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www.cers.com.br OAB 1ª FASE- XVIII EXAME Filosofia do Direito para Defensorias – Isolada Teórica Bernardo Montalvão 1 UMA BREVE APRESENTAÇÃO DO PENSAMENTO DE JOHN RAWLS. John Rawls foi um autor do século XX, que nasceu e morreu neste século (1921-2002) e que vivenciou de perto os seus problemas, em especial, a Guerra Fria. O problema que move Rawls é: “o que é uma sociedade justa?”. A partir de tal pergunta, Rawls chama para si a tarefa de propor uma Teoria da Justiça que propicie, a partir de bases realísticas, a aproximação maior possível de uma sociedade justa. Rawls é um liberal e, a partir do liberalismo, irá formular a sua Teoria da Justiça. Johw Rawls é um dos mais importantes e difundidos autores de Filosofia Moral e Política. Os dois mais importantes livros de John Rawls são: “Teoria da Justiça” e “Justiça como Equidade”. John Rawls almeja elaborar uma Teoria da Justiça que consiga conjugar os dois mais importantes valores do mundo moderno: a liberdade (valor supremo da vida humana) e a igualdade (valor fundamental na convivência entre os membros de uma comunidade política). A liberdade como valor maior que conduz o agir de cada indivíduo. E a igualdade, como valor-guia que orienta a convivência em sociedade. Ou seja, a liberdade como valor próprio da dimensão individual. E a igualdade, como valor típico da dimensão social. Valores que aparentemente são incompatíveis, ou que, pelo menos, as duas principais ideologias do século XX, e que marcaram a Guerra Fria, procuraram difundir como se fossem inconciliáveis. O liberalismo (na seara econômica, o capitalismo) fundado no valor da liberdade. E o marxismo (ou o comunismo) edificado a partir do valor da igualdade. O grande mérito de Rawls, portanto, foi perceber que era preciso elaborar uma Teoria da Justiça que combinasse os dois valores. A partir deste raciocínio, Ralws acredita que será possível responder a pergunta chave da Filosofia Moral e Política: o que é uma sociedade justa? O pensamento de Rawls não opera num tipo de “vácuo histórico”, ou em “um vazio teórico”. Ou seja, ele elabora a sua teoria a partir das experiências históricas da Filosofia Política, desde o século XVIII até o século XX. Logo, o seu pensamento se situa em um contexto histórico e partir das contribuições que a história lhe proporcionou. Não podendo ser visto, portanto, como um autor que propôs uma teoria justiça a-histórica, com a pretensão de ser perpétua, porque não contaminada pelo seu tempo. A Teoria da Justiça que Rawls irá propor é aquilo que ele chamou de “Teoria da Justiça como Equidade”. Equidade é a melhor tradução possível para o termo em inglês “fairness”. A sua Teoria da Justiça como Equidade parte de vários pressupostos, os quais ele apresenta em sua obra. Mas os três pressupostos mais importantes são: 1ºPRESSUPOSTO: 01) A vida humana em sociedade é marcada por uma escassez limitada (moderada) dos recursos naturais e por uma demanda infindável de pretensões ou, se preferir, por um desejo ilimitado de posse por parte dos indivíduos. OBS: os recursos naturais nem estão prestes a acabar, nem são ilimitados e abundantes. Eles existem na natureza, mas não em grande quantidade, de modo a que todos os indivíduos que participam da sociedade possam ter as suas pretensões satisfeitas. O que nos leva à conclusão que viver em sociedade é está exposto a um iminente e constante risco de conflito. Diante disso, então, Rawls percebe que o problema da justiça se torna o da justa www.cers.com.br OAB 1ª FASE- XVIII EXAME Filosofia do Direito para Defensorias – Isolada Teórica Bernardo Montalvão 2 repartição dos bens, pois eles não estão disponíveis para todos nem estarão disponíveis, necessariamente, para as gerações futuras. E, deste modo, a liberdade dos indivíduos deve ser o máximo responsável possível, pois das escolhas tomadas pela presente geração irá depender da existência das gerações futuras e, até mesmo, a existência do próprio planeta. 02º PRESSUPOSTO: 02) Reconhecimento do fato do Pluralismo (da existência de um desacordo profundo irredutível e instransponível entre as concepções de bem de cada indivíduo e grupo que compõe a sociedade moderna). Pluralismo das formas de vida. Ou seja, a sociedade moderna é fragmentada, não há uma só de visão de mundo compartilhada por todos, mas, sim, muitas visões de mundo, cada vez mais, e entre elas há uma desacordo profundo e que não tem como ser superado. O que se chama de “bem”, ou o que é considerado valioso, não é considerado por todos. Pelo contrário, cada vez mais, dentro da comunidade, tende haver muitas e variadas concepções ou compreensões de bem. Isto marca uma ruptura com o sistema de valores tradicionais (típicos das sociedades primitivas, segundo Weber), pois esses partem do pressuposto de que a Coletividade é fonte das obrigações morais e políticas. Porém, os PRINCÍPIOS FUNDADORES da Ordem Moderna são? a) Liberdade individual; b) Igualdade entre todos os indivíduos. Há, portanto, uma ruptura entre o modo de entender a Política na Moderna e o modo Clássico de compreender a Política. A Política Clássica (das sociedade pré- modernas) se propunha a cumprir as seguintes tarefas: a) Identificar o Bem Supremo (o ideal compartilhado por todos os membros da sociedade); b) Identificar a forma de organização política (o sistema de governo) que melhor conduzisse a realização do modo mais excelente de desenvolvimento da vida humana. Este entendimento é compartilhado por todos os autores clássicos: Platão, Aristóteles, Estóicos, Epicuristas, Santo Agostinho (exemplo, o modelo contido na obra “Cidade de Deus”), São Tomás de Aquino. Porém, na Política Moderna estas premissas modificam-se. E aí, os dois grandes ícones, cada um ao seu modo, desta virada na compreensão política são: Nicolau Maquiavel (1469-1527) e Thomas Hobbes (1588-1679). A filosofia política moderna, a partir destes dois autores passa a ter um papel fundamental, a saber: o de estabelecer princípios de justiça que possam regular a vida em comum de indivíduos que, embora divirjam sobre o sentido último da existência (indivíduos que nascem e permanecem livres e iguais em direitos e, por isso, divergem sobre o que vem a ser bem), convivem em uma mesma comunidade. Traços característicos da política moderna: a) Objetivo: Estabelecer princípios de justiça; b) Pressuposto: Indivíduos que não compartilham de uma mesma visão de mundo; c) Pressuposto: Indivíduos que convivem em uma mesma sociedade e que pretendem conservar os seus direitos naturais (e não, como na Antiguidade, na disseminação de um modo excelente de vida). d) Estas características aparecem com clareza e são transformadas em lei seja na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (de 1789), seja na Declaração de Independência Americana (1776). O século XVIII é marcado, então, pela: a) ruptura com o antigo regime, b) pela aceleração do modo capitalista de produção c) pela ascensão progressiva da burguesia ao Poder, www.cers.com.br OAB 1ª FASE- XVIII EXAME Filosofia do Direito para Defensorias – Isolada Teórica Bernardo Montalvão 3 d) E pela disseminação da cultura de progresso que terá os seus frutos a partir do séculos XIX, mas que se fará sentir a partir da primeira Revolução Industrial. Ou seja, na Filosofia Política Moderna, em especial, na Declaração de Independência Norte-Americana: a) o Poder Político deriva do consentimento dos cidadãos; b) Os direitos do homem sãonaturais e precedem à fundação do Estado; c) O Estado é fundado pelos cidadãos para que ele proteja e assegure aos homens os seus direitos; d) Uma vez que o Estado não cumpra o papel que dele se espera, o POVO tem o direito, por isso, de alterar ou abolir esta forma de governo. e) São direitos naturais a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Tudo isto acaba por colocar como o problema central da Filosofia Política Moderna: O PROBLEMA DA LEGITIMIDADE DO PODER POLÍTICO. O que coloca para a política um desafio, pois a convivência se transforma em um problema. O que explica porque, a partir daí, a palavra de ordem será TOLERÂNCIA. Para viver é preciso conviver e, para conviver, é preciso ser tolerante. O certo é que o Sentido último da existência humana, apesar de não ser dado pela política, passa a depender dela para que possa vir a ser realizado. Na Filosofia Antiga, cabe a Ética e a Política dizer qual é o sentido da existência humana e, a partir daí, disseminá-lo, o que acabaria por torná-lo compartilhado por todos ou pela maioria. Agora, a partir da Modernidade, não cabe mais a Ética ou a Política dizer qual é o sentido último da existência humana. Cada indivíduo estabelecerá, para si próprio, o sentido de sua existência. O problema da Política passa a ser, então, proporcionar a cada um desses indivíduos que eles possam alcançar o seu ideal de vida, sem que com isso fique inviabilizada à convivência social. John Rawls dirá, então, que só será possível fazer Filosofia Política séria, no século XX, uma vez que se tome como pressuposto o Fato do Pluralismo (Fragmentariedade Social ou a Diversidade de Ideais de vida). Por isso, Rawls admite que a tendência é que os indivíduos entrem em divergência, ao invés de chegarem a um consenso, uma vez que não há mais uma meta-narrativa que seja difundida entre eles. Pelo contrário, a liberdade dos indivíduos tende a multiplicar, de forma exponencial, as visões de mundo. Logo, se cada homem utiliza a sua razão de forma livre, a tendência é que cada uma tem a sua própria compreensão de mundo. A única forma de inibir isso, segundo Rawls, seria o Fato da Opressão, isto é, o empenho de um Poder Político para que os seus cidadãos comunguem de uma mesma visão de mundo (de uma mesma concepção de bem). A tendência da sociedade moderna, segundo Rawls, não é a da homogeneização de uma só concepção de bem, mas, sim, que se mostre, cada vez com mais força, o fato do pluralismo. Quando a questão é: o que é dignidade humana? Não haverá consenso. Diante disso, pergunta Rrawls: qual é o problema da Filosofia Política Contemporânea? a) Como estabelecer Princípios de Justiça (regras de comportamento) que regulem a vida em sociedade, em meio a diversidade e conflito de opiniões sobre o que seja o sentido último da existência. OBS: Este desafio, Rawls denomina como o NÓ GÓRDIO (a novidade) da Filosofia Política Contemporânea. 3º PRESSUPOSTO: AS CAPACIDADES MORAIS DE CADA INDIVÍDUO. Este pressuposto é decorrente do anterior. Este é pressuposto é o do reconhecimento de que todos os membros da sociedade são compreendidos como indivíduos racionais e razoáveis. Ou seja, indivíduos capazes de formular uma concepção do bem (uma visão de mundo ou um sentido para sua vida) e de desenvolver um senso de justiça. Rawls entende que todo cidadão é dotado destas duas capacidades ou poderes morais (inerentes): www.cers.com.br OAB 1ª FASE- XVIII EXAME Filosofia do Direito para Defensorias – Isolada Teórica Bernardo Montalvão 4 a) A racionalidade – ele é capaz de criar um sentido para sua vida; ser capaz de criar e escolher fins (ou metas), de dotar-se dos meios adequados e eficazes para atingi-los (racionalidade meios e fins; racionalidade técnica ou científica), ou mesmos de rever os fins que haviam escolhido; A razoabilidade – ele é capaz de desenvolver um senso de justiça. Cada individuo sabe o que é respeitar os termos equitativos da cooperação social. A razoabilidade é capacidade de conjugar o livre-arbítrio de cada um no ambiente de uma lei universal que assegure a todos a liberdade em que todos possam compartilhar dela em comum. Logo, quando o indivíduo pretende realizar os seus fins, ele não pode pensar a realização dos fins dos outros como um obstáculo a realização dos seus fins, sob pena de colocar em dúvida a lei universal da liberdade. O que é, então, a razoabilidade? É a capacidade que todo ser humano tem de perceber que os fins por ele elegidos podem não ser os melhores fins para promover a convivência social, ou que eles podem não ser aceitáveis por todos os demais homens. Os quais podem avalia-los a partir de critérios e pesar na balança até que ponto aqueles são os melhores fins, ou os mais aceitáveis. OBSERVAÇÃO: E nisto reside o terceiro pressuposto da Teoria da Justiça de Rawls, a capacidade de tentar conjugar a racionalidade dos indivíduos com a razoabilidade dos seus fins. Exemplo: a sociedade admite, racionalmente, uma pluralidade de credos religiosos, mas não julga razoável que um determinado credo pratique rituais macabros e sacrifícios com crianças. AGIR DE ACORDO COM OS PRINCÍPIOS OU REGRAS: Logo, para Rawls, agir de acordo com princípios não é apenas agir em conformidade com eles (o que a vida social nos impõe é que nossas ações estejam em conformidade com as normas, logo, qualquer sujeito, usando a sua razão estratégica, é capaz de agir de modo a não transgredir a norma, mas isso não significa que ele seja capaz de ele fins razoáveis). Vale, aqui, lembrar Aristóteles quando ele dizia que a justiça era uma virtude humana, pois ela não foi feita nem para os deuses nem para as bestas. Logo, ainda segundo Aristóteles, uma sociedade com justiça faz com que os homens se assemelhem aos deuses. Sem ela, os homens se tornam a pior das bestas. Do que se conclui que há uma diferença entre agir em conformidade com o dever (os princípios de justiça) e agir segundo critérios de justiça aos quais o homem dá a sua aquiescência por considerá-los corretos. Exemplo: Uma coisa é não furar a fila, por considerar que se trata de uma regra democrática válida e fundamental porque segue ao princípio de que o último chegado deve ser o último a ser servido, salvo em casos excepcionais, como, por exemplo, no caso dos idosos. Outra coisa, muito diferente, é a pessoa que obedece a fila ou porque não conhece um jeito de burlá-la, ou porque teme uma eventual sanção. TESE PRINCIPAL: Baseado nestes três pressupostos, Rawls afirma que não é possível encontrar os princípios capazes de ordenar a estrutura básica de uma sociedade, a não ser quando os indivíduos procurem estes princípios no contexto de uma situação peculiar, que ele, Rawls, chama de POSIÇÃO ORIGINAL. E mais, que os indivíduos estejam submetidos a condições restritivas, que Rawls chama de VÉU DA IGNORÂNCIA, de modo que os indivíduos não possuam informações sobre a situação particular e as características pessoais que serão suas na sociedade para qual eles elaboram o princípio de justiça. www.cers.com.br OAB 1ª FASE- XVIII EXAME Filosofia do Direito para Defensorias – Isolada Teórica Bernardo Montalvão 5 Segundo Rawls, os três elementos fundamentais de uma concepção política da justiça, são: a) Objeto da Teoria da Justiça – é a estrutura básica da sociedade – a quem cabe formular as regras que irão regular a sociedade; b) O Modo de apresentação da teoria da justiça (ou método de justificação): como alcançar ou elaborar estas regras – partindo-se da PosiçãoOriginal; c) Conteúdo da Concepção Política da Justiça – a justiça é a virtude cardeal das instituições e regras que irão regular a vida em sociedade – as regras elaboradas devem ser justas. O que é a ESTRUTURA BÁSICA? São as principais instituições políticas, sociais e econômicas de uma sociedade e como estas instituições se encaixam em um sistema de cooperação social ao longo do tempo. O foco, aí, é voltado às instituições que tem como função determinar direitos e deveres aos cidadãos, bem como às instituições que tem como função contribuir para repartição dos bens (bônus) e ônus do viver em sociedade. E viver em sociedade é está sujeito a bônus e ônus. Bônus: a vida em sociedade proporciona uma série de coisas que ele sozinho seria incapaz de alcançar (represar água para o período de seca). Ônus: se submeter aos limites impostos pela sociedade. O que há de mais original na teoria de Rawls são método e o conteúdo da sua concepção. Qual é o método? Uma nova forma de contrato social, o qual não toma como premissa o Estado da Natureza (de Rousseau, Hobbes e Locke). Para ele, o que antecede ao contrato social é o que ele chama de POSIÇÃO ORIGINAL (que é o seu método). Para Hobbes, por exemplo, no Estado da Natureza, o “homem é o lobo do homem”. Não há justiça nem injustiça, pois não há critérios, onde todos possuem direitos ilimitados. Logo, segundo Hobbes, é o medo da morte violenta que leva os homens a assinarem o contrato social dando poderes ao Estado Leviatã. No que Locke (1632-1704) discorda dele. Locke parte da ideia do Estado da Natureza, mas não conclui que é necessário um Estado Absolutista, mas, sim, uma Democracia Parlamentarista. Isto porque, segundo Locke, não faz sentido abrir mão da liberdade natural para entrega-la a um tirano que pode usurpar o direito que levou o cidadão a assinar o contrato social e a querer viver em sociedade. Já para Rousseau (1712-1788), a imagem do homem no Estado da Natureza era a de um Homem Puro e bom, que não se corrompeu ainda, mas que a vida em sociedade é que o corrompe. O que há em comum entre os Contratualistas? O homem não é um ser naturalmente político. Ao contrário, o Estado e a Sociedade são constructos, são artifícios inventados pelo homem para que consigamos conviver em comum. Para Rawls, a ideia do contrato social é muito importante para que seja possível fazer a contraposição da situação anterior a ele com a situação que a ele se segue. Mas como Rawls não está preocupado com a Origem da Sociedade, nem tampouco com a Legitimidade do Poder Político, ele coloca no lugar do contrato social o que ele chama de Posição Original. A posição original, segundo Rawls, é uma situação na qual os participantes, que não são todos os indivíduos, são representantes deles. Uma situação que não é real, não é um acontecimento histórico que um dia aconteceu ou que pode vir a acontecer, mas, sim, uma situação hipotética, um modelo de representação. E nesta situação os participantes decidem os princípios de organização das Instituições Básicas da Sociedade, estando eles, os participantes, envolvidos por um véu de ignorância. O que é o véu de ignorância? Os participantes são colocados na posição original sem conhecer suas posições na vida real. Nesta situação, www.cers.com.br OAB 1ª FASE- XVIII EXAME Filosofia do Direito para Defensorias – Isolada Teórica Bernardo Montalvão 6 imagina Rawls, a justiça poderá se manifestar. E, por quê? Porque ela, a justiça, se manifestará, poderá aflorar a partir da Imparcialidade do Procedimento adotado. Para que isto seja possível, é preciso que os indivíduos encobertos pelo véu, desconheçam os seus atributos físicos, naturais e psicológicos. Ou seja, os representantes não sabem se são homens ou mulheres, se serão pretos ou brancos, se serão ricos ou pobres e etc. Estes indivíduos, sobretudo, ignoram as suas concepções de bem e seus projetos de vida. Mas Rawls afirma, porém, que estes indivíduos não ignoram que terão uma concepção do bem, e nem ignoram certos bens básicos que toda concepção necessita para se desenvolver, bastando, então, que estes indivíduos possuam Bens Primários (primary goods). Mas eles não sabem quais serão as suas concepções particulares sobre estes bens que eles irão buscar ao longo da vida. E é importante que não saibam, para que suas posições ou opiniões sobre o que é a justiça não venham a ser determinadas por uma concepção particular de qual é o fim último da vida humana. Os representantes que estão na posição original devem também ignorar o estado de desenvolvimento da sociedade para qual elaboram os princípios de justiça, bem como a história pregressa dela. O princípio de que o outro é um fim em si mesmo (logo, nunca pode ser tratado como um meio); O princípio de negação à tese utilitarista – pois a tese utilitarista admite, implicitamente, a premissa sacrificial, a de que se for para o bem da coletividade, devemos sacrificar, eventualmente este ou aquele individuo. Mas se nenhum dos indivíduos sabe qual deles será o sacrificado, então, nenhum deles, na posição original, admite o princípio da utilidade. A tese de Rawls é que a sua Teoria da Justiça pode ser uma alternativa clara em contraposição ao Utilitarismo, na medida em que ela é inspirada em um princípio ético fundamental, segundo o qual o Outro jamais pode ser utilizado como um simples meio para atingir os meus próprios fins. O conteúdos dos princípios de justiça: Segundo Rawls, a Teoria da Justiça como Equidade ela defende dois princípios de justiça que seriam escolhidos, necessariamente, na posição original: a) Princípio da Igual Liberdade para todos – assegura que a sociedade irá assegurar ao máximo os direitos básicos (humanos ou fundamentais) a todos os indivíduos. b) Princípio segundo o qual as desigualdades econômicas e sociais devem ser distribuidas de tal forma que: b.1.) garantam os maiores benefícios possíveis aos menos favorecidos – Rawls chama de Princípio da Diferença; b.2.) estejam vinculadas a tarefas e posições acessíveis a todos em circunstâncias de justa igualdade de oportunidades – Rawls de princípio da igualdade de oportunidades; OBS: Segundo Rawls, o primeiro princípio tem prioridade sobre o segundo e a segunda parte do segundo princípio tem prioridade sobre a primeira parte do segundo princípio. Como cada indivíduo teria dons, talentos e capacidades diferentes, naturalmente, as liberdades iriam acarretar, com o tempo, desigualdades sociais e econômicas. Para resolver o problema das desigualdades, Rawls, então, propõe que: a) O acesso aos postos e lugares de poder dentro da sociedade seja baseado no princípio da igualdade de oportunidades; Ou seja, haverá disputas pelos cargos, logo, haverá mérito, mas irá se garantir a mesma oportunidade a cada um do indivíduos de se poder aceder aos cargos de poder dentro da sociedade. b) E, sabendo que haverá, com o tempo, desigualdades econômicas, os indivíduos na posição original irá defender que se assegure os maiores benefícios possíveis www.cers.com.br OAB 1ª FASE- XVIII EXAME Filosofia do Direito para Defensorias – Isolada Teórica Bernardo Montalvão 7 aos menos favorecidos, de sorte a reduzir as desigualdades. Logo, estas pessoas não escolheriam nem o princípio de uma utilidade máxima nem o de uma utilidade mínima ou média. Elas escolheriam, segundo Rawls, o princípio do MAXIMIN. O termo maximin significa MAXIMUM MINIMORUM. Ou seja, todos escolheriam o máximo do mínimo. Regra do Maximin: “A regra maximin estabeleceque se deve ordenar as alternativas em função das piores dentre as respectivas consequências possíveis” (citação de Rawls). Ou seja, deve-se adotar a alternativa cuja a pior consequência seja superior a cada uma das piores consequências das outras alternativas. Exemplo: suponha que você tem um certo número de recursos a distribuir. Rawls diz que você irá preservar melhor a ideia (de justiça) de que estes recursos serão melhor distribuídos quando garantir: a) Mais para cada um; b) Mas desde que se tenha a certeza de que se favorece ao máximo a quem estiver na pior posição. Pensar o contrário, segundo Rawls, é admitir que os representantes na posição original são jogadores de pocker que blefam, que dizem para si mesmo: “eu posso me dar bem...”. Ao que Rawls responde que: “escolher princípios de justiça não é jogar ficha em cima de uma mesa, pois o blefe, do mesmo jeito que permite ao jogador vencer o adversário, ele também pode levar o jogador a bancarrota”. Logo, o princípio da razoabilidade irá impedir que o indivíduo na posição original atue como free rider (arrisca tudo na tentativa de ganhar). EM SUMA: Para Rawls, uma sociedade justa irá conjugar os valores da liberdade e da igualdade.
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