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A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL: A EXACERBAÇÃO DO PROCESSO DE DESESTRUTURAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO PROVOCADO PELAS FORÇAS PRODUTIVAS CAPITALISTAS ACENTUADAMENTE COMPETITIVAS E EXCLUDENTES DO SÉCULO XXI Álaze Gabriel Gifted1 1Graduado em Gestão Empresarial (2012). Pós graduado no MBA em Finanças e Controladoria UBC (2014). Pós graduado em Docência e Pesquisa para o Ensino Superior (2015). Cursando graduação em Ciências Contábeis (4º período). Cursando graduação em Estatística (4ª período). Poeta lírico (poesias, acrósticos), narrador (romances, crônicas, biografias) e dramaturgo (farsas, tragédias). Pesquisador sobre: o fenômeno socioeconômico concentracionista; a metodologia da pesquisa científica; a docência no ensino superior; o fenômeno religioso. Administrador de blogs. Possui trajetórias acadêmica e profissional bastante diversificadas, com concentração nas áreas administrativa e contábil. Participou do curso de extensão Equidade no acesso à pós- graduação para populações sub-representadas a cursos de mestrado, na Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: TRABALHO, TECNOLOGIA E ORGANIZAÇÃO A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL: A EXACERBAÇÃO DO PROCESSO DE DESESTRUTURAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO PROVOCADO PELAS FORÇAS PRODUTIVAS CAPITALISTAS ACENTUADAMENTE COMPETITIVAS E EXCLUDENTES DO SÉCULO XXI Álaze Gabriel Gifted Trabalho monográfico apresentado aos professores doutores João Alberto Camarotto e Nilton Luiz Menegon como requisito parcial para ser membro do grupo de pesquisa Simucad/PSPLab, La- boratório de Ergonomia, Simulação e Projeto de Situações Produtivas, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus São Carlos. SÃO CARLOS 2016 Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Mental de Álaze Gabriel Gifted A1890p7 Gifted, Álaze Gabriel. Colégios jesuíticos no Brasil colonial na produção científica de teses e dissertações / Álaze Gabriel Gifted. -- São Carlos : UFSCar, 2016. 191 f. Trabalho monográfico -- Universidade Federal de São Carlos, 2016. 1. Precarização do trabalho. 2. Precarização econômica. 3. Precarização social. 4. Precarização ambiental. I. Título. CDD: 189.0 (1ª) BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. João Alberto Camarotto __________________________________ Prof. Dr. Nilton Luiz Menegon __________________________________ Dedico este estudo exclusivamente aos meus orientadores: Prof. Dr. João Alberto Camarotto e a Prof. Dr. Nilton Luiz Menegon Agradecimentos: À minha família, pelo apoio afetivo; À Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) pelos serviços educacionais a mim prestados; Aos professores doutores João Alberto Camarotto e Nilton Luiz Menegon que bondosamente me concederam a oportunidade de participar no grupo de pesquisa Simucad/PSPLab. Aos meus professores e colegas de classe do curso de graduação em Estatística, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL: A EXACERBAÇÃO DO PROCESSO DE DESESTRUTURAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO PROVOCADO PELAS FORÇAS PRODUTIVAS CAPITALISTAS ACENTUADAMENTE COMPETITIVAS E EXCLUDENTE DO SÉCULO XXI RESUMO O trabalho reflete sobre o tema precarização, buscando alcançar o estado da sua arte. Foca na precarização no Brasil resultante da exacerbação do processo de desestruturação do mercado de trabalho brasileiro provocado pelas forças produtivas capitalistas acentuadamente competitivas e excludentes do século XXI. Para tanto, realiza uma revisão bibliográfica e documental da sua literatura crítica, que, enquanto um ensaio teórico bem realizado, é uma excelente porta de entrada em uma área de pesquisa, consistindo em uma mapa completo do seu território, apontando e explanando o seu estado atual, as suas teorias, os seus conceitos fundantes e as suas lacunas. Além disso, utiliza o método crítico-dialético como a base lógica da sua investigação e o método hipotético-dedutivo, como a base da sua estrutura de pensamento. Discute que na conjuntura socioeconômica atual, as combinações de negócios, enquanto novas estruturas de produção e de trabalho, apoderam-se não somente do trabalho mas da vida dos trabalhadores, coisificando-os, fazendo-os trabalhar em prol dos seus objetivos capitalistas, extraindo todas as suas forças e capacidades egoisticamente, tirando não raro o seu tempo de lazer, de descanso, de espiritualidade, e até mesmo de vida cívica, fragilizando a sua saúde. Conclui que: o trabalhador é o ponto mais fraco da relação de trabalho; a saúde do trabalhador sofre efeitos não raro negativos provenientes da precarização econômica (salário, benefícios, bônus, etc.), social (reconhecimento, status, etc.) e ambiental (metas inalcançáveis, riscos físicos, biológicos e ou químicos, etc.) presentes na organização do trabalho; o problema da precarização é antigo e novo, macro e microssocial, cujo combate requer a adequação da regulação em matéria de trabalho à realidade atual bem como a reestruturação do sistema fiscalizador. Palavras-chave: Precarização do trabalho. Precarização econômica. Precarização social. Precarização ambiental. SÃO CARLOS 2016 THE PRECARIOUS WORK IN BRAZIL: THE EXACERBATION OF THE BRAZILIAN WORK MARKET DISRUPTION PROCESS CAUSED FOR THE CAPITALIST PRODUTIVE STRENGTHS SHARPLY COMPETITIVE AND EXCLUSIVE OF THE XXI CENTURY ABSTRACT The work reflects on the precariousness theme, seeking to achieve the state of his art. Focuses on the precariousness in Brazil resulting from the exacerbation of the disintegration of the Brazilian labor market process caused by the sharply competitive capitalist productive forces and excluding the twenty-first century. The study presents a bibliographical and documentary review of its critical literature, which, as a theoretical test done well, is an excellent gateway into a research area, consisting of a complete map of its territory, pointing and explaining their status current, its theories, its fundamental concepts and its shortcomings. In addition, using the critical-dialectical method as the rationale for their research and the hypothetical- deductive method as the basis of the structure of thought. He argues that in the current socio- economic situation, business combinations the while new structures of production and work, not only seize from work but the workers' life, turning them into something worthless, making them work for their capitalist goals, drawing all its forces and capabilities selfishly, often taking their leisure time, relaxation, spirituality, and even civic life, weakening your health. It concludes that: the worker is the weakest point of the employment relationship; the health of the worker is often negative effects of the economic precariousness (salary, benefits, bonuses, etc.), social (recognition, status, etc.) and environmental (unachievable goals, physical, and biological or chemical, etc.) present in the organization of work; the problem of precariousness is old and new, macro and micro-whose combat requires the adequacy of regulation on working to the current reality and the restructuring of the inspection system. Keywords: Precarious work. Economic precariousness. Social precariousness. Environmental precariousness. SÃO CARLOS 2016 EL TRABAJO PRECARIO EN BRASIL: LA EXACERBACIÓN DEL PROCESO DE DESESTRUCTURACIÓN DEL MERCADO DE TRABAJO BRASILEÑO CAUSADO POR LASFUERZAS PRODUCTIVAS CAPITALISTAS PRODUCTIVAS BRUSCAMENTE COMPETITIVAS Y EXCLUSIVAS DEL SIGLO XXI RESUMEN La obra reflexiona sobre el tema de la precariedad, tratando de alcanzar el estado de su arte. Se centra en la precariedad en Brasil como resultado de la exacerbación de la desintegración del proceso de mercado de trabajo brasileño causada por las fuerzas productivas capitalistas fuertemente competitivos y excluyendo el siglo XXI. El estudio presenta una revisión bibliográfica y documental de la literatura crítica, que, como una prueba teórica se hace bien, es una excelente puerta de entrada a un área de investigación, que consiste en un mapa completo de su territorio, señalando y explicando su estado actual, sus teorías, sus conceptos fundamentales y sus deficiencias. Además, utilizando el método crítico-dialéctica como la justificación de su investigación y el método hipotético-deductivo como la base de la estructura del pensamiento. Sostiene que en la situación socio-económica actual, Combinaciones de negocios al mismo tiempo que las nuevas estructuras de producción y trabajo, no sólo se apoderan del trabajo, pero la vida de los trabajadores, les coisificando, haciéndolos trabajar por sus objetivos capitalistas, dibujo todas sus fuerzas y capacidades de forma egoísta, a menudo toman su tiempo de ocio, la relajación, la espiritualidad, e incluso la vida cívica, lo que debilita su salud. Se concluye que: el trabajador es el punto de la relación de trabajo más débil; la salud del trabajador es a menudo efectos negativos de la precariedad económica (salario, beneficios, bonos, etc.), sociales (reconocimiento, estatus, etc.) y ambientales (metas inalcanzables, física y biológica o química, etc.) presentar en la organización del trabajo; el problema de la precariedad es viejo y nuevo, macro y micro-cuyo combate requiere la adecuación de la regulación sobre el trabajo a la realidad actual y la reestructuración del sistema de inspección. Palabras clave: El trabajo precario. Precariedad económica. Precariedad social. Precariedad del medio ambiente. SÃO CARLOS 2016 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Tipificação da precarização econômica do trabalho. Página 25. TABELA 2 – Tipificação da precarização social do trabalho. Página 30. TABELA 3 – Tipificação da precarização ambiental do trabalho. Página 42. TABELA 4 – Apresentação das 35 Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego. Elaborada pelo autor. Fonte: Revisão bibliográfica do autor. Página 44. LISTA DE APÊNDICES APÊNDICE 1 - A essência da legislação trabalhista, previdenciária e assistencial brasileira. Página 92. APÊNDICE 2 – Fusões, consolidações, holdings e joint ventures empresariais: uma introdução ao fenômeno concentracionista empresarial. Página 104. LISTA DE ANEXOS ANEXO 1 - A Convenção número 81 da Organização Internacional do Trabalho (IOT). Página 127. ANEXO 2 – O artigo sétimo da Constituição da República Federativa Brasileira (CF/88). Página 138. ANEXO 3 - A Norma Regulamentadora número 5 do Ministério do Trabalho e Emprego (NR-7/MTE). Página 141. ANEXO 4 - A Norma Regulamentadora número 7do Ministério do Trabalho e Emprego (NR-5/MTE) – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. Página 150. ANEXO 5 - A Norma Regulamentadora número 9 do Ministério do Trabalho e Emprego (NR-9/MTE) e seu anexo único – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Página 156. ANEXO 6 - A Norma Regulamentadora número 17 do Ministério do Trabalho e Emprego (NR-17/MTE) – Ergonomia. Página 166. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO (página 17) 2 A PRECARIZAÇÃO ECONÔMICA (página 25) 3 A PRECARIZAÇÃO SOCIAL (página 30) 4 A PRECARIZAÇÃO AMBIENTAL (página 41) 5 METODOLOGIA (página 54) 5.1 Eixo epistemológico (página 54) 5.2 Eixo lógico (página 56) 5.3 Eixo técnico (página 57) 6 CONCLUSÕES (página 76) 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS (página 80) REFERÊNCIAS (página 82) APÊNDICE 1 (página 92) APÊNDICE 2 (página 104) ANEXO 1 (página 127) ANEXO 2 (página 138) ANEXO 3 (página 141) ANEXO 4 (página 150) ANEXO 5 (página 156) ANEXO 6 (página 166) 17 1 INTRODUÇÃO Este trabalho reflete sobre o tema precarização, buscando alcançar o estado da sua arte. A precarização pode se manifestar de diferentes maneiras na vida do trabalhador. Ela pode ser econômica, o que representa irregularidade no recebimento dos vencimentos, ou remuneração inferior ao da categoria profissional em que se atua, inadequação do vínculo empregatício, por exemplo um funcionário habitual sendo pago como se fosse um autônomo, informalidade da relação de trabalho, por exemplo sem o registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), o que visa desonerar o empregador das suas obrigações trabalhistas e previdenciárias para com o empregado. Ela pode ser social, o que representa o não reconhecimento do seu valor profissional para a empresa e para a sociedade em geral, comumente visto no caso de catadores de lixo, auxiliares de limpeza, recicladores, e empregos braçais em geral (trabalhadores de carga e descarga, montadores e desmontadores de circo, carpinadores, etc.). E ela pode ser ambiental, ou seja, oriunda do ambiente de trabalho, que pode apresentar riscos físicos, biológicos e ou químicos fora do padrão especificado em lei, metas inalcançáveis, a polivalência, pressões exacerbadas, o assédio moral, a extensão da jornada de trabalho por período superior ao permitido em lei para a categoria profissional específica de cada trabalhador (DRUCK, 2011; SCOMPARIM, 2009). Esse tema se justifica devido à necessidade de estudos que apontem clara e objetivamente em que aspectos a regulação em matéria de trabalho e o seu sistema fiscalizador precisam se adequar à realidade atual, a primeira por meio de reelaboração no campo do Legislativo, e o segundo por meio de reestruturação no campo da Justiça do Trabalho (SCOMPARIM, 2009). Percebe-se que raríssimos acadêmicos têm a coragem de retratar realisticamente a absurda realidade da precarização resultante das forças exploradoras capitalistas, mas que tal ação é fundamental no seu combate, na transformação social das estruturas de trabalho e de produção que traga benefícios significativos para toda a sociedade, por meio da promoção de relações de trabalho justas, dignas, humanas (DRUCK, 2011; MARX, 1982; MANDEL, 1967; MÉSZAROS, 2006). A questão que move essa pesquisa é discutir a precarização do trabalho no Brasil, resultante da exacerbação do processo de desestruturação do mercado de trabalho brasileiro provocado pelas forças produtivas capitalistas acentuadamente competitivas e excludentes do século XXI, em especial no caso das combinações de negócios, hoje necessidade para a sobrevivência no mercado, mas que culmina, não raro, em efeitos negativos sobre a saúde do trabalhador. Na conjuntura socioeconômica atual, as combinações de negócios, enquanto 18 novas estruturas de produção e de trabalho, apoderam-se não somente do trabalho mas da vida dos trabalhadores, coisificando-os, fazendo-os trabalhar em prol dos seus objetivos capitalistas, extraindo todas as suas forças e capacidades egoisticamente, tirando não raro o seu tempo de lazer, de descanso, de espiritualidade, e até mesmo de vida cívica, fragilizando a sua saúde (DRUCK, 2011; MARX, 1982; MANDEL, 1967; MÉSZAROS, 2006; JADON, 2005; FILHO, 2011; SCOMPARIM, 2009; SOUTO, 2001; SIGNINI, 1999; RUSSO, 2010). Para tanto, foram selecionados vinte e oito trabalhos acadêmicos sobre temas que ajudassem a elaborar o presente trabalho, denteos quais a precarização, a legislação trabalhista, a legislação previdenciária, a legislação assistencial, a saúde do trabalhador, a economia política, a terceirização e o fenômeno concentracionista empresarial. Além destes, foram consultados quinze documentos específicos sobre Normas Regulamentadoras (site do Ministério do Trabalho e Emprego), acidentes do trabalho (site do Ministério da Previdência Social), e dados específicos necessários para a construção deste trabalho. Ainda foram consultadas também trinta e cinco bibliografias e dois documentos eletrônicos específicos sobre a metodologia da pesquisa científica, para embasamentos epistemológicos, lógicos e técnicos. Portanto, este trabalho é resultado de uma extensa revisão bibliográfica e documental. Em todas as bibliografias e documentos consultados buscou-se compreender as suas nuances nos últimos séculos, em especial as discussões sobre o tema na última década. Para a escolha das fontes selecionadas foram considerados os seguintes critérios: a) conteúdo específico sobre a precarização; b) conteúdo específico sobre a metodologia da pesquisa científica; c) viabilidade de acesso e análise dos materiais selecionados. Todas as fontes foram observadas; os dados foram coletados, organizados, sistematizados, analisados, e apresentados de acordo com os procedimentos técnicos de pesquisa para levantamento bibliográfico e documental apresentados por Gil (1999; 2010), Marconi e Lakatos (2007), Rodrigues (2007), Luna (2011; 2012) e Köche (1997; 2011). Buscou-se nelas alcançar o estado da arte do tema. Meu interesse por pesquisar este tema nasceu da minha percepção da imensa inadequação da regulação em matéria de trabalho bem como do seu sistema fiscalização à realidade socioeconômica atual. Tal percepção da minha parte se deu no decorrer da minha trajetória profissional, que teve início nos idos de 2000, quando eu comecei a trabalhar informalmente (sem carteira assinada), vendendo picolés e sorvetes nas ruas da cidade São Lourenço, situada na região sulmineira, onde eu nasci e cresci. Nesta mesma cidade que trabalhei em habitual e informalmente em várias empresas: por dois anos e meio na Sorveteria R'Bom, onde eu era ajudante geral, trabalhando em especial na produção de picolés e 19 sorvetes, armazenando-os em câmara fria sem todos os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) necessários (máscara, jaqueta, calça, calçado, meias e luvas térmicas, produzidas com materiais especiais para proteção contra baixas temperaturas); por um ano e meio na fábrica de balas e doces Yasmim, onde eu era ajudante geral também, tendo trabalhado na produção, no corte, no armazenamento, no embalamento, na pesagem, na selagem, na rotulagem, e na expedição de balas e doces, em algumas dessas etapas sem os EPIs necessários, por exemplo sem máscara protetora ao lavar o tacho com ácino cianídrico, utilizado para a remoção da massa grudada, e de toda a roupagem própria para a limpeza da caldeira, que eu fazia quinzenalmente; por um ano no escritório de contabilidade da Maria de Lourdes, onde eu era auxiliar de escritório, realizando o registro de inventários, a escrituração fiscal, a elaboração de relatórios, e serviços externos, numa relação informal (sem carteira assinada); por seis meses no escritório de contabilidade do José Roberto Marques, onde eu quera auxiliar de escritório, realizando a escrituração fiscal e atividades do departamento pessoal (folha de pagamento, RAIS, CAGED, SEFIP/GFIP, etc.), também sem carteira assinada; por três meses no escritório de advocacia de Rubélio de Carvalho, onde eu era o seu secretário, trabalhando sem a carteira assinada, com remuneração bastante inferior ao piso da categoria profissional. Mais tarde, quando eu mudei para São Paulo capital, em 2014, eu trabalhei na Centro e na Higilimp, duas empresas de asseio e conservação ambiental, onde eu trabalhei na categoria profissional dos auxiliares e serventes de limpeza, sob pressões exageradas, às vezes sendo ofendido por “superiores” hierárquicos, às vezes sem receber alguns dos vencimentos mensais, às vezes sem os EPIs necessários; em São Paulo capital eu tive a oportunidade de trabalhar também na Tivit, na Almaviva do Brasil e na Action Line, na categoria profissional dos atendentes de telemarketing, sob pressões exageradas, que incluíram metas inalcançáveis, assédio moral por parte de “superiores” hierárquicos, que me trataram como esquizofrênico sem provas concretas dessa alegação, às vezes falta de água, a presença da promiscuidade e da polivalência no ambiente laboral, a extensão da jornada de trabalho por período superior a seis horas diárias e duas horas extras, no máximo, conforme constam no Anexo II da Norma Regulamentar nº. 17, expedida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Com a diferença que nas cinco empresas onde eu trabalhei em São Capital, todas elas registram na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) a relação empregatícia. Vale destacar que na Tivit Terceirização de Processos, de Serviços e de Tecnologia SA, eu trabalhei no cargo de Agente de Processos e Negócios I, para os clientes contratantes Santander (por dois meses) e IBI (por quatro meses), realizando a recuperação de créditos de produtos financeiros e bancários, o que caracteriza as funções exercidas como pertencentes ao cargo de bancário, 20 portanto devendo estar este funcionário enquadrado na categoria profissional dos financiários e bancários; destarte, os meus vencimentos mensais na Tivit sempre foram bastante inferiores aos dos financiários e bancários. Mais tarde, ainda, no fim de 2015, quando eu mudei para a cidade São Carlos, retornando ao curso de Estatística que eu tinha iniciado em 2013 na UFSCar, eu tive a oportunidade de trabalhar na empresa Consultoria e Assessoria Empresarial LTDA, situada na Vila Pinhal da Represa do Broa, em um restaurante do Broa Golf Resort, no cargo de auxiliar de serviços gerais, bem aquém do meu nível de instrução, já com duas pós- graduações, sendo tratado como deficiente sem provas concretas dessa alegação, sendo exposto ao ridículo ao receber do departamento de Recursos Humanos (RH) da empresa uniformes rasgados, e quando eu solicitei uniformes decentes o que me foi negado, tendo sido colocado para morar em um alojamento cujo quarto tinha goteiras, sendo que em dias chuvosos o quarto se enchia de água molhando os meus pertences, cheirava mofo, e me expunha em uma situação insalubre, com ar muito quente e úmido, o que favorece a contração de doenças tais como gripes, e a solidificação de doenças respiratórias tais como rinite, sinusite e bronquite. Cabe notar que esta última empresa não me registrou na CTPS, inicialmente, tendo eu que reclamar meus direitos trabalhistas no sindicato da categoria, no MTE, no Ministério Público Federal (MPF) de São Carlos, solicitando encaminhamento para o Ministério Público do Trabalho (MPT), e no Fórum do Trabalho da Comarca de São Carlos. Enfim, diante da falta de proteção trabalhista e previdenciária aqui exposta referente aos vínculos empregatícios que eu tive, várias vezes eu tive de recorrer aos órgãos da Justiça do Trabalho em busca dos meus direitos. Percebe-se, pois, que a minha trajetória profissional se fez marcada pela precarização econômica, social e ambiental desde o seu princípio, o que culminou na sua fragmentação e na sua diversificação. Durante quinze anos de trajetória profissional, até hoje eu ainda não consegui alcançar a minha estabilidade financeira e profissional,tampouco sentir satisfação pelo trabalho, por causa da intensa exploração sobre mim por parte dos empregadores que eu tive, que sempre priorizaram a sua lucratividade acima de tudo e de todos, usando-me como uma coisa, um material útil, necessário e suficiente para a geração das suas respectivas riquezas, e não da minha, de modo que eu continuo socioeconomicamente pobre desde o início até hoje por causa deles. Em outras palavras, eu nunca fui tratado como um ser humano no mercado de trabalho; eu sempre fui coisificado, alienado, explorado, desvalorizado, irreconhecido, maltratado, assediado, inadequadamente atendido, tratado como um analfabeto funcional, nunca posicionado hierarquicamente em cargo condizente com o meu perfil, nunca auferindo remuneração 21 adequada ao meu perfil. Atualmente eu sofro da Síndrome de Bournout2, que se intensifica na medida em que o meu progresso é atrasado pelas forças exploradoras capitalistas. Soma-se a isto, o meu interesse em construir minha carreira nas categorias profissionais de auditoria fiscal e docência universitária. A internacionalização da economia provocou mudanças significativas na estrutura produtiva e nos padrões de comércio mundiais, promovendo o processo concentracionista empresarial e trazendo à baila a necessidade do fortalecimento dos órgãos reguladores, nacionais e estrangeiros, da defesa da concorrência. O advento da Globalização, conhecida como a Terceira Revolução Industrial e Tecnológica, alicerçada na automação da produção e nas tecnologias da informação, modificou consideravelmente a organização do trabalho na produção e no mundo do trabalho, culminando na exacerbação do processo de desestruturação do mercado de trabalho brasileiro (GREMAUD; VANCONCELLOS; JÚNIOR, 2006; LYNCH, 1994; GIFTED, 2014; 2015; MORAN; HARRIS; STRIPP, 1996; SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2009; MELO, 2011; FILHO, 2011; BRASIL, 2015; 2016). Sobre estes aspectos, Melo (2011, p. ) explana com clareza e objetividade a crise do trabalho e do emprego no Brasil do seguinte modo: A inserção do Brasil no processo de reestruturação do capitalismo se dá de forma passiva e subordinada, representando uma ruptura com o padrão de crescimento econômico configurado a partir da década de 1920 em bases industriais e com o processo histórico de formalização das relações de trabalho iniciada na década de 1930, sob o governo de Getúlio Vargas. As transformações do modelo de desenvolvimento brasileiro ocorreram num contexto político-conjuntural de vitória eleitoral de Fernando Collor de Mello, no início da década de 1990, com o desencadeamento de um conjunto de medidas econômicas liberalizantes para dar conta da crise dos anos de 1980, permeadas pela adoção de um programa de liberação comercial, desregulação financeira e encolhimento do setor público (privatização, fechamento de empresas e demissão de funcionários públicos) “combinando com políticas econômicas recessivas, representando a destruição dos postos de trabalho, que contabilizou o corte de 2,2 milhões de postos regulares somente nos anos 1990/92 em todo o país” (POCHMANN, 1999, p. 88). As políticas neoliberais implementadas no Governo Collor, por um lado, determinaram um cenário econômico nacional caracterizado pela recessão econômica, pelo crescente desemprego na indústria e pelo predomínio da racionalização predatória de custos nas empresas, notadamente através da redução de custos com a mão-de-obra empregada. Por outro lado, nesse período criaram-se as condições macroeconômicas para o sucesso do plano de estabilização monetária do Governo Fernando Henrique Cardoso e para a consolidação do processo de reestruturação do capitalismo no Brasil (MATTOSO, 1995). Assim, com a implantação do Plano Real, em 1994, no início do primeiro Governo Fernando Henrique Cardoso, as transformações neoliberais foram aprofundadas através da intensificação da abertura comercial e financeira e da reforma do Estado, representada pelas privatizações, concessões públicas ao capital privado e pelas 2A Síndrome de Bournout é um distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso, resultante de intenso estresse provocado em contexto laboral. 22 reformas institucionais, tais como a Reforma da Previdência Social e a Reforma Administrativa, assim como uma política de sobrevalorização cambial e de altas taxas de juros para atrair o capital financeiro (MATTOSO, 2000). Nesse contexto, observou-se a exacerbação do processo de desestruturação do mercado de trabalho brasileiro, com a “explosão” das taxas de desemprego (sem precedentes na história do país), a precarização das condições e relações de trabalho, mudanças na estrutura do emprego formal, o surgimento de formas precárias de ocupação e o aumento da informalidade, como estratégia de sobrevivência dos trabalhadores desempregados, mesmo diante da recuperação do assalariamento formal verificado nos dois últimos anos do segundo governo Fernando Henrique Cardoso (MELO, 2008). Com a formação de um governo de base “popular”, comandado pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva, a partir de 2003, constituiu-se um conjunto de propostas de investimentos na área social, articuladas a manutenção do controle inflacionário e do plano de estabilização monetária do governo anterior, caracterizando o novo governo como contraditório e ambíguo, apresentando um polo de poder mais ligado a elaboração e aplicação de políticas de cunho social e um polo de poder articulado ao sistema financeiro internacional, promovendo a manutenção da política macroeconômica ditada pelo mercado e pelos institutos financeiros internacionais sediados em Washington e inaugurada pela implementação do Plano Real em 1994 (SOARES, 2004). No bojo da manutenção dessas políticas macroeconômicas ditadas pelo mercado, permaneceram os problemas históricos do mercado de trabalho brasileiro, com a manutenção de taxas de desemprego elevadas, a informalidade do trabalho para amplas camadas de trabalhadores excluídos do mercado de trabalho formal, a instabilidade/alta rotatividade da mão de obra e a precarização das condições e relações de trabalho. Em suma, a manutenção do processo de desestruturação do mercado de trabalho formal aponta para a precarização das condições e relações de trabalho no Brasil, mesmo com a recuperação do emprego formal dos últimos anos, nos estertores de um governo contraditório e da continuidade da aplicação do receituário neoliberal capitaneado pelo mercado e pelas instituições financeiras internacionais, sob o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Neste diapasão, entra em cena o boom concentracionista empresarial ocorrido sobretudo a partir do início do século XXI, fase em que a Globalização se consolida, transformando as combinações de negócios em uma necessidade de sobrevivência no mercado. Torna-se, então, exponencial o crescimento quantitativo da formação de fusões, de consolidações e de terceirizações empresariais, em escalas sem precedentes que, por um lado, transfere benefícios à sociedade na forma de trabalho, de renda, de evolução tecnológica, de melhorias na infraestrutura urbana, mas por outro, por conta de sua competitividade excessivamente agressiva, ameaça as estruturas de mercado, gerando a precarização das condições de trabalho e a necessidade de adequação tanto da regulação quanto do seu sistema fiscalizador às condições socioeconômicas atuais (GIFTED, 2014; 2015; FILHO, 2011; RUSSO, 2004). Sobre esta dinâmica do trabalho e sua precarização, Silva, Araújo e Barbosa(2014, p. 557) pontuam: Olhando para a dinâmica do trabalho e a sua precarização, é possível 23 perceber o quanto os trabalhadores tendem a estarem submissos as leis de mercado e ao sistema capitalista. Os trabalhadores precisam vender sua força de trabalho para sobreviverem, sendo esta a sua única mercadoria, ele não possui outra opção senão se submeter. Por um lado, existe um exercito de reserva de mão de obra que contribui para os baixos salários e para as más condições de trabalho, ou seja, ou o trabalhador aceita as condições oferecidas ou pode ser substituído por outro trabalhador que estando desempregado aceitará facilmente as condições oferecidas. Por outro lado, a intensa divisão do trabalho e a especialização do processo produtivo interferem na criatividade do trabalhador e contribui para o seu estranhamento no processo produtivo, sendo assim, a alienação do trabalhador o torna dependente do sistema, se antes ele tinha uma percepção do produto do início ao fim, agora seu trabalho é especializado e resumido a uma atividade repetitiva e maçante, onde só consegue perceber as partes de sua função desenvolvida. Inobstante, neste respeito Gremaud, Vasconcellos e Júnior (2006) salientam que, a priori, o fenômeno concentracionista empresarial não pode nem deve ser considerado bom ou ruim para o desenvolvimento socioeconômico. A razão disso é que, por um lado, a concentração pode trazer ganhos de eficiência que poderão ser revertidos para a sociedade, contudo, por outro lado, corre-se os riscos referentes ao poder de mercado, ou seja, preços elevados, cartéis e outras modalidades de concorrências desleais, e à precarização das condições de trabalho que, não raro, afligem o trabalhador em todas as combinações de negócios atualmente efetivadas. Por exemplo, no setor bancário brasileiro existe a formação de terceirizações de atividades-fim, ato amplamente discutido pelos mais importantes representantes estatais e empresariais, e atualmente vedados pelos enunciados 226 e 331 do TST (FILHO, 2011; PEDROSA, 2000; SOUTO; 2001; REZENDE, 1997). Desse modo, observam-se ilegalidades cometidas por vários bancos situados em território brasileiro no processo de terceirizações que eles efetivam de algumas de suas atividades financeiras e bancárias, tais como a concessão de linhas de créditos e a recuperação de créditos para call centers especializados na prestação desses serviços (SOUTO; 2001; SEGNINI, 1999; GIFTED, 2014; 2015). Percebe- se, destarte, a necessidade de adequação tanto da regulação trabalhista e previdenciária quanto da fiscalização da Justiça do Trabalho à realidade socioeconômica atual, na qual se faz presente um nível de agressividade competitiva sem precedentes no mercado de trabalho, em que o trabalhador tem se tornado cada vez mais vulnerável à crescente força do empregador, em especial o que se configura empresário (FILHO, 2011; JADON, 2005). Para exemplificar a precarização do trabalho resultante das forças produtivas capitalistas acentuadamente competitivas e excludentes do século XXI, Jadon (2005, p. 163) apresenta realisticamente o caso absurdo da empresa transnacional norte-americana Nestlé, com os seguintes dizeres: 24 […] O caso da Nike é sugestivo: trata-se de uma “empresa em rede”, ou seja, que emprega 8 mil pessoas em administração, projeto, vendas e produção, sendo essa última terceirizada nas mãos de cerca de 75 mil trabalhadores. A maior parte dessa terceirização está na Indonésia, onde o tênis é produzido ao custo de cerca de 5,60 dólares por jovens que recebem apenas 15 centavos por hora. Em contrapartida, o preço de venda, nos Estados Unidos e na Europa, é de 73 a 135 dólares. Os trabalhadores estão alojados em barracas, não há sindicatos, as horas extras são obrigatórias e, se houver greve, a polícia pode ser acionada. O astro americano do basquete, Michael Hordan, segundo a imprensa, recebeu 20 milhões de dólares, em 1992, para promover o tênis Nike, superando toda a folha de pagamento anual das fábricas indonésias que os produziram. […] Para contextualizar, a Nike Inc., fundada em 1972 por Phil Knigt e Bill Boweman, tem sede em Abertona, no estado de Oregon, nos Estados Unidos, é a líder mundial no desenvolvimento e na comercialização de calçados, vestuário, acessórios e equipamentos esportivos autênticos para uma ampla variedade de esportes e atividades de condicionamento físico, emprega atualmente cerca de 38 mil funcionários orgânicos (diretos) no mundo, dentre os quais cerca de 1500 aqui no Brasil. Por meio de suas fábricas subcontratadas, a Nike gera milhares de empregos inorgânicos (terceirizados), contando atualmente mais de 950 mil funcionários subcontratados, organizados e divididos nas cerca de 800 fábricas situadas em 170 países, dentre os quais cerca de 5 mil postos aqui no Brasil (BRASIL, 2004; 2014). Com base nestes pressupostos, percebe-se pelo cândido relato apresentado por Jadon (2005) que o poder midiático está sendo utilizado no fenômeno concentracionista empresarial, conforme no caso da Nike, como um meio gerador das distorções de um sistema econômico que transfere recompensas dos reais produtores do valor para aqueles que funcionam como ilusionistas de marketing convencendo clientes a consumirem inflacionadamente produtos e serviços que, não raro, não necessitam realmente. Desse modo, os consumidores são quase que literalmente controlados como bonecos presos a uma marionete capitalista, consoante, ainda sobre esse aspecto, Jadon (2005, p. 163) corrobora: A exigência de lucros maiores a curto prazo concentrou o poder econômico e político nas mãos de poucos escolhidos, de forma que a população seja mantida pela mídia, que, dominada pelas corporações, bombardeia os espectadores com interpretações da percepção de mundo: o consumismo é o caminho da felicidade, a causa dos problemas dos países pobres é o excesso de restrições ao mercado, a globalização econômica é inevitável historicamente e uma dádiva para a humanidade. Esses mitos permitem a uma pequena elite com dinheiro viver em um mundo de inclusões longe do resto da humanidade. [...] Este trabalho foi organizado em sete capítulos. O primeiro se refere à introdução, na 25 qual são apresentados o tema, a justificativa, o problema, os objetivos, a contribuição, a metodologia, o percurso do aluno, o referencial teórico, e a organização do trabalho. Do segundo ao quarto capítulo o tema é desenvolvido: no segundo apresenta-se a precarização econômica do trabalho, aquela que se origina do empregador e prejudica o trabalhador economicamente, isto é, que o faz perder ou não receber os valores monetários justos pelo seu exercício laboral; no terceiro, apresenta-se a precarização social do trabalho, aquela que se origina da cultura social e prejudica o trabalhador socialmente, isto é, que não o permite alcançar o patamar aceitável de dignidade humana, sendo respeitado, valorizado, reconhecido, adequadamente incluído na sociedade, de acordo com as suas respectivas necessidades; no quarto, apresenta-se a precarização do ambiente do trabalho, aquela que se origina de um ambiente que oferece riscos para a saúde do trabalhador. O quinto capítulo foi dedicado à explanação de todas as metodologias utilizadas para a elaboração deste trabalho. E, no sexto e no sétimo capítulos, são apresentadas as conclusões e as considerações finais, respectivamente. Daí, por último, mas não menos importante, no intuito de finalizar de forma completa, o trabalho apresenta as referências consultadas. 2 A PRECARIZAÇÃO ECONÔMICA DO TRABALHO A precarizaçãoeconômica do trabalho é aquela que se origina do empregador e prejudica o trabalhador economicamente, isto é, que o faz perder ou não receber os valores monetários justos pelo seu exercício laboral. Ela representa irregularidade no recebimento dos vencimentos, ou remuneração inferior ao da categoria profissional em que se atua, inadequação do vínculo empregatício, por exemplo um funcionário habitual sendo pago como se fosse um autônomo (com RPA), informalidade da relação de trabalho, por exemplo sem o registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), o que visa desonerar o empregador das suas obrigações trabalhistas e previdenciárias para com o empregado, ou mesmo negligência do cumprimento de suas obrigações acessórias (DRUCK, 2011; SCOMPARIM, 2009). Esquematicamente, este tipo de precarização do trabalho pode ser apresentado do seguinte modo: PRECARIZAÇÃO ECONÔMICA DO TRABALHO TIPO DESCRIÇÃO 26 Remuneração inferior ao da categoria profissional O empregador paga para seus funcionários um valor monetário salarial menor do que aquele especificado por lei, ou por acordo ou convenção coletiva do trabalho, que possuem força de lei. Esta prática desonera o empregador em detrimento dos vencimentos do empregado. Inadequação do vínculo empregatício O empregador contrata como autônomo um trabalhador que lhe presta serviços habitualmente, configurando o vínculo empregatício, mas sem lhe registrar. Essa prática é bastante comum em restaurantes, bares, pizzarias, lanchonetes, sorveterias, fábricas de doces, que, em períodos sazonais, contratam funcionários “extras”, que trabalham habitualmente, mas são considerados autônomos, evidentemente com vencimentos bem menores do que o especificado em lei, gerando prejuízos financeiros ao funcionário. Comumente se paga estes funcionários com o Recibo de Pagamento de Autônomo (RPA), não se recolhe o FGTS, o recolhimento do INSS é menor porque a base de cálculo é menor também. Informalidade da relação de trabalho O empregador não registra na carteira de seus funcionários o vínculo empregatício entre eles. Deste modo, o funcionário “perde” seus direitos trabalhistas e previdenciários, que, embora resguardados por lei, normalmente não são cobrados pelos funcionários, que normalmente possuem baixo nível de instrução e poder na sociedade. Negligência do cumprimento de obrigações acessórias O empregador deixa de informar corretamente a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) ao Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS), ou mesmo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) para o Ministério de Trabalho e Emprego (MTE), o que prejudica o funcionário no recebimento do seu abono salarial (PIS) e o seu seguro desemprego, respectivamente. Tabela 1. Tipificação da precarização econômica do trabalho. Elaborada pelo autor. Fonte: Revisão bibliográfica feita pelo autor. Para exemplificar um situação que aponta casos clássicos de precarização econômica, vale apresentar, ainda que em partes, o relatório disponibilizado pelo Grupo Cipa Fiera Milano, na Revista Cipa (BRASIL, 2015), em que uma ação de fiscalização, de autuação e de interdição de atividades de empresas de telemarketing, que teve início após uma fiscalização realizada em Minas Gerais, resultou em 900 autos de infração e R$ 300 milhões em multas em sete estados brasileiros. Sem citar o nome das empresas, transcrevo o trecho específico que corrobora a precarização econômica a que elas expuseram os seus trabalhadores (BRASIL, 2015, s. p.) conforme exposto a seguir: 27 As empresas (tomadoras de serviço), que contratavam os serviços de uma empresa de telemarketing, foram autuadas por terceirização ilícita e descumprimento do Anexo II da Norma Regulamentadora NR 17, que regula vários aspectos da atividade, somando um total de 900 autos de infração, somando um total de R$ 300 milhões em multas. Entre as irregularidades encontradas estão diferenças salariais que geraram débito de R$ 1,2 bilhão, valor devido aos trabalhadores que deveriam ter sido contratados como bancários e funcionários de teles. A fiscalização foi desencadeada por uma ação fiscal realizada em 2013 pela SRTE/MG, por meio do projeto Prevenção de Acidentes e Doenças do Trabalho, quando foram autuadas três unidades de uma empresa de telemarketing localizadas em Belo Horizonte e abrangeu cerca de 11 mil trabalhadores, resultando na lavratura de 246 Autos de Infração. Auditora fiscal que participou da fiscalização em Minas Gerais e que também fez parte da Comissão criada para fiscalizar a empresa a nível nacional, Odete Cristina Pereira Reis, conta que quando a ação foi iniciada no estado, ocorria, simultaneamente, a fiscalização em outra unidade da mesma empresa, localizada em Pernambuco. “E, devido à repetição das irregularidades na empresa em todo o país, foi criado um grupo, subordinado à Secretaria e Inspeção do Trabalho (SIT/MTE), para fiscalizar a instituição a nível nacional, destaca. Em Pernambuco, o “Site”, como são chamadas essas unidades, abrange cerca de 14 mil operadores. A Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Minas Gerais (SRTE/MG) promoveu uma audiência no dia 11 de março de 2015, em suas dependências, para apresentar os dados da referida ação fiscal, que foi realizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) concomitantemente em sete estados do país, quais sejam: Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A referida operação fiscal, que durou mais de um ano, teve por resultados, além dos dados apresentados na transcrição anterior, a autuação de quatro grandes bancos e três empresas de telefonia (BRASIL, 2015). Nela estiveram presentes representantes do Ministério Público do Trabalho (MPT), do Ministério Público Federal (MPF), do Sindicato dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações de Minas Gerais (Sinttel-MG), da Federação Interestadual dos Trabalhadores e Pesquisadores em Serviços de Telecomunicações (FITRATELP), da Chefia da Perícia Médica do Instituto Nacional do Seguro Social de Minas Gerais (INSS/MG) , além de outros convidados (BRASIL, 2015). Neste diapasão, vale salientar que essa é a realidade do ambiente de trabalho brasileiros em várias categorias profissionais, especialmente no setores bancário, no de telecomunicações, no de segurança, no de limpeza e no de iluminação (FILHO, 2011; GIFTED, 2015). Tal realidade capitalista alienada e alienante é comparada a um câncer que se alastra velozmente pelo planeta há alguns séculos, “destruindo meios de vida, deslocando povos, tornando impotentes as instituições democráticas, alimentando-se de vidas humanas, justificando o 'tudo por dinheiro'” (JADON, 2005, p. 163; MANDEL, 1967; MÉSZAROS, 28 2006; MARX, 1982). Nesse respeito, Jadon (2005, p. 163) conclui que “com essa dinâmica poderosa e perversa, tornando imperativo duplicar o dinheiro investido, trata as pessoas como fonte de ineficiências ao torná-las descartáveis sem se importar com o interesse público e os valores morais e éticos”. Sobre estes absurdos cometidos por parte do empregador para com seus funcionários, Silva, Araújo e Barbosa (2014, p. 553 e 554) acentuam: O trabalhador se torna dependente do sistema, e esta situação contribui para a precarização do trabalho, pois o seu salário é de subsistência, o que proporciona minimamente as condições básicas de sobrevivência. É interesse do capitalista que o trabalhador consiga sobreviver minimamente, pois precisa da sua força do trabalho e da reproduçãodos trabalhadores para atender a ordem das transições diárias do capitalismo. Por essa razão, o trabalhador economicamente fragilizado, busca estratégias para sobreviver, contornando os efeitos devastadores da precarização. Uma delas são as cooperativas formadas solidariamente, conhecidas também como Empreendimentos Econômicos Solidários (EESs), em que um grupo de trabalhadores se organizam cooperativamente em grupo autogerido por cada um de seus membros para executar determinadas atividades econômicas sustentáveis, em que todos são simultaneamente trabalhadores e donos (MELO, 2011; SILVA; ARAÚJO; BARBOSA, 2014; BRASIL, 2016). Sobre estes aspectos, vale resgatar os conceitos apresentados no Fórum Brasileiro de Economia Solidária (BRASIL, 2016, s. p.) bem como as palavras que Silva, Araújo e Barbosa (2014, p. 554) e Melo (2011, p. 23, 24 e 28) salientam: (BRASIL, 2016, s. p.): Economicamente, é um jeito de fazer a atividade econômica de produção, oferta de serviços, comercialização, finanças ou consumo baseado na democracia e na cooperação, o que chamamos de autogestão: ou seja, na Economia Solidária não existe patrão nem empregados, pois todos os/as integrantes do empreendimento (associação, cooperativa ou grupo) são ao mesmo tempo trabalhadores e donos. Culturalmente, é também um jeito de estar no mundo e de consumir (em casa, em eventos ou no trabalho) produtos locais, saudáveis, da Economia Solidária, que não afetem o meio-ambiente, que não tenham transgênicos e nem beneficiem grandes empresas. Neste aspecto, também simbólico e de valores, estamos falando de mudar o paradigma da competição para o da cooperação de da inteligência coletiva, livre e partilhada. Politicamente, é um movimento social, que luta pela mudança da sociedade, por uma forma diferente de desenvolvimento, que não seja baseado nas grandes empresas nem nos latifúndios com seus proprietários e acionistas, mas sim um desenvolvimento para as pessoas e construída pela população a partir dos valores da solidariedade, da democracia, da cooperação, da preservação ambiental e dos direitos humanos. 29 (SILVA; ARAÚJO; BARBOSA, 2014, p. 554): Na perspectiva da Economia Solidária, surgem grupos de trabalhadores que buscam alternativas para a geração de renda através da associação e das práticas coletivas. São denominados de Empreendimento Econômico Solidário – EES, onde a administração é feita de forma coletiva pelos próprios trabalhadores, por meio de uma gestão participativa e democrática. Para além destas relações de trabalho e produção, se articulam com as questões políticas, sociais, ambientais, tanto no campo comunitário como das redes sociais. […] a economia solidária, por meio do seu surgimento, reforça o poder de luta de todos os trabalhadores assalariados diante da exploração capitalista, visto que diminui o exercito de reserva de mão de obra. Assim, demonstra através de novos princípios a luta contra o capitalismo e as suas ideologias. Trata-se de um fenômeno novo, baseado numa outra lógica econômica, fundamentada na busca de novas relações de trabalho, e numa sociedade que não seja marcada pelo individualismo contemporâneo. Esta iniciativa se desenvolve pelas classes populares, como alternativas coletivas para sobrevivência, e se amplia na medida em que seus atores aprendem e desenvolvem novas relações de trabalho na prática diária no âmbito pessoal e coletivo tanto no meio urbano quanto rural. (MELO, 2011, p. 23, 24 e 28): Portanto, o desenvolvimento nos empreendimentos solidários está inextricavelmente associado à produção local de produtos e bens coletivos (desenvolvimento local) e às formas ambientalmente saudáveis de produção e consumo (desenvolvimento sustentável), como princípios de uma sociedade mais justa e igualitária, produzida através da cooperação, da associação e da solidariedade entre os trabalhadores nos empreendimentos e iniciativas solidárias de produção, troca e consumo. Em síntese, a economia solidária tem como características fundamentais os valores de produção econômica permeados pelos princípios da solidariedade (entre os trabalhadores na produção de bens e serviços e na justa distribuição dos rendimentos), da cooperação (propriedade coletiva dos meios de produção, partilha dos resultados e esforços comuns na produção de bens e serviços) e da autogestão (participação democrática e igualitária nas discussões e decisões dos empreendimentos solidários e na distribuição dos rendimentos e excedentes de produção) como pressupostos para a articulação e formação de outro modo de produção, contraposto e alternativo ao capitalismo competitivo e excludente deste início de século XXI. No Brasil, os projetos de economia solidária ganharam destaque com a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária, em 2003 pelo Governo Federal, com o intuito de fomentar e divulgar as iniciativas associativas comunitárias baseadas nas cooperativas populares, redes de produção e comercialização, feiras de cooperativismo, clubes de troca, entre outras formas solidárias de associação (FÓRUM BRASILEIRO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2009). […] a economia solidária funciona como um instrumento de contenção das contradições sociais ao impulsionar a união dos trabalhadores em empreendimentos em que eles próprios são ao mesmo tempo “empregados” e “donos”, resultando numa estagnação da luta de classes e do desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, ao mesmo tempo em que serve aos interesses de manutenção do status quo articulados ao movimento de reestruturação capitalista e a busca de taxas de mais-valia cada vez mais ampliadas, tendo como base a exploração intensiva da força de trabalho na sociedade capitalista globalizada atual. Em suma, a economia solidária representa apenas iniciativas pontuais e localizadas de geração de trabalho e renda na escala local, que não tem o poder de se generalizar para toda a economia e nem representar significativamente uma nova forma de organização econômica, com base na solidariedade e na cooperação entre os trabalhadores, não representando, por conseguinte, um importante fator de 30 desenvolvimento econômico e social em Presidente Prudente neste início de século XXI. Os direitos dos trabalhadores precisam ser respeitados3. O registro correto na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), com Código Brasileiro de Ocupação (CBO) adequado às funções exercidas pelo funcionário, o pagamento pontual, até o quinto dia útil de cada mês, do salário, o recolhimento mensal do FGTS e do INSS, o pagamento pontual dos benefícios (horas extras, insalubridade, periculosidade, adicional noturno, adicional de transferência, vale refeição, vale alimentação, vale transporte, salário maternidade, seguro de vida, assistência média e odontológica, cesta básica, premiações, comissões, dentre outros), o pagamento adequado do Descanso Semanal Remunerado (DSR) – que infelizmente muitos empregadores hesitam de pagar aos seus funcionários, a adequação da remuneração ao perfil do funcionário, levando-se em consideração sua capacidade funcional, o seu nível de instrução, e suas necessidade pessoais, são medidas honestas nas relações de trabalho, que respeitam e promovem a dignidade humana do trabalhador e, ao mesmo tempo, combatem a precarização econômica do trabalho (BRASIL, 1943; 1988; 2016; MELO, 2011; SILVA; ARAÚJO; BARBOSA, 2014). Então, necessário é o conhecimento da legislação trabalhista, previdenciária e assistencial por parte dos empregadores no fito de concederemaos seus funcionários as condições apropriadas ao seu exercício profissional. 3 A PRECARIZAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO A precarização social do trabalho é aquela que se origina da cultura social e prejudica o trabalhador socialmente, isto é, que não o permite alcançar o patamar aceitável de dignidade humana, sendo respeitado, valorizado, reconhecido, adequadamente incluído na sociedade, de acordo com as suas respectivas necessidades. Ela representa o não reconhecimento do seu valor profissional para a empresa e para a sociedade em geral, comumente visto no caso de catadores de lixo, auxiliares de limpeza, recicladores, e empregos braçais em geral (trabalhadores de carga e descarga, montadores e desmontadores de circo, carpinadores, etc.), metas inalcançáveis, a dificultação na inserção e na permanência de deficientes no mercado de trabalho, a polivalência, pressões exacerbadas, a extensão da jornada de trabalho por período superior ao permitido em lei para a categoria profissional específica de cada trabalhador, a falta de materiais fundamentais para a adequada execução do trabalho, a competitividade 3Vide os anexos e o apêndice deste trabalho. 31 contenciosa, a inexistência de uma política gestora do seu fluxo informacional, a falta de ética e o assédio moral (DRUCK, 2011; SCOMPARIM, 2009; COSTA; CHAVES, 2012; GIFTED, 2014). Esquematicamente, este tipo de precarização do trabalho pode ser apresentado do seguinte modo: PRECARIZAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO TIPO DESCRIÇÃO Cargo discriminado Os cargos de auxiliar de limpeza, servente de limpeza, servente de obras, catadores, recicladores, ambulantes, carpinadores, panfleteiros, dentre outros trabalhos braçais, são discriminados por não possuírem status social de quem pensa, de quem manda ou de quem tem poder econômico. Metas inalcançáveis É comum no setor de serviços, por exemplo na categoria dos operadores de telemarketing, dos quais são exigidas metas tais como determinada quantidade de vendas, ou determinado valor monetário de recuperação de créditos, em detrimento de suas rendas variáveis, tais como comissões, premiações, etc., às vezes até promoções profissionais. Dificultação na obtenção e na permanência de um emprego Determinadas parcelas da sociedades, tais como os deficientes, os negros, os índios, parte dos superdotados, parte das mulheres (porque hoje as mulheres brancas já conseguem obter e se manter no mercado de trabalho, restante dificuldade especificamente para as mulheres negras), são rejeitados com facilidade em entrevistas de trabalhos simplesmente por pertencerem a tais grupos sociais historicamente discriminados, e se conseguem obter emprego são, não raro, marginalizados dentro do ambiente do trabalho até pedirem demissão, ou mesmo segregados sendo demitidos sem justa causa. Polivalência É o acúmulo de várias funções, inerentes a vários postos de trabalhos, por apenas um funcionário. O empregador sobrecarrega alguns funcionários com todas as tarefas, funções e atividades organizacionais no fito de se desonerar da contratação de mais funcionários, diminuindo os seus “gastos”, tendo, consequentemente, um lucro maior, que, normalmente, não é repassado para estes trabalhadores super explorados. Pressões exacerbadas Ocorre quando um superior hierárquico intimida os seus subordinados inculcando-lhes medo de perder o seu emprego se não alcançarem determinadas metas, ou quando fiscalizam demasiadamente a execução das funções dos seus subordinados, ou quando são ríspidos ao falar com eles sobre o seu desempenho profissional. Extensão da jornada de A CLT determina o quantitativo de 8 horas diárias, 44 horas 32 trabalho semanais e, no máximo, 2 horas extras diárias e 40 horas extras mensais, no geral. Para alguns cargos, como a dos operadores de telemarketing, o quantidade é de 6 horas diárias (acrescidas de 20 minutos para descanso), 36 horas semanais, 2 horas extras diárias e 40 horas extras mensais. Os funcionários celetistas em empresas públicas, tais como os Correios, possuem jornada diferenciada, 8 horas diárias, 40 horas semanais. Enfim, entende-se por extensão da jornada de trabalho aquela superior à especificação legal. Falta de materiais O empregador precisa disponibilizar a seus funcionários todos os materiais necessários à adequada operacionalização das suas funções. Deste modo, a falta de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), materiais de limpeza, materiais de escritório, etc., descumpre a lei, gera ócio no ambiente de trabalho e onera o empregador. Competitividade contenciosa Nas combinações de negócios, por exemplo nas empresas formadas por fusões e aquisições, a competitividade tende a ser contenciosa, não raro havendo superiores hierárquicos que utilizam os resultados do desempenho de alguns funcionários para intimidarem ou invejarem outros. Deste modo, o clima do ambiente de trabalho se torna contencioso, repleto de conflitos interpessoais, dificultando o exercício profissional o adequado funcionamento da organização do trabalho. Inexistência de uma política gestora de seu fluxo informacional O fluxo informacional da organização de trabalho precisa ser controlado. Murais informativos, treinamentos adequados, feedbacks por parte de superiores hierárquicos são fundamentais. A conscientização dos tipos de conversas permitidas dentro do ambiente de trabalho é necessária para se evitar fofocas capazes de denegrir a imagem dos funcionários, dos empregadores e da empresa. Por essa razão, é necessária a existência de uma politica gestora do seu fluxo informacional. Falta de ética O empregador quando deixa de cumprir as regras de seu regimento interno, ou quando algum de seus funcionários deixa de cumprir alguma normativa do código de ética da sua categoria profissional, comete falta de ética. Por essa razão, os contadores, os administradores, os pedagogos, os médicos, todas as categorias profissionais atuantes em uma organização do trabalho precisam conhecer bem o Código de Ética da sua categoria e cumprí-lo atentamente. Assédio moral O assédio moral se concretiza na organização do trabalho quando ocorre injúria, calúnia, difamação ou coerção de caráter sexual entre os seus stakeholders, isto é, os seus públicos de interesse, que incluem funcionários, empregadores, fornecedores, consumidores, governo, acionistas, mídia, etc.. Tabela 2. Tipificação da precarização social do trabalho. Elaborada pelo autor. Fonte: Revisão bibliográfica feita pelo autor. 33 Para exemplificar, em 2005, segundo o Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília através do artigo Resíduos sólidos estão entre os problemas emergenciais dos futuros prefeitos, haviam no Brasil mais de um milhão de trabalhadores que exerciam a catação de materiais recicláveis (COSTA; CHAVES, 2012). Apropriando-se das ideias presentes na literatura crítica sobre precarização, em especial ao que concerne aos recicladores, Costa e Chaves (2012, p. 5-7) destacam: […] o catador como o elo mais frágil da corrente que une o setor da reciclagem. […] os catadores insere-se a uma massa de trabalhadores sem unidade significativa, organização coletiva ainda embrionária para o trabalho (cooperativas e associações), cujos aspectos como exploração da força de trabalho e o subemprego são as características marcantes na constante busca de assegurar as condições mínimas de sobrevivência através da realização diária de formas de trabalho, em geral, extremamente precarizadas. […] Assim, na atual conjuntura de crise e reestruturação do capital e da metamorfose do mundo do trabalho fruto deste período, os trabalhadores que não se “enquadram” nas especificações e exigências cada vez maiores do mercado de trabalho podem e são reinseridosna lógica de reprodução do capital, como catadores. Desse modo, a organização dos trabalhadores catadores em associações e cooperativas pode ser entendida como uma forma de empenho coletivo de amenizar a precariedade e insegurança do trabalho na lógica desleal da reprodutividade do capital que apoiada na informalidade o espaço ideal para a ampliação dos ganhos com a recuperação dos materiais inutilizáveis e reintrodução dos mesmos no circuito produtivo via barateamento da matéria-prima. Tal possibilidade se dá graças ao trabalho de inúmeros trabalhadores catadores pelas ruas, lixões e aterros pelas cidades brasileiras. O grau ilimitado da monetarização4 e da mercantilização5 do trabalho e da vida é o que explica a estrutura capitalista atual. No fito de enriquecer, o capitalista banaliza os riscos, os acidentes e a saúde dos trabalhadores, desrespeitando normas fundamentais das relações de trabalho. As lideranças sindicais tornam-se fragilizadas na medida em que ideologias capitalistas tornam-se a sua lógica de funcionamento; muitas vezes, elas temem represálias da classe empresarial e, por essa razão, prefere acordos entre empregadores e trabalhadores mesmo quando existe a necessidade de reclamações trabalhistas e previdenciárias, bem como autuações por auditores fiscais do trabalho. O foco no capital faz com que funcionários tornem-se peças inanimadas, que geram “custos”, apenas necessárias para encher os bolsões de riqueza do empregador. No Brasil, a precarização se faz presente em todos os seus Estados, em todas as categorias profissionais; o empresário tem desrespeitado a legislação trabalhista, a 4Entende-se por monetarização do trabalho e da vida a transformação deles em capital, ativos financeiros, dinheiro, valor monetário, moeda. 5Entende-se por mercantilização do trabalho e da vida a transformação deles em mercadoria, algo comercializável, vendível, substituível, trocável, descartável, um mero instrumento de venda. 34 legislação previdenciária, os direitos constitucionais dos trabalhadores, além de normas de segurança de trabalho expedidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (DRUCK, 2011; FILHO, 2011; SCOMPARIM, 2009). Tal realidade capitalista alienada e alienante é comparada a um câncer que se alastra velozmente pelo planeta há alguns séculos, “destruindo meios de vida, deslocando povos, tornando impotentes as instituições democráticas, alimentando-se de vidas humanas, justificando o 'tudo por dinheiro'” (JADON, 2005, p. 163; MANDEL, 1967; MÉSZAROS, 2006; MARX, 1982). Nesse respeito, Jadon (2005, p. 163) conclui que “com essa dinâmica poderosa e perversa, tornando imperativo duplicar o dinheiro investido, trata as pessoas como fonte de ineficiências ao torná-las descartáveis sem se importar com o interesse público e os valores morais e éticos”. Outras reflexões sobre esta realidade são aquelas cujas palavras Mészaros (2006, p. 113), Marx (1982, p. 138), Mandel (1967, p. 185 e 196) e Druck (2011, p. 55) nos emprestam, conforme transcritas a seguir: (MARX, 1982, p. 138): Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos, o mais que possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua vontade, mas investigar o seu poder, os limites desse poder e o caráter desses limites. (MANDEL, 1967, p. 185 e 196): A abolição do regime capitalista torna então possível o enfraquecimento progressivo da produção mercantil, da divisão social do trabalho e da mutilação dos homens. A alienação não é 'suprimida' por um acontecimento único, assim como não apareceu de um só golpe. Ela se enfraquece progressivamente, assim como apareceu progressivamente. Ela não está de qualquer maneira ancorada na 'natureza humana' ou na 'existência humana', mas nas condições específicas do trabalho, da produção e da sociedade humanas. Pode-se pois entrever e precisar as condições necessárias a seu desaparecimento. […] Deve-se também compreender que essa impotência não é superada na prática senão quando os indivíduos realizam sua identidade com a sociedade através de uma atividade social fundada sobre uma ampla medida de decisões livres. Isso implica não somente uma autogestão integral do Trabalho ao nível da economia tomada no seu conjunto (não somente no processo de produção, mas ainda no de distribuição e de consumo), mas ainda um enfraquecimento do Estado e o desaparecimento de todas as relações humanas fundadas na coação e na opressão. (MÉSZÁROS, 2006, p. 113): Mas o uso da força de trabalho, o trabalho, é a própria atividade vital do trabalhador, a manifestação de sua própria vida. E ele vende essa atividade a outra pessoa para conseguir os meios de subsistência necessários. Assim, sua atividade é para ele apenas um meio que lhe permite existir. Ele trabalha para viver. Não considera nem mesmo o trabalho como parte de sua vida, é antes o sacrifício de sua vida. É uma mercadoria, que ele transferiu a outro. Daí, também, não ser o produto de sua atividade o objeto dessa atividade. O que ele produz para si mesmo não é a seda que tece, nem o outro que arranca do fundo da mina, nem o palácio que constrói. O que ele produz para si são os salários, e a seda, o ouro e o palácio se 35 resolvem, para ele, numa quantidade definida dos meios de subsistência, talvez num paletó de algodão, algumas moedas de cobre e um quarto num porão. E o trabalhador, que durante doze horas tece, fura, drila, constrói, quebra pedras, carrega pesos etc., considera essas doze horas como uma manifestação de sua vida, como vida? Ao contrário, a vida começa para ele quando essa atividade cessa; começa na mesa, no bar, na cama. As doze horas de trabalho, por outro lado, não têm significado para ele como tecelagem, mineração etc., mas como ganho, que o leva à mesa, ao bar, à cama. Se o bicho da seda tivesse de tecer para continuar sua existência como lagarta, seria um trabalhador assalariado completo. (DRUCK, 2011, p. 55): Na perspectiva do capital, a monetarização e a mercantilização das relações de trabalho transformam os direitos dos trabalhadores em “custos” (o “custo Brasil”, o “custo China”) e invadem também o ideário dos trabalhadores e de suas lideranças sindicais, que passam a interiorizar a lógica do mercado, tomando-a como sua. Isso é estimulado ainda pela concorrência entre os próprios trabalhadores, expressa em disputas regionais, a exemplo da guerra fiscal no país, que faz competir não somente os estados, através da ação de seus governos, mas também os trabalhadores de uma região com os de outra região. Tais transformações, ao tempo que reafirmam a essência do capitalismo, que transformou o trabalho em mercadoria, dão outra amplitude a essa relação social, ao enfraquecerem a capacidade de resistir e de questionar as novas condições impostas pelo capital, numa clara demonstração de uma atitude de resignação que, aos poucos, contamina até mesmo a capacidade de indignação diante das injustiças sociais, da negação dos direitos e da proteção social, encaradas como uma “fatalidade econômica”. Na conjuntura socioeconômica atual, as combinações de negócios, enquanto novas estruturas de produção e de trabalho, apoderam-se não somente do trabalho mas da vida dos trabalhadores, coisificando-os, fazendo-os trabalhar em prol dos seus objetivos capitalistas, extraindo todas as suas forças e capacidades egoisticamente, tirando não raro o seu tempo de lazer, de descanso, de espiritualidade, e até mesmo de vida cívica, fragilizando a sua saúde (DRUCK, 2011; MARX, 1982; MANDEL, 1967; MÉSZAROS, 2006; JADON, 2005; FILHO, 2011; SCOMPARIM, 2009; SOUTO, 2001; SIGNINI, 1999; RUSSO,2010). Sobre estes aspectos, Silva, Araújo e Barbosa (2014, p. 548) têm a dizer que “diversas transformações ocorreram no mundo do trabalho, e este por sua vez, perde o seu caráter de emancipação, socialização e humanização do homem, para então significar a condição de sua subsistência e sobrevivência”. 36 Maria da Graça Druck de Faria (2011), graduada em Economia pela UFRGS, mestre em Ciência Política e doutora em Ciências Sociais pela UNICAMP, professora universitária do Departamento de Sociologia da UFBA, pesquisadora do CNPq e da UFBA, atua principalmente nos seguintes temas: trabalho, flexibilização, precarização, reestruturação produtiva, terceirização, informalidade e sindicatos. No seu trabalho intitulado Trabalho, precarização e resistências: novos e velhos desafios?6, ela apresenta com detalhes seis tipos de precarização social do trabalho no Brasil, quais sejam: a) A vulnerabilidade das formas de inserção e desigualdades sociais; b) A intensificação do trabalho e a terceirização; c) A insegurança e saúde no trabalho; d) A perda das identidades individual e coletiva; e) A fragilização da organização dos trabalhadores; f) a condenação e o descarte do Direito do Trabalho. Sobre o primeiro tipo de precarização social do trabalho, a vulnerabilidade das formas de inserção e desigualdades sociais, Druck (2011) destaca que elas se manifestam, sobretudo, por meio da inserção informal no mercado de trabalho, isto é, sem registro na carteira, do desemprego, da dificuldade de inserção no mercado por parcelas da população em determinadas ocupações de determinados nichos de mercado, tais como dos deficientes, dos aprendizes, dos negros, dos índios, de estrangeiros, etc.; em cargos de liderança, estas parcelas raramente se posicionam. Druck (2011, p. 47) enfatiza: As formas de mercantilização da força de trabalho produziram um mercado de trabalho heterogêneo, segmentado, marcado por uma vulnerabilidade estrutural e com formas de inserção (contratos) precários, sem proteção social, cujas formas de ocupação e o desemprego ainda revelam, em 2009, um alto grau de precarização social. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios – PNAD 2009, havia 101,1 milhões de pessoas economicamente ativas no Brasil, com 8,4 milhões de desempregados e mais 8,2 milhões de pessoas com ocupações sem remuneração. Ou seja, são 16,6 milhões de pessoas (16,4%) economicamente ativas que estavam fora do mercado de trabalho. Sobre o segundo tipo de precarização social do trabalho, a intensificação do trabalho e a terceirização, Druck (2011) destaca que elas se manifestam, sobretudo, por meio de imposição de metas inalcançáveis, da extensão da jornada de trabalho e da polivalência7. Druck (2011, p. 48 e 49) salienta que ele: 6DRUCK, Graça. Trabalho, precarização e resistências: novos e velhos desafios?. CADERNO CRH, Salvador, v. 24, n. spe 01, p. 37-57, 2011. Disponível em <www.scielo.br/ pdf/ccrh/v24nspe1/a04v24nspe1.pdf>. Acessado em 05 de março de 2016. 7Entende-se por polivalência o acúmulo indevido de várias funções em um mesmo emprego, utilizado como estratégia administrativa de desoneração da contratação de novos funcionários em detrimento do sobrecarregamento de atividades por parte dos funcionários membros. 37 […] é encontrado nos padrões de gestão e organização do trabalho – o que tem levado a condições extremamente precárias, através da intensificação do trabalho (imposição de metas inalcançáveis, extensão da jornada de trabalho, polivalência, etc.) sustentada na gestão pelo medo, na discriminação criada pela terceirização, que tem se propagado de forma epidêmica, e nas formas de abuso de poder, através do assédio moral, que tem sido amplamente denunciado e objeto de processos na Justiça do Trabalho e no Ministério Público do Trabalho. […] Essa “epidemia” da terceirização, como uma modalidade de gestão e organização do trabalho, explica-se pelo ambiente comandado pela lógica da acumulação financeira que, no âmbito do processo de trabalho, das condições de trabalho e do mercado de trabalho, exige total flexibilidade em todos os níveis, instituindo um novo tipo de precarização que passa a dirigir a relação entre capital e trabalho em todas as suas dimensões. E, num quadro em que a economia está toda contaminada pela lógica financeira, sustentada no curtíssimo prazo, mesmo as empresas do setor industrial buscam garantir os rendimentos, exigindo e transferindo aos trabalhadores a pressão pela maximização do tempo, pelas altas taxas de produtividade, pela redução dos custos com o trabalho e pela “volatilidade” nas formas de inserção e de contratos. E a terceirização corresponde, como nenhuma outra modalidade de gestão, a essas exigências. Sobre o terceiro tipo de precarização social do trabalho, a insegurança e saúde no trabalho, Druck (2011) destaca que elas se manifestam, sobretudo, por meio de desrespeito por parte do empregador ao necessário treinamento dos trabalhadores, fornecendo-lhes todas as informações necessárias sobre a adequada execução das suas funções, sobre os riscos de acidentes no trabalho, sobre os seus direitos conquistados dentro da categoria profissional, sobre as medidas preventivas coletivas de acidentes no trabalho. Sobre este tipo, Druck (2011, p. 49) explana: […] Um importante indicador dessa precarização é a evolução do número de acidentes de trabalho no país, mesmo que reconhecidamente sejam estatísticas subregistradas. Em 2001, foram registrados 340,3 mil acidentes no país e, em 2009, eles atingiram o número de 723,5, ou seja, um aumento de 126% em 9 anos. É interessante observar que, a partir de 2007, o INSS passou a contabilizar os acidentes sem registro no Cadastro de Acidentes do Trabalho (CAT), que representaram para cada um dos últimos 3 anos (2007, 2008 e 2009) 27% do número total de acidentes. Além desse quadro, os estudos microssociais em empresas e organizações, no campo da Saúde Mental Relacionada ao Trabalho, definem uma “psicopatologia da precarização”, produto da violência no ambiente de trabalho, gerada pela imposição da busca de excelência como ideologia da perfeição humana, que pressiona os trabalhadores ignorando seus limites e dificuldades, junto a uma radical defesa e implementação da flexibilidade como “norma” do presente. Isso exige uma adaptação contínua a mudanças e novas exigências de polivalência, de um indivíduo “volátil”, sem laços, sem vínculos e sem caráter, isto é, flexível. Essa condição, agravada por outros imperativos típicos dos chamados padrões modernos de organização empresarial (competitividade exacerbada, rapidez ou velocidade ilimitada), tem gerado um cenário de adoecimento mental com expressões diversas, inclusive os suicídios. 38 Sobre o quarto tipo de precarização social do trabalho, a perda das identidades individual e coletiva, Druck (2011) destaca que elas se manifestam, sobretudo, por meio da ameaça permanente da perda de emprego resultante da descartabilidade promovida pelas forças exploradoras capitalistas, que não hesitam de demitir funcionárias grávidas, funcionários do grupo LGBT, deficientes, funcionários que por falta ou inadequado treinamento não conseguem alcançar as metas, funcionários que por motivos de força maior, por exemplo morte de ente querido ou problemas de saúde precisem se ausentar do seu labor, dentre outros casos. Com toda razão, Druck (2011, p. 50) faz questão de apontar que: O isolamento e a perda de enraizamento, de vínculos, de inserção, de uma perspectiva de identidade coletiva, resultantes da descartabilidade, da
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