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ATIVIDADE INDIVIDUAL Matriz de análise Disciplina: Direito do Seguro e Resseguro Módulo: 2 Aluno: Alex da Silva Turma: 0522-2_2 Tarefa: Individual Introdução Parecer Jurídico relativo ao estudo de possível êxito ao Seguro Garantia Requerente: Seguradora Tomadora: Construtora XPTO Segurado: Governo Federal- União Assunto: Emissão de parecer com prognóstico de êxito, em relação a cobertura do seguro garantia pela seguradora e tratativas das questões jurídicas em possível lide judicial. Ementa: Obra de Grande Porte/Vulto; Aplicabilidade da Lei de Licitações Públicas, Processo Administrativo; Código Civil e embasamento jurisprudencial; Rescisão contratual e possível pagamento de Multa; Valor da Multa; Circular SUSEP nº 477/2013 e Jurisprudências. Relatório: A seguradora através de seu departamento jurídico, solicitou parecer com prognostico de êxito, em possível ação civil, na qual estaria em seu polo passivo, referente a negativa da cobertura do seguro-garantia. Assim, nos foi relatado que a Construtora XPTO, foi a vencedora da licitação realizada pelo governo federal, e consolidou um contrato administrativo licitatório para a construção de uma rodovia interestadual, para interligação das regiões Norte e Centro – Oeste aos portos do Rio de Janeiro e Santos. A categoria da obra citada, seria de grande vulto (grande porte), a qual possui seu orçamento em R$ 980 MI. O contrato foi assinado em 25 de maio de 2014, com previsão de entrega em 25 de maio de 2018, e o pagamento seria realizado mediante as entregas da Nº 477 construtora.-p O governo Federal incorretamente solicitou que a quantia para pagamento fosse maior que a permitida em Lei ( Lei das Licitações), assim a construtora XPTO indicou um seguro garantia nas condições estabelecidas pela SUSEP, todavia, em 20 de fevereiro de 2016, a seguradora recebeu uma notificação da União, referente a rescisão do contrato firmado, que ocorreu após o andamento processual administrativo e resultou na aplicação de multa a empresa XPTO no valor de R$ 120 MI, recaindo a responsabilidade a seguradora, pois a construtora XPTO permaneceu inerte sobre todo o processo. É o relatório. Prosseguiremos com a análise do caso. Desenvolvimento I) Isenção de Responsabilidade da Seguradora No decurso da execução e pactuação do contrato de seguro garantia, é exigido do segurado, seguradora e principalmente do tomador que haja respeito aos princípios fundamentais da celebração de qualquer tipo de contrato, seriam eles: 1) Princípio Boa- fé objetiva 2) Veracidade 3) Dever de informação Estes princípios estão presentes no Art.765 e 769, do CC, a qual redigem que: Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes. (Código Civil Brasileiro) Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé. (Código Civil Brasileiro) No que decorre do princípio da Boa-Fé objetiva “a razão da sua previsão não se dá porque seja um contrato excepcional – já que a boa-fé deve estar presente em todas as relações, mas porque o contrato de seguro, no seu caráter consensual é sustentado nos pilares das informações prestadas por ambas as partes “(Freitas e Goldberg. 2022, p.24). Por iguais razões, em letra de lei, que é uma obrigação basilar a notificação da seguradora para ciência do risco iminente, e caso isto não seja feito, pode acarretar o entendimento de má- fé, promovendo a perda do direito a garantia. Neste mesmo rol, a circular da SUSEP no Capítulo II, Modalidade II – Seguro garantia para construção, fornecimento ou prestação de serviços, no item 4.1, releva o carecimento quanto a prestação de informações para as situações de sinistro, ainda mais possuindo conhecimento pelo segurado, mediante a notificação ao tomador de serviço, comunicando os tópicos que estão incorretos e concedendo prazo para sua correção, e nesta mesma via, enviar cópias dos documentos e relatos para o conhecimento dos acontecidos para a seguradora, e solicitar o sinistro, originando o processo administrativo. Dispõe da seguinte forma a SUSEP no Capítulo II, Modalidade II – Seguro garantia para construção, fornecimento ou prestação de serviços, no item 4.1: 4.1. Expectativa: tão logo realizada a abertura do processo administrativo para apurar possível inadimplência do tomador, este deverá ser imediatamente notificado pelo segurado, indicando claramente os itens não cumpridos e concedendo-lhe prazo para regularização da inadimplência apontada, remetendo cópia da notificação para a seguradora, com o fito de comunicar e registrar a Expectativa de Sinistro. (SUSEP, Capítulo II, item 4.1) Nesta tramitação do processo administrativo, a seguradora possui o direito para acompanhar o processo, assim como a tomada de providências para situações que possam acarretar certo risco, a fim de que diminua o impacto/risco para a seguradora e segurado, mas percebemos analisando o caso que o Poder Público não realizou a devida notificação a seguradora, apenas dando a devida ciência após a cobrança a Construtora XPTO, que permaneceu inerte em todo o processo. Dito isto, é perceptível que as ações tomadas pelo Poder Público foram suficientes para pagamento apenas da multa pleiteada, prevista em contrato, e não para o prosseguimento da obra, pois caso esta fosse a intenção deveria ter cumprido a sua obrigação de notificar a seguradora. Conforme dispõe a jurisprudência: ADMINISTRATIVO. ALTERAÇÃO DO CONTRATO. TERMOS ADITIVOS. FALTA DE COMUNICAÇÃO. ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA. O acordo de vontades faz lei entre as partes, devendo os contratantes Nº 477 (segurado e segurador) cumprir estritamente as cláusulas e condições da apólice de seguros, sob pena de se afetar a segurança do próprio negócio jurídico que pactuaram, restando flagrante o descumprimento contratual, ao firmar termos aditivos e deixar de comunicar tais fatos à seguradora. A cláusula que isenta a responsabilidade da seguradora é plenamente válida e aplicável ao caso concreto, não havendo falar em abusividade. (TRF-4 - AC: XXXXX RS XX.XX.XX.XX.7113, Relator: RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA, Data de Julgamento: 23/11/2016, TERCEIRA TURMA) II) Perspectiva de Prescrição Inicialmente valoramos evidenciar que o Poder Público notificou a requerente pleiteando o pagamento de multa no valor de R$ 120 MI, em consequência da rescisão contratual ocorrida após o andamento do processo administrativo em que a requerente não foi devidamente citada, a requerente apenas notificou em 20 de fevereiro de 2016, assim dizendo, 4 anos e 8 meses atrás. Assim nos acostamos no CC (Código Civil) que nos garante em seu Art. 206, inciso II, alínea B, que houve a prescrição supracitada, visto que decorreu mais de um ano do conhecimento dos fatos (fato gerador), do retorno da Seguradora, e da não pretensão em realizar o pagamento solicitado e nem ajuizamento de ações de cobrança. Dispondo do artigo citado: Art. 206. Prescreve: II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo: b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão; (Código Civil Brasileiro) Assim não há de se articular uma ação no judiciário, visto que a prescrição ataca a presunção do direito adquirido. Inobstante isso, é importante dizer que no presente a notificação extrajudicial não suspende a prescrição, não prosseguindo de acordo com as condições do Art. 202 do CC, a qual dispõe que: Art. 202. A interrupção daprescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; II - por protesto, nas condições do inciso antecedente; III - por protesto cambial; IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. Por iguais razões, não há de se falar na súmula 229 do STJ a qual em seu teor prevê a suspensão da prescrição até que o segurado seja notificado da negativa do pagamento solicitado, assim a requerente neste parecer realizou as devidas alegações de negativa logo em seguida ao recebimento da notificação, sendo presumível o prazo prescricional. Para melhor entendimento o que diz a súmula em seu teor, segue: SÚMULA 229- O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão. (Data da Publicação - DJ 20.10.1999 p. 49) Posteriormente a tudo apresentado, ressalta-se que no item 17, do Cap. I, das Condições Gerais, - Ramo 0075 da Circular da SUSEP nº 477/2013, evidencia que para aplicar os prazos prescricionais previstos em lei quando tratamos do seguro garantia. III) Pagamento de Multa referente ao Descumprimento do contrato O pagamento de multa no caso em questão, são regidos pela Lei de Licitações Públicas de nº 8.666/93, a qual preconiza a aplicação de multa, caso ocorra o descumprimento do contrato, utilizando como material de apoio a Circular da SUSEP de nº 477/2013, em seu Capítulo II, modalidade II- Seguro Garantia para construção, prestação de serviços ou fornecimento, em seu item 1, a qual garante indenização no limite disposto na apólice de seguro, quando suceda do Nº 477 inadimplemento das obrigações não cumpridas pelo tomador do serviço no contrato firmado, garantindo os valores fixados para multa na Lei de Licitações de nº 8.666/93. Deste modo, após adentramos na Lei de Licitações que regem estas negociações, percebemos que o Art.56 §2 e §3 podem nos aduzir para melhor entendimento: Art. 56. A critério da autoridade competente, em cada caso, e desde que prevista no instrumento convocatório, poderá ser exigida prestação de garantia nas contratações de obras, serviços e compras. § 2o A garantia a que se refere o caput deste artigo não excederá a cinco por cento do valor do contrato e terá seu valor atualizado nas mesmas condições daquele, ressalvado o previsto no parágrafo 3o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994) § 3o Para obras, serviços e fornecimentos de grande vulto envolvendo alta complexidade técnica e riscos financeiros consideráveis, demonstrados através de parecer tecnicamente aprovado pela autoridade competente, o limite de garantia previsto no parágrafo anterior poderá ser elevado para até dez por cento do valor do contrato. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994) Assim como descrito acima, notamos que existe limitação no valor da garantia a ser assegurada, no encalço de 5% do valor da obra pública licitada, ou em 10% em exceções, para realizações de obras de grande porte/vulto. Em outro dizer após estas informações e exceções levantadas, entendemos que o valor a ser levantado para indenização seria no valor de 98 MI, de modo que não poderia ser maior que este valor, respeitando as hipóteses dos artigos citados. Todavia, a União (Governo Federal) requereu o pagamento de multa por não cumprimento das obrigações contratuais, pela empresa XPTO (construtora), solicitando valor exacerbante do previsto em Lei, cobrando R$120 MI, ultrapassando os valores permitidos e corretos da Lei de Licitações, o valor correto seria até R$ 22 MI. Consumando os conceitos e ideias disponibilizados, entendemos que a solicitação do pagamento desta multa não foi correta. Conclusão Diante do exposto consuma-se que: 1) Consequentemente não há de se falar em ação de cobrança em pleito da requerente, pois trata-se de uma prescrição anual, previsto nas hipóteses do Art. 206, inciso II, alínea B do CC, visto que mesmo que a prescrição fosse suspensa quando do requerimento para seu pagamento, foi recusada de imediato, e notificou o segurado sobre a sua decisão, passando mais de 1 ano desde a data da notificação do segurado, mostrando evidentemente a inaplicabilidade da súmula do STJ. 2) Em suma podemos interpretar que houve a má-fé do Poder Público devido o não cumprimento de informar a seguradora do fato gerador e os seus andamentos, aumentando o risco da situação, corroborando para a rescisão do contrato e imputação de multa. Assim, ficou perceptível que o Poder Público desejou que ficasse transparente a responsabilidade da seguradora de isenção, pelo não cumprimento de informar e realizar a manutenção da boa-fé durante a tramitação do contrato, cerceando na perda da garantia exemplificada no caso em questão. 3) Em se tratado de valores, foi identificado também que o valor que o Poder Público solicitou ultrapassa o previsto em Lei, visto que solicitaram R$ 22 MI de indenização do seguro garantia, visto que o valor limitado ao seguro garantia é limitado em R$ 98 MI. 4) Assim, deste modo, concluímos que são remotas a chances de perda, não necessitando de provisão de valores patrimoniais da requerente. Referências Bibliográficas DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. CIRCULAR Nº 477, DE 30 DE SETEMBRO DE 2013 nº 477, de 30 de setembro de 2013. Dispõe sobre o Seguro Garantia, divulga Condições Padronizadas e dá outras providências. CIRCULAR SUSEP Nº 477: Dispõe sobre o Seguro Garantia, divulga Condições Padronizadas e dá outras providências., [S. l.], 30 set. 2013. Disponível em: https://www.editoraroncarati.com.br/v2/Diario- Oficial/Diario-Oficial/circular-susep-no-477-de-30092013.html. Acesso em: 13 jun. 2022.IÁRI DIREITO DO SEGURO E RESSEGURO.2022. Freitas, João Paulo de Sá & Goldberg, Ilan. Apostila FGV. Acesso em: 13 jun. 2022. CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. Artigo 765 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Artigo 765. [S. l.], 10 jan. 2002. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10687386/artigo-765-da-lei-n-10406-de-10- de-janeiro-de-2002. Acesso em: 13 jun. 2022. UNIÃO. C CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. Artigo 769 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Artigo 769. [S. l.], 10 jan. 2002. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10687386/artigo-765-da-lei-n-10406-de-10- de-janeiro-de-2002. Acesso em: 13 jun. 2022.IRCULA Nº 477 TRF-4. Jurisprudência nº AC- 50031234520154047113, de 13 de junho de 2016. ADMINISTRATIVO. ALTERAÇÃO DO CONTRATO. TERMOS ADITIVOS. FALTA DE COMUNICAÇÃO. ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA. [S. l.], 13 jun. 2016. Disponível em: https://trf- 4.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/410174028/apelacao-civel-ac-50031234520154047113-rs-5003123- 4520154047113#. Acesso em: 13 jun. 2022.R Nº 477, DE CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. Artigo 206 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Artigo 765. [S. l.], 10 jan. 2002. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10687386/artigo-765-da-lei-n-10406-de-10- de-janeiro-de-2002. Acesso em: 13 jun. 2022. UNIÃO 30 DE SETEMBRO DE 2013 nº 477, de 30 de setembro de 2013. Dispõe sobre o Seguro Garantia, divulga Condições CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. Artigo 202 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Artigo 765. [S. l.], 10 jan. 2002. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10687386/artigo-765-da-lei-n-10406-de-10- de-janeiro-de-2002. Acesso em: 13 jun. 2022. Súmulanº 229, de 20 de outubro de 1999. Civil. Contrato de seguro. Comunicação de sinistro. Prescrição. Juros moratórios. Termo inicial. [S. l.], 20 out. 1999. Disponível em: https://www.coad.com.br/busca/detalhe_16/2075/Sumulas_e_enunciados. Acesso em: 13 jun. 2022.UN CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. [S. l.], 21 jun. 1993. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11302399/paragrafo-3- artigo-56-da-lei-n-8666-de-21-de-junho-de-1993. Acesso em: 13 jun. 2022.O Padronizadas e dá outras providências. CIRCULAR SUSEP Nº 477:nível em: https://www.editoraroncarati.com.br/v2/Diario-Oficial/Diario- Oficial/circular
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