando a tutelar interesse legítimo, assegura o direito de ser 
indenizado pelo segurador em caso de consumação de riscos 
predeterminados.18 
 
Portanto, Silva (2012, p.84) observa que o contrato de seguro não se enquadra em 
nenhuma das categorias obrigacionais, quais sejam a de dar, de fazer e de não fazer, sugerindo 
que se desdobra numa espécie de outro tipo: a obrigação de garantia. Assim, denota-se que o 
segurador se presta a cumprir uma obrigação de garantia ao segurado e, se assim não o fizer de 
forma contratualmente devida, aquele estará em mora com este. Dessa forma, bem explica Ivan 
de Oliveira Silva a real expectativa do segurado ao realizar o negócio jurídico a qual se prestou 
a contratar: 
 
Por meio da obrigação de garantia constante no contrato de seguro, o segurado 
terá direito a gozar de tranquilidade, uma vez que seu interesse legítimo sobre 
pessoa ou coisa está protegido contra os riscos determinados nas exatas 
condições do pacto securitário. Em termos contratuais específicos, mediante 
o pagamento do prêmio, o segurador, que aceitou o risco, estará obrigado a 
garantir o interesse legítimo do segurado nos exatos termos do contrato. Caso 
o segurador não cumpra a sua obrigação de garantia, estará ele em mora.19 
 
Assim, independente da ocorrência do sinistro ou não, o segurador deve cumprir a 
ocupar a condição de salvaguardar o interesse legítimo do segurado durante todo o tempo de 
vigoração do contrato. Em suma, o segurador toma para si, por consequência, uma obrigação 
certa a ser realizada durante o lapso temporal pré-estabelecido contratualmente. 
Portanto, compreendido os limites da conceituação, depreende-se que se torna 
impossível a vida moderna em sociedade sem o contrato de seguro e a concretização de seu 
 
17 SILVA, Ivan de Oliveira (2012, p.83) 
18 STOLZE, Pablo; PAMPLONA, Rodolfo (2013, p.491) 
19 SILVA, Ivan de Oliveira (2012, p.84) 
19 
 
conceito, seja para melhor abarcar as mais distintas formas de seguro, seja para garantir a 
segurança jurídica do instituto. 
 
2.2 A vulnerabilidade e hipossuficiência do consumidor nas relações de contrato de 
seguro 
 
Se demonstra importante trazer à tona ao presente estudo a análise da reconhecida 
vulnerabilidade e hipossuficiência do consumidor. À luz da Constituição Federal, o legislador 
da carta consumerista tratou de garantir o princípio da Isonomia, verificado em seu artigo 4°, I 
e 6°, VIII, onde se observa a pretensão de proteger o consumidor na medida em que este não 
tem acesso aos devidos recursos para se igualar ao poderio do fornecedor. Assim, o Código de 
Defesa preceitua: 
 
Art.4° A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o 
atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, 
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da 
sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de 
consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, 
de 21.3.1995) 
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de 
consumo; 
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus 
da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for 
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras 
ordinárias de experiências;20 
 
Destarte, doutrinariamente, depreende-se que a presunção dessa fraqueza se 
consubstancia sob a égide da ordem técnica e outra de caráter econômico, tornando o 
consumidor a parte mais fraca dessa relação jurídica de consumo. Nesse sentido, Rizzato Nunes 
(2012, p.674-675) bem delimita esses dois aspectos ao dizer: 
O primeiro está ligado aos meios de produção, cujo conhecimento é 
monopólio do fornecedor. E quando se fala em meios de produção não se está 
referindo apenas aos aspectos técnicos e administrativos para a fabricação de 
produtos e prestação de serviços que o fornecedor detém, mas também ao 
elemento fundamental da decisão: é o fornecedor que escolhe o que, quando 
e de que maneira produzir, de sorte, que o consumidor está à mercê daquilo 
que é produzido. 
[...] O segundo aspecto, o econômico, diz respeito à maior capacidade 
econômica que, via de regra, o fornecedor tem em relação ao consumidor. É 
 
20 Artigo 4 e 6 do Código de Defesa do Consumidor – Lei n° 8.078/90 – Disponível em < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em 10 de agosto de 2015. 
20 
 
fato que haverá consumidores individuais com boa capacidade econômica e 
às vezes até superior à de pequenos fornecedores. Mas essa é a exceção da 
regra geral.21 
 
Diante disso, numa relação contratual, fica claro que o consumidor é, da mesma 
maneira, a parte hipossuficiente para contratar, isso porque o mesmo não possui conhecimento 
técnico suficiente para compreender devidamente as cláusulas inseridas, principalmente os 
contratos de adesão, que reforçam ainda mais esse desequilíbrio perante o fornecedor. 
Nessa acepção, a Lei Processual Civil estabelece circunstâncias que determina o ônus 
da prova entre autor e réu, como dispõe o art. 333 do Código de Processo Civil. Vejamos: 
Art. 333. O ônus da prova incumbe: 
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; 
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo 
do direito do autor [...]22 
 
Ao contrário, o Código de Defesa do Consumidor, no artigo 6, VIII, preconiza: 
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos,inclusive com a inversão do ônus 
da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for 
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras 
ordinárias de experiências;23 
 
Assim, o legislador atribui ao julgador que, diante de uma situação concreta onde o 
consumidor não tenha a possibilidade de produzir a prova necessária para sustentar suas 
alegações devido sua hipossuficiência, munido de seu poder-dever, deve determinar a inversão 
do ônus probatório. 
Porém, o CDC não foi criado com a intenção de proporcionar uma demasiada proteção 
ao consumidor, perpassando o fornecedor à falta da devida tutela jurisdicional. Busca, pois 
então, um equilíbrio no liame processual de maneira a propiciar a conformidade condignas das 
relações consumeristas. 
 Em vista disso, é pacífica a pátria jurisprudência ao dizer que a inversão do ônus 
probatório em ações envolvendo relações de consumo não é automática, devendo restar 
demonstrado, no caso concreto, a hipossuficiência do consumidor para a realização da prova, 
sendo necessária ao deslinde da lide, ou a verossimilhança da pretensão deduzida na ação. 
 
21 NUNES, Rizzatto. Curso de direito do consumidor, 7. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p 674. 
22 Artigo 333 do Código de Processo Civil – Lei n° 5.869/73 – Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm>. Acesso em 14 de agosto de 2015. 
23 Artigo 6 do Código de Defesa do Consumidor – Lei n° 8.078/90 – Disponível em < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em 14 de agosto de 2015. 
21 
 
Assim, cabe o questionamento de que se, o segurado, que foi assistido por um corretor 
de seguros será apontado como hipossuficiente ou não. Sobre esse questionamento, Martins 
(2002, p.141) entende que: 
A intermediação no contrato de seguro, com respaldo na legislação vigente, é fator 
preponderante na verificação da responsabilidade que emerge da falha da prestação 
do serviço. Neste conseguinte, o consumidor-segurado perde a condição de 
hipossuficiente que lhe empresta o Código de Defesa do Consumidor, quando 
assistido por um corretor na comercialização do negócio. 
 
Portanto, conclui-se que caso o segurador tenha sido assistido por um corretor de 
seguros, o mesmo passa a ter conhecimento suficiente para as peculiaridades do contrato que 
realizara com a Seguradora, afastando, desse modo, o instituto da hipossuficiência técnica a 
qual se presume antes de efetivar a relação contratual. Porém, se comprovado que o segurado 
não possui condições suficientes para rebater as alegações da seguradora quanto a um sinistro 
pré-existente, a inversão do ônus da prova será estabelecida. 
 
2.3 Contrato de seguro de adesão 
 
A importância organizacional da prática de classificar as várias modalidades dos 
contratos de seguro se justifica pelo objetivo de distinguir as particularidades de cada modelo 
contratual. Nesse sentido, Sílvio de Salvo Venosa (2013, p.421-422) explica que “de acordo 
com a espécie de contrato sob exame na prática jurídica, há distintas consequências com 
variadas formas de interpretação e enfoque da posição das partes e do objeto contratado. ”24 
Assim, faz-se necessário a devida compreensão das particularidades e regras peculiares 
do contrato de seguro na modalidade de adesão, já que, como afirma Ivan de Oliveira Silva 
(2012, p.116) “Os contratos de seguro, pela orquestração da rotina securitária nacional, estão 
elencados como contratos de adesão” e, sendo assim, estabeleceu-se como a modalidade de 
maior execução entre a sociedade brasileira. 
 Nesse retrospecto, a massificação dos negócios jurídicos ganhou força na economia 
moderna. Desse modo, a necessidade de cumprir a demanda dessa massificação deu origem a 
modalidade conhecida como contrato de adesão. Previsto no artigo 54 do Código de Defesa do 
Consumidor, o contrato de adesão tem a seguinte redação: “contrato de adesão é aquele cujas 
cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente 
 
24 VENOSA, Silvio de Salvo, Teoria Geral das Obrigações e teoria geral dos contratos, 13. ed. - São Paulo: Atlas, 
2013, cit., p.421. 
22 
 
pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar 
substancialmente seu conteúdo”. 25 
Importante trazer em tela o conceito do Contrato de Adesão na doutrina de Cláudia Lima 
Marques, Antônio Herman V. Benjamin e Bruno Miragem: 
 
Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas são preestabelecidas 
unilateralmente pelo parceiro contratual economicamente mais forte 
(fornecedor), ne varietur, isto é, sem que o outro parceiro (consumidor) possa 
discutir ou modificar substancialmente o conteúdo do contrato escrito. O 
contrato de adesão é oferecido ao público em um modelo uniforme, 
geralmente impresso, faltando apenas preencher os dados referentes à 
identificação do consumidor-contratante, objeto e do preço. Assim, aqueles 
que, como consumidores, desejarem contratar com a empresa apara 
adquirirem produtos ou serviços já receberão pronta e regulamentada a relação 
contratual e não poderão efetivamente discutir, nem negociar singularmente 
os termos e condições mais importantes do contrato. A inserção de cláusula 
no formulário, por exemplo, sobre o preço, condições, data da entrega e outras, 
não desfigura a natureza de adesão do contrato.26 
 
Desse modo, entende-se que os contratos de adesão simplesmente acompanham a 
massificação da produção de bens e serviços, ensejado diante do crescimento da sociedade de 
consumo, sendo tanto a produção quanto o contrato em si decididos de forma unilateral e postos 
diante do consumidor que sabidamente possui a hipossuficiência técnica contratual. Nesse 
seguimento, entende Rizzato Nunes que: 
 
O crescimento da sociedade de consumo, com sua produção em série, 
estandardizada, homoneigizada, a contratação de operários em massa, 
especializadíssimos, o implemento da robótica, informática etc., exigiu a 
utilização dos contratos-formulário, impressos com cláusulas prefixadas para 
regular a distribuição e venda dos produtos e serviços de massa.27 
 
Eis que surge o problema de como os contratos de adesão devem ser interpretados, já 
que, pela sua característica de limitar a liberdade contratual, a hermenêutica usada não poderia 
se igualar aos contratos tradicionais, devendo interpretar as cláusulas de forma minuciosa, 
observando devidamente se elas se caracterizam cláusulas abusivas ou não. Nesse aspecto, 
preconiza magistralmente Orlando Gomes, citado por Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho: 
 
 
25 Artigo 54 do Código de Defesa do Consumidor – Lei n° 8.078/90 – Disponível em < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em 20 de agosto de 2015. 
26 Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p.800, apud SILVA, Ivan de Oliveira, 2012, p. 116 
27 NUNES, Rizzato, 2012, p.678 
23 
 
A questão da natureza jurídica do contrato de adesão tem importância prática 
para a sua interpretação. Indaga-se, com efeito, se deve ser interpretado como 
a lei, ou como o contrato. Tido como expressão do poder normativo das 
empresas, é óbvio que se lhe não aplicam as regras de interpretação dos 
contratos. Mas, mesmo que possua natureza contratual, a singularidade da sua 
estruturação não permite seja interpretado do mesmo modo que os contratos 
comuns, porque é relação jurídica em que há predomínio categórico da 
vontade de uma das partes. É de se aceitar, como diretriz hermenêutica, a regra 
segundo a qual, em caso dedúvida, as cláusulas do contrato de adesão devem 
ser interpretadas contra a parte que as ditou. Cabe, no entanto, uma distinção 
à raiz de ponderações feitas por Dereux, entre as cláusulas essenciais, que são 
comumente datilografadas ou manuscritas, e as cláusulas acessórias, 
geralmente impressas. As primeiras estipulam-se particularizadamente e 
comportam, às vezes, certa margem de liberdade no seu ajuste e até alguma 
variação. As outras são inalteráveis e uniformes, razão por que a parte 
aderente, geralmente, conhece mal o seu teor e alcance. Acontece que 
frequentemente as cláusulas acessórias alteram profundamente a essência do 
contrato, tirando, muitas vezes, grade parte de sua utilidade, ou sendo muito 
rigorosas e, até, draconianas. Cabe ao juiz impedir que seus efeitos se 
produzam, não permitindo que desvirtuem o espírito das cláusulas essenciais 
ou que tenham eficácia se não forem conhecidas suficientemente pela parte 
aderente Aplica-se a regra de hermenêutica, segundo a qual devem ser 
interpretadas a favor do contratante que se obrigou por adesão. Outra regra a 
observar é que se houver incompatibilidade entre cláusulas impressas e 
cláusulas acrescentadas ao formulário, prevalecem estas. Não se conclua, daí 
que a intervenção judicial na aplicação dessas regras é livre. Se fosse, a 
insegurança dominaria os contratos de adesão. O poder do juiz – poder 
moderador – deve ser usado conforme o princípio de que os contratos devem 
ser executados de boa-fé, de tal sorte que só os abusos e deformações sejam 
coibidos. A exagerada tendência para negar força obrigatória às cláusulas 
impressas é, de todo em todo, condenável até porque não deve o juiz esquecer 
que certas cláusulas rigorosas são necessárias à consecução dos fins 
perseguidos pelos contratos de adesão em série.28 
 
2.3.1 Cláusulas limitativas nos contratos de seguro 
 
Diante do exposto, cumpre destacar a importância da interpretação das cláusulas 
limitativas inseridas dentro do contrato de seguro, as quais implicam em algum tipo de limitação 
ou imposição obrigatória ao direito do consumidor contratante. 
Apesar do caráter de desequilíbrio que se mostra o dito instituto, a inserção de uma 
cláusula desse tipo em um contrato não é considerada abusiva, já que são permitidas pelo 
Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 54, §4, no qual expõe que “(...) 
as cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com des
taque, permitindo sua imediata e fácil compreensão. ” 
 
28 GOMES, Orlando, Contratos, 24. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.126. apud STOLZE, Pablo; 
PAMPLONA, Rodolfo, 2013, p.219-220. 
24 
 
Assim, entende-se que poderá ser prevista contratualmente a cláusula que implique o 
cerceamento de direitos ao consumidor, porém, desde que observados os requisitos legais, ou 
seja, que seja redigida em destaque, de modo em que permita a fácil compreensão, devendo ser 
inclusa na apólice com seu conteúdo de forma clara e transparente. 
No entanto, passada a contextualização das cláusulas limitativas, importante destacar 
que, como já exposto, não se trata de cláusula abusiva, já que se demonstra compatível com a 
letra da lei. Pelo contrário, a cláusula abusiva é nula de pleno direito. Nesse sentido, bem afirma 
Sérgio Cavalieri Filho (1996, p. 7) ao comentar a diferença entre cláusula limitativa do risco e 
cláusula abusiva nos contratos de seguros: 
 
Tenho sustentado que a principal diferença entre a cláusula limitativa do risc
o e a cláusula abusiva está em que a primeira tem por finalidade restringir a 
obrigação assumida pelo segurador, enquanto a segunda objetiva restringir o
u excluir a responsabilidade decorrente do descumprimento de uma obrigaçã
o regularmente assumida pelo segurador, ou ainda a que visa a obter proveito
 sem causa. E, como todos sabemos, obrigação e responsabilidade são coisas 
distintas, que não podem ser confundidas. 
Em suma, a abusividade da cláusula contratual caracteriza-se pelo 
descompasso entre direitos e obrigações entre as partes, é uma unilateralidade 
excessiva que impede a realização total do objetivo contratual.29 
 
Portanto, fica evidente a rejeição legal das cláusulas abusivas, leoninas ou iníquas as 
quais desequilibram a relação contratual entre as partes. Dessa forma, a legislação protege o 
aderente da dita relação - respeitando o princípio do in dubio pro aderente - diante da sabida 
superioridade das seguradoras frente o segurado contratante, já que essa estipula as referidas 
cláusulas interpondo-as àquele, assim como expressa o artigo 51 do Código de Defesa do 
Consumidor: 
 
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais 
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: 
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o 
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-
fé ou a equidade;30 
 
 
29FILHO, Sérgio Cavalieri. Visão panorâmica do Contrato de Seguro e suas controvérsias. São Paulo: Revista do
 Advogado, 1996. 
30 Artigo 51 do Código de Defesa do Consumidor – Lei n° 8.078/90 – Disponível em < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em 07 de setembro de 2015. 
 
25 
 
No entanto, o problema em si reside no fato de que a maioria dos consumidores 
contraentes dos contratos de seguros os firmam sem o devido conhecimento do teor dos termos 
contratuais. Ou seja, não há oportunidade de o contratante analisar de forma minuciosa suas 
cláusulas, isso por que o mesmo só irá receber o contrato após a sua conclusão, ou pelo fato de 
que se encontra em local diverso de onde fora pactuado. Além disso, o contratante, munido de 
sua hipossuficiência técnica, encontra dificuldades na leitura do contrato, já que, na maioria das 
vezes o instrumento contratual é longo, com fonte textual pequena e linguagem técnica 
complexa, desmotivando a intenção do consumidor de ler integralmente o teor do contrato, 
confiando cegamente no que a seguradora informa durante essa fase. 
Portanto, as interpretações das cláusulas limitativas devem figurar sob a égide legal bem 
como o respeito à não abusividade da relação contratual acima mencionada. 
 
2.3.2 Breve análise crítica do contrato de seguros de adesão 
 
O contrato de adesão, se devidamente enquadrado nas conformidades do princípio da 
função social do contrato e da boa-fé objetiva, demonstra-se de relevante importância social e 
econômica, pois configura-se como um célere instrumento durante sua fase de pactuação. 
Porém, devemos observar exatamente o ponto em que essa objetividade célere não ultrapasse o 
limite das conformidades legais e principiológicas da relação contratual. Nessa lógica, bem 
prepondera Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona ao dizer que: 
 
De fato, nos dias que correm, em que a massificação das relações contratuais 
subverteu radicalmente a balança econômica do contrato, a avença não é mais 
pactuada sempre entre iguais, mas converteu-se na grande maioria dos casos, 
em um negócio jurídico standardizado, documentado em um simples 
formulário, em que uma parte (mais fraca) incumbe aderir ou não à vontade 
da outra (mais forte), sem a possibilidade de discussão do seu conteúdo.31 
 
Cabe a advertência da tentativa do Estado em intervir nas operações de seguros, 
buscando parear o equilíbrio contratual, não admitindo cláusula importantes no contrato sem a 
aprovação prévia de autoridade, das quais se levam em consideração a segurança do tutelado, 
bem como o interesse da coletividade. Não obstante, a redação da apólice obedece um modelooficial padronizado, não dando margem às partes em modifica-las, com exceção de cláusulas 
consideradas de menor importância. 
 
31 STOLZE, Pablo; PAMPLONA, Rodolfo (2013, p.44.) 
26 
 
Contudo, ainda que proveniente a dita tentativa do Estado na busca da paridade 
contratual nas relações de seguro, não se mostra integralmente eficaz, visto que o contrato de 
adesão, ainda assim, relativiza o princípio da igualdade formal, princípio basilar da justiça. Isso 
por que a faculdade de aderência do contratante é o último dos entraves no processo de 
formação do contrato, já que a parte aderida é a principal construtora de todos seus percalços, 
moldando da forma mais conveniente a ela mesma, já que detém um vasto poderio econômico 
e monopólio técnico do serviço prestado. 
Assim, a autonomia da vontade, elemento essencial das relações contratuais, fica 
ocultada diante da conveniência da seguradora, levando o segurado a aderir, unicamente, pela 
forçosa necessidade de contratar. Nessa acepção, magistralmente expõe Georges Ripert (2000, 
p.122-113): 
.: 
Que há de contratual neste ato jurídico? É na realidade a expressão de uma 
autoridade privada. O único ato de vontade do aderente consiste em colocar-
se em situação tal que a lei da outra parte venha a se aplicar. O aderente entra 
neste círculo estreito em que a vontade da outra parte é soberana. E, quando 
pratica aquele ato de vontade, o aderente é levado a isso pela imperiosa 
necessidade de contratar. É uma graça de mau gosto dizer-lhe isso: tu quiseste. 
A não ser que não viaje, que não faça um seguro, que não gaste água, gás ou 
eletricidade, que não use de transporte comum, que não trabalhe ao serviço de 
outrem, é –lhe impossível deixar de contratar.32 
 
Desse modo, a aceitação se efetiva com referência em cláusulas e condições que nem 
sempre a parte mais fraca aceita de forma convicta, aderindo sem conhecer devidamente o 
contexto ou os limites do que está se aceitando, já que, como leciona Pedro Alvim (2000, 
p.135), “[...] o fato de ser o contrato redigido pelo segurador, aliado à sua natureza técnica 
pouco acessível ao segurado, deixou este praticamente à mercê daquele para impor um caráter 
quase unilateral ao negócio. A igualdade jurídica dissimula uma desigualdade de fato. ” 
Também nesse sentido, infere Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona filho: 
 
(...) o contrato de adesão, desde que concebido segundo o princípio da função 
social, e pactuado em atenção ao mandamento constitucional de respeito à 
dignidade da pessoa humana, é um instrumento de contratação socialmente 
necessário e economicamente útil, considerando-se o imenso número de 
pessoas que pactuam, dia a dia, repetidamente, negócios da mesma natureza, 
com diversas empresas ou com o próprio poder público.33 
 
 
32 RIPERT, Georges. A regra Moral nas Obrigações Civis, Campinas: Bookseller, 2000, p.122-113 
33 STOLZE, Pablo; PAMPLONA, Rodolfo, 2013, p.45. 
27 
 
Logo, “são os abusos deste poder econômico que é necessário impedir”34. Na realidade, 
a nocividade do contrato de adesão reside no abuso desta técnica de contratação mais que 
propriamente à sua dinâmica. Portanto, depreende-se que é inevitável o uso dos contratos de 
adesão na maioria das relações contratuais de seguro, porém, deve sempre ser realizado nos 
moldes do princípio da função social e da boa-fé objetiva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 RIPERT, Georges. (2000, p.110.) 
28 
 
3 ELEMENTOS SUBJETIVOS E OBJETIVOS DO CONTRATO DE 
SEGURO 
 
Afim de trazer uma melhor compreensão do estudo do contrato de seguro, importante 
trazer à tona os elementos subjetivos e objetivos que são intrínsecos ao assunto, objetivando, 
dessa forma, melhor sustentar a sua função perante a sociedade. 
 
3.1 Elementos subjetivos 
 
Neste tópico, abordaremos os personagens que fazem parte dessa relação contratual, de 
modo a analisar suscintamente seus elementos caracterizadores bem como as questões 
implícitas a esses sujeitos. 
 
3.1.1 Segurador 
 
O Estado, afim de garantir uma devida fiscalização durante a fase do início das 
atividades empresariais, incluem as seguradoras no rol das pessoas jurídicas que precisam de 
prévia autorização do Poder Executivo para seu devido funcionamento, devendo, dessa forma, 
obter autorização junto ao Ministério da Fazenda através da SUSEP (Superintendência de 
Seguros Privados), assim como regulamenta o Decreto-Lei n. 73/66: “Art. 74. A autorização 
para funcionamento será concedida através de Portaria do Ministro da Indústria e do Comércio, 
mediante requerimento firmado pelos incorporadores, dirigido ao CNSP e apresentado por 
intermédio da SUSEP”. 
Além disso, cabe dizer que a SUSEP participa de forma contundente na fiscalização das 
seguradoras, posto que a ela “compete verificar a higidez econômico-financeira dos mercados 
de seguros, resseguros, previdência complementar aberta e capitalização e das sociedades e 
entidades supervisionadas, o cumprimento da regulamentação aplicável, a adoção de princípios, 
regras e práticas de governança, gestão e controles internos, e aplicar o regime repressivo”35. 
Além disso, a SUSEP tem completa autonomia para fiscalizar a constituição, 
funcionamento, organização e operações das sociedades empresárias de caráter securitário. 
Contudo, conforme dispõe o artigo 1.125 do Código Civil, é facultado ao Poder Público, a 
 
35 Diretoria de Fiscalização. Diretora: Helena Mulim Venceslau. Disponível em: 
<http://www.susep.gov.br/menususep/susep4_8>. Acesso em 08 de outubro de 2015. 
29 
 
qualquer tempo, cassar a autorização concedida a sociedade nacional ou estrangeira que 
infringir disposição de ordem pública ou praticar atos contrários aos fins declarados no seu 
estatuto. 
Segundo Domingos Afonso Kriger Filho, importante mencionar que em caso de 
insuficiência de cobertura das reservas técnicas, pode a SUSEP, além de outras providências, 
poderá: 
 
[...] nomear por tempo indeterminado, um diretor-fiscal, com atribuições e 
vantagens que lhe forem indicadas pelo CNSP. Não surtindo efeito as medidas 
especiais impostas ou a intervenção, cabe a SUSEP encaminhar ao CNSP 
proposta de cassação da autorização para seu funcionamento, ficando os 
administradores suspensos do exercício de suas funções desde a instauração 
do processo crime relativo aos atos e fatos praticados na sua gestão. 36 
 
Contudo, cabe esclarecer as obrigações do Segurado, que não recai única e 
exclusivamente sob o encargo de pagar a contraprestação referente ao prejuízo resultante do 
risco assumido e, conforme as circunstâncias, o valor total da coisa segura. Mais que isso, nosso 
legislador determina através do artigo 776 do Código Civil que o segurador é obrigado a pagar 
em dinheiro o prejuízo resultante do risco assumido, salvo se convencionada a reposição da 
coisa. Além disso, o pagamento deve se ater ao valor real do bem. Assim, cabe indenização de 
forma integral caso a conjectura corresponda ao valor lídimo da coisa. 
Quanto ao segurador em mora, o artigo 772 do Código Civil determina que o mesmo 
pagará atualização monetária segundo os índices oficiais, sem prejuízo dos juros moratórios. 
No que diz respeito à interpretação restritiva do contrato, continua a prevalecer o entendimento 
do Código de 1916: “Quando a apólice limitar ou particularizar os riscos do seguro, não 
responderá por outros o segurador”. Portanto, não sobrevém aresponsabilidade ao segurador 
caso o dano decorra de um vício pré-existente sob o objeto segurado. 
Ou seja, de modo a visar o bem-estar coletivo, as sociedades seguradoras são submetidas 
à uma criteriosa fiscalização por parte do Estado, vez que as atividades empresariais, desde o 
início, sujeitam-se à autorização do Poder Público, tamanha sua importância frente a função 
social do instituto securitário, já que se, numa hipotética situação, se assim não fosse, estaríamos 
à mercê de interesses econômicos privados de uma atividade tão importante para a sociedade 
sem uma devida tutela estatal. Sendo assim, fica evidente a função regulatória da Administração 
 
36 Kriger, Domingos Afonso Filho, O contrato de Seguro no Direito Brasileiro, 1ªEd. Rio de Janeiro: Labor Juris, 
2000. P. 62. 
30 
 
do ponto de vista da delimitação de marcos de aplicação de seu “poder de polícia” exercido 
através da SUSEP. 
 
3.1.1.1 Corretor de Seguros 
 
O corretor de seguros, seja pessoa física ou jurídica, é o intermediário legalmente 
autorizado a angariar e a promover contratos de seguros, admitidos pela legislação vigente, 
entre as Sociedades de Seguros e as pessoas físicas ou jurídicas, de direito publicou privado. 
Contudo, para que o corretor possa exercer sua profissão de modo legítimo, dependerá 
de prévia obtenção do título de habilitação, o qual será concedido através do Departamento 
Nacional de Seguros Privados e Capitalização, além de observado os requisitos legais presentes 
no Artigo 3° da Lei N° 4.594/1964. 
Assim, aqui também fica claro a rígida fiscalização da Administração no que diz respeito 
em bem regulamentar o início das atividades empresariais securitárias frente ao corretor de 
seguros. 
 
3.1.2 Segurado 
 
Com relação ao segurado, como entende Ivan de Oliveira Silva (2012, p.119), “é aquele 
que tem interesse sobre o bem da vida descrito no contrato de seguro. É ele que, segundo as 
condições previamente estabelecidas no contrato, transfere à empresa seguradora o risco de 
determinado evento danoso recair sobre a coisa ou pessoa de seu interesse legítimo”. 
De modo mais amplo, bem leciona Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2013, p. 500) ao 
dizer que o “Segurado é a pessoa física ou jurídica, consumidora da prestação de serviço da 
companhia seguradora, e que tem a precípua obrigação de pagar-lhe uma obrigação pecuniária 
denominada prêmio, visando acautelar legítimo seu”.37 
Portanto, observa-se que o segurado, em suma, é o destinatário final da prestação do 
serviço securitário, sendo, portanto, parte consumidora de uma relação de consumo e, sendo 
assim, ficando sob a égide tutelar do Código de Defesa do Consumidor. 
Por se tratar de um instituto de grande relevância econômica, fica resguardado também 
a possibilidade do segurado ser pessoa natural ou pessoa jurídica, podendo esta última ser 
sociedade empresária ou não empresária de direito público interno ou externo, “sendo suscetível 
 
37 STOLZE, Pablo; PAMPLONA, Rodolfo, 2013, p. 500 
31 
 
de cobertura todo risco criado em qualquer gênero de atividade” (PEREIRA, 1994, p.335)38. 
Não obstante, também é resguardado figurar como parte no contrato de seguro o espólio, a 
massa falida e do condomínio. 
Quanto os efeitos do contrato de seguro celebrado com pessoa relativamente incapaz, 
ensina Washington de Barros (1958, p. 283) que “invalidado o ato jurídico, seu primeiro efeito 
é a recondução das partes ao estado anterior; o reconhecimento da nulidade opera 
retroativamente, volvendo os interessados ao status quo ante, como se o ato nunca tivesse 
existido. ”39 
A amplitude que o seguro e suas técnicas adotaram para os contratos coletivos 
perfizeram uma estipulação frequente dos contratos de seguro por conta de terceiro. Assim, 
quanto esse contrato de seguro realizado em favor de terceiro, a lei prevê que o contratante 
segurado comprove que haja interesse nessa estipulação. Diante disso, o legislador do Código 
Comercial Brasileiro em seu artigo 677 estabelece que quem fizer o seguro, deve antes 
manifestar seu interesse. Portanto, nesse aspecto, é o entendimento jurisprudencial: 
 
[...] as relações jurídicas oriundas de um contrato de seguro não se encerram 
entre as partes contratantes, podendo atingir terceiro beneficiário, como ocorre 
com os seguros de vida ou de acidentes pessoais, exemplos clássicos 
apontados pela doutrina. II - Nas estipulações em favor de terceiro, este pode 
ser pessoa futura e indeterminada, bastando que seja determinável, como no 
caso do seguro, em que se identifica o beneficiário no momento do sinistro. 
III - O terceiro beneficiário, ainda que não tenha feito parte do contrato, tem 
legitimidade para ajuizar ação direta contra a seguradora, para cobrar a 
indenização contratual prevista em seu favor”. (REsp 401718/PARTE RÉ, 4ª 
Turma - Relator Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA).40 
 
Não obstante, faz-se necessário enfatizar alguns pontos importantes a respeito das 
obrigações do segurado. A princípio, cabe ao segurado prestar as informações ao segurador 
estribado na lealdade e boa-fé. Porém, a interpretação dessa subjetividade recai sob o juiz 
analisar. Ademais, conforme artigo 1.454 do Código Civil, é obrigação do segurado não agravar 
os riscos, salvo se o contrato o autorizou expressamente. Nesse sentido, caso agravado o risco, 
cabe ao segurado comunicar à seguradora “o quanto antes”, objetivando, dessa forma, a 
possibilidade tomar as devidas medidas afim de minimizar os riscos decorrentes desse sinistro, 
 
38 PEREIRA, 1994, p.335, apud VENOSA, Silvio, 2015, p. 383. 
39 MONTEIRO, Washington de Barros, Curso de Direito Civil - Parte Geral. São Paulo, 1958. apud ALVIM, 
Pedro, 2000, p. 191. 
40 Jurisprudência extraída do REsp 401718/PARTE RÉ, 4ª Turma - Relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. 
Disponível em: www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia. Acesso em 10 de outubro de 2015. 
32 
 
conforme estabelece o artigo 771 do Código Civil: “Sob pena de perder o direito à indenização, 
o segurado participará o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e tomará as providências 
imediatas para minorar-lhe as consequências”. 
Além disso, quanto à comprovação do sinistro, muito bem explana Silvio Venosa (2013, 
p.396) ao dizer que: 
 
É obrigação básica do segurado, ademais, comprovar o sinistro perante o 
segurador. Há sinistros que se comprovam materialmente, mediante 
documentos expedidos pela autoridade pública ou por terceiros. Por vezes 
haverá, por exemplo, necessidade de certidão de boletins meteorológicos para 
comprovação de intempéries, por exemplo. Mesmo fatos notórios, no âmbito 
do seguro, devem, em princípio, ser comprovados. As causas de exclusão 
indenizatória na apólice devem ser examinadas caso por caso. Na dúvida, 
como vimos, interpreta-se em favor do segurado, mormente levando-se em 
conta os princípios do Código de Defesa do Consumidor. 41 
 
Portanto, imperioso destacar que, conforme a economia liberal cresceu durante o 
decurso histórico da sociedade moderna, o contrato de seguro foi tomando destaque e, sendo 
assim, o rol de segurados capazes - em celebrar o contrato bem como em receber o benefício - 
também fora aumentando, sem, contudo, deixar de ser tutelado pela ordem jurídica estabelecida. 
 
3.1.3 Estipulante 
 
Atualmente, a figura do estipulante tem merecido bastante destaque nas relações 
contratuais securitárias. Isso por que, em determinados casos, o contratante do seguro pode não 
ser o exatamente o segurado, podendo, nessa situação, ser o contrato firmado peloestipulante. 
O estipulante, portanto, como conceitua o Projeto de Lei n. 3.555/2004 em seu artigo 27, é 
aquele que atua em favor dos interesses dos segurados e beneficiários, pactuando com a 
seguradora os termos do contrato para adesão dos segurados. 
Elementar dizer que o estipulante, por via de regra, não possui legitimidade para figurar 
no polo passivo em processos de cobrança indenizatória que recaem sob as seguradoras, salvo 
nos casos em que se caracteriza comprovadamente a má-fé e os prejuízos ao segurado. Nesse 
sentido, a pátria jurisprudência salienta: 
 
SEGURO DE VIDA EM GRUPO. Indenização. Estipulante. Ilegitimidade 
passiva de parte. Ausência de prévia reclamação à seguradora. Falta de 
 
41 VENOSA, Silvio, 2013, p.396-397 
33 
 
interesse processual. Extinção do processo. Apelação improvida. 1. O 
empregador, mero estipulante e mandatário do segurado no contrato de seguro 
de vida em grupo, é parte ilegítima para figurar no polo passivo da ação de 
cobrança da indenização. 2. Para a propositura da demanda, deve estar 
presente o interesse processual, ou seja, a necessidade de vir a juízo; impõe-
se a extinção do processo quando o segurado vem a juízo antes mesmo de 
procurar a seguradora para reclamar a indenização” (TJSP, Ap. Cív. 831.634-
0/5, Catanduva, 26ª Câmara de Direito Privado, rel. Norival Oliva, j. em 18-
7-2005, v.u.). 
 
Portanto, a partir do entendimento acima, entende-se que o estipulante é visto como 
mero mandatário do segurado, não absorvendo para si todos os encargos e responsabilidades 
que recaem sob a figura deste. Porém, cabe fazer a ressalva de que parte da doutrina discorda 
desse entendimento. 
Como leciona Domingos Afonso Kriger (2000, p. 54), na maioria das situações, os 
beneficiários dessa relação são, muitas vezes, variados, ou seja, mudam de período em período, 
conforme o regime de trabalho dos mesmos. Sendo assim, o controle exclusivo do manejo desse 
contrato recai exclusivamente na figura do estipulante, no qual “assume a condição de segurado, 
firmando as cláusulas e condições do contrato com o segurador, competindo ao beneficiário 
que a ele anui apenas a atitude passiva de pagar o prêmio”.42 
Desse modo, fica claro o prejuízo aos segurados que nosso Superior Tribunal de Justiça 
entende, já que não é harmônico o entendimento com a realidade jurídica a qual recai. Por se 
tratar de um abstruso instituto securitário, deve o Poder Judiciário se adequar devidamente à 
realidade, tutelando de forma condigna as partes dessa relação contratual, não deixando o 
segurado ao dissabor da parte hipersuficiente. 
 
3.2 Elementos objetivos 
 
Neste tópico, abordaremos os elementos objetivos que fazem parte dessa relação 
contratual, de modo a analisar suscintamente seus componentes caracterizadores bem como as 
questões tácitas e expressas desses institutos. 
 
3.2.1 Beneficiário 
 
 
42 KRIGER, Domingos Afonso, 2000, p. 54 
34 
 
Por fim, mas não menos importante, a pessoa do beneficiário concorre nesse cenário 
jurídico, perfazendo também a análise de algumas questões relevantes a esse estudo. Assim, 
como conceitua Ivan de Oliveira Silva (2012, p.122), “o beneficiário é a pessoa física, jurídica, 
ou de personificação anômala, que desfruta dos benefícios concedidos pelo contrato de seguro. 
É, portanto, aquele que detém legítimo interesse sobre o bem da vida presenta na relação 
jurídica securitária”. Desse modo, não se pode confundir com a pessoa do segurado. Mesmo 
assim, é completamente cabível que o favorecido de uma cobertura securitária seja um 
indivíduo diferente do contratante, como é o caso dos seguros de vida, p.ex.. 
No mesmo sentido, Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2013, p. 501) entendem que “o 
beneficiário não é, tecnicamente, parte, mas sim um terceiro que experimenta efeitos 
patrimoniais favoráveis decorrentes do contrato de seguro”. Portanto, entende-se que se trata 
de uma estipulação em favor de terceiro, não se confundindo com o seguro por conta de outrem. 
Nesse aspecto, leciona PEDRO ALVIM: 
 
Não se trata de uma estipulação em favor de terceiro da natureza daquela que 
ocorre no seguro de vida, onde o segurado dispõe livremente sobre o 
beneficiário do contrato. Os riscos transferidos ao segurador, neste caso, 
incidem sobre o estipulante. Contrata um negócio seu com o segurador, ao 
passo que no seguro por conta de quem pertencer o risco pesa não sobre o 
próprio estipulante, mas sobre interesses de outrem. Interfere, pois, o 
contratante, em negócio que não afeta seu patrimônio ou sua pessoa.43 
 
Contudo, em benefício do bem-estar social, da preservação da ordem pública e dos bons 
costumes, a tutela legal delimita a autonomia da vontade no momento da indicação do 
beneficiário durante o contrato de seguro. Nesse fundamento, expõe o artigo 793 do Código 
Civil: “É válida a instituição do companheiro como beneficiário, se ao tempo do contrato o 
segurado era separado judicialmente, ou já se encontrava separado de fato”. 
Desse modo, fica desamparado o segurado que ‘tenta’ lançar o amante como 
beneficiário de um contrato de seguro de vida. Assim, apesar do reconhecimento constitucional 
da união estável como entidade familiar passível de proteção estatal, “a predita proteção não 
tem o propósito de aviltar sociedade conjugal anteriormente estabelecida” (Ivan de Oliveira 
Silva, 2012, p.123). 
Portanto, o que o Código Civil propõe é que, para que seja validado a indicação de um 
companheiro ao benefício securitário, requer que o segurado esteja, no mínimo, separado de 
forma efetiva. Sendo assim, deve imperar no caso concreto a análise de que se realmente a nova 
 
43 ALVIM, Pedro, 2000, p. 206 
35 
 
relação afetiva, durante a fase de contratação do seguro, houvera sido pactuada enquanto 
preenchidos os requisitos de união estável pelo qual o mesmo Código consubstancia. 
Dessarte, a validade do contrato requer uma análise minuciosa de pontos subjetivos da 
relação afetiva do segurado com o beneficiário. Porém, por outro lado, nos casos de seguro de 
pessoas, presume-se de forma legal o legitimado interesse quando o segurado é cônjuge, 
ascendente ou descendente do policitante, assim como estabelece o parágrafo único do artigo 
790 do Código Civil ao dizer que: “Até que prove o contrário, presume-se o interesse, quando 
o segurado é cônjuge, ascendente ou descendente do proponente”. 
Sendo assim, fica manifesto a preocupação do legislador em salvaguardar os direitos 
daquele beneficiário que deve ser o legítimo interessado na relação securitária. Desse modo, 
fica garantido ao beneficiário a participação do devido fluxo monetário pelo qual o estipulante 
segurado deve se propõe durante os percursos de sua vida. 
 
3.2.2 Prêmio 
3.2.2.1 Aspectos gerais 
 
O prêmio, a partir de sua acepção legal, é previsto expressamente no artigo 165 do 
Código Civil, onde diz que: “Salvo em disposição especial, o fato de se não ter verificado o 
risco, em previsão do qual se faz o seguro, não exime o segurado de pagar o prêmio”. De forma 
clara e sucinta, Venosa explica (2013, p.525) que prêmio é “[...] o valor que o segurado deve 
pagar à seguradora, visando à cobertura do risco. 
Ademais, os prêmios dados pelos segurados e recebidos pela seguradora formam um 
fundo monetário para a efetivação das atividades do mercado securitário. Assim, “sem o 
prêmio, não haverá recursos suficientes para o pagamento dos sinistros, despesas de 
administração, dividendos para os acionistas das sociedades seguradoras etc.” (SILVA, Ivan de 
Oliveira, 2012, p.125)44.

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