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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O PAPEL DA MUSICOTERAPIA EM UMA EQUIPE TÉCNICA DE REABILITAÇÃO Por: Celanira Liberatori Velasques Lima Orientador Prof. Celso Sanchez Pereira Rio de Janeiro 2004 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O PAPEL DA MUSICOTERAPIA EM UMA EQUIPE TÉCNICA DE REABILITAÇÃO Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicopedagogia. AGRADECIMENTOS ... à Deus pela minha saúde e disposição, ao meu pai no sua confiança e apoio e aos meus filhos por compreenderem a minha ausência em certos momentos. DEDICATÓRIA Dedico esta Monografia as pessoas mais importantes em minha vida: ao meu pai Ary Velasques o amigo de todas as horas e aos meus filhos Rodrigo e Leandro Velasques os responsáveis pelo meu amadurecimento enquanto mãe e mulher. O amor e o carinho de vocês alimentam cada dia mais a minha ânsia de viver. RESUMO A musicoterapia em uma equipe técnica de reabilitação tem como objetivo realizar um trabalho integrado visando o crescimento da criança com necessidades especiais, possibilitando o desenvolvimento das suas potencialidades. Musicoterapeuta, fisioterapeuta e fonoaudióloga atuam com crianças com Síndrome de Down, Encefalopatia Crônica da Infância e Autistas separados ou em grupos de acordo com a patologia. O trabalho visa mostrar qual seria o papel da musicoterapia neste tipo de atuação onde terapeutas realizam um trabalho em conjunto na mesma sala, com o mesmo grupo de crianças ou com uma única criança. Os portadores da Síndrome de Down formam um grupo constituído por 6 crianças com idade cronológica entre 6 e 8 anos. As sessões são semanais com uma hora de atendimento, onde inicialmente fisioterapeuta e musicoterapeuta atuam em conjunto. Atualmente realiza-se duas sessões semanais de 30 minutos, onde em uma a fisioterapeuta e a musicoterapeuta atuam em conjunto e outra atuam fonoaudióloga e musicoterapeuta. Além desses atendimentos as crianças são atendidas também nos setores de terapia ocupacional e de psicologia periodicamente na neurologista. Os portadores de Encefalopatia Crônica da Infância com idade cronológica entre 6 e 8 anos constituem um grupo de 3 crianças. As sessões são semanais com meia hora de atendimento onde fisioterapeuta e musicoterapeuta atuam em conjunto, além desses atendimentos as crianças são atendidas também nos setores de fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia e periodicamente na neurologista. As crianças com aquisição de comportamento autista formam um grupo de cinco, com idade cronológica entre 3 e 5 anos. As sessões são semanais com uma hora de atendimento onde fisioterapeuta, musicoterapeuta e fonoaudióloga atuavam em conjunto. Atualmente o grupo foi subdividido e fonoaudióloga e musicoterapeuta atuam em conjunto. Além desses atendimentos as crianças são atendidas também nos setores de fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia e periodicamente pela neurologista. Não se pretende fazer uma análise profunda no tratamento de cada grupo individualmente, a proposta é sim traçar a atuação da musicoterapeuta e algumas atividades realizadas no atendimento de grupo de crianças com patologias diferentes e com a atuação de outras terapeutas, no caso, fisioterapeuta e fonoaudióloga. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I – O que é Musicoterapia 15 CAPÍTULO II – Teoria Utilizada – Humanismo (Rogrs) 19 CAPÍTULO III – As Patologias estudadas 22 CAPÍTULO IV – Estudo de casos 30 CAPÍTULO V – Um olhar musicoterápico 44 CONCLUSÃO 51 BIBLIOGRAFIA 53 ÍNDICE FOLHA DE AVALIAÇÃO 55 56 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo mostrar a influência da música no desenvolvimento de crianças com necessidades especiais. Demonstrar através do relato de casos, como a musicoterapia facilita o tratamento, uma vez que as crianças estão disponíveis ao trabalho com a música. Os exercícios no campo motor e na área da fala se tornam mais gratificantes e é, através da música, que muitas vezes se consegue os primeiros contatos com crianças autistas. Utiliza-se a música para a abertura de canais de comunicação. Este relato foi com base no trabalho desenvolvido por uma equipe técnica do Centro Carioca de Reabilitação., uma clínica de reabilitação localizada em Cascadura, no Rio de Janeiro. A equipe técnica é constituída por duas fonoaudiólogas, duas fisioterapeutas, uma musicoterapeuta, uma psicóloga encarregada no trabalho com as crianças e outra fazendo o acompanhamento com as mães, uma terapeuta ocupacional, uma assistente social, uma pedagoga e uma neurologista. O trabalho da equipe é um trabalho integrado, no qual as terapeutas, com horários pré-fixados, de acordo com as suas disponibilidades e com o grupo a ser trabalhado atuam em conjunto, por exemplo, fonoaudióloga e musicoterapeuta atuam com um grupo, ou psicóloga e musicoterapeuta ou musicoterapeuta, fonoaudióloga e fisioterapeuta. As crianças são atendidas em grupos. Esses grupos são formados pelos seguintes critérios: patologia e idade mental. Essa idéia surgiu devido necessidade dos técnicos de enriquecerem seus métodos de trabalho e consequentemente fornecer melhores meios para que as crianças pudessem desenvolver suas potencialidades. O primeiro passo é o conhecimento que uma terapeuta deve ter da outra, formando dessa forma uma dupla terapêutica. É importante o entrosamento no trabalho realizado para que não sejam dados estímulos dúbios e para que a criança se sinta segura na sala de atendimento terapêutico. Seguimos então para o segundo passo que é a realização do rapport com os pacientes. Estabelecida a relação terapêutica desenvolveremos atividades, realizadas de acordo com as necessidades das crianças. As atividades serão utilizadas de acordo com o mundo da criança, daí ser realizada anteriormente entrevista com o responsável, a ficha terapêutica e a testificação musical. Os pacientes são encaminhados para a musicoterapia pela neurologista ou por outros técnicos da equipe ( fisioterapeuta, fonoaudióloga, psicólogos, terapeuta ocupacional, assistente social ou pedagoga ) quando julgam haver necessidade. O papel da musicoterapia neste tipo de trabalho será o de facilitar o atendimento da fonoaudióloga ou da fisioterapeuta, uma vez que as crianças demonstram um interesse muito grande pela música ( ritmo, melodia, harmonia ) e pelos instrumentos musicais. Os objetivos terapêuticos irão variar de acordo com o grupo que está sendo atendido e com a terapeuta que estará atuando. Serão desenvolvidas atividades lúdicas buscando-se trabalhar as dificuldades de cada paciente. São utilizados instrumentos de percussão simples para que os pacientespossam manipula-los com facilidade e desta forma se sentirem gratificados. Esses instrumentos são: chocalhos, pandeiros, cocos, guizos, tambores, maracás, afoxés, reco-reco e outros. Pode-se ainda utilizar o piano e o violão. Faz-se uso do gravador com fitas com músicas infantis ou fitas virgens para que as sessões possam ser gravadas. Cantar músicas infantis substituindo a letra por determinadas sílabas ou vogais, cantar músicas infantis realizando gestos ou não, produzir ritmos simples com os instrumentos ( diálogo musical ou espelho ), produzir ritmos emitindo sons com vogais, sílabas ou palavras, produzir vocalmente vogais, sílabas ou palavras com intervalos melódicos simples ( utilizando a 3ª menor descendente ) utilização da vibração do tambor, do violão, do gravador ou do circulador de ar como meio de comunicação, utilização dos instrumentos e da música, para a abertura de canais de comunicação são atividades da musicoterapia realizadas junto ao setor de fisioterapia e fonoaudiologia. Para melhor relatar o papel da musicoterapia, alguns casos serão descritos e conseqüentemente se chegará a algumas conclusões. Não se pretende aprofundar no tratamento de cada grupo separadamente, mas sim traçar a atuação da musicoterapeuta e algumas atividades realizadas no atendimento de grupo de crianças com patologias diferentes e com a atuação de outras terapeutas, no caso fisioterapeuta e fonoaudióloga. Como ocorre o entrosamento das terapeutas? Como se dá a elaboração dos objetivos? Por que a utilização de determinadas músicas? Qual o papel da musicoterapia? Observamos com o relato das sessões, que as terapeutas atuam em conjunto buscando os mesmos objetivos. Há um intercâmbio de conhecimento, de técnicas e uma terapeuta auxilia a outra. Os objetivos da musicoterapia são traçados de acordo com a patologia de cada criança e de acordo com a terapeuta que atuará em conjunto com a musicoterapeuta. Uma criança com Encefalopatia Crônica da Infância (E.C.I.) é geralmente atendida com a fisioterapeuta e busca-se trabalhar com maior ênfase a parte motora, embora o seu desenvolvimento como um todo nunca seja esquecido. As crianças com Síndrome de Down são atendidas tanto pela musicoterapeuta e fonoaudióloga, como a musicoterapeuta e a fisioterapeuta e os objetivos das sessões vão variar de acordo com a terapeuta que estiver na sala. É evidente e essencial que o primeiro objetivo seja o rapport, seja qual for as terapeutas que estiverem atuando e que patologia estiver sendo atendida. As músicas utilizadas fazem parte do mundo sonoro da criança e consequentemente são muito bem aceitas por elas, o que facilita o caminho para atingir os objetivos traçados. Por serem utilizados instrumentos de percussão de fácil manipulação o desenvolvimento das atividades é favorecido, levando-se em consideração que as crianças demonstram interesse e prazer em utilizá-los. O uso dos mesmos varia de acordo com o grupo trabalhado. O trabalho realizado pela equipe é um trabalho entrosado. Durante a atuação da musicoterapeuta em conjunto com a fisioterapeuta ou com a fonoaudióloga serão trabalhadas determinadas atividades que serão reforçadas pelas terapeutas no decorrer de outras sessões na qual estiverem atuando isoladamente. O relato das sessões visa demonstrar como a musicoterapia facilita o tratamento, uma vez que a criança está sempre aberta ao trabalho com a música e como os exercícios da fisioterapeuta e da fonoaudióloga se tornam mais gratificantes, bem como, se terá a certeza que a criança portadora de necessidades especiais podem modificar o seu potencial de aprendizagem, à partir do momento em que elas estiverem sendo orientadas através de um processo de conforto e segurança afetiva associados a programas adequados e que para o crescimento dessas crianças o importante é acreditar e investir. “ Não basta proporcionar uma atmosfera relacional envolvente e encantatória, o que é efetivamente muito importante, e necessário, contudo, ser mais perseverante na busca de objetivos, na exploração de currículos, na estruturação de tarefas, na sequencialização do processo de informação e de interação, na implementação minuciosa de sistemas de reforço e de socialização.” Ballone GI – Deficiência mental – in Psiq. Web, Internet, disponível < htp sites. uol . com . br / gballone / infantil / dml . html Este trabalho tem como objetivo contribuir para as pessoas que acreditam que a criança portadora de necessidades especiais possuem um potencial para a mudança, respeitando o processo individualizado de cada uma delas. O conteúdo deste trabalho será descrito de forma simples, porém abrangente, objetivando com sua leitura, um bom entendimento do que seja a musicoterapia e o seu papel em uma equipe técnica de reabilitação. No primeiro capítulo será feito um relato do que é a musicoterapia e a sua área de atuação. A Teoria Humanista ( Rogeriana ), utilizada pelas terapeutas, durante o tratamento, será abordada no segundo capítulo. O terceiro capítulo se encarregará de descrever as patologias ( Síndrome de Down, Encefalopatia Crônica da Infância e Autismo ) que são abordadas no decorrer deste trabalho. No quarto capítulo será descrito o local de atendimento, os grupos em atendimento e um pequeno histórico das crianças que estão sendo atendidas. O relato das sessões propriamente dito, com os seus objetivos, instrumentos utilizados e exemplo de algumas sessões serão descritos no quinto capítulo. Na conclusão serão traçadas considerações e observações tidas como essenciais ao longo do desenvolvimento do texto. I . O QUE É MUSICOTERAPIA? Neste capítulo será descrito o que é a musicoterapia, a técnica que se utiliza na musicoterapia, a quem a musicoterapia pode beneficiar, o papel da musicoterapia em uma equipe médica e os seus objetivos. Rolando Benezon enriquece esta nova ciência, inserida entre as disciplinas paramédicas, dando ênfase ao extraordinário poder do som, da música e do movimento aplicados no processo terapêutico, abrindo nos pacientes novos canais de comunicação. Eminente psiquiatra, talentoso compositor, possui conhecimentos que lhe permitem abordar com segurança os múltiplos aspectos da musicoterapia. Segundo Rolando Benezon, no ponto de vista científico: “A musicoterapia é uma especialização científica que se ocupa do estudo e investigação do complexo som/ser humano, seja o som musical ou não, tendente a buscar os elementos diagnósticos e os métodos terapêuticos do mesmo.” Benezon,1985, pág. 11 A musicoterapia é uma técnica que utiliza o som, a música e o movimento como objeto intermediário entre o paciente e o terapeuta. Pode-se se observar em nosso dia-a-dia, que a música ou o som atuam em nosso corpo, gerando diversas influências, sendo estas dependentes do tipo de música ou som. A musicoterapia é o uso da música para melhorar o funcionamento físico, psicológico, intelectual ou social de pessoas que têm problemas de saúde ou educativo. A musicoterapia também pode ser definida como: “Um processo de intervenção sistemática, na qual a terapeuta ajuda o paciente a obter a saúde através da experiência musical e das relações que se desenvolvem através delas.” Bruscia, 1988 Defining Music Therapy Nh: Barcelona Publishers A musicoterapia é usada com crianças, adultos e pessoasda 3ª idade com diferentes problemas físicos, emocionais, intelectuais ou sociais. Também se utiliza com pessoas que não estão doentes. Ela é usada para melhorar o bem estar pessoal, melhorar o aprendizado, para melhorar as relações interpessoais, para o tratamento do estresse. Nas crianças é utilizada para melhorar a auto estima e a atenção e concentração, a coordenação, o aprendizado e a socialização. A quem a musicoterapia beneficia? Crianças com: Dificuldade de aprendizagem Problemas de conduta Transtornos profundos do desenvolvimento ( autistas) Deficientes mentais Encefalopatia Crônica da Infância Dificuldade de socialização Baixa auto estima Transtornos médicos crônicos e/ou degenerativos ( câncer, cardiopatas, problemas de dor ) Pessoas com: Enfermidades degenerativas devido a idade Problemas de farmacodependência e abuso de substâncias Dano cerebral devido a enfermidades degenerativas ou acidentes Problemas de dor agudo ou crônico devido a diversas condições Pessoas com enfermidades terminais Pessoas que não possuem problemas de saúde: Reduzir o estresse através de fazer e escutar música Apoio ao processo de parto nas mulheres Aumentar a criatividade e a capacidade de resolver problemas Para diminuir a ansiedade Para melhorar a auto estima Para melhorar o estresse A musicoterapia permite as pessoas: Explorar seus sentimentos Fazer relações positivas no estudo do seu ânimo com o seu estado emocional Desenvolver um sentido de controle de sua vida através de experiências de êxito Aprender a por em prática habilidades para resolver problemas e conflitos Melhorar as habilidades de socialização O trabalho do musicoterapeuta só se pode entender como integrante de uma equipe médica, como é o de todo auxiliar da Medicina, e, portanto, deve-se dar ênfase ao papel específico que executa a musicoterapia. O musicoterapeuta não realiza a psicoterapia do paciente, porém ajuda a aprofundar muitos dos núcleos inconscientes e mobiliza ansiedades rígidas. Por isso, o trabalho da musicoterapia está intimamente relacionado com o do psiquiatra e do psicólogo. O musicoterapeuta não realiza a terapia física, porém favorece a aplicação e os resultados da mesma. O musicoterapeuta não realiza a educação musical no infradotado, porém abre os distintos canais de comunicação para empreender o processo educativo, por isso, deve estar integrado na equipe psicopedagógica. Isto é, o musicoterapeuta deve levar a cabo a difícil tarefa de não ter limites de ação, mas que seus limites são a abertura de canais de comunicação para outras terapias. É importante que a musicoterapia, mais do que qualquer outra especialidade, deve trabalhar em equipe. O musicoterapeuta que trabalha só ou isolado terá complicações: se seu paciente é doente mental, devido à necessidade de usar elementos da psicoterapia, quando se trata de dificuldades motoras, em utilização de técnicas de reeducação motriz, e, se for infradotado, em utilizar elementos de educação especializada. Por outro lado, é evidente que uma equipe de saúde será altamente beneficiada com a presença da musicoterapia. Portanto a musicoterapia busca desenvolver potenciais e restaurar funções do indivíduo para que alcance uma melhor organização intra1 e interpessoal2. Através do fazer musical, a musicoterapia possibilita a prevenção, o tratamento e/ou a reabilitação do indivíduo, de forma a lhe proporcionar uma melhor qualidade de vida. Sendo assim, no ponto de vista terapêutico Rolando Benezon afirma: “A musicoterapia é uma disciplina paramédica que utiliza o som, a música e o movimento para produzir efeitos regressivos e abrir canais de comunicação, com o objetivo de empreender através deles o processo de treinamento e recuperação do paciente para a sociedade.” Benezon, 1985, pág.11 Desta forma, pode-se se observar um vasto campo de utilização da musicoterapia e os benefícios que a mesma pode trazer no tratamento de diversas patologias, sobretudo quando integrada em uma equipe técnica de reabilitação, visando sempre propiciar formas de se tornar o tratamento mais prazeroso objetivando oferecer ao paciente uma melhor qualidade de vida no meio em que está inserido. 1 Intrapessoal – no interior do indivíduo 2 Interpessoal – entre os indivíduos II . TEORIA UTILIZADA – HUMANISMO (ROGERS) Este capítulo visa descrever a teoria utilizada no processo terapêutico. Durante todo o processo o paciente é visto como um ser único, com alto nível de potencialidade a ser desenvolvido. Como o papel da musicoterapia é o de abrir canais de comunicação para facilitar o tratamento, utiliza-se então uma teoria onde o papel do terapeuta é de facilitador do processo terapêutico. Uma proposta Rogeriana, da qual a equipe técnica de reabilitação lança mão objetivando um melhor desenvolvimento do paciente. Para isso é preciso adotar em relação ao seu paciente uma atitude de profundo respeito, de aceitação total do paciente tal como ele é e de confiar nas suas potencialidades para resolver os seus próprios problemas. Se estas atitudes estiverem impregnadas de suficiente calor para transformarem numa simpatia ou numa afeição profunda ( empatia ) pela pessoa; se atingir um nível de comunicação onde a criança pode começar a perceber que a terapeuta compreende os sentimentos que está vivendo e que a aceita a um profundo nível de compreensão, nesse momento podemos estar certos de que se iniciou o processo terapêutico. A terapeuta para ser uma facilitadora deve ter atitudes reais. Seus sentimento devem ser demonstrados com autenticidade e da mesma forma dar aos pacientes espaço para isso.( Rogers, 1980, pág. 23 à 25 ) O trabalho realizado em uma sessão terapêutica parte do mundo da criança, dos seus desejos, suas experiências, seus problemas, sendo desta forma a atuação do paciente mais verdadeira e duradoura, o paciente é portanto, o outro do processo terapêutico. A terapia centrada no paciente visa maior maturidade dos comportamentos que a criança relata, atitudes positivas à medida que a terapia progride; alteração da percepção e da aceitação de si, incorporação de experiências previamente negadas na estrutura do eu, passar do exterior para o interior, transformação no processo terapêutico, alterações características na estrutura da personalidade, no comportamento e nas condições fisiológicas. É possível que o processo, as direções e os pontos de chegada do processo terapêutico variem conforme as orientações terapêuticas. ( Rogers, 1980, pág. 25 à 28 ) O indivíduo possui uma força interna que o impele ao crescimento e caberá ao terapeuta facilitar esse crescimento. As sessões não são prolongadas mas há objetivos terapêuticos que devem ser trabalhados de acordo com o momento das crianças. Procura-se melhorar e facilitar o seu desenvolvimento. “ Ser o que realmente se é.” Esta afirmação pode parecer simples a ponto de ser absurda. Não é importante intervir na experiência do paciente, fazer diagnósticos ou interpretar, sugerir e orientar. Deve partir do próprio paciente. Muitos pacientes procuram ter atitudes para agradar os outros, mas quando estão livres se modificam. Os limites sãocolocados durante as sessões mas com muito cuidado de não tornar as sessões em sessões de “ não “. O “ não” deve ser aparecer em situações reais. O importante é a descoberta, a liberdade e a segurança de uma relação compreensiva, de algumas direções que não querem seguir. Devemos encaminhar a criança para tornar-se um processo, uma fluidez, uma mudança. Processo constante de Devir. À medida que ganham maior confiança em si mesmos ao longo do processo, ousam a ter os seus sentimentos, viver com valores que descobrem dentro de si e exprimi-los na sua forma pessoal é única. É de relevante importância lembrar-se que para esse processo fluir bem, a relação terapêutica positiva deve ser estabelecida visando a “vida plena”. Vida plena não é uma condição em que o indivíduo esteja adaptado, realizado ou atualizado. Felicidade ou adaptação não são sinônimos de “vida plena”. Vida plena é um processo, não um estado de ser. É uma direção, não um destino. Uma abertura crescente a experiência. A criança se torna mais aberta aos seus sentimentos de receio, de desânimo, de desgosto. Fica igualmente mais aberta aos sentimentos de coragem, de ternura e de amor. Torna-se mais capaz de viver completamente a experiência do seu organismo, em vez de mantê-los fora da consciência. ( Rogers, 1980, pág. 30 à 33 ) Quanto mais a criança viver uma “ vida plena “, mais experimentará a liberdade de escolha e mais a sua escolha se traduzirá eficazmente no seu comportamento. Em relação a vida plena Rogers afirma: “ Uma última conseqüência que gostaria de mencionar é que este processo de viver a “vida plena” implica num campo mais vasto, uma riqueza maior do que a vida constrangida que nós reconhecemos em nós mesmos. Participar nesse processo significa que se está mergulhado em experiências, muitas vezes terríveis e que ao mesmo tempo dão satisfação, de uma vida mais sensível, com um campo maior, maior variedade e maior riqueza.” Rogers, 1980, pág. 175 Com sua abertura sensível ao mundo, a confiança na sua própria capacidade, uma pessoa de que provêm as produções e vivências criativas. Capaz de se adaptar e sobreviver em caso de alteração das condições ambientais. Sendo assim, pode-se observar, que a criança passa a viver numa harmonia crescente consigo mesma e com os outros. Esse processo implica, portanto, a expansão e a maturação de todas as potencialidades de um ser humano. Um processo de transformação enriquecedor, valioso, estimulante e significativo. CAPÍTULO III. AS PATOLOGIAS ESTUDADAS Este capítulo tem como objetivo descrever as patologias ( suas causas e sintomas ) que estão sendo trabalhadas no relato das sessões. 3.1 – SÍNDROME DE DOWN Síndrome – conjunto de características que prejudicam de algum modo o desenvolvimento do indivíduo. Down – sobrenome do médico que descreveu a síndrome em 1866. A síndrome de Down também pode ser chamada de trissomia 21 e as pessoas que as possuem de trissômicos. Freqüentemente, a Síndrome de Down é chamada de “mongolismo” e as pessoas que a apresentam de “mongolóides”. No entanto, estes termos são inadequados e carregam uma série de preconceitos e, por isso devem ser evitados. As alterações físicas e mentais observadas nas crianças com Síndrome de Down são em decorrência de um cromossomo extra par 21 em cada célula do organismo das crianças que possuem essa síndrome. Uma criança com Síndrome de Down tem, em geral, 47 cromossomos, com 21 extra agregado ao par normal 21. Isto se denomina trissomia 21. Cada criança portadora possui a sua própria personalidade e os efeitos do tempo e dos acontecimentos o moldaram. No entanto temos um quadro comum apesar das particularidades. CARACTERÍSTICAS FÍSICAS : Hipotonia3 muscular A cabeça é menor e a parte posterior menos proeminente O nariz é pequeno Os olhos possuem uma linha oblíqua ascendente – fissura pálpebra oblíqua As orelhas são pequenas e às vezes proeminentes. Ás vezes a língua sai da boca por ela ser pequena e por falta de tônus muscular Os dentes são pequenos e com formas análogas Às voz é abaritonada4. A fala se produz com atraso e resulta dificilmente a correta articulação O tronco é menor 3 Hipotonia – redução da energia muscular 4 Abaritonada – semelhante a voz do barítono (voz de altura mediana masculina) 40% possui problemas cardíacos As mãos são pequenas com dedos relativamente curtos A pele se torna seca com os anos O cabelo é fino, ralo e macio São crianças menores que as outras. Todas as crianças com Síndrome de Down possuem uma deficiência mental. Sendo a cabeça menor que a das outras crianças temos consequentemente um cérebro do tamanho de uma criança com dois anos e meio. Por isso essas crianças mostram-se mais capazes nos primeiros anos de vida. Seus limites estão marcados devido o desenvolvimento do seu cérebro. Os jovens mongolóides produzem menos hormônios masculinos tendo pouco pelo no rosto e o pênis é pequeno. Presume-se que são estéreis. As jovens possuem um seio maior, no entanto, possuem um fluxo menstrual normal. 5o% dos filhos de mães mongolóides possuem trissomia 21. Como já foi dito anteriormente, nenhuma criança é igual e suas possibilidades variam. Existem diferenças no grau da deficiência mental desde o profundamente afetado até o que possui QI 60 mas, a maioria está dentro de certos limites. O meio e os estímulos dados a uma criança com Síndrome de Down influem muito no seu desenvolvimento. Essas crianças dificilmente terão capacidade de executar tarefas que exijam independência e responsabilidade. Dificilmente serão capazes de aprender a ler e escrever corretamente. Devido ao seu desenvolvimento social superar o seu desenvolvimento intelectual, essas crianças parecem ser mais inteligentes do que são realmente. São alegres, amáveis e ativos. São obstinados e decididos a fazer o que querem, daí a necessidade de estabelecer regras de disciplina o quanto antes. A maioria das crianças com Síndrome de Down tem grande sensibilidade para a música e o ritmo e a dança lhe agradam. Terá uma linguagem limitada. Tem-se 3 tipos principais de desvios cromossômicos na Síndrome de Down: Trissomia do cromossomo 21: resulta da não-disjunção. Este é um distúrbio genético, mas não herdado. Trata-se na forma mais comumente nascida de mãe idosa. Translocação de um cromossomo: envolve a ligação de um cromossomo extra do número 21 a outro cromossomo ( usualmente o de número 15 ). Esse tipo é familiar e ocorre em filhos de pais mais jovens. Mosaicismo: os sintomas, incluindo o nível mental, varia grandemente nessa condição. Essa anomalia é muito rara. 3.2 ENCEFALOPATIA CRÔNICA DA INFÂNCIA O termo paralisia cerebral parece significar uma total ausência da função física e mental da criança, o que não acontece na realidade. Encefalopatia Crônica da Infância é a enfermidade caracterizada por um conjunto de perturbação motoras e sensoriais, resultante de um defeito ou de uma lesão no tecido contido dentro da caixa craniana, que pode ocorre antes, durante ou após o parto, até os 8 anos de idade. Em alguns pacientes, as perturbações sensoriais e motoraspodem se unir às manifestações epilépticas e a deficiência mental. Os sintomas mais importantes, portanto, seriam: Perturbações motoras Perturbações sensoriais Perturbações mentais Perturbações emocionais Perturbações da sensibilidade A incapacidade física é quase sempre o primeiro aspecto a ser considerado. Há inúmeras perturbações motoras: Espasticidade: evidente alteração do tônus muscular. Um dos sintomas mais comuns. Se pode observar a hipertonia 5muscular quando se faz a tentativa de mobilizar passivamente o membro afetado. Encontra-se uma resistência sensível ao movimento proposto. Rigidez: ocorre em cerca de 4% das crianças com E.C.I. . Quando se mobiliza o seguimento corporal e este apresenta contínua resistência dos músculos agonistas e antagonistas ao movimento que se pretende realizar. A diferença entre espasticidade e rigidez está no relaxamento muscular que o corre na espasticidade à medida que se aumenta a força para realizar o movimento de flexão ou extensão do seguimento corporal afetado. Atetose: podemos observar constantes flutuações do tônus. Há o aumento anormal de movimentos involuntários. O atetóide pode realizar seus movimentos com maior facilidade. No entanto, a realização destes movimentos se acha perturbada pela presença de espasmos musculares intermitentes. Ataxia: tônus muscular baixo. Acentuada dificuldade para uma fixação postural. Movimentos incoordenados, estável e de amplitude descontrolada. Tremor: os movimentos da criança são rítmicos alternados ou pendulares. O tremor pode ser considerado intencional ou constante e resulta da contração alternada dos músculos antagonistas e agonistas. Atonicidade: perda mais ou menos acentuada do tônus muscular, resultando uma incapacidade para as respostas dos estímulos volitivos6. A criança é incapaz de sustentar a cabeça ou sentar, o corpo mole e as articulações mostrando amplitude exagerada de sua mobilidade. As lesões cerebrais responsáveis pelo quadro clínico da E.C.I. podem ser sobre os hemisférios cerebrais, sobre o cérebro ou mesencéfalo7 exatamente onde se encontram os centros da audição, da visão, do olfato e do equilíbrio: Cerca de 50% de crianças com lesão cerebral sofrem de problemas de natureza visual. As alterações auditivas podem ocorrer, tanto porque a maioria dos agentes etiológicos podem determinar uma destruição dos mecanismos auditivos, como porque as crianças portadoras de E.C.I. serão mais suscetíveis a certas doenças nesta fase da vida, que são também responsáveis pela perda da audição ( hipoacusia8 ou surdez completa ). As perturbações da fala são de forma variada podendo ser do retardo até a mudez completa, nos casos mais graves. Encontra-se o atraso na fala, a disartria9, a gagueira e os transtornos de tonalidade, a perda de inflexão, entonação e volume da voz. Somados a estes temos as alterações respiratórias. O comportamento de muitas destas crianças freqüentemente se caracteriza por evidente descontrole emocional. Em alguns casos encontra-se deficiência mental em graus variáveis. De acordo com o número e forma que os membros são afetados temos: Diplegia simétrica congênita: quando o distúrbio é maior nos braços do que nas pernas. Paraplegia congênita: quando as pernas são afetadas. Quadriplegia: paralisia de todos os membros. Triplegia: quando 3 membros são afetados. Hemiplegia: quando os membros afetados são do mesmo lado Monoplegia: quando um membro é afetado. Chamamos de paresia quando há uma diminuição da força dos membros. 3.3 AUTISMO 5 Hipertonia – elevação da energia muscular 6 Volitivos – determinado pela vontade 7 Mesencéfalo – parte do cérebro 8 Hipoacusia – diminuição da audição 9 Disartria – dificuldade de articulação das palavras Segundo Eduard Ornitz o autismo é um transtorno do desenvolvimento. Não pode ser definido, simplesmente, como uma forma de retardo mental, embora muitos quadros de autismo apresentam QI abaixo da média. As crianças autistas são conhecidas por serem boazinhas e que nunca perturbam. Muitas vezes não são detectados pelos pais, a não ser por “comportamento estranho”. A aparência óbvia dos sintomas invariavelmente ocorre antes dos 30 meses de idade. Durante a pesquisa da história de pacientes, nota-se que ocorrem sinais agudos durante os primeiros anos de vida. Estes podem ser esquecidos, não reparados ou negados devido a ansiedade paterna ou a falta de familiarização com o desenvolvimento normal. A palavra autismo atualmente pode ser associada a diversas síndromes. Os sintomas variam amplamente. O autismo manifesta-se de diferentes formas, variando do mais alto ao mais leve comprometimento. O esquema mais recente é o descrito no Manual de Diagnóstico Estatístico (DSM – IV ) da Associação Americana de Psiquiatria. Um esquema de diagnósticos bem parecido é na classificação internacional de doenças ( CID – 10 ) publicado pela Organização Mundial de Saúde. Página 11 de “Austim – Explaining the Enigma” ( 1989 ) de Uta Frith. As informações a seguir servem apenas como referência. Um diagnóstico consciente é o primeiro passo importante em qualquer situação, tal diagnóstico pode ser feito apenas por um profissional que esteja a par da história do paciente. Critérios de diagnóstico do autismo: Marcante lesão na interação social, manifestada por pelo menos 2 dos seguintes itens: Destaca a diminuição no uso de comportamento não-verbais múltiplos, tais como contato ocular, expressão facial, postura corporal e gestos para lidar com a interação social. Dificuldade em desenvolver relação de companheirismo apropriadas para o nível de comportamento. Falta de procura espontânea em dividir satisfações, interesses ou realizações com outras pessoas, por exemplo: dificuldades em mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse. Ausência da reciprocidade social ou emocional. Marcante lesão na comunicação, manifestada por pelo menos um dos seguintes itens: Atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem oral, se ocorrência de tentativas de compreensão através de modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímicas. Em indivíduos com fala normal, destaca-se diminuição da habilidade de iniciar ou manter uma conversa com outras pessoas. Ausência de ações variadas, espontâneas e imaginárias ou ação de imitação social apropriadas para o nível de desenvolvimento. Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos um dos seguintes itens: Obsessão por um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse que seja anormal tanto em intensidade quanto em foco. Fidelidade aparentemente inflexível a rotinas ou rituais não funcionais específicos. Hábitos motores estereotipados e repetitivos, por exemplo: agitação ou torção das mão ou dedos ou movimentos corporais complexos. Obsessão por parte de objetos. Atraso ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes áreas, com início antes dos 3 anos de idade: Interação social Linguagem usada na comunicação social Ação simbólica ou imaginária A maioria dos indivíduos enquanto no processo autista não podem fazer itens de testes de QI. As noções que fazem que os autistas tenham umadeficiência afetiva primária, que interfere com os potenciais cognitivos e intelectuais por eles assumido, tendo dado abertura para o reconhecimento das suas deficiências intelectuais, são tão reais como as dos pacientes com retardo primário. Teorias interpessoais e orgânicas foram sugeridas para explicar essa desordem. Crianças autistas, freqüentemente são erroneamente diagnosticadas como caso de retardo mental, surda-muda, trauma craniano pré-natal ou pós-natal, afasia e síndrome pós encefalíticas. É necessário que seja dado o diagnóstico correto para poder se seguido uma linha de tratamento adequado a este tipo de criança. Quanto ao diagnóstico vários estudos foram realizados e documento a transição de autismo a típica esquizofrenia na 2ª infância, adolescência e idade adulta. Muito embora tenha sido relatado de que alguns adultos autistas são capazes de viver sozinhos e obter emprego, no entanto, deve-se enfatizar de que esses representam a minoria dos casos. Dada a descrição das 3 patologias ficará mais fácil acompanhar o relato das sessões e consequentemente entender a atuação das terapeutas junto com os pacientes. Segue-se então, para a descrição dos pacientes e o relato das sessões com os seus objetivos. IV. ESTUDO DE CASOS 4.1 Caso I (descrição) Crianças portadoras da Síndrome de Down Objetivos terapêuticos: Relação terapêutica positiva Crescimento de cliente como ser humano Socialização Desenvolvimento da linguagem verbal Aprimoramento do campo psicomotor Expressão corporal Desenvolver percepção tátil, visual e auditiva Trabalhar noção tempo-espacial Trabalhar esquema corporal Instrumentos utilizados: Instrumentos de percussão (chocalho, pandeiro , tambor, agogô, coco, guizos, reco-reco, triângulo, blac-blac) – através destes trabalhamos percepção tátil, visual e auditiva, coordenação motora, descarga e canalização de energia, socialização. Instrumentos melódicos – o violão utilizado tanto pelo terapeuta como pelas crianças. A musicoterapeuta utiliza o violão para tocar determinadas músicas. As crianças utilizam o violão para tocar e cantar tornando-se dessa forma o centro do grupo dirigindo as demais crianças. O piano é utilizado pela musicoterapeuta da mesma forma que o violão. As crianças utilizam o piano de forma lúdica enquanto trabalhamos a coordenação motora fina, limites e socialização. O próprio corpo – formando roda ou dançando procura-se trabalhar noção têmporo-espacial, esquema corporal e o campo psicomotor lançando propostas como pular com um pé só, abaixar e levantar... Trabalha-se também expressão corporal com a dança livre. Gravador – são utilizadas fitas gravadas com músicas infantis que possuem linhas melódicas simples e algumas que possuam letras que auxiliam o trabalho de esquema corporal como “levantar um braço, levantar o outro” ou ainda “cabeça, ombro, joelho e pé...” entre outras. Essas músicas são muito bem aceitas pelas crianças que se sentem realizadas ao conseguirem desenvolver essas atividades. Utiliza-se também música da MPB e músicas infantis atuais, durante a audição das mesmas cantamos, dançamos ou tocamos. É feito também um trabalho onde gravamos as crianças cantando e/ou tocando em grupo e individualmente, buscando-se um desenvolvimento da linguagem verbal, através dessas gravações, uma vez que as crianças gratificadas em ouvi-las, tornando-se dessa forma um grande estímulo. Esse grupo é constituído por 6 crianças que já estão em atendimento musicoterápico há 2 anos, sendo que inicialmente o grupo era dividido em dois musicoterapeuta atuava. Após um ano houve a junção dos grupos passando a ser uma hora de atendimento mensal. No início do atendimento desses grupos não era possível a realização de atividade conjuntas. Não havia concentração nem atenção. As crianças isoladamente manipulavam os instrumentos. Não mantinham contato uma com a outra, não lançavam nem aceitavam propostas. Deu-se o tempo necessário para as crianças conhecerem e explorarem os instrumentos musicais. Foi observado o Iso grupal e com o auxílio dos dados colhidos nas fichas musicoterápicas começou-se a lançar estímulos que atingissem o grupo com um todo. Músicas infantis como: Atirei o pau no gato, Parabéns, Cai-cai-balão, entre outras somadas a brincadeira de roda fizeram com que as crianças começassem a se tocar e a se sentirem juntas de outras crianças. Os limites começaram a se colocados, surgiram líderes dos grupos e as próprias crianças começaram a lançar suas propostas. Atualmente a noção de grupo está visivelmente colocada. O próprios membros do grupo, colocam limites e cobram atuação de alguns componentes. As atividades realizadas são algumas vezes lançadas pelas terapeutas mas partem de um conhecimento dos gostos e desejos somados as necessidades das crianças. Após um ano e quatro meses de atendimento, o trabalho passou a ser realizado pela fisioterapeuta e musicoterapeuta atuando em conjunto, passando a ser um único grupo atendido em sessões semanais de uma hora. Realizamos esse trabalho atualmente em duas sessões semanais de meia hora onde fonoaudióloga e musicoterapeuta atuam em uma e fisioterapeuta e musicoterapeuta atuam em outra, além dos demais acontecimentos. Sessão onde estão presentes a fisioterapeuta, a musicoterapeuta e dois estagiários de fisioterapia. Uma hora de atendimentos: Na chegada das crianças cumprimenta-se cada uma individualmente. Pergunta-se se gostariam de ouvir músicas. Liga-se o gravador onde temos uma fita gravada com músicas de MPB de conjuntos atuais. Todos começam a dançar livremente. Busca-se fazer com que as crianças realizem movimentos desejados enquanto dançam: pular com os dois pés, pular com um pé só, bater palmas com as mãos sobre a cabeça, bater palmas com as mãos para trás, para um lado e para outro, para frente, para cima, para baixo... Essas propostas de movimentos não são dadas apenas pelas terapeutas mas também pelas crianças. As terapeutas solicitam que cada criança comande. As crianças determinam o tempo que devem parar. Todos sentam-se em círculo onde tem-se os instrumentos desejados. Uma nova fita é colocada no gravador com músicas do Balão Mágico. Utiliza-se os instrumentos para acompanhar as músicas. Também canta-se. Cada criança ou terapeuta comanda o grupo mostrando a forma que deve tocar o instrumento. Utilizamos o gravador para gravarmos as crianças cantando. A música escolhida pelas crianças é Cai-cai-balão. Musicoterapeuta no violão, demais terapeutas e crianças com os instrumentos de percussão. Grava-se primeiramente todas as crianças tocando e cantando e posteriormente cada criança individualmente. Coloca-se posteriormente a fita para as crianças ouvirem. Antes do término da sessão é feito um relaxamento onde as crianças deitadas no chão escutam músicas de ninar. Sessão onde estão presentes a musicoterapeuta e a fonoaudióloga. Meia hora de atendimento: Ao chegarem as crianças são cumprimentadas. As crianças sentam ao chão próximas as terapeutas, lhes é apresentado um caderno com várias figuras solicitando as mesmas que produzam ou reproduzam além dos nomes das figuras os sons das mesmas. Temos figuras como: cachorro, gato, telefone, avião, piano, tambor, porco, abelha, leão... Uma das crianças começa a associar movimentos as figuras, as demais crianças e terapeutas acompanham. Utiliza-se o gravadorcom a fita gravada pelas terapeutas onde as crianças cantam realizando movimentos: “Cai-cai-balão”, “Tetê olhou prá cá...”, “Levantar um braço, levantar o outro...”, “Dois patinhos na lagoa...” (canções folclóricas).Algumas crianças realizavam os movimentos com a segurança, outras apenas observam. Algumas palavras são reforçadas posteriormente pela fonoaudióloga para corrigir os erros fonéticos. 4.2 Caso II (descrição) Crianças com Paralisia Cerebral Deste grupo apenas R1 teve atendimento individual na musicoterapia. As demais crianças (R2 e L) iniciaram atendimento com a musicoterapeuta no grupo no qual fisioterapeuta e musicoterapeuta atuam em conjunto. Objetivos terapêuticos: Relação terapêutica positiva Crescimento do cliente como ser humano Socialização Desenvolvimento do campo motor Aprimoramento da linguagem verbal Desenvolver percepção tátil, visual e auditiva Desenvolver esquema corporal Desenvolver noção têmporo-espacial Instrumentos utilizados: Instrumentos de percussão – busca-se trabalhar percepção tátil, auditiva e visual, coordenação motora, descarga e canalização de energia e socialização. Utiliza-se também os instrumentos de percussão como estímulos para as crianças desenvolverem movimentos como arrastar, andar com ou sem apoio para conseguir o instrumento desejado. Instrumentos melódicos – sola-se no violão ou piano músicas solicitando que as crianças nomeiem a música tocada. O violão e piano também são utilizados para acompanhar as músicas tocadas. A utilização do violão pelas crianças é feita de modo que cada uma possa ser o centro do grupo e conduzi-lo. O piano é utilizado de forma lúdica pelas crianças e trabalha-se coordenação motora fina, colocação de limites e a socialização e o ficar em pé. O próprio corpo – procura-se fazer com que as crianças acreditem no seu potencial e vençam suas inseguranças dentro de suas potencialidades. Dança-se auxiliando as crianças. A dança é livre e algumas vezes conduzidas. Essa atividade visa trabalhar o equilíbrio e o desenvolvimento motor das crianças, e a expressão própria. Gravador – É utilizado da mesma forma que o utilizamos com as crianças portadoras da Síndrome de Down. Como as crianças se encontravam no início do atendimento: R1: Nível cognitivo bem desenvolvido, falando algumas palavras com erros fonéticos. Bem comprometida no campo motor, espasticidade presente, não conseguindo segurar os instrumentos, permanecendo sentada apenas amarrada e possuindo dificuldade em sustentar o pescoço. R2: Fala muito pouco apesar de já ter um vocabulário razoável, dificuldade de relacionamento, não manipula os instrumentos, não obedece ordens, não se mantém em pé. L: Campo cognitivo bem desenvolvido. Fala frases. Possui insegurança quanto a ficar em pé sozinha e andar. Falta às sessões periódicas dificultam o seu progresso. Atualmente encontramos essas crianças com o seguinte desenvolvimento: R1: Formando frases ainda com alguns erros fonéticos. Permanece sentada por um bom tempo sem necessitar de auxílio, quando relaxada. Se arrasta e manipula os instrumentos segurando-os por um maior tempo. R2: Se relaciona muito bem com as terapêutas. Obedece ordens e conversa dentro do seu potencial, ainda com apoio e já se mantém em pé sozinha por algum tempo. L: Insegurança quando a ficar em pé sozinha quase superada, o que continua atrapalhando são suas faltas ao atendimento. Sessão onde estão presentes a musicoterapeuta, a fisioterapeuta e a estagiária de fisioterapia: Senta-se no chão. Musicoterapeuta sola algumas músicas no violão e pergunta às crianças que música seria. Após as respostas toca-se e canta-se a música. Musicoterapeuta no violão, crianças e terapeutas com os instrumentos de percussão. Fisioterapeuta estimula R1 a ficar sentada sem apoiar-se na parede na parede e a sustentar o pescoço. R1 durante as atividades musicais fica mais relaxada sendo mais fácil trabalhá-la. Passamos a outra atividade quando liga-se o gravador com músicas da MPB de conjunto atuais para trabalhar R2 e L em pé. R2 permanece em pé com auxílio da estagiária segurando sua mão. Dança-se livremente e posteriormente começa-se a realizar algumas propostas como levantar um pé de cada vez, levantar um mão, etc. L é estimulada a vencer sua insegurança pois só se sente segura estando próxima de uma parede. Esse trabalho é feito parceladamente. A fisioterapeuta está próxima a R1 estimulando-a a segurar os instrumentos e manter-se sentada sem apoio. R1 gosta de manusear o gravador , que é utilizado como estímulo para fazer com que R1 se arraste. Chegando ao gravado é auxiliada a ligá-lo e desligá-lo. Sessão onde estão presentes a musicoterapeuta, a fisioterapeuta e a estagiária de fisioterapia. Sentadas no chão coloca-se no gravador uma fita com músicas da Xuxa. Cada terapeuta ou paciente com instrumentos como chocalho e guizos. A musicoterapeuta realiza movimentos com os instrumentos, tocando-os sobre a cabeça, de um lado ou de outro, na frente ou atrás do corpo. A condução do grupo é feita também pelas crianças. R1 é auxiliada pelas fisioterapeuta. Após essa atividade utiliza-se a fita gravada pelas terapeutas. Realiza-se os movimentos adequados à letra das músicas. “Levantar um braço, levantar o outro...”, “cabeça, ombro, joelho e pé...”. L e R2 cantam e realizam os movimentos dentro de suas potencialidades. A postura e movimento de R1 são auxiliados pela fisioterapeuta. 4.3 Caso III (descrição) Crianças deficientes mentais com comportamento autista: Anteriormente essas crianças tiveram um período de atendimento individual no setor de musicoterapia. Objetivos Terapêuticos: Relação terapêutica positiva Abertura de canais de comunicação Crescimento do cliente como ser humano Aceitação do contato corporal Aumento da concentração e atenção Socialização Desenvolvimento da linguagem verbal Trabalhar esquema corporal Aprimoramento do campo psicomotor Instrumentos utilizados: Instrumentos de percussão – São distribuídos pelo chão da sala para as crianças explorarem buscando mantê-las por maior parte do tempo concentrados. Os tambores são utilizados para produzir ritmos primitivos para à partir daí as crianças iniciarem contato com as terapeutas. Realiza-se diálogos rítmicos. Instrumentos melódicos – Tanto o vilão como o piano são utilizados inicialmente para as crianças explorarem, sentir vibração, produzir intervalos melódicos. São realizados diálogos melódicos. Posteriormente utiliza-se os mesmos instrumentos para acompanhar músicas infantis, folclóricas ou atuais. O Próprio corpo – A partir do momento que as criança aceitam contato corporal começamos a dançar, a trabalhar o “toque”. Trabalhamos com água lavando o corpo. Essa atividade é realizada no pátio com a mangueira. Gravador – Músicas infantis atuais são utilizadas. As crianças demonstram atenção e dançam livremente ou algumas vezes seguindo propostas: Pular, bater palmas... Utiliza-se também a fita gravada pelas terapeutas com músicas infantis (Cai-cai-balão, Parabéns, Levantar um braço..., Dois patinhos...). Após as crianças observarem as terapeutas por algum tempo, passam a realizar também os movimentos. Busca-se a conscientização desses movimentos. Grava-se os sons, palavras ou músicas emitidas pelas crianças e posteriormente coloca-se para que as escutem. Anteriormente a terapeuta grava sua voz mostrando o procedimento das crianças. Como as crianças se encontram no início do atendimento: AC – Não desejava entrar na sala, chorava muito, não permitia contato corporal. Foi atendidoindividualmente no setor de musicoterapia durante um ano. Estereotipias presente, fala algumas palavras esporadicamente. Usa fraldas. RA – Alheio aos acontecimentos ao seu redor. Não permite o contato corporal. Estereotipias presente. Foi atendido individualmente no setor de musicoterapia. Não fala, emite um único som (hum). Interessa-se por vibração. Usa fraldas. JL – Estereotipias presentes, dificuldade de relacionamento. Manipula os instrumentos desde que não esteja sendo observado. Emite alguns sons vocais. Chora alguns vezes para não entrar sala. Foi atendido individualmente no setor de musicoterapia. A – anda pela sala durante todo tempo, falta de concentração e atenção. Não permite o contato corporal. Não emite sons vocais. Usa fraldas. CA – falta de atenção e concentração presente. Manipula os instrumentos por pouco tempo, apenas os que estão bem próximos, não explorando os demais. Produz sons melódicos vocalmente. Não fala, interessa-se por vibração sonora (violão, circulador, tambor). Foi atendido individualmente no setor de musicoterapia. Sessão onde estão presentes a fisioterapeuta, a musicoterapeuta, a fonoaudióloga e a estagiária de fisioterapia: Os instrumentos são espalhados no chão da sala. JL com o rosto tampado com as mãos isola-se. A anda pela sala manipulando rapidamente os instrumentos que estão no chão. AC atende as solicitações das terapeutas. CA manipula os instrumentos que estão próximos. RA está sentado realizando movimentos estereotipados necessitando sempre de uma terapeuta próximo a ele para lhe dar estímulos e consequentemente inibir as estereotipias. Musicoterapeuta toca o seguinte ritmo continuamente. CA e RA chegam perto do tambor colocando a mão procurando sentir a vibração. JL marca o ritmo com o pé, posteriormente com o corpo. AC acompanha batendo palmas e jogando o tronco para frente como se estivesse dançando. A continua andando pela sala, buscando sua atenção com estímulos sonoros. Posteriormente introduz-se as vogais ao ritmo. Faz-se o mesmo com as demais vogais. As outras terapeutas realizam o mesmo. Trabalho. J aos poucos vai se chegando ao grupo movimentando os lábios de acordo com as vogais. Lhe é oferecido um tambor e passa a tocar acompanhado as terapeutas. Fono fala as vogais com a mão de RA encostada em seus lábios ou o faz sentir a vibração em sua garganta. Faz o mesmo com CA e A. vai se reduzindo o andamento e a intensidade do ritmo até finalizá-lo. Continua-se trabalhando com as vogais, só que agora utilizando-se o intervalo de 3ª menor descendente. CA e JL algumas vezes reproduzem. RA e AC observam. A continua andando na sala. Terapeutas e crianças exploram os instrumentos que estão na sala em conjunto. Atualmente essas crianças possuem um bom nível de relacionamento com as terapeutas. Com objetivos mais específicos o grupo foi dividido. Fonoaudióloga e musicoterapeuta atuam em conjunto. Atende-se JL e A juntos, CA e RA em um horário juntos além de ter atendimento no seu grupo da escola. AC é atendido apenas no grupo da escola. Situação atual: AC – Possui altos e baixos no seu desenvolvimento . Canta algumas vezes frases de músicas como “Cai-cai-balão, Suzana”. Entrosa-se bem na situação escolar e realiza as atividades que são colocadas. Estereotipias presente quando ansioso. Não usa mais fraldas mas atualmente não está sinalizando quando deseja ir ao banheiro. RA – ainda alheio a algumas situações, mas já participa de outras sem necessitar de estímulos contínuos. Esteriotipias bem menos acentuadas. Leva a mão à boca das terapeutas para que falem vogais ou palavras. Emitindo alguns sons vocais e assoprando. JL – Bom relacionamento com as terapeutas atendendo algumas palavras, canta e dança. Enquanto fala seus sons são produzidos com pouca intensidade o mesmo não acontece quando canta. A – Já permanece sentado por maior parte de tempo explorando os instrumentos. Produz sons vocais e sons pré-verbais. CA – Fala alguma palavras como “papai”, “mamãe”, “titia”. Interessa- se por vibração e produção de ritmos. 4.4 Analise de casos não específicos (descrição especificas) 1- R2: Data de nascimento: 01/06/1995 Início do tratamento: Julho de 2002 Portadora de Encefalopatia crônica da infância (Sequela de Toxosplasmose congênita). Apresenta seu desenvolvimento global psicológico defasado caracterizando um quadro intelectual. Apresenta atraso motor+crise controlada. Apresenta tetraparesia. Fala muito pouco apesar de já ter um vocabulário razoável, dificuldade de relacionamento, não manipula os instrumentos, não obedece ordens, não se mantém em pé com ou sem apoio. 2- R1: Data de nascimento: 09/10/93 Início do tratamento: Abril de 2001 Portadora de E C I (microcefalia). Apresenta hipotonia global com força diminuída nos 4 membros. Segura os objetos por pouco tempo. Controle deficiente da cabeça. Estado mental lúcido demonstrando reações aos estímulos. Apresenta intensa espasticidade. Déficit a nível cognitivo porém não muito acentuado. Fala algumas palavras com erros fonéticos. Bem comprometida no campo motor, permanecendo sentada apenas amarrada. 3. AC: Data de nascimento: 16/10/94 Início do tratamento: 07/08/1985 Atraso no desenvolvimento psicomotor, epilepsia (sem crises desde 6 meses de idade). Apresenta movimentos estereotipados (levar a mão à boca em momentos de ansiedade). Encontra-se em um nível inferior em termos de maturidade. Atende a algumas ordens simples: pega, dá. Reconhece as pessoas que mantém convívio freqüente. Desenvolvimento das percepções sensoriais prejudicado pelo seu comprometimento mental – interesse e atenção inadequados. Aspecto afetivo-emocional prejudicado. Portador de deficiência mental moderada com aquisição de comportamento autista. Não desejava entrar na sala, chorava muito, não permitia contato corporal. Fala algumas palavras esporadicamente. Usa fraldas. 4. RA: Data de nascimento: 01/10/97 Início do tratamento: 12/12/2001 É portador de Encefalotopia crônica da infância. Tetraparesia flácida. Deficiência mental moderada com aquisição de comportamento autista. Crises convulsivas (controladas). Compreensão defasada o mesmo acontecendo com a parte afetivo- emocional. Atenção bastante prejudicada. Emite sons gruturais. Alheio aos acontecimentos ao seu redor. Não permite o contato corporal. Estereotipias presente (balanceio do tronco, sacudir as mãos). Interessa-se por vibração sonora (tambor, violão, circulador). Usa fraldas. 5. JL: Data de nascimento: 19/12/96 Início do tratamento: 10/06/2002 Retardo no desenvolvimento psicomotor sem causa aparentemente reconhecida. Aquisição de comportamento autista. Marcha com aumento da base de sustentação. Brinca com objetos de forma exploratória. Mostra-se atento. Presente com atividades relativas a 2 / 3 anos de idade mental. Estereotipias presente (levar a mão aos ouvidos, esconder o rosto, sacudir as mãos). Manipula os instrumentos desde que não perceba que está sendo observado. Emite alguns sons vocais. Chora algumas vezes para não entrar na sala. 6. CA: Data de nascimento: 19/11/96 Início do tratamento: 13/05/2002 Atraso no desenvolvimento psicomotor com aquisição de comportamento autista. Apresentando defasagem bastante acentuada em termos psicológicos evolutivos com condutas esperadas para uma faixa de aproximadamente 12 meses. Os processos de atenção e concentração acham-se prejudicados sendo observada pouca exploração dos estímulos do meio. Apresenta movimentos estereotipados (levar as mãos aos ouvidos, sacudir as mãos). Emite sons. Compreende algumas palavras e sons vocaiscom intervalos melódicos. Interessa-se por vibração sonora (violão, circulador, tambor). V. UM OLHAR MUSICOTERÁPICO 5.1 O trabalho desenvolvido No relato das sessões com crianças portadoras da Síndrome de Down nota-se que já há uma relação positiva estabelecida entre as crianças e as terapeutas, daí a facilidade em realizar o trabalho. Já há um conhecimento mútuo, sendo desta forma possível as terapeutas poderem auxiliar a direcionar as atividades da sessão. Somando ao conhecimento dos gostos e ansiedades das crianças temos os objetivos terapêuticos Nessa sessão relatada, onde temos a atuação da fisioterapeuta e da musicoterapeuta utilizamos a música para desenvolver um trabalho de psicomotricidade. Trabalha-se também noção espacial. A música e seus elementos facilitam o desenvolvimento dessas atividades. Mudando de atividade trabalhamos atenção, concentração e percepção visual e mais uma vez podemos notar que a música auxilia o processo. O mesmo acontece com as demais atividade realizadas nessa sessão. Há um intercâmbio entre as duas terapias visando sempre o crescimento do paciente. Na sessão desenvolvida com a fonoaudióloga a música continua como elemento que facilitará o processo sendo que os objetivos estão voltados para o desenvolvimento do plano verbal. O trabalho realizado com o grupo de crianças com paralisia cerebral em muitos momentos se parecerá com o trabalho desenvolvido com as crianças portadoras da Síndrome de Down, só que a dificuldade maior do grupo de crianças com paralisia cerebral se encontra no campo motor. A musicoterapeuta atua somente com a fisioterapeuta e com o auxílio da música iremos eliminando etapas e facilitando o desenvolvimento do paciente. As músicas utilizadas fazem parte do Iso Cultural. Com a música poderemos conseguir uma descontração e consequentemente o relaxamento tornando-se mais fácil manipular os pacientes. Nessa sessão vemos um trabalho de dança onde trabalhamos equilíbrio e segurança. O trabalho a nível cognitivo não é esquecido. Devemos lembrar que o ritmo auxiliará tanto o desenvolvimento motor como o desenvolvimento da fala. Pode-se comparar as sessões realizadas com o grupo de mongolóides e de paralisia cerebral e notamos que as atividades podem ser as mesmas ou semelhantes, no entanto, dependendo do grupo de atuação, estará em evidência um ou outro objetivo e a música e seus elementos entrarão sempre como facilitadores do processo terapêutico. Quanto ao trabalho realizado com as crianças deficientes mentais com dificuldade de relacionamento notamos, pelo relato da sessão, que há uma diferença nas atividades desenvolvidas. Inicialmente as três terapeutas, fonoaudióloga e musicoterapeuta atuaram em conjunto buscando inicialmente a abertura de canais de comunicação. Podemos notar uma importância do papel da musicoterapia nessa etapa do processo terapêutico. Pode-se conseguir um contato amplo com as crianças que choravam muito, que negavam o toque, que possuíam estereotipias. Por ser uma musicoterapia um processo não verbal e temporal pode-se chegar com maior facilidade às crianças. A musicoterapia possui elementos menos invasores e consequentemente menos persecutórios. Os elementos musicais utilizados foram bem simples. Um ritmo bem primitivo e o intervalo melódico mais fácil de se realizar (o que se encontra na maioria das canções infantis). Esse elementos foram utilizados conscientemente, uma vez que, esses pacientes se encontravam em níveis bem regredidos. Partiu-se do Iso10 dos 10 Iso – ritmo interno de cada indivíduo pacientes para poder então realizar um trabalho de crescimento. Não se consegue êxito apenas com uma sessão, mas sim, com um processo que irá fazer com que cada vez mais as crianças se abram para os estímulos externos. Com esse trabalho pode-se mostrar a importância da relação terapêutica positiva e valorizar essa etapa do processo terapêutico. Com relação terapêutica dividiu-se o grupo, e os objetivos tornaram-se mais específicos, porém as técnicas utilizadas continuam a mesma linha. Utiliza-se ainda, um trabalho relacionado com a vibração. Com a elaboração de ritmos primitivos e de intervalos melódicos simples buscando-se atingir determinados objetivos. Dependendo da criança que está sendo trabalhada utiliza-se também músicas infantis atuais (quando nota-se o interesse da criança pelas mesmas). Podem-se verificar mais uma vez que a música facilita o processo terapêutico. Na musicoterapia com crianças deficientes mentais As estratégias empregadas são especialmente de reforço da estrutura egóica e de aprendizagem, ou seja, que não utilizar técnicas regressivas. Utilizam-se jogos musicais. É importante o uso do corpo como instrumento de movimento e percussão. Ao principiante custa compreender onde termina o trabalho do musicoterapeuta e onde inicia o do professor de música. As sessões de musicoterapia permitirão uma melhor integração nos trabalhos realizados. Descoberto o Iso da criança e os objetos intermediários de certo, o terapeuta acertará desde o primeiro momento com o paciente. Devemos manter as obras musicais em seu máximo primitivismo. Na musicoterapia com deficientes físicos O musicoterapeuta ajudará a desenvolver a potencialidade que existe neste paciente. Irá auxiliar principalmente no trabalho da fisioterapeuta. Terá predominantemente um estímulo motor. Estabelece-se alguns enunciados frente a um lesado cerebral: Criar uma boa relação terapeuta-paciente; Recusar o critério de “impossibilidade”; Exigir respostas por parte da criança (estímulo); Criar um ambiente tranqüilo; Ter confiança nas potencialidades da criança; Estar convencido de que o tratamento que se leva a cabo é eficaz; Realizar uma avaliação periódica do tratamento. Segundo Juliette Alvin a música dá a criança a emoção do movimento porque se move no tempo e no espaço. São notas ascendentes e descendentes, assim como a sucessão de sons de diferentes velocidades e ritmos pode dar à criança sensível a sensação de movimentos completos acima e abaixo, devagar ou rápido. Temos várias respostas à musica excitante ou tranqüilizante. Pode-se controlar melhor, através da música, a atuação de uma criança espástica ou pode-se até criar alguns transtornos causando movimentos espasmódicos indesejados em outras crianças. É preciso conhecimento do Iso do paciente, dos objetos intermediários, e dos elementos sonoros prejudiciais, não benéficos. Cada sessão não é só terapêutica, mas também de observação diagnostica. O objetivo da musicoterapia é produzir novas vias no cérebro lesado. O musicoterapeuta deve integrar-se à equipe cientifica de trabalho, pois deve conhecer amplamente os objetivos que se propõe conseguir o médico, o fisioterapeuta, o terapeuta ocupacional, o psicoterapeuta, como também deve dizer a eles suas importantes observações emanadas das sessões que abrirão novas possibilidades de aproximação. Na musicoterapia com crianças autistas A musicoterapia é para criança autista a primeira técnica de aproximação, pois o enquadre não-verbal é o que permite a estas crianças estabelecer os canais de comunicação. O autismo é uma prolongação patológica e deformada do psiquismo fetal. Portanto o objetivo é trabalhar com uma espécie de feto que se defende contra os medos de um mundo externo desconhecido e por outro lado, contra as sensações das deficiências do seu mundo interior. Por isso no trabalho, com estas crianças há que criar situações ambientais e estímulos que produzam a volta do período de gestação. É difícil encontrar o Iso da criança autista ou o objeto intermediário devido as suas características próprias. Na 1ª etapa em musicoterapiaa criança é submetido a uma série de sons empáticos com seu estado regressivo para se produzir a abertura de canais de comunicação e a ruptura aos núcleos defensivos. Chama- se de musicoterapia passiva ou receptiva. Na 2ª etapa a criança se comunica com a musicoterapia que aproveita os canais de comunicação abertos. Na 3ª etapa a criança se comunica com o meio que o rodeia e seu grupo familiar. Este nível é chamado de integração. À medida que a criança vai adquirindo mais e mais canais de comunicação permite a introdução de técnicas habituais sempre levando em conta o trabalho em equipe com as outras técnicas de treinamento. Nota-se portanto a importância do papel da musicoterapeuta e a eficiência da atuação da dupla terapêutica. Com a exposição deste trabalho não se pretende fechar questões sobre a atuação da musicoterapeuta neste tipo de atuação. Pretende-se sim, levantá-las. 5.2 Musicoterapia – Fonoaudiologia – Fisioterapia As crianças são atendidas em grupos. Esses grupos são formados pelos seguintes critérios: patologia e idade mental. É um trabalho integrado onde duas terapeutas atuam com o mesmo grupo. Essa idéia surgiu devido a necessidade dos técnicos de enriquecerem seus métodos de trabalho e consequentemente fornecer melhores meios para que as crianças pudessem desenvolver suas potencialidades. O 1º passo é o conhecimento que uma terapeuta deve ter da outra, formando dessa forma uma dupla terapêutica. É importante tanto em entrosamento no trabalho realizado para que não sejam dados estímulos dúbios e para que a criança se sinta segura no settiing terapêutico. Seguimos então para o 2º passo que é a realização do rapport11 com os pacientes. Estabelecida a relação terapêutica desenvolveremos atividades realizadas de acordo com as necessidades das crianças. As atividades serão realizadas de acordo com o mundo da criança, daí ser realizada anteriormente a entrevista com o responsável, a ficha musicoterápica e a testificação musical. Como a maioria dos casos o atendimento é realizado em grupo, em cada sessão deverá ser percebido o Iso grupal para que o trabalho seja desenvolvido. Os pacientes são encaminhados para a musicoterapia pela neurologista ou por outros técnicos da equipe (fisioterapeuta, fonoaudióloga, psicólogos, terapeuta ocupacional, assistente social ou pedagoga), quando julgam haver necessidade. O papel da musicoterapia neste tipo de trabalho será o de facilitar o atendimento da fonoaudióloga ou da fisioterapeuta, uma vez que as crianças demonstram um interesse muito grande pela música (ritmo, melodia, harmonia) e pelos instrumentos musicais. Os objetivos terapêuticos da musicoterapia irão variar de acordo com o grupo que está sendo atendido e com a terapeuta que estará atuando. Serão desenvolvidas atividades lúdicas buscando-se trabalhar as dificuldades de cada paciente. São utilizados instrumentos de percussão para que os pacientes possam, manipulá-los com facilidade e desta forma se sentirem gratificados. Esses instrumentos são: chocalhos, pandeiros, cocos, guizos, tambores, maracás, afoxés, reco-reco e outros. Podemos ainda utilizar o violão e o piano. Fazemos uso também do gravador com fitas com músicas infantis ou fitas virgens para que as sessões possam ser gravadas. À alguns pacientes são pedidas essas fitas. Algumas atividades realizadas junto ao setor de fonoaudiologia e fisioterapia: Cantar músicas infantis substituindo-se letra por determinadas sílabas ou vogais. Cantar músicas infantis realizando-se gestos e sem gestos; Produzir ritmos simples com os instrumentos (diálogo musical ou espelho); Produzir ritmos emitindo vogais, sílabas ou palavras; Produzir vocalmente vogais, sílabas ou palavras com intervalos melódicos simples (utilizamos muito a 3ª menor descendente); 11 Rapport – relação positiva Utilização dos instrumentos livremente ou “acompanhado” músicas infantis; Danças livres; Brincadeiras de roda; Utilização da vibração do tambor, do violão, do gravador ou do circulador, como meio de comunicação. e outras. CONCLUSÃO A teoria (Humanismo – Rogers) tem como objetivo principal a descoberta das possibilidades de cada criança. Partindo-se da idéia de que cada um tem suas limitações. A terapeuta será facilitadora desse desenvolvimento. Os tratamentos citados envolvem crianças com Síndrome de Down – Deficiência mental em decorrência de um cromossomo extra ao par 21 em cada célula do organismo. Crianças com Paralisia Cerebral – Enfermidade caracterizada por um conjunto de perturbação motoras sensoriais, resultantes de um defeito ou de uma lesão do tecido nervoso, que pode ocorrer antes, durante ou após o parto, até os 8 anos de idade. Crianças com comportamento autista – são as crianças conhecidas por serem “boazinhas” que nunca perturbam devido ao seu isolamento. São crianças com uma deficiência afetiva primária que interfere com os potenciais cognitivos e intelectuais. Com o relato das sessões observa-se o atendimento desses três tipos de patologia enfocando a atuação da musicoterapia como facilitadora do processo terapêutico para que os objetivos traçados em conjunto com a fisioterapeuta e com a fonoaudióloga possam ser alcançados. Podemos observar que o uso da música vai variar de acordo com a patologia trabalhada e/ou de acordo com a criança ou o grupo em tratamento. A música é utilizada para abrir canais de comunicação, auxiliar a atingir os objetivos propostos ou a combinação desses dois aspectos. O uso da música (em todo o seu aspecto) é grandioso, variado e surpreendente. Se conhecermos o cliente saberemos o momento exato de utilizá-la e como fazê-lo. A dupla terapêutica facilita uma visão maior do cliente. É certo que cada terapeuta mesmo atuando sozinho deve manter um contato com os demais terapeutas para saber sobre o desenvolvimento de cada criança pois, isto facilitará a sua atuação. Uma vez que essas terapeutas possam atuar em conjunto procurarão ambas facilitarem uma o trabalho da outra visando sempre o pleno desenvolvimento da criança em tratamento. Os objetivos são traçados em comum, de acordo com a criança ou grupo trabalhado e podem ser alcançados com muito mais facilidade quando utilizamos a música e seus componentes de uma maneira correta. Acreditando-se na potencialidade de cada criança. concedendo-lhe o tempo necessário para evoluir. A musicoterapia dá subsídios para o desenvolvimento amplo do tratamento realizado. Musica ou Musicoterapia? No nosso ponto de vista poderia responder que logicamente é musicoterapia. Pois não houve uma só sessão onde não encontrássemos a busca para atingir os objetivos terapêuticos. Se temos o objetivo terapêutico e uma terapeuta com formação em musicoterapia acredito que não temos o que discutir. O objetivo principal com o relato dessas sessões não é fechar essa questão. É sim, levantar a possibilidade de sempre que possível, possa haver o intercâmbio e a atuação em conjunto de duas ou mais terapeutas no trabalho com crianças excepcionais. O conhecimento que uma terapeuta traz enfoca mais determinado aspecto e essa troca é enriquecedora para as terapeutas que atuam em conjunto e de muito valia no desenvolvimento do processo terapêutico. Para seguimento a este trabalho, alguns pontos para serem discutidos: Será que o papel da musicoterapia seria somente abrir canais de comunicação, O que fazer após a abertura de canais de comunicação, É válida a atuação da dupla terapêutica, Utilizar músicas infantis durante as sessões seria perder a linha de tratamento, A atuação da musicoterapeuta vai variar de acordo com a patologia, Outras questões podem ser
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