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1 ATIVIDADE INDIVIDUAL Matriz de análise Disciplina: Direito do Seguro e Resseguro Módulo: Aluno: Júlia dos Santos Pessôa Turma: 2 Tarefa: Elaboração de Parecer Introdução Órgão solicitante: Departamento Jurídico Seguradora Assunto: Parecer em função de negativa de cobertura, em notificação recebida pelo Governo Federal em 3 de março de 2025. Ementa: Licitação Pública. Obra de Grande Vulto. Lei de Licitações e Contratos Administrativos. Processo administrativo. Seguro Garantia. Pagamento de multa contratual. Circular nº 477/2013 da SUSEP. Trata-se de análise contratual de contrato de Seguro, firmado entre Construtora XPTO e Seguradora, tendo em vista a necessidade de contratação de Seguro para a a construção de uma nova rodovia interestadual com intuito de interligar as regiões Norte e Centro-Oeste aos portos de Santos e do Rio de Janeiro, com previsão de entrega das obras em 25 de maio de 2027. Houve exigência pelo Governo Federal para que a garantia fosse no maior valor permitido pela Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos nº 14.133/2021¹. Em 20 de fevereiro de 2025 a Seguradora recebeu notificação do Governo Federal no sentido de que houve rescisão do contrato administrativo (após regular processo administrativo) e a aplicação de uma multa à Construtora XPTO, no valor de R$120.000.000,00 (cento e vinte milhões de reais). Houve inércia por parte da Construtora XPTO, o que culminou na cobrança da Seguradora através da invocação do seguro garantia. Desta forma, tendo em vista os fatos narrados, foi solicitado parecer para análise do contrato em questão, juntamente com as normas da SUSEP, a fim de que seja determinado acerca do pagamento da multa. 2 Desenvolvimento Inicialmente, cumpre destacar que as relações contratuais devem ser regidas pelos princípios da boa-fé objetiva, veracidade e dever de informação, conforme disposto no artigo 765 do Código Civil. Acerca do seguro garantia, cumpre destacar que esta modalidade de seguro está prevista na Circular nº 477/2013 da SUSEP², bem como na Lei 14.133/2021. Esta modalidade trata-se de contrato de seguro que possui três partes, a tomadora, a seguradora e o beneficiário. A tomadora (em se tratando do caso em tela, a Construtora XPTO) é responsável pelo pagamento do prêmio à seguradora que deve administrar o fundo de prêmios e também cobrir o valor no caso de sinistro. Por fim, o beneficiário (aqui retratado pelo Governo Federal) é quem recebe o valor estipulado no contrato de seguro, no caso de ocorrência de Sinistro. Há, ainda, a cobertura dos valores das multas e indenizações devidas ao beneficiário n nesta modalidade de seguro, além da cobertura de prejuízos que decorram do inadimplemento das obrigações do contrato principal. A execução da obra restou orçada em R$980.000.000,00 (novecentos e oitenta milhões), o que caracteriza obras/serviços de engenharia de grande vulto, sendo aplicável o art. 99 da Lei 14.133/2021 que dispõe que “poderá ser exigida a prestação de garantia, na modalidade seguro-garantia, com cláusula de retomada prevista no art. 102 desta Lei, em percentual equivalente a até 30% (trinta por cento) do valor inicial do contrato”. Tendo em vista o orçamento da obra, o valor de multa cobrado pela Administração Pública está dentro dos parâmetros legais a serem arcados pela seguradora. Em contrapartida, em análise à Circular nº 477/2013 da SUSEP, pode-se perceber que houve descumprimento do item 4.1., que dispõe: 4.1. Expectativa: tão logo realizada a abertura do processo administrativo para apurar possível inadimplência do tomador, este deverá ser imediatamente notificado pelo segurado, indicando claramente os itens não cumpridos e concedendo-lhe prazo para regularização da inadimplência apontada, remetendo cópia da notificação para a seguradora, com o fito de comunicar e registrar a Expectativa de Sinistro. O artigo 769 do Código Civil diz respeito sobre a importância do dever de informação, sendo obrigação do Segurado comunicar à Seguradora assim que tomar conhecimento de fato que agrave consideravelmente o risco coberto. Contudo, a Seguradora não foi notificada de imediato, tampouco no decorrer do processo administrativo, tendo sido informada apenas quando do recebimento da notificação pelo Governo Federal. Ainda, conforme relatado à Administração Pública, o segurado não cumpriu as disposições constratuais, por desrespeito ao item 4.1. da referida Circular, o que acarreta na aplicação do Artigo 11, item V, do Capítulo I do referido documento, que dispõe: “O segurado perderá o direito à indenização na ocorrência de uma ou mais das seguintes hipóteses: (…) V - O segurado não cumprir integralmente quaisquer obrigações previstas no contrato de Seguro”. Ainda neste sentido, decidiu a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região³: ADMINISTRATIVO. SEGURO-GARANTIA. INADIMPLEMENTO DA TOMADORA. FALTA DE COMUNICAÇÃO. ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA. 1. Ao deixar de ter conhecimento acerca do inadimplemento contratual por parte da Tomadora, a seguradora apelada se viu impossibilitada de tomar providências para minorar as consequências, tanto para a segurada, como para a própria seguradora, trazendo prejuízo à apelada. Sabendo da inadimplência da Tomadora, a Seguradora ré poderia ter adotado os seguintes procedimentos: acompanhar os procedimentos de apuração das infrações contratuais cometidas pela Tomadora; realizar, por meio de terceiros, o objeto do contrato principal, e minorar as consequências do inadimplemento impugnado pela apelante. 2. Não há em ponto algum das Condições Gerais qualquer dúvida acerca das obrigações assumidas pela Segurada, tampouco acerca das condições que levam à isenção de responsabilidade ou à perda do direito à garantia securitária. 3. A cláusula que isenta a responsabilidade da seguradora, bem como a que exige a comunicação imediata do sinistro, são plenamente válidas e aplicáveis ao caso concreto, não havendo falar em abusividade das mesmas. 4. Improcedência do pedido de condenação da ré ao pagamento do valor de apólice de seguro-garantia relativo ao contrato de prestação do serviço de vigilância. (TRF-4 - AC: 50287689120134047000 PR 5028768-91.2013.404.7000, Relator: FERNANDO QUADROS DA SILVA, Data de Julgamento: 24/02/2016, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: D.E. 25/02/2016) É possível extrair do julgado que a falta de comunicação da tomadora para com a segurada impossibilita a tomada de decisões que poderiam corroborar com o cumprimento das obrigações contratuais. (TRF-4 Conclusão Desta forma, agiu corretamente a Seguradora quanto à negativa de pagamento requerido pelo Governo Federal, tendo em vista descumprimento da Circular nº 477/2013 da SUSEP e das obrigações Contratuais por parte da segurada. Por fim, conclui-se que são remotas as probabilidades de perda em eventual lide que a 4 seguradora seja demandada. Referências bibliográficas 1.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14133.htm 2.https://www.editoraroncarati.com.br/v2/Diario-Oficial/Diario-Oficial/circular-susep-no-477-de- 30092013.html#item2 3.https://trf-4.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/381669811/apelacao-civel-ac-50287689120134047000- pr-5028768-9120134047000
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